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Cultura e representação
Nosso objetivo é mostrar os processos de
linguagem que são mobilizados nesse retorno a
Freud feito por Lacan, mostrar seus
deslocamentos e as possibilidades de O retorno a Freud
compreensão do sujeito e do inconsciente por
meio dessas relações com a linguística
Passaremos pela reflexão sobre o retorno a
Freud, pela lógica do significante, pelos
processos de metáfora e metonímia, tendo por
base a leitura de Lacan, mas também buscando
em Freud os fundamentos dessa relação
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Lacan relaciona a linguística estrutural com
as dimensões de linguagem que dão suporte
(...) Trata-se de situar de imediato, sem ao inconsciente que “esclarecem o fato de
equívoco, o que é da ordem de uma prática que o fenômeno fundamental da revelação
autenticamente psicanalítica em relação a analítica é essa relação de um discurso a um
outros procedimentos de investigação do outro que o toma como suporte” (Auroux,
inconsciente que, embora se arvorem em 2001, p. 261). Dessa forma, ele vai recorrer
procedimentos psicanalíticos, parecem ter às descobertas da linguística para dar
perdido completamente esse sentido” fundamento à lógica do significante e a
(Dör, 1989, p. 11)
definição do “inconsciente estruturado como
uma linguagem”
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O trabalho do sonho
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A formulação dada por Lacan a cada um deles
vai se relacionar a dois processos de
linguagem: a metáfora e a metonímia. São
elas que vão permitir a relação de Freud e Nas tramas do significante
Saussure, por meio de Lacan, mas que
possuem como elemento central a releitura
que Lacan faz da linguística ao estipular o
primado do significante
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Em geral, é sempre o significado que colocamos
no primeiro plano de nossa análise, porque
seguramente é o que há de mais sedutor e que,
numa primeira abordagem, parece ser a
dimensão própria da investigação simbólica da
A linguagem vai ser um elemento central
psicanálise. Mas, ao desconhecer o papel
mediador primordial do significante, ao para a gênese do sujeito na sua relação com
desconhecer que o significante é, na realidade, o o Outro. Isso pode ser visto no texto sobre o
elemento-guia, não somente desequilibramos a Estádio do Espelho
compreensão original dos fenômenos neuróticos,
a própria interpretação dos sonhos, mas também
tornamo-nos absolutamente incapazes de
compreender o que se passa nas psicoses
(Lacan, 2002, p. 250)
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Segundo Auroux, “a linguagem, que dá forma à Lacan vai dizer no seminário Mais Ainda: “o
gênese do sujeito (o ‘cenário familiar’) é o meio significante é signo de um sujeito. Enquanto
no qual o indivíduo é mergulhado desde o
nascimento. Um meio que o sujeito deverá suporte formal, o significante atinge um
subjetivar, onde ele deverá se reencontrar nele outro que não aquele que é cruamente, ele,
em sua própria história, e que Lacan designa como significante, um outro que ele afeta e
como o lugar do Outro. A linguagem é então, que é de fato sujeito, ou ao menos que passa
originariamente, menos um meio de por sê-lo. É nisso que o sujeito se encontra
comunicação do que uma função que permite a
identificação do sujeito no reconhecimento dos ser, e somente para o ser falante, um ente
traços que definem a condição de um ser ao cujo ser está sempre alhures como mostra o
mesmo tempo sexuado e mortal. O Outro, no predicado. O sujeito é sempre pontual e
qual o sujeito se aliena como Eu de um modo desvanecedor, porque ele é sujeito através
imaginário, é definido pelas leis próprias do de um significante, e para outro significante”
significante (2001, p. 266) (1985, p. 130)
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Metáfora e metonímia A ideia da metáfora como constitutiva da
linguagem está associada àquilo que Saussure
Vimos, com isso, como Lacan estruturou sua chama de eixo dos paradigmas ou eixo das
similaridades. A metáfora vai ser definida por
leitura da primazia do significante, da Lacan como um processo de substituição de uma
imagem-acústica, da forma, como elemento palavra por outra, ou, para sermos mais precisos,
central para a leitura das figuras da a substituição de um significante por outro.
