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EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES

2020 / 2021

SEBENTA DE FILOSOFIA
MÓDULO III

Viver sem filosofia é exatamente como ter


os olhos fechados sem nunca procurar
abri-los.
(Descartes)
Professora: Sónia Mate

Apontamentos cedidos
aos alunos do 12.º ano

CIC 2012-13

Profª Sónia Mateus Pág. 2 Filosofia 11º (2014.15)


Módulo VI – Argumentação e lógica formal

LÓGICA:

A lógica estuda condições de validade do pensamento, abstraindo-se do seu conteúdo, ou seja,


procura explicitar os princípios que estão na base do pensamento coerente. Ciência que estuda os
argumentos (encadeamentos de proposições) para estabelecer regras de pensamento válido.
Os répteis são astronautas.
Os astronautas são vegetais.
Logo, os répteis são vegetais.

 LÓGICA ESPONTÂNEA:
A lógica espontânea é inata e natural ao Homem. É comum a todos nós e é fruto de elementos
culturais de cada povo. Brota do facto de o Homem seguir uma ordem incontrolável e impulsiva
para chegar ao conhecimento das coisas como são. Diz respeito ao caminho que a razão humana
segue para conhecer as coisas. Para pensarmos e comunicarmos com correção.

 UTILIDADE DA LÓGICA:
› Ajuda a estruturar o pensamento de forma precisa clara e coerente, tornando o discurso mais
convincente e facilita no processo comunicativo;
› Ensina a detetar erros e ambiguidades, o que permite distinguir argumentos válidos de
argumentos não válidos;
› Proporciona o desenvolvimento das capacidades argumentativas;
› Contribui para o desenvolvimento intelectual do indivíduo ao nível do pensamento abstrato e
contribui para a formação da autoconsciência;
› Oferece-nos os recursos necessários para pensarmos a realidade e podermos conhecer;
› Disponibiliza processos úteis para a investigação científica além de poder ser aplicada a novos
domínios como a informática, robótica, etc.

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 PRINCÍPIOS LÓGICOS:
1. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE:
Toda a coisa é idêntica a si mesma. Todo o ser é igual a si mesmo. Uma coisa é o que é. Por
exemplo, uma rosa é uma rosa. Este princípio obriga a que se mantenha o significado dos termos e
expressões.
2. PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO:
A mesma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e segundo a mesma perspetiva. É
impossível que o mesmo atributo pertença a não pertença ao mesmo sujeito ao mesmo tempo e
segundo a mesma relação.
3. PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO:
Uma coisa deve ser. Uma coisa é ou não é. Não há uma terceira possibilidade. (por exemplo, um
proposição é verdadeira ou falsa, não há outra possibilidade).

Estes princípios são pressupostos de todo o pensamento consistente. São princípios inatos da
razão, por isso são indemonstráveis. Sem eles, nenhuma verdade pode ser pensada ou
comunicada.

3.1. Distinção validade – verdade

 Para analisarmos a validade dos silogismos categóricos, é necessário que antes sejam
dados alguns esclarecimentos. Tais esclarecimentos dizem respeito:

a) À estrutura do juízo ou da proposição categórica;


b) À clarificação dos juízos ou proposições categóricas;
c) À quantificação das proposições categóricas.

1.1. A estrutura do juízo ou proposição categórica

 Consideremos o seguinte exemplo:


“Alguns filósofos são ateus.”

Se analisarmos a estrutura deste juízo, encontramos três elementos constituintes:

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O sujeito – Aquilo acerca do qual, neste caso, se afirma algo. O sujeito deste juízo é
“filósofos”.
O predicado – A qualidade ou característica que, neste caso, se afirma pertencer ao
sujeito. O predicado deste juízo é “ateus”.
A cópula – O elemento de ligação entre o sujeito e o predicado. É representado pelo verbo
ser (neste caso, na forma afirmativa – “é”).

