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O que é que caracteriza a filosofia/ o saber filosófico e permite distingui-lo de

outros níveis/tipos de saber?

A especificidade da filosofia

Características do Conhecimento Filosófico

Radicalidade Historicidade
Universalidade Autonomia

1. A Radicalidade característica que está ligada ao aspecto


interrogativo da filosofia, no sentido em que a interrogação
filosófica vai ao fundo das questões, vai ao porquê último das coisas.

Põe-se em destaque a dimensão crítica da atitude filosófica que adopta o


questionamento como constitutivo da natureza humana e revelador
da insatisfação que caracteriza o filósofo em particular.
O carácter Radical da filosofia permite distingui-la de uma outra forma de
saber
O Senso Comum

Senso Comum # Filosofia

Superficialidade Radicalidade

As perguntas do homem comum ( senso comum) são:


 Simples
 Imediatas
 Relativas aos problemas do dia-a-dia
 Prático-utilitárias.

As respostas são também:


 Simples
 Superficiais
 Carecem de fundamentação.
Estas perguntas e estas respostas traduzem um Saber Empírico

“ saber de experiência feito”


saber que basta ao homem comum para se orientar nas tarefas
quotidianas.

As perguntas e as respostas da filosofia são de outra natureza

são Radicais
Visam a compreensão do porquê
último das coisas, a compreensão só se aceitam se forem sustentadas na razão
da sua razão de ser; ( argumentos racionais)

Logo a filosofia não é senso comum.


Mas a filosofia também não é ciência.
As questões filosóficas são também mais radicais do que as questões
científicas.

Ciência Filosofia
#

O seu objectivo – explicar os factos e chegar à formulação de Leis.

Lei científica –
estabelece uma relação quantitativa entre fenómenos naturais em termos de
causa-efeito.
A Ciência busca as causas responsáveis pelos efeitos ( a
relação antecedente-consequente).
Recorre ao Método Experimental/Científico.

A Filosofia busca as causas últimas, também designadas por


primeiras ou remotas

 procura o porquê último das coisas

Radicalidade da questionação

 procura a raiz das coisas


 dirige-se às origens na tentativa de descobrir a sua razão de ser.
 Tem como único Método a REFLEXÂO – que consiste no acto de
pensar sobre…, de pensar de novo, voltar a pensar.
Ciência Filosofia

Procura as causas próximas Procura as causas remotas


( o Método Experimental) ( o Método Reflexivo)
Síntese:
A filosofia possui carácter radical na medida em que:
1. Busca as primeiras causas e os primeiros princípios, ou seja, aprofunda os
problemas até à raiz;
2. Procura um saber fundamentado, baseado em argumentos racionais
adequados;
3. A interrogação filosófica é mais profunda do que a da ciência e a do senso
comum.

O saber radical é aquele que não se contentando com o que parece, vai procurar o
fundamento, a causa da causa. Nada é tido como inquestionável, tudo é
problematizável. Além disso, todas as afirmações têm que apresentar
justificações consistentes.
2. A Universalidade
Universalidade termo polissémico em filosofia, no entanto vamos destacar
3 sentidos.
1 Universalidade no referente ao objecto da filosofia.

Objecto da filosofia # Objecto da ciência

O todo – possui um objecto total Particular, delimitado, circunscrito.


ou integral (preocupa-se com tudo
quanto existe).
O objecto de cada ciência é parcelar (uma
parcela do real).
Nenhum assunto está, à partida, excluído da reflexão filosófica.

Logo, relativamente à universalidade, a filosofia não é ciência.

Ciência #
filosofia

Objecto parcelar Objecto total


2- Universalidade no sentido em que o filosofar é inevitável, ou seja,

todos os homens são filósofos.

- a atitude interrogativa é comum a todas as pessoas,


podendo verificar-se em qualquer idade o aparecimento de questões
filosóficas;
- cada um de nós pode não saber nada sobre ciência,
alhear-se dos problemas económicos, políticos, não se interessar por arte;

- no entanto há questões que são inevitáveis, que mais


tarde ou mais cedo acabam por manifestar-se, por exemplo:

Quem sou? De onde venho? Para onde vou? – questões


ligadas com o sentido da existência.
3 – Universalidade no sentido em que os problemas/as respostas interessam a
todos os homens.

