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PREDICAÇÕES
De acordo com Mateus et al. (1989:37), a predicação consiste em atribuir uma determinada
propriedade a um certo termo ou em estabelecer uma relação entre termos, do ponto de vista
comunicativo, o acto de predicar visa fundamentalmente, descrever um dado estado de coisas a um
dado universo de referência.
Disto podemos observar que a predicação não abrange só abrange a tradicional relação entre o
sujeito e o predicado de uma frase, mas também a relação que se estabelece entre um determinado
núcleo lexical (que pode ser Nome, Verbo, Adjectivo ou Preposição) e os seus argumentos.
Assim, iremos definir o predicador como sendo o núcleo temático ou semântico numa relação de
predicação, isto é, entidade que tem a capacidade de seleccionar e fazer depender de si seus
complementos (ou argumentos). O predicador é, assim, o núcleo do predicado sintáctico.
[- CONTROLADO] [+CONTROLADO]
[-DINÂMICO] Estados Posições
[+DINÂMICO] Eventos Acções
Processos Actividades
Nos estados [-CONTROLADO] os participantes são uma entidade x, não controladora, a que é
atribuída uma propriedade não dinâmica, ou uma entidade x e uma entidade y, relativamente à qual x é
localizada.
(1) (a) O Makhandheni está doente.
(b) O Hospital Central de Maputo fica no centro da Cidade.
(8) (a) (O João) ofereceu (um disco) (ao amigo) (no aniversário deste).
(b) (O João) está doente (desde há uma semana).
(c) (O João) é médico (no Hospital Central de Maputo).
(d) (O João) mora (ali) (com a esposa e filhos).
(e) (O João) acha (que é melhor o doente ser internado) (porque o seu estado é crítico).
ESQUEMA PREDICATIVO
FUNÇÕES SEMÂNTICAS
As Funções semânticas ou papéis temáticos referem-se ao tipo de propriedade ou relação expressa
pelo predicador e que definem o tipo de relações que ele mantém com os seus argumentos
nucleares.
a. AG(ente): é o papel temático que designa a entidade controladora de um estado de coisas,
tipicamente humana.
(10) (a) (A Maria) AG Guiou proc o jipe a tarde toda.
(b) (O Carlos) AG preparou ev este texto.
b. FON(te) ou OR(igem): é a função semântica que designa a entidade que está na origem de
uma dada situação, embora sem a controlar.
(c) (O fumo) OR amareleceu ev o cortinado.
Texto compilado por: Carlos L. Mutondo 4
Predicadores, Funções Semânticas e Caso
c. O(bjecto) ou Tema: é o papel temático que designa a entidade que muda de lugar, de posse
ou de estado, em frases que descrevem situações dinâmicas. O argumento com este papel pode
designar uma entidade.
(d) (A bola) Tema rolou proc pelo relvado.
(e) O Timbe passou ev (a bola) Tema para o Mpoga.
e. LOC(ativo): é o papel temático do argumento que exprime a localização espacial de uma dada
entidade.
(h) O Ernesto mora Pe (no Infulene). LOC
f. Alvo ou REC(ipiente): é o papel temático que designa a entidade para a qual algo foi
transferido, num sentido locativo ou não. A expressão com o papel de Alvo (ou recipiente)
pode designar um ser humano, quando se refere às situações de mudança de posse ou de
comunicação linguística.
(i) (O João) REC tem Pe um barco pneumático.
(j) A Judite ofereceu Pev um caderno (ao amigo) REC
g. PAC(ciente): é o papel temático do argumento que designa a entidade a quem é atribuída uma
propriedade não dinâmica ou que, numa relação não dinâmica é localizada relativamente a uma
outra entidade. É a função semântica característica dos Pe.
(k) (A Maria) PAC está doente Pe.
(l) A Carla ama Pe o (Carlos) PAC.
Os Pe Experienciais, tipicamente de dois lugares, com gostar (de), amar, ouvir, saber, ver…
exprimem uma cognição ou cognição passiva ou estados afectivos.
