Você está na página 1de 32

“Todos nós sabemos que a língua não é apenas um sistema de comunicação nem um simples

sistema simbólico para expressar ideias. É muito mais uma forma de vida e uma forma de ação,
ou ainda uma forma de organização dos pensamentos e das atitudes.
Quando queremos exercer qualquer tipo de poder ou de influência, recorremos ao discurso;
ninguém fala só para exercitar as próprias cordas vocais ou os tímpanos alheios. Na realidade,
o meio em que o ser humano vive e no qual se acha imerso é muito maior que seu ambiente
físico, já que está envolto também por sua história, pela sociedade que o criou e pelos seus
discursos. Nesse contexto, é central a ideia de que a língua é uma atividade ‘sociointerativa’.
O funcionamento de uma língua no dia a dia é, mais do que tudo, um processo de integração
social. Claro que não é a língua que discrimina ou que age, mas nós que com ela agimos e
produzimos sentidos.”
Luiz Antônio Marcuschi, Produção textual, análise de gêneros e compreensão.

1 Felipe Pereira - Português


Português | | 1
Fonét ica
Fonética x Fonologia
Essa é a parte da gramática em que se analisam os sons através dos quais nos comunicamos. No entanto,
somente a Fonética estuda o aspecto físico dos sons - a forma como são pronunciados. Aqui, estudam-se
as diferentes formas de se dizer uma mesma palavra (os “sotaques”). Por exemplo, o fato da palavra “tia”
ser pronunciada de duas formas diferentes no Sul do Brasil interessa à Fonética.
Já a Fonologia atém-se ao modo como os sons se manifestam dentro do sistema “língua”. Aqui, os sons
têm de ter valor para o significado da palavra. Ou seja, a forma como a substituição de um único som
pode transformar um vocábulo em outro [como ocorre em “tia”, “mia”, “via”, “pia”] interessa à Fonologia.

1) Letra e Fonema 3) Tonicidade


Até aqui, provavelmente, você esteve acostumado Todas as palavras, com raríssimas exceções, têm
a separar as palavras em sílabas, o que faz com que co- sílaba tônica. O Núcleo dessa sílaba - como o núcleo
loquemos o “foco” nas letras. A partir de agora, o que do todas as sílabas - é uma vogal; essa vogal é a Vogal
nos interessa são os sons das palavras, sua pronúncia. Tônica da palavra, a dona do pedaço, o som mais alto
Assim, passaremos a dividi-las em Fonemas. É preciso do vocábulo.
que você saiba que não há exata correspondência entre
Letra e Fonema. Por exemplo, uma mesma letra pode Exercício 1) Identifique a Vogal Tônica das palavras abaixo:
representar diferentes fonemas [“C” é /s/ em “cebola” (1) Telefone (2) Jiboia (3) Feito (4) Azeitona
e /k/ em “casa”], assim como um mesmo fonema pode (5) Azeite
ser representado por diferentes letras [/s/, que é repre-
sentado pelos gêmeos “SS” em “assar” e por “XC” e “Ç” A vogal mais forte de raríssimas palavras pode “su-
em “exceção”]. mir” na pronúncia, enfraquecer, tornar-se Semivogal,
sem que o significado da palavra fique prejudicado,
2) Classificação dos Fonemas como ocorre, por exemplo, em “por (prep.)” e “porque”.
2.1 Consoantes Nesses casos, a palavra não tem vogal forte, não tem
sílaba forte; é uma palavra ÁToNA.
Os sons consonantais são sons pronunciados
com algum tipo de interrupção do ar. Sozinhos, são sim-
ples ruídos. Esses sons são “meros mortais” auxiliares
na formação das sílabas. Fale algumas palavras e você
4) Fenômenos Fonêmicos
vai notar que os sons mais baixos são Consoantes. Nos- 4.1 Encontros Consonantais
sa língua, em particular, tem certo horror a Consoante;
Os Encontros Consonantais podem ser Perfeitos
toda palavra com sequência consonantal nos sai difícil
(aqueles que têm como segunda Consoante L ou R) ou
da boca.
Imperfeitos (todos os demais). Os Imperfeitos são cha-
2.2 Vogais mados assim porque podem ser facilmente desfeitos
com um pequeno /i/, que se intromete entre as Con-
Os sons vocálicos são os “queridinhos” do Por-
soantes. Por exemplo, a palavra AD-Vo-GA-Do é pro-
tuguês Brasileiro; as palavras da nossa língua estão mi-
nunciada /a. di. vo. ga. do/. Note que pusemos uma
nadas de vogais. Esses são sons pronunciados sem ne-
vogal na palavra; criamos uma nova sílaba.
nhuma obstrução do ar. Por isso, estamos acostumados
a falar de boca aberta, literalmente. Na escrita, registra- 4.2 Encontros Vocálicos
mos 5 vogais: A, E, I, O e U. Como agora estudamos os
Ditongo – é o encontro de dois sons vocálicos na
sons das palavras, registraremos 7: /a/, /e/, /é/, /i/, /o/,
mesma sílaba. O Ditongo pode ser Crescente (sV-V) ou
/ó/ e /u/. As vogais são tão importantes na nossa língua
Decrescente (V-sV).
que toda vogal sempre é o Núcleo de uma sílaba. Separe
Tritongo – é o encontro de três sons vocálicos na
qualquer palavra em sílabas e você notará que o som
mesma sílaba, como ocorre “Paraguai”, “Uruguai” e
mais forte de toda sílaba é uma Vogal. Você também
“enxaguam”.
precisa saber que toda sílaba tem uma, e somente uma,
Hiato – agora, os sons vocálicos continuam lado a
vogal, o que justifica a existência das Semivogais, sons
lado, mas em sílabas diferentes, como ocorre em “Ca-
vocálicos “fracos”; sons esses que dividem a sílaba com
noa”, “País”, “Saúde”.
as vogais “verdadeiras”.

2 | | Português
Português - Felipe Pereira 2
5) Dígrafos salientar que as letras “M” e “N”, quando estiverem de-
pois de uma vogal, representam a Nasalização da mes-
Toda vez em que temos duas letras para represen-
ma. Assim, a sequência “AM” em “CAMPO” representa
tar um único som, um único Fonema, temos um Dígra-
um único som /ã/; temos um dígrafo.
fo. Por exemplo, “SS”, “NH”, “LH”, “RR”. É importante

ACEN TUAÇÃO G RÁF ICA


É preciso ter clara a distinção entre Acento Gráfico e Acento Fônico. Obviamente, está claro que o fônico
é o falado, e o gráfico, o escrito. Toda palavra tem acento fônico, ou seja, toda palavra (com raríssimas
exceções) tem Sílaba Tônica; no entanto, nem toda palavra tem acento gráfico; aliás, poucas são as que o
têm. Portanto, lembre, a todo momento, que não é a forma como falamos que determina o uso do Acen-
to Gráfico, mas, sim, a forma como escrevemos. O fenômeno está na grafia, nas letras, e somente nelas.

1) Acento Diferencial SAUDE SAUVA SAUDADE CAIDA DESTRUI-Lo


ARCAISMo TEM SAIMoS SAIRMoS SAIA CAIA
Nessa regra, palavras muito parecidas receberão FLUIDo
um acento para que fique claro “quem é quem”. O acen-
to, aqui, tornará diferentes palavras que se parecem. Atenção: Quando o Hiato Tônico vier depois de
• PÔR (verbo) x POR (preposição) Ditongo Decrescente, não leva acento.
• PODE (presente) x PÔDE (Pret. Perf.) FEIURA / BAIUCA
• TER / VIR
• Forma /ó/ (Subst. e Verbo) x Fôrma (Subst.) (Esse é Regra Antiga: Acentuavam-se os hiatos ÔO, ÊE,
opcional!) quando tônicos.  Espero que eles DÊEM certo. Meus
alunos LÊEM muito.
Regra Antiga: De acordo com a nova regra (que não é mais tão
• PÁRA (verbo) x PARA (prep.) nova assim), esse acento não existe mais. Portanto, es-
• PÊRA – só no singular. O Plural Peras não leva acento. creve-se: Voo, LEEM, DEEM, VEEM...
• PÓLO
• PÊLO 4) PROPAROXÍTONAS
• PÉLO, PÉLAS (verbo ‘Pelar’)
• CÔA, CÔAS (verbo ‘Coar”) A regra é simples: TODAS são acentuadas; o que
muda é o acento, conforme a pronúncia da Vogal Tônica
– Aberta(agudo) / Fechada(circunflexo)
2) Ditongos Abertos ( ÓI, ÉU, ÉI )
Lâmpada Médico Antropólogo Frequência Sádico
Acentuam-se somente os Ditongos Abertos
Existe um tipo diferente de Proparoxítona, cha-
Oxítonos.
mado de Proparoxítona Relativa ou ainda Paroxítona
Exercício 1) Acentue as palavras quando for necessário: terminada em Dit. Cresc. Exemplos desse grupo são:
HERoI HERoICo JIBoIA ASTERoIDE CoBAIA ÍNDIO, RELÓGIO, SUBSTÂNCIA, SECRETÁRIA. Essas pa-
IDEIA CEU ANEIS ANZoL ANZoIS lavras têm, na verdade, dois nomes; isso ocorre porque
elas podem ser pronunciadas de duas formas, como PA-
Regra Antiga: Todos os Ditongos Abertos (oxítonos
ROXÍTONA (na pronúncia intuitiva, diária) e como PRO-
e paroxítonos) eram acentuados: “Idéia”, “geléia”,
PAROXÍTONA (na pronúncia silabada, artificial).
“quelóide”, “herói”, “heróico”.

5) PAROXÍTONAS E OXÍTONAS
3)Hiato Tônico ( I e U ) Essas duas amigas formam uma única regra. Não,
Acentuam-se as letras I e U se... você não precisava ter decorado tanta coisa!
• Forem Tônicos orais Exceto as
REGRA GERAL
terminadas em
• Vierem depois de uma vogal diferente (HIATO)
• Vierem sozinhas na sílaba, ou acompanhadas de “S”. PARoXÍToNAS Todas têm acento A, E, o, EM, ENS

oXÍToNAS Nenhuma tem acento A, E, o, EM, ENS


Exercício 2) Acentue as palavras quando precisar:

3 Felipe Pereira - Português


Português | | 3
Exercício 3) Todas as palavras abaixo são paroxítonas; 7) Monossílabos Tônicos
coloque acento quando convier.
Todos hão de convir que toda palavra monossíla-
POLEN POLENS AÇUCAR BIQUINI GARIBALDI LEO
ba não passa de uma Oxítona. Assim, deve ser tratada
COCO IMPAR TEXTIL PERDOO SOMENTE ABENÇOA
como tal. Levarão acento as TÔNICAS terminadas em A,
ABDOMEN NUVEM CANCER TORAX NUVEM LIQUEN
E, o. ‒ LÁ, TEM, PÓ, SÓ, PÁ, TI.

Exercício 4) Todas as palavras abaixo são oxítonas; use o Atenção: a Trema (sinal que era usado para marcar
acento quando convier. a pronúncia do “U” quando estivesse nos cenários:
URUBU FEBRIL VELOZ MENOR LUCIDEZ PORTUGUES Q_I, Q_E, G_I, G) não existe mais, segundo o “novo”
INTERVEM CAQUI URETER COCO PARA ANEL LUAU acordo ortográfico.
ANZOL CORONEL
Exercício 5) Coloque o acento nos lugares certos.
Sua rubrica era gratuita para os avaros que fossem gen-
6) Palavras Terminadas em Ã, ÃO tis, compreensiveis e amaveis. Compra-la-iamos se não
fosse cliche, atroz e arcaico. Sim... alias, não! O texto
Essas palavras seguem a regra geral: as Paroxítonas não faz sentido algum. Distorça o nariz; acentue: ‘virus’,
são acentuadas; as Oxítonas não. ‘dolar’, ‘humus’, ‘raiz’, ‘refem’... ‘Hoteis’ ainda tem? E os
ÍMÃ, ÓRGÃO, ÓRFÃO, AMANHÃ, COMPRARÃO, hoteis ainda tem vagas? Hãn?... Vagas não, mas jiboias
COMERÃO. ainda vem. Isso importa a alguem? Intervemvarios alu-
nos indignados nesse interim.. e gritam: Xerox!!! Clovis,
onde voce foi?

G RAFIA D OS P ORQUÊS
Antes de tudo, é preciso deixar claro que, apesar de serem quatro as formas dos porquês (por que, por
quê, porque e porquê), são apenas três as regras que determinam a grafia correta.
Aqui, se você relembrar como identificamos uma Palavra Átona, determinar o uso do acento se tornará
tarefa fácil.
1) POR QUE - Não vou ao Alternativo porque namoro.

Usa-se o porquê separado quando ele for equivalente Lembre-se de que esse porquê não é acentuado por-
às expressões: que é uma palavra ÁTONA.

• POR QUAL (POR QUAIS)


• PELO QUAL (PELOS QUAIS, PELA QUAL, PELAS
3) PORQUÊ
QUAIS) Usa-se esse porquê quando pudermos colocar em
• POR QUE RAZÃO (mais frequente) seu lugar a palavra “MoTIVo”, mesmo que a frase perca
o sentido original. No entanto, só isso não nos basta. É
- As ruas por que (pelas quais) passas são essas? preciso ter em mente que esse porquê é uma palavra
- Por que (razão) não vais ao Beco? Substantivada (comporta-se como um Substantivo).
- O porquê dele é forte.
Atenção - Todos têm seus porquês.
Quando esse porquê “bater” em qualquer sinal de Não se esqueça de que esse porquê leva acento por-
pontuação (ponto, vírgula, dois-pontos...), levará acento! que é uma palavra TÔNICA.
- Não vais ao Alternativo por quê?
- Não sei por quê. Atenção: as regras de grafia dos porquês também
valem para os quês. Esses levam acento sempre que
Não esqueça que, agora, o porquê leva acento porque
estiverem marcados por sinal de pontuação e sem-
se tornou uma palavra TÔNICA.
pre que forem Substantivados.
- Ele tem um quê de vingativo.
2) PORQUE
- Ele queria olhar não sei o quê.
Usa-se o porquê junto quando ele for equivalente - Ele é o que mais estuda.
à expressão
PELO FATO DE QUE Mais uma vez... A diferença entre os quês é que um
- Ele estuda porque (pelo fato de que) quer passar. é ÁTONO, e o outro, TÔNICO.

4 | | Português
Português - Felipe Pereira 4
Exercício 1) Preencha as lacunas com os porquês, usan- - Esses são os objetivos ........... lutas?
do as regras há pouco estudadas: - ........... ela foi para o mato com ele?
- Ninguém sabia ............ ele fazia aquilo. Ninguém que- - Todos querem saber ..........
ria saber ........... - TOOODOS querem saber o ..........
- ........... alguém gosta de uma poema? Não entendo - Desististe da carreira de atriz ............ ?
............ - Não falou ............. estava mudo.
- ........... queres ir para casa? Só ......... ela ficou com ou- - ........... não ficas com ela? .......... ela não tem dentes?
tro na tua frente? - Não entendi ........... querem me prender.
- ........... ele chegou, tu vais embora?

