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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


FACULDADE DE LETRAS
LINGUÍSTICA III
PROFESSORA: Adriana Leitão Martins

AULA 6: O LÉXICO E A ESTRUTURA DA SENTENÇA

• A unidade básica da gramática é a sentença.


• O objetivo é ver a relação entre a estrutura da sentença e as palavras que fazem
parte dela. A ideia é que a estrutura da sentença é largamente determinada pela
informação lexical.
Subcategorização (seleção C)
• Informações sintáticas contidas no léxico
Estrutura argumental (seleção S)
1. Estrutura argumental
Além do quadro de subcategorização, a entrada lexical de cada verbo possui uma
grade temática, que especifica o número de argumentos e a função temática desses
argumentos. A função temática expressa as diferentes relações semânticas dos argumentos
com o verbo.
• encontrar: verbo; 1, 2 encontrar: tema, agente
NP NP

• sorrir: verbo, 1 sorrir: tema (ou experenciador)


NP

O argumento externo não é subcategorizado, embora seja semanticamente


selecionado. Lembre que, além dos argumentos do verbo, as sentenças podem também
conter adjuntos, que fornecem informações adicionais em relação ao tempo, lugar, etc.

Exemplos:
Ex. 1 : João empurrou Maria.
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empurrar: seleciona 2 argumentos
argumento 1: NP; argumento interno; paciente
argumento 2: NP; argumento externo; agente.

Ex. 2 : Il plent. / It rains.


plent / rain: não seleciona nenhum argumento (como os demais verbos
metereológicos); logo, os expletivos não possuem papel temático.
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Ex. 3 : Eu choro.
chorar: seleciona 1 argumento
argumento: NP; argumento externo; experenciador

Ex. 4 : Chorei.
chorar: seleciona 1 argumento que, embora não esteja sendo foneticamente
realizado, está “saciando” a estrutura argumental.

Ex. 5 : Eu cortei o cabelo. (“tive meu cabelo cortado” ou “cortei meu próprio cabelo”)
2 1
cortar: seleciona 2 argumentos
argumento 1: NP; argumento interno; tema
argumento 2: NP; argumento externo; paciente ou agente

Ex. 6 : Maria quer [que [João compre um carro novo]].


2 2 1 1
querer: seleciona 2 argumentos
argumento 1: S’ (que João compre um carro novo); argumento interno; tema
argumento 2: NP (Maria); argumento externo; experenciador
comprar: seleciona 2 argumentos
argumento 1: NP (um carro novo); argumento interno; tema
argumento 2: NP (João); argumento externo; agente

Ex. 7 : Maria quer [__estudar Linguística].


2 2 1 1
querer: seleciona 2 argumentos
argumento 1: S (estudar Linguística); argumento interno; tema
argumento 2: SN (Maria); argumento externo; experenciador
estudar: seleciona 2 argumentos
argumento 1: NP (Linguística); argumento interno; tema
argumento 2: ec (empty category / categoria vazia) (PRO); argumento externo;
agente

Os NPs possuem propriedades semânticas constantes e variáveis.


Ex. 8 : O ladrão empurrou [o guarda]. paciente
Ex. 9 : [O guarda] empurrou o ladrão. agente
Ex. 10 : O ladrão assustou [o guarda]. experenciador
Ex. 11 : [O guarda] teme o ladrão. experenciador

• Nos exemplos de 8 a 11, o argumento [o guarda] possui diferentes relações


semânticas com o verbo.
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• Outros papéis temáticos: agente, paciente, tema, experenciador, objetivo, alvo,


instrumento, locativo (definidos não só pela função gramatical do argumento na
frase, nas também por informações lexicais do verbo).
◊ OBS 1 : tema – referente inanimado; paciente – referente animado.

Ex. 12 : A porta abriu. (porta: tema)


Ex. 13 : Maria entregou a carta ao João. (Maria: fonte/agente; João: alvo)
Ex. 14 : Maria cortou o pão com uma faca. (uma faca: instrumento)
Ex. 15 : A bola rolou em direção ao rio. (bola: tema; rio: locativo)
Ex. 16 : Maria sente muito calor. (Maria: experenciador)
Ex. 17 : Maria está em Londres. (Maria: tema; Londres: locativo)

2. Atribuição (indireta) de papel temático ao NP externo


O papel temático do argumento externo é sempre dado por todo o VP.
Ex. 18 : João [ VP quebrou o braço].
Ex. 19 : João [ VP quebrou o copo].

3. Critério (filtro) theta


Cada argumento tem que receber um e somente um papel temático.
O Critério Theta obriga que os argumentos do predicado (verbo) sejam
sintaticamente representados.
◊ OBS 2 : Com exceção dos vocativos e dos sujeitos das construções pseudo-cleft,
um NP numa sentença deve ser um argumento de algum verbo (noção de cadeia e
NPs deslocados).
◊ OBS 3 : Se um falante nativo não consegue atribuir um papel temático a um
argumento, a sentença torna-se agramatical.

4. Princípio de projeção
O léxico determina a sintaxe. Ou seja, as estruturas sintáticas são diretamente
determinadas pela estrutura argumental dos itens lexicais. A estrutura argumental do verbo
determina que elementos da sentença são obrigatórios na estrutura da sentença.
A informação lexical tem que ser contemplada na sintaxe. Isto é, se um verbo
expressa, por exemplo, uma atividade envolvendo dois argumentos, deverá haver pelo
menos dois constituintes na sentença para permitir que esses argumentos sejam expressos.
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◊ OBS 4 : Um (ou mais) desses constituintes pode ser realizado por uma categoria
vazia. Categoria vazia é aquela não realizada foneticamente, mas que cumpre um
papel na sintaxe. A categoria vazia será um argumento apenas se for selecionado
pelo verbo, tendo, portanto, um papel temático.

5. Expletivos
Expletivos são elementos na posição de NP que não são argumentos ou que não
recebem papel temático e para os quais nenhum papel temático é atribuído.
Ex. 20 : Il pleut.
Ex. 21 : It arrived the book.

6. Princípio de projeção estendido


Todas as orações têm sujeito, ainda que ele não seja foneticamente realizado. Em
outras palavras: a posição de sujeito deve ser sintaticamente representada.
Ex. 22 : __ Parece que as crianças dormem.
Ex. 23 : As crianças parecem dormir.
Ex. 24 : Il semble que les enfants dorment.
Ex. 25 : It seems that the children are sleeping.

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