Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
12/03/12
Introdução
Instigados por estas especificidades e no que elas podem nos ensinar com
assumido por eles diante do outro. Sua aparente recusa ao laço, a visível
tratamento analítico a quem não demanda? A quem não fala ou parece recusar-se
a falar?
experiência analítica e que alega ter sido perdido com os pós freudianos: a fala.
2
desse fato não justifica que se o negligencie. Ora, toda fala pede uma
resposta” 1
função pelo analisante, decide o sentido do discurso do sujeito. Assim, diz Lacan:
“Mostraremos que não há fala sem resposta, mesmo se ela encontra apenas o
silêncio, com a condição de que ela tenha um ouvinte, e que este é o âmago de
Mas aqui Lacan se refere ao silêncio por parte do analista, que como
paciente? Ou dito de uma forma melhor: e com relação ao paciente que parece
submetido. É nos debruçando sobre o campo da linguagem, tal qual Lacan nos
postulava, mas invertendo a fração: postula que o significante deveria ficar acima
1
LACAN, J. “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise” (1953). In: Escritos, Rio de
Janeiro: Jorge Zahar,1998, p. 248.
2
Idem, p. 249
3
LACAN, J. (1957). In: Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1998
3
da barra e o significando abaixo. Introduz uma função ativa do significante na
significante? “Eu o matraqueio há muito tempo para vocês, para não ter que
sujeito está por trás dessas inscrições. Mas Lacan chama atenção para o erro que
significa acreditar que cada significante se dirige a nós: “a prova está em que
vocês podem não entender nada daquilo. Pelo contrário, vocês os definem como
campo do Outro” 5
4
Lacan J., “Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise” (1964). In: O Seminário.
Livro XI. Trad. M. D. Magno. 2.ed. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1988, p. 187
5
Idem, p. 187.
4
torna algo, ainda que não substancial. Esse momento corresponde à operação de
Retomando o que foi apresentado até agora nesta introdução visando uma
sorte de fenômenos listados no que se configura hoje como espectro autista, eles
cultura, leis, desejos, valores e tudo mais que podemos chamar de marcas que
preexistem ao sujeito e que fazem parte de sua história, que nos constituímos.
pesquisa, quando verificaremos que eles não estão tão alheios ao campo do Outro
e que na verdade se protegem de algo invasivo vindo deste campo mesmo e que
5
A Alienação: O Outro, O Ser e o Sujeito
em meados de 1964 – coloca em cena dois conceitos dos mais caros para toda
embora habite em um mundo marcado pelo simbólico, ainda não fez sua entrada
campo do Ser não há ainda um sujeito, mas um “ser vivente”, que está fora da
6
a alienação, é uma operação em que se dá a reunião dos elementos comuns a dois
perdidos. No citado seminário, Lacan define a união como um vel, palavra latina
que significa ou. Esse vel pode ter três diferentes usos: no sentido de exclusão,
em que um dos termos é colocado de fora – “eu vou ou para lá ou para cá” (p.
199), se eu for para lá, não vou para cá, tenho que escolher; no sentido de uma
indiferença – “vou para um lado ou para o outro, tanto faz, dá na mesma” (p.
aparentemente, a escolha é por guardar umas das partes, estando a outra fadada
consequência um “nem um, nem outro” (p. 200), de modo que se tem muito
pouca escolha, porque os dois termos estão sempre excluídos. O terceiro vel, o da
as duas; ao escolher a vida, tem-se uma vida sem a bolsa, uma vida decepada. O
irremediável implicada nessa operação. A escolha tem que ser feita, uma
7
desaparecimento. Se escolher o Ser, o sujeito desaparece, cai no não-senso; se
escolher o sentido perde o Ser. Desse modo, essas formas se reproduzem a partir
colocados em série (cadeia) tragam a sua marca, seu vestígio, de modo que S1,
6
p. 233
8
indeterminação no interior do deslizamento do sentido (S1→ S2). Eis o impasse
sujeito não está todo representado por nenhum significante, estando sempre em
alienação não designa uma dependência do Outro, mas uma divisão lógica que o
isto é, implica que, se ele aparece em algum lugar como sentido, em outro se
desvela seu desaparecimento. E isso pelo fato de ele não poder ser todo
9
“Partindo da idéia de que o acesso ao campo de determinação
137)
que em seu Seminário livro III afirma que “o psicótico, em vez de habitar a
linguagem é habitado por ela” (1953-4, p. 284). Essa afirmação incorre em outra,
qual seja, que ele seria muito mais falado do que falante, quando este surge como
vir a constituir uma fala. Porém, o destinam a estar inserido de uma maneira
pela linguagem. Mas como viria o psicótico a ter esta relação com a linguagem?
