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Alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de


significado: o morfe é outro, o morfema é o mesmo.
Assim, o que seria alomorfia?
A palavra alomorfe vem do grego (állos = outro   +  morphé = forma) e
indica a realização de um morfema por dois ou mais morfes diferentes.
Quer dizer, é a concretização em morfes diferentes de dois segmentos
com os mesmos valores significativos.
A alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de
significado: o morfe é outro, o morfema é o mesmo.
Se você não se lembra do conceito de signo linguístico de Saussure, clique
em: http://pt.scribd.com/doc/6498593/Signo-Significante-e-Significado e
veja sua composição em significante e significado.
 
Exemplos:
No verbo levas, o morfema –s caracteriza a 2ª pessoa do singular, que
também pode ser caracterizado por –ste em levaste ou –es em levares.
O segmento / - s /  marca plural,  e / -es / tem a mesma função: casas x
mares.
Quando ocorre a alomorfia, a forma de mais alta frequência deve ser
considerada a forma-base; a outra é uma variante, seu alomorfe.
Assim, no imperfeito do indicativo, primeira conjugação, a forma-base é –
va-; a variante é –ve- (cantáveis).
No futuro do pretérito, -rie- (cantaríeis) é alomorfe de –ria-.
 
1º conjunto imperfeito do indicativo:
 
desinência    / va /
 
cantava, cantavas
 
va é a norma
 
ATENÇÃO
 
Nas demais conjugações, a desinência muda e temos: corria, corrias / a / é
um alomorfe.
 
partia, partias
 
ALGUNS EXEMPLOS DE ALOMORFIA
 
Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. / ordem /, / orden-/ /ordin-/ têm
a mesma significação em ordem, ordenar e ordinário.
 
Alomorfia no prefixo. O prefixo / in /  passa a / i / em inapto / ilegal.
 
Alomorfia no sufixo. No par bananal / cafezal o sufixo  / al / passa a / zal /
e no par  relator / falador o sufixo  / or /passa a / dor /.
 
Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o
/transforma-se em/ e /.
 
Alomorfia na desinência de gênero. No par, avô ≠ avó, os traços distintivos
/ ô / e / ó / podem ser considerados alomorfes das desinências Ø
(masculino) e / a / (feminino).
 
Alomorfia na desinência modo-temporal. Em cantáramos / cantáreis, a
desinência modo-temporal / ra / passa a/ re /.
 
IMPORTANTE
 
A alomorfia pode ou não ser fonologicamente condicionada:
 
Não condicionada. Implica variações livres que independem de causas
fonéticas.  
 
Exemplo:  alternâncias vocálicas em faz, fez, fiz.
 
Condicionada. Aglutinação de fonemas nas partes finais e iniciais de
constituintes, acarretando mudança fonética. É uma mudança
morfofonêmica = opera entre fonemas e altera o plano mórfico da língua.
 
Exemplo: redução de / in- /  a  / i- / diante de consoante nasal: incapaz,
imutável
 
MORFEMA ZERO (ø)
O morfema zero ou morfe zero caracteriza-se pela ausência de segmento
fônico que representaria determinada noção.
 
Exemplo: o contraste singular/plural: bar – bares (o morfema –s), em que
a ausência do plural, morfema –s, designaria o singular, por inexistência
de morfema marcador.
 
Essa oposição entre presença e ausência é importante – ambos são
realidades morfêmicas, cada um deles só existe graças à existência do
outro. A categoria gramatical de número só existe porque um par
opositivo a instaura: singular e plural. Temos, nesse caso, o que se chama
de ausência significativa.
 
 
Marca de gênero.
 
A flexão de gênero em português acontece pelo acréscimo do morfema
flexional [a] à forma masculina: o feminino é a forma marcada pela
presença do morfema / a /. Sua ausência é significativa como
característica de masculino – morfema zero para o masculino em
português.
 
Exemplos: marca de gênero: mestre / mestra; leitor / leitora; professor /
professora; marquês/ marquesa; menino/menina.
 

O morfema s existe tanto no singular quanto no plural:   O lápis    / Os


lápis
Marca de número.
Exemplos:  
 
1. Mar – mares.  A ausência da marca de plural / -es / no morfema lexical
mar indica singular.
2. Ourives, lápis, pires. O / -s / não é marca de plural: o plural dessas
palavras é marcado sintaticamente.
Em muitas formas verbais encontramos o morfema zero em oposição a
outros morfemas.
 
Exemplo:
 
(tu)    estud + a + va + s
(ele)  estud + a + va + ø
(ele)  estud + a +  ø  + ø
 
Morfe zero (Ø) para a conjugação verbal
 
 
Segundo Mattoso Câmara (1970), a constituição da forma verbal
portuguesa é  T ( R + VT) + D (DMT + DNP), ou seja, o tema é formado pela
raiz e pela vogal temática e a esse tema podem ser acrescidas as
desinências (desinência modo-temporal e desinência número-pessoal)
 
ATENÇÃO = Nem todas as formas verbais possuem VT.
 
