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Distribuição dos Grupos de Trabalho e Respectivos Temas

4º Ano – Estilística do Português (Regular) - 2019

1º grupo

Tema : A Estilística da unidade sintagmática

Aspectos a desenvolver: Noção de sintagma e paradigma, classificação dos sintagmas


– sintagma nominal, sintagma verbal, sintagma adjectival, sintagma preposicional e
sintagma adverbial.

 Confirmar no material de auxílio

2º Grupo
Tema: A Estilística de alguns tempos verbais

Aspectos a desenvolver: Ver no material de auxílio

3º Grupo
Tema: Estilística da Frase

Aspectos a desenvolver: Conceito de frase, direma, monorema, frase organizada e


ordem das palavras.

4º Grupo
Tema: Estilística da frase na óptica de Celso Cunha e Lindley Cintra

Aspectos a desenvolver: Ver no material de auxílio

5º Grupo
Tema: A ordem das palavras na construção da frase na Língua Portuguesa

Aspectos a desenvolver: Ver no material de auxílio


6º Grupo

Tema: Levantamento de expressões que predominam na comunicação das zungueiras e


usuários do calão , realçando os recursos expressivos ou estilísticos que predominam no
mesmo.

 Também podem contar com o material de auxílio

O docente: Agnaldo Jaka Tchivinda (Prof. Assistente)


4º Ano – Estilística do Português (Regular)

Material de apoio (ou auxílio) aos trabalhos

(Obs. Os conteúdos estão apresentados de forma “bruta”. Deste modo, devem


seleccionar o fundamental, tendo em conta o tema a abordar, e complementar com
outras informações bibliograficamente comprovadas)

A ESTILÍSTICA DA UNIDADE
SINTAGMÁTICA

1. Noção de Sintagma e de Paradigma


Antes de iniciar a abordagem acerca das propriedades do sintagma
da unidade da frase, é torna-se necessário ter a noção de sintagma.
Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras que, juntas,
desempenham uma função na frase ou ainda, é uma associação de
elementos compostos num conjunto, organizados num todo, funcionando
conjuntamente; sintagma significa, por definição, organização e relações
de dependência e de ordem à volta de um elemento essencial.

Esse conceito tem um significado muito importante para a teoria


gramatical, em particular na abordagem estruturalista. O conceito de
sintagma define-se em oposição ao de paradigma, e ambos referem-se às
relações entre os elementos constitutivos da cadeia linguística. Essas
relações definem-se por um critério de associação desses elementos, na
formação de grupos sintácticos, os sintagmas e de substituição de elementos
em cada posição, os paradigmas.

Assim, a estrutura da oração divide-se em dois grupos sintácticos ou


dois sintagmas: o sujeito ou sintagma nominal e o predicado ou sintagma
verbal, tidos como os sintagmas maiores, pois, cada um deles, pode albergar
os tidos como sintagmas menores como é caso dos sintagmas adjectival,
preposicional, adverbial, etc.
Logo, unidade sintagmática é um agrupamento intermediário entre
o nível da palavra e o da oração. Desta maneira, uma ou mais palavras
unem-se (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração.

Tenhamos com exemplo a frase Essa rapariga loura comprou um


chapéu com uma pena. As palavras que a compõem estão organizadas em
pequenos grupos, que constituem unidades sintácticas. Assim, a relação
estabelecida entre rapariga e loura é mais estreita do que a estabelecida
entre loura e comprou: loura modifica rapariga e não o verbo; do mesmo
modo, essa mantém uma relação estreita com a expressão rapariga loura (e
não morena ou ruiva) que se encontre perto do interlocutor. Continuando
o mesmo exercício, uma combina-se com pena e constitui a unidade uma
pena, a qual se combina com chapéu, para formar a unidade maior com
uma pena, que se combina com com para formar a unidade ainda maior
chapéu com uma pena que, por sua vez, se combina com um para formar
um chapéu com uma pena, a qual, finalmente, se combina com essa
rapariga loura para formar a unidade essa rapariga loura comprou um
chapéu com uma pena.
A cada palavra ou combinação de palavras que funciona como uma
unidade sintáctica chama-se constituinte; na frase considerada, essa
rapariga loura e um chapéu com uma pena, por exemplo, são constituintes.
Os constituintes que se combinam para formar uma unidade sintáctica
maior denominam-se constituintes imediatos dessa unidade; retomando a
frase considerada, comprou e chapéu com uma pena são constituintes
imediatos da unidade comprou um chapéu de pena. Quando determinamos
a estrutura de uma combinação de palavras, analisando o modo como cada
palavra se combina em unidades sucessivamente maiores e mais complexas
estruturalmente, estamos a fazer análise em constituintes, isto é, estamos a
determinar a estrutura de constituintes da frase.

