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Papéis Temáticos

Márcia Cançado, cap. 7.


a. João abriu a porta com a chave.
b. João forçou e a porta abriu.
c. A chave abriu a porta.

Evento: abrir;

Participantes/entidades: João, porta, chave.


Relações de dependência ocorrem entre verbo e
entidades conforme certas funções semânticas:
agente, paciente, instrumento, etc. O verbo
tipicamente atribui uma função ou papel temático a
seus argumentos (sujeito e objeto) independente-
mente de funções sintáticas.
Os eventos podem ser de ação, mentais ou
relacionais. Se mentais, expressam uma experiência,
seja ela:
a. psicológica (emocional, afetiva): “João ama Maria”;
b. perceptiva: “João viu a luz no fim do túnel”;
c. cognitiva: “João acreditou no jornal?”.

Passar por um processo de experiência mental não é


agir. Estar relacionado ("passar por um processo
relacional") não é agir nem ter uma experiência mental.

João é feio.

João tem uma casa.
Tipos de papel temático:

a) Agente: o desencadeador de alguma ação, capaz


de agir com controle.

João quebrou o vaso com um martelo.

Maria correu.

b) Causa: o desencadeador de alguma ação, porém


sem controle.

As provas preocupam Maria.

O sol queimou a plantação.
c) Experienciador: ser animado que mudou ou
está em determinado estado mental, perceptual ou
psicológico.

João pensou em Maria.

João viu um pássaro.

João ama Maria.

d) Beneficiário: a entidade que é beneficiada pela


ação descrita.

João recebeu seu salário.

João pagou Maria.

João deu um presente para Maria.
e) Paciente: a entidade que sofre efeito de uma
ação, havendo mudança de estado.

João quebrou o vaso.

O acidente machucou Maria.

A planta cresceu.

f) Objetivo (ou Objeto Estativo): a entidade à


qual se faz referência, sem que esta desencadeie
algo, ou seja afetada por algo.

João leu um livro.

João ama Maria.
g) Tema: a entidade deslocada por uma ação.


João jogou a bola para Maria.

A bola atingiu o alvo.

Ele foi ao banheiro.
h) Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto no
sentido literal, como no sentido metafórico.

João voltou de Paris.

João tirou aquela ideia do artigo do Chomsky.

i) Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto no


sentido literal, como no sentido metafórico.

Sara jogou a bola para o policial.

João contou piadas para seus amigos.
j) Locativo: o lugar em que algo está situado ou
acontece.

Eu nasci em Belo Horizonte.

O show aconteceu no teatro.

k) Instrumento: o meio pelo qual a ação é


desencadeada.

João colou o vaso com cola.
Identifique apenas 1 papel temático para as
expressões em itálico abaixo:
Agente, para Fillmore (1968), é a função desempenhada
por um ente animado responsável (voluntária ou
involuntariamente) pela ação ou desencadeamento dos
processos.
Para Halliday (1967), é o elemento controlador da ação.
E, para Chafe (1970), é algo que realiza a ação, incluindo
aí seres animados, inanimados e forças naturais.

João quebrou o vaso com o empurrão que levou.
João é agente?

João comprou um carro de Maria.
João é agente? Alvo?

João correu muito.
João é agente? Tema?
A identificação dos papéis temáticos

Jackendoff (1972): agentes, estando ligados à vontade


e à animacidade, agem "deliberadamente”, “com a
intenção de algo".

João seria agente em:


a. João pegou [deliberadamente] o livro de Maria [com a
intenção de lê-lo].

Mas só talvez em:


b. João ganhou o livro de Maria com a intenção de lê-lo.

Se X é agente e Y é paciente, então pode-se
aplicar as fórmulas:
a. o que X fez foi ...
b. o que aconteceu com Y foi...
c. o que X fez com Y foi…

João quebrou o vaso com um martelo.
a. O que João fez foi quebrar o vaso com um
martelo.
b. O que aconteceu com o vaso foi o João quebrá-lo
com um martelo.
c. O que João fez com o vaso foi quebrá-lo.
Teoria de Princípios e Parâmetros, de Chomsky
(1988): pelo Critério-Theta, deve existir uma
correspondência um a um entre os sintagmas nominais
e os papéis temáticos.

Já para Jackendoff (1972,1990) um sintagma pode ser


preenchido por mais de um papel temático. Ele admite
2 planos: o temático, que descreve relações
espaciais; e o da ação, que descreve relações do
tipo agente-paciente.

Plano da Ação: agente, experienciador, paciente,
beneficiário, instrumento.

