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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CASTELO DE PAIVA

FICHA DE GRAMÁTICA DE PORTUGUÊS – 11.º ANO


ANO LETIVO 2022/2023

Lê o texto.
A perfeita alegria
É uma arte difícil, a alegria. Por um lado, sabemo-la próxima e acessível, como se os nossos dedos
pudessem, a cada momento, e sem esforço, alcançá-la. Mas sabemos também como nos escapa, como é
precária, dolorosa e inexplicável a alegria. Como nos obriga a procuras extenuantes e a desertos cujo fim
não se divisa. Não admira, por isso, que muitos desistam da alegria e se metam a caminhar, vida fora,
5 excluindo-a do seu alforge. A alegria, porém, é uma condição necessária da existência. Sempre que ela nos
falta, temos de interpretar isso como um iniludível sintoma, a que é preciso atender. Temos de nos
interrogar sobre o porquê do nosso viver burocrático e tristonho, o porquê do nosso passo precocemente
anoitecido, do nosso errar entre o peso e a cinza de onde a alegria se ausenta.
Não raro o problema é fazer depender a alegria de motivações acidentais que nada têm que ver com a
10 sua essência. Julgamos extrair a alegria do sucesso, da abundância, da força, da afirmação, da eficácia, do
poder, mas o tempo encarrega-se de demonstrar o nosso equívoco. Os mestres espirituais ensinam, por
exemplo, que a alegria não depende do imediato ou conjuntural: a alegria liga-se às razões profundas do
viver. De facto, ela não deve ser reduzida a uma espécie de estado de graça que nos toca em certas
estações ou a uma maravilhosa isenção face à turbulência e aos contrastes do mundo. Pelo contrário. Se
15 pensarmos bem, a maior parte do tempo, a nossa vida é experiência de inacabamento e incompletude, é
esboço e projeto, é movimento transformante. Como escrevia Montale: «Não existe um tempo inteiro: /
temos sempre tantos fios / a correr em paralelo / fios em sentido contrário / que raramente coincidem».
Conta-se nos «Fioretti» (a célebre recolha hagiográfica que se tornou uma das fontes para conhecer o
franciscanismo das origens) que regressando São Francisco de uma viagem para o seu convento de Santa
20 Maria dos Anjos, fustigado por um inverno particularmente hostil, o seu companheiro Frei Leão lhe
perguntou: «Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria.» E que São
Francisco lhe respondeu desta maneira: «Imagina que, ao chegarmos a Santa Maria dos Anjos,
completamente encharcados, desfigurados pela lama da estrada, pela fome e pelo frio, batemos à porta do
convento; o porteiro aproxima-se irritado e diz: “quem são vocês?”; e nós explicamos: “somos dois dos
25 vossos irmãos”; mas ele responde, “vê-se claramente que estão a mentir, são, sim, vagabundos que
roubam as esmolas destinadas aos pobres. Fora daqui!”. Quando o irmão porteiro nos fechar a porta, e nos
abandonar sem apelo à neve e à fome, se soubermos suportar tal injúria de bom modo, sem nos
perturbarmos e sem murmurarmos contra ele, possuiremos então a perfeita alegria.»
É uma arte de paciência, a alegria. Ela pede de nós a capacidade de desconstruir as nossas
30 expectativas, necessidades, idealizações — coisas a que estamos mais apegados do que supomos — e de
provar aquela liberdade que vem de abraçar a vida nas suas não-coincidências (como sugeria o verso de
Montale), com os seus sofrimentos, os seus revezes, as suas interrogações e pausas, as suas misteriosas
travessias. E a fazê-lo sem ressentimento, mas aceitando que a esperança se expressa de um modo
alternativo, prossegue por um caminho outro, capaz de nos surpreender. Na verdade, é um artesanato a
35 alegria, não um produto pré-fabricado. É uma coreografia que avança por tentativas e não um enredo
prévio, que já dominamos. Somos felizes quando, reconhecendo a nossa própria fragilidade, nos
reconhecemos também prometidos não só à alegria, mas à perfeita alegria.
MENDONÇA, José Tolentino, 2019. «A perfeita alegria». E (Expresso), n.º 2417, 23 de fevereiro de 2019 (p. 92)
De entre as afirmações seguintes, identifica, no espaço próprio, através da alínea respetiva, aquela que
melhor completa o enunciado, de acordo com o sentido do texto.

