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6. Ü CAMPO DA PSICANÁLISE: A TEORIA DOS QUATRO DISCURSOS

Entre as enormes contribuições ao avanço da teoria e da clínica


freu­dianas, a teorização do real, por Lacan, também permitiu a
delimitação precisa dos lugares ou posições que se estabelecem na
experiência da análise por meio da transferência. São lugares que dizem
respeito tanto ao analista quanto ao analisante, e suas articulações
caracterizam quatro diferentes formas possíveis de laço social. Lacan
denominou esses laços por discursos:
Discurso do Mestre, Discurso da Histérica, Discurso do Analista e Discur-
so Universitário.
Muito embora abordemos essa teorização dos quatro discursos ago-
ra, finalizando esta parte do nosso curso, ela não correspondeu ao final
da formulação lacaniana sobre a dimensão do real. Mais precisamente, a
teoria dos discursos precedeu e foi uma espécie de condição para o apro-
fundamento do real.
No momento de sua exploração, a questão dos laços sociais, toma-
dos enquanto formas de discursos, prestou-se para Lacan dialogar com
estudantes universitários envolvidos na revolução de 1968. Ele julgou o
discurso universitário como a versão moderna de um discurso do mestre e
falar disso, naquele momento, configurou-se como uma espécie de respos-
ta ao discurso de mestria dominante. Entretanto, a teorização dos discursos
só foi possível porque seus subsídios foram recolhidos da experiência da
análise. Exatamente por isso, resolvemos abordá-la no fim desta parte, pois
nos permitirá fazer a transição para a parte seguirne, na qual discutiremos
as consequências dos fundamentos teóricos da abordagem lacaniana para
a clínica psicanalítica.
Na teoria da Linguagem, o conceito de discurso se refere aos "di-
ferentes tipos de linguagem usada em diferenres tipos de situação social"
ou, ainda, à "realidade social da comunicação" lfairclough, 2002: 21). Na
terminologia psicanalítica, um discurso se define como o produto da arti-
culação significante. Lacan tomou esse conceico para abordar aquilo que
é fundado pelos efeitos do significante no sujeico, partindo da evidência,
posta pela Psicanálise, de que não existe realidade pré-discursiva na cons-
tituição da subjetividade. A realidade subjetiva se institui na relação (laço)
com o Outro, com os significantes do Outro, o que levou Lacan a afirmar
que o discurso é aquilo que funda cada realidade: a realidade subjetiva é a
realidade discursiva.
A exploração dessa dimensão discursiva presente na subjetividade
foi desenvolvida por Lacan, mais particularmente, em seu Seminário 17, O
avesso da psicanálise, proferido em 1969-1970. De posse da lógica do sig-
nificante, quer dizer, dessa operação lógica, de corte, que institui o sujeito
e deixa um resto, um vazio a ser preenchido pelo objeto a, Lacan extraiu
os elementos (ou letras) que compõem a subjetividade, escrevendo o ma-
FUNDAMENTOS DA TEORIA 131

tema 58 de um discurso fundamental, fundante, nomeando-o Discurso do


Mestre-que é o Discurso do Outro. É desse discurso que partem os demais.
Os discursos são agenciados a partir de quatro lugares 'fixos: o Agen-
te, o Outro, a Verdade e a Produção, Cada um desses lugares é ocupado por
cada um dos quatro diferentes elementos fundamentais da subjetividade:
5 1, S2 , S e a (objeto a). Dependendo de como cada discurso é escutado
e pontuado, muda sua configuração: mudam os elementos em jogo nos
mesmos lugares fixos, articulando-se uma nova estrutura discursiva. Para
se compreender essa mudança é necessário pensá-la sempre no sentido ho-
rário e em termos de um quarto de giro. Por exemplo, se a escuta pontuar,
na fala do analisante, a sua divisão subjetiva (S), o Discurso do Mestre
transforma-se em Discurso da Histérica.

