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1 CENA I
Madalena, só, sentada junto à banca, os pés sobre uma grande almofada, um livro aberto no regaço, e as mãos
cruzadas sobre ele, como quem descaiu da leitura na meditação.
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MADALENA (Repetindo maquinalmente e devagar o que acabava de ler.) – “Naquele engano d’alma ledo e cego /
Que a fortuna não deixa durar muito...” Com a paz e a alegria de alma... um engano, um engano de poucos
instantes que seja... deve ser a felicidade suprema neste mundo. E que importa que o não deixe durar muito a
fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!... (Pausa.) Oh! Que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o
10 estado em que eu vivo... este medo, estes contínuos terrores que ainda me não deixaram gozar um só momento
de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! Que amor, que felicidade... que desgraça a minha!
(Torna a descair em profunda meditação; silêncio breve.)
CENA II
TELMO (Chegando ao pé de Madalena, que o não sentiu entrar.) – A minha Senhora está a ler?...
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MADALENA (Despertando.) – Ah! Sois vós, Telmo... Não, já não leio: há pouca luz de dia já; confundia-me a
vista. E é um bonito livro este! O teu valido1, aquele nosso livro, Telmo.
TELMO (Deitando-lhe os olhos.) – Oh, oh! Livro para damas e para cavaleiros... e para todos: um livro que serve
20 para todos, como não há outro, tirante 2 o respeito devido ao da Palavra de Deus! Mas esse não tenho eu a
consolação de ler, que não sei latim como o meu Senhor... quero dizer como o Senhor Manuel de Sousa
Coutinho3, – que lá isso!... acabado escolar é ele. E assim foi seu pai antes dele, que muito bem o conheci:
grande homem! Muitas letras, e de muito galante prática 4, – e não somenos as outras partes 5 de cavaleiro: uma
gravidade!... Já não há daquela gente. Mas, minha senhora, isto de a palavra de Deus estar assim noutra língua,
25 que a gente... que toda a gente não entende... confesso-vos que aquele mercador inglês da Rua Nova, que aqui
vem às vezes, tem-me dito coisas que me quadram... E Deus me perdoe, que eu creio que o homem é herege
desta seita nova de Alemanha ou de Inglaterra. Será?
MADALENA – Olhai, Telmo; eu não vos quero dar conselhos: bem sabeis que desde o tempo que... que...
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TELMO – Que já lá vai, que era outro tempo.
MADALENA – Pois sim... (Suspira.) Eu era uma criança, pouco maior era que Maria.
MADALENA – É verdade, tem crescido de mais, e de repente nestes dois meses últimos...
TELMO – Então! Tem treze anos feitos; é quase uma senhora, está uma senhora... (À parte.) Uma senhora
40 aquela...pobre menina!
4. Os versos repetidos por Madalena: “Naquele engano d’alma ledo e cego / Que a fortuna não deixa durar
muito” (ll. 6-7) são retirados de que obra?
a) Os Lusíadas.
b) Felizmente há Luar.
c) Memorial do Convento.
d) Os Maias.
7. Identifica a classe da palavra sublinhada em “que o não deixe durar muito a fortuna” (l. 9).
a) Determinante
b) Pronome
c) Adjetivo
d) Preposição
8. Identifica o recurso expressivo presente na frase: “E que importa que o não deixe durar muito a fortuna?”
(ll. 8-9).
a) Apóstrofe
b) Antítese
c) Personificação
d) Interrogação retórica
10. Por que razão a primeira fala de Madalena apresenta muitas reticências?
a) Visto tratar-se de um discurso improvisado.
b) Visto tratar-se de um discurso expressivo.
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c) Visto tratar-se de um discurso imperativo.
d) Visto tratar-se de um discurso apreciativo.
12. Tendo em conta a primeira fala de Madalena, escolhe a opção que melhor caracteriza essa personagem.
a) Perturbada, angustiada e feliz.
b) Angustiada, dececionada e conformada.
c) Aterrorizada, extravagante e culta.
d) Perturbada, receosa e angustiada.
