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MÓDULO 02
Classes Gramaticais: suas
funções no texto
P
ara começo de conversa, devemos lembrar que o estudo das sentimento (amor, ódio), acontecimento (evento, sonho),
classes de palavras deve ter objetivos variados e comple- concepção/doutrina (fé, naturismo).
mentares. Primeiro, deve-se entender que conhecer não Do ponto de vista morfológico, o substantivo é
significa saber. Muitos conhecem as dez classes gramaticais, mas uma palavra que varia em gênero, número e grau, normal-
pousos podem dizer que sabem trabalhar com elas em contextos mente. Por exemplo, a palavra “garoto” varia em gênero
gerais e específicos. Segundo, nem todas as classes gramaticais são (garota), em número (garotos) e em grau (supergaroto, mi-
exigidas em provas de língua portuguesa de concursos públicos, nigaroto, garotão, garotinho). É por isso que se diz que o
nem as que são exigidas têm todos os seus aspectos cobrados. Ter- substantivo é uma palavra variável, porque muda de forma,
ceiro, algumas informações devem ser entendidas aqui como su- por meio de desinências e de afixos.
porte para uma melhor compreensão do que se lê com vistas à in- Do ponto de vista sintático, o substantivo normal-
terpretação coerente de textos; outras, como base para a análise mente é o núcleo dos termos sintáticos. Se você não lembra
sintática de termos empregados em enunciados dos mais variados. quais são os termos sintáticos, refrescarei a sua memória
Por tudo isso, vale realizar um estudo das classes sob três agora: sujeito, objetos direto e indireto, predicativos do
pontos de vista: o semântico, o morfológico e o sintático. Quando sujeito e do objeto, complemento nominal, agente da pas-
falo em ponto de vista semântico, refiro-me às questões associadas siva, adjuntos adnominal e adverbial, aposto e vocativo. O
ao significado. Quando menciono o ponto de vista morfológico, substantivo, comumente, é o núcleo desses termos sintáti-
prendo-me às variações que a palavra sofre para se adequar a ou- cos.
tras na constituição de enunciados. Por fim, quando trato do ponto
de vista sintático, trato das funções que as palavras exercerão em Locução Substantiva
relação de mutualidade com outras dentro de orações e períodos,
observando concordâncias, regências, pontuações e demais aspec- A locução é sempre um grupo de vocábulos que
tos ligados à correção gramatical. equivale a uma palavra só. Dizemos que uma locução é
Desejo a todos um excelente estudo! E relembro a neces- substantiva caso seja formada por um grupo de vocábulos,
sidade de aprofundar os estudos, realizando consultas em gramá- com valor de substantivo (não ligados por hífen): anjo da
ticas, livros de português, dicionários, revistas e periódicos relaci- guarda, dona de casa, estrada de ferro, ponto de vista, cesta
onados à Língua Portuguesa. básica, papel almaço, fim de semana, sala de jantar, casa de
Um fraterno abraço e avante! saúde, Maria das Dores, Vasco da Gama, Cidade Universi-
tária, Belo Horizonte, Nova Iguaçu etc.
Professor Adeildo Júnior
Obs.: Na nova ortografia, muitos substantivos compostos
perderam o hífen, logo é possível dizer que se tornaram lo-
CLASSES VARIÁVEIS DE PALAVRAS cuções substantivas: “pé de moleque, mula sem cabeça, pôr
do sol, leva e traz” etc. Afinal, para ser substantivo com-
posto, é preciso, em tese, de hífen. Já os vocábulos que for-
SUBSTANTIVO mam as locuções substantivas não são ligados por hífen. De
qualquer modo, a regra de plural dos compostos ainda
Do ponto de vista semântico, o substantivo é a pa- vale!!!
lavra que nomeia tudo o que tem substância, tudo o que
existe (céu, homem, mar, peixe, Rio de Janeiro, átomo, ele-
tricidade etc.), tudo o que imaginamos existir (Deus, fada, ADJETIVO
vampiro, anjo, duende, lobisomem, inferno etc.) ou tudo o
que é conceito abstrato (saudade, recreação, lealdade, ri- Do ponto de vista semântico, o adjetivo é um carac-
queza etc.). Não é por nada que o substantivo é chamado de terizador, um modificador de sentido. A vida sem adjetivo
“nome, nomeador ou designador”. é impossível, pois, quando queremos descrever ou expor
É bom dizer que não é só o verbo que indica ação ou um ponto de vista sobre algo, usamos nada mais, nada me-
fenômeno natural, não é só o adjetivo que indica estado ou nos que adjetivos. Por exemplo, se alguém pede que você
qualidade. O substantivo pode indicar ação (desenvolvi- descreva a bandeira do Brasil, o que você irá dizer? “Ah, ela
é verde, amarela e azul, basicamente.” Beleza. Agora, se al- Como se viu nos três últimos exemplos, a locução
guém pergunta a sua opinião sobre o estilo dela, o que você adjetiva nem sempre vem dentro do sintagma nominal,
irá dizer? “Bem, eu acho a bandeira muito bonita, com sim- pode vir fora também; neste caso, terá função de predica-
bolismos bem sugestivos.” Percebeu os adjetivos que você tivo.
usou? Os três primeiros foram adjetivos de caráter objetivo;
os dois últimos, de caráter subjetivo. De qualquer modo, ad-
jetivos precisam ser usados para entendermos melhor ainda
o mundo à nossa volta, certo? ARTIGO
Do ponto de vista morfológico, normalmente o ad-
jetivo varia em gênero, número e grau. Como você pôde Eis uma classe gramatical desprezada por muitas gramáti-
perceber, os adjetivos destacados mudaram de gênero, nú- cas... nem vou citar nomes... Tire suas conclusões, ao tér-
mero e/ou grau: amarela, (muito) bonita, (bem) sugestivos. mino deste capítulo, sobre se podemos desprezá-la... Agora,
Ele varia em grau normalmente pelo uso de advérbios de vamos à luta!