MORFOLO G IA
Classes Gramaticais
É importante estar ciente de que tratar de classes é uma forma de separar as palavras em grupos teorica-
mente fechados. Afinal, quando chamamos uma palavra de substantivo, essa é uma classificação definiti-
va. Por exemplo, não importa a frase em que a palavra “casa” se encontra - ela será sempre um substanti-
vo. Na verdade, ela não precisa estar em frase nenhuma para que a chamemos de ‘substantivo’. Estamos,
aqui, na morfologia, estudo da forma da palavra. Usaremos frases, mas a classificação independe delas.

} {
No Português, as palavras são distribuídas em dez Classes Gramaticais, que assim se dividem:

Substantivos Advérbios
Adjetivos PALAVRAS PALAVRAS Preposições
Artigos VARIÁVEIS INVARIÁVEIS Conjunções
Verbos Interjeições

Pronomes
Numerais } PALAVRAS VARIÁVEIS
e INVARIÁVEIS

Podemos dividi-las também quanto à possibilidade de formarem novas palavras:

Produtivas Improdutivas
Substantivos (Internet, DVD, computador) Artigo
Adjetivos (Lunático, Machadiano) Numeral
Verbos (Pagodear, Farrear, Pilhar) Pronomes
Advérbios (Adjetivo + -Mente) Preposições
Conjunções

1) SUBSTANTIVO Assim, vão nos restar blocos que formam as frases. As


palavras são divididas em Sílabas; as frases, em Sintag-
O Substantivo é a mais famosa das Classes Grama- mas. Observe a análise a seguir:
ticais por vários motivos. Um deles são as várias defi-
nições de Substantivo que você já leu (Por exemplo: -A febre aftosa é uma doença grave e causa ema-
“Palavra que nomeia seres”). No entanto, há outro fato grecimento rápido no animal.
- esse nos interessa - que coloca nosso Substantivo no A febre aftosa ... uma doença grave ..... ........ ema-
topo: ele, quando aparece na frase, é sempre o Núcleo grecimento rápido no animal.
do Sintagma Nominal em que se encontra. Sint. Nom. 1 Sint. Nom. 2 Sint. Nom. 3 Sint. Nom. 4

Sintagma Nominal? Atenção: mais tarde, os Sintagmas Nominais será


chamados de Funções Sintáticas, e o núcleo de toda
O Sintagma Nominal obviamente é composto por
função sintática é sempre um... Substantivo!
um ou mais nomes; portanto, descartaremos os verbos.

5 Felipe Pereira - Português


Português | | 5
Exercício 1) Identifique, utilizando as técnicas estuda- pode vir a comportar-se como um Substantivo.
das, os Sintagmas Nominais das frases seguintes e en- Será preciso que você tenha clara a noção de que
contre o Núcleo (Substantivo) de cada Sintagma. o Substantivo sempre é Núcleo de um Sintagma No-
minal.
Os butiás caíram do bolso.
A galinha dos ovos de ouro fez sua última proeza. Substantivação do Adjetivo:
- A bonita da festa só olha para cima.
Aquele fedido pirralho levará um soco na cara.
Todos os alunos estão ficando com sono. Substantivação do Verbo:
- Eu nunca esquecerei aquele amanhecer na areia.
Esses alunos acertaram os exercícios?
O oficial da guarda publicou a relação oficial dos arma- Substantivação do Advérbio
dos homens. - O amanhã a Deus pertence.
Substantivação do Numeral
- Esse dois vale mais que aquele quatro.
Substantivo Abstrato x Substantivo
Concreto
Há muita divergência quanto à diferenciação desses 2) ADJETIVOS
dois tipos de substantivo. Você provavelmente já escu- Adjetivos são palavras que sempre atribuem caracterís-
tou que nos ‘concretos’ podemos tocar e nos ‘abstra- ticas a um Substantivo ou a uma palavra Substantivada.
tos’ não; esse raciocínio não nos interessa. Diferencia- Assim, é fácil concluir que, enquanto o Substantivo é o
remos assim: os Substantivos Concretos são palavras Núcleo, o “centro”, o “principal”, o Adjetivo é uma pala-
que têm independência Semântica, são palavras vra sem independência, “presa”; seu papel é dar uma
“ilhadas” que existem por si só. Já os Substantivos qualidade a algo ou alguém.
Abstratos são palavras sem independência, palavras
[homem gordo – mulher alta – livro pequeno – mar
derivadas, palavras que só têm sentido se atreladas a
grande]
outra de mesma raiz.
Exemplos de Subst. Concreto: ar, planta, elétron, meni- O normal é o Adjetivo estar à direita do Substantivo.
no, Fada, Deus, Papai-Noel. Uma mudança na ordem Subst. + Adjet. pode acarre-
Exemplos de Subst. Abstrato: plantação, meninice, fide- tar mudança de significado; note:
lidade, leitura, caminhada.
Os Substantivos Abstratos normalmente expressam Mulher linda Amigo velho
‘qualidade’ (Derivam de Adjetivos) ou ‘ação’ (Derivam Linda mulher Velho amigo
de Verbos).
Certo dia Autor Defunto
Dia certo Defunto Autor
Exercício 2) Forme Substantivos Abstratos a partir dos
ADJETIVOS e dos VERBOS das expressões, seguindo os Mulher pobre Amigo cachorro
modelos abaixo. Pobre mulher Cachorro Amigo
[ homem feio – a feiura do homem ] Homem grande
[ desenvolver projetos – o desenvolvimento dos projetos ] Grande homem
a) Mulher infiel h) Abrir as calças
b) Homens infantis i) Comprar os relógios 2.1 Palavras Adjetivadas
c) Chefes estúpidos j) Manter a loja Há pouco, descobrimos que os Adjetivos podem
d) Expressão livre k) Contrair o músculo exercer papel de Substantivo. Agora, veremos que os
e) Pernas abertas l) Calcular as quantias Substantivos também podem vir a exercer função de
f) Velhas feias m) Corromper os políticos Adjetivo.
g) Classe homogênea Isso nos faz pensar que as Classes Gramaticais não
representam grupos de palavras isolados (o grupo dos
Substantivos e o grupo dos Adjetivos), mas sim papéis
1.1 Palavras Substantivadas gramaticais, os quais podem ser exercidos pelas mais
Até aqui, viemos com a ideia de que Substantivo variadas palavras.
forma um grupo definido, fechado. A partir de agora, Portanto, de nada vale uma lista de Substantivos,
precisaremos entender a palavra SUBSTANTIVO como ou uma de Adjetivos; o que importa é sabermos o que
um papel a ser exercido. Ou seja, um vocábulo que está significa ser Adjetivo o que significa ser um Substantivo.
na lista dos Advérbios, dos Verbos, dos Adjetivos e etc.

6 | | Português
Português - Felipe Pereira 6
Exercício 2) Identifique os Adjetivos das frases abaixo e - Você precisa de um médico.
indique a que Substantivo se referem: - Você precisa de um médico, não de quatro.
- Aquele homem cachorro vai levar um grande chute na
pequena bunda.
- O estojo cinza foi pintado de cinza forte. 4) PRONOME
- A cinza fedida caiu do cinzeiro cinza. A verdade é que essa é uma classe gramatical sem
- Um cachorro amigo vale mais do que um amigo ca- identidade. De uma forma geral e grosseira, PRO + NO-
chorro. MES são aqueles que trabalham “pro” nome, isto é,
- Homem santo só existe no berçário. para os substantivos – as palavras que nomeiam. De
- Meu santo forte não me abandona nas minhas notó- que forma eles trabalham? Ou acompanham um subs-
rias bebedeiras. tantivo (Pronomes Adjetivos) ou se comportam como
Adjetivos x Locução Adjetiva se fossem um substantivo (Pronomes Substantivos). O
problema é existem seis tipos de pronomes: Interroga-
A palavra “Locução” é usada quando temos duas ou
tivos, Indefinidos, Demonstrativos, Possessivos, Rela-
mais palavras exercendo o papel de uma única Classe
tivos e Pessoais. Todos são tão diferentes entre si que
Gramatical. Assim, a Locução Adjetiva exerce o papel
nem parecem constituir uma só classe. Por isso, são
de um Adjetivo; a Locução Verbal exerce o papel de
estudados separadamente. Aqui, falaremos somente
um Verbo e assim por diante. É preciso ter em mente
de quatro: Interrogativos, Indefinidos, Demonstrativos
que uma Locução Adjetiva é formada normalmente
e Possessivos.
por PreP. + SubSTANTivo. Por um erro do destino,
nem sempre temos Adjetivo na Locução Adjetiva.
4.1 Pronomes Indefinidos
Observe:
Esses são pronomes que, como o próprio nome su-
- Cabeça de bagre [“bagre” é um Substantivo]
gere, dão ideia incerta. Podem acompanhar um subs-
Loc. Adj.
tantivo, sendo um Pronome Indefinido Adjetivo. Por
- Cavalo do pampa gaúcho [“pampa” é um Subst., e
exemplo: “Qualquer homem serve para ele”. Ou ainda
Loc. Adj. “gaúcho”, um Adj.]
podem fazer as vezesde um substantivo, sendo um Pro-
nome Indefinido Substantivo. Por exemplo: “Tudo lhe
- Homem de ferro [“ferro” é um Substantivo]
faz mal”.
Loc. Adj.
Formas Variáveis Formas Invariáveis
Exercício 3) Identifique os Substantivos, os Adjetivos e (P. Ind. Adjet.) (P. Ind. Subst.)
as Locuções Adjetivas do trecho abaixo: Algum, alguma, nenhum, nenhuma alguém, algo
Os silenciosos, os mudos, os calados são os melhores muito, muita, muitos, muitas ninguém
alunos do mundo inteiro. Pessoas barulhentas não fa- pouco, pouca, todo, toda tudo, quem
zem sucesso, nem promovem o progresso da nação bra- e etc. e etc.
sileira. Portanto, saiba que estar entre os melhores da
sala exige compenetração, ausência de preguiça e fome
de conhecimento. 4.2 Pronomes Interrogativos
Pronomes Interrogativos são pronomes indefinidos
empregados em uma pergunta (direta ou indireta). Por
3) ARTIGOS E NUMERAIS exemplo: “Quem é você?” (pergunta direta); “Não sabe-
mos quem é você!” (pergunta indireta).
Tanto os Artigos quanto os Numerais são palavras
acessórias que acompanham sempre um Substanti- Formas Variáveis Formas Invariáveis
vo ou uma palavra Substantivada. (P. Int. Adjet.) (P. Int. Subst.)
Os Artigos se dividem em DEFINIDoS (o, a, os e as) Qual, Quais Que
e INDEFINIDoS (um, uma, uns, e umas). Quanto, quanta Quem
Numeral é toda palavra que, de alguma forma, ex- Quantos e quantas e etc.
e etc.
presse uma contagem: ou numérica (um, dois, três),
ou ordinal (primeiro, segundo, terceiro), ou fracionária
(meio, um terço).
4.3 Pronomes Demonstrativos
Exercício 4) Sublinhe os Artigos e circule os Numerais Esses pronomes fazem exatamente o contrário dos
das frases abaixo: Indefinidos, pois de certa forma especificam o subs-
- Um garoto roubou dois ovos tantivo a que se referem. Os demonstrativos localizam
- Uma menina levou meia sacola de pães. os nomes em três aspectos: espaço, tempo e discurso

7 Felipe Pereira - Português


Português | | 7
(texto). Daí vem a quantidade de coisas que você já
Os Advérbios de Intensidade têm cor diferente
deve ter ouvido sobre o “este” e o “esse”: um se refere a
porque eles tocam em outra banda; eles podem
quem está perto; outro se refere a quem está longe, ou
modificar também um Adjetivo ou até outro
seria ao passado? Ou então àquilo que já foi dito no tex-
Advérbio .
to? Todas essas dúvidas serão esclarecidas nessa parte
da nossa vida e da matéria. - Meus alunos estudam muito.
- Elas são muito bonitas.
Formas Variáveis Formas Invariáveis
- Os australianos jogam muito mal.
(P. Dem. Adj.) (P. Dem. Subst.)
Esse(s), Essa(s) Isso
Este(s), Esta(s) Isto Exercício 5) Identifique os Advérbios das frases abaixo e
Aquele(s), Aquela(s) Aquilo a palavra a que eles se referem.
- Ele joga muito bem.
4.4 Pronomes Possessivos - O homem ontem estava exercendo mal sua função.
Apesar de todos dizerem por aí que esses - A melhor da turma é a que escreve melhor.
pronomes indicam “posse”, não é sempre assim que - O amanhã, hoje, não importa.
eles se comportam. Por exemplo: “vou assistir à minha - Tu certamente estudarias se te forçassem mais.
novela”, “não aguento meu chefe”, “Perdi meu ônibus”.
Claramente temos três pronomes possessivos que 5.1 Advérbios x Locuções Adverbiais
não indicam posse alguma. Afinal, nem a novela, nem
Mais uma vez, a palavra “Locução” aparece para
o chefe, nem o ônibus são “meus”; não os possuo.
nós. Aqui, poderemos ter Locuções Adverbiais vazias de
Bom, e agora? É sempre muito complicado determinar
Advérbio. Ou seja, palavras agrupadas que, juntas, exer-
o funcionamento semântico de qualquer classe
cem o papel de um único Advérbio. Observe:
gramatical. Por isso, temos que nos ater no modo como
as palavras se comportam dentro da língua, ou seja, “Ela foi embora de tarde”
dentro das frases. Mais ainda... os possessivos têm um “Nessa hora já estavam longe”
comportamento bastante singular, pois concordam com “Precisava de você naquele momento”
o substantivo que está à sua frente (à sua direita), mas “As peças estão em cartaz”
referem-se a um substantivo antecedente. Observe: “O
professor perdeu os seus livros, as suas canetas e oseu 5.2 Formação dos Advérbios
amor-próprio”. Note que os três pronomes possessivos Para formar um Advérbio, precisamos apenas pegar
concordam, respectivamente, a “livros, caneta e amor- um Adjetivo, colocá-lo em sua forma feminina e juntá-lo
próprio”; no entanto, a quem eles se referem? Ao ao Sufixo –MENTE.
“professor”. Adjetivo + mente = Advérbio.
Belo(adj.) –> Belamente(adv.)
Doce(adj.) –> Docemente(adv.)
5) ADVÉRBIO
Rápido(adj.) –> Rapidamente(adv.)
A partir de agora, sairemos da casa dos Nomes e
visitaremos a dos Verbos. Enquanto Artigos, Adjetivos, É preciso ter cuidado com as palavras MAiS, Me-
Pronomes, Numerais são palavras que modificam Subs- NoS, PouCo e MuiTo. Quando qualquer uma dessas
tantivos, os Advérbios modificam o Verbo, expressan- se referir a um Substantivo, será classificada como Pro-
do as circunstâncias em que a ação ocorre (lugar, tem- nome Indefinido.
po, etc).
- Mais mulheres - Pouco dinheiro
DE LUGAR – aqui, lá, fora, dentro... - Muito carinho - Menos gente
DE TEMPO – amanhã, ontem, hoje, sempre... - Pouca comida - Muita saudade
DE NEGAÇÃO – não, nunca, jamais...
DE AFIRMAÇÃO – sim, certamente, realmente... Atente-se para as formas PouCA e MuiTA
DE MODO – bem, mal, depressa e muitos outros termi- (femininas), o que nos prova que essas palavras
nados em –MENTE não podem ser Advérbios, pois NUNCA ESQUEÇA:
DE INTENSIDADE – bastante, muito, mais, menos... ADVÉRBIOS SÃO PALAVRAS INVARIÁVEIS!

