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Ontologia jurídica e realidade – o problema

da “ética da tolerância”

Alexandre da Maia

Sumário
1. Ontologia versus retórica: tentativas de
explicação do fenômeno jurídico. 2. O problema
da ontologia na filosofia, em especial na
filosofia do direito. 2.1. Colocações iniciais:
metafísica, filosofia e ontologia. 2.2. A onto-
logia nas teorias clássicas do direito. 2.3. Análise
crítica e novas formas de estudo. 3. “Ética da
tolerância” e ontologia jurídica: caminhos
possíveis. 3.1. Ontologia na realidade jurídica
subdesenvolvida. 3.2. Por uma união entre
perspectivas ontológicas e retóricas no direito:
o problema da “ética da tolerância”. 3.3. Possibi-
lidades de discussão para o futuro.

1. Ontologia versus retórica: tentativas


de explicação do fenômeno jurídico
A palavra “ontologia” vem do grego, em
que a partícula on vem do particípio que
significa “o que é”, “o ente”, dando origem
ao termo ontos. A indagação inicial, sugerida
pela etimologia, busca investigar o que é o
ente1. Discutir o tema da ontologia jurídica,
pois, requer certos esclarecimentos de
sentido de emprego do respectivo termo.
Para tanto, há uma incursão pela análise de
certos marcos que, a princípio, não seriam
rigidamente fixáveis, mas que, em virtude
da necessidade de se realizarem estudos
Alexandre da Maia é Mestre e doutorando
com bases sólidas, requerem uma estipula-
em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela
Faculdade de Direito do Recife – UFPE. Profes-
ção de “tipos ideais”2 para efetivar tal mister.
sor de Introdução ao Direito na Faculdade de Tais tipos ideais, por conseguinte, podem
Direito de Olinda – FADO/AESO. Mestrando não corresponder com total exatidão aos
em Teorias Críticas do direito pela Universidad fenômenos da realidade; todavia, são
Internacional de Andalucía – Espanha. formas de observar os fenômenos a partir
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de standards que, mesmo não totalmente de poder, tais como o político, o religioso, e,
exatos, são necessários para a tentativa de em nossa seara, o jurídico, talvez um dos
análise da vida social. mais relevantes dentro do vasto elenco
O marco inicial deste estudo está na existente. Em outras palavras: uso da
fixação do debate que cria uma certa persuasão – entre outras estratégias – como
semelhança entre a ontologia e a própria forma de dominação, sem que haja uma
filosofia, o que seria uma metonímia3, em fixação de conteúdo do método utilizado
virtude de a ontologia ser uma espécie do para dominar7.
gênero “filosofia”. O rol de exemplos é bastante extenso e,
Por outro lado, como tipos ideais, cria-se quase sempre, voltados para uma visão
a dicotomia entre a ontologia e a retórica4, sistematizante do direito8. Veja-se, por
ambos como formas de observação filosófica. exemplo, o emprego da palavra “democracia”
A ontologia, que busca a análise do ser, de maneira totalmente descontrolada e no
defende a postura de que as formas de mais das vezes com a intenção de transmitir
conhecimento existentes estão todas con- uma falsa idéia do que venha a ser uma
centradas no próprio objeto de análise, prática de fato democrática, sendo, pois, uma
buscando a fixação de uma idéia de essên- visão distorcida, a fim de se obter quaisquer
cia. Portanto, a ontologia não permite a vantagens com tal forma de convencimento.
possibilidade de se elencarem perspectivas Dizer-se democrático sem uma fixação de
de abordagens alheias ao ser do analisado. conteúdo da idéia do que isso significa, por
Por seu turno, o pensamento retórico exemplo, faz com que haja uma exacerbação
parte de outro viés, por meio do qual a dos elementos subjetivos, a tal ponto que
possibilidade do conhecimento existe cada qual, ao seu bel prazer, dentro de seus
também na necessidade de se agregarem interesses, diga o que vem a ser democracia.
outros elementos que, a princípio, seriam E é exatamente nessa fixação aleatória que
estranhos ao ser do objeto cognoscente, encontramos um desprezo por quaisquer
especificamente no que tange à teoria do formas de ontologia.
discurso. Para o desenvolvimento do Percebe-se, então, que nossa concepção
presente trabalho, optamos por uma análise de ontologia é um corolário da idéia do ser
do problema da ontologia filosófica no em si, acrescentando-se as questões relativas
direito e quais os limites e as vantagens de ao conteúdo do objeto do conhecimento em
um pensamento ontológico no direito. análise. Logo, perquirir acerca da ontologia
A nossa escolha pelo presente tema se do direito significa a busca da análise de
deve à utilização indiscriminada de pala- seu conteúdo, independentemente das
vras e, por conseguinte, de formas de formas de manifestação do fenômeno
pensamento que buscam muito mais legiti- jurídico9.