intensidade. Veremos melhor isso à frente. Ah! Vale tam-
bém perceber os sufixos formadores de adjetivos no capí- Do ponto de vista semântico, o artigo não tem va-
tulo de estrutura de palavras, pois, quanto mais soubermos lores embutidos em si, mas, quando se liga a um substantivo
sobre eles, com mais facilidade identificaremos esta classe. num determinado contexto, passa a desempenhar inúmeros
Do ponto de vista sintático, o adjetivo só exerce papéis discursivos: individualizar ou generalizar, indicar
duas funções sintáticas na frase: adjunto adnominal ou pre- conhecimento ou desconhecimento, apreciação ou depre-
dicativo (do sujeito ou do objeto). O adjetivo e a locução ciação, de terminação ou indeterminação, intimidade,
adjetiva têm função sintática de adjunto adnominal quando aproximação numérica, intensificação, proximidade, dife-
vêm dentro do sintagma nominal (se necessário, reveja este renciar o gênero com implicações semânticas (o capital, a
conceito na parte de definição do substantivo), mas, quando capital) etc. Reitero: tudo irá depender do contexto. Vere-
têm função de predicativo, vêm fora do sintagma nominal. mos melhor tais matizes em “emprego dos artigos” e em
Exemplificando para você entender logo: em “Aquela casa “valor discursivo”.
amarela é suntuosa”, amarela funciona como adjunto adno- Do ponto de vista morfológico, o artigo é uma
minal, pois faz parte do sintagma nominal “Aquela casa classe variável em gênero e número (o, a, os, as; um, uns,
amarela”; já suntuosa funciona como predicativo, pois está uma, umas). É um determinante que antecede o substantivo
fora do sintagma. dentro do sintagma nominal (exemplo: o aluno estudioso).
Desde já, vale a pena dizer que, e m 99% dos casos, qualquer
Locução Adjetiva palavra que suceda o artigo se torna um substantivo.
Do ponto de vista sintático, o artigo é um termo
A locução adjetiva é um grupo de vocábulos com que funciona sempre como adjunto adnominal.
valor de adjetivo formado por preposição/locução preposi-
tiva + substantivo/advérbio/pronome /verbo/numeral. * A fusão da preposição a com o artigo a(s), resultando em
Tal expressão frequentemente se liga a um substan- à(s), se chama crase . Crase e artigo são assuntos contíguos.
tivo: briguinha à toa, pizza a lenha (ou à lenha), TV e m co- Por isso, ao estudar o Módulo que contém o assunto Crase,
res, casa sobre rodas, homem sem coragem, vida com limi- é bom ter estudado antes o assunto Artigo.
tes, caso entre políticos, coisa sem pé nem cabeça, viagem
ao redor do mundo, chuva e m torno da casa, mulher e m Sobre contrações, convém lembrar duas coisas:
frente a mim, jornal de anteontem, programa de sempre ,
notícia de hoje , curso daqui, casa dela, máquina de lavar, 1) Não se contrai preposição com qualquer artigo que faça
mulher para casar, dinheiro das duas... parte do título de alguma obra (jornal, revista, livro etc.);
Mas pode também se ligar a um pronome (ou locu- no entanto, se a obra não for iniciada por artigo, usa-se o
ção pronominal) ou a um numeral: artigo antes dela:
as (= aquelas) da sala 1, os (= aqueles) do Brasil, todo o mundo – Ontem eu li em O Globo um texto excelente do Zuenir Ventura.
do bairro, os dois sem graça... Eles são sem caráter, O copo era – Preferia Os Lusíadas às (a + as) Memórias do Cárcere.
de cristal, O menino ficou com fome este tempo todo?
Obs.: Muita gente fala assim (equivocadamente): “Ontem substantivos que indicam parte s do corpo, vestuário, ob-
eu li no Globo...”. Devemos respeitar a norma culta. No en- jetos pessoais, faculdades do espírito e relações de paren-
tanto, o próprio jornal, sem culpa, tem lá seu slogan: “Leia tesco:
amanhã no Globo”. Diferente, porém é dizer: “G1 é o portal
de notícias da Globo na internet”. Aí, beleza, pois está im- – Quando atuava como palhaço, eu tinha o (= meu) rosto coberto
plícita a palavra rede antes de Globo. Para fechar: o uso do de maquiagem.
apóstrofo, ainda que seja uma opção prevista no Novo – Ela descosturou todo o (= seu) vestido para depois fazer uma
Acordo Ortográfico, não é moderno e soa estranho: “Vimos saia.
sua foto n’O Globo”. – Por que jogou fora a (= minha) escova de dentes se ela estava
nova?
2) Não se contrai preposição com qualquer artigo antes de – Vem cá, tu perdeste o (= teu) senso, rapaz?
sujeito de verbo no infinitivo: – Nossa vida era uma felicidade só; o (= nosso) pai era um grande
homem.
– Em alguns programas televisivos, já se falou muito do futebol *4) O artigo vem obrigatoriamente antes de pronome pos-
um dia ser suplantado pelo MMA. (inadequado) sessivo que substitui um substantivo, mas é facultativo
– Em alguns programas televisivos, já se falou muito de o futebol antes de um pronome possessivo que acompanha um
um dia ser suplantado pelo MMA. (adequado) substantivo:
Obs.: Tal afirmação, porém, é vista de modo flexível por no- – Fizeram alusão a (ou aos) meus ideais, não aos seus.
mes de peso, como Evanildo Bechara, Domingos Paschoal
Cegalla, Sílvio Elia, Souza da Silveira e outros. Esses gramá- Obs.: Omite-se o artigo definido antes dos possessivos em
ticos encaram ambas as construções frasais como certas. Se três situações: 1) nas locuções com pronome possessivo (a
cair alguma questão assim na prova, cuidado! A quase es- meu ver, em meu ver, a meu modo, a meus pés, em seu fa-
magadora maioria dos gramáticos e das bancas só vê a se- vor, em minha opinião, a seu bel-prazer, por minha vontade
gunda construção como certa; e é assim que costuma cair etc.); 2) antes de pronomes ou formas de tratamento (Vossa
em prova. A Esaf considera ambas as formas corretas (com Excelência, Sua Majestade, Nossa Senhora etc.); 3) em voca-
ou sem contração). tivos (Meu amor, eu te amo). No entanto, quando o pro-
nome vier posposto ao substantivo, o artigo é obrigatório:
Emprego dos Artigos Definidos “Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resol-
vem se encontrar...”
