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Apontamentos de Filosofia (Lógica) _________ Colégio Estoril, PROF. XAVIER L.

JORGE

Nota ao estudante

Conforme promessa, eis aqui, nas presentes páginas, os conteúdos dos dois últimos itens (pontos 7.7 e 7.8)
respectivos ao capítulo VII do material de apoio elaborado pelo professor para acudir aos nossos seminários da
disciplina de Introdução à Filosofia.

7.7. O juízo e as proposições.

Considerando o aspecto da sua validade, define-se logicamente o juízo como sendo o


acto de pensamento passível de ser verdadeiro ou falso.
Da definição infere-se que todo o juízo envolve uma afirmação (afirmativa ou
negativa): pois só quem afirma, ou nega, pode exprimir a falsidade ou a verdade. A afirmação
(ou asserção) é, deste modo, o acto do juízo, e haverá tantos juízos num pensamento quantas
as asserções nele explícitas ou implícitas. Ex.: “Chove”, é um juízo. “Chove e neva” é uma
conjunção (união) de dois juízos. “Chove, neva e morre-se de frio” é uma conjunção de três
juízos.
Chama-se proposição a expressão verbal do próprio juízo. Os juízos anteriormente
exemplificados estão expressos, verbalmente, em proposições.
Num juízo podem existir tantos elementos quanto forem necessário para produzir-se
uma afirmação (asserção). Nalguns casos basta um único elemento, como por exemplo
“Neva.” Noutros intervêm dois elementos: João – trabalha. Noutros, três: “Augusto – é –
mortal. Fernando – recebeu – uma carta – de Rogério, etc.

Valores do Juízo
Não existe o verdadeiro ou o falso, antes do juízo. Antes do juízo estão os factos, que
não são verdadeiros ou falsos, mas reais ou possíveis. A chuva que cai lá fora não é falsa nem
verdadeira. O que é falso ou verdadeiro é o meu juízo sobre a chuva: chove ou não chove. A
lógica tradicional, baseada no princípio do terceiro excluído, considerou fundamentalmente
dois valores no juízo: o verdadeiro e o falso. Era, por isso, uma lógica dual, ou bivalente. As
lógicas actuais, consideradas polivalentes, admitem outros valores, tais como:
1. O assertório. – Um juízo diz-se assertório quando enuncia uma relação que, sendo
verdadeira (por exemplo “são 12 horas”), podia conceber-se como falsa (por exemplo “é
falso que sejam 12 horas”). O juízo falso (contrário à realidade) constitui o oposto do
assertório (conforme a realidade)
2. O apodíctico. – Um juízo diz-se apodíctico quando enuncia uma relação que não só
é verdadeira, mas que seria ilógico considerar falsa (por exemplo “duas coisas iguais a uma
terceira são iguais entre si”). O oposto do apodíctico (fundado nas leis da lógica) é o
absurdo, que contradiz a lógica (por exemplo se se afirma que duas coisas iguais a uma
terceira não são iguais entre si).
3. O problemático. - Um juízo diz-se problemático se enuncia uma relação possível,
presumida como verdadeira, mas não afirmada como expressamente verdadeira (por exemplo
“devem ser 12 horas”; “talvez ainda hoje chova”).
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Espécies de juízos

