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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


FACULDADE DE LETRAS
LINGUÍSTICA III
PROFESSORA: Adriana Leitão Martins

AULA 7: CATEGORIAS VAZIAS EM POSIÇÕES ARGUMENTAIS

Existem construções em que um argumento lexicalmente selecionado na


estrutura argumental de um predicador não é realizado foneticamente na
representação sintática. Nestes casos, somos obrigados a postular que a posição é
ocupada por uma categoria vazia de natureza argumental. As categorias vazias, apesar
de não terem realização fonética, são elementos sintaticamente ativos.

• Tipos de estrutura da sentença:


1) Suj V Obj 2) __ V Obj 3) Suj V __ 4) __ V __
• Tipos de categoria vazia:
1) pro
sempre ocorrem em posição argumental
2) PRO
3) t (vestígio) nem sempre ocorre em posição argumental

A. O sujeito nulo das línguas românicas


1. Giacomo ha parlato.
pro ha parlato.
2. Giacomo has spoken.
*__ has spoken.

Traços de pro
• Tal como um pronome fonético, pro possui uma matriz gramatical, a qual
especifica, através de um sistema de traços distintivos, a sua composição
relativamente a propriedades como número, gênero, pessoa e caso (3ªp.,
plural). Tal como os pronomes fonéticos il do francês e it do inglês, pro
pode também ser um pronome expletivo, restringido a ocupar posições
argumentais não-temáticas, como a de sujeito do verbo parecer.
3. pro Parece que amanhã vai chover.
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Condições de licenciamento do sujeito nulo
• A possibilidade de ocorrência de sujeitos pronominais nulos numa língua
depende da existência de um sistema flexional de concordância
morfologicamente rico, capaz de distinções que possibilitem a recuperação
dos traços gramaticais do sujeito relevantes nessa língua (como por exemplo
número e pessoa nas línguas românicas).
Italiano PB Francês Inglês
Io parlo Je parle I walked
tu parli tu parles you walked
egli parla il parle he walked
noi parliamo nous parlons we walked
voi parlate vous parlez you walked
loro parlano ils parlent they walked

3. Eles comeram o bolo em 2 segundos.


pro Comeram o bolo em 2 segundos.
4. Eu comi o bolo em 2 minutos.
pro Comi o bolo em 2 minutos.
5. Onde está João?
João, ele foi à xerox. / cv, cv foi à xerox.

• Características de pro nas línguas românicas:


 Ocupa a posição de sujeito das orações flexionadas (finitas) nas línguas
que permitam que a posição de sujeito seja uma categoria vazia.
 Os traços desse sujeito nulo são identificados pela flexão do verbo.
• OBS: Categorias lexicais – NP, VP, AP, PP
Categorias funcionais – TP, CP
• OBS 2 : O português ainda é uma língua que autoriza o sujeito nulo, embora a
produtividade do sujeito nulo esteja diminuindo progressivamente.
• A presença/ausência de sujeitos nulos é uma dimensão discreta, ou seja,
uma dada língua admite ou não admite sujeitos nulos. O estatuto
morfológico da concordância, no entanto, não é discreto: línguas diferentes
podem ocupar posições diferentes numa escala de riqueza morfológica que é
essencialmente contínua (as terminações verbais do francês são mais pobres
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do que as do italiano ou as do português, mas mais ricas do que as do
inglês). Estas considerações sugerem que o sistema gramatical formal de
cada língua especifica de modo discreto a sua categoria AGR como sendo
forte ou fraca. Nas línguas em que AGR é especificado como forte, pro é
licenciado. Nas línguas em que AGR é especificado como fraco (caso do
francês e do inglês), pro não é licenciado. Em algumas línguas, um pro
expletivo é permitido enquanto um pro referencial não. Este é o caso, por
exemplo, do alemão.
• ATENÇÃO (sobre o sujeito nulo em algumas línguas não românicas):
Huang (1984) apresenta dados que demonstram que o chinês, o japonês e o
coreano permitem o apagamento do sujeito (e do objeto), apesar de não
apresentarem nenhum sistema de acordo sujeito-verbo (ou objeto-verbo).
Isso se explicaria ora pelo fato de essas serem línguas especificadas
positivamente para o parâmetro do tópico zero, autorizando um sujeito nulo
variável (categoria vazia com traços [- anáfora, - pronome]), ora pelo fato
de serem línguas especificadas positivamente para o parâmetro do sujeito
nulo, autorizando um sujeito nulo pronominal (categoria vazia com traços
[- anáfora, + pronome]) (ex: chinês). Logo, o autor argumenta que é
possível um sujeito vazio pronominal ocorrer em línguas em que AGR é
ausente.
• CONCLUSÃO: A questão do apagamento do sujeito está ligada a dois
parâmetros:
 Parâmetro do sujeito nulo ou parâmetro pro-drop (o sujeito nulo,
com natureza pronominal, ganha os traços do verbo).
 Parâmetro do tópico zero (o sujeito nulo, com caráter de variável,
ganha os traços do tópico).
• Sobre a aquisição do sujeito nulo: como as crianças italianas (ou brasileiras)
“aprendem” que sua língua é especificada positivamente para o parâmetro
pro-drop? Ou como sabem as crianças nativas do inglês que não podem
apagar o sujeito? A hipótese principal para explicar esse fato é que as
crianças começam admitindo que a sua língua é a menor. Com relação ao
parâmetro pro-drop, a língua menor é aquela que não admite sujeito nulo.
Exposição a sentenças com sujeito nulo faz que a criança passe da língua
menor para a língua maior.
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• O sujeito de 3ª pessoa no português do Brasil: João disse que cv vai ao