Não entre na paranoia de querer gravar tudo, hein!
Não se assuste. Vou pontuar exatamente aquilo de que você 5) O artigo indica a totalidade de uma espécie:
precisa para a prova, colocando um * ao lado de cada regra.
Você vai perceber que junto ao emprego dos artigos, muitas – O homem é um ser muito volúvel. (todos os seres humanos)
vezes falarei sobre seus valores semânticos. Vejamos:
*6) O artigo é dispensado quando atribui um sentido ge-
1) O artigo antecipa um substantivo, individualizando-o: nérico ao substantivo, mesmo quando este é especificado:
– Encontrei o homem. – Certos membros religiosos não vão a festas. (qualquer tipo de
festa; o a é só uma preposição)
2) O artigo pode te r valor de pronome demonstrativo – A pesquisa não se refere a mulher casada, a homem casado, mas
(este, esse , aquele ) para indicar que algo está próximo do tão somente a solteiros. (qualquer mulher casada, qualquer
falante e /ou algo é conhecido do ouvinte : homem casado; o a é só uma preposição)
– Finalmente o prefeito prometeu investir na (= nesta, = naquela) Obs.: O Cespe/UnB adora esse tipo de questão sobre crase!
região. Veremos melhor isso em Crase.
3) O artigo pode te r valor de pronome possessivo (meu, 7) O artigo é normalmente dispensado antes dos substan-
teu, seu, nosso, vosso), normalmente quando se liga a tivos e m provérbios:
Obs.: Não raro, porém, o artigo é dispensado junto com a Obs.: Se a palavra casa não vier especificada ou tiver sen-
preposição: “Vou descansar segunda-feira”. Como já dizia tido vago, genérico, o artigo é dispensado: “Chegamos a
a música, “sábado à noite, tudo pode mudar” ou “De se- casa eu e ela por volta das sete horas da noite.” (o a é só uma
gunda a sexta, esporro do patrão; sábado e domingo, vou preposição exigida pelo verbo chegar); “Costumo morar em
curtir com a Furacão.” Este último exemplo é em homena- casa alugada”; “Sempre me chamam para ir a casas notur-
gem ao funk carioca. nas, mas sou um pai de família, ora!” (o a é só uma preposi-
ção exigida pelo verbo ir). Só de curiosidade: a presença do
*11) O artigo é usado antes de horas, em expressões adver- artigo na expressão “dona de casa” torna o sentido e a clas-
biais de tempo: sificação morfológica diferente: a dona de casa (profis-
são/locução substantiva), a dona da casa (proprietá-
– Os pescadores não devem pescar ao meio-dia, por causa do sol; a ria/subst. + loc. adj.). Um mero “artiguinho” faz toda a dife-
melhor pesca começa a partir das seis horas da manhã. rença no “status” social, não é?
Obs.: Se a expressão de horas não tem valor adverbial, o ar- *16) O artigo só vem antes da palavra “terra” se ela não
tigo é dispensado: “Já é meio-dia e meia”. estiver em oposição a bordo, se vier especificada ou se re-
ferir ao planeta:
12) O artigo é usado antes das quatro estações do ano:
– A primavera, o verão, o outono e o inverno marcam as estações – Da terra vieste, à (a + a) terra voltarás. (A palavra terra não
do ano. está em oposição a bordo.)
– Depois que os navegantes retornaram a terra, cada um foi para
Obs.: O artigo é dispensado antes da preposição de que ini- a terra natal matar a saudade de todos os parentes. (O primeiro
cia locuções adjetivas: “Nada como uma noite de verão!”. a é só uma preposição exigida pelo verbo retornar; o se-
No entanto, se vier especificado, o artigo é obrigatório: “Te- gundo a é um artigo, pois a palavra terra vem especificada
nho boas lembranças das noites do verão passado.”. pelo adjetivo natal.)
– Os astronautas chegaram à (a+a) Terra hoje de manhã. II: Minha esposa só retornou ao Portugal dos avós dela depois de
20 anos.
17) O artigo vem antes de estruturas superlativas, mas sua III: (O) Recife é um lugar extremamente aconchegante e caloroso.
posição na frase pode variar:
Obs.: Não se usa artigo antes de nomes de planetas e estre-
– Vou fazer as perguntas mais difíceis a ele. las: Urano, Plutão, Sírius, Canópus, Mercúrio etc. Exceções:
– Vou fazer as mais difíceis perguntas a ele. a Terra e o Sol. Não se usa o artigo definido, em geral, com
– Vou fazer perguntas as mais difíceis a ele. os nomes de cidades, de localidades e da maioria das ilhas:
São Paulo, Visconde de Mauá, Malta, Cuba. Exceção: nomes
Obs.: No entanto, usar dois artigos é um erro: “Vou fazer as de cidades que se formaram de substantivos comuns con-
perguntas as mais difíceis a ele.”. servam o artigo: o Rio de Janeiro, o Porto, o Havre, o Cairo.
Algumas ilhas também mantêm o artigo: a Córsega, a Sicí-
*18) Diante de nome de pessoas, só se usa artigo para in- lia, a Sardenha, a Madeira, a Groenlândia.
dicar afetividade, familiaridade, intimidade:
20) O artigo vem antes dos pontos cardeais e colaterais, ex-
– Mandei uma carta a Fernando Henrique, na época em que ele ceto quando indicam apenas direção:
era presidente.
– Os Portinaris tornam minha casa ainda mais chique. – Ah, os ventos! Os do sul sempre são intrigantes.
– O João é uma ótima pessoa. – A comissão se dirigia para o norte.
– Está soprando o noroeste, brother!