8 | | Português
Português - Felipe Pereira 8
Exercício 6) Identifique a Classe Gramatical das palavras no. Nos demais casos, o “A” é só uma Preposição.
destacadas: Mais: os Artigos são variáveis; as Preposições, in-
O menino que era meio feio ficou no meio do ca- variáveis.
minho, sem saber muito sobre o muito que viu. Nessa
tarde, ele saiu bemtarde de casa; vestiu-se melhor; foi Exercício 7) Diferencie o “A” Artigo do “A” Preposição
à escola e tornou-se o melhor aluno da sala; depois se nas frases abaixo:
tornou o bonito da sala. Voltou para casa, comeu meio
A gasolina está A preço de banana.
salame, uma rodela de mortadela e enxergou uma me-
A qualquer momento ele pode pedir A mão A ela.
nina bonita. Deu um salto, depois dois. Cumprimentou
o defuntoamigo, seu vizinho, e foi sentar-se ao lado da A nossa pequena garota entregou seu currículo A este
mulher mais linda da rua. O mais, para ele, agora era empresário.
besteira. Quanto menos pessoas por perto, menos ele Façam A prova A lápis
falava. Somente beijava. A dona Enilzete deve dinheiro A garçonetes.
A Joana voltou A este emprego imundo?
Vou ir A uma massagista.
6) PREPOSIÇÕES Queres A mim ou A ele?
As Preposições são palavras que, isoladas, não Queres A gasolina ou A margarina?
fazem sentido algum. Toda Preposição sempre está en-
tre duas palavras, unindo-as. Por isso, diz-se que essa
Classe Gramatical tem como função ligar palavras. As 7) INTERJEIÇÕES
Preposições são primas das Conjunções: essas ligam
frases, aquelas ligam vocábulos. Por muitos, inclusive por mim, essa classe não é
- Casa de madeira - Café com leite - Guerra con- considerada uma classe. É uma anomalia gramatical
tra o terrorismo que, por falta de opção, foi aqui encaixada. Escutemos
O termo que vem antes da preposição é chamado Celso Cunha: “Interjeição é uma espécie de grito com
de termo Regente, e o que vem depois, de termo Re- que traduzimos de modo vivo nossas emoções”. Por
gido. exemplo: “Ah! Ai meu Deus! Cruzes! Bravo! Psiu!” e as-
Existe um grupo que forma o que chamamos de sim por diante. Vejam, quase não há regularidade quan-
Preposições Essenciais (Preposições que aceitam, após to ao modo de comportamento dessas palavras; elas
elas, os Pronomes Pessoais “mim” e “ti”): podem expressar as mais variadas ideias. No entanto,
merecem valor e já o tiveram nessas sete linhas.
A – ANTE – APÓS – ATÉ – COM – CONTRA– DE – DESDE
– EM – ENTRE – PARA – PERANTE – POR – SEM – SOB
– SOBRE
8. CONJUNÇÕES, VERBOS e
PRONOMES (Pessoais e Relativos)
6.1 Preposições “problemáticas”
Com esses ‘caras’, o buraco é mais embaixo. O
ATÉ: A Palavra “ATÉ” pode comportar-se como
estudo dessas classes envolve muito conhecimento
uma Preposição, unindo vocábulos, ou como um Advér-
sintático; é preciso saber muito sobre estrutura frasal
bio (equivalendo à palavra ‘INCLUSIVE’), modificando
para compreender seu funcionamento. Portanto,
um verbo. Note:
acalme-se, ainda não estamos prontos, mas estaremos.
“Caminharam até(prep.) a br-116.” Para que você se organize, vou informar-lhe que as
“João até(adv.) perdeu as calças.” Conjunções somente serão vistas juntamente com
A (Prep.) x A (Artigo) As diferenças entre Ar- o período composto (temos uma longa caminhada
tigo e Preposição são gritantes. O Artigo só existe ao até lá); os Verbos serão vistos isoladamente, e esses
lado de um Substantivo. Nosso Artigo “A” é ainda mais dois Pronomes restantes serão vistos logo depois das
específico: só pode existir antes de Substantivo Femini- funções sintáticas.

9 Felipe Pereira - Português


Português | | 9
“Para ajudar alguém a desenvolver um saber, o primeiro passo é
dirigir-se a essa pessoa como se ela já fosse detentora desse saber.”
Jean Foucambert

MORFOLO G IA
Estrutura e formação de palavras
Este é um momento bastante singular no estudo da Radical são os Prefixos, e os que aparecem depois, Sufi-
língua. Deixamos de lado o uso da Língua e passamos xos. Observe o Afixo “-EIRO(A)”, que pode indicar planta
a analisar a estrutura interna de cada palavra. Agora, (limoeiro, laranjeira, bananeira), agente (açougueiro,
ela será nosso objeto de estudo. A frase não nos arruaceiro, encrenqueiro, enfermeira), lugar onde se
importa mais; olharemos para dentro das palavras e as guarda (açucareiro, saleiro, roupeiro) e etc.
analisaremos individualmente. É um momento íntimo e 3) Vogal Temática – Essa é uma vogal especial,
totalitário! Precisamos, em primeiro lugar, ter a noção que se junta ao Radical, preparando-o para receber
de que é possível dividi-las, fragmentá-las. Assim, os Afixos e as Desinências. Existem Vogais Temáticas
chegaremos a “pedaços de palavra”, pedaços esses Verbais e Nominais. As Verbais são responsáveis por
que têm carga semântica; chegamos, enfim, à unidade determinar a conjugação verbal: Vogal “A” – 1° conjug.
mínima significativa do Português, ao que damos o (estudando, passarás e viajarás); Vogal “E” – 2° conjug.
nome de MoRFEMA. (crer, ler, fazer) e Vogal “I” – 3° conjug. (cair, partir,
sair). As Vogais Temáticas Nominais são um pouco mais
ESTRUTURA complexas; são elas “A”, “E” e “O” átonas em fim de
Existem quatro tipos de Morfema, quais sejam: Substantivos e Adjetivos. Por exemplo: “mesa”, “triste”.
Note que a vogal “A” em “mesa” é diferente da vogal “A”
Radical, Afixo, Desinência e Vogal Temática.
em “aluna”. Essa última é uma Desinência que marca
1) Radical – Este é o primeiro morfema a ser visto
o gênero; podemos comprovar isso trocando o “A” de
por ser o mais importante. Além disso, ele é também
“aluna” pela Desinência “O”, que marca o masculino
o mais fácil de ser compreendido. O Radical (também
(aluno). Isso não ocorre em “mesa”, nem em “dia”, nem
chamado de Raiz ou Base) é o morfema responsável por
em “poeta”.
guardar a base significativa da palavra. Segundo Evanil-
do Bechara: “Radical é o núcleo do vocábulo onde re- OBS.: Existem letras que são simples adaptações
pousa a significação externa da palavra”. Palavras que fonológicas que aparecem no interior das palavras para
têm o mesmo Radical compartilham sua significação que a leitura se dê de forma mais agradável. Por serem
mais íntima; são, por isso, chamadas de palavras de meros sons destituídos de significado, não são conside-
mesma família, ou palavras cognatas. Observe, a seguir, rados Morfemas. São eles Vogais e Consoantes de Liga-
os Radicais destacados e note como os vocábulos man- ção. Veja: CHÁ + L + EIRA.
têm um significado em comum: (a) espera, esperando, (rad.) (cons. de lig.) (sufixo)
(eu) espero, esperança, esperançoso, desesperado.
Observe que a palavra não é feita só de Radical. A FORMAÇÃO
esse, grudam-se morfemas periféricos. Vamos a eles:
Existem duas grandes modalidades de formação:
2) Desinências – Esses morfemas são responsáveis Composição e Derivação. Na primeira, temos dois Ra-
pela FLEXÃO. Dividem-se em Desinências Nominais dicais (uma palavra Composta). Na segunda, temos um
(Gênero, Número e Grau) e Desinências Verbais (Tem- único Radical, e a esse se juntam Afixos.
po, Modo, Número e Pessoa). Observe a letra “–S”, que
pode ser uma Desinência Nominal que marca PLURAL Tipos de Derivação
nas palavras “aulas”, “estudos” e “vagas”, mas pode Derivação Prefixal – Ex: Impróprio, reler, despro-
também ser uma Desinência Verbal que marca a 2° P. porcional.
do SINGULAR (tu) nos verbos “estudas”, “te dedicas” e Derivação Sufixal – Ex: realmente, amável, braçada.
“passarás”. Derivação Prefixal e Sufixal – Ex: inexplicável,
3) Afixos – Entre todos, aqui está o Morfema mais deslealdade, infelicidade.
versátil e imprevisível. Estamos lidando com o respon- Derivação Parassintética – Essa merece descrição.
sável pela DERIVAÇÃO. Ou seja, é ele que forma novas Nesse tipo de formação, temos o auxílio simultâneo
palavras, dilata a Língua, a enriquece. Diferente das De- de prefixo e sufixo para a formação do vocábulo. Nor-
sinências, os Afixos podem significar muita coisa (qual- malmente, esse processo forma verbos derivados de
quer coisa, eu diria). Os Afixos que aparecem antes do Substantivos ou Adjetivos. Ex: anoitecer, endurecer,

10| | Português
Português - Felipe Pereira 10
enriquecer. Note o Radical “preso” entre o Prefixo e bo) perde o “R” e forma “Costura” (Substant.), “Caçar”
o Sufixo, de forma que nenhum desses dois morfemas (verbo) forma “a caça” (Substant.).
pode ser retirado da palavra sem que essa perca com-
pletamente seu significado. Tipos de Composição
Derivação Imprópria – Nessa derivação, não há Aglutinação – Como o próprio nome sugere, te-
acréscimo de nenhum morfema. A palavra não é vista mos aqui a fusão de dois Radicais. Eles literalmente se
quanto à sua constituição, mas quanto a seu comporta- grudam, se aglutinam, formando um novo vocábulo.
mento na frase. Ocorre Derivação Imprópria quando al- Por exemplo: Petróleo (pedra + óleo), Planalto (Plano +
guma palavra pertence a determinada classe gramatical Alto),Vinagre (vinho + acre).
e funciona, se comporta como se fosse outra. Explico.
Um Substantivo que se comporte como Adjetivo, ou vi- Justaposição – Veja que os nomes são didáticos.
ce-versa. A palavra não é vista de dentro (estrutura do Nesse tipo de formação, os Radicais não mais se mo-
vocábulo), mas sim de fora (estrutura frasal). Por exem- dificam; ficam lado a lado, respeitando-se mutuamen-
plo: A palavra “amanhã” é originalmente um Advérbio; te, sem nenhum dos dois (ou mais) perder letras. Por
no entanto, na frase: “o amanhã a Deus pertence”, exemplo: “Guarda-chuva”, “Passatempo”.
“amanhã” comporta-se como um Substantivo; é um Ad-
A nossa Língua é filha de dois pais: do Grego e do
vérbio Substantivado (até exerce a Função de Sujeito!).
Latim. Isso quer dizer que as palavras do Português,
Derivação Regressiva – Nesse fenômeno, a palavra
em sua maioria, originaram-se gregas ou latinas e
diminui, encolhe, “regride”. É importante saber que,
foram se transformando, até chegar à forma como
na Derivação Regressiva, só se formam Substantivos
conhecemos hoje. O que faremos a seguir é conhecer
Abstratos. O que ocorre é que algumas palavras (ge-
de onde vieram muitas das palavras com as quais
ralmente verbos) perdem um pedaço, são decepadas,
lidamos com naturalidade.
formando novas palavras. Por exemplo: “Costurar” (ver-

Radicais Gregos

Radical Sentido Exemplos Radical Sentido Exemplos


Acro- Elevado, alto Acrópole Gamo- União Bígamo
Acrofobia Polígamo
Acrobata Cariogamia
Antropos- Homem, elemento Antropofagia Geo- Terra, terra Geografia
masculino Filantropia Apogeu
Antropologia Hipo- Cavalo Hipódromo
Hipopótamo
Agogo- Aquele que conduz Pedagogo
Holo- Inteiro, completo Holocausto
Demagogo
Holofote
Auto- de si mesmo Autobiografia Autógra- Leuco- Branco Leucócito
fo Autoimune Leucemia
Arqu(ia)- Governo, poder Monarquia Mega-, Me- Grande Megalomania
Anarquia galo- Megacéfalo
Alg(ia)- Dor Analgésico
Nau- Navio Nau
Nevralgia
Nauscópio
Caco- Mau, desagradável Cacofonia Náusea
Cacografia Nomo- Conhecedor Agrônomo
Cacoete Gastrônomo
Clepto- Furto Cleptomania Autônomo
Cleptofobia Orto- Direito, Correto Ortografia
Derm- Pele Epiderme Paquiderme Ortopedia
Dermatologia Ortodontia
Pan- Todo, inteiro Panorama
Escler(o)- Duro Esclerose Esclerên- Panaceia
quima Pandemônio
Espermat(o)- Semente Endosperma Gimnos- Pan-americano
perma Espermatozoide Rin(o)- Nariz Rinite
Fago- Que come Necrófago Rinoceronte
Fagocitose Taqui- Rápido Taquigrafia
Taquicardia
Filo- Amigo, amante Filosofia Taquifagia
Filantropo Te(o)- Deus Monoteísta
Necrofilia Teologia
Fobo- Que tem horror, Claustrofobia Ateu
aversão Homofobia Xen(o)- Estranho, estran- Xenofilia
Hidrofobia geiro Xenofobia

11 Felipe Pereira - Português


Português | | 11
Radicais Latinos
Radical Sentido Exemplos Você deve (deveria, pelo menos!) estar estranhando
Ambulare que anda Sonâmbulo a diferença na quantidade entre Radicais Gregos
Ambulante e Latinos. Esses aparecem em menor número
Ambi Dois Ambos que aqueles pelo fato de que o Latim é o grande
Ambidestro
originador das palavras em Português; há
Ambíguo
relativamente poucas diferenças entre as formas
C a e d e r e , Que mata Homicida
Cida Suicida Latinas e as formas hoje usadas em nossa Língua. Ou
Inseticida seja, não significa que o Latim é menos importante,
Flamma Chama, fogo Flamejante apenas estudá-lo não é tão necessário. O Latim
Inflamar
Inflamável formou palavras usadas diariamente; formou o
Jus, Juris Justiça, Direito Jurisprudência vocabulário corriqueiro, “do povão”. Já o Grego
Justiça está mais ligado a termos técnicos, científicos.
Pater Pai Paternal Segundo Luiz Antônio Sacconi: “O grego e a ciência
Patrocínio caminham passo a passo. Sempre que surgem novas
Patrimônio
descobertas, recorre-se ao grego para nomeá-las.
Pes, Pedis Pé Pedicuro
Bípede Por exemplo, temos o telefone [tele(distância) +
Similis Parecido, seme- Semelhança fone(som, voz)].”
lhante Verossímil

VERBOS
Modos e Tempos
Os verbos são grandes guerreiros da língua portu- Eu estudo todo dia. Eles roubam todo ano. Ela
guesa; eles são verdadeiros “carregadores de piano”. está sempre linda.
Sozinhos, levam uma série de informações: um único
verbo pode-nos revelar muito. Por exemplo, quando PASSADoS (3 tempos)
você escuta a forma verbal “Estudei”, você sabe quem Pretérito Perfeito – Esse tempo verbal expressa
agiu (EU) e quando agiu (PASSADO). Por isso, o estudo ações concluídas que não se repetem no passado.
dos verbos é bastante fragmentado. Falaremos sobre Observe:
verbos até o fim do ano - isso provoca reação alérgica Eu estudei um dia durante o ano passado. Nós
em alguns alunos. fizemos bobagem. Maria quebrou o pé.