A estrutura matêmica dos discursos

Lugares fixos:

outro

1
j
Verdade jprodução I
Características desses lugares:

58 Tal como mencionamos anteriormente, o materna foi o neologismo criado por Lacan
a partir da expressão mítema de Claude Lévi-Strauss e da palavra grega mathema,
traduzida por "conhecimento", para operacionalizar conceitos de tal forma que a
transmissão da Psicanálise ficasse preservada. O materna corresponde a uma espécie de
fórmulas que concentram pontos de convergência teórica essenciais para a Psicanálise.
Ele não pode ser expresso oralmente, precisando da escrita para se transmitir. Para
Lacan, transmitir a Psicanálise via maternas permitiria não incorrer no risco do ensino
de um saber pronto, o qual levaria facilmente para a sugestão ou para a religião da
transferência. No uso dos maternas, é necessário um dar de si, quer dizer, só os utiliza
quem parte da experiência vivida na análise. Mais que isso, só quem os utiliza é que se
beneficia do conteúdo transmitido.
Agente: lugar de onde parte o discurso ou de onde o discurso é agen-
ciado, sendo por isso também chamado de lugar dominante. Trata-se de
um lugar em torno do qual tudo se ordena e se estrutura no trabalho 59 pro-
movido pela fala. Não é propriamente o lugar daquele que faz o trabalho,
mas daquilo ou daquele que faz trabalhar - faz falar.
Outro: alteridade irredutível à qual o discurso se dirige. É o lugar do
trabalho dos significantes, da articulação significante, constituindo-se na
sede da bateria significante. Portanto, é o lugar onde se constitui o saber
inconsciente.
Verdade: lugar que fundamenta o discurso, correspondendo a um
enigma sobre o sujeito. É o lugar da castração, da impotência subjetiva,
sendo acessível apenas por um semidizer.
Produção: lugar do resto, do produto engendrado pelo discurso.

Características dos elementos subjetivos (que circulam pelos lugares fixos):

S, - Chamado também significante-mestre, é o elemento que, en-


quanto primeiro, detém a inscrição da primeira identificação do sujeito,
dando notícia do seu traço unário. É o significante recalcado, esvaziado de
sentido, que instituiu o inconsciente e o sujeito, sendo a condição para a
articulação significante. Lacan definiu-o como sendo o único significante
para o qual não há significado, sendo o não senso por excelência. Portanto,
S, contém algo da ordem de uma verdade recalcada, uma meia-verdade,
apenas um traço, impossível de ser dito a não ser por um meio-dizer.

S2 - Significante do saber: significante ao qual S1 se liga, na primeira


operação significante, produzindo a primeira significação subjetiva. Assim,
o saber se constitui em S2 , que se torna o significante que suporta o saber
inconsciente. Como efeito de retroversão (a posteriori), o saber instituído
em S2 precisará sempre voltar a passar no lugar inaugurado por S1. instau-

59 Nesse momento de sua teorização, Lacan se utilizou de expressões extraídas do discurso


marxista, dominante no contexto sociopolítico vigente naquele momento na França.
Isso para poder dialogar com os jovens estudantes, participantes da revolução estudantil
ocorrida em maio de 1968. Entre tais expressões estão: trabalho, produção, mais de
gozar (ou gozo a mais/mais-valia), etc.
FUNDAMENTOS DA TEORIA
139

rando a repetição nas cadeias significantes e o saber inconsciente como um


saber do significante. É o saber inconsciente, produzido em 5 2 , que liga os
significantes numa articulação em rede (5 1 ~ S), em cadeias significantes.

S - É o parlêtre, o sujeito dividido e subvertido pelo efeito da lin-


guagem, dos significantes que Yêm do Outro, só podendo ser representado
entre dois significantes. Portanto, é um sujeito que não se sabe, quer dizer,
um sujeito do significan::e. um sujeito do inconsciente, não o sujeito do
conhecimento.

a - É o objeto a, que rcpresc::nta o gozo-a-mais (plus de jouir) ou,


ainda, o objeto causa do desc:,:,. :\""a articulação significante (5 1 ~ S), há
um trabalho de repetição c;ct ::-:.i,..:d ::-ecuperar o gozo-a-mais, perdido na
primeira articulação (prirr,ós e:,:;;::.:-:~:1ci2. de sarisfação, em Freud). Tal re-
petição provoca uma emrnri-=-. :-. .:. ~:.:.i .::.c,;_ba ha-.-e~do uma perda de gozo.
É no lugar dessa perda qi..;.e e ·::, e:,:, .: ,.·en: se 2..:oiar como resto ou dejeto,
ocupando o lugar do obit:o r;:::-J.:.::c, . .ic, ;c,zo re,dido.