(Pe: X EXP, Y PAC)
(12) (O Tomás) EXP não ouviu (o toque) PAC.
Os Pe transferenciais, tipicamente de dois lugares, contam com predicadores como dono (de) ,
possuir, proprietário (de), ter:
(Pe: X REC , Y LOC )
(13) (O Pedro) REC é o dono de (um restaurante) PAC
Os Pe locativos são tipicamente predicadores de dois lugares que exprimem a localização espacial
de uma entidade relativamente a outra entidade, como ficar (estar situado em), morar, viver, …
(Pe: X PAC , Y LOC )
(14) (O Manuel)PAC mora (no Xipamanine)LOC.
actividade física, P proc movimento. Os P proc meteorológicos são predicadores de ∅ lugares como
chover, trovejar, estar calor,…
(P proc: ∅)
Os P proc de actividade física são predicadores de um ou de dois lugares como chorar, comer,
fumar, …
(P proc: X OR, (X TEMA))
(17) (O Lucas ) OR chorou Pproc a noite toda.
Os predicadores de evento (P ev) incluem a subclasse dos P ev causativos e a sub classe dos P ev
não causativos.
Os primeiros exigem sempre pelo menos dois argumentos, designando um deles a entidade que
sofre uma dada mudança de estado ou de lugar (TEMA) e outro responsável por essa mudança de
lugar (AG ou OR). Deste modo, AG/OR causar (tornar-se ψ) define semanticamente a subclasse dos
P ev de mudança de estado, os P ev transferienciais e o s P ev de mudança de lugar.
Os P ev não causativos de actividade mental são predicadores de dois lugares que exprimem
actos perceptivos ou de cognição envolvendo uma entidade controladora; pertencem a esta subclasse
verbos como concluir, descobrir, inferir,…
(Pev: X AG, Y TEMA)
(24) (O Cléusio) AG descobriu Pev (a saída) TEMA.
Por fim, os Pev não causativos transicionais exprimem uma mudança de estado de uma entidade
designada pelo argumento TEMA, sendo predicadores de um lugar, dos quais se contam os verbos
falecer, nascer, murchar, partir-se,…
(Pev: X TEMA)
(26) (O copo) TEMA partiu-se P ev.
De acordo com Dubois (2006:99), «Caso é uma categoria gramatical associada ao Sintagma
Nominal, cuja função sintáctica ele traduz». Portanto, a ideia que se tem do caso está relacionada com
a existência de línguas que manifestam uma morfologia própria com a informação do caso.
Os casos são expressos nas línguas (i) pela posição dos Sintagmas Nominais relativamente ao
verbo; (ii) por preposições «(de/a: Pedro vai à praia / Pedro vem da loja) e (iii) por afixos Nominais
que variam com os nomes (caso do latim).
A teoria do caso abstracto advoga que são agramaticais todas as frases que tenham Sintagmas
Nominais realizados se tais Sintagmas Nominais não tiverem caso.
É preciso notar que o caso do núcleo do SN é partilhado pelo seu especificador quando este existe,
o que se integra no princípio geral do Acordo Especificador-Núcleo. É o caso que legitima, do ponto
de vista estrutural, todos os SN com realização lexical.
Ao realizarmos frases em que existem SNs lexicais sem caso, reconhecemos que tais frases são
agramaticais. A componente da Forma Fonética considera mal formados os SNs sem caso.
Universalmente, os sujeitos das orações finitas têm caso (em geral, Nominativo), podendo ter ou
não realização fonética, e os SNs sujeitos das orações infinitivas não flexionadas não têm caso, por
isso não podem ter realização fonética.
A atribuição de papéis-θ aos argumentos está relacionada com a necessidade de os SNs terem
caso. Uma condição geral estipula a associação da Teoria Temática com a Teoria do Caso – a
Condição de Visibilidade¸de acordo com a qual um elemento só é visível para a atribuição de um
papel-θ se estiver numa posição com caso ou se for um PRO.