16. A frase “que desgraça a minha!” (l. 12) apresenta um ato ilocutório...
a) Diretivo
b) Assertivo
c) Declarativo
d) Expressivo
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20. O constituinte sublinhado em “Ah! sois vós, Telmo” (l. 17) desempenha a função sintática de
a) Complemento oblíquo.
b) Sujeito.
c) Vocativo.
d) Predicativo do Sujeito.
21. Identifica o tempo e modo da forma verbal sublinhada: “Ah! sois vós, Telmo” (l. 17).
a) Presente do Indicativo
b) Pretérito Perfeito do Indicativo
c) Presente do Conjuntivo
d) Pretérito Imperfeito do Indicativo
22. Na frase: “Não, já não leio” (l. 17), estamos perante um ato ilocutório:
a) Diretivo
b) Assertivo
c) Compromissivo
d) Declarativo
24. O recurso expressivo presente na frase “E é um bonito livro este!” (l.18) é...
a) O hipérbato.
b) A anástrofe.
c) A metáfora.
d) A hipálage.
25. O constituinte sublinhado em “E é um bonito livro este!” (l. 18) desempenha a função sintática de
a) Complemento direto.
b) Predicativo do sujeito.
c) Complemento indireto.
d) Sujeito.
26. Indica a classe da palavra sublinhada: “aquele nosso livro”. (l. 18)
a) Determinante
b) Pronome
c) Adjetivo
d) Quantificador
27. A repetição da palavra “livro” na linha 18 contribui para a coesão referencial, tratando-se de uma:
a) Anáfora
b) Elipse
c) Catáfora
d) Correferência não anafórica
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29. Classifica a oração: “que serve para todos” (l. 21).
a) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
b) Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
c) Oração subordinada substantiva completiva.
d) Oração subordinada adverbial consecutiva.
30. Qual a classe da palavra sublinhada em “como não há outro” (l. 21).
a) Pronome
b) Determinante
c) Quantificador
d) Nome
32. A que se refere Telmo quando diz “devido ao da Palavra de Deus” (l. 21)?
a) Ao Frei Jorge
b) A D. João de Portugal
c) À Bíblia
d) À confissão
33. A oração “Mas esse não tenho eu a consolação de ler” (l. 22) é coordenada...
a) Adversativa.
b) Copulativa.
c) Explicativa.
d) Conclusiva.
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b) Adverbial consecutiva.
c) Adjetiva relativa explicativa.
d) Adjetiva relativa restritiva.
39. Identifica o grau do adjetivo da expressão “e de muito galante prática” (ll. 24-25).
a) Superlativo relativo de superioridade
b) Superlativo relativo de inferioridade
c) Superlativo absoluto sintético
d) Superlativo absoluto analítico
41. Refere o recurso expressivo presente na expressão: “Mas, minha senhora, isto de a palavra de Deus...” (l. 26).
a) Vocativo
b) Apóstrofe
c) Metáfora
d) Hipálage
43. O tipo de sujeito da frase: “confesso-vos que aquele mercador inglês da Rua Nova...” (l. 27) é...
a) Simples.
b) Nulo subentendido.
c) Nulo indeterminado.
d) Nulo expletivo.
45. Esclarece de que se trata: “esta seita nova de Alemanha ou de Inglaterra” (l. 29).
a) Catolicismo
b) Protestantismo
c) Religião ortodoxa
d) Paganismo
46. Identifica a função sintática da expressão sublinhada: “Eu era uma criança.” (l. 36).
a) Sujeito.
b) Predicativo do sujeito.
c) Complemento direto.
d) Predicativo do complemento direto.
47. O tipo da frase: “a Senhora D. Maria já é mais alta.” (l. 38) é...
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a) Declarativo.
b) Imperativo.
c) Exclamativo.
d) Interrogativo.