Pelo facto de o juízo ser a mais directa expressão do pensamento, e porque este é
susceptível de captar grande variedade de relações (e exprimi-las de diversos modos),
compreende-se que sejam múltiplas as formas possíveis do juízo. Aqui no nosso manual
mencionaremos apenas as mais importantes:
1. Juízos de experiência. – são o acto pelo qual o espírito afirma o que as coisas são,
ou não são, e baseiam-se directamente nas nossas percepções. Ex.: “Os dias sucedem-se às
noites”; “O Sol ilumina a Terra”; “A maré está baixa”; “O açúcar é doce”.
2. Juízos de raciocínio. – são juízos que advêm em consequência de outros juízos. E.:
“A Terra move-se. A sucessão dos dias e das noites deve-se ao movimento de rotação da
terra”. “O mercúrio sobe no termómetro por efeito da elevação da temperatura”.
3. Juízos predicativos. – são juízos compostos de três elementos, nomeadamente o
sujeito, o predicado e o verbo ser, que une ou liga os dois primeiros. Este tipo de juízo
obedece ao esquema S é P.O juízo predicativo pode ser interpretado em compreensão ou em
extensão. Na interpretação em compreensão, o sujeito é pensado como um ser, ou conjunto de
seres, e o predicado como propriedade ou característica do sujeito (juízo de inerência). Na
interpretação em extensão, o sujeito é pensado como um elemento, ou conjunto de elementos,
e o predicado como classe a que esse elemento ou conjunto de elementos pertence ou
pertencem (juízo de inclusão).
Quando afirmo que «os insectos são artrópodes», ao mesmo tempo que os incluo,
como elementos, no conjunto dos artrópodes (interpretação em extensão), penso em certas
características (patas articuladas, etc.) inerentes ao conjunto. Assim, podemos afirmar que
existe pois íntima correlação entre os aspectos extensivo e compreensivo do juízo.
Na prática, porém, e segundo as preferências, aquele sentido de correlação perde-se, e
cada um pensa o juízo, em compreensão ou em extensão, segundo a óptica que lhe interessa.
Seja o juízo: «a Domingas casou-se». O Instituto de Estatística, onde as pessoas estão
classificadas em casadas, solteiras, divorciadas, etc., limita-se a subtrair um elemento ao
conjunto das solteiras, que adicionará ao das casadas. A estatística, no caso, pensa o juízo em
extensão. À jovem recém-casada interessa mais é o seu novo estatuto pessoal, a promoção que
lhe adveio, a alegria que lhe enche a alma, etc. Indiferente à Estatística, a jovem pensa o seu
caso em compreensão.
Resumidamente, a interpretação em compreensão individualiza, distingue, qualifica. A
interpretação em extensão nivela, despersonaliza, quantifica. A Burocracia e a Estatística
operam fundamentalmente em extensão. A lógica da compreensão, ao invés, sublinha os
aspectos pessoais, concretos, humanos, do juízo.
4. Juízos de relação. – são aqueles em que dois ou mais seres, são pensados em
função uns dos outros. Na forma mais simples (relação binária) obedecem ao esquema x R y:
há uma relação entre x e y.
O juízo de relação não se limita (como o predicativo) a atribuir uma propriedade a um
sujeito, ou a incluir um elemento numa classe. Ele afirma que dois ou mais seres, reais e
distintos, se encontram em conexão uns com os outros. O ferro é mais denso do que o zinco
(relação de grandeza). Luanda fica situada entre o oceano Atlântico e a província do Bengo
(relação de posição). O calor dilata os corpos (relação de causalidade).
O juízo predicativo corresponde à fase descritiva do conhecimento (atribuição de
propriedades) ou à fase classificativa (inclusão em classes); ao passo que o juízo de relação,
pensando as coisas em função umas das outras, corresponde à fase interpretativa. É o tipo do
juízo científico, na fase evoluída da ciência.

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5. Juízos categóricos. – são aqueles em que se afirma uma simples relação de


correspondência entre um enunciado (o discurso) e o seu referendo (o facto). Ex.: «Faz sol».
«Não troveja». «Sartre é um filósofo contemporâneo». Estes tipos de juízos são da fórmula p é
q.
6. Juízos hipotéticos. – são os que afirmam ou negam entre dois termos uma relação
de antecedente a consequente. Podem os juízos hipotéticos ser condicionais ou disjuntivos.
No juízo condicional, a relação de consequência exprime-se na fórmula: se p, então q.
Ex.: «Se este animal é um peixe, então respira por guelras». «Se este animal não tem asas,
então não é uma ave». Aparentemente, há em cada um destes exemplos dois juízos, e não
apenas um. Mas o que na realidade existe são dois termos de um juízo. Para que houvesse dois
juízos, era necessário que houvesse duas asserções. Ora existe apenas, em cada caso, uma
asserção. No primeiro, a asserção de que «peixe implica guelras», no segundo a de que «ave
implica asas».
O primeiro termo tem o nome de hipótese, condição ou antecedente. O segundo, o de
tese, condicionado ou consequente.
No juízo disjuntivo, a relação de antecedente a consequente é posta sob forma
alternativa. São da fórmula S é p ou q. Ex.: «Fulano é tolo, ou faz-se».
Os dois termos são hipóteses ou juízos possíveis, e a alternativa consiste em que a
afirmação de um dos termos exclui a afirmação do outro. Assim, a disjunção anterior pode
resolver-se nos dois modos:
a) Ele é tolo, não se faz.
b) Ele faz-se de tolo, não o é.
7. Juízos de realidade. – exprimem o ser e o acontecer das coisas, e assumem a forma
descritiva (os dias sucedem-se às noites), ou a forma interpretativa (a sucessão dos dias e das
noites tem origem no movimento de rotação da Terra).
8. Juízos de valor. – referem-se ao valor das coisas, isto é: às coisas não enquanto as
descrevemos ou interpretamos, mas enquanto as apreciamos ou depreciamos.
Note bem: na hierarquia dos valores se pode estabelecer uma distinção entre juízos de
meio e juízos de fim. No juízo de meio, um valor é afirmado como condição para que se
realize outro valor (Ex.: «o êxito é o prémio da perseverança»). No juízo de fim, o valor é
afirmado por si mesmo, isto é, como algo que por si se justifica (Ex.: «a dignidade pessoal e a
honra são bens que não têm preço»).

