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JORGE
Nota ao estudante
Conforme promessa, eis aqui, nas presentes páginas, os conteúdos dos dois últimos itens (pontos 7.7 e 7.8)
respectivos ao capítulo VII do material de apoio elaborado pelo professor para acudir aos nossos seminários da
disciplina de Introdução à Filosofia.
Valores do Juízo
Não existe o verdadeiro ou o falso, antes do juízo. Antes do juízo estão os factos, que
não são verdadeiros ou falsos, mas reais ou possíveis. A chuva que cai lá fora não é falsa nem
verdadeira. O que é falso ou verdadeiro é o meu juízo sobre a chuva: chove ou não chove. A
lógica tradicional, baseada no princípio do terceiro excluído, considerou fundamentalmente
dois valores no juízo: o verdadeiro e o falso. Era, por isso, uma lógica dual, ou bivalente. As
lógicas actuais, consideradas polivalentes, admitem outros valores, tais como:
1. O assertório. – Um juízo diz-se assertório quando enuncia uma relação que, sendo
verdadeira (por exemplo “são 12 horas”), podia conceber-se como falsa (por exemplo “é
falso que sejam 12 horas”). O juízo falso (contrário à realidade) constitui o oposto do
assertório (conforme a realidade)
2. O apodíctico. – Um juízo diz-se apodíctico quando enuncia uma relação que não só
é verdadeira, mas que seria ilógico considerar falsa (por exemplo “duas coisas iguais a uma
terceira são iguais entre si”). O oposto do apodíctico (fundado nas leis da lógica) é o
absurdo, que contradiz a lógica (por exemplo se se afirma que duas coisas iguais a uma
terceira não são iguais entre si).
3. O problemático. - Um juízo diz-se problemático se enuncia uma relação possível,
presumida como verdadeira, mas não afirmada como expressamente verdadeira (por exemplo
“devem ser 12 horas”; “talvez ainda hoje chova”).
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Espécies de juízos
Pelo facto de o juízo ser a mais directa expressão do pensamento, e porque este é
susceptível de captar grande variedade de relações (e exprimi-las de diversos modos),
compreende-se que sejam múltiplas as formas possíveis do juízo. Aqui no nosso manual
mencionaremos apenas as mais importantes:
1. Juízos de experiência. – são o acto pelo qual o espírito afirma o que as coisas são,
ou não são, e baseiam-se directamente nas nossas percepções. Ex.: “Os dias sucedem-se às
noites”; “O Sol ilumina a Terra”; “A maré está baixa”; “O açúcar é doce”.
2. Juízos de raciocínio. – são juízos que advêm em consequência de outros juízos. E.:
“A Terra move-se. A sucessão dos dias e das noites deve-se ao movimento de rotação da
terra”. “O mercúrio sobe no termómetro por efeito da elevação da temperatura”.
3. Juízos predicativos. – são juízos compostos de três elementos, nomeadamente o
sujeito, o predicado e o verbo ser, que une ou liga os dois primeiros. Este tipo de juízo
obedece ao esquema S é P.O juízo predicativo pode ser interpretado em compreensão ou em
extensão. Na interpretação em compreensão, o sujeito é pensado como um ser, ou conjunto de
seres, e o predicado como propriedade ou característica do sujeito (juízo de inerência). Na
interpretação em extensão, o sujeito é pensado como um elemento, ou conjunto de elementos,
e o predicado como classe a que esse elemento ou conjunto de elementos pertence ou
pertencem (juízo de inclusão).
Quando afirmo que «os insectos são artrópodes», ao mesmo tempo que os incluo,
como elementos, no conjunto dos artrópodes (interpretação em extensão), penso em certas
características (patas articuladas, etc.) inerentes ao conjunto. Assim, podemos afirmar que
existe pois íntima correlação entre os aspectos extensivo e compreensivo do juízo.
Na prática, porém, e segundo as preferências, aquele sentido de correlação perde-se, e
cada um pensa o juízo, em compreensão ou em extensão, segundo a óptica que lhe interessa.