mar o poder conferido do que criar uma idéia Tal vazio ontológico pode trazer conse-
de conteúdo ao conhecimento, e, em especial, qüências nefastas às formas do conheci-
ao direito5. Observa-se por demais uma série mento, podendo todas serem desvirtuadas
de formas de argumentação que buscam dos seus objetivos. Todavia, uma ontologia
difundir certas idéias como “democráticas”, pode demonstrar, no direito, uma falta de
ou “emancipatórias”6, sem, na verdade, adequação de suas formas de manifestação
haver uma preocupação com a fixação dos – a princípio, dogmáticas10 – ao mundo
conteúdos de tais expressões. O que mais empírico. Logo, como a realidade social é
corrobora a nossa opinião é o fato de que, um dado alheio ao modelo dogmático-estatal
na maioria das vezes, tais formas de pensar de estudo do direito para uns e, para outros,
estão sendo utilizadas de maneira distorcida. é parte integrante da essência do direito,
Tal distorção quase sempre ocorre por parte percebe-se claramente que nem sempre a
de quem quer que detenha quaisquer tipos ontologia e a retórica estão em caminhos
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distintos, por existir a possibilidade de uma nos parâmetros tradicionais, tem pouca
ontologia baseada na tolerância argumen- contribuição a dar para o aperfeiçoamento
tativa no direito, como veremos nas nossas da teoria e praxis jurídicas. Demonstrar-se-á
conclusões. como essas “buscas por uma ontologia” não
Por outro lado, o apego à ontologia conseguem lograr êxito em seus objetivos.
implica tomarmos como inexoráveis pontos A partir de então, avizinha-se uma nova
de partida previamente estipulados e/ou forma de observação da ontologia no direito,
perceptíveis por meio de métodos gnoseoló- a partir de uma aproximação com os dados
gicos. Ou seja, determinadas formas de retóricos. Tal ponto de vista será abordado
conhecimento nos são passadas na forma na conclusão do trabalho.
de dados a priori, que, por possuírem tal
natureza, não podem ser contraditados, e 2. O problema da ontologia na filosofia,
sim tomados como pontos primeiros de em especial na filosofia do direito
referência no estudo de determinado ramo
do conhecimento. No direito, por exemplo, 2.1. Colocações iniciais: metafísica, filosofia e
o “ontologismo” pode ser muito bem ontologia
exemplificado a partir do positivismo
A metafísica busca ser a ciência das
jurídico e do jusnaturalismo, ambos formas
ciências, ou, usando o termo de Abbagnano,
de tentativa de fixação de uma ontologia,
a “ciência primeira”12. Muito embora haja
mas de abordagens epistemológicas distintas.
divergências quanto à aplicabilidade do
Alguns autores acentuam que, na filosofia
termo ciência, poderíamos dizer que a
do direito de hoje, não se permite mais uma
visão do direito a partir de um viés ontoló- metafísica busca ser o fundamento de todo
gico, haja vista que tal vertente teórica e qualquer modo de conhecer. Logo, seria
poderia, na verdade, limitar as formas de uma espécie de baliza, de regra retora do
conhecer o direito, especificamente igno- saber e, também, do conhecer.
rando o papel da linguagem no direito etc11. Em virtude das diversas circunstâncias
Todavia, a total falta de apego à ontologia históricas, o saber se divide em diversos
também pode trazer problemas próprios do campos autônomos, sendo a metafísica a
emprego distorcido, quase sempre cons- base primeira de todos eles. Parece que há,
ciente, de certas palavras que são cruciais de certo modo, uma inserção da idéia de
para um entendimento o mais acertado validade no saber baseado na metafísica.
possível do que vem a ser o direito. Todavia, o termo validade possui outras
Eis a aporia na qual nos encontramos formas de entendimento dentro da seara
hoje nos estudos da Filosofia do Direito, e jurídica e, mais especificamente, do garan-
que é nosso objeto central de estudo. Para tismo jurídico de Luigi Ferrajoli. Max Scheler
uma análise isenta do tema, decidimos chega a dizer que o aprimoramento dos
observar como as teorias jurídicas inves- métodos filosóficos contribuem para a
tigam e analisam o fenômeno jurídico e abordagem de questões metafísicas, essen-
como suas formas de observação contribuem ciais à filosofia, sendo como uma forma de
– ou não – para a fixação de um conteúdo se perceber uma filosofia primeira, com
ao direito. Após essa observação das bases metafísicas13.
tentativas de fixação de ontologia, faremos Tais ramos do saber teriam áreas autô-
nossas críticas e formulações teóricas nomas de investigação, mas, por virem todos
próprias ao final do trabalho. da idéia de metafísica, teriam, sempre, um
Nosso objetivo é, pois, demonstrar como tronco comum a todas elas. Enfim, há um
a ontologia jurídica é abordada de maneira campo de inter-relação entre tais formas de
distinta pelas diversas teorias existentes e conhecer, o que é, sem dúvida, um corolário
que a análise ontológica, caso seja realizada da idéia de metafísica na filosofia.
