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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA - FUNDAMENTOS

A antropologia filosófica é a antropologia encarada metafisicamente; é um ramo da


filosofia que investiga a estrutura essencial do Homem. No entanto, este com o que
é o homem para o centro da especulação filosófica, sendo que tudo se deduz a
partir dele; a partir dele se tornam eis as realidades, que o transcendem, nos
modos de seu existir relacionados com essas realidades. Ou seja, a antropologia
filosófica é uma antropologia da essência e não das características humanas. Ela
se distingue da antropologia mítica, poética, teológica, e científica natural ou
evolucionista por dar uma interpretação basicamente ontológica do homem. É
também uma disciplina filosófica ou movimento filosófico que tem relações com as
intenções e os trabalhos de Scheler, mas não está unido ao conteúdo específico
desse autor.

“A reflexão sobre nós próprios, reflexão sempre renovada que o homem faz para
chegar a compreender-se” Bernar Groethuysen

“Explicação conceitual da ideia do homem a partir da concepção que este tem de si


mesmo em determinada fase de sua existência.” Landsberg.

Objecto de estudo

Concentra-se no estudo das estruturas fundamentais do homem. Converte-se


numa ontologia, na medida em que nos conduz à questão do significado do “Ser”.
O homem torna-se para si mesmo o tema de toda a especulação filosófica:
interessa estudar o homem e estudar tudo o mais apenas em relação a ele. O que
é mais significativo é o conhecimento do homem, e não o de nós próprios enquanto
individualidade. Estuda, também, o carácter biopsicológico do homem, verifica o
que o homem faz com suas disposições bioquímicas dentro de seu ambiente
biológico que possa diferenciá-lo de outros animais.

Método de estudo

Reflexão sobre a vida, a religião e a reflexão filosófica que parte do principio do


cogito. A introspecção se revela como absolutamente necessária como fundamento
e ponto de partida de qualquer outro recurso de natureza metodológica. Segundo
Groethuysen, ela, de fato, constitui a base da antropologia filosófica. De acordo
com Landsberg, a antropologia filosófica faz uso dos dados proporcionados pelas
outras formas de antropologia, por exemplo, os fornecidos pela “antropologia das
características humanas”, ou seja, dados proporcionados pela biologia, pela
sociologia, pela psicologia, pela etnografia, pela arqueologia e pela história, mas
interpreta esses dados à sua maneira, e procura unificá-los numa teoria
abrangente.

Origem

O pensamento antropológico filosófico teve início quando o homem se sentiu


julgado sobre si mesmo e (em oposição ao idealismo), precisamente sobre a
concreticidade pessoal e histórica de sua vida que antecede e ultrapassa todo e
qualquer conceito. O nome “Antropologia filosófica” é relativamente recente.
Difundiu-se sobretudo a partir dos trabalhos de Scheler, que considera a
antropologia filosófica a ponte estendida entre as ciências positivas e a metafísica.

Objectivo

Mostrar exactamente como a estrutura fundamental do ser humano, estendida na


forma pela qual a descrevemos brevemente (espírito; homem), “explica todos os
monopólios, todas as funções e obras específicas do homem: linguagem,
consciência moral, as ferramentas, as armas, as ideias de justiça e de injustiça, o
Estado, a administração, as funções representativas das artes, o mito, a religião e a
ciência, a historicidade e a sociabilidade, a fim de ver se há algo nessas
actividades, bem como em seus resultados, que seja especificamente humano.
Seu objectivo é colocar no centro de sua reflexão a questão: que é o ser humano?
Como problema, ela tem seus primórdios mais fecundos nos debates de Sócrates e
dos Sofistas.

Immanuel Kant definiu a antropologia como ‘a’ questão filosófica por excelência,
uma vez que a filosofia enquanto tal tomaria ao seu encargo quatro grandes
problemáticas: a metafísica, a ética, a religião e a antropologia, considerando que
todas a três primeiras não seriam senão partes da última, pois todas elas remetem,
em última análise, ao problema do humano.
Teses

Reconhecimento de uma grande continuidade entre o reino animal – em particular


dos vertebrados superiores – e o reino humano, por um lado, e a afirmação de que
as instituições humanas e a fabricação e uso de instrumentos são em princípios
independentes de – no sentido de não ser exigidos por – necessidades biológicas
(com opiniões intermediárias entre esses extremos, como a de que a
institucionalização e a “instrumentalização” são propriedades ou caracteres
emergentes, que têm uma base biológica, mas não são redutíveis a ela.