A DMT é Ø para o indicativo no presente, para o pretérito perfeito (até a
2ª pessoa do plural e –ra para a 3ª pessoa do plural.
 
Cant – Ø - o                        Cante – Ø – i                         canta- ra – m
 
A DNP é Ø:
 
1ª pessoa do singular do presente do indicativo (exceto quando aparece –
o);
 
3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo.
 
 
VAMOS REFLETIR
Por que em uma palavra como ‘lápis’, que tem a mesma forma para
singular e plural, não se deve considerar a existência de morfema zero na
desinência de número?
O morfema s existe tanto no singular quanto no plural:
O plural desse tipo de palavra não é morfológico, é sintático: será o
determinante (artigo, pronome demonstrativo etc.) quem marcará o
número.
b) Por que substantivos comum de dois gêneros como estudante e
dentista não têm morfema zero para desinência de gênero?
O feminino em português é marcado pelo morfema [a]. Nesses
substantivos, tem-se a mesma forma para os dois gêneros. O gênero
desses substantivos não é morfológico, é sintático: sabe-se o gênero pelos
morfemas categóricos dos termos a que eles se referem: meu dentista/
bela estudante.
Assim, em bela estudante, o feminino é marcado por dois traços: um
mórfico e outro sintático.  O traço mórfico é a desinência a e o traço
sintático é a presença do determinante esta.
A FLEXÃO DE GÊNERO
Ao final de nossa discussão sobre morfema zero, tivemos um breve
comentário acerca desse morfema e a flexão de gênero.
 
GÊNERO E SEXO
 
Embora alguns autores falem sobre ‘sexo real ou convencional’ ou ainda
sobre ‘sexo real ou fictício’, Monteiro (2002, p. 86) afirma que “O gênero é
uma categoria gramatical; o sexo é um conceito biológico.” Esse é o
melhor tratamento a ser dado a essa questão já que temos inúmeros
substantivos que designam seres assexuados como mesa, roupa, teto,
chão.
Vamos, agora, discutir um pouco mais a flexão de gênero em Português.
 
Divirta-se!
Recomendamos a leitura do texto Sexa, de Luiz Fernando Veríssimo
SEXA ???
 
- Pai........
- Hummmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É.Quer dizer,não.Existem dois sexos.Masculino e Feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino.Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "SEXO" é masculina. O
SEXO masculino, o SEXO feminino.
- Não devia ser "A SEXA"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. "SEXO" é sempre masculino.
 
 - O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer...Olha aqui.Tem o SEXO masculino e o SEXO feminino,
certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a
palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não." A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria "o pal..."
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
-Temos que ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
Ele só pensa em gramática.
(Do Livro: Comédias para se Ler na Escola)
 
 
 
                              
 
Vimos que o acréscimo do morfema [a] marca a flexão de gênero. A regra
para a composição do feminino estabelece que, morfologicamente, temos
o processo de flexão se adicionamos a desinência [a], retirando-se a vogal
temática, se ela estiver presente no masculino.
 
Exemplos:
 
Professor + a = professora
Mestre + a= mestrea = mestra
 
Casos de alomorfia na raiz
 
Monteiro (2002, p. 83) comenta que em exemplos como rei/rainha,
abade/abadessa, entre outros, temos, além da desinência [a], o acréscimo
de um sufixo derivacional para formar o feminino. Segundo o autor,
sincronicamente não se percebe, por exemplo, [inh] como um sufixo e,
assim, [rainh] e [abadess] seriam alomorfes de [re] e [abad]. O autor
acrescenta:
 “Por diversas vezes, já comprovamos que mesmo professores e alunos de
Letras não têm consciência da presença do sufixo. Por incrível que pareça,
até em galinha, poucos destacam o elemento [inha]. E, quando o fazem,
percebem que o conteúdo semântico se tornou vazio.”(p.84)
 
Gênero heteronímico
 No entanto, nem todas as palavras são marcadas flexionalmente. Koch e
Silva (1989) em  Linguística aplicada ao português: morfologia, afirmam
que:
 “Em razão da ausência de distinção entre processo flexional e processo
lexical, é comum ler-se em gramáticas do português que mulher é
feminino de homem, que cabra é o feminino de bode. Trata-se de casos
de heteronímia dos radicais, isto é, de vocábulos lexicalmente distintos,
que, tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a categoria de
gênero.”
 