 O juízo apresentado contém outro elemento: a partícula “Alguns”. Partículas como


“Alguns” e “Algum”, “Todo” e “Todos”, “Nenhum” e “Nenhuns” antecedem o sujeito e
quantificam-no, isto é, indicam se o predicado é atribuído a todos os membros da classe do
sujeito, se somente a uma parte deles ou se não é atribuído a nenhum deles. Estas
partículas recebem o nome de “Quantificadores”. Que mais informações retiramos da
análise do juízo acima exposto? O sujeito e o predicado exprimem uma relação entre as
duas classes de objectos: uma das classes (filósofos) é o sujeito; a outra classe de objectos
(ateus) é o predicado. Neste juízo afirma-se que alguns dos membros da classe filósofos
nomeada pelo sujeito estão incluídos na classe ateus nomeada pelo predicado.

 Aos juízos nos quais se diz, por exemplo, que alguns ou todos os membros da classe
nomeada pelo sujeito se incluem ou não se incluem na classe representada pelo predicado
dá-se o nome de juízos ou proposições categóricas. São esses os juízos a que iremos dar
mais atenção.

1.2. Classificação dos juízos ou proposições categóricas

 Como no juízo categórico a relação entre sujeito e predicado é uma relação ou de uma
inclusão ou de exclusão entre duas classes de objectos, importa esclarecer e
aprofundar dos aspectos dos juízos: a sua quantidade e a sua qualidade.

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1.2.1. As proposições segundo a quantidade: universalidade, particularidade.

 Classificar os juízos ou proposições segundo a quantidade é classificá-los segundo a


extensão em que é tomado o sujeito. Se a proposição englobar toda a extensão do
sujeito, uma parte indeterminada, teremos, respectivamente, proposições universais e
particulares.
 Proposições ou juízos universais:
Uma proposição universal é aquela na qual o sujeito representa todos os membros de
uma classe, ou seja, é tomado em toda a sua extensão.

Proposições como:
“Todo o homem é mortal.”
“As galinhas não têm dentes.”
“Os triângulos são triláteros.”

São universais porque se referem, respectivamente, a todos os homens, a todas as galinhas e a


todos os triângulos.

Na forma padrão, as proposições universais apresentam quantificadores universais, que são:


“Todo(s)” e “Nenhum(ns)”. Quando não surgem nessas forma e para tornar clara a universalidade
do juízo, deve-se apresentá-lo explicitando o quantificador. Assim, das proposições indicadas falta
clarificar o quantificador das duas últimas acima mencionadas:

“As galinhas não têm dentes” significa “nenhuma galinha é ave possuidora de dentes”.

“Os triângulos são triláteros” significa “Todos os triângulos são triláteros”.

 Proposições ou juízos particulares:


Uma proposição particular é aquela na qual o sujeito representa apenas uma parte não
determinada dos membros de uma classe, ou seja, é tomado em parte indeterminada da
sua extensão.
Os juízos “Alguns alunos são estudiosos.”, “Há estudantes preocupados.” e “Pelo menos,
estes lápis são azuis” são juízos particulares, porque neles o sujeito só designa,
respectivamente, alguns alunos, alguns estudantes e alguns lápis.

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A particularidade do juízo clarifica-se apresentando o juízo na forma-padrão: alguns – sujeito –
cópula – predicado. Assim, de “Há estudantes preocupados” obtemos “Alguns estudantes são
pessoas preocupadas”; de “Pelo menos estes lápis são azuis” obtemos “Alguns lápis são azuis”.

1.2.2. As proposições segundo a qualidade: proposições afirmativas e proposições negativas.

 A qualidade de uma proposição é a propriedade que ela tem de ser afirmativa ou negativa.
 Uma proposição é negativa quando a cópula indica que o predicado não convém ao
sujeito.
Ex: O homem não é um animal rastejante.
Contudo, deve ter-se em conta que nem sempre a cópula determina expressamente que o
juízo é negativo. É o caso da proposição
“Nenhum homem é réptil.”
Esta proposição é negativa, embora a cópula possa criar a ilusão do contrário. Contudo,
tudo se torna simples porque o quantificador “Nenhum” é um “quantificador negativo”.
Afirmar que nenhum homem é réptil significa que de todo e qualquer homem só podemos
dizer que não é réptil.
 Uma proposição é afirmativa quando a cópula indica que o predicado convém ao sujeito.
Ex: O homem é um animal bípede.
Isto significa que todos os homens são animais bípedes.