Problematização

Problemas de carácter metafísico e moral. Coloca o problema do homem no


próprio homem, questiona o lugar ocupado pela função racional do homem em
comparação com outras funções. Kant propôs quatro problemas filosóficos: “O que
posso conhecer?” “O que devo fazer?” “A que posso aspirar?” “O que é o homem?”

Principal filósofo

Max Scheler (pioneiro). As questões relativas à natureza da história e a seu sentido


emergem da reflexão referente à conduta humana e ao seu valor moral, à essência
espiritual do homem, à experiência humana da realidade e à evolução do espírito
nesta relação, ao conhecimento e às formas de saber, assim como às relações do
homem com Deus. Seu pensamento está vinculado à sua concepção da essência
espiritual do homem e à sua teoria da religião. A produção filosófica de Scheler é
dividida em três períodos 1º período: pré-fenomenológico: escritos produzidos a
partir de 1899 e vai até o ano de 1905. 2º Período: fenomenológico: Obras
produzidas de 1906 até 1920, sendo considerado como primeira fase de
maturidade do filósofo. 3º período: período que vai de 1921 até 1928, ano em que
Scheler faleceu, interrompendo-se, bruscamente, a fase de maturidade do
pensador. Este período inclui uma etapa de transição, centrada na temática da
antropologia e metafísica que, marca predominantemente o período. A
fundamentação da ética, a conduta moral e a espiritualidade humana constituem o
âmbito em que se move, primordialmente, a reflexão scheleriana dos dois primeiros
períodos. No terceiro período, a posição que, nos primeiros períodos do
pensamento do autor, ocupava a religião, passa a ser ocupada pela metafísica. A
"esfera" do ser Absoluto, enquanto integrante da própria essência do homem,
permanece intocada ainda que haja mudado sua concepção sobre os actos e sobre
os conteúdos materiais que a compõem, a esfera do ser Absoluto permanece como
constitutiva da própria essência do homem. O conhecimento metafísico do absoluto
deve passar, segundo Scheler, pela antropologia filosófica, ou seja, pelo
conhecimento essencial do homem, já que não se pode esperar que, partindo do
mundo objectivo, se consiga obter qualquer determinação do absoluto. A
metafísica, enquanto conhecimento da natureza do ser absoluto a partir da
essência do homem, não é cosmologia, nem metafísica do objecto, é uma
metafísica do ato e meta-antropologia. Somente a partir do homem, enquanto
sujeito de actos, que se torna acessível a verdadeira natureza do princípio de todas
as coisas. O engajamento activo do homem na divindade possibilita o
conhecimento dos dois atributos do fundamento de todas as coisas: o espírito
infinito (de que procede a estrutura essencial do mundo e do homem) e o impulso
irracional (origem da existência e do ser contingente).

Principais obras

A Posição do Homem no Cosmos – Max Scheler

Filosofia da cultura – Ernst Cassirer

Antropologia Filosofica (Essay on Man) - Ernst Cassirer

Transformação do pensamento do homem ao longo dos séculos

Antiguidade: a Antiguidade centrava-se em torno do “cosmos” ou da natureza em si


estática e encarava o homem em conexão com ela.

Idade Média: o homem era membro da “ordem” emanada de Deus.

Idade Moderna: firma o homem sobre si mesmo, mas predominantemente como


“sujeito” ou razão, de sorte que esta, como sujeito transcendental ou razão
universal panteísticamente absoluta, acabou por subjugar e volatilizar o homem,
convertendo-o em momento fugaz do curso evolutivo do absoluto.

Pensamento contemporâneo: o homem tomou consciência da inanidade de tais


construções e verificou haver perdido tudo, incluindo a própria personalidade e que
principalmente, depois de haver sacrificado a vida do conceito abstracto ilusório, se
encontrava agora perante o nada.

Bibliografia

BRUGGER, Walter. Dicionário de filosofia. São Paulo: Editora Herder, 1962.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de filosofia – Tomo I (A-D) - São Paulo: Editora Ariel
SA, 1994.

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 1ª ed.


Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, S/D.

PRIETO, Silvia T.H. A natureza e o sentido da história em Max Scheler. Tese de


Doutorado. PUC. Porto Alegre. 1991.

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