48. A expressão “tem crescido de mais” (l. 40) assume um valor aspetual...
a) Perfetivo.
b) Imperfetivo.
c) Durativo.
d) Genérico.
50. A palavra sublinhada em “Tem treze anos feitos” (l. 42) é um:
a) Adjetivo
b) Determinante
c) Pronome
d) Quantificador
51. As didascálias do texto, tal como em “(À parte)” (l. 42) dão indicações...
a) Aos atores
b) Aos espetadores
c) Ao dramaturgo
d) Ao ponto
Verdadeiro ou falso?
1. Os cantos de “Os Lusíadas” são constituídos por estrofes de sete versos.
2. A estrutura interna dessa obra divide-se em: Proposição, Invocação, Dedicatória e Canto.
3. Nesta obra, existem quatro planos temáticos.
4. “Auto da Barca do Inferno” é uma complexa alegoria dramática.
5. Nesta obra, as personagens que vão para o céu são os Quatro Cavaleiros, o Parvo e o Fidalgo.
6. Os sonetos têm 14 versos decassilábicos.
7. Na corrente tradicional da lírica camoniana os poemas são essencialmente sonetos.
8. Camões recebe influências de Dante e Petrarca.
9. Aos versos com sete sílabas métricas, chama-se redondilha menor.
10. A notícia deve ser curta, subjetiva e impessoal.
11. O “Sermão de Santo António aos Peixes” divide-se em Exórdio, Exposição, Confirmação e Peroração.
12. O conceito predicável desta obra é “Vós sois o sal do mar”.
13. “Frei Luís de Sousa” retrata a vida de Manuel de Sousa Coutinho e da sua esposa D. Madalena de Vilhena.
14. Esta obra é dividida em quatro atos.
15. Em “Os Maias”, Afonso da Maia é casado com Maria Monforte.
16. A casa onde os Maias habitam chama-se “Ramalhete”.
17. Com o novo acordo ortográfico, os nomes dos países não sofrem alterações.
18. A forma verbal “pára” passa a escrever-se “para”.
19. Continua, no entanto, a ser obrigatório colocar acento nas formas verbais da primeira pessoa do plural do
pretérito perfeito do indicativo, tal como “ganhámos”.
20. As palavras “vêem” e “dêem” mantêm o acento circunflexo.
21. Os heterónimos de Fernando Pessoa são Ricardo Reis, Alberto de Campos e Álvaro Caeiro.
22. A história de “Memorial do Convento” decorre durante o reinado de D. João IV.
23. “Felizmente há luar” é uma narrativa de carácter épico.
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Proposta de correção:
1-b 2-a 3-c 4-a 5-a 6-b 7-b 8-d 9-c 10-b
11-c 12-d 13-a 14-d 15-c 16-d 17-c 18-c 19-c 20-c
21-a 22-b 23-d 24-b 25-b 26-a 27-d 28-a 29-b 30-a
31-b 32-c 33-a 34-d 35-b 36-b 37-d 38-c 39-d 40-d
41-b 42-c 43-b 44-a 45-b 46-b 47-a 48-c 49-c 50-d
51-a
V ou F
1. F. Oito versos
2. F. Proposição, Invocação, Dedicatória e Narração.
3. V
4. V
5. F. O Fidalgo não vai para o céu.
6. V
7. F. É na corrente renascentista.
8. V
9. F. Redondilha maior.
10. F. A notícia deve ser curta, objetiva e impessoal.
11. V
12. F. “Vós sois o sal da terra”.
13. V
14. F. Esta obra é dividida em três atos.
15. F. Afonso da Maia é casado com Maria Eduarda Runa.
16. V
17. F. “Egipto” passa a escrever-se “Egito”, por exemplo.
18. V
19. F. Não é obrigatório.
20. F. Perdem o acento circunflexo.
21. F. São Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
22. F. Durante o reinado de D. João V.
23. V
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