Quantidade e qualidade das proposições

1. Quantidade de uma proposição é a propriedade que ela tem de ser universal ou


particular. Podemos assim distinguir:
a) Proposições universais: são aquelas nas quais o sujeito representa todos os seres de
uma classe, ou seja, está tomado em toda a sua extensão. Ex.: «Todos os homens são mortais».
b) Proposições singulares: em que o sujeito é apenas um indivíduo (um objecto, um
facto). Ex.: «Pedro é feliz». «Esta mesa é de mogno».
Obs.: As proposições singulares equivalem às universais, posto que o sujeito,
determinado e único, é tomado em toda a sua extensão.

c) Proposições particulares: nas quais o sujeito é tomado em parte indeterminada da


sua extensão. Exemplos: «Algumas figuras geométricas são polígonos». «Há horas felizes».
«Certas pessoas são activas».

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2. Qualidade de uma preposição é a propriedade que ela tem de ser afirmativa ou
negativa. Ora, porque a afirmação ou negação tanto podem incidir na cópula (afirmativa ou
negativa), como no atributo (positivo ou privativo), resulta que, em rigorosa lógica, podem
existir proporções afirmativas e negativas de várias espécies:
a) Proposições afirmativas de predicado positivo, do tipo (A é B): Ex.: António é
sensato, e obedecem à regra – toda a proposição equivale à sua afirmação.
b) Proposições negativas de predicado negativo, do tipo: (A não é não-B): Ex.:
António não é insensato, e obedecem à regra – a negação da negação equivale à afirmação.
c) Proposições negativas de predicado positivo, do tipo (A não é B): Ex.: António não
é sensato, e obedecem à regra – a negação da afirmação equivale à negação.
d) Proposições afirmativas de predicado negativo, do tipo (A é não-B): Ex.: António n
é insensato, e obedecem à regra – a afirmação da negação equivale à negação.

Classificação das proposições


Combinando a quantidade e a qualidade, podem reduzir-se as proposições a quatro
tipos, que a lógica tradicional simbolizou nas letras A E I O.
Note Bem.: “A” e “I”, são as primeiras vogais da palavra «afirmo», e designam as
proposições afirmativas. “E” e “O”, são as vogais da palavra «nego», e designam, por sua
vez, as proposições negativas.
Temos assim:
A – Universal afirmativa. – Ex.: «Todos os homens são mortais». «Os mamíferos são
vertebrados». «O cão é amigo do dono». «Tempo é dinheiro».
E – Universal negativa. – Ex.: «Nenhum peixe respira por pulmões». «Os morcegos
não são aves». «António não estuda».
I – Particular afirmativa. – Ex.: «Alguns homens são africanos». «Há peixes de água
doce». «Poucas pessoas chegam aos cem anos».
O – Particular negativa. – Ex.: «Alguns polígonos não são triângulos». «Há insectos
que não voam». «Nem tudo o que brilha é oiro».
Utilizando o diagrama de Euler, caros amigos do Colégio Estoril, podemos também
representar os vários tipos de proposições:

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7.8. As inferências lógicas.

De modo geral, chama-se inferência a transição lógica de uma proposição a outra, e


pode ser imediata ou mediata.
A inferência diz-se imediata, se o trânsito entre as proposições se faz sem tremo
intermediário, isto é: quando a proposição dada e a inferida são compostas dos mesmos
termos. Ex.: Dada a proposição «todos os mamíferos são vertebrados», podemos inferir
imediatamente que «alguns vertebrados são mamíferos».
A inferência diz-se mediata (ou raciocínio), quando na proposição dada e na inferida
aparecem termos diferentes. Então, existe um termo (e podem ser vários) cujo papel é servir
de mediador entre os outros. Ex.: dada a proposição «todo o homem é mortal» podemos
inferir que «Alberto é mortal», tomando o termo «homem» como mediador entre Alberto e
mortal.
São formas de inferência imediata a conversão e a oposição.

a) Conversão.
Consideremos a proposição: «o peixe não é molusco». É claro que podemos obter uma
outra proposição, de significado equivalente, fazendo do sujeito predicado e do predicado
sujeito: «o molusco não é peixe». A isto se chama converter. Assim, converter é inferir de
uma proposição, uma outra, por inversão da ordem dos termos. A proposição dada chama-se
directa, a inferida chama-se conversa.
A regra a observar, na conversão das predicativas, é que os termos, ao transporem-se,
conservem a sua extensão. Caso contrário, a proposição conversa afirmaria coisa diferente da
directa.

