Você está na página 1de 13

MORFOSSINTAXE I

Nádia Castro
Predicação nominal e
complementos nominais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a relação entre as classes de palavras e suas funções


sintáticas.
„„ Reconhecer a relação entre morfologia e sintaxe.
„„ Analisar a construção do predicado nominal e seus papéis temáticos.

Introdução
Com a leitura deste capítulo, você vai compreender cada vez mais a
morfossintaxe. Você vai conhecer alguns aspectos referentes às classes
de palavras, sobretudo no contexto da predicação nominal e dos com-
plementos nominais.
Os objetivos estão centrados na determinação da relação entre as
classes de palavras e suas funções sintáticas; no estabelecimento da
relação entre morfologia e sintaxe e também na análise da construção dos
elementos que compõem o predicado nominal e seus papéis temáticos
na estruturação dos textos em língua portuguesa.

Classes de palavras e funções sintáticas


As classes de palavras, também denominadas categorias lexicais, são elementos
que pertencem ao léxico. Dessa forma, em língua portuguesa, são encontradas
dez diferentes classes de palavras. São elas:

„„ Substantivo
„„ Adjetivo
„„ Artigo
„„ Pronome
2 Predicação nominal e complementos nominais

„„ Numeral
„„ Verbo
„„ Advérbio
„„ Preposição
„„ Conjunção
„„ Interjeição

A classe de palavras denominada substantivo, por exemplo, é definida desta


forma por sua propriedade semântica de designar seres ou entidades. Pela
sua propriedade morfológica, apresenta determinação de flexão de gênero e
número e pela propriedade sintática ocupa o núcleo do sujeito e complementos.
Portanto, cada uma das categorias lexicais é denominada de acordo com os
três critérios: morfológico, semântico e sintático.
Nesta análise, vamos nos valer do critério sintático para a caracterização
das dez classes gramaticais. Logo, o substantivo é um termo determinado e
ocupa o núcleo de uma expressão, ou seja, é sintagma nominal. Os adjetivos,
como segunda classe lexical, é composta de termos determinantes, ou seja, é
representada por termos que qualificam o substantivo a que fazem referência,
portanto, concordam em gênero e número com ele.

Substantivo: termo determinado com posição de núcleo (N) de uma expressão


(sintagma nominal). Exemplo:

A bola (N) caiu.

Adjetivo: termo determinante do substantivo a que se refere; termos, estes, que


qualificam o substantivo e concordam em gênero e número com N. Exemplo:

A pequena (adjetivo feminino singular que determina o substantivo


feminino bola) bola caiu.

A terceira classe de palavras engloba outros termos determinantes, são


eles os artigos. Estes determinam ou indeterminam o substantivo (N) a que se
referem. Esta classe de palavras também concorda em gênero e número com
o núcleo do sintagma nominal. Em seguida, temos os pronomes, como quarta
classe de palavras. Estes itens especificam o substantivo, e nesta situação
são determinantes, ou substituem o substantivo, nesta situação passam a ser
termos determinados (BECHARA, 2005).
Predicação nominal e complementos nominais 3

Artigo: termo (in)determinante do substantivo; concorda em gênero e número.


Exemplo:

A (artigo feminino singular, determina o substantivo feminino bola)


bola (N) caiu.

Pronome: termo determinante do substantivo a que se refere; termo, este,


que qualifica o substantivo e concorda em gênero e número com N. Exemplo:

A minha (pronome feminino singular que determina o substantivo fe-


minino bola) pequena bola caiu.

Pode substituir o substantivo. Exemplo: Ela caiu.


Os verbos como classe de palavras, do ponto de vista sintático, são predi-
cadores que selecionam e relacionam os termos da oração. Mas, podem ser,
também, de ligação, e expressar noções gramaticais de tempo, modo, aspecto
número e pessoa. Dessa forma, junto com o nome, compõem a predicação.
Após os verbos, temos o advérbio como sétima classe lexical. Como termos
determinantes, os advérbios especificam a significação do termo a que se
referem (BECHARA, 2005).

Verbo: predicadores (selecionam e relacionam os termos da oração) ou de


ligação (expressam noções gramaticais). Exemplos:

A bola quebrou (verbo predicador) o vidro.