TIPOS DE PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

TIPO A – Universal afirmativas – O predicado refere-se a todos os membros da classe


representada pelo sujeito.
Os homens são inteligentes. FORMA-PADRÃO
Não há homem que não seja inteligente.
Tudo o que é homem é também
inteligente.
TODOS OS HOMENS SÃO INTELIGENTES.
Todos os homens são alguns dos seres
dotados de inteligência.
Qualquer homem é inteligente.
TIPO E – Universais negativas – Nega-se um determinado predicado a todos os

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membros da classe representada pelo sujeito.
Não há ser humano que seja réptil. FORMA-PADRÃO
Não existem homens que sejam répteis.
Há coisas que são répteis, mas nenhum
homem é uma delas.
NENHUM HOMEM É RÉPTIL.
Tudo o que é humano não é réptil.
Ser réptil não é uma característica do ser
humano.
TIPO I – O predicado atribui-se somente a uma parte indeterminada dos membros da
classe representada pelo sujeito.
Existem homens inteligentes. FORMA-PADRÃO
Há homens que são inteligentes.
Pelo menos há um homem que é
inteligente. ALGUNS HOMENS SÃO INTELIGENTES.

Certos seres são homens e também são


inteligentes
TIPO O – Nega-se um determinado predicado a alguns membros da classe
representada pelo sujeito.
Há homens que não são belos. FORMA-PADRÃO
Nem todos os homens são belos.
Há seres que são homens, mas não são
belos.
ALGUNS HOMENS NÃO SÃO BELOS.
Há pelo menos um homem que não é
belo.
Existem homens que não são belos.

1.2.3. Como descobrir a quantidade do predicado das proposições categóricas.

a) Comecemos com uma proposição do tipo A (universal afirmativa):

Todos os homens são mortais.

Está na forma-padrão e o quantificador (“Todo”) indica que o sujeito está tomado em toda a sua
extensão, inclui todos os membros da classe “homem”. O sujeito é, pois, universal. E o predicado
“mortal”? Está quantificado particularmente. Com efeito, nem todos os mortais são homens.

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Assim, Todos os homens são mortais equivale a dizer que Todos os homens são alguns dos
mortais. O predicado mortal é, assim, particular.

b) Continuemos com uma proposição do tipo I (particular afirmativa):

Alguns homens são pessoas cultas.

O sujeito já está quantificado particularmente. Qual a extensão ou a quantidade do predicado?


Está quantificado particularmente. Com efeito, não se refere a toda e cada uma das pessoas
cultas, mas somente a algumas. Fala-se de algumas pessoas cultas como sendo algum dos
membros da classe “homens”.

c) Vejamos o que se passa no que respeita ao predicado de uma proposição tipo E (universal
negativa):

Nenhum homem é pássaro.

O predicado está quantificado universalmente. A proposição diz de todo e qualquer pássaro que
não é membro da classe “homem”: nega-se a todos os pássaros a inclusão na espécie humana
(Não há pássaro nenhum que seja homem).

d) Terminemos com uma proposição do tipo O (particular negativa):

Alguns homens não são pessoas belas.

O sujeito está tomado em parte indeterminada da sua extensão. É particular. Contudo, o


predicado está tomado em toda a sua extensão, ou seja, está quantificado universalmente. A
proposição diz de todas as pessoas belas que há alguns homens que o não são: todos os membros
da classe “pessoas belas” não são alguns dos membros da classe “homem”.

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PROPOSIÇÕES EXTENSÃO DO SUJEITO EXTENSÃO DO PREDICADO
A – Os gatos são mamíferos. Distribuído Não distribuído

I – Alguns jovens são Não distribuído Não distribuído.


estudiosos.
E – Os planetas não são Distribuído Distribuído
asteróides.
O - Algumas bebidas não são Não distribuído Distribuído
alcoólicas.