1) MODOS VERBAIS Pretérito Imperfeito – Apesar de esse passado tam-


bém expressar ações concluídas, essas ações agora se
MoDo INDICATIVo: expressa ações que ocorrem,
repetem (sempre no passado). Observe:
ocorreram, ou ocorrerão... “certeza”
Eu estudava naquela época. Eles roubavam o
MoDo SUBJUNTIVo: expressa ações hipotéticas,
dinheiro da santinha. Nós bebíamos à noite.
ações possíveis... “incerteza”
MoDo IMPERATIVo: expressa um pedido, uma su-
Pretérito-mais-que-perfeito ( - ra átono ) – Esse
gestão, uma ordem...
tem o nome complicado, e a definição não seria dife-
• Eu quero aquele que me FAZ bem. rente: expressa uma ação concluída antes de outra já
• Eu quero aquele que me FAÇA bem. concluída.
Em qual das frases o “homem ideal” já existe? Quando o segurança chegou, o menino já roubara
o saco de batata.
2) TEMPOS VERBAIS
MoDo INDICATIVo (6 tempos) Formação do
Presente – Os verbos conjugados nesse tempo ver- Pretérito-mais-que-perfeito:
bal expressam, normalmente, uma ação que ocorre
3° Pessoa do Plural do Pret. Perfeito
com frequência, uma ação que se repete. Observe:

12| | Português
Português - Felipe Pereira 12
FUTURoS (2 tempos) tivo, Primeira Pessoa. Mais... É possível expressar uma
Futuro do Presente ( -rei Tônico ) – Esse tempo ordem no Futuro com apenas uma forma verbal?... E no
verbal, como seu próprio nome diz, expressa ações que Passado? Não! Assim, só há o tempo presente no modo
ocorrerão no futuro. Observe: verbal da “ordem”.
Eu estudarei amanhã. Passaremos na prova. É importante salientar que o Imperativo não
Realizarão o debate no mês que vem. expressa somente ordens. Para pedir, orientar, suplicar,
também usamos o Imperativo. Observe: “Sorria, você
Futuro do Pretérito ( - ria ) – Aqui, os verbos expres- está sendo filmada”, “Vem pra Caixa”, “Me desculpe”.
sarão uma hipótese no passado.
Se me cobrassem no colégio, eu estudaria. Eu
teria feito a inscrição se tivesse me lembrado. Formação do Imperativo:
Todo o Imperativo deriva dos Presentes
(Indicativo e Subjuntivo)
MoDo SUBJUNTIVo (3 tempos)
É muito complicado definir qual a ideia que os
verbos desse modo expressam; por isso, estudaremos Formação do Imperativo Afirmativo
mais a forma verbal do que a ideal verbal dos três
seguintes tempos. Verbo ESTUDAR
Presente do Imperativo Presente do
Presente Indicat. Afirm.
 Subjunt.
Espero que meu aluno passe (passar).
Eu estudo - Que eu estude
Desejo que vocês dirijam (dirigir) sem beber.
Tu estudas  Estuda tu Que tu estudes
Pretérito Imperfeito ( - sse )
Se você fizesse os temas, as coisas mudariam. Ele estuda Estude você  Que ele estude
Caso nós comprássemos uma casa, teríamos gastos. Nós estudamos Estudemos nós  Que nós estudemos

Futuro – Esse tempo verbal merece descrição, pois, Vós estudais  Estudai vós Que vós estudeis
para nós, é o mais importante de todos os tempos. Por
Eles estudam Estudem vocês  Que eles estudem
uma questão de lógica, o Futuro do Subjuntivo expres-
sa uma Hipótese no Futuro.
Se os alunos forem à festa, perder-se-ão no copo. Formação do Imperativo Negativo
Se eu ganhar na Loteria, serei mais feliz.
Verbo ESTUDAR
Presente do Imperativo
Subjuntivo Negativo
Formação do
Que eu estude -
Futuro do Subjuntivo:
Que tu estudes Não estudes tu
3° Pessoa do Plural do Pret. Perfeito
Que ele estude  Não estude você

Que nós estudemos  Não estudemos nós


MoDo IMPERATIVo
Que vós estudeis  Não estudeis vós
Raciocine... Você seria capaz de dar uma ordem
para si próprio? Não! Portanto, não existe, no Impera- Que eles estudem  Não estudem vocês

Sin tax e in te rna


Já que, neste capítulo, nosso objeto de estudo é a O verbo não é tão famoso à toa. É a partir da rela-
Frase, é importante que tenhamos uma definição: frase ção com ele que a maioria das funções sintáticas são
é todo enunciado suficiente por si mesmo para esta- definidas [Sujeito (que exerce o verbo), Objetos (que
belecer comunicação. Existem frases Nominais, como completam o verbo), Predicativo, Adjunto Adverbial,
“Fogo!”, “Justiça!”. Evidentemente, esse tipo frasal per- Agente da passiva].
tence muito mais ao campo da fala que ao da escrita; O Vocativo e o Aposto são duas das quatro funções
será, por isso, por nós descartado. Analisaremos um que não têm relação com um verbo, mas com um nome;
tipo especial de frase: aquele que contém um Verbo; a assim, serão tratadas isoladamente. Existem ainda o
isso daremos o nome de oRAÇão. Adjunto Adnominal e o Complemento Nominal, que

13 Felipe Pereira - Português


Português | | 13
claramente também se referem a nomes e merecerão É preciso destacar que há outra forma de
atendimento individualizado. indeterminar o Sujeito (utilizando a partícula SE); essa
As funções sintáticas são divididas em três grupos. forma será vista mais à frente.
1) Termos essenciais; 2) Termos integrantes e 3) Termos
D) Sujeito Oculto (Elíptico) – Aquele que não apa-
acessórios. Vamos a eles:
rece. Não o vemos, mas o encontramos facilmente a
partir das Desinências Verbais.
Perdi meu chip. (Sujeito = EU)
1) TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO
Compraste três televisores. (Sujeito = TU)
Sujeito e Predicado. Apesar de os dois serem cha- E) Sujeito Inexistente (orações sem Sujeito) – Em
mados de Essenciais, o único que é realmente indispen- um primeiro momento, pode parecer estranho não ha-
sável para a existência de uma oração é o Predicado; ver Sujeito, mas, nas frases seguintes, com uma análise
logo mais, veremos que algumas frases não possuem mais atenta, concluiremos que não há palavra alguma
Sujeito. exercendo os verbos destacados.
Todas as orações (quase todas, na verdade) são di- Ventou ontem em Osório.
vididas nessas duas grandes partes: Sujeito e Predicado. Chega de “bagaceirice”.
Predicado é toda a oração, menos o Sujeito. Faz baixas temperaturas em Lajes.

João / se perdeu
Sujeito Predicado Verbos Impessoais (não têm Sujeito)
A) HAVER
João e Maria / se perderam no mato B) FAZER [indicando tempo – meteorologia/crono-
Sujeito Predicado logia]
C) Verbos que indiquem fenômenos meteorológi-
Ontem / todos os alunos / estiveram no mato. cos
Predicado Sujeito Predicado E as expressões:
D) BASTAR DE
É importante destacar que, na frase 3, não temos E) CHEGAR DE
dois Predicados, mas um mesmo Predicado dividido. F) PASSAR DE (Indicando tempo decorrido)
o que é o Sujeito? Já ouvimos muita coisa sobre G) TRATAR-SE DE
esse elemento sintático, o que torna a tarefa de defi-
ni-lo muito delicada e complicada. “Aquele que exerce É preciso cuidado quando estivermos lidando com
a ação”, “Aquele a quem o verbo se refere”. Meia dúzia Locuções Verbais; se o Verbo Principal for um Impes-
de exemplos tornaria essas duas definições ridículas. soal, a locução deve ficar no singular.
Enfim, definir o Sujeito semanticamente é impossível; Exemplo: Parece (e não Parecem) haver problemas
o que se pode afirmar com certeza é que o Sujeito é Deve (e não Devem) fazer dias frios.
aquele com quem o Verbo concorda; ele (sujeito) de-
termina o comportamento verbal. Sujeito é o termo Transitividade Verbal
frasal que DETERMINA A CoNCoRDÂNCIA VERBAL.
VERBoS TRANSITIVoS – Necessitam de Comple-
mento (verbos incompletos)
1.1) Tipos de Sujeito
VERBoS INTRANSITIVoS – Não necessitam de
A) Sujeito Simples – Aquele que tem somente um Complemento (verbos completos)
Núcleo. VERBoS DE LIGAÇão – Esses verbos não repre-
Uns alunos gostam de estudar. sentam uma ação exercida; apenas ligam uma caracte-
Aquele pequeno aluno moreno prefere escrever rística a seu Sujeito.
redação.
B) Sujeito Composto – Aquele que tem dois, ou Obs.: Não esqueça que estamos lidando com a
mais, Núcleos. Sintaxe, o estudo da FRASE. E o que seria a frase senão
Pedro Ernesto e seus filhos estiveram em Mada- uma infinidade de possibilidades de construção?
gascar. Podemos formar frases de muitas formas, e por isso
O destino e a vontade me trouxeram até aqui. os verbos podem significar de diversas formas, o
que quer dizer que não é tão simples determinar
C) Sujeito Indeterminado – Verbo Conjugado na 3ª
a transitividade de um verbo: um mesmo verbo
pessoa do singular sem antecedente.
pode ter diferentes transitividades, dependendo da
Roubaram todos os diamantes.
FRASE em que se encontra.
Construíram tudo isso em três meses.

14| | Português
Português - Felipe Pereira 14
1.2) Tipos de Predicado DIRETAMENTE), e Complementos que exigem uma pre-
A) Predicado Verbal – Aquele que tem como Nú- posição para que haja a ligação (ligando-se INDIRETA-
cleo um Verbo Transitivo ou Intransitivo MENTE).

A pequena cadelinha amarela / morreu(VI). Rosiméri comprou dois saxofones.


Sujeito Predicado Sujeito (VTD) (oD)
Clédson necessitava de um nome decente.
Todos / gostam (VTI) de português. Sujeito (VTI) (oI)
Sujeito Predicado

B) Predicado Nominal – Agora, temos como o Nú- 2.2) Complementos Nominais


cleo um Nome (Predicativo); o verbo esvazia-se de sig-
Note como os nomes são autoexplicativos. Todo
nificado (Verbo de Ligação)
raciocínio usado anteriormente nos vale agora. A única
Joanete / é bonita (predicativo).
diferença é que essa função sintática Completa Nomes
Sujeito Predicado
(Substantivos, Adjetivos e Advérbios), não Verbos.
C) Predicado Verbo-Nominal – No mesmo Predi- 
Você está perto da UFRGS.
cado, haverá um Verbo Nocional/Transitivo [que repre-
(Complemento Nominal)
senta uma ação] e um Predicativo [nome que atribui
características ao Sujeito ou Objeto]. 
Meus alunos têm afinidade com o Português.
Vocês estudam(VTD) as matérias cansados (PREDI-
(Complemento Nominal)
CATIVO DO SUJ.)
Nós encontramos(VTD)a Justina machucada (PRE-
2.3) Agente da Passiva
DICATIVO DO OBJ.)
Esse termo sintático merecerá mais atenção no fu-
turo, quando estudarmos as Vozes Verbais. Por enquan-
2) TERMOS INTEGRANTES to, o que é importante para nós é saber que essa Função
DA ORAÇÃO vem quase sempre acompanhada pela preposição “por”
e raramente pela preposição “de”. O Agente da Passiva
Complemento Verbal, Complemento Nominal e nada mais é do que aquele que AGE na voz PASSIVA.
Agente da Passiva. Pense na palavra “integrante”: que
integra, que faz parte, que é importante (para a oração). Ele foi torturado PELOS TERRORISTAS.
Esses termos não são “essenciais” para que uma ora- Agente da Passiva
ção exista, mas integram as frases: as completam, as Esse livro foi escrito POR UM ÓTIMO PROFESSOR.
constituem, as INTEGRAM. Toda vez que tivermos uma
frase com um Sujeito e um Predicado (ESSENCIAIS) e,
ainda assim, estivermos sentindo falta de algum termo, 3)TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO
estaremos compreendendo a importância de um termo
Se fosse possível organizar hierarquicamente as
Integrante, o termo que COMPLETA. Por exemplo: “Ro-
funções sintáticas numa pirâmide, esse grupo estaria na
siméri comprou”. Vejam que temos um Sujeito (Rôsi) e
base, já que são simples adornos, acessórios, “enfeites”.
um Predicado (comprou); no entanto, essa oração está
Representam informações adicionais que com certeza
incompleta; não dá vontade de inserir reticências? Sen-
têm importância semântica, mas são sintaticamente
timos falta de uma palavra que COMPLETE o VERBO;
descartáveis. Fazem parte desse grupo o Adjunto Adno-
sentimos falta, nesse caso, do Complemento Verbal.
minal, o Adjunto Adverbial, o Aposto e o Vocativo.