cinema.

B. PRO e a teoria do controle


6. a. Os pais querem [que as crianças durmam].
b. Os pais querem [dormir].
• O verbo dormir da oração subordinada em (6) seleciona um argumento
externo. A representação sintática da sentença em (6b), em que o sujeito da
oração subordinada infinitiva não aparece foneticamente realizado, é a
seguinte:
7. Os pais querem [PRO dormir].
8. João prometeu à Maria [PRO sair mais cedo].
9. He wants [PRO to understand Linguistics].
• A referência do sujeito subentendido de dormir em (7) é compreendida
como sendo a mesma do SN os pais. Esse sujeito, como o sujeito vazio das
orações flexionadas, apresenta um caráter pronominal. Além do PRO da
sentença em (7/8/9), cuja referência é a mesma do sujeito da oração
principal, existe um PRO de referência arbitrária, como na sentença em
(10).
10. É importante [PRO terminar a tese].
• PRO não pode ser o sujeito das orações finitas nem o objeto de um verbo,
tendo em vista que essas posições são marcadas por caso.
• Características de PRO:
 Ocupa a posição de sujeito das orações infinitivas (não-finitas).
 A referência desse sujeito pode ser a mesma do sujeito da oração
principal ou pode ser uma referência arbitrária.
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Diferenças entre pro e PRO
• Enquanto o pro é o sujeito das orações finitas de línguas especificadas
positivamente para o parâmetro pro-drop, o PRO é o sujeito das orações
infinitivas.
• Enquanto o pro tem distribuição limitada, o PRO tem distribuição
universal.

Em outras palavras: pro ≠ PRO


• pro: [+ pronome, - anáfora]; sujeito das orações flexionadas; tem
distribuição limitada (apenas algumas línguas permitem sua realização);
• PRO: [+ pronome, + anáfora]; sujeito das orações infinitivas; tem
distribuição universal (todas as línguas permitem sua realização).

OBS: Chomsky considera que, segundo a teoria da ligação, existem 2 tipos de traços:
os anafóricos e os pronominais. O autor propõe a existência de 4 tipos de expressão
nominal:
• [+ pronome, - anáfora]: livre no domínio onde é regida, podendo ser ligada
num domínio maior (exemplo: pronomes (ele)).
• [+ pronome, + anáfora]: ligada e livre no domínio onde é regida; a única
solução para esse paradoxo é que não haja regência para essa categoria.
• [- pronome, + anáfora]: ligada no domínio mínimo onde é regida (exemplo:
anáforas (uns aos outros)).
• [- pronome, - anáfora]: livre no domínio onde é regida e fora dele (exemplo:
termos referenciais (João)).
Tomando como hipótese que as categorias vazias refletem as categorias realizadas,
Chomsky (1982) propõe uma nova tipologia das categorias vazias:
• [+ pronome, - anáfora]: pro
• [+ pronome, + anáfora]: PRO
• [- pronome, + anáfora]: vestígio de NP
• [- pronome, - anáfora]: variável

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