Obs.: Em vocativos e antes de nomes de pessoas célebres da – Segundo Graciliano Ramos, o nordeste não sopra.
história (santos ou não), o artigo é dispensado: “Fabiana, – Fizeram caminhadas de norte a sul, de leste a oeste.
por favor, venha aqui.”; “A tese se reportou a Carlota Joa-
quina com desrespeito.” (o a é só uma preposição exigida 21) O artigo vem antes dos pronomes indefinidos outro e
pelo verbo reportar-se); “Agradeço todos os dias a Santa demais só quando têm sentido determinado:
Clara e a São Cosme e Damião.” (os as são só uma preposi-
ção exigida pelo verbo agradecer). Diante de Virgem Maria, – Chamei pelos outros, mas não vieram. Sobre os demais, nada
o artigo é obrigatório: “Já fiz muitos pedidos à (a + a) Virgem tenho a dizer.
Maria.”. Diante de nomes próprios femininos não célebres
na história, o artigo é facultativo: “Os filhos costumam obe- 22) Usa-se o artigo entre o numeral ambos e o elemento
decer à (a + a) Joana (ou a Joana).” posterior, normalmente:
*19) O artigo é usado antes de alguns topônimos (nomes – Ambos os atletas são capazes de conquistar o título.
de lugares: países, regiões, continentes, montanhas, vul-
cões, desertos, constelações, rios, lagos, oceanos, mares e *23) O artigo é usado de pois do pronome indefinido todos
grupos de ilhas), mas não é usado antes de outros. Como seguido de substantivo expresso; omitindo-se o substan-
existem milhões de topônimos, não é possível colocá-los to- tivo, não se usa o artigo:
dos aqui. Por isso, vai aqui uma dica para identificar quando
se usa ou não o artigo antes de algum topônimo: crie uma – Todos os quatro filhos acompanharam o pai.
frase como esta: Gosto muito de ______. Faça um teste. Co- – O pai veio e saiu com todos quatro.
loque os topônimos na lacuna. I) Se puder ser usado artigo
antes do topônimo, maravilha! II) Não se esqueça de um de- Obs.: Na frase “Todos os homens merecem uma segunda
talhe: se o topônimo vier especificado, o artigo antes dele é chance.”, há uma ideia de generalização da espécie em “To-
obrigatório. III) Vale dizer que o artigo é facultativo antes dos os homens”, por isso poderíamos reescrever esse trecho
destes topônimos: África, Ásia, Europa, Espanha, França, Ho- assim: “Todo homem merece uma segunda chance.”, com o
landa, Inglaterra, Escócia, Recife, Alagoas. indefinido no singular, equivalendo a “qualquer”, sem ar-
I: Gosto muito do Cairo, do Rio de Janeiro, da Bahia, do Porto, do tigo do lado. Estruturas diferentes, mesmo sentido.
Brasil, de Portugal, de Paris, de São Paulo, de Copacabana, en-
fim... sou muito viajado.
27) O artigo pode se r usado para superlativar, intensificar Fofoqueiro 1: – Aí, o João foi ao cinema do bairro com a namorada,
o valor de um ser: de novo!
Fofoqueiro 2: – Ih! Isso não vai dar certo. Da última vez que um Fofoqueiro 3 – Foi o que eu disse para ele... mas o homem
cara daqui da cidade se atreveu a levar uma menina para o cinema, não escuta ninguém.
os pais da garota ameaçaram o cara de morte. Este artigo definido (o homem) faz referência ao
Fofoqueiro 3: – Foi o que eu disse para ele... mas o homem não João, lá do início.
escuta ninguém. Mais interessante que tudo isso é perceber que, se
fossem usados artigos indefinidos no lugar de alguns defi-
Antes de qualquer coisa, é preciso que você entenda nidos da primeira frase, haveria sensível mudança de sen-
que o artigo definido exerce duas funções discursivas: 1) in- tido, não é? Veja só:
dica que o ser do qual o falante está falando é também co-
nhecido do ouvinte, logo ambos compartilham de um co- Fofoqueiro 1 – Aí, o João foi a um cinema dum bairro com
nhecimento prévio sobre o objeto da conversa ou da exposi- uma namorada, de novo!
ção e 2) serve para retomar ou relembrar termos anteriores, Agora nem F1 nem F2 sabem qual é o cinema, qual
por inferência. é o bairro, qual é a namorada (João tem mais de uma; isso a
Igualmente, é preciso que você entenda que o artigo gente sabe). Ok?
indefinido exerce uma função discursiva, basicamente: Bem, é isso aí. Muito interessante, não? Chega de
sempre que uma nova informação é apresentada, o artigo papo. Exercício na veia!
indefinido ajuda o interlocutor (ouvinte/leitor) a ficar atento
no ser introduzido na cena, pois o prepara a fim de mais à
frente ser tornado conhecido pelo artigo definido. Nas pala- NUMERAL
vras de Celso Cunha, “O artigo indefinido serve para a apre-
sentação de um ser ainda não conhecido do interlocutor. Esta classe gramatical é pouquíssimo cobrada em
Uma vez apresentado o ser, não há mais razão para o em- concursos de bancas famosas, mas não custa passar os
prego do artigo indefinido, e o locutor (escritor/fa- olhos, certo? Vai que...
lante/emissor) deverá usar daí por diante o artigo defi- Do ponto de vista semântico, o numeral indica, es-
nido.”. sencialmente, quantidade absoluta (cardinal), quantidade
Se você não entendeu muito bem o que eu quis di- fracionária (fracionário), quantidade multiplicativa (multi-
zer, relaxe, você vai entender melhor agora. Vejamos como plicativo) e ordem, sequência, posição (ordinal), de coisas
analisar os artigos da cena (reprise comentada): ou pessoas.