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Assim, todas as formas de conhecer estritamente procedimental – será tanto mais
buscavam, em síntese, em uma “ciência moderno quanto mais distinto ele for dos
primeira” todas as causas, todos os princí- demais enunciados prescritivos éticos19. Já
pios basilares das formas de conhecer e os a metafísica como ontologia seria um ponto
demais problemas que estariam em uma de observação filosófica mais próprio de
forma comum a todas as ciências. Assim, a nossa análise.
metafísica daria a base comum de funda- A metafísica ontológica busca a idéia de
mentação de todas as ciências. No dizer de uma análise última no ser em si, o que para
Abbagnano, seria uma “enciclopédia de muitos filósofos daria a impressão de que
ciências”14. E, claro, tal metafísica também estabelecer uma série de objetos de análise
teria por intuito o esclarecimento acerca do por parte de um sujeito configuraria uma
objeto das ciências15. É exatamente em tal ontologia. Todavia, em um viés mais amplo,
contexto que começam a surgir as preocupa- a ontologia seria uma forma de manifestar
ções ontológicas. os fundamentos do ser, ou seja, algo que
Há variações de entendimento do termo nenhuma ciência pode deixar de ter. Logo,
“metafísica” no decorrer da História, muito inclui-se aí a idéia de essência do ser, que
embora todas elas buscando caracterizá-la seria fundamental a toda e qualquer forma
como esse fundamento primeiro e comum a de conhecer, havendo, então, uma equiva-
todas as ciências, conforme exposto supra. lência entre as idéias de metafísica e de
Assim, podemos enquadrar a metafísica em ontologia.
três aspectos: como teologia, como ontologia Todavia, há o reconhecimento de que
e como gnoseologia. Miguel Reale busca existem modos particulares de ser, muito
uma síntese entre essas duas últimas formas embora tais formas localizadas sejam uma
de conhecer, no que ele denomina ontogno- conseqüência dos meios metafísico-ontoló-
seologia. Afirma Reale que, na verdade, a gicos mais gerais. O direito possuiria, por
busca de uma ontologia tem por finalidade seu turno, sua própria ontologia, desde que
sempre uma atividade de conhecimento, e baseada em princípios mais gerais, que
vice-versa16. serviriam não apenas a ele, mas a todas as
A metafísica teológica sempre existe formas de ser e conhecer. Existe, pois, para
quando se busca a base das ciências em um essa forma peculiar de pensamento, uma
ente único e perfeito, que impõe formas “necessidade do ser”20. E, por existir tal
primeiras que também são perfeitas. Ou seja, necessidade, a idéia de essência seria
o objeto da metafísica seria, em suma, “o ser própria da metafísica. A questão que poderia
mais elevado e perfeito”17. Assim, tal forma ser debatida deveria, então, girar em torno
de pensamento metafísico ocorre sempre a da possibilidade ou não de haver mais de
partir da correlação porventura existente um significado à idéia de essência. Todavia,
entre uma ciência e um ente. vale ressaltar que tal idéia de essência,
No que diz respeito à metafísica como mesmo que com um sentido único, não dá à
teologia, parece que se consubstancia em ciência um caráter sublime, como havia na
uma análise dita primitiva do fenômeno do metafísica religiosa; trata-se, apenas, de se
ser e do conhecer. Tal primitivismo não é, estabelecer a explicação das próprias coisas
em absoluto, um juízo de valor, mas sim uma existentes.
constatação fática. Tal assertiva tem funda- A retórica busca exatamente trazer
mento na fixação da idéia de modernidade aspectos de persuasão para formar, às vezes,
como sendo a possibilidade de distinção por meio de uma construção filosófica, uma
entre as diversas formas existentes de essência mutável, o que é, desde já, questio-
produção do conhecimento18. No mundo nável, pois o resultado de uma construção
jurídico, o direito – se pudéssemos estabelecer retórica não é um dado a priori, como os
uma ontologia mediante um parâmetro enunciados ontológicos pretendem ser.
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Como vimos, as fronteiras entre a retórica e teoria clássica de abordagem, bastante
a ontologia como “tipos ideais” não são tão peculiar e de certa forma uníssona no
rígidas assim, muito embora haja campos tratamento do tema.
autônomos de análise de ambas as formas No entender de Miguel Reale, o ser e o
de pensamento. conhecer estão intimamente interligados,
Com a separação entre ontologia e são conceitos correlatos. Com efeito, o
teologia, percebe-se que algumas teorias referido autor estabelece duas formas de
ocupadas com indagações ontológicas se acepção do termo “ontologia”21. Em um
voltam cada vez mais para o mundo empí- sentido amplo, a ontologia seria a forma de
rico, no sentido de que a essência é demons- determinação do ser e, de uma maneira mais
trada mediante uma observação repetitiva e restrita, a relação do ser com o conhecer, ou
constante da experiência. Desse modo, para seja, ontognoseologia. Em ambas as pers-
alguns, as preocupações ontológicas passam pectivas, o autor, com base em Edmund
a ser compreendidas como uma forma de Husserl, trabalha a questão ontológica
conhecimento da essência por meio do dentro da teoria husserliana dos objetos,
mundo empírico, buscando trazer a onto- chamadas “ontologias regionais” 22 por
logia à experiência. Todavia, seu pano de Cossio, tão utilizada para caracterizar os
fundo nunca se altera: a busca, a partir de fenômenos, especialmente o mundo jurídico.