2.1) Complementos Verbais (Objeto


Antônio, caminhe
com calma.
Direto e Objeto Indireto)
(Vocativo) (Adj. Adverb.)
Como o próprio nome sugere, essas são funções
sintáticas que Completam os Verbos (TRANSITIVOS). A 
Felipe, o professor, deu uma aula de verdade.
diferença é que existem Complementos que não preci- (Aposto) (Adj. Adnominais)
sam de preposição para ligar-se aos Verbos (ligando-se

15 Felipe Pereira - Português


Português | | 15
VOZ ES VE RBAIS
Apesar da presença da palavra “verbal”, não é o Além dos verbos “ser” e “estar”, há outros Verbos
Verbo que será observado. Estudar a Voz Verbal é, na de Ligação que, combinados com um Particípio, podem
verdade, analisar o comportamento semântico do Sujei- formar a Voz Passiva (Andar, Viver, Ficar e etc). Por
to. Claro que o Verbo tem sua importância, pois nosso exemplo: “Gustavo Lima vive rodeado por mulheres.”
Sujeito será estudado em relação ao Verbo. Explico... O
Sujeito que exerce a ação verbal é agente; por isso, ATI-
Vo. Já o Sujeito que recebe a ação verbal é paciente; Voz Passiva Sintética
por isso, PASSIVo. Por fim, o Sujeito que tanto exerce Chegamos ao terror de muita gente que já se aven-
quanto recebe é chamado de REFLEXIVo. turou no estudo da gramática. A verdade é que você
Voz Ativa Ex: o aluno estudou a matéria. não encontrará aqui uma fórmula mágica que destruirá
Voz Passiva Ex: o aluno foi reprovado pelo as dificuldades em relação à Passiva Sintética. O que vai
professor. acontecer é que entenderemos de onde vem tamanha
Voz Reflexiva  Ex: o aluno se apavorou du- dificuldade. A Passiva Sintética representa uma imposi-
rante a prova. ção gramatical que vai contra a intuição linguística da
maioria dos falantes; a Sintética nos obriga a ver Sujeito
Identificar a Voz Verbal em que uma frase se encon-
onde Sujeito não há; o que a gramática diz, nesse mo-
tra é uma tarefa simples. O que pode dificultar nossa
mento, é completamente contrário ao uso natural...
vida é a transformação de uma voz para a outra, e é exa-
Você vai entender! A princípio, saiba que, para muita
tamente isso que será nosso objeto de estudo.
gente (inclusive para mim), Passiva Sintética não existe.
A Passiva Sintética também é chamada de Passiva
Transformação Passiva Pronominal, pelo fato de que o Pronome “SE” está sem-
pre presente nessa voz. Vejamos alguns exemplos:
Somente aceitam Passiva as frases nas quais há
Objeto Direto!!!
Existem três passos que devem ser rigorosamen- Pronome Apassivador
A) Lá em casa, lê-se muito jornal.
te seguidos para que a Transformação se dê de forma
correta. observe.
Índice de Indeterminação
VoZ ATIVA
1) O.D. 
VoZ PASSIVA
SUJEITO
 do Sujeito
B)Lá em casa, estuda-se com afinco.

2) Surge um Verbo Auxiliar (SER/ESTAR), e Você vê Sujeitos diferentes nas orações acima? Eu
o Verbo Principal da Voz Ativa passa para o também não! Acontece que, na frase 1, temos um V.T.D.
Particípio. apassivado, e “muito jornal” é, na verdade, o Sujeito
AGENTE DA da Oração, Sujeito esse que RECEBE a ação verbal: “não
3) SUJEITO  PASSIVA (prep. lê”, mas “é lido”; sujeito que recebe ação (VoZ PASSIVA,
‘POR’ ou ‘DE’) na modalidade SINTÉTICA). Enquanto na frase 2, temos
um termo preposicionado (“com afinco”) que exerce a
função de Adj. Adverbial. Na frase 2, o Sujeito é Inde-
terminado.
Essa determinação da nossa tradição gramatical
Voz Ativa gera frases estranhíssimas, como “Comem-se legumes”,
UM NoVo “Amam-se os animais”. Nessas duas frases, ‘legumes’ e
JoCÉLIA ENCoNTRoU
EMPREGo. ‘animais’ são Sujeitos dos verbos ‘comer’ e ‘amar’, res-
(Sujeito) (Pret. Perf.) (o.D.) pectivamente.

Voz Passiva
UM NoVo EM- FoI ENCoNTRA-
PoR JoCÉLIA.
PREGo Do
[Verbo “ser”
(Agente da Pas-
(Sujeito) (Pret. Perf.) +
siva)
Particípio]

16| | Português
Português - Felipe Pereira 16
PONTUAÇÃO
Os sinais de pontuação existem SoMENTE NA ES- C) Separar o Aposto (se esse não for Restritivo/Es-
CRITA e representam uma evolução na comunicação pecificativo). Exemplos:
gráfica. A função deles é deixar claro, para o leitor, a
,
“Ali está Eugênia a flor da moita.”
relação entre os termos de uma frase; é muito simples
notar a diferença que uma vírgula pode fazer, observan-
, ,
“Luan Santana o melhor cantor está de férias.”

do as orações “Vamos comer, gente” e “Vamos comer


D) Separar o Vocativo. Exemplos:
gente”. Tudo que é escrito, é escrito para ser lido, e é
,
“Aluno do Felipe não pare de ler agora”
pensando nisso que se deve pontuar; por isso, para que
se usem corretamente os sinais de pontuação, é neces- ,
“Até tu Brutos?”
sário que a frase escrita seja lida mais de uma vez.
O fato é que a pontuação tem uma missão: facilitar E) Indicar a Elipse de um verbo. Exemplos:
a leitura. Portanto, não são regras definitivas que deter- ,
“Você compra o gelo, e eu a cerveja.”
minam o uso dos sinais de pontuação, mas sim conse-
Note que as vírgulas marcam a presença do verbo
lhos que são dados àquele que se aventura nos campos
“comprar”, respectivamente.
da produção escrita.
Estando provado que pontuar significa pensar em
F) Separar Orações Subordinadas Adjetivas Expli-
FRASES ESCRITAS, vale destacar que as famosas pau-
cativas (as Restritivas não levam vírgula). Exemplos:
sas na fala não nos ajudarão a utilizar corretamente os
sinais de pontuação, a qual já abandonou, há muito, a , ,
“Você que é meu aluno está lendo o livro e, por
função de marcar pausas. Hoje em dia, pontuar é pen- isso, vai passar!”
sar em Sintaxe (estrutura da FRASE ESCRITA). (o. Sub. Adj. Explic.)

Vírgula
“Cuide da água , a qual preenche 70% da Terra e
do seu corpo.” (o. Sub. Adj. Explic.)
Esse sinal aparece naquilo que chamamos de
Período Simples (Oração Única). Sua função é avisar o
leitor que há algo anormal na frase - algo deslocado, Esse é o único caso em que o uso da vírgula não
intercalado. Nunca esqueça: frase normal [S – V – o – depende da estrutura frasal (ou seja, da Sintaxe). Nesse
(A.ADV.)] não tem vírgula! momento, o que determina a presença ou a ausência da
A vírgula é empregada para: vírgula é a Semântica. Isto é, a interpretação!

A) Separar elementos de uma enumeração, coor-


denados entre si (termos que exercem a mesma Fun- Ponto e vírgula
ção Sintática). Aqui encontramos o sinal de pontuação que mais
Exemplo retirado de M. de Assis, B. Cubas: causa ojeriza (sim, vá para o dicionário) nos alunos, ou
seja, em vocês. Se muita gente desavisada diz por aí que
“A agonia foi de
uma crueldade
minuciosa , fria , repisada”
o ponto-final é uma pausa longa, e a vírgula, uma pausa
breve, o que resta para nosso querido ponto e vírgu-
la? Pausa média? Mais uma vez, você precisa lembrar
(A.ADN.) (A.ADN.) (A.ADN.) que pontuar é uma tarefa que exige conhecimento
Exemplo: sintático. Vamos lá... Enquanto a vírgula é empregada
no Período Simples, o ponto e vírgula habita o Período
“Foi ao derma- ao oftalmo-
tologista , ao urologista e logista.”
Composto (por Coordenação). Fique muito atento ao
estudar esse sinal, pois usá-lo na redação deixa seu tex-
(A.ADV.) (A.ADV.) (A.ADV.) to refinado, agradando ao leitor (não esqueça, ele dará
sua nota).
B) Separar elementos (ou orações) intercalados ou O ponto e vírgula é empregado para:
deslocados. Exemplos:
, ,
“Devemos é verdade muito às nossas mães.”
• Separar Orações Coordenadas Assindéticas:
;
, ,
“Fomos naquela linda noite a uma boate.”
EX: “Dói ficar sem sair todo ‘find’ você, infelizmen-
te, precisa desse sacrifício”
Temos, na última frase, o famoso Adj. Adverbial ;
“A borboleta não caiu morta ainda torcia o cor-
deslocado, assim como temos nesta! po...” (M. de Assis – Brás Cubas)

17 Felipe Pereira - Português


Português | | 17
• Separar orações iniciadas por Conjunções que • Introduzir uma enumeração
têm possibilidade de deslocamento: :
EX: “Estou em dúvida entre três cursos Jornalis-
;
EX: “Haverá uma festa nessa sexta no entanto, mo, EngenhariaAmbiental e Física.”
você tem compromisso com os livros.” “São dois os verbos conjugados pelo vestibulando :
;
“Haverá uma festa nessa sexta você, no entanto, estudar e estudar muito.”
tem compromisso com os livros.”
;
“Haverá uma festa nessa sexta você tem compro-
• Anunciar um Aposto ou Oração Apositiva:
misso com os livros, no entanto.”
EX: “Só existe uma universidade que merece nosso
Observe como a Conjunção “no entanto” se deslo-
:
sacrifício a UFRGS”
ca com liberdade dentro da frase. Conjunções desse
tipo exigem a presença do ponto e vírgula. Já as vír- :
“Só alimento uma ilusão na vida ter você”
gulas que acompanhas o “no entanto” são aquelas
que acompanham qualquer termo deslocado.
• Introduzir uma citação
:
EX: “Afirmava Guimarães Rosa ‘As pessoas não
morrem. Ficam encantadas’.”
• Separar enumerações complexas (enumerações
dentro das quais já haja vírgula). :
“Machado nos dizia ‘Dormir é uma forma de mor-
EX: “Estou em dúvida quanto à escolha do meu rer’.”
curso. Quero Medicina, se quiser ser respeitado ;
;
Direito, se quiser ser temido Letras, se quiser ser
• Introduzir uma conclusão ou explicação (faz as
desprezado”
vezes de conjunção conclusiva ou explicativa)
Note como esse ponto e vírgula é diferente dos ou-
EX: “(Viegas) padecia de um reumatismo teimoso,
tros; afinal, não une Orações Coordenadas, mas sim
de uma asma não menos teimosa e de uma lesão
separa a enumeração “Medicina, Direito, Letras”.
:
de coração era um hospital concentrado”. (M. de
Assis – Brás Cubas)
Dois-pontos “Ela perdeu todas as festas com bebida liberada :
era uma vestibulanda.”
Na teoria das “pausas na fala”, os dois-pontos se
encontram em crise existencial. Para compreendê-los
:
“Explico-me a aprovação é uma carta de alforria.”
corretamente, precisamos pensar em sua função den-
O uso dos sinais de pontuação não está todo resu-
tro da estrutura da frase escrita (sim, a repetição é pro-
mido nas treze regras anteriores. Existem várias possibi-
posital!). Esse sinal de pontuação pode habitar tanto o
lidades de uso, todas promovidas pelo contexto e pelo
Período Simples quanto o Período Composto; seu papel
objetivo daquele que escreve. O que importa é você en-
principal é “apresentar”. Esse sinal de pontuação dá
tender o papel de cada sinal.
uma sensação semelhante à das reticências.
Os dois-pontos são empregados para:

18| | Português
Português - Felipe Pereira 18
REG ÊNCIA
Reger significa coordenar, mandar. Estudamos aqui VTD – cognominar, denominar, apelidar: “Chama-
o modo como algumas palavras mandam, exigem. Exi- ram Ronaldinho de mercenário”
gem o quê? A presença ou a ausência de preposições (a, Nesse uso, surge um termo acompanhado da prepo-
ante, após até, com, contra, de, desde e etc). Sabemos sição “de”; esse termo caracteriza o Objeto Direto (“Ro-
que muitas são as palavras exigentes. Explico: palavras naldinho”, no caso). É por isso o predicativo do objeto.
que não entram na frase de qualquer modo. Explico VTI – invocar, pedir auxílio: “Maria chamava pelo
melhor: palavras que, sempre que aparecem, apare- marido”
cem acompanhadas (de preposição). Quem concorda,
concorda com; quem precisa, precisa de; quem sente 4) CHEGAR
vontade, sente vontade de; quem tem afinidade, tem VI – atingir algum local: “Chegamos cedo ao hotel”
afinidade com. Observe que tivemos quatro palavras Nesse uso, o verbo chegar exige sempre a prepo-
exigindo preposições: concordar, precisar, vontade e sição “a”, que forma o Adjunto Adverbial (“ao hotel”,
afinidade: dois verbos e dois nomes, respectivamente. nesse caso). No entanto, sabemos que esse adjunto é
É por isso que a regência são duas: a verbal e a nominal. muito importante para o sentido do verbo; é um adjun-
to diferente, chamado por Luft de Complemento Adver-
Regência Verbal bial, lembra?
Nessa regência, estaremos lidando com o modo VI – bastar, ser suficiente: “Meio milhão não chega
através do qual o verbo se relaciona com seu comple- para comprar minha casa”, “Chega de preguiça!”
mento. Se ele se ligar ao complemento sem preposição,
será um verbo transitivo direto; se exigir uma preposi- 5) ESQUECER
ção, será um verbo transitivo indireto. Sim, o assunto é VTD (não pronominal): “Você já esqueceu a maté-
velho. O que é novo é que um mesmo verbo pode ter ria?”
diferentes regências, alterando seu significado. VTI (pronominal): “Você já se esqueceu da maté-
ria?”
1) AGRADAR Note que, aqui, a diferença é puramente sintática,
VTD – contentar, mimar, acariciar: “Ela agradou não semântica, como em quase todos os outros.
seu cachorro”, “Eles agradaram seu professor”
VTI (prep. A) – satisfazer: “A aula agradou aos alu- 6) IMPLICAR
nos”, “Agradaremos ao corretor”. VTD – resultar, causar: “O estudo implica a apro-
Desagradar é sempre VTI! vação”
Aqui, você e eu ficamos com uma vontade danada
2) ASPIRAR de inserir a preposição “em”, o que causaria a constru-
VTD – sorver, haurir, inalar, absorver: “O motoquei- ção “na aprovação”. Pois é... Mais uma vez, a norma gra-
ro aspirou uma mosca”, “Aspirei o ar do campo”. matical vai contra a intuição linguística da maioria dos
VTI (prep. A) – almejar, ambicionar, desejar: “Aspi- falantes. Um dia ela aprende...
ramos a uma vaga”, “Aspiro ao 1° lugar” VTI (prep. CoM) – antipatizar, ter implicância,
o famoso “enticar”: “Não implique com seu irmão,
3) ASSISTIR menina!”
VTD – prestar assistência, socorrer, ajudar: “Assisti- 7) LEMBRAR
mos um idoso na estrada” VTD (não pronominal): “Nós lembramos onde você
VTI (prep. A) – ver, olhar, ser espectador: “Assisti- mora”
mos à novela e, depois, ao jogo” VTI (pronominal): “Nós nos lembramos de onde
Na língua falada, hoje em dia, o verbo “assistir” so- você mora”
mente é usado como VTD. A grande maioria de nós fala: Mais uma vez, a diferença mora na sintaxe, não na
“Eu assisti o jogo”. Esse verbo foi tão usado como VTD semântica. O mesmo acontece com o verbo “esquecer”.
que até Passiva já aceita: “O jogo foi assistido por mim”. Você já tinha se esquecido dele? Eu sei que não.
Aqui, temos um clássico exemplo de como a gramática VTD – fazer recordar, causar lembrança: “Você lem-
normativa impõe normas (com o perdão da redundân- bra meu ex”, “Ao fazer esse gesto, ela lembrou a Kelly Key”
cia) que não encontram respaldo no uso atual da língua. VTDI – advertir, recordar: “Lembrei ao meu namo-
rado o dia do meu aniversário”
3) CHAMAR Na linguagem falada (errada para a gramática e
VTD – chamar para perto de si, convocar: “A mãe para a redação), vê-se usado assim: “Lembrei meu na-
chamou os três filhos” morado do dia do meu aniversário”.