Seja o juízo: «a Domingas casou-se». O Instituto de Estatística, onde as pessoas estão
classificadas em casadas, solteiras, divorciadas, etc., limita-se a subtrair um elemento ao
conjunto das solteiras, que adicionará ao das casadas. A estatística, no caso, pensa o juízo em
extensão. À jovem recém-casada interessa mais é o seu novo estatuto pessoal, a promoção que
lhe adveio, a alegria que lhe enche a alma, etc. Indiferente à Estatística, a jovem pensa o seu
caso em compreensão.
Resumidamente, a interpretação em compreensão individualiza, distingue, qualifica. A
interpretação em extensão nivela, despersonaliza, quantifica. A Burocracia e a Estatística
operam fundamentalmente em extensão. A lógica da compreensão, ao invés, sublinha os
aspectos pessoais, concretos, humanos, do juízo.
4. Juízos de relação. – são aqueles em que dois ou mais seres, são pensados em
função uns dos outros. Na forma mais simples (relação binária) obedecem ao esquema x R y:
há uma relação entre x e y.
O juízo de relação não se limita (como o predicativo) a atribuir uma propriedade a um
sujeito, ou a incluir um elemento numa classe. Ele afirma que dois ou mais seres, reais e
distintos, se encontram em conexão uns com os outros. O ferro é mais denso do que o zinco
(relação de grandeza). Luanda fica situada entre o oceano Atlântico e a província do Bengo
(relação de posição). O calor dilata os corpos (relação de causalidade).
O juízo predicativo corresponde à fase descritiva do conhecimento (atribuição de
propriedades) ou à fase classificativa (inclusão em classes); ao passo que o juízo de relação,
pensando as coisas em função umas das outras, corresponde à fase interpretativa. É o tipo do
juízo científico, na fase evoluída da ciência.
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2. Qualidade de uma preposição é a propriedade que ela tem de ser afirmativa ou
negativa. Ora, porque a afirmação ou negação tanto podem incidir na cópula (afirmativa ou
negativa), como no atributo (positivo ou privativo), resulta que, em rigorosa lógica, podem
existir proporções afirmativas e negativas de várias espécies:
a) Proposições afirmativas de predicado positivo, do tipo (A é B): Ex.: António é
sensato, e obedecem à regra – toda a proposição equivale à sua afirmação.
b) Proposições negativas de predicado negativo, do tipo: (A não é não-B): Ex.:
António não é insensato, e obedecem à regra – a negação da negação equivale à afirmação.
c) Proposições negativas de predicado positivo, do tipo (A não é B): Ex.: António não
é sensato, e obedecem à regra – a negação da afirmação equivale à negação.
d) Proposições afirmativas de predicado negativo, do tipo (A é não-B): Ex.: António n
é insensato, e obedecem à regra – a afirmação da negação equivale à negação.
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a) Conversão.
Consideremos a proposição: «o peixe não é molusco». É claro que podemos obter uma
outra proposição, de significado equivalente, fazendo do sujeito predicado e do predicado
sujeito: «o molusco não é peixe». A isto se chama converter. Assim, converter é inferir de
uma proposição, uma outra, por inversão da ordem dos termos. A proposição dada chama-se
directa, a inferida chama-se conversa.
A regra a observar, na conversão das predicativas, é que os termos, ao transporem-se,
conservem a sua extensão. Caso contrário, a proposição conversa afirmaria coisa diferente da
directa.
b) Oposição.
Comparem-se os quatro tipos de proposições:
Todo o A é B
Nenhum A é B
Algum A é B
Algum A não é B
O que é que verificamos? Verificamos que têm o mesmo sujeito e o mesmo predicado,
mas diferem na quantidade (universal – particular), ou na qualidade (afirmação – negação).
Duas proposições que, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, diferem em
quantidade ou em qualidade, dizem-se opostas.
As proposições podem diferir (em quantidade e qualidade) por quatro modos. Daqui
resultam quatro formas de oposição:
1. Duas proposições que diferem em quantidade e qualidade são contraditórias:
A – Tudo o que brilha é ouro.
O – Algo que brilha não é ouro.
2. Duas proposições universais que diferem pela qualidade são contrárias:
A – Todo triângulo é polígono.