paradigmas epistemológicos os mais diver- Logo, os objetos que podem ser percebidos e
sos, de dados a priori que seriam pontos de conhecidos na experiência são classificados
partida inexoráveis para a determinação da como ideais, naturais e culturais. Alguns,
essência ou conteúdo de um determinado ainda, incluiriam os objetos metafísicos.
objeto – como o direito, por exemplo – a partir Muito embora existam críticas a serem feitas
de formas específicas de se conhecê-lo. a tal forma de ontologia fenomenológica,
A ontologia, pois, para alguns, seria a vale a sua exposição inicial para uma
própria filosofia, mas, para outros autores, apreciação crítica a posteriori.
a ontologia seria uma espécie do gênero Por objetos naturais, físicos ou psíquicos,
filosofia, assim como a epistemologia e a entendem-se aqueles que existem a partir de
axiologia. dados concretos, perceptíveis mediante
No que tange à metafísica, se a enten- uma observação de fatos e das emoções. Os
dermos como ontologia, os conceitos são átomos, por exemplo, seriam objetos natu-
equivalentes, pois toda forma de razão rais físicos; por outro lado, os sentimentos e
primeira para as demais formas de conheci- emoções estariam qualificados como objetos
mento viria da essência do ser. Por outro naturais psíquicos. Há quem pense o direito
lado, parece-nos que a ontologia seria uma como objeto natural. Pontes de Miranda23,
das formas de abordar a metafísica, pois esta por exemplo, afirma que o direito é fruto do
pode ser fundamentada por meio de outros fenômeno da vida. Logo, Pontes não restringe
argumentos que não estão estreitamente o direito ao ser humano, o que leva a crer
vinculados à essência, como no caso de uma que pode surgir direito nas plantas, musgos,
metafísica com base na religião, por exemplo. líquens, plânctons etc.
2.2. A ontologia nas teorias clássicas do Já os objetos ideais seriam aqueles que
existem pelo fato de serem pensados pela
direito: a teoria dos objetos na filosofia do
mente humana. Logo, não possuem exis-
direito
tência corpórea, nem são percebidos como
A partir da análise do fenômeno ontoló- emoções, mas sim são criados pelo intelecto
gico na filosofia geral, buscaremos agora humano. Uma circunferência, por exemplo,
observar como o direito se utilizou, e ainda não existe na experiência; apenas se esta-
se utiliza, da noção de ontologia em seus belece uma representação gráfica de sua
postulados, especialmente no que tange à idéia formulada mentalmente. Os números
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matemáticos não existem além da mente; formal: a norma, mais especificamente a
todavia, a sua utilização se faz fundamental norma jurídica.
para a compreensão de certos fenômenos Assim, para que um determinado fato/
físicos e químicos. ato seja considerado jurídico, ele deve estar
Como exemplo de tentativa de observa- consubstanciado no trinômio fato/valor/
ção do direito como objeto ideal, o positi- norma, especificamente a norma jurídica
vismo normativista kelseniano é o mais emanada ou tutelada pelo Estado.
significativo. Todavia, há divergências Já a teoria egológica cossiana estabelece
doutrinárias a respeito; para alguns, Kelsen a conduta como centro do objeto do direito,
não veria a norma como objeto ideal apenas. ao contrário da teoria kelseniana, na qual o
Porém, a vinculação do direito ao Estado direito se resumiria à norma jurídica estatal.
seria uma forma de caracterizar tal direito A própria teoria da norma jurídica em
como um objeto ideal, haja vista que a Cossio estabelece uma disjunção, na qual,
própria idéia de Estado é em si um produto ocorrendo a conduta lícita ou a ilícita, houve
da mente, em virtude de o Estado ser um uma incidência normativa sem hierarqui-
ente abstrato, criado para regulamentar o zação entre elas (endonorma e perinorma).
direito e todo o direito. Kelsen, como Já Kelsen estabelece, entre as normas
expoente do normativismo, reduz o direito secundária e primária, uma hierarquia,
ao Estado e, conseqüentemente, às normas sendo o essencial para o direito a norma
jurídicas, próprias do intelecto humano24. primária, e a secundária, um mero artifício
Por outro lado, os chamados objetos lógico para se alcançar o verdadeiro objeto
culturais25 pressupõem a sua verificação do direito: a norma, advinda do Estado, que
empírica, ou seja, perceptível por meio dos prescreve a conduta ilícita e suas conse-
órgãos dos sentidos. Além de ser um dado qüências. Assim, para Cossio, o objeto
empírico, há sobre tal objeto uma carga verdadeiro do direito seria a conduta
valorativa para a concretização de sua normatizada, sendo a norma jurídica um
mero instrumento formal para moldar e
essência. Assim, o direito como objeto
adequar condutas sociais, levando-se ao
cultural poderia ser enquadrado a partir da
adágio segundo o qual toda conduta que
própria teoria tridimensional do direito, de
não está juridicamente proibida está juridi-
autoria do Prof. Miguel Reale26, bem como a camente permitida.