Do ponto de vista morfológico e discursivo, o nu-
Fofoqueiro 1 – Aí, o João foi ao cinema do bairro com a meral é uma classe normalmente variável em gênero e nú-
namorada, de novo! mero. É um determinante que acompanha o substantivo
Quando F1 diz “o João”, é porque ele sabe que F2 o (neste caso, é chamado de numeral adjetivo, pois tem valor
conhece. Ambos conhecem o tal João. Quando F1 diz a F2 de adjetivo) ou o substitui (neste caso, é chamado de nume-
“ao cinema do bairro”, é porque só há um cinema no bairro ral substantivo, pois tem valor de substantivo).
onde eles moram e conhecem. Quando F1 diz a F2 “com a “Ter valor de” não significa “ser”. Logo, nestas frases: “Dois
namorada”, ambos sabem quem é a dita cuja... e que só é estudantes vieram me abraçar em agradecimento pela classi-
uma. Percebe que há conhecimento compartilhado e prévio ficação. Reinaldo e Leandro eram seus nomes. Os dois eram
nesta parte do diálogo entre os interlocutores? merecedores!”. Note que o último dois substitui “Reinaldo
e Leandro”, logo é um nume ral substantivo. O primeiro
Fofoqueiro 2 – Ih! Isso não vai dar certo. Da última vez dois, por sua vez, é um nume ral adje tivo, pois está ligado
que um cara daqui da cidade se atreveu a levar uma menina para a um substantivo (estudantes).
o cinema, os pais da garota ameaçaram o cara de morte.
Olha aí o que disse o Celso! Usam-se inicialmente
indefinidos para depois os definidos retomarem, por infe- PRONOME
rência, os termos anteriores (um cara – o cara; uma menina
– (d)a garota). Os indefinidos são ótimos para apresentar se- Simplesmente uma das classes gramaticais mais re-
res e os definidos são ótimos para retomá-los visando à cla- correntes em questões de concursos públicos. Tudo precisa
reza. estar no sangue, por isso coloquei mais de 50 questões para
você treinar!
Do ponto de vista semântico, o pronome pode Isso significará que ele substitui um substantivo, e
apresentar inúmeros sentidos, a depender do contexto: não que se refere a ele, acompanhando-o.
posse, indefinição, generalização, questionamento, aponta- Para que você identifique um pronome substan-
mento, aproximação, afetividade, ironia, depreciação etc. tivo, basta perceber que ele tem o papel de substituir um
Isso será visto em detalhes ao longo deste capítulo. substantivo (e não de acompanhá-lo) dentro do discurso. Fi-
Do ponto de vista morfológico e discursivo, o pro- cou claro? Então, veja:
nome é uma classe de palavras normalmente variável em
gênero e número e que se refere a elementos dentro e fora – Estes documentos são nossos*, não teus.
do discurso. É um determinante quando acompanha o subs-
tantivo (neste caso, é chamado de pronome adjetivo, pois Note que os pronomes nossos e teus se referem ao
tem valor de adjetivo). Quando substitui o substantivo, é substantivo documentos, substituindo-o, por isso são pro-
chamado de pronome substantivo, pois tem valor de subs- nome s substantivos. É válido dizer que nossos se refere à 1ª
tantivo. Isso será melhor abordado em Identificação. pessoa do plural do discurso (o falante + alguém), e teus, à
Muito importante é dizer que o pronome serve para 2ª pessoa do singular do discurso (o ouvinte).
indicar as pessoas do discurso*: 1ª (falante), 2ª (ouvinte) e 3ª
(assunto). Exemplo: “Eu não te falei que ele era boa gente?” * O gramático Evanildo Bechara entende que nossos
*O discurso é um processo comunicativo, logo depende de é um pronome adjetivo que se refere ao substantivo implí-
um emissor (1ª pessoa do discurso), de um receptor (2ª pes- cito documentos: “Estes documentos são nossos (documen-
soa do discurso) e de um referente (3ª pessoa do discurso, tos).”. Porém, essa visão não é acolhida pela vasta maioria
que pode ou não ser um indivíduo). No exemplo acima, dos gramáticos.
quem fala é a 1ª pessoa (Eu), quem ouve é a 2ª pessoa (te) e
sobre quem se fala é a 3ª pessoa (ele) do discurso. Os pro- Já o pronome adjetivo tem o papel de acompanhar
nomes servem, portanto, para marcar as pessoas do dis- um substantivo, determinando-o, como se fosse um adje-
curso. tivo.
Do ponto de vista sintático, o pronome é um termo
que funciona como adjunto adnominal quando acompanha – Os vossos amores não mais vivem para vós.
um substantivo; quando o substitui, tem função substan-
tiva (ou seja, funciona como núcleo do sujeito, predicativo Note agora que o pronome vossos se refere ao subs-
do sujeito, objeto direto, indireto, complemento nominal, tantivo amores, acompanhando-o, por isso é um pronome
agente da passiva, adjunto adverbial, aposto e vocativo). Fa- adjetivo. É válido dizer que vossos é um pronome de 2ª pes-
larei muito sobre isso mais à frente, nos capítulos de sintaxe, soa do plural dentro do discurso, pois se refere a mais de
no subtópico Funções Sintáticas dos Pronomes Pessoais Oblí- um ouvinte.
quos Átonos. Caso queira dar um pulinho até lá, fique à von-
tade... É claro que, para você identificar um pronome, não
Antecipo-lhe que será impossível deixar de falar de basta saber que ele tem valor de substantivo ou de adjetivo,
alguns aspectos sintáticos neste capítulo, pois morfologia e é preciso que você os conheça pelo que verdadeiramente
sintaxe (morfossintaxe) andam lado a lado quando o as- são, isto é, eles podem ter seis (6) classificações: pessoais,
sunto é pronome. Fique atento! possessivos, indefinidos, interrogativos, demonstrativos e
relativos.
Identificação
Emprego dos Pronomes
Como vimos, há dois tipos de pronomes: pronome
s substantivos e pronome s adjetivos. A) Pronomes Pessoais
O pronome substantivo substitui um substantivo.
Segundo Celso Cunha, Napoleão Mendes de Almeida e a PRONOMES COM VALOR DE SUJEITO: Eu, tu1, ele,
vasta maioria dos gramáticos tradicionais, para que um pro- você, nós vós eles, vocês2 (e todos os pronomes pessoais de
nome seja considerado pronome substantivo, basta que ele tratamento)
não esteja acompanhando substantivo algum.