b) Oposição.
Comparem-se os quatro tipos de proposições:
Todo o A é B
Nenhum A é B
Algum A é B
Algum A não é B

O que é que verificamos? Verificamos que têm o mesmo sujeito e o mesmo predicado,
mas diferem na quantidade (universal – particular), ou na qualidade (afirmação – negação).
Duas proposições que, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, diferem em
quantidade ou em qualidade, dizem-se opostas.
As proposições podem diferir (em quantidade e qualidade) por quatro modos. Daqui
resultam quatro formas de oposição:
1. Duas proposições que diferem em quantidade e qualidade são contraditórias:
A – Tudo o que brilha é ouro.
O – Algo que brilha não é ouro.
2. Duas proposições universais que diferem pela qualidade são contrárias:
A – Todo triângulo é polígono.
E – Nenhum triângulo é polígono.

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3. Duas proposições particulares que diferem pela qualidade são subcontrárias:


I – Alguns homens chamam-se Joaquins.
O – Alguns homens não se chamam Joaquins.
4. Duas proposições que diferem em quantidade são subalternas:
A – Todo o homem deseja a felicidade.
I – Algum homem deseja a felicidade.
O famoso “quadro lógico”, que o professor representa abaixo, resume as várias formas
de oposição:

Oposição de proposições

São formas de inferência mediata a dedução (que pode ser silogística e matemática)
e a indução (que pode ser formal e amplificante).

Nas nossas lições, trataremos apenas da inferência mediata do tipo dedutivo, mais
concretamente do silogismo.

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O Silogismo1
Um silogismo (do grego antigo συλλογισμός, "conexão de ideias", "raciocínio";
composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo filosófico com o qual
Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições
declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas
premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles
em Analíticos anteriores.

Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos
quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a
consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor
(sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e
a premissa menor segundo a extensão dos seus termos.

Um exemplo clássico de silogismo é o seguinte:

Todo homem é mortal.


Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.

O silogismo e sua estrutura

O silogismo é estruturado do seguinte modo:

 Todo homem é mortal (premissa maior)


o homem é o sujeito lógico, e fica atrás da cópula;
o é representa a cópula, isto é, o verbo que exprime a relação entre sujeito e
predicado;
o mortal é o predicado lógico, e fica após a cópula.

 Sócrates é homem (premissa menor)

Sócrates é mortal (conclusão).

Leis de oposição

As leis de oposição regem as relações entre as premissas.

Dada uma proposição, verdadeira ou falsa, é possível inferir, mediante o


conhecimento de certas regras (ou leis), a verdade ou falsidade de outra proposição. Inferir por
oposição será pois deduzir da verdade ou falsidade de uma proposição dada, a verdade ou
falsidade de uma proposição oposta.

1
Fontes de Pesquisa Utilizadas pelo Professor: Wikipédia, a enciclopédia livre. SARAIVA, Augusto. Filosofia, 7º Ano, 8ª Edição, Ed.
Educação Nacional, 1973, pp. 68-84.

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Leis das contraditórias. – Duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras, nem ambas falsas: se uma é verdadeira a outra é falsa, se uma é falsa a outra é
verdadeira. Exemplos de casos:

Se é verdade que toda a circunferência é redonda (A), não é verdade (é falso) que alguma
circunferência não é redonda (O).

Se é falso que tudo o que brilha é ouro (A), não é falso (é verdade) que algo que brilha não é
ouro (O).

Leis das contrárias. – Duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras: se uma é verdadeira, a outra é falsa; mas, de ser uma falsa, não pode inferir-se
que seja a outra verdadeira. Exemplos de casos:

Se é verdade que todo o peixe respira por guelras (A), é falso que nenhum peixe respire por
guelras (E) (legítima).

Se é falso que todo o triangulo é isóscele (A), é verdade que nenhum triângulo é isósceles (E)
(ilegítima).

Leis das subcontrárias. – Duas proposições subcontrárias não podem ser ambas
falsas: se uma é falsa, a outra é verdadeira; mas da verdade de uma, nada podemos inferir
quanto à outra, que pode ser verdadeira ou falsa. Exemplos de casos:

Se é falso que algum homem não foi à Lua (O), é verdade que algum homem foi à Lua (I)
(legítima).

Se é verdade que alguns homens são ignorantes (I), é falso que alguns homens não são
ignorantes (O) (ilegítima).

Se é verdade que alguns mamíferos são animais terrestres (I), é verdade que alguns
mamíferos não são animais terrestres (O) (ilegítima).

Leis das subalternas. – Duas proposições subalternas serão ambas verdadeiras se a


universal for verdadeira, e ambas falsas se a particular for falsa; mas, nada pode inferir-se da
universal falsa, ou da particular verdadeira. Exemplos de casos:

Se é verdade que todas as aves têm penas (A), é verdade que algumas aves têm penas (I)
(legítima).