 No primeiro exemplo, proposição de tipo A, universal afirmativa, constatamos que o sujeito


«gatos» está distribuído, isto é, está tomado em sentido universal; mas o predicado não está
distribuído, porque o termo «mamíferos» está tomado em sentido particular, já que os gatos são
alguns mamíferos, isto é, não esgotam a classe dos mamíferos, há mais mamíferos do que gatos.
 No segundo exemplo, proposição de tipo I, particular afirmativa, o termo sujeito «jovens»
não está distribuído, trata-se apenas de «alguns jovens», e o mesmo se passa com o predicado: o
predicado não está distribuído, pois a classe dos estudiosos engloba alguns jovens, mas também
muitas outras pessoas, tais como os adultos, dos dois sexos e até crianças.

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 No terceiro exemplo, proposição de tipo E, universal negativa, o sujeito está em sentido
universal, pois está a referir-se o universo total dos planetas. Também o predicado está
distribuído, pois os planetas estão completamente excluídos do conjunto total de asteróides.
 No quarto exemplo, proposição de tipo O, particular negativa, o sujeito da proposição está
tomado em sentido particular, dado que só estamos a referir algumas bebidas; mas, em
contrapartida, o predicado está distribuído porque dizemos que algumas bebidas estão excluídas
de todo o conjunto das bebidas alcoólicas.
 A partir destes exemplos, podemos inferir a regra geral da quantificação do predicado: nas
proposições afirmativas, quer estas sejam particulares quer sejam universais (A ou I) o predicado
está sempre tomado em sentido particular. Nas proposições negativas, quer sejam universais quer
sejam particulares (e ou O), o predicado está sempre tomado em sentido universal.

Definição de silogismo categórico: identificação do termo maior, menor e médio de um


silogismo categórico.

O QUE É UM SILOGISMO CATEGÓRICO?

Consideremos o seguinte esquema e façamos a sua leitura:


SILOGISMOS

PREMISSA MAIOR Todos os gatos são mamíferos

PREMISSA MENOR Os siameses são gatos.

CONCLUSÃO Logo, os siameses são mamíferos.

 Um silogismo categórico é um raciocínio dedutivo constituído por três proposições: as duas


primeiras recebem o nome de premissas e a terceira, que delas deve derivar necessariamente,
tem o nome de conclusão.
 Um silogismo categórico contém três termos, cada um dos quais aparece nas diferentes
posições duas vezes.

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- O termo médio: é aquele que aparece em ambas as premissas, mas não aparece nem deve
aparecer na conclusão.
- O termo maior: é o predicado da conclusão, aparecendo também na premissa maior (contudo, é
o facto de ser predicado da conclusão que permite identificá-lo como maior).
- O termo menor: é identificado como sujeito da conclusão (a essa função deve o nome de termo
menor) e aparece também na premissa menor.

 Num silogismo categórico, os termos estão antes e imediatamente depois da cópula. A


classificação dos termos é efectuada tendo em conta a função que desempenham no silogismo.
 Assim, na proposição Alguns homens são construtores de grandes pontes, “homens” e
“construtores de grandes pontes” são os termos.
 Uma premissa é classificada em função dos termos nela presentes. Assim, dá-se o nome de
premissa maior à proposição que contém os termos maior e médio e de premissa menor à
proposição que contém os termos menor e médio.
 Aos silogismos categóricos pode ser dada numa forma simbólica substituindo os termos
por letras. Assim, simboliza-se o silogismo seguinte:

Todos os jovens são felizes.


Todos os futebolistas são jovens.
Logo, todos os futebolistas são felizes.

Desta forma: Todos os M são P.


Todos os S são M.
Logo, Todos os S são P.
M= termo médio.
S= sujeito.
P= predicado.