condensação e do deslocamento propostos Segundo Dör (1989): “na medida em que a
por Freud. Vamos agora ver como esse metáfora mostra que os significados extraem sua
coerência unicamente da rede de significantes, o
processo funciona com base nas noções de
caráter dessa substituição significante
metáfora e metonímia, como postos pelo demonstra a autonomia do significante em
psicanalista francês relação ao significado” (p. 43)
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O processo metafórico
Processo metafórico
S1
s2 conceito de peste s2
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Já na metonímia, temos um outro processo Processo metonímico
nos eixos da linguagem. Se a metáfora opera
por uma substituição significante no eixo das
substituições, a metonímia funciona no eixo
dos sintagmas, ou das combinações. Uma S1 Imagem acústica: “análise”
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Real, simbólico e imaginário Podemos perceber que a relação entre esses
três registros está na base da realidade
humana, e que realidade aqui possui um
O pensamento lacaniano acerca desses três sentido muito específico, que extrapola uma
elementos é a linha-mestra de sua leitura do mera definição empírica de realidade
inconsciente e do sujeito freudianos, como enquanto percebida em sua “pureza”. A
ele mesmo afirma: “o confronto desses três realidade se estrutura já enquanto uma
registros que são registros essenciais da relação dessa tríade, já com significado, já
realidade humana, registros muito distintos e subjetivando o indivíduo e sempre com
que se chamam: o simbólico, o imaginário e o elementos que escapam ao sujeito. Tal
real” (Lacan, 1953, n.p.) afirmação nos permite passar à definição
específica de cada um desses elementos
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O que é o real? Em Lacan o real é tudo aquilo do O simbólico pode ser aproximado às questões
sujeito que escapa de uma ordem, que não está culturais, mas principalmente ao significante e à
linguagem, pois é ele que produz o laço, a
na ordem da possibilidade de controle pelo relação com o outro. Ele é da ordem da lei
sujeito. O real acontece para além das vontades subjetivada pelo indivíduo por meio dos símbolos
ou desejos, ele produz um furo na ordem do e da linguagem, é ele que articula as relações
sujeito. Além disso, ele é impossível de ser com o real e o imaginário. O simbólico, podemos
simbolizado e retorna sempre ao mesmo lugar. dizer, é o que procura preencher o buraco
deixado pelo real, muitas vezes sem sucesso,
Podemos associar o real ao trauma, o podendo apenas lhe fazer borda, mas que insere
acontecimento intempestivo que abala a a linguagem no cerne do sujeito. Lacan vai dizer
realidade do sujeito e, ao mesmo tempo, que, “quando se trata do simbólico, isso diz
possibilita uma reordenação de significantes nas respeito àquilo no qual o sujeito se compromete
numa relação propriamente humana (...)” (Lacan,
cadeias estruturantes desse mesmo sujeito 1953, n.p.)
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E quando falamos em produzir
reconhecimento estamos colocando no cerne
do pensamento não mais a comunicação que
alcança seu alvo, mas o processo em que o Na Prática
sujeito é produzido nas tramas desses
significantes. A linguagem aqui, portanto,
é da ordem do desentendimento, traz
consigo o real, de elementos que escapam,
mas que produzem algo
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Na Prática
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Finalizando
Esse processo vai também deslocar o
Pudemos ver que Lacan retorna a Freud por pensamento linguístico: Lacan vai dar
meio dos elementos de análise dos sonhos: primazia ao significante, à palavra, e dela vai
condensação e deslocamento. Deles ele vai tirar as consequências teóricas em relação ao
aproximar as noções de metáfora e sujeito, já que é na trama dos significantes,
metonímia provenientes da linguística em suas articulações, que se situa o sujeito.
estrutural, que os definem como elementos Não é mais o signo linguístico o central, mas
fundamentais de qualquer língua. Tal leitura a sua materialidade, a sua forma, mas
vai permitir a Lacan descrever processos sobretudo a sua articulação com os outros
inconscientes, com base em noções da
significantes
linguística, relidas no campo da psicanálise
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Por fim, esses elementos estão sempre
relacionados à realidade, isto é, ao processo
que articula real, simbólico e imaginário. Tais
processos nunca se dão isoladamente: a
entrada no simbólico é a entrada no campo Referências
do outro, do terceiro que media a relação
entre dois permeada pelo imaginário. O real á
aquele que escapa, a falha, o tropeço, aquele
elemento que funda a ordem do mundo para
além dos sujeitos
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