Algumas classificações tradicionais de gênero
 Além da heteronímia, há outras formas de se expressar o gênero sem o
uso do mecanismo flexional. A Gramática Normativa nos apresenta
substantivos masculinos e femininos e estabelece que os substantivos
também podem ser:
 Sobrecomuns – nomes de um só gênero gramatical que se aplicam
indistintamente a homens e mulheres.
 Exemplos: o cônjuge, a ferrugem, a criatura, a criança, o indivíduo, a
pessoa, o ser, a testemunha, a vítima, entre outros.
 Eles se enquadram na subcategoria do feminino ou do masculino, uma
vez que os determinantes que os acompanham terão que apresentar um
ou outro gênero. ‘O cônjuge’, independentemente do sexo do referente,
será sempre do gênero masculino; ‘a criança’ será sempre do gênero
feminino.
 
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os
dois sexos e necessita de um determinante para distinguir se o referente é
masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e não
morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo
determinante.
A marcação de gênero pode ser redundante, já que pode se encontrar
tanto pela presença do morfema flexional quanto pela presença do
determinantes.
Exemplo: o menino, a menina. Temos a presença do artigo (o/a) e do
morfema zero e da desinência de gênero.
 
Também pode determinar o gênero somente através de determinantes,
ou seja, sintaticamente, como fazemos no par o dentista / a dentista.
 
Dentista – o [a] final dos substantivos comuns de dois gêneros não deve
ser considerado desinência de feminino, já que no masculino ele também
está presente.
Trata-se de um [a] temático que elimina a desinência [a] pelo fenômeno
da crase. Assim: dentista +a = dentistaa -> dentista.
Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os
dois sexos e necessita de um  determinante para distinguir se o referente
é masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e
não morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo
determinante.
 
Exemplos: o estudante / a estudante; o mártir/ a mártir
O substantivo comum de dois gêneros e a questão do referente
 Exemplo: os meninos foram as principais vítimas do acidente.
O gênero feminino de vítimas é indicado pelo determinante as. A ideia de
sexo está no lexema meninos.
 Testemunha: é sempre gênero feminino, quer se trate de homem ou de
mulher. Só se sabe pelo referente.
Exemplo: a testemunha chegou atrasada. Ela usava um lindo vestido
preto.
 
Epicenos -  Representam nomes de animais a que são agregadas as formas
macho/fêmea para distinção de sexo.
Cabe aqui uma crítica. Nesses substantivos, o gênero fica privativamente
masculino ou feminino.
Koch e Silva (1989, p. 42) afirmam que “Não cabe também falar em uma
distinção de gênero expressa pelas palavras macho e fêmea, não só
porque o acréscimo não é obrigatório (podemos falar em cobra e tigre
sem acrescentar os apostos), mas também porque o gênero não muda
com a indicação precisa de sexo (continua-se a ter cobra macho no
feminino, como assinala o artigo a e o tigre fêmea no masculino, conforme
indica o artigo o.”
Epicenos -  Representam nomes de animais a que são agregadas as formas
macho/fêmea para distinção de sexo.
Exemplos: Jacaré macho/ cobra fêmea.
 
Divisão proposta em Monteiro (2002, p. 85)  
 
I. Nomes de gênero único. Não podem ser morficamente considerados
masculinos ou femininos porque lhes falta o traço desinencial contrastivo.
A inexistência de oposição na estrutura mórfica é compensada por
oposições na estrutura  sintática.
 
Exemplos: abelha ferrugem cônjuge onça pulga mesa indivíduo pessoa
soprano personagem ferrugem: a abelha, a onça, a pulga, o cônjuge.
 
Soprano no dicionário é comum de dois gêneros: o soprano / a soprano.
 
ATENÇÃO:
‘Vítima”: O homem foi atropelado por outro homem. Sabe-se que a vítima
encontra-se hospitalizada, mas passa bem.” (Gênero feminino / sexo
masculino)
 
II. Nomes de dois gêneros sem flexão.
 
Exemplos: aprendiz, colega, personagem, solista: o aprendiz/ a aprendiz; o
colega / a colega; o solista / a solista; o personagem / a personagem
(AURÉLIO, 1986, 1316).
 
III. Nomes de dois gêneros com flexão redundante.
 
Exemplos: chefe, saco, chinelo, aluno, mestre, pavão, professor: o chefe /
a chefa; o aluno / a aluna; o mestre / a mestra; o pavão/ a pavoa; o
chinelo / a chinela. (‘Chinela’ veio primeiro: ‘cianela’, italiano)
 
Curiosidades:
Significados de nomes no feminino
Embaixadora e embaixatriz. Embaixadora= representante diplomática
Embaixatriz= esposa do embaixador
 
Trabalhadora e trabalhadeira. Trabalhadora = aquela que trabalha como
empregada de alguém; trabalhadeira = mulher que gosta de trabalhar,
cuidadosa
 
Imperadora e imperatriz. Imperadora = esposa do imperador; imperatriz =
aquela que governa
Nomes que mudam de significado quando se muda o gênero
A cabeça (parte do corpo)   x   o cabeça (líder)
A rádio (a estação )             x   o rádio (aparelho)
A capital (cidade)                 x   o capital ( dinheiro)

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