partir da chamada teoria egológica do
direito, de Carlos Cossio27. 2.3. Análise crítica e novas formas de estudo
Uma análise da teoria tridimensional do A forma de estudo da ontologia tal como
direito e da teoria egológica do direito requer colocada acima traz uma série de pro-
um estudo muito mais profundo, o que não blemas. A divisão das chamadas ontologias
é o nosso intuito neste trabalho. Vale regionais, na verdade, é apenas uma forma
ressaltar que, pela primeira teoria, o profes- de demonstrar quais são os tipos de objetos
sor Reale observa a realidade jurídica a que existem e quais são, entre eles, os que
partir da observação dos fatos sociais e dos podem ser conhecidos. Muito embora tal
respectivos juízos de valor feitos em relação forma de pensar ainda seja muito adotada
a eles. Por exemplo, a repugnância de certo no ensino de teoria do direito nas Faculdades
modo generalizada que existe por certos atos brasileiras, ela, na verdade, nada esclarece.
e fatos, como o canibalismo. Afirmar que um objeto só pode ser conhecido
Todavia, os elementos fato e valor, apesar em virtude do pensamento não traz em si
de claramente perceptíveis no seio social, nenhum caráter essencial a ele. Ou seja, o
ainda não podem trazer conseqüências fato de o direito, para uns, ser um objeto
jurídicas, haja vista que, para tanto, há que natural, ideal ou cultural não dá a ele, em
existir mais um elemento, eminentemente nenhuma dessas formas, uma essência
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específica, apenas traça formas de conheci- Além do mais, os matizes ontológicos
mentos distintos para o direito. Enfim, fica- que nortearam a filosofia do direito sempre
se apenas no mero campo descritivo- foram os mais variados. Tais pontos de
fenomenológico, sem um aprofundamento análise buscam, cada qual ao seu modo,
da idéia de essência e de ontologia. uma ontologia jurídica. Todavia, o problema
Claro que é extremamente tentador aos está exatamente na necessidade ou não de
filósofos do direito efetuarem uma redução uma ontologia no direito.
dos problemas essenciais do direito a tais A teoria do garantismo jurídico, elabo-
categorias, o que, para eles, resolveria o rada por Luigi Ferrajoli28, busca unir ambas
problema da ontologia jurídica. Outros, de as perspectivas, a tradicional e a crítica, para
maneira distinta, buscam investigar se o buscar uma ontologia específica: a dos
direito pode ou não ser enquadrado em tais direitos fundamentais como base e conteúdo
tipos de objetos, o que é, sem dúvida, uma substancial de toda e qualquer forma de
indagação de maior monta. direito válido. Ferrajoli busca na teoria
Podemos dizer, então, que o estudo tradicional os conceitos de validade e de
ontológico mais cultuado pelo direito é o que elemento formal do direito, este último
menos traça parâmetros para a fixação de extraído diretamente da teoria pura do
uma ontologia jurídica, o que pode ser direito. Das teorias críticas ao direito
paradoxal, mas é o que de certo modo ocorre. dogmático, entre as quais o direito alterna-
Descontentes, pois, com essas “ontologias tivo, Ferrajoli busca uma fixação do direito
regionais”, a preocupação dos filósofos do não mais como forma (Kelsen), mas também
direito passa a ser traçar novos rumos ao com o seu elemento substancial, muito
estudo do direito. A tarefa, agora, é buscar a embora a idéia de legalidade está, para ele,
fixação de dados ontológicos sem empregar intrínseca ao direito. Enfim, é uma tentativa
o termo “ontologia” propriamente dito, mas de união de perspectivas a princípio
sim mediante outras formas de investigação opostas, com a finalidade de se traçar um
de problemas jurídicos, como o positivismo paradigma ao direito. E, como toda ontolo-
jurídico e o jusnaturalismo, como já faziam gia é uma forma de se estabelecer para-
os antigos. A busca de dados a priori, assim, digmas, o que se busca – mas não se alcança
existe muito antes da fenomenologia de – é a fixação de uma ontologia jurídica a
Husserl, a partir do estudo de problemas partir da junção dos elementos formal e
clássicos da filosofia, em especial da substancial característicos do direito.
filosofia do direito. Ocorre que, na realidade subdesenvol-
vida, cada vez mais difícil fica a tarefa de se
3. “Ética da tolerência” e ontologia estabelecer uma ontologia. Se a fixação de
jurídica: caminhos possíveis conteúdo tem por objetivo a emancipação
de direitos para alguns, ela também pode
3.1. Ontologia na realidade jurídica transformar o intérprete e o interessado pelo
subdesenvolvida direito em um escravo de si mesmo e dos
O problema da ontologia, além de ser um elementos ontológicos.
