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Escola Secundária de Valongo 2020/21

FICHA DE TRABALHO nº2 - FILOSOFIA - 10º ANO

1.1. O QUE É A FILOSOFIA? - UMA RESPOSTA INICIAL

Conta a lenda que Pitágoras (570 a.C. – 496 a.C.) foi o primeiro a intitular-se
filósofo, com um objetivo: o de se demarcar daqueles que pensavam ser sábios, no
sentido de estarem na posse de um conjunto de conhecimentos considerável e definitivo.
Daí que Pitágoras dissesse que não se considerava um sofos (sábio), mas sim um
filósofo, um amigo da sabedoria, querendo com isso vincar uma posição mais humilde
(não dogmática) face ao conhecimento, na qual todo o conhecimento estava sujeito a
aperfeiçoamento e crítica. O pensamento crítico é uma das características do trabalho
(método) filosófico.
Esta exigência crítica marcou desde as origens a Filosofia e está presente na etimologia
da palavra, segundo a qual a Filosofia seria a amizade/amor pela sabedoria, um “sede de
saber”. Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) defendia que a Filosofia era fundamentalmente
uma atividade crítica. Para Sócrates filosofar exige questionar as aparências, o senso
comum e ir além daquilo que os nossos sentidos captam. Por isso, o filósofo assume
uma atitude de dúvida, de insatisfação e de crítica perante ideias mal fundamentadas e
falsas verdades. Daí o sentido da famosa afirmação socrática “Só sei que nada sei”.

O que é a Filosofia?
É importante saber que a Filosofia é uma atividade racional que consiste em
esclarecer problemas filosóficos (problematizar) e construir teorias para responder a
estes problemas (argumentar). Estes problemas parecem ser tão difíceis de resolver e,
ao mesmo tempo, tão importantes e persistentes na nossa curiosidade que o homem não
parou de refletir sobre eles. A Filosofia é uma atividade intelectual porque nada há na
experiência empírica que nos permita resolver os problemas filosóficos. Só pelo
pensamento, problematizando e argumentando, os podemos resolver (Manual, p. 10).
Por exemplo: se a Ciência quiser saber se há vida em Marte, pode enviar uma sonda.
Diferentemente, na Filosofia não se pode decidir se tudo é relativo ou não, ou ainda se a
vida faz sentido ou se somos livres, observando, recolhendo informações do mundo.
Claro que é importante a informação do mundo que a experiência e a Ciência nos
fornecem, quando é relevante devemos usar essas informações, mas o estudo filosófico
faz-se unicamente com o pensamento.
É por isso que afirmamos que a Filosofia não é um estudo empírico, partindo
diretamente do concreto, ou a posteriori, mas um estudo concetual, partindo do
abstrato, ou a priori. Os problemas não se decidem apenas recorrendo à experiência;
decidem-se também recorrendo ao pensamento. E é isso que se faz em Filosofia –

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recorremos à definição de conceitos, à reflexão crítica e à argumentação para responder
aos problemas filosóficos.
Os filósofos fazem perguntas que vão até níveis mais profundos do que aquilo que
experimentamos (questionam) e respondem a essas perguntas com teorias justificadas
com argumentos fortes. É, por isso, uma atividade radical. A atividade filosófica leva o
pensamento até ao limite, vai à raiz do problema (é daí que vem a palavra radicalidade),
sempre na procura da verdade, e procede deste modo precisamente porque é uma
atividade crítica. A Filosofia é uma atividade crítica porque avalia cuidadosamente as
nossas ideias para decidir se são verdadeiras ou falsas e se os argumentos são válidos ou
inválidos. Convém, desde já, esclarecer que ser crítico não é dizer mal. Ser crítico é
olhar com imparcialidade para todas as ideias, quer sejam as nossas, dos nossos colegas
ou de filósofos famosos; e olhamos para elas com imparcialidade para podermos avaliar
se são ou não verdadeiras, se são boas ou más.

Como podes ver, a Filosofia carateriza-se por estudar problemas filosóficos


(objeto), mas também pela construção de propostas de resposta – teorias, e de
apresentação de razões que suportem essas teorias – argumentos. É, assim, uma
atividade crítica de raciocínio sobre problemas e respostas a esses problemas
(método). A argumentação é essencial na atividade filosófica porque não se pode
defender uma tese se não soubermos apresentar as premissas que a justificam. Só
avaliando criticamente os argumentos podemos decidir se o filósofo tem ou não
tem razão. Por isso, em Filosofia ter opinião não é suficiente.

A Filosofia exige abertura de espírito e disponibilidade para pensar livremente. Na


Filosofia temos liberdade para defendermos as nossas ideias. Ninguém nos pede para
repetir, mas sim que aprendamos a pensar e pensar implica argumentos. Se vimos que
filosofar implica liberdade para pensar por si próprio, podemos dizer que uma das suas
principais exigências é a autonomia, visto que esta palavra significa o exercício livre e
crítico do pensamento.
Temos a liberdade de defendermos o que quisermos, mas temos de adotar uma atitude
crítica, isto é, temos de sustentar o que defendemos com bons argumentos. Nenhuma
ideia tem o direito de suplantar quaisquer outras ideias enquanto não mostrar, através de
argumentos, que é realmente melhor do que as outras. Não devemos aceitar nenhuma
tese sem antes analisar criticamente os seus argumentos (antidogmatismo).
O pensamento filosófico é consequente. Isto significa que, apesar de sermos livres
para defendermos as teses que quisermos, teremos de ser responsáveis pelas
consequências do que defendemos. Se as nossas ideias tiverem consequências falsas,
absurdas, improváveis ou de difícil aceitação, teremos muito provavelmente de mudar
de ideias.

QUESTIONÁRIO
1. Qual é o objeto da Filosofia?
2. Esclarece o significado filosófico da frase de Sócrates: “Só sei que nada sei.”
3. Explica por que é que a Filosofia é uma atividade crítica.
4. O que significa dizer que a Filosofia é uma atividade intelectual ou racional?
5. Por que é que em Filosofia ter opinião não é suficiente?
6. Qual é o método da Filosofia?
7. Qual a importância da autonomia em Filosofia?
8. Apresenta uma definição de Filosofia.

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