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Conceitos e interfaces:

sintaxe e morfologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os conceitos de sintaxe e morfologia.


„„ Identificar os procedimentos metodológicos na interface.
„„ Avaliar a importância da conexão entre sintaxe e morfologia.

Introdução
Livro é um substantivo, certo? Sim, é. E livro também pode ser sujeito
ou objeto direto, por exemplo. No primeiro caso, a classificação é mor-
fológica; no segundo, é sintática. Esse tipo de análise é possível porque a
língua é um sistema complexo e pode ser estudada a partir de diferentes
abordagens e variados enfoques de investigação. O objetivo, no entanto,
é sempre o mesmo: estudar as funcionalidades da língua.
Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfolo-
gia, duas ciências que propõem, respectivamente, a análise da função
sintática e da classe gramatical dos termos de uma oração como forma
de estabelecer conexões e significados no texto. Você também vai en-
tender como se dá o funcionamento da formação de palavras, base da
morfologia, que serve de ferramenta para adaptar palavras em relação
ao significado que queremos comunicar.

Morfologia vs. sintaxe


Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a
classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substan-
tivos, artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, prepo-
sições, advérbios e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras
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desempenham dentro da oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto


e indireto, complemento nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros.

O filho obedece aos pais.


Análise morfológica
„„ O: artigo definido masculino singular.
„„ Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
„„ Obedece: verbo obedecer, segunda conjugação.
„„ Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
„„ Pais: substantivo simples, comum, plural.

Análise sintática
„„ O: adjunto adnominal.
„„ O filho: sujeito simples.
„„ Filho: núcleo do sujeito simples.
„„ Obedece aos pais: predicado verbal.
„„ Aos pais: objeto indireto.

O filho tem obediência aos pais.


Análise morfológica
„„ O: artigo definido masculino singular.
„„ Filho: substantivo comum, simples, concreto, masculino singular.
„„ Tem: verbo ter, segunda conjugação.
„„ Obediência: substantivo abstrato.
„„ Aos: combinação (a – preposição + os – artigo definido masculino plural).
„„ Pais: substantivo simples, comum, plural.

Análise sintática
„„ O: adjunto adnominal.
„„ O filho: sujeito simples.
„„ Filho: núcleo do sujeito simples.
„„ Tem obediência aos pais: predicado verbal.
„„ Obediência: objeto direto.
„„ Aos pais: complemento nominal.

Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados


isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua
posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada.
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Tradicionalmente, a morfologia estuda os domínios da palavra, enquanto a sintaxe


estuda os domínios da frase, da oração e do período.

De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve consi-


derar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais,
consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de
possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si,
com capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente.

Estrutura morfológica
Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na
formação das palavras:

Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra.

Considere a palavra “mesinhas”:


mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica.
inh — indica que a palavra está no diminutivo.
a — indica que a palavra é feminina.
s — indica que a palavra é plural.

Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu


significado.

Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas:


casinha
casebre
casarão

A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado


outros elementos.
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Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser


nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo).

Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças.


Desinência verbal — corri, correu, corremos,
correram, correrias, correrá.

Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.

Atemporal
Contraindicação
Desconfigurado
Refeito

Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um


novo significado.

Panfletagem
Casamento
Rinite
Perfeccionismo

A frase no discurso

Forma e função
O debate da prioridade da forma sobre a função ou da função sobre a forma
é antigo, e não se limita somente à área da linguística. Porém, a disposição
em contrariar as abordagens que privilegiam uma ou outra tem sido forte na
linguística moderna.
Na abordagem funcionalista, a sintaxe é vista como o reflexo das funções
comunicativas veiculadas pela frase. A partir desse ponto de vista, forma e
uso não podem ser divididos em partes na explicação dos fenômenos na área
da sintaxe. Na abordagem da Teoria da Gramática Gerativa desenvolvida por
Noam Chomsky, ao contrário, a sintaxe é um componente independente, com
princípios próprios que independem do uso. Todavia, mesmo nessa aborda-
gem, a questão da relação entre forma e função, entre gramática e uso, entre
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estrutura e interpretação semântica, constitui-se uma questão central nas


diversas formulações do modelo ao longo dos anos.

Não faz sentido estudar a morfologia se ela não for aplicada ao enunciado. Por exemplo,
palavras que isoladamente têm determinado sentido, no texto, podem apresentar outro
sentido — uma vez que não trabalhamos sem levar em consideração o contexto em
que as formas e funções estão inseridas. Veja um exemplo muito difundido:

Ele não sabia que a aula terminaria mais cedo naquele dia.

O sabiá nem sempre se aproxima das pessoas.

Ele agora está são.

São duas horas agora.

Hoje é dia de São Jorge.

ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. N.; FADEL, T. Português: língua, literatura, produção de


texto. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio de Ja-
neiro: Lexikon Editorial, 2013.

FIORIN, J. L. Sintaxe. São Paulo: Contexto, 2009.

ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas:


Pontes Editores, 2006.

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