E – Nenhum triângulo é polígono.
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Oposição de proposições
São formas de inferência mediata a dedução (que pode ser silogística e matemática)
e a indução (que pode ser formal e amplificante).
Nas nossas lições, trataremos apenas da inferência mediata do tipo dedutivo, mais
concretamente do silogismo.
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O Silogismo1
Um silogismo (do grego antigo συλλογισμός, "conexão de ideias", "raciocínio";
composto pelos termos σύν "com" e λογισμός "cálculo") é um termo filosófico com o qual
Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições
declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas
premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles
em Analíticos anteriores.
Num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos
quais ela decorre como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a
consequência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor
(sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e
a premissa menor segundo a extensão dos seus termos.
Leis de oposição
1
Fontes de Pesquisa Utilizadas pelo Professor: Wikipédia, a enciclopédia livre. SARAIVA, Augusto. Filosofia, 7º Ano, 8ª Edição, Ed.
Educação Nacional, 1973, pp. 68-84.
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Leis das contraditórias. – Duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras, nem ambas falsas: se uma é verdadeira a outra é falsa, se uma é falsa a outra é
verdadeira. Exemplos de casos:
Se é verdade que toda a circunferência é redonda (A), não é verdade (é falso) que alguma
circunferência não é redonda (O).
Se é falso que tudo o que brilha é ouro (A), não é falso (é verdade) que algo que brilha não é
ouro (O).
Leis das contrárias. – Duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras: se uma é verdadeira, a outra é falsa; mas, de ser uma falsa, não pode inferir-se
que seja a outra verdadeira. Exemplos de casos:
Se é verdade que todo o peixe respira por guelras (A), é falso que nenhum peixe respire por
guelras (E) (legítima).
Se é falso que todo o triangulo é isóscele (A), é verdade que nenhum triângulo é isósceles (E)
(ilegítima).
Leis das subcontrárias. – Duas proposições subcontrárias não podem ser ambas
falsas: se uma é falsa, a outra é verdadeira; mas da verdade de uma, nada podemos inferir
quanto à outra, que pode ser verdadeira ou falsa. Exemplos de casos:
Se é falso que algum homem não foi à Lua (O), é verdade que algum homem foi à Lua (I)
(legítima).
Se é verdade que alguns homens são ignorantes (I), é falso que alguns homens não são
ignorantes (O) (ilegítima).
Se é verdade que alguns mamíferos são animais terrestres (I), é verdade que alguns
mamíferos não são animais terrestres (O) (ilegítima).
Se é verdade que todas as aves têm penas (A), é verdade que algumas aves têm penas (I)
(legítima).
Se é falso que alguns insectos são moluscos (I), é falso que todos os insectos são moluscos (A)
(legítima).
Se é falso que todos os homens fumam (A), é falso que alguns homens fumam (I) (ilegítima).
Se é verdade que alguns homens são honestos (I), é verdade que todos os homens são
honestos (A) (ilegítima).
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Em resumo:
Os quadros abaixo, em que as setas conduzem do dado ao inferido, resumem o conjunto das
inferências legítimas:
2 – Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.
4 – O termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez universalmente.
8 – De duas premissas particulares nada se pode concluir. (Estas regras reduzem-se às três
regras que Aristóteles definiu. O que se entende por “parte mais fraca” são as seguintes
situações: entre uma premissa universal e uma particular, a “parte mais fraca” é a particular;
entre uma premissa afirmativa e outra negativa, a “parte mais fraca” é a negativa.)
Um raciocínio dedutivo é composto por proposições. As proposições, por sua vez, são
compostas por termos. A maneira pela qual as proposições estão dispostas é chamada de modo
do silogismo. A posição que o termo médio assume no argumento (sujeito ou predicado),
origina a figura do silogismo.
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Existem quatro espécies de proposições: A, E, I, O. Entre estas proposições, é possível
64 combinações na estrutura do silogismo. Deste total, apenas 19 combinações são válidas,
sendo que as demais violam uma ou mais regras do silogismo. Estas 19 combinações
distribuem-se nas quatro figuras do silogismo.