Reparem que a análise em constituintes da frase que considerámos


como exemplo foi descrita em dez linhas e meia prosa extremamente
repetitiva. Conscientes de que o discurso corrido não é a melhor forma de
descrever estruturas, os linguistas propuseram outras formas gráficas de
representação deste tipo de análise:
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena

Nesta representação, a análise em constituintes está representada


através de uma caixa de Hockett, o linguista estruturalista americano que
propôs este tipo de representação. Na mais abaixo, a análise em
constituintes está representada através de um diagrama em árvore.

Tanto na primeira como nessa última representação, a análise está


representada de uma forma ascendente, isto é, dos constituintes menores,
as palavras, para as unidades maiores e as complexas, as frases. Mas a
mesma análise pode ser representada de forma descendente, isto é, partindo
das unidades maiores para as menores:

Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena


Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Essa rapariga loura Comprou um chapéu com uma pena
Uma forma de representar a estrutura de constituintes de uma
combinação de palavras neutra quanto à organização ascendente vs
descendente dos constituintes é a parentização, tipo de representação em
que parêntesis rectos definem os limites esquerdo e direito de cada unidade
sintáctica:
[[Essa [rapariga loura]] [comprou [um [chapéu [com [uma pena]]]]]]

Como as cinco representações mostram, os constituintes imediatos da


frase que tomámos como exemplo desempenham respectivamente as
funções sintácticas de sujeito e de predicado. Os constituintes imediatos da
expressão com a função de predicado são comprou um chapéu com uma
pena. Os constituintes imediatos de uma frase e da expressão com a função
de predicado dessa frase são os constituintes principais da frase.

Em termos gerais, o sintagma é formado por dois ou mais "elementos


consecutivos, um dos quais é o determinado (principal) e o outro o
determinante (subordinado)" (KURY, 1986, p. 9). Assim, a concepção do
sintagma é mais ampla do que a da palavra e mais restrita do que a da frase,
situando-se em posição intermediária entre essas duas dimensões.
Ilustremos o nosso comentário com o exemplo a seguir:

De grão em gão / a galinha / enche [o papo].

No exemplo, usamos as barras para separar os três sintagmas que


formam o provérbio. Podemos verificar que as separações coincidem com
as funções sintácticas. Assim, o sintagma inicial de grão em grão actua
como expressão do modo; o seguinte, a galinha, codifica o sujeito, enquanto
o último, enche o papo, funciona como predicado, formado pelo verbo e o
seu complemento.
Em termos de hierarquia interna, podemos dizer que dois desses
sintagmas se articulam por subordinação, como tende a ocorrer nessas
formações. No sintagma a galinha, o primeiro termo é o determinante,
enquanto o segundo, o substantivo galinha, é o determinado. No sintagma
enche o papo, temos o verbo como elemento principal ou determinado,
seguido do seu complemento, o papo, na função de determinante. Este
último sintagma possui ainda uma outra hierarquia interna, marcada aqui
por colchetes, já que o complemento o papo também constitui um
sintagma, em que o nome papo representa o elemento determinado e o
artigo definido o actua como determinante.
Já o sintagma de grão em grão não apresenta hierarquia entre seus
constituintes, uma vez que as duas ocorrências de grão situam-se no
mesmo nível, ou seja, são correspondentes. Esse modo de organização,
embora mais raro, pode ser encontrado basicamente na formação de
construções compostas, em torno da partícula aditiva e, como em a galinha
e o pato ou o papo e o estômago, por exemplo. Quando assim acontece,
dizemos que se trata de relações horizontais'; desprovidas de hierarquia,
enquanto a subordinação estabelece relações "verticais'; em que um dos
constituintes funciona como elemento principal ou determinado.