27 Felipe Pereira - Português


Português | | 19
8) MORAR e RESIDIR (sempre com a 16) REPARAR
prep. EM): VTD – consertar, reparar um erro: “O mecânico re-
“Moramos em Porto Alegre”, “Ah, você reside em parou o carro”
Canoas?” VTI – notar, observar: “Você reparou no pé dela?”
Esses verbos jamais devem ser usados com a pre-
posição A, como se vê por aí: “O réu reside à Rua dos 17) RESPONDER
Andradas”. VTD – dar resposta: “O aluno respondeu uma bes-
teira”, “Respondi qualquer coisa”
9) NAMORAR VTI (prep. A) – direcionar resposta a: “Respondi ao
VTD – “João namora sua chefe” e-mail”, “Responderam à sua carta?”
Dá ou não dá vontade de usar a preposição “com”?
18) SOBRESSAIR (NÃO pronominal)
10) NECESSITAR VTI (prep. EM) – “Os meus alunos sobressaíram no
VTI – precisar, carecer: “Necessitamos de estudo” vestibular”
Quando o objeto é oracional, a preposição se torna Todos nós usamos esse verbo de forma pronomi-
desnecessária. Note: “Necessito de amor”, “Necessito nal: “Eu me sobressaí”, “Ela se sobressaiu”, mas isso é
amar”. condenado pela gramática normativa e por aqueles que
acreditam encontrar, na regra gramatical, algum tipo de
11) OBEDECER/DESOBEDECER superioridade.
VTI - sempre (prep. A): “Nós obedecemos ao profes-
19) VISAR
sor”, “O filho desobedeceu à sua mãe”.
Herewego! Note como quase ninguém usa o verbo VTD – pôr o visto, olhar: “Visei o quadro enquanto
“obedecer” com a preposição A. Mais uma vez, a norma pensava em outra coisa”
gramatical impõe uma regra que não encontra corres- VTI (prep. A) – desejar, almejar: “Você visa a uma
pondência no uso “vivo” da língua. Assim, fala e escrita vaga na UFRGS”, “Todos visam ao sucesso”
sempre vão estar em desavença, e os mortais continua-
rão achando que é impossível aprender português, sen- Regência Nominal
do que eles falam português. Que coisa, não?! Aqui, estaremos analisando a relação de dependên-
cia existente entre certas palavras e alguns substanti-
12) PAGAR e PERDOAR vos, adjetivos e advérbios (nomes). Agora, eles é que
VTD – saldar compromissos e desculpar, respecti- vão exigir a presença das preposições. É importante
vamente (referindo-se a “coisas”): “Paguei minha dívi- que fique claro que os nomes dos quais falaremos são
da”, “Paguei tudo que devia”, “Perdoei o seu erro” nomes de sentido incompleto (por ex: perto de algum
VTI (prep. A) – remunerar e conceder perdão, res- lugar, referente a alguma coisa). Ou seja, os termos que
pectivamente (referindo-se a “pessoas”): “Paguei ao vierem após a preposição serão, na maioria dos casos,-
meu sogro”, “Perdoei ao pobre garoto” Complementos Nominais (o nome dispensa explica-
13) PRECISAR ção). Se o que vier após a preposição for uma oração,
VTD – indicar com exatidão, expor minuciosamen- essa oração será Or. Subord. Substant. Completiva No-
te: “O vítima precisou o local onde fora atacada” minal – o nome assusta, mas o raciocínio é o mesmo.
VTI (prep. DE) – necessitar, precisar: “Preciso de É importante conhecermos a regência de alguns no-
você, sentir o seu calor” mes. Vamos a eles:

14) PREFERIR Acostumado: a, com (ser acostumado ao fracasso)


VTDI (prep. A): “Prefiro estar na aula aestar em Afável: com, para com (ser afável com seus pais)
casa, no sofá”, “Prefiro português a todas as outras ma- Amor: a, por (ter amor pelo sofrimento)
térias”. Apto: a, para (estar apto a passar)
Assíduo: em (ser assíduo nas aulas)
15) QUERER Atento: a, em (estar atento aos movimentos)
Atenção: a (prestar atenção às aulas) * Não convém
VTD – desejar: “Você quer uma vaga”, “Ela quer to-
usar atenção em
dos ao mesmo tempo”
Aversão: a (ter aversão à limpeza)
VTI (prep. A) – estimar, adorar, amar: “Um pai quer
Capacidade: de, para (ter capacidade de passar em Me-
muito aos seus filhos”
dicina)
Certeza: de (ter certeza de que tomaste a escolha certa)

20| | Português
Português - Felipe Pereira 28
Consulta: a (fazer consulta ao dicionário) Ódio: a, contra (ter ódio aos parentes pobres)
Contemporâneo: a (ser contemporâneo aos dinossau- Passagem: por (a passagem dos tanques pelo território
ros) inimigo)
Equivalente: a (ser equivalente a perder um ente que- Passível: de (ser passível de análise)
rido) Preferência: a, por (demonstrar preferência ao filho me-
Falta: a (sua falta à aula foi prejudicial) nor)
Guerra: a, com, contra, entre (haver guerra com os pais) Propenso: a (ser propenso à preguiça)
Gosto: de, em, por (ter gosto de estudar) Próximo: a, de (estar próximo ao/do fim)
Horror: a, de (ter horror às exatas) Respeito: a, entre, com, por (haver respeito pelos mais
Igual: a (ser igual ao Shrek) velhos)
Impróprio: a, para (ser impróprio a menores de idade) Saudade: de (sentir saudade do “ex”)
Incompatível: com (ser incompatível com a verdade) Semelhante: a (ser semelhante ao papai-noel)
Invasão: de (a invasão dos bárbaros foi violenta) Sito/Situado: em (casa sita/situada na Redenção)
Medo: de (ter medo de química)

CRAS E
Crase é uma palavra grega (krasis) que significa femininas. Enfim, esse caso de crase só ocorre antes
“junção, união”. Ela não se restringe ao uso do acento de Palavras Femininas!!!
grave na letra A (À), e ocorre também em outros con-
textos. Por exemplo, a união entre a prep. “DE” e os ar- Exemplos:
tigos ou pronomes é uma crase (Do, DoS, DAQUELE, • Nada declarava quanto à sogra.
DAQUELES...). Durante a fala, quando temos dois sons • Dê valor às redações.
vocálicos idênticos lado a lado, dificilmente pronuncia- • Refiro-se a redações de alunos de pré-vestibular.
mos os dois. Mais comum é unir esses dois sons numa • Temos aversão às primas do interior.
única emissão: “DEEM, CREEM, LEEM”. Isso pode ser • Ninguém fez mensão à igreja.
chamado de crase fonética.
Enfim, o que precisa ficar claro é que estamos li- Aquele(s) Àquele(s)
dando com um “fenômeno” duplo, anfíbio; e que usar o 2) A + Aquela(s) = Àquela(s)
acento grave (`) significa assinalar que dois AS estão se Aquilo Àquilo
encontrando. Portanto, precisamos conferir se ambos
estão presentes antes de usar o acento. Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que,
nesse caso, não há mais o A artigo feminino; somen-
1) A + A/AS = À / ÀS te o A preposição, que se junta à primeira letra (A) dos
(prep.) (artigo) pronomes demonstrativos. Nosso trabalho se resume a
saber se há ou não preposição; ou seja, voltamos à sin-
Visto que estramos tratando do artigo A – que é De- taxe; na verdade mesmo, nunca saímos dela.
finido e Feminino –, algumas informações nunca podem
ser abandonadas. Esse artigo tem certa propensão se- Exemplos:
mântica, uma particularidade no efeito gerado ao apro- • Preciso ir àquelas ruínas.
ximar-se de um substantivo: “o aluno aprovado”, “a pro- • Muitas pessoas têm apego àquele time.
va de hoje”, “os problemas sociais”. Particularidade essa • Ele não se referiu a isso, mas àquilo.
que dá nome ao artigo: Definido. Quando se aproxima • Todos devem obedecer àquelas ordens.
de substantivos ou palavras substantivadas, os definidos • Assisti àqueles filmes.
nos dão uma ideia mais específica, mais restrita; parece
que temos mais conhecimento sobre o substantivo refe- 3) A + A QUAL/AS QUAIS = À QUAL / ÀS QUAIS
rido, e também mais proximidade com esse. Basta con-
trastar pares como: “A garota de ontem”, “UMA garota O termo A QUAL (ou AS QUAIS) funciona como um
de ontem”. “Queremos aula com o professor”,”Quere- Pronome Relativo, que retoma palavras ou sintagmas
mos aula com UM professor”. Portanto, a presença do que já tenham aparecido no texto. Por exemplo, “A ma-
artigo definido é uma presença semântica; é preciso por téria sobre a qual eu falo é difícil”. Veja que “a qual”
isso cuidado. refere-se à “matéria”. Bom, o fato é que esses pronomes
A outra informação, tão importante quanto essa relativos (A QUAL e AS QUAIS) carregam sempre consi-
(porém muito mais óbvia e simples), é que estamos go o nosso bom e velho artigo feminino definido (no
diante de um artigo feminino, e ele só precede palavras singular ou no plural), e mais uma vez nossa tarefa é

29 Felipe Pereira - Português


Português | | 21
identificar se há ou não a preposição. Tendo ela, unida • Iremos A Fortaleza.
ao artigo pré-existente, ocorre o uso do acento grave. • Iremos À Bahia.
• Até que enfim, cheguei A Torres.
Exemplos: • Graças a Deus, cheguei À belíssima Torres.
• A lei Maria da Penha, à qual obedeço, deve ser
cumprida. 6) Crase em expressões adverbiais femininas
• Ali está a prova à qual fiz menção.
• Essas são as pessoas às quais devo a vida. Aqui, de novo, voltamos à identificação de preposi-
• As exatas, às quais tenho horror, são infinitas. ções em expressões adverbiais. Para dar ideia de modo,
instrumento, meio, tempo, lugar (e a lista segue) – en-
fim, ideias adverbiais –, fazemos uso das preposições,
4) Crase indicativa de tempo que estabelecem a relação semântica entre os termos
interligados. Por exemplo: “Comprar o cartão” e “Com-
Trata-se aqui de entender a presença de preposi- prar CoM o cartão” são mensagens completamente di-
ções em expressões adverbiais temporais. Quando nos ferentes. “Subir o carro” e “Subir No carro”. “Estudar a
referimos a um dado momento, a um ponto determi- rua” e “Estudar NA rua”. A preposição é selecionada de
nado na linha do tempo, a língua lança mão das pre- acordo com a ideia que passa. Assim, quando for a vez
posições “EM (dominante na fala) e A (mais literária da prep. A, e se por acaso ela encontrar uma expressão
e formal)” para tornar mais eficiente a ideia temporal feminina que aceite o artigo...
referida. Por exemplo: “Aos 45 min. do segundo tem- Exemplos:
po”, “Aos 3 dias do mês de março”, “No (em+o) dia 3 de Nunca escreva às pressas.
março”, “Naquela manhã”, “Ao meio-dia”, e por fim “ÀS Ele entende tudo às avessas.
TRÊS HORAS”. Mais uma vez, vemos o artigo somente Fomos a Roma à tarde.
esperando a preposição. Vale a pena saber que, durante Entre e fique à vontade.
o uso diário e intuitivo da língua, esse uso preposicio- Tudo foi feito à revelia.
nal vem sumindo, revelando que sua importância para a
mensagem da frase começou a ser colocada em xeque. Exercício: leia o texto abaixo e encontre as 23 crases
É absolutamente natural ouvirmos e falarmos “sexta- obrigatórias e as 4 facultativas.
feira, vou viajar”, em vez de “NA sexta-feira...”. “Aquela
dia eu tava mal”, em vez de “Naquele dia...” Texto Craseàdo
Palavras escritas as pressas, as quais permiti que
Exemplos: saíssem sem freio. Um texto voltado a crase, um texto
• A aula começa às 14h.
necessário a alunos, a alunas e as pessoas que não estu-
• É difícil acordar às 5:45 na segunda-feira.
darem, precisam também ler. Atenção a situação frasal!
• Aberto das 23:00 às 7:00.
Não ‘craseie’ antes do final. Fui obrigado, a essa altura,
a escrever a vocês... Vocês que aquela vez dormiram du-
rante a aula, frente a frente com o professor, a frente
5) Crase antes de nomes de lugar de todos colegas, a primeira fila, dormindo. Bom, aban-
donemos as mágoas passadas, vamos as mais recentes.
O título dessa é meio impreciso e infantil. No entan- Ou não! Quem sabe, não damos atenção a outra maté-
to, é fiel a seu propósito. Por nome de lugar, entende-se ria, aquela que tu não entende, nada! Falemos de outra
“Brasil, Islândia, Rússia, Tibet, Rio de Janeiro, Bahia, aula, difícil e complicada (‘é só a área hachurada!’), a
Maranhão, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre, Menino que tu mais dá valor. É... Com o “A” numa linha, e o resto
Deus, Cidade Baixa, Jardim Lindoia, Sarandi, Germâ- da frase em outra, essa míni tarefa a qual te propuseste
nia, Parcão, Redenção, Encol, Nilo Peçanha, Protásio pode ficar complicada. Acabamos de ver mais um “A”
Alves, Lima e Silva, Cavanhas, Pinguim, oca de Savoia, em linha separada. Vejam a que ponto chegamos. Algu-
Farms, Beco, opinião”. mas rimas e as frases rimadas aparecem crases, espe-
Nossa tarefa é identificar a preposição A e verificar ro complicadas. No que concerne a concatenação das
se o “nome de lugar” aceita ou não o artigo A; claro ideias, não restam dúvidas de que o que digo envia uma
que fazer isso passa pela conferência de gênero. Então mensagem referente a coisas aleatórias, a nada. Faço
“Farms” é feminino? Aceita artigo? “A Farms é demais”, menção as grandes obras; faço como os grandes faziam;
“Hoje vou NA (em+a) Farms, voltei DA (de+a) Farms”... escrevo sem linearidade. Escrevo a Machado, a Dostoié-
Enfim, “Levaram algumas pessoas À (a+a) Farms”. vski. Arrogância a minha aspiração? Talvez... Mas em
Exemplos: relação a gente como vocês, que levam em conta que
• Levarei flores À Encol. esse é o último mês, de conteúdo... Que visam as boas
• Alguns têm horror A Cuba. notas, que querem as matérias difíceis e obedecem as