PRONOMES COM VALOR DE ADJUNTOS ADNOMI- Ele não aceitou sua reprovação. (reprovação de quem? da pessoa
NAIS: me, te, lhe, nos e vos, quando tiverem valor posses- de quem se fala? da pessoa com quem se fala?)
sivo: Para evitar esse tipo de ambiguidade, usa-se dele (dela, deles, de-
las)
Pisaram-me os pés, mas não reagi. Ele não aceitou a reprovação dela.
O sol de verão queimou-nos fortemente a pelo. Ele não aceitou a reprovação delas.
Abracei-lhe os filhos como se fossem os meus.
Segundo, porque existem casos em que o pronome
PRONOMES COM VALOR DE COMPLEMENTO NO- possessivo não exprime propriamente ideia de posse. Ele
MINAL: me, te, lhe, nos, vos, em frases como: pode ser utilizado para indicar aproximação, afeto ou res-
peito.
Sempre nos foi fiel.
Nunca me tiveram apreço. Aquela mulher deve ter seus quarenta anos. (aproximação)
Sou-lhe grato por tudo que me fez. Meu amor cuide melhor de sua família. (afeto)
Sente-se aqui meu senhor. (respeito)
PRONOMES COM VALOR DE SUJEITO-ACUSATIVO:
me, te, nos, vos, o, a, lhe, ao mesmo tempo serão objeto Terceiro, quando aparece anteposto a nomes pró-
direto para um verbo e sujeito para outro, em frases como: prios não é possessivo, mas uma alteração fonética de Se-
nhor na linguagem coloquial.
Deixe-os falar.
Faça-nos entregar o que nos pertence, eu duvido! Seu Pedro, o senhor gostaria de vender sua casa?
C) Pronomes Demonstrativos
3) Quanto à posição dos seres no discurso, funcionam as-
Marcam a posição espacial de um elemento qual- sim:
quer em relação às pessoas do discurso, situando-os no es- Os pronomes demonstrativos servem para fazer re-
paço, no tempo ou no próprio discurso. Eles se apresentam ferência ao que já fio dito e ao que se vai dizer, no interior
em formas variáveis (gênero e número) e não-variáveis. do discurso.
1) Quanto à posição dos seres em relação às pessoas do dis- Este (e flexões) faz referência àquilo que vai ser dito
curso, os demonstrativos funcionam da seguinte maneira: posteriormente.
As formas de primeira pessoa indicam proximidade Desejo sinceramente isto: que seja muito feliz.
de quem fala ou escreve:
Esse (e flexões) faz referência àquilo que já fio dito
Esta mulher ao meu lado é minha esposa. genericamente no discurso.
As formas de segunda pessoa indicam proximidade Que seja muito feliz: é isso que desejo.
da pessoa a quem se fala ou escreve:
Este em oposição a aquele quando se quer fazer re-
Essa blusa que tens nas mãos é sua? ferência a elementos já mencionados. Este se refere ao mais
próximo, aquele, ao mais distante.
Os pronomes de terceira pessoa marcam posição
próxima da pessoa de quem se fala ou posição distante dos Comédia e Suspense são gêneros que me agradam, este me deixa
dois interlocutores. ansioso, aquela, bem-humorado.
No mês passado fui demitida do trabalho. Nesse mesmo mês, perdi Como pronomes, concordam com o nome a que se
meu celular. referem:
Em 1970, a seleção brasileira de futebol era fraquíssima. Naquele D) Pronomes Interrogativos e Pronomes Indefinidos
ano, o Brasil perdeu o campeonato mundial.
São aqueles que se referem à terceira pessoa do dis- Quantos irão viajar nas férias? (pergunta direta)
curso de forma vaga, imprecisa e genérica. Quero saber quantos irão viajar nas férias. (pergunta indireta)
Os pronomes indefinidos também podem aparecer Aos pronomes pessoais incluem-se os pronomes de
sob a forma de locução pronominal: Cada qual, quem quer tratamento, que são aqueles com que nos referimos às pes-
que, qualquer um, todo aquele que, tudo o mais soas, de maneira cerimoniosa.
2) Já o indefinido cada não deve ser utilizado desacompa- Durante o seu emprego, deve-se verificar:
nhado de substantivo ou numeral, na norma culta4.
1. Os pronomes relativos virão precedidos de preposição
Ganhamos duas casas cada um. se a regência assim determinar.
3) O indefinido certo(a), antes de substantivo, é pronome in- Este é o pintor a cuja obra me refiro.
definido; depois do substantivo é adjetivo. Este é o pintor de cuja obra gosto.
Não compreendi certas pessoas. (pronome indefinido) 2. O pronome relativo quem é empregado com referência a
Escolheu a pessoa certa para casar. (adjetivo) pessoas:
4Na linguagem coloquial, costuma-se ver construções como: “Comprei duas blu-
sas, por seis reais cada”.
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Classes gramaticais: suas funções no texto
Talvez nos seja fácil fazer esta tarefa. Obs.: No entanto, se no caso acima mencionado as locuções
Ontem os vi no cinema. verbais vierem precedidas de palavra ou expressão que
Aqui me agrada estar todos os dias. exija a próclise, só duas posições serão possíveis para em-
Agora vos contarei um conto de fadas. pregar-se o pronome átono: antes do auxiliar ou depois do
Pouco a pouco te revelarei o mistério. infinitivo.
De vez em quando me pego falando sozinho.
De súbito nos assustamos com os tiros. Não lhe devemos dizer a verdade.
Não devemos dizer-lhe a verdade.
Obs.: O pronome átono pode ser colocado antes ou depois
do infinitivo impessoal, se antecedendo o infinitivo vier
uma das palavras ou expressões mencionadas acima. TEMPOS COMPOSTOS
"Tudo faço para não a perturbar naqueles dias difíceis"; Nos tempos compostos, formados de um verbo au-
ou xiliar (TER ou HAVER) mais um verbo principal no particí-
"Tudo faço para não perturbá-la..." pio, o pronome átono se liga ao verbo auxiliar, nunca ao par-
ticípio.