Na sequência do segundo sentido, ou seja, em


virtude das questões filosóficas estarem ligadas ao sentido da
existência, à condição humana, estas questões interessam a todos os
homens.
Notas:
 Quando o filósofo se interroga sobre a questão da liberdade não se
trata da sua liberdade pessoal mas de uma indagação sobre a liberdade
de todas as pessoas.
 Relativamente às soluções encontradas por um filósofo para um
determinado problema, essa solução é susceptível de ser admitida pela
humanidade inteira.
 A verdade de um filósofo/ a verdade filosófica destina-se a ser
partilhada por todos os homens. Significa isto que se uma
qualquer pessoa se dedicasse a reflectir nas mesmas circunstâncias,
sobre um dado problema, por exemplo a liberdade, chegaria às mesmas
conclusões que o filósofo que se colocou o problema.
 A filosofia busca a verdade global ou última, quer responder à questão:
O que é o homem e como viver?
SINTESE:

a filosofia possui um carácter universal no sentido em que:

 O objecto da filosofia é integral – nada pode ser excluído da questionação


filosófica;

 Enquanto a ciência parte, fragmenta o seu objecto, para melhor o estudar,


a Filosofia é um saber global, universal, que encara o objecto como um
Todo.

 A atitude filosófica manifesta-se em qualquer ser humano, havendo


interrogações que se colocam a todos pois dizem respeito ao sentido da
própria existência;

 A verdade de um filósofo não lhe serve apenas a ele próprio mas pode ser
partilhada pela humanidade inteira, isto porque as próprias questões
filosóficas também dizem respeito a todos os homens.
 Síntese - continuação
 A universalidade pode ser vista em dois sentidos. Por um lado, em relação
ao objecto da Filosofia que é o todo, a totalidade da realidade. Por isso se
diz que a Filosofia tem um objecto universal.

 Por outro lado, as questões filosóficas, como :"Qual a origem do


Universo?", "O que é o Homem?", entre outras, são universais, ou seja,
válidas em qualquer lugar e em qualquer época.

 Nestas características reside a grande diferença do saber filosófico face


à Ciência.
A Filosofia valoriza mais as questões, enquanto a Ciência, como saber mais
pragmático se preocupa mais com as respostas.
A Filosofia é uma reflexão mais geral, menos circunscrita, que . onde a
Ciência pára, continua a questionar procurando as causas primeiras, os
últimos fundamentos.
A Ciência dá mais importância ao resultado, e a Filosofia ao processo; no
entanto , embora em com perspectivas diferentes, ambas pretendem
explicar o mundo e tornar a realidade cada vez mais clara.
3 – A Autonomia

Autonomia independência, liberdade.

Autonomia exigência de todo o pensamento filosófico –

filosofar “ por nós mesmos”.

A filosofia é um saber autónomo é uma actividade livre e


independente, não se sujeitando a qualquer tipo de constrangimentos, a
qualquer tipo de tutelas.

Logo temos que distinguir filosofia da religião e do senso comum.


As relações filosofia – religião a época medieval e o predomínio das
verdades reveladas (saber dogmático) sobre as verdades procuradas
(saber racional);
alguns temas comuns – por exemplo a
questão das origens, a questão do sentido do universo e a do fim último
do homem;
modos de proceder completamente
distintos.

Religião
Filosofia #

verdade procurada verdade revelada


verdade = ponto de chegada verdade = ponto de partida
Verdade = objectivo a atingir verdade = dado inicial

Predomínio da razão Predomínio da emoção


Autonomia num contexto mais geral, significa que, enquanto
interpretação racional do mundo e da vida, a filosofia é um saber isento,
ou seja

um saber alheio a ideias feitas ,


um saber alheio a conveniências pessoais, sem fins utilitários,
um saber liberto de opiniões correntes,
um saber isento de interesses partidários,
um saber alheio a preconceitos sociais.

Em síntese o saber filosófico é o resultado do exercício autónomo da razão.

Trata-se de pensar por si, de filosofar “por nós mesmos”.


Em Síntese

Afirmar que a filosofia possui carácter autónomo significa que:


 Sendo a filosofia uma actividade da razão, esta confere ao
homem a capacidade de ser verdadeiramente livre: livre para
pensar e livre para agir de acordo com o que pensa.

 A filosofia diz “não” a verdades feitas, a ideias que não são


nossas. Exige uma atitude de recusa perante qualquer tipo de
imposição: imposição dos dados imediatos (dos sentidos),
imposição de outros tipos de saber.

 A filosofia é contrária a qualquer tipo de posição dogmática, seja


ela de natureza religiosa ou outra.

 A filosofia é, por natureza, exercício do espírito crítico. Trata-


se de usar a razão para pensar criticamente o que se afirma e
fundamentá-lo de forma sólida.
4 – A Historicidade

A filosofia é um saber histórico porque reflecte a época histórica


em que ela é produzida.

característica que se refere às relações da


filosofia com o seu tempo, com a época, a sociedade em que surge e se
constitui uma determinada teoria ou sistema filosófico.

Historicidade
a filosofia é um saber situado, um
saber que reflecte os problemas, as preocupações que são vividas numa
determinada época.
as respostas dos filósofos são também
elas condicionadas pelo tempo em que são produzidas, têm as marcas do
contexto histórico-cultural a que pertencem os seus autores.

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