Plano Temático: tema, fonte, alvo, locativo.
Sue bateu no Fred.
Plano temático Tema Alvo
Plano da ação Agente Paciente

Pete jogou a bola.


Plano temático Fonte Tema
Plano da ação Agente Paciente
Bill entrou no quarto.
Plano temático Tema Alvo
Plano da ação Agente

Bill recebeu a carta.


Plano temático Alvo Tema
Plano da ação Beneficiário
Exercício

Crie sentenças em que o argumento acumula os
seguintes pares de papéis (temáticos e de ação):
Papéis Temáticos Semânticos

Funções Sintáticas
Na ordem canônica, o agente geralmente ocorre na
posição de sujeito; tema ou paciente, na posição de objeto
direto; e o instrumento, como um adjunto da sentença:

João matou essa galinha com uma faca afiada.

Às vezes essa tendência é obrigatória:


a. *Essa galinha matou.
b. Essa galinha morreu.

Porém é possível:
a. João espatifou o gelo com esta pedra.
b. Esta pedra espatifou o gelo.
c. O gelo (se) espatifou.
d. Uma faca afiada matou essa galinha.

Dependerá um pouco da língua e um pouco de cada verbo.


Principio da Hierarquia Temática:

O sujeito tende a ocupar, preferencialmente, as
seguintes posições temáticas, por ordem:

Agente > Experienciador/Beneficiário > Tema/Paciente >


Instrumento > Locativo.

Se em alguma língua nunca for possível ocupar parte


dessas posições, essas posições interditadas estarão
agrupadas à direita. Veja:

A) Sujeito Agente:
1. O ladrão roubou a joia
2. O menino pulou a janela.

B) Sujeito Experienciador:
a. João ama Maria.
b. João pressentiu o perigo.
C) Sujeito Beneficiário:
1. Maria recebeu o presente.
2. João ganhou a corrida.

D) Sujeito Paciente:
1. João morreu.
2. 0 vaso quebrou.

E) Sujeito Tema:
1. A bola rolou a montanha.
2. A seta atingiu o alvo.

F) Sujeito Instrumento:
1. A chave abriu a porta.
2. Aquela caneta amarela escreveu essa carta.
G) Sujeito Locativo:

1. * Fortaleza moro eu.

2. * Paris veio João.

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Construa sentenças em que o sujeito seja
cada um dos papéis temáticos abaixo:
Grade Temática

Portanto, cada verbo carrega, em seu conteúdo
semântico, uma informação:

sintática, sobre sua transitividade (intransitivo,
transitivo ou bi transitivo);

e temática, sobre os diversos papéis admissíveis
para seus argumentos (sujeito e complementos).

Cada verbo reserva um ou mais de um papel
temático para as funções sintática que
obrigatoriamente rege.

A essa informação chamamos “grade temática”.
Grades temáticas: exemplos
(Alvo?)

COLOCAR: V < Agente, Tema, Locativo >
SJT OD OI

João colocou o livro na mesa.

Alguns verbos apresentam grades temáticas


tipificadas conforme seu valor semântico:


Verbos de Transferência < Agente, Tema, Alvo >
SJT OD OI

Dar, emprestar, doar, pagar, etc.
(Objeto estativo?)

Verbos Psicológicos < Experienciador, Tema >


SJT OD

Amar, detestar, adorar, admirar, etc.

Verbos de Trajetória < Agente, Fonte, Alvo >


SJT OI? OI?

Vir, ir, andar, etc.
COMPLEMENTOS X ADJUNTOS

Verbos atribuem papéis a seus sujeitos e complementos;
porém não a adjuntos.

Como diferenciar um complemento de um adjunto?

João colocou o livro no escritório e, depois, saiu.

João leu o livro no escritório e, depois, saiu.

* João colocou o livro e, depois, saiu .

João leu o livro e, depois, saiu.

João colocou o chapéu e, depois, saiu.

No escritório, João colocou o livro e, depois, saiu.

No escritório, João leu um livro e, depois, saiu.
Nomes e Preposições com Grades Temáticas

Nomes deverbais (derivados de verbos) podem pedir
complementos e atribuir papéis temáticos aos sintagmas
nominais que regem.

Quem constrói, constrói algo: construí minha casa.

Quem faz construção, faz construção de algo: fiz
construção de minha casa. → Paciente.

Adjetivos também podem pedir complementos e, pois,
talvez atribuam-lhes algum tipo de papel temático:

Contente com a vida.
Objeto estativo?

Temente a Deus

Para alguns, preposições também atribuem papéis
temáticos:

Sobre as águas. → Locativo

A pauladas. → Instrumento

Com Fulana. → Companhia

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