TERMO

Um termo é a expressão de um conceito. Um termo pode ser constituído por uma só palavra
– soldado,
Profª Sónia Mateus por exemplo – ou por várias como,
Pág. 12 por exemplo, domador de leões.
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REQUISITOS ESTRUTURAIS DO SILOGISMO CATEGÓRICO

1. Composto por três proposições categóricas.

2. Contém três termos diferentes (maior, médio e menor).

3. Cada um aparece duas vezes.

4. Cada um aparece uma única vez em cada uma das proposições.

Regras para determinar a validade dos silogismos categóricos.

1. O silogismo categórico só pode conter três termos (maior, médio e menor) e cada termo deve
ter o mesmo significado ao longo do argumento.

 Esta regra é óbvia, porque está já contida na própria definição de silogismo (todo o
silogismo categórico relaciona normalmente apenas duas e só duas premissas e três e apenas três
termos). De facto, como o termo médio tem de aparecer nas duas premissas e como cada
premissa tem apenas dois termos, o termo médio não pode relacionar mais do que dois termos.
 Falta-se a esta regra e, portanto, gera-se uma falácia, quando se dá à mesma palavra
significados diferentes.

SILOGISMO QUE VIOLA ESTA REGRA SILOGISMO QUE CUMPRE ESTA REGRA
Todo o cão ladra. Todo o cão ladra.
Cão é uma constelação. Bobby é um cão.
Logo, uma constelação ladra. Logo, Bobby ladra.

A palavra cão é usada em dois sentidos. O silogismo contém três termos

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É usada para designar conceitos
diferentes e, por isso, termos
diferentes. Este silogismo tem portanto
quatro termos.

2. O termo médio só pode aparecer nas premissas.

3. Os termos maior e menor não podem ter, na conclusão, maior extensão do que nas premissas
(estes termos devem estar distribuídos nas premissas se estiverem distribuídos na conclusão, ou
seja, não podem ser universais na conclusão e particulares nas premissas).

SILOGISMO QUE VIOLA ESTA REGRA SILOGISMO QUE CUMPRE ESTA REGRA
Todos os gatos são mamíferos. Todos os mamíferos são gatos.
Nenhum cão é um gato. Nenhum cão é gato.
Logo, nenhum cão é mamífero. Logo, nenhum cão é mamífero.

Há um problema com o termo maior Apesar de ter premissa e conclusão


(mamíferos). Na premissa maior é falsas, o silogismo está bem construído, é
particular. O predicado de proposição válido.
afirmativa é particular. Todos os gatos
são mamíferos não quer dizer que tudo o
que é mamífero é gato (cães, ursos e
homens, por exemplo, são mamíferos).
Quer dizer somente que todos os gatos
são alguns dos mamíferos. Na conclusão,
mamífero é um termo universal porque é
o predicado de uma proposição negativa.
Nenhum cão é mamífero quer dizer: tudo
o que é mamífero não faz parte da classe
dos cães. O termo mamífero tem pois
mais extensão na conclusão do que na
premissa.

Profª Sónia Mateus Pág. 14 Filosofia 11º (2014.15)


 Este silogismo comete a falácia
(erro) da ilícita maior.

Todos os romanos são habitantes de Todos os romanos são habitantes de


Roma. Roma.
Todos os romanos são italianos. Todos os italianos são romanos.
Logo, todos os italianos são habitantes Logo, todos os italianos são habitantes
de Roma. de Roma.

Há um problema com o termo menor Neste caso, o termo menor não tem mais
(italianos). Na premissa menor diz-se que extensão na premissa do que na
alguns dos italianos são romanos, mas na conclusão. É universal em ambas. Note
conclusão fala-se de todos os italianos. que só quando o termo menor é
Ora, só se pode concluir que alguns particular na premissa e universal na
italianos são habitantes de Roma porque conclusão é que o silogismo é incorrecto.
nem todos os italianos são romanos. Pode ser universal na premissa e na
Assim, o termo menor tem mais extensão conclusão e também universal na
na conclusão do que nas premissas. premissa particular na conclusão.
 Este silogismo comete a falácia da
ilícita menor.

4. O termo médio deve ter extensão universal pelo menos em uma premissa ou o termo médio
deve estar distribuído pelo menos uma vez.