Obs.: os Símbolos___, e ,ip::-:c;;.m. respectiYamente, articulação e


disjunção.

Disc:i.:-,,J do mestre (DM)

(agente· (Outro)
s 52
s a
(Yerdade) li (produção)

Esse materna corresponde ao modelo ou estrutura fundamental


do discurso - aquele que funda o sujeito, instituindo seu inconsciente,
sua subjetividade. Tem-se 51, enquanto significante-mestre, agenciando
140 AVENTURA NO TERRITÓRIO DA FALTA

o discurso. Ele solicita um trabalho endereçado ao Outro, S2 , colocando


para agir o discurso, fazendo o saber inconsciente trabalhar no lugar do
Outro.
S e a ficam sob a barra, ou seja, ficam recalcados e disjuntos. Por
isso, essa formação discursiva reveste-se de um caráter de saber fechado,
pleno, no qual os restos produzidos cumprem sua função de tampão. A
condição desse discurso é a de que a verdade da divisão subjetiva fique
barrada, velada. O sujeito se desconhece em sua divisão, criando-se uma
suposta identidade entre o sujeito e o significante que o representa, o que
sustenta um discurso aparentemente unívoco.
Para Lacan, esse é o discurso da dominação, uma vez que o signifi-
cante-mestre funciona como imperativo, desconhecendo a verdade de sua
determinação e sua impossível unidade. Isso leva à instauração do campo
de uma suposta palavra plena (idêntica a si mesma), que sabe a Verdade
sobre a verdade.

Discurso da histérica 11/4 de giro horário em relação ao DM)

(agente) (Outro)

s s1
a s2
(verdade) li (produção)

Nessa estrutura discursiva, o agente do discurso é a divisão subjetiva do


sujeito (S), colocando para trabalhar, no lugar do Outro, o significante-mes-
tre (S 1) do sujeito. O objeto causa do desejo (a), colocado no lugar da verdade,
faz com que a operação discursiva produza os significantes do saber incons-
ciente do sujeito: saber subjacente (recalcado) ao seu significante-mestre.
Sendo assim, é o discurso do analisante: condição de trabalho para
que o saber inconsciente surja, sendo produzido no lugar do gozo, poden-
do apontar a verdade da castração. O objeto a e o S2 ficam sob a barra,
FUNDAMENTOS DA TEORIA
141

disjuntos, o que é a condição dessa produção discursiva, ou seja, para que o


discurso possa produzir o saber inconsciente, é preciso que esse saber esteja
separado do objeto do gozo-a-mais. Ficando no lugar da verdade velada,
recalcada, o objeto a faz emergir o S no plano do que pode ser articulável
sobre si mesmo, no lugar do Outro - seu significante-mestre. Este fica no
lugar do Outro: o Outro sabe sobre o sujeito.
Tal saber engendra a transferência, na qual o Outro (analista) é ins-
tituído como Sujeito suposto Saber, sendo colocado num lugar idealizado
pelo sujeito. Nesse sentido, essa forma discursiva representa o discurso do
analisante por excelência, e aquilo que o analista institui como experiência
analítica é, simplesmente, a histericização do discurso.

Discurso do analista (1/4 de giro horário, em relação ao DH)

(agente) (Outro)
a s
S, S,
(verdade) li (produção)

Estrutura discursiva agenciada pela própria falta, ou seja, pelo objeto


a, que é perda, falta de objeto. Sendo assim, o elemento agenciador é sem-
blante do objeto a, colocando para trabalhar, no lugar do Outro, a divisão
subjetiva do sujeito. O produto obtido é o seu significante-mestre, evocan-
do o traço que o determinou: sua identificação primordial. Isso é possível
porque o traço delatado por SI, nesse discurso, consegue se descolar (ficar
disjunto) do saber inconsciente (S,), colocado no lugar da verdade do su-
jeito - saber esse que prende o sujeito aos sentidos do Outro.
Com essa descolagem, o saber inconsciente deixa depreender seu
estatuto de um saber da ordem do não senso, portanto de uma verdade só
apreensível por um semidito, de uma queda de saber, do irrepresentável -
do real. A consequência é a possibilidade de que o produto tenha efeito de
vetdade.
142 AVENTURA NO TERRITÓRIO DA FALTA