A bola é (verbo de ligação) pesada.

Advérbio: termo determinante do substantivo a que se refere; este tipo de


classe, especifica a significação do termo a que se refere. Exemplo:

A bola furou ontem (noção de tempo para o verbo furar).

A preposição, como classe de palavras, é identificada pela sua característica


sintática de conexão dos elementos da oração, subordinando-os. A conjunção
também conecta termos, mas pode subordinar ou coordenar elementos. Já a
classe lexical composta pelas interjeições tem função sintática de frase, pois
apresenta sentido completo (BECHARA, 2005).
4 Predicação nominal e complementos nominais

Preposição: conecta e subordina elementos da oração. Exemplo:

A bola da Joana furou. (preposição de + artigo a = da, preposição que


subordina o elemento bola à Joana)

Conjunção: responsável por conectar termos, mas pode subordinar ou coor-


denar os elementos. Exemplos:

Ela perdeu a bola porque foi desatenta. (conjunção subordinativa adver-


bial causal; logo, a causa de perder a bola foi a desatenção)
Julia gosta de jogar bola, mas também de ler. (conjunção coordenativa:
Julia gosta de jogar bola/Julia gosta de ler; logo, conjunção coordenativa
aditiva)

Interjeição: estes termos apresentam sentido completo, logo, têm função


sintática de frase. Exemplo:

Puxa! A bola furou! (puxa = interjeição que sintetiza uma frase exclamativa)

Conforme você pode identificar, as classes de palavras em língua portu-


guesa são representadas por dez grupos específicos. Cada um deles apresenta
determinada classificação conforme critérios semânticos, morfológicos e
sintáticos. Nesta etapa de leitura, o estudo está concentrado na análise sintática
das classes lexicais. Certo?
Com relação às funções sintáticas desempenhadas pelas diferentes classes
gramaticais temos algumas definições. Os substantivos exercem por excelência
a função de sujeito (ou núcleo do sujeito) da oração e, no domínio da cons-
tituição do predicado, podem exercer função de objeto direto, complemento
relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial.
Os adjetivos, como classe de palavras que se relaciona diretamente com
os substantivos, podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal
ou de predicativo. Como predicativo ele é necessário para completar o sentido
da oração. Observe:

O dia está bonito. (O dia está . Neste caso, o adjetivo funciona


como predicativo, completa o sentido da oração e qualifica o substantivo
dia.)
Predicação nominal e complementos nominais 5

O dia belo começava com o raiar no horizonte. (Neste caso, o adjetivo


desempenha função sintática de adjunto adnominal, não sendo um
termo necessário — O dia começava com o raiar no horizonte — e
qualifica o substantivo dia.)

Os artigos, como terceira classe de palavras, conforme ordem de apresen-


tação neste material, são termos que sintaticamente desempenham função de
adjunto adnominal, uma vez que sempre se referem a um substantivo — ou
a uma palavra por ele substantivada — e indicam seu gênero e seu número.
Exemplo:

Ninguém entendeu o porquê dessa fúria.

O pronomes, como classe de palavras que reúne termos que especifi-


cam e que substituem o substantivo, podem desempenhar diversas funções
quando estabelecidas relações sintáticas entre os elementos que compõem as
orações. Entre elas, podem desempenhar papel de sujeito. Por exemplo, em
uma estrutura como:

Eles chegaram cedo.

Mas o pronome também pode ser classificado sintaticamente como objeto


indireto. Exemplo:

Não fale nada para ele.

E também como predicativo do sujeito:

As culpadas foram elas.

Em tempo: os pronomes podem desempenhar função sintática de adjunto


adnominal. Exemplo:

Muitos viajantes desistiram da viagem por causa do preço do dólar.

Com relação aos numerais, é preciso observar, primeiramente, se eles estão


substituindo ou acompanhando o substantivo. Nas orações em que o numeral
é substantivo, ele pode desempenhar as mesmas funções do substantivo.
Logo, pode ser sujeito, objeto direto, complemento relativo, objeto indireto,
6 Predicação nominal e complementos nominais

predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial. Nesta primeira situação,


temos o seguinte exemplo de numeral substantivo:

Um é pouco e três é demais.