árduo ponto de discussão na filosofia, O chamado direito subdesenvolvido
também possui uma importância fun- demonstra claramente uma complexidade
damental na teoria do direito. A base teórica social intensa. Além do surgimento da
do direito é de fundamental importância distinção entre o direito e as demais ordens
para que se possam fazer análises diversi- normativas éticas, há uma enormidade de
ficadas e conectadas a problemas sócio- formas de solução de conflitos no meio
jurídicos de extrema relevância nos dias de social, quase sempre ocasionadas pela
hoje. inércia do Estado em solucionar os conflitos
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existentes no mundo social, cada vez mais pois os dados colhidos seriam paradigmas
intensos e sem soluções do direito oficial. fixos – e, por conseguinte, pode-se, com outro
Logo, as formas não-oficiais de solução viés epistemológico, cometer os mesmos
de problemas são hoje a regra de países erros do positivismo exegético e do jusnatu-
subdesenvolvidos, o que faz com que exis- ralismo: a fixação de dogmas inquestioná-
tam mil formas distintas de direito em um veis como sendo o conteúdo do direito em
mesmo espaço territorial, como bem estabe- si32. A tendência, ao que parece, não é o
lece Boaventura de Sousa Santos29. Tal apego a maniqueísmos, mas sim à necessi-
pluralidade jurídica nos faz ter em mente dade de uma pluralidade de possibilidades
que as múltiplas possibilidades afastariam de uma ontologia jurídica, havendo a inter-
a idéia de uma ontologia jurídica nos países relação entre a ontologia e a retórica.
subdesenvolvidos, restando apenas uma Se se quer ainda falar em ontologia, não
abertura retórica para o fundamento de se pode mais fazê-lo na forma tradicional,
legitimidade das decisões a partir de uma ou seja, de imposição de verdades absolutas
estruturação competente do uso das pala- como o fundamento de legitimidade do
vras como formas de dominação. direito e do poder. O que se propõe, então, é
Todavia, como bem explicita Adeodato, uma revisão do conceito de ontologia no
tal estrutura de pensamento, por criar um direito; uma ontologia mutável, capaz de
dado a priori, também seria uma forma de abarcar as diferenças existentes a partir dos
ontologia, mesmo que reconhecendo a fundamentos de argumentação traçados
pluralidade. Então, afirmar que não existe pelos conflitantes.
uma ontologia seria, paradoxalmente, uma Tal postura, claro, prejudica a investiga-
ontologia, por ser um enunciado com preten- ção do problema da segurança no direito,
sões de verdade inquestionável30, assim como haja vista que, sem as normas jurídicas,
as leis e comandos estatais, por exemplo. estatais ou não, inexistem referenciais de
Não haveria, pois, espaço à ontologia? aplicação do direito para resolver conflitos
Talvez uma ética da tolerância possa ser sociais. Mesmo que a admissão da plurali-
uma forma de tentar conciliar perspectivas dade possa, para alguns, ser uma forma de
ontológicas e retóricas. abandono completo da ontologia, assim não
3.2. Por uma união entre perspectivas pensamos, haja vista que os enunciados, em
ontológicas e retóricas no direito: o problema geral, buscam sempre manifestar uma idéia
da “ética da tolerância” de verossimilhança do que se quer dizer, ou
seja, de dados que busquem, por si sós, ser
Como visto anteriormente, existe um considerados verdadeiros. Por conseguinte,
problema grave na filosofia do direito em a oração “o direito deve assumir a plurali-
conciliar problemas de segurança e de dade de possibilidades de sua determina-
justiça na caracterização do objeto direito. ção” é, também, uma ontologia, por buscar
Tal problema está exatamente na tentativa transmitir a verossimilhança do que foi
de conciliar uma idéia de conteúdo ao informado33. Enfim, há uma junção de
direito, eminentemente na busca de uma perspectivas ontológicas e retóricas na
ontologia, como propõe Cláudio Souto31, com caracterização do direito.
a possibilidade de que esse conteúdo Como uma forma de coadunar os pro-
responda aos anseios sociais e às neces- blemas gerados pela ontologia e efetuar sua
sidades da coletividade, cada vez mais respectiva junção com a retórica, Adeodato
alheia ao processo de conquistas efetivas de surge com a proposta de uma “ética da
direitos. tolerância”, que busque exatamente respei-
Todavia, fixar conteúdos, como já tar a diversidade, servindo as normas do
salientado nessas considerações finais, não direito positivo como forma de auferir a
estabelece uma possibilidade de mutação – segurança necessária ao direito e os espaços
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argumentativos como claramente existentes dessa ordem, não poderíamos chegar a
em respeito à diversidade de formas de conclusões mais esclarecedoras do fenômeno
percepção do jurídico. jurídico, muito embora a intenção tenha sido
Enfim, a ética da tolerância seria uma a de fomentar o debate. E a discussão de
maneira de não se fixar na ontologia temas tão inesgotáveis de perquirições e, por
generalizante dos jusnaturalismos e positi- isso mesmo, longe de conclusões – que
vismos até então imperantes na filosofia do seriam uma forma de estabelecer ontologias
direito. O eixo da ontologia se modifica, – já é uma grande vitória para o aprimora-
criando espaços para as possibilidades de mento intelectual daqueles que têm interesse
uso de estruturações retóricas para a solução pelo direito; um direito vivo, que porém nem
dos conflitos. Ou seja, uma idéia de essência sempre consegue mostrar a sua cara; um
mutável, a partir de um referencial normativo direito consagrador ou tolhedor de bens e
preexistente, mas concatenado a problemas liberdades; uma forma de conhecimento que
concretos que precisam ser solucionados, existe desde que somos seres sociais.