SILOGISMO QUE VIOLA ESTA REGRA SILOGISMO QUE CUMPRE EESTA REGRA
Todos os homens são seres humanos. Todos os seres humanos são homens.
Todas as mulheres são seres humanos. Todas as mulheres são seres humanos.
Logo, todas as mulheres são homens. Logo, todas as mulheres são homens.

Mesmo que seja verdade que todos os


homens são seres humanos e que todas

Profª Sónia Mateus Pág. 15 Filosofia 11º (2014.15)


as mulheres são seres humanos, do facto
de homens e mulheres pertencerem à
mesma classe (seres humanos) não deriva
que sejam idênticos. Em nenhuma
premissa se diz que toda a classe dos
seres humanos é constituída ou por
homens ou por mulheres. Seres humanos
é predicado particular em ambas as
premissas e devia ser universal pelo
menos uma delas.
 Este silogismo comete a falácia
do termo médio não estar distribuído
pelo menos uma vez.

5. Premissas afirmativas pedem conclusão afirmativa.

SILOGISMO QUE VIOLA ESTA REGRA SILOGISMO QUE CUMPRE ESTA REGRA
Todos os homens são mortais. Todos os homens são mortais.
Todos os mortais são falíveis. Todos os mortais são falíveis.
Logo, alguns seres falíveis não são Logo, alguns seres falíveis são homens.
homens.

Extrair uma conclusão negativa de


premissas afirmativas é cair em
contradição negando uma relação que se
afirmou nas premissas. A conclusão é
válida seria: “Alguns seres falíveis são
homens”. Note-se que o silogismo
cumpre várias regras: o termo médio está
distribuído pelo menos numa premissa; o
termo distribuído na conclusão (homem)

Profª Sónia Mateus Pág. 16 Filosofia 11º (2014.15)


também está distribuído na premissa
maior. Mas é inválida porque não
podemos com base no que é dado nas
premissas (todos os homens são mortais)
inferir conclusivamente nem que há
algumas coisas falíveis que não são
homens nem que não há algumas coisas
falíveis que não são homens.

6. De duas premissas negativas nada se pode concluir.

De dois termos que não têm relação com um terceiro não se pode deduzir que tenham ou não
uma relação entre si.

SILOGISMOS QUE VIOLAM ESTA REGRA SILOGISMOS QUE CUMPREM ESTA


REGRA
Nenhum cão é animal de sangue frio. Todos os cães são animais de sangue
Nenhum animal de sangue frio é capaz frio.
de ladrar. Nenhum animal de sangue frio é capaz
Logo, nenhum cão é capaz de ladrar. de ladrar.
Logo, nenhum cão é capaz de ladrar.
Não se consegue estabelecer uma relação
necessária entre os termos do
argumento.

7. De duas premissas particulares nada se pode concluir.

SILOGISMOS QUE VIOLAM ESTA REGRA SILOGISMOS QUE CUMPREM ESTA


REGRA
Alguns cães são ruidosos. Todos os cães são ruidosos.
Alguns cães são animais castanhos. Alguns cães são animais castanhos.
Logo, alguns animais castanhos são Logo, alguns animais castanhos são
ruidosos. ruidosos.

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A violação desta regra implica sempre a
violação de outra regra. Neste caso viola-
se a regra que exige que o termo médio
seja universal em pelo menos uma
premissa. De facto, o termo médio tanto
da primeira como da segunda premissa
fala apenas de alguns cães.

8. A conclusão segue sempre a parte mais fraca: será negativa se houver uma premissa negativa
e particular se houver uma premissa particular.

SILOGISMOS QUE VIOLAM ESTA REGRA SILOGISMOS QUE CUMPREM ESTA


REGRA
Nenhum amigo do José é japonês. Nenhum amigo do José é japonês.
Todos os alunos deste colégio são Todos os alunos deste colégio são
amigos do José. amigos do José.
Logo, todos os alunos deste colégio são Logo, nenhum aluno deste colégio é
japoneses. japonês.