Agora, o numeral adjetivo, como aquele que acompanha um substantivo, a


função sintática possível é de adjunto adnominal. Neste segundo caso, temos
o exemplo:

Duas pessoas compareceram à aula.

Os verbos, como uma extensa classe de palavras, desempenham função


sintática de núcleo do predicado verbal. Todas as orações são organizadas
em torno de um verbo (ou ausência de um) ou de uma locução verbal e o
verbo sempre faz parte do predicado. Logo, os verbos desempenham função
sintática de núcleo do predicado verbal. Nos casos dos verbos de ligação eles
não desempenham papel de núcleo do predicado. Neste caso, eles ligam dois
elementos da oração: o sujeito e o seu predicativo.
Advérbio desempenha na oração papel de adjunto adverbial. Estes termos
são de natureza nominal ou pronominal e se referem ao verbo, ou ainda, dentro
de um grupo nominal unitário, a um adjetivo ou um outro advérbio (nesse
caso como intensificador). Exemplo:

Maria é muito boa escritora. (o advérbio refere-se ao adjetivo boa)


Maria escreve muito bem. (o advérbio refere-se ao advérbio bem)

A preposição não desempenha papel sintático nas orações. Elas estabelecem


conexão entre elementos (próximo do descrito anteriormente para os verbos
de ligação). É por este fato que são classificadas como conectivas ou palavras
relacionais. Mas lembre-se de que as preposições são fundamentais para a
coesão textual. Além dessas, as conjunções também desempenham papel
de elementos de ligação. Nesse caso, a morfossintaxe da língua identifica as
conjunções como conectivos.
A última classe de palavras, ou seja, a das interjeições, faz o fechamento
desta etapa da leitura. Esse grupo lexical abrange as expressões com que os
indivíduos traduzem os seus estados emotivos. As interjeições têm existência
autônoma e, a rigor, constituem verdadeiras orações. Elas podem assumir
papel de unidades interrogativas-exclamativas e também de chamamento,
desempenhando, neste caso, papel de vocativo.
Predicação nominal e complementos nominais 7

Relação entre morfologia e sintaxe


Conforme vimos até o momento, a análise desenvolvida para a interpretação
das possíveis funções sintáticas das classes de palavras está diretamente rela-
cionada com a análise sintática e morfológica dos elementos que compõem a
língua portuguesa. Apenas é possível delimitar a função sintática das palavras,
a partir da relação que elas estabelecem com os outros termos da oração.
À morfologia cabe o estudo da estrutura, da formação e da classificação das
palavras. Neste campo de estudo, olhamos para as palavras de forma isolada. É
no contexto da morfologia que identificamos as dez classes de palavras, os seus
respectivos integrantes e as suas especificidades (ROCHA, 1998). À sintaxe,
por sua vez, investiga a disposição das palavras que compõem as frases e as
orações. Ou seja, na relação entre os elementos (relações sintáticas) podemos
identificar diferentes funções sintáticas para uma mesma classe gramatical. É
por este caráter de análise relacional que um substantivo pode desempenhar
função de sujeito e em outra situação pode ser classificado sintaticamente
como objeto direto.
Logo, a relação entre morfologia e sintaxe é denominada morfossintaxe, ou
seja, neste contexto, analisamos as palavras e identificamos as classes as quais
elas pertencem (substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio,
preposição, conjunção e interjeição), mas, uma vez complementada pela análise
sintática, os elementos das classes de palavras podem ser: sujeito, predicado, objeto
direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, complemento
nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto.
Dessa forma, é na análise simultânea que podemos delimitar as funções
sintáticas das classes gramaticais. Morfologicamente, as classes são estáticas,
mas sintaticamente se movimentam e um mesmo elemento pode desempenhar
diferentes funções.

A função sintática que a palavra desempenha é definida pela relação que ela esta-
belece com os outros elementos da oração. Podemos definir essa função apenas por
meio da análise sintática. É a língua em uso!
A classe gramatical da palavra é definida de forma isolada. Ou seja, é a análise
morfológica da palavra independentemente da posição dela na oração. É a língua
fora do uso!
8 Predicação nominal e complementos nominais

Predicado nominal
Na relação entre sujeito e predicado temos que o primeiro grupo, corretamente
identificado, exerce função sintático-semântica chamando-se sujeito, e o se-
gundo grupo exerce função sintático-semântica chamada de predicado. Logo:

Sujeito Predicado

As mulheres desejam paz.