Primeira figura
A primeira figura não muda, por ser perfeita. Aqui, o termo médio ocupa a posição de
sujeito na premissa maior e predicado na premissa menor.
1º Su-pré
Segunda figura
2º Pré-Pré
Terceira figura
Na terceira figura, o termo médio ocupa a posição de sujeito nas duas premissas.
3ºSu-Suoi
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Quarta figura
4ºPré-Su
(S) Conversão directa: troca-se o sujeito pelo predicado e vice-versa. Por exemplo:
(P) Conversão acidental: a premissa tem seu sujeito e predicado trocados entre si. Por
exemplo:
(M) Transposição de premissas: se uma premissa for maior, passa a ser menor e vice-versa.
(C) Redução por absurdo: da conclusão deste silogismo, elaboramos sua contraditória e
substituímos a premissa assinalada com a consoante C, e concluímos novamente.
Silogismos derivados
Silogismos derivados são estruturas argumentativas que não seguem a forma rigorosa
do silogismo típico mas que, mesmo assim são formas válidas.
Entimema
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Neste caso, fica subentendida a premissa "todo chumbo é metal". Passando para a
forma silogística:
«Se estiver chovendo, eu levarei meu guarda-chuva. Portanto, levarei meu guarda-
chuva»
Mais um exemplo :
«Todo cavalo tem 4 pernas Ora, o quadrúpede tem 4 Pernas Logo, Cavalo é um
quadrúpede»
No dia-a-dia, usamos muitas formas como essa, pois as premissas faltantes são óbvias
ou implícitas e repeti-las pode cansar os ouvintes. Contudo, é comum haver confusão
justamente por causa de premissas faltantes.
Epiquerema
No epiquerema sempre existe, pelo menos, uma proposição composta, sendo que uma
das proposições simples é razão ou explicação da outra.
Polissilogismo
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Silogismo expositório
Silogismo informe
«A defesa pretende provar que o réu não é responsável do crime por ele cometido.
Esta alegação é gratuita. Acabamos de provar, por testemunhos irrecusáveis, que, ao
perpetrar o crime, o réu tinha o uso perfeito da razão e nem podia fugir às graves
responsabilidades deste acto.»
«Todo aquele que perpetra um crime quando no uso da razão é responsável por seus
actos.
Ora, o réu perpetrou um crime no uso da razão.
Logo, o réu é responsável por seus actos.»
Sorites
(Temístocles)
Silogismo hipotético
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- Condicional: «se vinte é número ímpar, então vinte não é divisível por dois». Aqui,
duas proposições simples são unidas pela partícula se ... então. Dentro do cálculo
proposicional, essa proposição, será considerada verdadeira se sua consequência for boa ou
verdadeira, simbolicamente: p q (ou p ⊃ q).
B) Ocultamente compostas: são duas ou mais proposições simples que formam uma
proposição composta com as partículas de ligação: salvo, enquanto, só.
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Dilema
2. Que só um consequente seja possível, de modo que o dilema não possa ser
retorquido. – Os gregos, que muito apreciavam os torneios dialécticos, legaram-nos vários
exemplares de dilemas retorquíveis. Eis um desses:
Protágoras, o mestre, e Evatlo o discípulo, contrastaram entre si que este só pagaria as suas lições de
retórica (a advocacia do tempo), no caso de ganhar a primeira causa em que participasse. Ora aconteceu que
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Evatlo, jovem endinheirado, findas que foram as lições passou a adiar indefinidamente a sua intervenção no foro.
Protágoras ameaça processá-lo. Então o ágil discípulo lança ao mestre o dilema seguinte:
Nota final:
Depois de nos termos debruçado sobre estes importantíssimos temas sobre o capítulo
da lógica e argumentação, o professor lança o apelo a todos vós, caros estudantes do Colégio
Estoril, no sentido de doravante observarem e porem em prática nos vossos discursos,
conversas ou debates, estes princípios. A lógica é, sem sobras de dúvidas, uma ciência que
vem disciplinar nosso modo de raciocinar de, por conseguinte, de expor as nossas ideias.
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