A segunda premissa é afirmativa, mas a


primeira é negativa, pelo que a conclusão
para seguir a parte mais fraca deve ser
negativa.

Todos os tigres são mamíferos. Todos os tigres são mamíferos.


Alguns animais são tigres. Alguns animais são tigres.
Logo, todos os animais são mamíferos. Logo, alguns animais são mamíferos.

As premissas são afirmativas – a maior é


universal e a menor é particular –, pelo
que seguir a parte mais fraca significa que

Profª Sónia Mateus Pág. 18 Filosofia 11º (2014.15)


a conclusão deve ser particular.

 RESUMO DAS REGRAS DO SLOGISMO CATEGÓRICO: 1. Só pode ter três termos; 2. O termo
médio só nas premissas deve estar e tem de ser universal numa delas; 3. Os outros termos não
podem ser mais extensos na conclusão do que nas premissas; 4. Premissa afirmativa implica
conclusão afirmativa; 5. De duas premissas particulares ou de duas negativas nada se pode
concluir validamente; 6. Negativas e particulares são a parte mais fraca, mas a conclusão deve
segui-las.

 REDUZINDO AS REGRAS DO SILOGISMO A TRÊS: 1. O termo médio tem de ser universal


pelo menos uma premissa; 2. Se um termo – o maior ou o menor – é universal na conclusão tem
de ser universal em pelo menos uma das premissas; 3. O número de proposições negativas deve
ser o mesmo nas premissas e na conclusão.

REGRAS DO SILOGISMO CATEGÓRICO


REGRAS VIOLAÇÃO DA REGRA CUMPRIMENTO DA REGRA
1. Só pode conter três Todo o touro tem chifres. Todo o touro é animal que tem chifres.
termos e cada termo deve Touro é um signo. Lampeiro é um touro.
ter o mesmo significado ao Logo, um signo tem chifres. Logo, Lampeiro é animal que tem chifres.
longo do argumento.
2. O termo médio só pode
surgir nas premissas.
3. Os termos maior e menor Todos os mortais são Todos os humanos são mortais.

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não devem ter maior humanos. Todos os psicólogos são humanos.
extensão na conclusão do Todos os humanos são Logo, todos os psicólogos são mortais.
que nas premissas (um psicólogos.
termo deve estar distribuído Todos os psicólogos são
nas premissas se estiver mortais.
distribuído pelo menos uma
vez).
4. O termo médio deve ter Todos os cães são animais. Todos os animais são cães.
extensão universal pelo Todos os gatos são animais. Todos os gatos são animais.
menos em uma premissa (o Logo, todos os cães são Logo, alguns cães são gatos.
termo médio deve estar gatos.
distribuído pelo menos uma
vez).
5. Premissas afirmativas Todos os brasileiros são Todos os brasileiros são americanos.
pedem (exigem) conclusão americanos. Todos os paulistas são brasileiros.
afirmativa. Todos os paulistas são Logo, todos os paulistas são americanos.
brasileiros.
Logo, alguns paulistas não
são americanos.
6. De duas premissas Nenhum português é Nenhum português é argentino.
negativas nada se pode argentino. Alguns lisboetas são argentinos.
concluir necessariamente. Nenhum lisboeta é argentino. Logo, alguns lisboetas não são portugueses.
Nenhum lisboeta é
português.
7. De duas premissas Alguns homens são Todos os homens são europeus.
particulares nada se pode europeus. Alguns homens são americanos.
concluir necessariamente. Alguns homens são Logo, alguns americanos são europeus.
americanos.
Logo, alguns americanos são
europeus.
8. A conclusão segue a parte Alguns alunos são mal- Todos os alunos são mal-comportados.
mais fraca: será negativa comportados. Alguns brasileiros não são mal-comportados.
havendo premissa negativa Alguns brasileiros não são Logo, alguns brasileiros não são alunos.
e particular havendo mal-comportados.
premissa particular. Logo, alguns brasileiros são
alunos.

Profª Sónia Mateus Pág. 20 Filosofia 11º (2014.15)


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