OS CASOS ESTRUTURAIS
Estrutural é o «caso atribuído, em Estrutura-S, a determinadas posições sintácticas. São casos
estruturais o Nominativo e o acusativo (objectivo). O caso estrutural é atribuído independentemente
da marcação temática. Normalmente o caso Nominativo é atribuído ao sujeito por Flex, e o acusativo
sob regência do verbo a um SN, que pode não ser tematicamente marcado pelo verbo» (Xavier &
Mateus, 1992)
Em latim, por exemplo, a manifestação dos casos através dos sufixos é, de facto, evidência
morfológica das funções gramaticais que os SNs argumentos desempenham nas frases. Assim, é
possível encontrar uma correspondência entre casos e funções gramaticais, principalmente no que
respeita aos dois casos considerados, em geral, casos estruturais.
(27) Nominativo – sujeito.
Acusativo – Objecto Directo.
(28) (a) O João viu a Maria.
(b) * o João a Maria viu.
(c) * viu o João a Maria.
(d) a Maria viu o João.
(e) * a Maria o João viu.
(f) * viu a Maria o João.
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Predicadores, Funções Semânticas e Caso
Da análise destas frases é difícil interpretar as marcadas com o asterístico (*) pois não se sabe qual
é o SN sujeito, nem qual é o Objecto Directo. As frases (28.a) e (28.d) são bem formadas mas com
uma interpretação distinta dado que em (a) o SN o João é o sujeito, com o papel temático de
Experienciador, o SN a Maria é o Objecto Directo, com o papel-θ de Tema. E em (d) observa-se uma
troca de papéis.
Deste modo, marcamos como mal formadas as sequências em que a ordem básica de constituintes
não foi respeitada, porque é, efectivamente, esta ordem que em Português nos permite identificar com
facilidade o Sujeito Nominativo e o OD Acusativo.
Os casos estruturais (Nominativo e Acusativo) são também denominados casos directos.
A ordem dos constituintes da frase, em português, é reflexo das condições estruturais de Regência
de que depende o caso. Assim, considera-se que o caso é atribuído, ou realizado, sob regência, em
Estrutura-S, e que cada atribuidor de caso só permite atribuir um caso a um SN.
Numa outra perspectiva, Dubois (2006), considera que independentemente da forma da marcação
casual, todas as línguas apresentam caso. Considerando que o «verbo é constituinte fundamental e o
centro da frase. É a partir do verbo que se definem, no nível da estrutura profunda, os diferentes
papéis, i.é, as relações casuais». (op.cit., 101).
Este autor considera, na esteira de FILLMORE, a existência dos seguintes casos:
Agente: o ser animado instigador do processo;
Instrumento: a causa imediata do processo;
Objecto: a entidade que muda ou sobre cuja existência se discute.
Locativo: o lugar do processo.
Em aulas anteriores estabelecemos uma distinção entre Regência Lexical e Regência Estrutural. O
Caso Nominativo depende apenas de uma condição estrutural de Regência – trata-se, portanto, de
Regência Estrutural e, por essa razão, é denominado caso estrutural; O caso Acusativo tem a ver com
as propriedades lexicais do verbo, que é, geralmente, transitivo, razão pela qual se fala de Regência
Lexical. Porém, dado que esta regência está sujeita a condições estruturais, o caso Acusativo dos
verbos transitivos também é um caso estrutural.
A condição de visibilidade considera que os SNs argumentos tenham caso para que possam
receber uma função temática. Assim, o caso estrutural é atribuído aos SNs argumentos, em Estrutura-
S. Espera-se, portanto, que haja uma correspondência natural entre os casos estruturais e as funções
temáticas principais:
(30) Nominativo – Agente
Acusativo – Tema
Tal correspondência entre casos e papéis temáticos verifica-se quando um verbo transitivo projecta
nas suas posições canónicas o argumento Agente e o argumento Tema. Relativamente ao clítico
Acusativo, junto ao verbo, pode se concluir que possui o mesmo índice da categoria vazia na posição
argumental de Tema, o mesmo acontecendo com o pronome que ocorre como sujeito.
Contudo, em frases passivas o caso do Sintagma Nominal Sujeito a que se atribui o Caso
Nominativo desempenha o papel-θ de Tema.