A natureza do saber em jogo no discurso do analista pode ser melhor


apreendida quando a ele se contrapõe, particularmente, o saber vigente no
discurso universitário, que, segundo Lacan, é a versão atual do discurso do
mestre.

Discurso universitário - (114 de giro horário, em relação ao DA)

(agente) (Outro)
52 a

s1 s
(verdade) li (produção)

Discurso agenciado pelo saber, ou seja, S2 dirigindo-se ao Outro, lu-


gar ocupado pelo objeto a, que em seu estatuto de aparência, de tampão, é
convocado a trabalhar para o saber, trabalho cuja produção implica o mas-
caramento da verdade acerca da divisão subjetiva: SI e S ficam disjuntos.
Colocado como verdade recalcada, 5 1 faz emergir, no lugar do agente
(ou dominante), o saber (S), que assim age como um mandamento. O sa-
ber como falta - ou a falta como saber - colocado para trabalhar, no lugar
do Outro, produz um sujeito dividido, separado, disjunto da sua verdade,
da sua castração. A condição do agenciamento desse discurso é que a ver-
dade subjetiva fique recalcada, permitindo ao saber funcionar como Lei.
Em outras palavras, o nível articulado (não disjunto) desse discurso
indica a relação manifesta entre o saber (5 2) e o objeto a, causa do desejo.
No nível manifesto, isso implica a emergência de um sujeito simulado,
uma vez que o objeto (que é engodo) é colocado no lugar dos significantes
do Outro. A verdade é o próprio significante-mestre: é a Lei do Mestre,
que dita: váí, continua, continua sempre mais! (Lacan, 1969-1970: 98).
Foi nesse contexto que Lacan equiparou o discurso universitário
ao discurso da ciência, no qual o mestre encarna o lugar do saber, que
deve ser trabalhado pelo estudante enquanto Lei. Convocado a traba-
FUNDAMENTOS DA TEORIA
143

lhar, o estudante tem de produzir algo. Por estar disjunta do seu próprio
significante-mestre, sua produçáo é sua própria divisáo e a sua verdade é
o S 1 do Mestre.
Sendo assim, essa produçáo discursiva permite a concepção de um
sujeito do conhecimento (eu, ego), em oposiçáo a um sujeito do signi-
ficante (sujeito do inconsciente). O que se impõe é um discurso do Eu,
chamado por Lacan de Eucracia.