Se é falso que alguns insectos são moluscos (I), é falso que todos os insectos são moluscos (A)
(legítima).

Se é falso que todos os homens fumam (A), é falso que alguns homens fumam (I) (ilegítima).

Se é verdade que alguns homens são honestos (I), é verdade que todos os homens são
honestos (A) (ilegítima).

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Em resumo:

Contraditoriedade: se um modo é verdadeiro, o outro é falso;


Contrariedade: ocorre apenas nos modos A e E. As premissas contrárias entre si não podem ser verdadeiras ao
mesmo tempo, mas podem ser falsas ao mesmo tempo; Pois, se assim forem, a particular afirmativa será falsa por
ser a contraditória da universal negativa e verdadeira, por ser a conversão da universal afirmativa.
Subcontrariedade: as premissas não podem ser falsas ao mesmo tempo, mas podem ser verdadeiras ao mesmo
tempo. Pois se assim forem, as contrárias de quem elas são contraditórias serão simultaneamente verdadeiras, o
que é um absurdo.

Os quadros abaixo, em que as setas conduzem do dado ao inferido, resumem o conjunto das
inferências legítimas:

As oito regras do silogismo

1 – O silogismo tem três termos e só três termos.

2 – Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.

3 – A conclusão não deve conter nunca o termo médio.

4 – O termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez universalmente.

5 – De duas premissas negativas nada se pode concluir.

6 – De duas premissas afirmativas não se pode tirar uma conclusão negativa.

7 – A conclusão segue sempre a parte mais fraca.

8 – De duas premissas particulares nada se pode concluir. (Estas regras reduzem-se às três
regras que Aristóteles definiu. O que se entende por “parte mais fraca” são as seguintes
situações: entre uma premissa universal e uma particular, a “parte mais fraca” é a particular;
entre uma premissa afirmativa e outra negativa, a “parte mais fraca” é a negativa.)

Figuras e modos do silogismo

Um raciocínio dedutivo é composto por proposições. As proposições, por sua vez, são
compostas por termos. A maneira pela qual as proposições estão dispostas é chamada de modo
do silogismo. A posição que o termo médio assume no argumento (sujeito ou predicado),
origina a figura do silogismo.

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Existem quatro espécies de proposições: A, E, I, O. Entre estas proposições, é possível
64 combinações na estrutura do silogismo. Deste total, apenas 19 combinações são válidas,
sendo que as demais violam uma ou mais regras do silogismo. Estas 19 combinações
distribuem-se nas quatro figuras do silogismo.

Primeira figura

A primeira figura não muda, por ser perfeita. Aqui, o termo médio ocupa a posição de
sujeito na premissa maior e predicado na premissa menor.

1º Su-pré

Todo metal é corpo. BAR


Todo chumbo é metal. BA
Todo chumbo é corpo. RA

Nessa figura, os modos legítimos são: BAR-BA-RA (AAA); CE-LA-RENT (EAE);


DA-RI-I (AII); FE-RI-O (EIO) Esses nomes foram dados pelo filósofo medieval, do século
XII, Pedro Abelardo.

Segunda figura

Na segunda figura, o termo médio ocupa a posição de predicado em ambas as


premissas.

2º Pré-Pré

Todo círculo é redondo. CAM


Nenhum triângulo é redondo. ES
Nenhum triângulo é círculo. TRES

Nessa figura, os modos legítimos são: CES-A-RE (EAE); CAM-ES-TRES (AEE);


FES-TI-NO (EIO); BAR-OC-O (AOO).

Terceira figura

Na terceira figura, o termo médio ocupa a posição de sujeito nas duas premissas.

3ºSu-Suoi

Nenhum mamífero é pássaro. FE


Algum mamífero é animal que voa. RIS
Algum animal que voa não é pássaro. ON

Nessa figura, os modos legítimos são: DA-RAP-TI (AAI); FE-LAP-TON (EAO);


DIS-AM-IS (IAI); BOC-AR-DO (OAO); DA-TIS-I (AII); FE-RIS-ON (EIO)

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Quarta figura

Na quarta figura, o termo médio ocupa a posição de predicado na premissa maior e de


sujeito na premissa menor.

4ºPré-Su

Pedro é homem. BAM


Todo homem é mortal. A
Algum mortal é Pedro. LIP

Nessa figura, os modos legítimos são: BAM-A-LIP (AAI); CA-LEM-ES (AEE);


DIM-A-TIS (IAI); FES-AP-O (EAO); FRES-IS-ON (EIO)

Redução dos modos

Todos os modos imperfeitos do silogismo, isto é, a segunda, terceira e quarta figuras,


devem ser transformados em modos perfeitos da primeira figura, pois não respeitam a
hierarquia dos termos. As palavras mnemónicas auxiliam na redução. Se as vogais indicam os
modos, a quantidade e a qualidade das premissas, as consoantes S, P, M e C indicam a
maneira para pela qual a redução será feita. As consoantes iniciais indicam o modo da
primeira figura.