sendo o direito uma forma de resolver os A tentativa de expor as idéias em filosofia
problemas comuns existentes, os topoi. Daí do direito já provoca inquietação e formas
o nome tópica, estabelecida no direito por diversas de pensar. Que tenhamos, também,
Theodor Viehweg. uma ética da tolerância com as formas
Todavia, a ética da tolerância enfrenta divergentes de pensamento, que, mais do
problemas de manipulação na mesma que contestar academicamente, colaboram
ordem sofrida pelo garantismo jurídico. Ou para o engrandecimento do debate e para o
seja: a questão da manipulação das normas aprofundamento de questões desde sempre
que funcionariam como ponto de partida. debatidas pela filosofia e pelo direito.
Mas o que se busca é a união do ponto de Logo, os espaços sociais sempre trazem
partida ao problema concreto, que pode ser em si formas de direito. A imposição de
solucionado de inúmeras maneiras possíveis. modelos rígidos e que se legitimam por si
Mesmo assim, o espaço retórico permite que sós pode, fatalmente, levar o direito a ser
aquele que tem bom uso de sua persuasão uma forma de dominação sem a preocupação
faça prevalecer sua opinião, pouco impor- com a diversidade, com a pluralidade e com
tando o fato de ela ser ou não adequada a a compexidade próprias do meio jurídico-
ideais democráticos ou a formas de inserção social34. Mas, como vimos, a pluralidade, por
e conquistas de direitos sonegados. ser forma, também pode ser manipulada,
Parece, pois, que o direito, realmente, não mas que as possibilidades de argumentação
possui nenhum conteúdo específico. Não há existam. E, num Estado de Direito frágil
como reduzir a complexidade do direito a como o do Brasil, a capacidade plena de
palavras que especifiquem uma única e argumentar já seria, como de fato é, uma
correta idéia do que ele vem a ser. Sendo grande vitória; não que tal conquista possa
assim, o espaço para a argumentação seria ser considerada o último estágio de aferições
algo inexorável, ontológico, mesmo. Toda- de direitos, mas sim o pontapé inicial para
via, toda ontologia tem seus problemas, que possamos celebrar outras conquistas
como salientamos supra. Estamos diante de sociais. E o direito é um excelente aliado para
mais uma aporia filosófica no direito. almejar tais objetivos.
Existem possibilidades de reversão das
aporias mencionadas?
3.3. Possibilidades de discussão para o futuro Notas
A grande batalha do teórico do direito é 1
Cf. GAOS, José: Introducción a “El ser y el
enfrentar os problemas sugeridos acima. tiempo” de Martin Heidegger. México : Fondo de
Temos plena convicção que, em um trabalho Cultura Económica, 1996, p. 19.
Brasília a. 36 n. 143 jul./set. 1999 343
2
Sobre a teoria dos tipos ideais, cf. WEBER, 13
SCHELER, Max. Visão filosófica do mundo. São
Max. Economía y sociedad: esbozo de una sociología Paulo : Perspectiva, 1986. p. 8 e 14.
compreensiva. México: Fondo de Cultura Econó- 14
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia
mica, 1996. p. 7 e 16 s. n. 3, p. 661.
3
Em sentido contrário, cf. ABBAGNANO, 15
Para uma abordagem do problema do
Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins conhecimento no direito, cf. TEIXEIRA, João Paulo
Fontes, 1998. p. 662-663, em que o autor faz uma Allain. “A caracterização do objeto da ciência do
análise do termo “ontologia” como uma expressão direito e seu problema hermenêutico-decisório”.
própria da idéia de uma metafísica como saber dos Revista da ESMAPE, v. 3, n. 7. Recife : ESPAPE,
saberes, sendo um fundamento para todas as 1998, p. 405-428, especificamente nas p. 405-407.
formas de ser e conhecer. Desenvolveremos tal tema 16
REALE, Miguel. Filosofia do direito. n. 9, p.
no próximo capítulo. 175-176.