Implicações da teoria dos discu:-sos

Embora tenha ser:id,:::i ra.n um diálogo sociopolítico convocado


pela ocasiáo, essa teoriz2çio '.dcaniana sobre os quatro discursos contri-
buiu consistentemente r.io s,:, ;.:..~.; urr:.a melhor apreensão e fundamen-
tação da clínica psicani: :ica. :T. .:.., :a.:-:1'::,em ?a.ra annço da própria Psica-
nálise, com uma delimi:;,;,c.i,2 ::::i~t.:::,J. io seu campo e da sua possibilidade
de transmissáo.
No que se refere a cL:-::a. ts,a teorização permitiu um maior dis-
cernimento do que se :,'c:.S,d ::1.:.. re:ação transferencial, ou seja, no tipo de
vínculo que aí se estabde.::t. e. :;;,mbém, um grande progresso no encami-
nhamento das análises. \ lt..ii;;.r;te sua escuta, o analista pode apreender o
lugar em que o analisan:t ,J es,á colocando e, portanto, está se colocando.
Se a partida da análise. :J como a partida da constituição da subjetividade,
é iniciada no registro do discurso do mestre, a escuta analítica pode e deve
promover, com as imtr,er:ções do analista, um giro para o discurso da his-
térica. Só assim a panida progride, caminha, mais precisamente, torna-se
realmente um jogo (t:rabalho) de análise: sai de um pedido de ajuda para
transformar-se em uma demanda de análise propriamente.
Sem a histericiz:ação do discurso, torna-se impossível o giro para um
discurso do analista, no qual há o encaminhamento da análise para o seu
fim, tanto em termos de finalidade, quanto de término. O sintoma do
analisante fica emperrado num discurso universitário, configurando náo
uma análise, mas apenas uma psicoterapia, na qual os sintomas só poderáo
ser tratados fenomenologicamente e numa perspectiva de apoio ou psico-
patológica.
Além disso, sem o giro promovido pelo discurso do analista, uma
análise pode até começar, mas ficará sempre e somente no trabalho com os
significantes, quer dizer, na dimensão do sentido, da equivocação dos sen-
tidos, em um infinito deslizamento não muito diferente de uma falação,
de um blablablá. Ficará faltando o trabalho no plano da pulsão, do gozo
sexual, que complementa ou está imbricado na busca de sentido para o ser
do sujeito (plano do significante).
Somente na posição de semblante do objeto a - posição da falta,
estruturada pelo discurso do analista - o analista tem a chance de agenciar
o discurso na direção da falta real do seu analisante, indo além da falta
simbólica, além da castração. Dessa forma, o sujeito analisante terá chance
de se haver com seu sinthoma - letra de seu sintoma. Isso é sinônimo da
possibilidade de o analisante atravessar sua fantasia, chegando ao final de
sua análise.
Quando a escuta analítica está familiarizada com as diferentes pos-
sibilidades discursivas, elas comparecem na cura mesmo que o analista
não pense nelas, e a vantagem disso é que essas possibilidades não se pres-
tam a um apoio interpretativo. Não incidem sobre aquilo que o analisan-
te diz, mas esclarecem o analista em sua ação, permitindo-lhe localizar-se
em um só depois da mesma, inclusive para fazer ajustes na sua condução
do trabalho.
Ao lado desse avanço na compreensão das possibilidades clínicas, a
teorização dos quatro discursos viabilizou uma forma de transmissão da
Psicanálise até então impossí-vel. Falar da clínica abordando os elementos
em jogo na experiência sem tomar por referência a perspectiva discursiva
sempre fez com que o campo da Psicanálise - campo da linguagem - fi-
casse confundido ou superposto com o campo das psicoterapias, incorpo-
rado a um discurso de mestria. Aí, o analista seria aquele que sabe o que
se passa com seu analisante, e o sabe pela via do seu próprio eu, do seu
próprio saber e do saber da teoria. Ora, tomar a realidade da análise como
uma realidade discursiva deixou claro que o saber em jogo em uma análise
é o saber do inconsciente do analisante e não do analista - saber esse da
ordem do não-sabido ou do não-realizado, não tendo nada a ver com o
conhecimento. É sobre esse saber não sabido, só apreendido na realidade
discursiva, que o analista opera.
FUNDAMENTOS DA TEORIA 145

Em termos da delimitação do campo da Psicanálise, é preciso res­


saltar ainda que o discurso do analista não é sinônimo de um discurso
psicanalítico ou de um discurso da Psicanálise, embora essa confusão seja
frequente. O discurso do analista é um dentre os outros três que se con­
figuram em uma análise. Entretanto, sua teorização contribuiu de forma
consistente para que o campo da Psicanálise não ficasse mais exposto a
sua superposição com ourros campos, especialmente o da Medicina e o
da Psicologia. Ficou e,·idente que o campo da Psicanálise é o campo dos
significantes, das palavras. no qual o próprio não-dito, que engendra a falta
radical da subjetividade, pressupõe o dito.
Sendo assim, considerar o campo da Psicanálise como o campo do
significante significa afirma.:- que o sujeito, os sintomas, o desejo, o gozo,
a angústia, as fantasias, a casu2ção. enfim, todos esses elementos constitu­
tivos da subjetividade são aq1.:c:'.c:s romados e tratados no plano dos signifi­
cantes e da letra. É isso que carca o campo da Psicanálise.

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