Para isso, existem quatro possibilidades.

(S) Conversão directa: troca-se o sujeito pelo predicado e vice-versa. Por exemplo:

todo mortal é homem --> todo homem é mortal.

(P) Conversão acidental: a premissa tem seu sujeito e predicado trocados entre si. Por
exemplo:

todo homem é mortal --> algum mortal é homem.

(M) Transposição de premissas: se uma premissa for maior, passa a ser menor e vice-versa.

(C) Redução por absurdo: da conclusão deste silogismo, elaboramos sua contraditória e
substituímos a premissa assinalada com a consoante C, e concluímos novamente.

Silogismos derivados

Silogismos derivados são estruturas argumentativas que não seguem a forma rigorosa
do silogismo típico mas que, mesmo assim são formas válidas.

Entimema

Trata-se de um argumento em que uma ou mais proposições estão subentendidas. Por


exemplo:

«Todo metal é corpo, logo o chumbo é corpo».

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Neste caso, fica subentendida a premissa "todo chumbo é metal". Passando para a
forma silogística:

«Todo metal é corpo.


Todo chumbo é metal.
Todo chumbo é corpo.»

Veja outro exemplo:

«Se estiver chovendo, eu levarei meu guarda-chuva. Portanto, levarei meu guarda-
chuva»

Neste argumento, falta a premissa “Está chovendo.”

Mais um exemplo :

«Todo cavalo tem 4 pernas Ora, o quadrúpede tem 4 Pernas Logo, Cavalo é um
quadrúpede»

No dia-a-dia, usamos muitas formas como essa, pois as premissas faltantes são óbvias
ou implícitas e repeti-las pode cansar os ouvintes. Contudo, é comum haver confusão
justamente por causa de premissas faltantes.

Epiquerema

O epiquerema é um argumento onde uma ou ambas as premissas apresentam a prova


ou razão de ser do sujeito. Geralmente é acompanhada do termo porque ou algum equivalente.
Por exemplo:

«O demente é irresponsável, porque não é livre.»


Ora, Pedro é demente, porque o exame médico revelou ser portador de paralisia geral
progressiva.
Logo, Pedro é irresponsável.»

No epiquerema sempre existe, pelo menos, uma proposição composta, sendo que uma
das proposições simples é razão ou explicação da outra.

Polissilogismo

O polissilogismo é uma espécie de argumento que contempla vários silogismos, onde a


conclusão de um serve de premissa menor para o próximo. Por exemplo:

«Quem age de acordo com sua vontade é livre.


Ora, o racional age de acordo com sua vontade.
Logo, o racional é livre.
Ora, quem é livre é responsável.
Logo, o racional é responsável.
Ora, quem é responsável é capaz de direitos.
Logo, o racional é capaz de direitos.»

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Silogismo expositório

O silogismo expositório não é propriamente um silogismo, mas um esclarecimento ou


exposição da ligação entre dois termos, caracteriza-se por apresentar, como termo médio, um
termo singular. Por exemplo:

«Aristóteles é discípulo de Platão.


Ora, Aristóteles é filósofo.
Logo, algum filósofo é discípulo de Platão.»

Silogismo informe

O silogismo informe caracteriza-se pela possibilidade de sua estrutura expositiva poder


ser transformada na forma silogística típica. Por exemplo:

«A defesa pretende provar que o réu não é responsável do crime por ele cometido.
Esta alegação é gratuita. Acabamos de provar, por testemunhos irrecusáveis, que, ao
perpetrar o crime, o réu tinha o uso perfeito da razão e nem podia fugir às graves
responsabilidades deste acto.»

Este argumento pode ser formalizado assim:

«Todo aquele que perpetra um crime quando no uso da razão é responsável por seus
actos.
Ora, o réu perpetrou um crime no uso da razão.
Logo, o réu é responsável por seus actos.»

Sorites

O sorites é semelhante ao polissilogismo, mas neste caso ocorre que o predicado da


primeira proposição se torna sujeito na proposição seguinte, seguindo assim até que na
conclusão se unem o sujeito da primeira proposição com o predicado da última. Por exemplo:

«A Grécia é governada por Atenas.


Atenas é governada por mim.
Eu sou governado por minha mulher.
Minha mulher é governada por meu filho, criança de 10 anos.
Logo, a Grécia é governada por esta criança de 10 anos.»