Lacan dirá que “pode acontecer que alguma coisa de primordial quanto ao ser do
sujeito não entre na simbolização e seja não recalcado, mas rejeitado” (1953, p.
10
ou hiâncias) ele experimenta ser tomando como objeto de gozo deste Outro - ser
todo falado pelo Outro, puro significado deste. Segundo esta proposição,
poderíamos pensar então que o psicótico está todo imerso na linguagem, sem
Para Di Ciaccia o autista também recebe “seu ser de sujeito” (2005, p. 34)
significante, ou seja, se fazer representar pelo significante numa cadeia, não está
preenche a falta do Outro” (p, 34). Vemos então que a posição psicótica e a
significação “as mais consensuais parecem estar ausentes, mesmo aquelas dadas
pelo uso dos objetos da vida cotidiana, como um lápis, que não é utilizado para
fonemas da língua”8. Contudo, isso não atesta que os objetos em questão não
tenham um uso peculiar por estes pacientes e que sua fala (mesmo a escolha pelo
silêncio) deva ser tomada como ausente. O uso que o autista faz dos objeto que
7
p, 140
8
idem
11
privilegia, bem como também sua forma particular de se colocar diante dos
outros, sua fala sintagmática, ecolálica e o mutismo apontam para uma direção
de tratamento.
alguém nela crê, nos posicionamos na clínica com pacientes autistas tomando a
todos os fenômenos que pareceriam estranhos num primeiro momento, como não
sendo randômicos, desconexos da história dos sujeitos que os realizam. Eles não
são quaisquer. Eles “retornam, se repetem e, ainda que não representem o sujeito
figuras da alteridade podem ser encarados como retorno no real do que não está
9
p,141
10
idem
12
Retomando o debate realizado no segundo tópico deste trabalho, Lacan
única escolha que não é possível fazer é não escolher: entre o ser e o sentido, só
11
não posso recusar os dois ao mesmo tempo” . Ou seja, necessariamente é
preciso perder a bolsa para ficar com a vida, simbólica; ser representado pelo
vida fora do simbólico e nos indica que “onde há linguagem, mesmo aquele que
Genebra sobre o Sintoma (1975), Lacan dirá que assim como no esquizôfrenico
Bastos dirá:
anterior à alienação”13
11
p, 143
12
p, 145
13
p, 146
13
Não se trata então de um encademento entre siginificantes distinguíveis
pelo sujeito, S1 e S2, mas sim do congelamento, holófrase, entre eles. Isso pode
faz surgir ali o sujeito do ser que ainda não possui fala, mas ao preço de
mas sua insistência parece indicar uma busca desenfreada por um S2” 14. O autista
14
p, 148
14
é alguém destinado a estar sempre por escrever esse S2, numa experiência de
significante diferenciado”15.
preço de encarnar uma presença esvaziada. Aceitar essa condição sine qua non, é
2005, p 100). Podemos pensar que um analista, nesta clínica, terá um lugar de
mensagem do sujeito”.16
indiferenciado ao qual ele está atrelado e advir como sujeito, o analista pode se
15
idem
16
p,101
15
invasivo, que tudo sabe e tudo diz sobre ele. Encarnar um Outro do significante,
barrado por ele e submetido ao trabalho que o autista já realiza para rumo à
alienção nos significantes que o marcam, quer dizer, rumo à se constituir como
sujeito - o sujeito é sempre suposto, mas a aposta tem que estar do nosso lado.
Bibliografia
Contemporâneas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria (2003), pp. 125 – 136
Instituição – Marcia Mello de Lima e Sonia Altoé (org.). Rio de Janeiro: Rios
Ambiciosos, 2005.
Campinas: Papirus.
16
LACAN, J. (1953) “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”. In:
inconsciente freudiano”. In: Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
JAANUS, M. (Org.). Para ler o Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: J. Zahar. pp.
31- 41.
JAANUS, M. (Org.). Para ler o Seminário 11 de Lacan. Rio de Janeiro: J. Zahar. pp.
42-51.
17
QUINET, A. “Teoria e Clínica da Psicose”. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2º
Edição, 2000.
18