22| | Português
Português - Felipe Pereira 30
ordens do professor... Além disso, como o texto é meu, a passadas largas tudo que o professor escrevia, a sua
aproveito a vontade, a liberdade e a oportunidade de vontade, o que lhe viesse a cabeça... crueldade!
começar frases e não terminá-las; rimo isso com salas, A essa altura, ficar em dúvida se vai ou não acen-
com malas. E volto a minha linha de raciocínio formal, a to grave nesse “A” que inicia o parágrafo, é uma sinal
qual – como já avisei – não deem bola. Esqueçam o sen- preocupante. Afinal, acabando vai o texto, a medida
tido: pensem em crase, acento grave, espaçonave... Oi? que acaba também o conteúdo, e junto com esse, o
Não cito as vezes que andei de uma sala a outra, su- ano. Anexa a esse, a vida. Cruzes! Falando em finalizar
jeito a crítica, pregando a palavra, até que por completo as frases, é preciso que você se conscientize que as
passou a vontade de ensinar... De um texto sem sen- besteiras lidas você deve voltar, crasear e descrasear.
tido, passamos a confissão. Voltemos a nossa ‘anexia’, Quando a bandida é facultativa, você também precisa
palavra criada a revelia, a qualquer maneira, só pra enu- indicar, uma a uma. Releia, esqueça o sentido; não
merar adjuntos adverbiais e te fazer respeitar aquele há algum; parabéns a memória e a Suzete – meu
conteúdo que parecia inofensivo. Lembre-se do dia da heterônimo, a quem recorri. Já avisei a Vossa Senhoria:
prova. Aquela hora tão esperada. Aquela hora em que só vise as crases aqui.
é tudo ou nada. Aquela hora você vai lembrar de mim,
rindo da prova e pensando: é fácil assim. Difícil era ler Suzete Crasias

REDAÇÃO
AVALIAÇÃO HOLÍS TICA
Esse é um tipo de avaliação que tenta perceber o e, desse modo, classificar a pertinência (o sucesso) da
texto na sua complexidade, na sua totalidade. Vê o tex- unidade semântico-pragmática resultante em forma de
to como algo uniforme e busca analisar todos os tópi- texto a partir dos três parâmetros (tema, modo compo-
cos gramaticias, todas as exigências a que uma redação sicional e adequação ao uso da norma culta).
deve obedecer, de uma forma contínua, não fragmenta- Tema
da. A palavra “HOLÍSTICA” justamente é escrita com “H”
Trata-se aqui de verificar o grau de compatibilida-
porque temos aí o radial grego “HOLO”, que significa
de da abordagem feita pelo candidato com a propos-
‘por completo, inteiro’ – radical esse que se faz presen-
ta da prova de redação, isto é, se a abordagem repre-
te em palavras como “HOLOCAUSTO” e “HOLOFOTE”.
senta uma interpretação qualificada da proposta e se
Para entender melhor essa avaliação pela qual todos,
responde a esta interpretação; se o texto explicita um
invevitavelmente, passarão, vamos escutar aquilo que
ponto de vista identificável com relação à questão colo-
a banca da UFRGS diz a seus corretores, orientando-os
cada pela proposta, optando por uma solução possível
para corrigir o teu texto.
entre um conjunto de soluções e sustentando sua esco-
“Avaliar holisticamente significa ver o texto como
lha. Sustentar uma escolha do ponto de vista significa
uma unidade. Na avaliação da prova de Redação, orien-
justificá-la, pela argumentação e pela exemplificação.
tamo-nos por três parâmetros, que contribuem para
Em resumo, você deve considerar a qualidade da abor-
assegurar a textualidade (qualidade de um bom texto).
dagem do tema apresentado; o encadeamento lógico
Cada um desses parâmetros receberá um conceito que
das ideias relativamente ao tema; e a manutenção, ao
expressa sua contribuição para o texto visto como um longo do texto, da abordagem eleita.
todo, em função do propósito e dos(s) interlocutor(es)
a que se destina.
Modo Composicional
Na avaliação de redação de vestibular, tanto o ob-
jetivo (ser classificado para ingressar na Universidade) Trata-se de observar se as relações estabelecidas
quanto o interlocutor (Examinador) estão bem claros são adequadas, tanto no que diz respeito ao desenvol-
para todos os envolvidos. A prova propõe uma temática vimento interno dos parágrafos quanto em relação à
que deve ser assumida pelo canditado para redigir um transição entre os parágrafos, se a divisão de parágra-
texto de certo tipo dentro de um limite preestabelecido fos é pertinente. Em resumo, você deve avaliar a quali-
de linhas. A seguir, ele adota um ponto de vista, sele- dade dos aspectos coesivos do texto; a separação das
ciona argumentos que lhe deem sustentação e contrói partes; a distribuição e correlação das ideias na frase,
seu texto. no parágrafo e no texto, relacionando causas e efeitos,
Você, como avalidador, deverá, então, ler o tex- tempo de fatos e ações, circunstâncias adverbiais, com-
to mais de uma vez para compará-lo com a proposta parações, contrastes, etc.

31 Felipe Pereira - Português


Português | | 23
Concordância
Sabemos que nossa língua é flexional. Ou seja, os “Faltam dois dias e meio”, e não “Falta dois dias e
nomes e os verbos mantêm uma base, que recebe os meio”
morfemas de plural e singular, feminino e masculino,
passado e futuro, e por isso é tão importante o funciona- Concordância por atração
mento das desinências (nominais ou verbais). Em nosso “Uma caixa com velhos e incríveis discos de vinil
sistema, palavras que estejam agrupadas, formando um antigos e clássicos foi encontrada”, e não “foram en-
único sintagma, precisam concordar. Por exemplo “To- contrados”.
dos aqueles meus remédios”, “As mesmas majestosas
cervejas”, “As pessoas que comprariam e parcelariam Por outro lado, ocorrem, somente na escrita, alguns
agora não o farão mais.” casos que merecem atenção, pelo fato de serem um
pouco problemáticos, inslusive são eles que dão alguma
Concordância Verbal autonomia a esse “conteúdo”, dando ao mesmo,
Essa é uma parte da gramática que explica algo mui- também, importância.
to simples, que é o fato de o verbo concordar com seu
sujeito. O verbo sempre se adapta (em número e pes- 1) Expressões partitivas (A maioria de..., Uma parte
soa) ao sintagma nominal a que serve como predicado. de..., Grande parcela de..., Um dos que... e etc)
No entanto, determinar se um verbo fica no singular ou A concordância é opcional.
no plural, pode se tornar um problema para quem se Por exemplo:
propõe a escrever em língua padrão. A notícia boa é que “A maioria das pessoas é feliz/são felizes”
essas possíveis dificuldades envolvem conhecimento de “Grande parte dos países abstém-se de opinião/
outras áreas da gramática do português . Por exemplo, abstêm-se de opinião”
somente se entende por que o verbo “haver” fica (qua-
se) sempre no singular, se houver a informação de é um 2) oU indicando alternância (verbo no plural)
verbo impessoal. Somente se sabe que o padrão é “Es- oU indicando exclusão (verbo no singular)
tendem-se as roupas” (no plural) porque temos cons- Por exemplo:
ciência de que essa é uma frase na voz passiva sintética, “A ignorância ou a má compreensão da lei não di-
e que “roupas” é o sujeito do verbo “estender”, que minuem o erro”
por isso fica no plural. Existem vários outros exemplos “A matemática ou a química vão me atrapalhar a
que serão resumidos em tópicos, afinal temos aqui uma vida”
oportunidade de, unindo casos que tratam da concor- “Ou o carro, ou a caminhonete será comprada”
dânia verbal, revisar o que já vimos. Aproveite. “Ou João ou sua ex vem hoje”

Voz Passiva Sintética 3) Porcentagem


“Podem-se encontrar novas provas”, e não “Pode- O verbo concorda com a expressão que vem depois
se encontrar...” da preposição “de” e não com a expressão numérica.
“É preciso que se façam redações”, e não “É preciso Por exemplo:
que se faça...” “2% dos cidadãos ganham mais de R$ 2.000 por
“Ainda não se fizeram as provas”, e não “Ainda não mês”
se fez..” “27% do território nacional foi devastado”

Verbos Impessoais 4) Verbo “SER”


“Havia várias pessoas em pânico”, e não “Haviam Esse é um verbo que se comporta de forma escorre-
várias pessoas...” gadia sempre que está entre duas formas nominais com
“Fazia horas que estava assim”, e não “Faziam ho- potencial para ser sujeito e predicativo, ao mesmo tem-
ras...” po. Fica complicado discernir, e nos confundimos. É facil
“Trata-se de duas pessoas estranhas”, e não “Tra- evidenciar essa possível dificuldade buscando concluir,
tam-se de...” com certeza, qual seria a correta concordância do ver-
bo SER na frase: “Meu problema é as regras”, ou seria
Sujeito Posposto ao Verbo “Meu problema são as regras”?, ou “As regras são meu
“Descem os pilotos dos carros”, e não “Desce os problema”. Quem é Sujeito? As regras ou meu proble-
pilotos...” ma? Quem veio antes? O ovo?
“Aconteceram todos os horrores possíveis”, e não Não há nada na frase nem nos sintagmas que nos
“Aconteceu todos os horrores...” dê uma resposta efetiva e livre de objeções. Então, de-

24 | Português - Felipe Pereira 35 Português |


cide-se, por uma questão de bom-senso, pela estética Por exemplo:
frasal. Tendo um termo no singular, outro no plural, de- “Um e outro ia chegando/iam chegando”
termina-se que se coloque o verbo no plural: “Meu pro- “Nem o pai nem a mãe estava disposta/estavam
blema são as regras”. Saiba que isso é uma decisão para dispostos”
agradar aos ouvidos e aos olhos, e não tem nada na fra-
se que determine com facilidade quem seja o sujeito. 2) Frases que iniciam com verbo de ligação + pre-
dicativo (É NECESSÁRIO... É PROIBIDO...). Se o termo
Concordância Nominal que funciona como sujeito dessas expressões vier sem
algum determinante, o verbo e o nome ficam na forma
Aqui, a lógica é mesma. Sem grandes novidades, e
neutra (masculino e singular)
a coisa só fica interessante se nos apegarmos a casos
Por exemplo:
restritos, raros e complicados. Interessante pelo fato
“É necessário paciência para criar crianças”
de que, nos casos que veremos, é complicado dar uma
“É proibido entrada de animais”
resposta definitiva acerca da concordância dos nomes;
aprovetaremos também a oportunidade de observar o
3) TAL QUAL
vazio teórico das regras que engoliremos; regras que
Se estiver entre dois nomes, divide-se ao meio lite-
determinam aquilo que pode e que não pode fazer na
ralmente, e cada um vai pra um lado. O TAL concordam
frase, como se essas tivesse manual de instruções.
com quem o antecede, e o QUAL com quem o sucede.
Por exemplo:
1) Expressões “um e outro” e “nem um nem ou-
“Eram os filhos tais qual o pai”
tro” (Ambos)
“Era o filho tal quais os pais”
Concordância opcional.

S INTAX E E X TE RNA
(Período Composto)

A partir de agora, passaremos para o nível “hard” cas). Evidentemente, às vezes, a ausência ou a presença
da Sintaxe. Aqui, entenderemos perfeitamente o que de conector muda o sentido original do período.
significa a classificação Oração Subordinada Substanti-
va Objetiva Direta (bizarra para a maioria). Em primeiro Orações Coordenadas Aditivas
lugar, saiba que estamos analisando a relação estabele- Conjunções: E, NEM
cida entre as orações. Ou seja, não há Sintaxe Externa Locuções Conjuntivas: Não só... mas (como) tam-
em uma única oração; precisamos de, no mínimo, duas. bém..., Além disso, outrossim.
Existem duas formas possíveis de duas (ou mais) orações Exemplos:
se relacionarem: elas podem respeitar-se mutuamente, “A banda Racionais escreve “raps” e já tocou de
de formar que sejam independentes entre si (CooRDE- costas ao público.”
NAÇão), ou então pode haver uma mais importante – e “D. Tonica nunca casou, nem acredita na possibili-
outra menos, obviamente (SUBoRDDINAÇão). dade.”