(Temístocles)

Silogismo hipotético

Um silogismo hipotético contém proposições hipotéticas ou compostas, isto é,


apresentam duas ou mais proposições simples unidas entre si por uma cópula não verbal, isto
é, por partículas. As proposições compostas podem ser divididas em:

A) Claramente compostas: são aquelas proposições em que a composição entre duas


ou mais proposições simples são indicadas pelas partículas: e, ou, se ... então.

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- Copulativa ou conjuntiva: «a lua se move e a terra não se move». Nesse exemplo,


duas proposições simples são unidas pela partícula e ou qualquer elemento equivalente a essa
conjunção. Dentro do cálculo proposicional será considerada verdadeira a proposição que
tiver as duas proposições simples verdadeiras e será simbolizada como: p ∧ q (ou p.q, ou pq).

-Disjuntivas: «a sociedade tem um chefe ou tem desordem». Caracteriza-se por duas


proposições simples unidas pela partícula ou ou equivalente. Dentro do cálculo proposicional,
a proposição composta será considerada verdadeira se uma ou as duas proposições simples
forem verdadeiras e será simbolizada como: p ∨ q.

- Condicional: «se vinte é número ímpar, então vinte não é divisível por dois». Aqui,
duas proposições simples são unidas pela partícula se ... então. Dentro do cálculo
proposicional, essa proposição, será considerada verdadeira se sua consequência for boa ou
verdadeira, simbolicamente: p  q (ou p ⊃ q).

B) Ocultamente compostas: são duas ou mais proposições simples que formam uma
proposição composta com as partículas de ligação: salvo, enquanto, só.

- Exceptiva: «todos corpos, salvo o éter, são ponderáveis». A proposição composta é


formada por três proposições simples, sendo que a partícula salvo oculta as suas composições.
As três proposições simples componentes são: "todos os corpos são ponderáveis", "o éter é um
corpo" e "o éter não é ponderável". Também são exceptivos termos como fora, excepto, etc.
Essa proposição composta será verdadeira se todas as proposições simples forem verdadeiras.

- Reduplicativa: «a arte, enquanto arte, é infalível». Nessa proposição temos duas


proposições simples ocultas pela partícula enquanto. As duas proposições simples
componentes da composta são: «a arte possui uma indeterminação X» e «tudo aquilo que cai
sobre essa indeterminação X é infalível». O termo realmente também é considerado
reduplicativo. A proposição composta será considerada verdadeira se as duas proposições
simples forem verdadeiras.

- Exclusiva: «só a espécie humana é racional». A partícula só oculta as duas


proposições simples que compõem a composta, são elas: «a espécie humana é racional» e
«nenhuma outra espécie é racional». O termo apenas também é considerado exclusivo. A
proposição será considerada verdadeira se as duas proposições simples forem verdadeiras.

O silogismo hipotético apresenta três variações, conforme o conectivo utilizado na


premissa maior:

- Condicional: a partícula de ligação das proposições simples é se ... então.

«Se a água tiver a temperatura de 100°C, a água ferve.


A temperatura da água é de 100°C.
Logo, a água ferve.»

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Esse silogismo apresenta duas figuras legítimas:

a) PONENDO PONENS (do latim afirmando o afirmado): ao afirmar a condição


(antecedente), prova-se o condicionado (consequência).
«Se a água tiver a temperatura de 100°C, a água ferve.
A temperatura da água é de 100°C.
Logo, a água ferve.»

b) TOLLENDO TOLLENS (do latim negando o negado): ao destruir o condicionado


(consequência), destrói-se a condição (antecedente).
Se a água tiver a temperatura de 100°C, a água ferve.
Ora, a água não ferve.
Logo, a água não atingiu a temperatura de 100°C.

- Disjuntivo: a premissa maior, do silogismo hipotético, possui a partícula de ligação


ou.

«Ou a sociedade tem um chefe ou tem desordem.


Ora, a sociedade não tem chefe.
Logo, a sociedade tem desordem.»

Esse silogismo também apresenta duas figuras legítimas:

a) PONENDO TOLLENS: afirmando uma das proposições simples da premissa


maior na premissa menor, nega-se a conclusão.
«Ou a sociedade tem um chefe ou tem desordem.
Ora, a sociedade tem um chefe.
Logo, a sociedade não tem desordem.»

b) TOLLENDO PONENS: negando uma das proposições simples da premissa maior


na premissa menor, afirma a conclusão.
Ou a sociedade tem um chefe ou tem desordem.
Ora, a sociedade não tem um chefe.
Logo, a sociedade tem desordem.

