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AULA 01

1. O que é a filosofia, o que é o filosofar ?

Por que é difícil definir filosofia?

A pergunta relativamente ao objecto e o método na disciplina tem sido o que mais


interessa ao aprendiz de Filosofia. Se perguntarmos a um matemático qual o objecto da
sua ciência, ou seja, o que ela estuda e a qual o método ou métodos que utiliza, o modo
como a estuda, ele não terá grande dificuldade em responder e, provavelmente, não
será muito diferente da resposta de qualquer outro matemático. O mesmo acontecerá
na Física, na Biologia e as restantes ciências , onde com maior ou menor dificuldade, é
possível delimitar os respectivos objectos de modo a que eles não se confundam com os
objectos de outras disciplinas.

Qualquer definição que se dê de filosofia é sempre empobrecedora, é uma provocação,


pois não agrada a todos. Isto levou um filosofo contemporâneo, Louis Althusser, a dizer
que enquanto a ciência une a filosofia divide pois provoca controvérsias.

Será então que a filosofia é algo vago, complexo de difícil definição? Ou será antes que
filosofia diferentemente de outros tipos de saber, esta intimamente ligada a quem a
pratica, ao filosofo que a produz, que lhe imprime a marca da pessoa que ele é, das
aspirações que traz dos problemas que o preocupam? E assim Paul Nizan tem razão
quando diz “ como há trinta e seis mil espécies de filósofos, há outras tantas espécies de
filosofias “.

A dificuldade deve-se a uma característica essencial da filosofia que é a subjectividade,


ou seja, a dependência relativamente à pessoa de um filosofo.

2. Uma abordagem não polémica do conceito de filosofia : a via etimológica


O termo filosofia , ou mais precisamente o termo filosofo, é atribuído a Pitagoras,
filosofo grego do século VI a.c.

Philos – o que busca, o amigo

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Shophia – conhecimento, sabedoria

O filosofo não é o Shopos ( o sábio, o perito) , mas apenas aquele que ama o saber. A
filosofia seria , no entanto, a amizade pelo saber. Não a posse do saber, mas a sua
busca, a sua demanda. Assim, da própria analise etimológica conclui-se que a
filosofia não é algo de dado, antes que se procura. No próprio conceito estaria
implícita uma atitude.
Por exemplo, segundo Karl Jaspers” Filosofar é estar a caminho”.
3. A abordagem do conceito de filosofia pelo seu objecto
Segundo Ortega Gasset “O filosofo situa-se diante do seu objecto em atitude diversa
de qualquer outro conhecedor: o filosofo ignora qual é o seu objecto e dele sabe
apenas: primeiro, que não é nenhum dos demais objectos; segundo, que é um
objecto integral, que é o autentico todo, o que não deixa nada de fora e, por isso, o
único que se basta”.

Da afirmação acima, fica claro que existe uma dificuldade em encontrar, com nitidez, o
objecto da filosofia. A filosofia não traça as suas fronteiras com absoluta nitidez, pois
qualquer ponto de partida pode ser valido para iniciar uma tentativa de organização do real,
de compreensão da nossa situação no mundo.

A filosofia ambiciona fazer sínteses e nesse aspecto contrasta com a atitude científica, que é
analítica, que abdica das visões de conjunto. A filosofia estuda o real do ser enquanto ser;
não deixa nada de fora.

No entendimento de Platão “ o objecto da filosofia é o homem e o que diz respeito à sua


essência de sofrer a acção e de agir”.

4. A abordagem da filosofia pelo seu método

Terá a filosofia um método próprio?

Tal como em ciência , a filosofia manuseia conceitos, constitui-se fabricando os seus


próprios instrumentos, a sua aparelhagem conceptual. Contudo, na ciência exigem-se
provas, há uma verificação das teorias. A ciência tem que recorrer a uma testagem,
através da experimentação, seja ela real ou idealizada. Mas, se a filosofia e a ciência

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aceitam como critério a racionalidade, a filosofia vai mais longe no repensar daquilo que
a razão produz. É uma tomada de consciência profunda de uma realidade vivida/
pensada, é uma procura de fundamentos para o real, que se coloca a partir de um
sujeito que se interroga e que o interroga, nunca deixando de ocupar um papel de
relevo, colocando-se como o elemento central que organiza u discurso. A filosofia parte
do homem e das suas preocupações.

O método filosófico é totalizante, é uma busca de sínteses, contrastando com a


metodologia analítica que é predominantemente nas ciências.

Questões

1. Comente em volta do conceito, objecto e método da filosofia.


2. Diferencie filosofia das ciências exactas.

AULA 02

A ATITUDE FILOSOFICA

Segundo Rene Descartes “ viver sem filosofar é na verdade ter olhos fechados sem
nunca se esforçar por os abrir”.

É conhecida a afirmação de que o filosofo é o homem que esta a caminho, tem


olhos abertos, pois o oposto significa ter olhos fechados e estar parado.