C) MESÓCLISE
Tinha-me envolvido sem querer com aquela garota.
Nós nos havíamos assustado com o trovão.
O advogado não lhe tinha dito a verdade. (vender), -ir (partir)). Falarei minuciosamente de cada tó-
pico da variação verbal daqui a pouco.
Obs.: Quando houver qualquer fator de próclise, esta será a Do ponto de vista sintático, o verbo tem um papel
única posição possível do pronome átono na frase, ou seja, importantíssimo dentro da frase; sem ele (explícito ou im-
antes do verbo auxiliar. plícito) não há orações na língua portuguesa, pois o verbo é
o núcleo do predicado – percebeu que eu usei vários verbos
para dizer o que eu acabei de dizer? O único caso em que o
verbo não é o núcleo do predicado, segundo a gramática tra-
dicional, é quando há predicado nominal, mas mesmo assim
ele está presente. Fique tranquilo, pois falarei bem disso.
Pois bem... para entendermos todas as definições de verbo,
vamos analisar esta frase:
VERBO
Toda vez que eu penso em você, sinto uma coisa diferente.
Do ponto de vista semântico, o verbo normalmente
indica uma ação ou um processo, mas pode indicar estado, Note que os vocábulos penso e sinto
mudança de estado ou fenômeno natural – sempre dentro de
uma perspectiva temporal. Pode indicar também a noção de 1) indicam uma ideia de ação e percepção (sensação ou ex-
existência, volição (desejo), necessidade, etc. Veja alguns perimentação);
exemplos: 2) variaram em modo, tempo, número, pessoa “saindo” de
sua forma nominal (pensar e sentir); ambos os verbos estão
– O aluno estudou muito. (ação/passado) na primeira pessoa do singular do presente do indicativo.
– A aluna está feliz. (estado/presente) 3) funcionam como núcleo do predicado verbal, como nú-
– A aluna virou professora. (mudança de estado/passado) cleo das orações.
– Amanhã choverá muito na cidade do Rio de Janeiro. (fenô-
meno natural/futuro) Obs.: Note que, sem os verbos, nada faz sentido, porque a
– Há dois amores na minha vida. (existência/presente) estrutura sintática fica comprometida, não refletindo o uso
– Queria o Pestana ao meu lado no dia da prova. (volição/pas- adequado da língua: Toda vez que eu ( ) em você, ( ) uma coisa
sado) diferente. (???)
– Precisarei de sua ajuda no próximo capítulo. (necessidade/fu-
turo) Existem mais de 11.000 verbos na língua, segundo
nos informa o gramático Cegalla. Mas antes que você se de-
Obs.: Frisei acima a “perspectiva temporal”, porque subs- sespere pensando que vai ter de saber tudo sobre eles, saiba
tantivos (e adjetivos) podem indicar ação, estado, fenômeno que, em conjugação verbal, só alguns verbos são re-al-men-
natural etc.: plantação (ato de plantar), morte (estado), chuva te importantes na sua vida de concurseiro. Ufa!
(fenômeno natural), satisfeito (estado). Essas palavras não Não reclama, não! São estes os frequentes em con-
podem ser verbos, pois não indicam tempo e m si mesmas, cursos: ser, ir, vir (e derivados), ver (e derivados), pôr (e de-
tampouco podem ser conjugadas, é claro, ok? rivados), ter (e derivados), caber, valer, adequar, haver, re-
aver, precaver-se, requerer, prover, viger, preterir, eleger, im-
Do ponto de vista morfológico, o verbo varia em pugnar, trazer, os terminados em e ar, -iar (Lembra-se do
modo, tempo, número e pessoa, segundo a gramática tradi- MARIO?), -uar etc. Fique em paz mental! Mas não deixe de
cional; normalmente, voz e aspecto são conceitos analisados conjugá-los todo santo dia, pois caem em prova direto!
em separado. As quatro primeiras flexões combinadas for-
mam o que chamamos de conjugação verbal, ou seja, para Identificação
atender às necessidades dos falantes, o verbo muda de
forma à medida que variamos a ideia de modo, tempo, nú- O verbo é uma palavra que termina em -ar (levan-
mero e pessoa. tar), -e r (beber), -ir (cair) e que pode ser conjugada, normal-
Sabemos que um verbo varia quando ele “sai” de mente por meio de pronomes pessoais retos (eu levanto, tu
sua forma nominal infinitiva (terminada em -ar (amar), -e r levantas, ele levanta, nós levantamos, vós levantais, eles levan-
tam... eu bebi, tu bebeste, ele bebeu, nós bebemos, vós bebestes, eles
beberam... eu cairei, tu cairás, ele cairá, nós cairemos, vós caireis, 2) Depois que o assessor interviu, os políticos ficaram tran-
eles cairão...). quilos.
Pela forma, é possível identificar um verbo numa 2) Depois que o assessor interveio, os políticos ficaram tran-
frase, desde que você conheça as terminações verbais, ou quilos.
desinências verbais – já vistas no capítulo de Estrutura das 3) Quando nós propusermos uma sugestão, aceite-a.
Palavras. Lembra? Veja:
3) Quando nós propormos uma sugestão, aceite-a.
– Nós insistiremos nessa questão, porque cremos em nosso ponto
de vista. (-re: desinência modo-temporal; -mos: desinência 4) Sempre se precavenha de maus negócios.
número-pessoal; ambos na voz ativa) 4) Sempre se resguarde de maus negócios.
Insistir e crer são identificados como verbos, pois, Agora vejamos os porquês!!!!
formalmente falando, podem ser conjugados. Lembre-se de
que conjugação é a flexão do verbo em modo, tempo, nú- Sobre 1: O verbo entreter é derivado do verbo ter,
mero, pessoa (e, para alguns gramáticos, voz). logo se conjuga como o verbo ter.
Podemos identificar tais palavras como verbos, Sobre 2: O verbo intervir é derivado do verbo vir,
pois, como já se disse, não existe oração sem verbo. O verbo logo se conjuga como o verbo vir.