- Conjuntivo: a partícula de ligação das proposições simples, na proposição composta,


é e. Nesse silogismo, a premissa maior deve ser composta por duas proposições simples que
possuem o mesmo sujeito e não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, ou seja, os
predicados devem ser contraditórios. Possui somente uma figura legítima, o PONENDO
TOLLENS, afirmando uma das proposições simples da premissa maior na premissa menor,
nega-se a outra proposição na conclusão.

«Ninguém pode ser, simultaneamente, mestre e discípulo.


Ora, Pedro é mestre.
Logo, Pedro não é discípulo.»

Dilema

O dilema é um conjunto de proposições onde, a primeira, é uma disjunção tal que,


afirmando qualquer uma das proposições simples na premissa menor, resulta sempre a mesma
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conclusão. Segundo Augusto Saraiva, o dilema é o argumento que tem, como premissa maior
uma proposição disjuntiva (duplo antecedente) e mostra, em seguida, que um mesmo
consequente se impõe, seja qual for o antecedente que se verifique.

Dado o seu carácter compulsivo, sua lógica aparentemente irrevogável, os autores


clássicos prestaram grande atenção a este argumento, e deixaram-nos dele exemplos que
perduram. Por exemplo:

«Se dizes o que é justo, os homens te odiarão.


Se dizes o que é injusto, os deuses te odiarão.
Portanto, de qualquer modo, serás odiado.»
Dilema da sentinela (que deixou passar o inimigo):

«Ou estavas no teu posto, ou não estavas.


Se estavas, pactuaste com o inimigo – és traidor.
Se não estavas, desertaste ante o inimigo – és cobarde.
Em qualquer dos casos mereces castigo.»
Dilema aos que negam a necessidade da filosofia (de Aristóteles):

«Ou a filosofia vale ou não vale a pena.


Se vale, deveis filosofar.
Se não vale, é necessário mostrar que não, e tereis de filosofar.
Num caso ou noutro, é indispensável filosofar.»

Dilema aos que teimam em casar (de Bias):

«Se vos casais, a vossa mulher será bela, ou não será.


Se é bela, tereis ciúmes.
Se não é, não lhe tereis amor.
De qualquer modo, não vos deveis casar.»

A validade do dilema depende de duas regras fundamentais:


1. A disjunção deve ser tal que não admita meio-termo, e não possa, portanto, ser
objectada. – Se a pessoa a quem se dirige o dilema pode alegar outra hipótese, o argumento
perde, como se pode bem de ver, o carácter dilemático.
Obs.: A dificuldade na observância desta regra resulta de que é extremamente improvável
poder reduzir-se a uma disjunção de dois casos o número de hipóteses possíveis. Assim, ao dilema de
Bias pode objectar-se:
a) Que a extrema beleza e a extrema fealdade são absolutamente raras e susceptíveis de
infindas gradações (o que torna artificiosa a disjunção).
b) Que a apreciação do belo e do feio é eminentemente subjectiva.
c) Que há outras qualidades, além da beleza, susceptíveis de tornar a mulher atraente e digna
de estima do homem.
d) Que o amor não arrasta inevitavelmente o ciúme, e que este depende menos de ser, ou não,
a mulher bela, do que de ter ou não o homem confiança em si próprio.

2. Que só um consequente seja possível, de modo que o dilema não possa ser
retorquido. – Os gregos, que muito apreciavam os torneios dialécticos, legaram-nos vários
exemplares de dilemas retorquíveis. Eis um desses:
Protágoras, o mestre, e Evatlo o discípulo, contrastaram entre si que este só pagaria as suas lições de
retórica (a advocacia do tempo), no caso de ganhar a primeira causa em que participasse. Ora aconteceu que

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Evatlo, jovem endinheirado, findas que foram as lições passou a adiar indefinidamente a sua intervenção no foro.
Protágoras ameaça processá-lo. Então o ágil discípulo lança ao mestre o dilema seguinte:

«Ou o tribunal me absolve ou me condena.


Se me absolve, cumpro a decisão do juiz, e não pago.
Se me condena, evoco o nosso contrato e não pago.
De qualquer modo, não pagarei.»

Ao que Protágoras teria retorquido:

«Ou o tribunal te absolve, ou te condena.


Se te absolve, ganhas a tua primeira causa, e pagas como contratámos.
Se te condena, pagas, de acordo com a decisão do juiz.
Em qualquer dos casos, pagarás.»

Nota final:

Depois de nos termos debruçado sobre estes importantíssimos temas sobre o capítulo
da lógica e argumentação, o professor lança o apelo a todos vós, caros estudantes do Colégio
Estoril, no sentido de doravante observarem e porem em prática nos vossos discursos,
conversas ou debates, estes princípios. A lógica é, sem sobras de dúvidas, uma ciência que
vem disciplinar nosso modo de raciocinar de, por conseguinte, de expor as nossas ideias.

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