Nesta construção, nota-se que a regra de Mover-SN deslocou o [SN a casa], argumento interno do
V destruir – [SN, SV] –, para a posição de argumento externo – [SN, SFlex] –, que não estava
ocupada. Daí resulta duas categorias em posições-A que partilham o mesmo índice – o [SN a casa i ] (na
posição de Argmento externo) e a categoria vazia vestígio do SN movido – [cv] i – na posição de
argumento interno. Formalmente as duas categorias coindexadas constituem uma cadeia.
Actividade:
Proceda a uma busca e distinga verbos intransitivos, de verbos ergativos e verbos
transitivos no que diz respeito à atribuição dos papéis-θ aos seus argumentos nucleares.
OS CASOS INERENTES:
O facto de o Sintagma Nominal Tema ser movido para a posição de sujeito para receber o caso
Nominativo leva a considerar os verbos psicológicos como inacusativos, do ponto de vista estrutural.
Pensa-se que tais verbos não têm caso estrutural para atribuir ao SN Tema, e não projectam, na
estrutura profunda, um argumento externo. Assim, tanto o caso Dativo, associado a verbos como
agradar, como o Acusativo, associado a verbos como divertir e preocupar, são inerentes destes
predicados, não são casos estruturais.
Para Campos e Xavier (1991), o caso inerente dativo do verbo como agradar é atribuído, em
Estrutura P, ao SN Experienciador, do mesmo modo que o caso inerente acusativo dos verbos divertir
1. Dadas as sequências:
(a) As laranjas amadureceram.
(b) Naquela noite, trovejou bastante.
(c) O Fohlazi e a Nkeyanse são irmãos gêmeos.
(d) A Nocitina vendeu aquelas laranjas ao Tsopita por um preço de oferta.
(e) Surpreendeu a banda que o Marhumekane cantasse a música toda sem hesitação.
(f) A criança nasceu saudável.
(g) Aquele homem vive perseguindo o seu irmão.
(h) É necessário ter um caderno.
(i) Finalmente, a abertura da feira!
(j) Canivete, onde puseste os pratos?
1.1. Classifique cada um dos estados de coisas expressos nas sequências acima apresentadas
de (a) a (h).
1.2. Que tipo de predicador ocorre em cada uma das construções de (1)?
1.3. Apresente o esquema predicativo e o esquema relacional de cada uma das construções
acima dadas.
1.4. Classifique cada um dos predicadores em (1) quanto à valência.
1.5. Indique as funções gramaticais e temáticas de todos os SNs destas construções.
1.6. Explique as particularidades dos sujeitos das frases (e) e (j).
1.7. Qual é a peculiaridade da construção em (1.i)?
3.1. Identifique neste trecho, todos os sintagmas nominais que ocorrem, indicando os
respectivos papéis temáticos e casos atribuídos.
3.2. Indique, em cada situação, o atribuidor dos casos que ocorrem.
4. À luz da teoria do caso e da teoria temática, discuta a boa ou má formação das seguintes
frases.
(a) O Makhombo doou um quadro às duas horas de hoje a uma instituição de caridade.
(b) O Makhandene é um bom moço.
(c) Ele negou de dizer o que tinho ouvido falar.
(d) A Mundhavazane trabalhar arduamente.
(e) Dentro da loja haviam muitas pessoas preocupadas em adquirir o produto.
(f) O Mestre M'Bande é considerado como um dos melhores executores da música folclórica
da actualidade com a UNESCO.
(g) O Mandoviana veio com os seus próprios pés.
(h) O Mu'denwa colocou.
(i) A Mphikazane pôs os livros na mesa.
(j) Caminhou lentamente a Hlanvathe.
CAMPOS, Maria Henriqueta Costa, XAVIER, Maria Francisca. Sintaxe e Semântica do Português.
Lisboa, Universidade Aberta. 1991.
XAVIER, Maria Francisca, MATEUS, Maria Helena Mira. Dicionário de Termos Linguísticos. Vol. I
e II, Lisboa, Edições Cosmos. 1990 e 1992.