Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MÓDULO III
Os símbolos efetivamente envolvem a vida do homem numa rede tão total que
conjugam, antes que ele venha ao mundo, aqueles que irão gerá-lo "em carne e
osso"; trazem em seu nascimento, com os dons dos astros, senão com os dons das
fadas, o traçado de seu destino; fornecem as palavras que farão dele um fiel ou um
renegado, a lei dos atos que o seguirão até ali onde ele ainda não está e para-além de
sua própria morte; e, através deles, seu fim encontra sentido no juízo final, onde o
verbo absolve seu ser ou o condena - a menos que ele atinja a realização subjetiva do
ser-para-a-morte. (LACAN, 1953, p. 280)
Esta lógica marca uma subjetividade, como uma capacidade de fazer rede com
os significantes que são dados pela experiência singular do sujeito e, Longo (2006)
afirma que se o sujeito é da linguagem, a “verdade” se dilui a um espectro de ficção, já
que se monta a partir de uma criação, uma representação do que é. Assim, o que o
estruturalismo traz de empréstimo à Psicanálise:
O homem, portanto, gira em torno da língua, sem centro, sem purificação de
linguagem que a torne transparente à verdade, sem a promessa de redução da
polissemia, sem unidade de sentido. A partir do estruturalismo, a linguagem como
discurso torna-se o único testemunho objetivo da identidade de um sujeito, cuja
única saída é viver no vigor de sua ambiguidade. (LONGO, 2006, p. 40/41)
Lacan (1964) diz que o desejo convoca o sujeito para o deslizamento, uma
movimentação contínua de mudança de significantes em passagens metonímicas. Já o
sintoma fixa o sujeito a alguns significantes que falam por ele e que produzem uma
mensagem pronta a esse sujeito em um movimento metafórico. Transpor as figuras de
linguagem ao funcionamento do inconsciente é o que parece fazer sentido a uma
leitura simbólica dos problemas trazidos na clínica.
Se o sujeito é o sujeito do significante - determinado por ele -, podemos imaginar a
rede sincrônica de tal modo que ela dê, na diacronia, efeitos preferenciais. Entendam
bem que não se tratam de efeitos estatísticos imprevisíveis, mas que é a estrutura
mesma da rede que implica os retornos. (LACAN, 1964, p. 71)
Diante das ideias aqui expostas, julgo importante perceber que o lugar de
escuta deve estar afastado de uma via imaginária, que liga sujeito ao analista por uma
identificação narcísica ou mesmo de uma via simbólica que tenta atender à demanda
de algum lugar de encaminhamento ou diagnóstico, uma vez que:
Se conduzimos o sujeito a algum lugar, é a uma decifração que já pressupõe no
inconsciente essa espécie de lógica em que se reconhece, por exemplo, uma voz
interrogativa, e até o encaminhamento de uma argumentação. Aí está toda a tradição
psicanalítica para sustentar que a nossa só pode intervir nela entrando pelo lugar
certo, e que, ao se antecipar a ela, só consegue seu fechamento. (LACAN, 1960, p.
810)
Assim, a linguagem nos subjetiva bem como nos possibilita criar novas
posições. Analista e analisando montam a cena do inconsciente para que este fale, que
se escreva em significantes estimulados por uma leitura em escuta, uma via simbólica
que desamarre as metáforas condensadas em sentidos e possibilite um passeio de
significantes possíveis de outras escritas, outras elaborações que permita o sujeito
estar alinhado ao desejo que não se escreve, mas que estrutura esse outro que nos
habita – o inconsciente.
REFERÊNCIAS
LONGO, L. (2006) – Linguagem e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.