Estar parado, ter olhos fechados remete para uma atitude do homem que aceita
passivamente as coisas, sem critica, sem aprofundamento, que vive embalado num
sono dogmático, que é a atitude daquele que parte de certezas previas, que se
submete a certos princípios sem os discutir, que prefere a formula, o definitivo, o
completo e se julga possuidor da verdade ou não posse de certezas que não
admitem duvida.

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A aceitação do imediato, do mais fácil, do mais cómodo, caracteriza a atitude do
homem parado, do que tem olhos fechados.

O filofoso deve saber pensar, saber interrogar e saber agir. Saber pensar implica uma
atitude frente a toda a existência que se tem de expressar numa reflexão, que é
vontade de certeza, de ordenação de ideias, juízos e raciocínios. Saber interrogar
assenta na douta ignorância, ou seja, em saber duvidar. Um saber interrogar assente
na duvida produtiva, é caminho aberto para a reflexão.

No entanto, a reflexão so por si não basta para que se atinja uma atitude filosófica
que seja eficaz e beneficie o homem e o grupo onde esta inserido: saber pensar e
saber interrogar completam-se com o saber agir porque o mundo concreto, sendo
importante objecto de reflexão, não pode limitar-se a ser interpretado mas, segundo
as palavras de Marx, necessita de ser transformado.

Resumidamente, a atitude filosófica, resume-se em :

 Uma procura constante que não é propriamente posse do saber: o filosofo


não tem a preocupação de acumular certezas, mas desenvolver o espírito
critico e de tolerância . Afasta-se do fanático que esta sempre seguro de
possuir a verdade e a impõe aos outros;
 Inquietação: O filosofo é o homem insatisfeito; não se contenta nem tão
pouco com a posse de um saber absoluto, nem tão pouco pela dúvida
constante e radical relativa a todo o saber;
 Lucidez : mantendo a douta ignorância, o filosofo não esta parado nem
adormecido; é um homem lúcido, que não procura um vasto conjunto de
conhecimentos teóricos, mas antes, de uma forma geral, orienta-se para o
conhecimento como para a acção;
 Globalista: o filosofo tem a visão globalista dos problemas, por isso ,
distingue-se dos cientistas especializados em áreas especificas;
 Perspectiva Valorativa: as questões de bem, de mal, de belo, de justo, etc
são, unicamente, estudam pela filosofia.

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EXERCICIOS

1. Debruce-se em volta do positivismo jurídico.


2. Em que medida o Direito pode ser entendido como uma realidade cultural.
3. Distinga o Direito de outras ordens normativas, tais como a moral, a ética e a
religião.
4. Defina e comente em volta dos fundamentos do Direito natural.
5. Explique as concepções cosmológicas, concepção teológica e antropológica.

Matéria referente ao pensamento filo-juridico de Aristóteles

Segundo Aristóteles “ todo o mundo entende por justiça aquela disposição


moral que torna os homens aptos a fazer coisas justas, que os faz agir
justamente e desejar aquilo que é justo, e da mesma forma injustiça aquela
disposição que faz os homens agirem de modo injusto e desejarem aquilo que é
injusto”.

Em que sentido se possa entender o termo justiça segundo Aristóteles?

O termo injusto aplica-se ao homem que transgride a lei como ao homem que
toma mais do que lhe é devido, o parcial. Por conseguinte, justo significa o que
é lícito e o que é imparcial e injusto, significa o que é ilícito e o que é parcial.

A justiça é a virtude perfeita porque é o exercício da virtude perfeita e é


perfeito num grau especial, porque quem possui pode praticar sua virtude em
relação a outros e não apenas a si mesmo, pois, há muitos homens que podem
praticar a virtude em seus assuntos privados, mas não podem faze-lo em suas
relações com o outro.

A justiça só existe quando existirem 2 partes iguais. Não é justo que um


homem bom cometa adultério ou roube pela primeira vez. Este acto não é

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apenas censurável a quem seja mau, de péssimo carácter; é censurável a
todos, a lei olha apenas para a natureza do dano.

A justiça só existe quando existirem duas partes iguais. Não será justo que um
homem bom cometa adultério ou roube pela primeira vez. Este acto não será
apenas censurável a quem seja mau, de péssimo carácter, será censurável a
todos.

Quando um homem mata outro, estaríamos diante de desigualdade, mas o juiz


esforça-se em tornar igual, aplicando uma pena ao infractor.

Os pitagóricos entendiam que justiça significa reciprocidade, por isso, justo


seria sofrer reciprocamente, ou seja, fazer sentir o infractor a mesma dor do
lesado.

Portanto, os pitagóricos esquecem-se que, muitas das vezes, há


desconformidade entre justiça e reciprocidade. Por exemplo, se um policia
agredir um cidadão, estaria errado se o cidadão fizesse o mesmo contra o
polícia.

Alias, a nossa justiça não prima pela retribuição e reciprocidade ( vide fins das
penas- Eduardo Coreia, Direito criminal)

TPC

1. Identifique as diferentes formas de justiça segundo Aristóteles.


2. Por vezes, a reciprocidade esta em desconformidade com a justiça.
Comente.
3. Identifique e justifique a essência do pensamento filosófico de
Aristóteles ( saber se é naturalista, jusnaturalista, humanista,
teocêntrico etc)

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