Orações Coordenadas Orações Coordenadas Alternativas


As orações são autônomas entre si, e assim há uma Locuções Conjuntivas: (ou)... ou, ora... ora, Quer...
relação na qual cada núcleo oracional tem a sua men- quer, Seja... seja
sagem autônoma e estruturação sintática completa Exemplos:
(Sujeito + V. Transitivo + Complemento OU Sujeito + “Manifeste-se agora ou cale-se para sempre.”
V. Intransitivo). Dessa forma, temos duas orações livres “Estarei lá, quer você queira, quer não.”
entre si que permitem a supressão da conjunção. Por
exemplo, observe o período composto por coordena- Orações Coordenadas Adversativas
ção: “O homem é lobo do homem, portanto se proteja Conjunções: Mas, Porém, Entretanto, No entanto,
de você mesmo”. A palavra “portanto” é a conjunção Todavida, Contudo, Não obstante.
que une as orações e estabelece a relação semântica Exemplos:
de conclusão. Esse conector é facilmente descartável, “Duvidamos da Justiça, mas acreditamos em justi-
sem que o período tenha sua formação prejudicada: “O ça.”
homem é lobo do homem; proteja-se de você mesmo”. “Alencar aborda a temática indígena; abandona, no
Por isso, as Coordenadas podem apresentar-se de duas entanto, a verossimilhança.”
formas: com conjunção (Sindéticas) ou sem (Assindéti-

| Português 36 Felipe Pereira - Português | 25


Orações Coordenadas Conclusivas “As pessoas cujo conhecimento admiro não estão
Conjunções: Portanto, Assim, Logo. mais neste plano.”
Locuções Conjuntivas: Por conseguinte, Dessa for-
ma, Sendo assim. Orações Sub. Adjetivas Explicativas
Exemplos: (COM VÍRGULA)
“Começaram as obras para a Copa; logo, triplicaram Exemplos:
as superfaturações.” “Os professor da rede estadual, que passam por di-
“Escrever significa dispor, de forma lógica, tudo o ficuldades, estão em greve.”
que pensamos; exige, portanto, muita concentração.” “A lua, a qual não possui lado escuro, é iluminada
pelo sol.”
Orações Coordenadas Explicativas “Os políticos brasileiros, cujo caráter é duvidoso,
Conjunções: Pois, Porque, Já que, Visto que, Dado recebem auxílios do governo, que são eles.”
que, Na medida em que, Uma vez que.
Exemplos: Orações Subordinadas Substantivas
“Não choveu durante a noite, pois não ouvi barulho As substantivas fazem aquilo que faz um substanti-
algum.” vo – com o perdão da obviedade! Exercem uma função
“Meu colega deve ter abandonado o curso, porque fundamental dentro da oração, representando sempre
não o vejo há três semanas.” alguma função sintática: Objeto Direto, Sujeito, Comple-
mento Nominal e etc.
Toda oração substantiva inicia com uma Conjunção
Orações Subordinadas Integrante – sempre com ela!
A palavra “subordinação” já nos anuncia que, agora,
uma das duas orações funciona como um anexo, como Orações Sub. Substant. Subjetivas
um complemento, como um segmento que faz parte da Exemplos:
outra oração, a predominante – a principal. As orações “Economizar de verdade é comprar bem”
subordinadas se dividem em Substantivas, Adjetivas e “É bem provável que ninguém apareça”
Adverbiais. Orações Sub. Substant. Obj. Diretas
Exemplos:
Orações Subordinadas Adjetivas “Todos estavam esperando que você aparecesse”
A única subdivisão que essas apresentam é a “Apenas avise à sua mãe que estou de ressaca.”
diferença entre Restrição e Explicação. Orações restriti- “Ainda não sabemos quando eles virão.”
vas funcionam como um Adjunto Adnominal, um anexo, “Gostaria de descobrir qual de vocês é o culpado.”
quase uma característica que literalmente restringe o
núcleo nominal ao qual se refere, enquanto as orações Orações Sub. Substant. Obj. Indiretas
explicativas retomam a totalidade do núcleo nominal Exemplos:
ao qual estão ligadas, literalmente explicando algo so- “Desconfia-se que o incêndio tenha sido provoca-
bre aquele conjunto. do propositalmente.”
As Orações Adjetivas são as únicas que não come- “Todos nós acreditamos que você tenha capacida-
çam com uma Conjunção, mas com um Pronome Re- de.”
lativo, sempre com ele. Existem teorias e até algumas “Ela gostava quando seu irmão lhe obedecia.”
evidências que nos levam a pensar que esses pronomes
tenham comportamento parecido com o das conjun- Orações Sub. Substant. Predicativa
ções; um fato que reforça essa afirmação é que eles in- Exemplos:
troduzem orações, e só quem faz isso são os conectores “O difícil da vida é acreditar em si.”
(preposições e conjunções). “A verdade é que o medo ronda sua cama.”
o que diferencia as restritivas das explicativas, na
escrita, é a vírgula. Orações Sub. Substant. Completivas
Nominal
Orações Sub. Adjetivas Restritivas
Exemplos:
(SEM VÍRGULA)
“O fato de ele não vir comprova sua culpa.”
Exemplos: “Eu já estava certo de que venceríamos.”
“As crianças que sofrem traumas os corregam por
toda a vida” Orações Sub. Substant. Apositivas
“Os países que venceram a II Guerra polarizaram
Exemplos:
o globo.”

26 | Português - Felipe Pereira 37 Português |


“Os pré-vestibulandos têm alguns anseios: estudar “Segundo o que você falou, era para ele já ter che-
poucos conteúdos, aprender toda a matéria e passar gado.”
na federal para o segundo semestre.”
Orações Adverbiais Comparativas
Orações Subordinadas Adverbiais Conjunções: Como
A grande característica dessas é a possibilidade de Locuções Conjuntivas: Assim como, Mais (me-
deslocamento – o que é promovido por sua natureza nos)... que..., Tanto... quanto...,
adverbial. Essas sempre começam com conjunções cha- Exemplo:
madas de subordinativas. Se voltamos a usar conjun- “Ele é mais rico que todos os seus familiares.”
ções, voltamos a manusear a relação semântica entre as
orações. Não à toa as adverbiais distinguem-se entre as Orações Adverbiais Concessivas
causas, condicionais, consecutivas e etc. (diferenças na Conjunções: Embora, Mesmo, Conquanto.
mensagem transmitida) Locuções Conjuntivas: Ainda que, Mesmo que, Em
que pese, Não obstante.
Orações Adverbiais Causais Exemplos:
Conjunções: Porque “Embora quisesse a aprovação, não escrevia reda-
Locuções Conjuntivas: Visto que, Dado que, Uma ção.”
vez que, Na medida em que, Já que. “Ainda que falasse a língua dos anjos, eu nada se-
Exemplos: ria sem amor.”
“Já que estamos aqui, poderíamos tirar uma foto.”
“Sinto-me confiante para a prova, uma vez que te- Orações Adverbiais Finais
nho feito os testes e as redações.” Locuções Conjuntivas: Afim de que, Para que.
Exemplos:
Orações Adverbiais Condicionais “O livro é colorido, a fim de que se facilite a com-
Conjunções: se, caso preensão.”
Locuções Conjuntivas: Salvo se, Desde que, Con- “A educação não recebe dinheiro, para que a igno-
tanto que, A menos que, A não ser que. rância impere.”
Exemplos:
“Continuarei a viagem, desde que desças do carro” Orações Adverbiais Proporcionais
“Caso eu passe na Ufrgs, (...)” Locuções Conjuntivas: Ao passo que, À medida
que, À proporção que, Quanto mais... mais...”
Orações Adverbiais Consecutivas Exemplos:
Locuções Conjuntivas: tanto... que..., tão... que... “Vou me achando ignorante, à medida que estudo.”
Exemplos: “Quanto mais te conheço, mais adoro meu cachor-
“Meus alunos estudam tanto português, que for- ro.”
mulam a questão 26 da prova.”
“Escrever é tão complicado que alguns alunos só o Orações Adverbiais Temporais
fazem na dia do vestibular.” Conjunções: Quando, Enquanto, Logo.
Locuções Conjuntivas: Assim que, Desde que, Logo
Orações Adverbiais Conformativas que
Conjunções: Conforme, Segundo, Consoante Exemplos:
Exemplos: “Enquanto alguns trabalham, outros dormem.”
“Ela casou-se com um judeu, conforme manda a “Passei a limpo a redação, logo que terminá-la.”
tradição.”

DISCURS O DIRE TO E INDIRETO


Um discurso nada mais é que um ato de fala: al- uso da 1° e da 2° pessoa. Já no Indireto, a fala passa por
guma ação representada através da fala. A questão é um interlocutor, como se esse estivesse literalmente
que esse ato de fala pode vir a apresentar-se de duas nos contando o que foi dito; por isso, aparecem as con-
formas: diretamente ou indiretamente. No Discurso Di- junções integrantes (que e se), formando construções
reto, temos a fala representada de forma direta - vemos clássicas de Discurso indireto: “Disse que...”, “Afirmou
o falante falando (com o perdão do pleonasmo!). Há o que...”, “Perguntou se...”. Como agora estamos contan-

| Português 38 Felipe Pereira - Português | 27


do o que ‘eles’ disseram, a pessoa que figura nesse dis- Transposição de um discurso
curso é a 3°. para outro
É preciso ficar muito atento quanto às mudanças Aqui, mora a grande maioria das questões de vesti-
ocorridas nos tempos verbais toda vez que formos bular: como uma frase que está no Discurso Direto fica
transpor uma frase de um discurso para o outro. Sendo no indireto? Vamos lá... O que precisa ser lembrado, a
o Discurso Direto a fala de alguém, e o Discurso Indire- todo momento, é que o D. Direto acontece antes; está
to essa fala contada, anunciada, é fácil concluir que o mais no passado. Você precisa imaginar que, ao contar,
discurso que ocorre antes é o Discurso Direto, e depois ao transpor uma frase para o Indireto, você está contan-
vem o Indireto. Afinal, para que alguma fala seja conta- do algo que já aconteceu, no passado obviamente! Esse
da, essa fala já tem que ter sido falada. Entendeu? raciocínio norteia todas as mudanças ocorridas de um
discurso para outro.
Discurso Direto: De que forma os tempos verbais mudam?
O capitão chegou dizendo: “nos pequenos dou de D.D.  D.I.
prancha; nos grandes dou de talho”.
Obama afirma: “sim, nós podemos!”. Presente do Indicat. Pretérito Imperfeito do Indi-
Digam ao povo que fico, anunciou Dom Pedro II. cat.
Pretérito Perf. do Indicat.Pretérito mais que per-
Note como em negrito reparamos facilmente a fala feito do indicat.
representada diretamente. Vemos o capitão Rodrigo, o Futuro do Presente do Indicat.Futuro do Pretérito
presidente dos EUA e nosso “libertador” falando, são as do Indicat.
palavras deles. Note também que a parte em vermelho ImperativoPretérito Imperfeito do Subjunt.
é um segmento que não faz parte do discurso; somente
o anuncia, o apresenta. Nessa parte, temos um tipo de Exemplos de transposição
verbo especial: os verbos dicendi (verbos declarativos,
que introduzem atos de fala. Ex: dizer, falar, perguntar, D.D.Adoramos Luan Santana, confessaram as ves-
anunciar e etc). tibulandas de biblioteconomia.
D.I.As vestibulandas de biblioteconomia confessa-
Discurso Indireto: ram que adoravam Luan Santana.
D.D.O réu afirmou: uma entidade espiritual tomou
Dona Plácida jurou-me que não esperava fidalgo
posse do meu corpo!
nenhum. (M. de Assis – Brás Cubas)
D.I.O réu afirmou que uma entidade espiritual ti-
Os corretores perguntaram se meus alunos estão
nha tomado (tomara) posse do seu corpo!
escrevendo.
A bióloga pediu que não matassem o carrapato. D.DO vestibulando, convicto, disse: farei Letras na
modalidade EAD.
Repare bem que, agora, em negrito, não temos D.I.Convicto, o vestibulando disse que faria, na
mais a fala de Dona Plácida, dos corretores e da bióloga, modalidade EAD, Letras.
mas sim ‘alguém’ contando o que foi dito. Nessas frases, D.D.O professor ordenou: leitor/aluno, faça os
o discurso chegou até nós indiretamente. Observe tam- exercícios após essa leitura, agora!
bém a presença dos verbos dicendi (jurar, perguntar e D.I.  O professor ordenou que o leitor/aluno fizes-
pedir) e das conjunções integrantes. se os exercícios após aquela leitura, naquele momento!

Colo cação Pronominal


Esse capítulo da gramática tradicional é bastante O que será posto aqui é o que a tradição gramatical
ilógico, e por isso engraçado. Nossa língua (português diz que é certo, e sabemos que entre a verdade gramati-
brasileiro) tem o seu sistema de posicionamento dos cal e a verdade linguística , no português, há um abismo.
pronomes, e na grande maioria dos casos de uso da lín- Regra Geral: Usa-se sempre Próclise, exceto em
gua (fala ou escrita), a posição escolhida é a pré-verbal início de frase e depois de qualquer sinal de pontuação.
(próclise). No entanto, a gramática tradicional, ainda
muito orientada pelo português lusitano, foge à prócli-
se, nos obrigando às vezes a usar a famigerada ênclise
(Leve-me, Ajudo-te, Adoro-a).

28 | Português - Felipe Pereira 39 Português |


Próclise Obrigatória “Foram ME compradas fraldas descartáveis.” (E
Não CoMPRADAS-ME)
• Advérbios (não virgulados)
• Pronomes Retos (Eu, tu, ele)
• Expressões em ‘qu’ (que, quem, quando” Mesóclise
• Conjunções subordinativas (embora, se, caso)
Só é possível ter acesso a esse uso pré-histórico
chamado Mesóclise com verbos que estejam conjuga-
Exemplos:
dos no Futuro do Presente ou no Futuro do Pretérito,
“É imprescindível que SE ergam os prédios.”
pois só esses dois tempos verbais originam-se de locu-
“Se SE esforçarem os alunos, serão recompensa-
ções verbais. Eles têm uma origem complexa, de modo
dos.”
que vieram de uma construção com dois verbos. Por
“Ontem ME trouxeram um presente.”
exemplo: “Estudarei” vem da expressão “Hei de estu-
“Ontem, deram-ME a esperança.”
dar” (verbo ‘haver’ + verbo ‘estudar’), sem contar que,
“ O garoto SE arrependeu.”
hoje, também usamos essa ideia verbal (futuro do pre-
“Arrependeu-SE o garoto.”
sente) em ideia de locução (Vou fazer, vou estudar, vai
passar). Portanto, só os dois tempos verbais citados têm
Ênclise Proibida a possibilidade de dividir-se, para que o pronome fique
• Particípio exatamente no meio do(s) verbo(s).
• Futuro do Presente
• Futuro do Pretérito Exemplos:
“Se alguém ameaçasse os Estados Unidos, ROM-
Exemplos: PER-SE-IA a terceira guerra?”
“Eu TE levarei daqui” (E Não LEVAREI-TE) “Embora quiséssemos o lucro, CONSTRUÍ-LoS-ÍA-
“Era provável que o levaríamos até o hospital” (E MOS como se fossem nossos.”
Não LEVARÍAMo-Lo) “GABARITÁ-LAS-EMOS.”

| Português 40 Felipe Pereira - Português | 29


30 | Português - Felipe Pereira
Felipe Pereira - Português | 31
32 | Português - Felipe Pereira

Você também pode gostar