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Fascículo Sintaxe II

Unidade II: Gramática Gerativa


Breve histórico da teoria e de seus conceitos básicos.
Breve histórico da gramática gerativa
 O gerativismo é sintaticocêntrico, de algum modo como reação ao
estruturalismo pós-bloomfieldiano, que acreditava na descrição linguística por
meio de um corpus de frases. Para Chomsky, o número infinito de orações
que compõem a língua impede a descrição linguística por meio de qualquer
que seja o corpus.
 A gramática de uma língua é uma teoria das orações dessa língua. Estudar
uma língua é estudar sua sintaxe.
 Aspects of the Teory of Sintax (1965) Teoria-padrão: o léxico ganha
relevância e surge a noção de estrutura profunda.
 Teoria-padrão estendida (1967): teoria-padrão recebe teorias auxiliares: teoria
x-barra, teoria dos casos, teoria dos papéis temáticos, teoria dos vestígios,
teoria das categorias vazias e teoria da ligação.
o Teoria X-barra: envolve a representação dos sintagmas, sua natureza,
relações e como se hierarquizam dentro da sentença. Representa o
sintagma em três níveis: projeção máxima (sintagma), intermediária e
mínima (núcleo). Ex:
SV (máxima)

V (intermediário)

V (mínima, núcleo do sintagma)


o Teoria do caso: estabelece relação entre os constituintes oracionais e
as funções sintáticas. Ex: pronomes pessoais do caso reto e do caso
obliquo são constituintes da oração que, contudo, desempenham
funções sintáticas distintas.
o Teoria dos papéis temáticos: se baseia em predicador (palavra
transitiva) e argumento (= complemento). Os argumentos são os casos
semânticos que o verbo exige para a sentença fazer sentido. Ex: João
pôs o livro na estante. João: agente; livro: tema; na estante: locativo. O
verbo colocar (predicador) exige um agente que coloque, um tema a
ser colocado e um local onde se coloque esse tema, esses três últimos
são os argumentos.
o Teoria das categorias vazias: as frases “Comeram todo o bolo” e “Eles
comeram todo o bolo” servem para exemplificar essa teoria. Na
primeira, o agente “eles” foi apagado, deixando vazia essa casa
argumental.
o Teoria dos vestígios: todo elemento movido deixa um vestígio no lugar,
que vai funcionar como elemento pleno as regras sintáticas. Ex: A
frase “Paulo nos viu examinar a garota” se origina de duas sentenças:
‘Paulo viu algo’ e ‘Nós examinar garota’. Ao encaixá-las, o pronome
“nós” da segunda sentença é deslocado para complementar o verbo
“ver” na primeira. Assim, o pronome “nos” em “Paulo nos viu examinar
a garota” não é objeto direto, sintaticamente, é o sujeito do verbo
“examinar”.
o Teoria da ligação: estuda as propriedades estruturais e semânticas das
relações de dependência referencial. Ex:
1. João e Pedro cumprimentaram-se. => pronome anafórico
2. João pensa que ele é o mais rico. => pronome ele pode se referir tanto a
João como a alguém que não seja Joao.
3. O pai do João disse à professora que o João iria viajar. => expressão
referencial que se refere ao mesmo ser.
Essa teoria explica o porquê de os itens lexicais de referenciação
serem justamente as anáforas, pronomes e expressões referenciais.
o Teoria dos princípios e parâmetros: a língua é composta por
princípios que são comuns à todas as línguas, como vogais e
consoantes, verbos substantivos, adjetivos etc.; também se compõe de
parâmetros que são propriedades que uma língua pode ou não exibir,
o quadro de vogais muda de uma língua para a outra, os modos e
aspectos verbais etc.
Conceitos básicos da gramática gerativa
 Aquisição da linguagem
1. A criança não aprende a falar armazenando frases;
2. A criança não precisa ter ouvido as frases que irá produzir nem ter ouvido
uma frase antes para conseguir compreendê-la;
3. Produção e compreensão de sentenças: essa habilidade é aprendida. A
criança aprende que sujeito precede verbo, por exemplo.
4. Os pais não ensinam a criança a falar. A língua é uma habilidade
adquirida. A segunda linguagem, contudo, é ensinada e aprendida.
o A teoria inatista adotada por Chomsky considera a linguagem como
própria da espécie humana, está no gene da espécie, armazenada no
cérebro/mente do homem. Argumenta-se que, em um período curto de
vida, a criança é exposta a uma fala fragmentada, mas por meio dela
consegue dominar um conjunto complexo de regras, que constituem a
gramatica internalizada.
 Gramática Universal
o É o dispositivo inato inscrito no cérebro/mente.
o Não é um livro que contem regras de certo e errado. São os princípios
antes de serem parametrizados em uma língua.
 Estrutura profunda e Estrutura superficial
o A estrutura profunda contém a parte semântica, o conteúdo que
queremos transmitir; a estrutura superficial contém a parte fonética, a
realização sonora do conteúdo pensado. A estrutura profunda é
cognitiva e a superficial é fonológica.
 Dominância e precedência
O

SN SV
N V SN
N
João viu Maria
o Dominância é uma relação onde um componente está incluído em
outro componente. No esquema, o O domina o SN e o SV em uma
relação de cima para baixo, descendente.
o Precedência estabelece uma relação linear. SN (João) precede o SV
(viu) e o SV (viu) precede o SN (Maria). Porém João não precede
Maria porque eles estão desconectados pelo SV presente entre os
dois.
 Competência e Desempenho
o Competência é o conhecimento mental puro do falante, a sua
gramática internalizada. O doutor e o analfabeto possuem a mesma
competência linguística porque ambos possuem a mesma gramática
internalizada do português.
o Desempenho é o uso concreto da linguagem em situações de fala. O
doutor apresenta melhor desempenho linguístico porque possui
conhecimento sistemático e formal da língua, utilizando-a para melhor
argumentar. Ao analfabeto falta este conhecimento, por isso possui um
desempenho linguístico inferior.
Todos os falantes maduros de uma língua têm a mesma competência linguística
o que vai diferenciar um falante do outro é o desempenho.
 Gramaticalidade e aceitabilidade
1. Maria viu ele na rua.
2. Maria o viu no cinema.
3. O Maria no viu cinema.
4. Maria que conhece um rapaz que estuda medicina que está para se
formar está doente.
5. Cadeira comer o leite.
o As noções de gramaticalidade e aceitabilidade vão se aplicar a
depender das regras de estruturação das frases na língua, que
determinam a ordem dos elementos e as combinações possíveis. A
frase é ou não gramatical dependendo do fato de ser ou não formada
de acordo com as regras da gramática.
Sendo assim, apesar do exemplo 1 ser considerado errado pela norma
culta e o exemplo 2 estar “correto”, ambos serão gramaticais por
seguirem as regras de ordem e combinação do português.
Os exemplos 3 e 5 são agramaticais porque não são formados de
acordo com as regras da língua.
o A aceitabilidade depende das limitações de memória temporária, que
restringem a quantidade de material linguístico a ser trocado entre o
sujeito e verbo em uma mesma oração. Desse modo, está atrelada ao
campo de desempenho linguístico do falante, quanto melhor o
desempenho, maior a facilidade de entender a estrutura gramatical da
sentença.
O exemplo 4 apresenta uma sentença bem formada sintaticamente,
mas tem pouca aceitabilidade por causa da dificuldade de
entendimento.

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