Eu estudo língua portuguesa.

Muitas crianças viram os brinquedos.

O sol é um astro luminoso.

O bom filho reconhece o esforço dos pais.

Neste momento, vamos concentrar a nossa análise para conhecer melhor


o predicado com seu núcleo e determinantes. A primeira informação que
você precisa destacar é a de que o núcleo do predicado é constituído pela
classe de palavras denominada verbo. Segundo, o predicado de uma oração
pode ser simples ou complexo, conforme o conteúdo léxico do verbo que lhe
serve de núcleo (BECHARA, 2005, p. 414). Não detalharemos os predicados
complexos, apenas os citamos, pois nosso objetivo é olhar para a construção
do predicado nominal e os papéis temáticos que ele pode assumir. Dessa
forma, como tipos de argumentos determinantes do predicado complexo
temos o complemento direto ou objeto direto, o objeto direto preposicionado,
a preposição como posvérbio, o complemento relativo. O complemento objeto
indireto, o complemento predicativo, entre alguns outros.
Mas é válido diferenciar o predicado verbal do predicado nominal. O que
acontece é um esvaziamento do signo léxico representado pelo verbo. O que é
superado pela inserção de um nome (substantivo ou adjetivo) e a concordância
do predicativo em gênero e número com o sujeito. Assim, tem-se predicado
verbal (Paula dança) e predicado nominal (Paula é dançarina). Nos predicados
nominais retira-se do verbo o status de verbo, pois a sua missão gramatical
se restringiria a ligar o predicativo ao sujeito. Por este fato, denominados
copulativos, de ligação ou relacionais. Conclui-se que o predicado nominal
é composto de um verbo de ligação e do seu complemento, denominado
predicativo (ALMEIDA, 2009, p. 418).
Predicação nominal e complementos nominais 9

Nesse contexto, a realidade comunicada residiria no nome predicativo e


o verbo seria apenas o marcador do tempo, modo e aspecto da oração. As-
sim, é possível definir que o predicado do tipo nominal apresenta a seguinte
constituição:

Predicado nominal:
„„ Tem como núcleo um nome (substantivo ou adjetivo).
„„ Um verbo de ligação e um predicativo do sujeito fazem parte da sua formação.
„„ Tem função de indicar estado ou qualidade dos nomes (dos núcleos).

Nos exemplos a seguir, destaca-se o predicado nominal, conforme exigên-


cias de constituição. Observe:

Ela está feliz.

está = verbo de ligação


feliz = predicativo do sujeito

A natureza é imprevisível.

é = verbo de ligação
imprevisível = predicativo do sujeito

O homem parecia calmo.

parecia = verbo de ligação


calmo = predicativo do sujeito

Nos predicados nominais percebemos, conforme exemplos acima, um


núcleo que é sempre um nome, desempenhando a função de predicativo do
sujeito. Como intermediário dos dois, temos um verbo de ligação que, conforme
o nome enuncia, estabelece a ligação entre o sujeito e o predicado nominal.
Agora, é importante destacar a questão do papel temático desempenhado pelo
predicado nominal. Parte-se do pressuposto de que o sujeito é o ponto de partida
10 Predicação nominal e complementos nominais

e o que se diz dele é o predicado. Dessa forma, conforme Câmara Jr. (2001),
mesmo sem uma posição extremamente rígida, há colocações mais usuais.
Ou seja, o princípio básico é a articulação sujeito-predicado, em que se atribui
ao segundo (predicado) a responsabilidade do valor informativo. O sujeito,
por esta interpretação, é o tema da informação que está contida no predicado.

ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da língua portuguesa. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CAMARA JR., J. M. Estrutura da língua portuguesa. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
ROCHA, L. C. A. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

Leituras recomendadas
BECHARA, E. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 47. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2008.
MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Novo manual de sintaxe. Florianópolis: Insular, 2005.
Conteúdo:

Você também pode gostar