1. As orações introduzidas por «que» nas linhas 4 e 13 são

(A) subordinada substantiva completiva, no primeiro caso, e subordinada adjetiva relativa, no


segundo caso.
(B) subordinada adjetiva relativa, no primeiro caso, e subordinada substantiva completiva, no
segundo caso.
(C) subordinadas adjetivas relativas, em ambos os casos.
(D) subordinadas substantivas completivas, em ambos os casos.

2. O constituinte sublinhado na passagem «A alegria, porém, é uma condição necessária da existência.»


(linha 5) desempenham as funções sintáticas de

(A) complemento do nome.


(B) modificador do nome restritivo.
(C) complemento do adjetivo.
(D) modificador do nome apositivo.

3. As palavras «se» usadas nas linhas 4 e 14 são

(A) conjunções, nos dois primeiros casos (linha 4), e pronome, no terceiro (linha 14).
(B) conjunções, nos três casos.
(C) pronomes, nos três casos.
(D) pronomes, nos dois primeiros casos (linha 4), e conjunção, no terceiro (linha 14).

4. No contexto em que ocorrem, «porém» (linha 5) e «De facto» (linha 13) contribuem para a coesão textual

(A) lexical por reiteração.


(B) gramatical interfrásica.
(C) gramatical frásica.
(D) gramatical referencial.

5. As palavras «para» usadas nas linhas 18 e 19 são


(A) conjunção e preposição, respetivamente.
(B) preposição e conjunção, respetivamente.
(C) conjunções, em ambos os casos.
(D) preposições, em ambos os casos.

6. A expressão «“vagabundos que roubam as esmolas destinadas aos pobres”» (linhas 25-26) desempenha a
função sintática de
(A) sujeito e integra uma oração subordinada substantiva completiva.
(B) complemento direto e integra uma oração subordinada substantiva completiva.
(C) predicativo do sujeito e integra uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
(D) complemento direto e integra uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva.

7. Na passagem «“Quando o irmão porteiro nos fechar a porta, e nos abandonar sem apelo à neve e à
fome, se soubermos suportar tal injúria de bom modo, sem nos perturbarmos e sem murmurarmos contra
ele, possuiremos então a perfeita alegria.”»(linhas 25-27), os pronomes pessoais «nos» desempenham as
funções sintáticas de

(A) complemento direto, em todos os casos.


(B) complemento direto, no primeiro caso, e de complemento indireto, nos restantes.
(C) complemento indireto, no último caso, e de complemento direto, nos restantes.
(D) complemento indireto, no primeiro caso, e de complemento direto, nos restantes.

Responde de forma correta aos itens apresentados, de acordo com o sentido do texto.

8. Transcreve os referentes

do pronome pessoal «la» (linha 1) ___________________________________________________________

do pronome relativo «que» (linha 30) ________________________________________________________

9. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelo pronome relativo «que» em


«É uma coreografia que1 avança por tentativas e não um enredo prévio, que2 já dominamos.» (linha 35).
1 2
_______________________________________ ________________________________________

10. Identifica a função sintática desempenhada pelas expressões seguintes.

«a alegria» (linha 1) ______________________________________________________________________

«o nosso equívoco» (linha 11) ______________________________________________________________

«do imediato ou conjuntural» (linha 12) _______________________________________________________

«fustigado por um inverno particularmente hostil» (linha 20) ______________________________________

«Quando o irmão porteiro nos fechar a porta» (linha 26) _________________________________________

«uma arte de paciência» (linha 29) __________________________________________________________

«de desconstruir as nossas expectativas, necessidades, idealizações» (linhas 29-30) __________________

______________________________________________________________________________________

«o verso de Montale» (linhas 31-32) _________________________________________________________

«de nos surpreender» (linha 34) ____________________________________________________________

11. Classifica as orações subordinadas introduzidas por

«Sempre que» (linha 5) ___________________________________________________________________

«que» (linha 9) __________________________________________________________________________

«que» (linha 12) _________________________________________________________________________

«se» (linha 27) __________________________________________________________________________

«quando» (linha 36) ______________________________________________________________________

Bom trabalho!

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