4
Para uma análise de tal dicotomia, cf. 17
Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
ADEODATO, João Maurício. Filosofia do direito: filosofia. n. 3, p. 661.
uma crítica à verdade na ética e na ciência. São 18
ADEODATO, João Maurício. Filosofia do
Paulo : Saraiva, 1996. p. 8-16.
direito: uma crítica à verdade na ética e na ciência. n. 4,
5
Para um aprofundamento da questão da
p. 8-16. Cf. tb. LUHMANN, Niklas. Legitimação
legitimidade político-jurídica, cf. ADEODATO, João
pelo procedimento. Brasília : UnB, 1980. p. 195-198
Maurício. O problema da legitimidade: no Rastro do 19
ADEODATO, João Maurício. “Modernidade
Pensamento de Hannah Arendt. Rio de Janeiro : Fo-
rense Universitária, 1989., especialmente nas p. 53 s. e direito”. in Revista da ESMAPE, v. 2, n. 6, Recife :
6
Basta observar as estruturas de argumentação ESMAPE, 1997. p. 255-273.
adotadas pelos teóricos do chamado “direito
20
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia.
alternativo”. Para uma análise do tema, cf. MAIA, n. 3, p. 663.
Alexandre da. “O movimento do direito alternativo
21
REALE, Miguel. Filosofia do direito. n. 9, p. 30
e sua influência no poder judiciário da comarca do e 44-45.
Recife. Revista da OAB – Seccional de Pernambuco. a.
22
COSSIO, Carlos. La teoría egológica del derecho
32, n. 24. Recife: OAB-TS, 1997. p. 41-62. y el concepto jurídico de libertad. Buenos Aires : Abe-
7
O que, para Abbagnano, é uma forma de ledo-Perrot, 1964. p. 54 s.
construção retórica. Cf. ABBAGNANO, Nicola. 23
MIRANDA, [Francisco Cavalcanti] Pontes de.
Dicionário de filosofia n. 3, p. 856-857. Sistema de ciência positiva do direito. Rio de Janeiro :
8
Sobre as teorias sistêmicas no direito, cf. Borsoi, 1972. passim.
STAMFORD, Artur. A decisão judicial: dogmatismo e 24
Cf. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São
empirismo. Recife: CPGD-UFPE (dissertação de Paulo : Martins Fontes, 1985. p. 2-16.
mestrado), 1998, p. 20-76. 25
Para um conceito de cultura, cf. REALE,
9
Tal busca de conteúdo a partir de métodos Miguel. Filosofia do direito. n. 9, p. 240 s.
rigorosos de pesquisa está presente em quase todas 26
REALE, Miguel. Teoria tridimensional do direito:
as obras de Cláudio Souto. Cf., SOUTO, Cláudio. situação atual. São Paulo : Saraiva, 1994. p. 117-
Ciência e ética no direito: uma Alternativa de Moderni- 128.
dade. Porto Alegre : Fabris, 1992. p. 75 s. Apesar da 27
COSSIO, Carlos. La teoría egológica del derecho
necessidade de tais métodos, reconhece Cláudio
y el concepto jurídico de libertad. n. 22, passim.
Souto que essas formas de fixação de conteúdo 28
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón: teoría del
ainda são muito incipientes na Sociologia do Direito.
garantismo penal. Madrid : Trotta, 1998. p. 851 s.
Cf. tb., sobre as acepções do termo “ontologia”, 29
SANTOS, Boaventura de Sousa. O discurso e o
REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo :
poder: ensaio sobre a sociologia da retórica jurídica.
Saraiva, 1994. p. 30 e 44-45.
10
Sobre o problema do direito dogmático, cf. Porto Alegre : Fabris, 1998. p. 64 s. Cf. tb., do mesmo
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo autor, Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-
do direito: técnica, decisão, dominação. São Paulo : modernidade. São Paulo : Cortez, 1997. p. 235-280.
Atlas, 1994. p. 31-51 e 85-93.
30
ADEODATO, João Maurício. Filosofia do
11
Cf., como exemplo, ROBLES MORCHÓN, direito: uma crítica à verdade na ética e na ciência.
Gregorio: “Introducción” in KAUFMANN, Arthur n. 4, p. 207.
e HASSEMER, Winfried (orgs.). El Pensamiento
31
SOUTO, Cláudio. Ciência e ética no direito: uma
Jurídico Contemporáneo. Madrid : Debate, 1992. p. alternativa de modernidade. n. 9, p. 99-107.
14-17.
32
Sobre os temas, cf. FERRAZ JR., Tercio
12
ABBAGNANO, Nicola: Dicionário de Filosofia Sampaio. Introdução ao estudo do direito: Técnica,
n. 3, p. 660. Em outro entendimento, cf. decisão, dominação. n. 10, p. 170 s. Cf. tb. LARENZ,
HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Rio Karl. Metodologia da ciência do direito. Lisboa :
de Janeiro : Tempo brasileiro, 1987. p. 33 s. Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. p. 45 s.

344 Revista de Informação Legislativa


33
ADEODATO, João Maurício. Filosofia do 34
Cf. CÁRCOVA, Carlos María. La opacidad del
direito: uma crítica à verdade na ética e na ciência. derecho. Madrid : Trotta, 1998. p. 38-46, que afirma
n. 4, p. 208-213, quando trata da “inevitabilidade a falta de clareza dos postulados jurídicos em
de uma ontologia”. função da complexidade social circundante.

Brasília a. 36 n. 143 jul./set. 1999 345


346 Revista de Informação Legislativa

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