é o núcleo de uma oração. Sem ele, não há oração. Sem ele, Sobre 3: O verbo propor é derivado do verbo pôr,
a frase não tem sentido: Nós nessa questão, porque em nosso logo se conjuga como o verbo pôr.
ponto de vista (????!!!). Percebeu que o verbo é essencial para Sobre 4: O verbo precaver não se conjuga no pre-
a construção do sentido? sente do subjuntivo, logo usei um sinônimo.
Pois bem... vale a pena dizer também que o verbo é
uma palavra que exprime um fato dentro do tempo, logo Estrutura Verbal
notamos a ideia de futuro e de presente, respectivamente,
nos verbos do exemplo. Na conjugação de um verbo, normalmente ocorre a
combinação de alguns elementos, conhecidos como: radical,
Obs.: A única forma verbal que não apresenta noção tem- vogal temática (VT), tema, desinência modo-temporal
poral é a forma nominal infinitiva (falar, crer, insistir). Por (DMT) e desinência número-pessoal (DNP).
exemplo: Ser, estar e ficar são comumente verbos de ligação. É importante dizer que esses elementos verbais po-
Note que as palavras ser, estar e ficar servem para nomear dem sofrer algumas mudanças na forma, chamadas tecnica-
um verbo, logo não indicam tempo, pois são verdadeiros mente de “alomorfias”; lembra? Fique ligado nisso quando
substantivos nesse contexto. Se houver algum determinante eu apresentar os exemplos a seguir.
antes de tais formas, novamente serão substantivos: O Ser, o
estar e o ficar são comumente verbos de ligação. Não confunda Radical
verbo com substantivo, pois o infinitivo pode realmente ser
um verbo no contexto: Estudo para passar na prova. Note que O radical é a base do verbo, cujo sentido está nele
passar indica ação, mas a noção de tempo é atemporal. Fala- embutido. Sem este morfema, o verbo não existe.
rei melhor disso em Formas Nominais do Verbo, ainda tópico
capítulo. Relaxe! – Não posso deixar que isso ocorra.
E se você acha que identificar um verbo é mole, não Note que poss-, deix- e ocorr- são os radicais dos
subestime a conjugação de alguns verbos, assunto que cai verbos poder, deixar e ocorrer. Deles, só o radical de poder
muito em prova (na FCC, então, nem se fala!). Observe as (pod-) sofreu modificação (poss-), chamada de alomorfia.
frases e assinale o certo: Isso se dá por uma questão de eufonia (bom som da língua).
Saiba que a maioria dos verbos não sofre alomorfia no radi-
1) As crianças se entreteram durante bom tempo no parque. cal, mas, como são muitos, há os que sofrem (os irregulares).
1) As crianças se entretiveram durante bom tempo no par- Falarei sobre isso à frente. Respire fundo...
que.
Obs.: Importante saber sobre radical:
Formas rizotônicas: sílaba tônica do verbo se localiza den- O verbo pôr e seus derivados são de 2ª conjugação, ou seja,
tro do radical: Eu amo muito minha esposa. vogal temática -e, uma vez que pôr vem do latim poer (a vo-
Formas arrizotônicas: a sílaba tônica do verbo se localiza gal temática aparece logo na 2ª pessoa do singular do pre-
fora do radical: Eu amava muito minha esposa. sente do indicativo: eu ponho, tu pões, ele põe ...).
A vogal temática vem imediatamente após o radical Existem as desinências modo-temporais (DMTs) e
por motivo eufônico (boa pronúncia) e/ou para ligá-lo às de- as desinências número-pessoais (DNPs).
sinências, formando o tema. Veja agora algumas informa- As DMTs marcam a flexão do verbo para indicar as
ções importantes sobre VTs verbais. noções de certeza, fato (modo indicativo) e incerteza, hipó-
É uma vogal que vem após o radical, formando o tese (modo subjuntivo), tempo passado (pretérito perfeito,
tema e permitindo uma boa pronúncia do verbo; indica imperfeito e mais-que-perfeito), presente e futuro (do pre-
como vai ser o modelo (paradigma) das conjugações (1ª con- sente e do pretérito).
jugação: -e / 3ª conjugação: -i). Como você vai ver na tabela a seguir, além de não
É bom dizer que não há VT na 1ª conjugação: -a / 2ª haver DMTs em todos os tempos e modos, algumas desi-
pessoa do singular do presente do indicativo e em nenhuma nências alomórficas do modo indicativo estão entre parên-
flexão do presente do subjuntivo (em “Eu amo.”, o -o é teses.
DMT; em “Espero que ele volte .” ou “Espero que ele beba.”,
o -e e o -a são VTs). Veja o quadro de DMTs e DNPs na
página seguinte.
Obs.: Para alguns gramáticos, o a e o e do presente do sub- Obs.: Existem 12 tempos e formas de conjugação para um
juntivo são desinências modo-temporais; há os que conside- verbo. Você deve memorizar a utilização das DNPs por ra-
ram o –o da 1ª pessoa do presente do indicativo uma desi- ciocínio de exclusão. Por exemplo, a DNP2 é usada apenas
nência número-pessoal. Para muitos gramáticos, o -a e o -i no Futuro do subjuntivo e no Infinitivo pessoal. Portanto,
do particípio são vogais temáticas. Dessa forma, a desinên- nos demais tempos verbais, usa-se a DNP1.
cia de particípio (-do) pode sofrer alomorfia, dependendo
do verbo (exemplo: pôr > posto; imprimir > impresso). Todo esse conhecimento será utilizado por nós nos proces-
sos de conjugação verbal que serão estudados mais adiante.
Obs.: Não confunda verbo no infinitivo com futuro do sub-
juntivo, só porque a terminação é igual: Para eu vencer, pre-
ciso de você. / Enquanto eu vencer, precisarei de você. O
verbo no futuro do subjuntivo vem antecedido de conjun-
ção, normalmente, e o verbo no infinitivo vem antecedido
de preposição, normalmente. Esse é o termômetro para a
distinção.