2. Classificação dos sintagmas

De uma maneira geral, são cinco os tipos de sintagma que podemos


identificar na língua portuguesa. Tal classificação depende da composição
interna dessas unidades. Trataremos, a seguir, de cada uma delas:

2.1. Sintagma Nominal


Esse tipo de sintagma tem como determinado, ou núcleo, um subs-
tantivo, que poderá estar acompanhado de determinantes. Os
determinantes que costumam anteceder o núcleo do SN são basicamente
artigos e pronomes (demonstrativos, indefinidos, possessivos, entre outros);
os determinantes que sucedem o núcleo do SN são nomeados mais es-
pecificamente de modificadores e cumprem a tarefa de qualificar o núcleo
referido.
Em geral, os determinantes de um SN organizam-se também em
sintagmas, subordinados ao núcleo do SN. Hierarquicamente, portanto, o
substantivo tem o principal papel no SN, enquanto os demais constituintes
cumprem uma função secundária:
Vejamos os exemplos:
A.
a) a bolsa
b) a bolsa de estudos
c) a bolsa de estudos para o estrangeiro
d) a melhor bolsa de estudos

B.
a) alguns cadernos
b) alguns cadernos de Matemática
c) alguns cadernos de Matemática perdidos hoje
d) alguns cadernos novos de Matemática

Núcleo e complementos formam a estrutura lexical da categoria SN;


por sua vez, determinantes e qualificadores formam a estrutura funcional
do SN.

2.2. Sintagma verbal


Esse sintagma (SV) é constituído por um núcleo verbal e por
complementos seleccionados categorial e tematicamente pelo verbo.
O núcleo verbal pode ocorrer isolado ou acompanhado de um ou mais
verbos auxiliares.
a) A Luísa foi ao mercado.
b) A Luísa tem ido ao mercado.
c) O Cristóvão está a assar um pássaro.
d) O Cristóvão vai assar um pássaro.
e) O pai leu a história à filha.
f) A história foi lida pelo pai à filha.

A concordância entre o sujeito e o verbo, ou seja, a atribuição de


morfemas de pessoa e número à forma verbal faz-se entre o sujeito da
oração e a primeira forma verbal, quer ela seja o verbo principal quer seja
auxiliar, como é visível tanto nos exemplos acima, quanto nos a seguir:
a) O homem adormeceu.
b) Tu comes depressa
c) Havemos de ir à praia com a Justa.
d) Os jovens podem ser surpreendidos

Embora a concordância possa ser vista como uma propriedade


morfológica, uma vez que só certo tipo de palavras (neste caso os verbos)
são afectadas por afixos de tempo, modo, aspecto, pessoa e número,
também é essencialmente um processo sintáctico com reflexos
morfológicos, na medida em que opera entre certas palavras sob
determinadas condições estruturais.

2.3. Sintagma adjectival


Aqui, o núcleo ou determinado é um adjectivo, que pode estar
acompanhado de determinante, como artigo, pronome ou numeral, por
exemplo.
Na hierarquia que caracteriza as relações sintagmáticas, o SAdj
participa da organização do SN, como parte periférica deste, actuando na
condição de estratégia qualificadora. Por qualificar o núcleo do SN que
precede ou sucede na organização da frase, o SAdj concorda em género e
número com esse núcleo.
De acordo com a sintaxe mais regular da língua portuguesa, o SAdj
tende a colocar-se após o núcleo do SN, no que chamamos ordenação
canónica': Numa outra alternativa, mais rara e desencadeadora de efeitos
de sentido específicos, o SAdj pode aparecer à frente do núcleo do SN. Em
geral, a vinculação entre esse núcleo e o SAdj é tão forte que não se admite
alteração nas posições desses constituintes.
Podemos ilustrar a referida vinculação com o SN águas passadas num
outro provérbio (águas passadas não movem moinhos), em que passadas
(SAdj), também no feminino e no plural, concorda com o núcleo águas,
funcionando como seu determinante. Seria possível dizermos passadas
águas? Talvez sim, mas essa possibilidade seria pouco provável. Ademais,
a anteposição do SAdj passadas criaria alguma alteração de sentido. Águas
passadas são águas que passaram, correspondentes a antigas, por exemplo;
por outro lado, passadas águas destaca o valor verbal do particípio
passadas, que poderia ser traduzido por quando (ou se) as águas passarem.
Consideração semelhante podemos fazer a partir de outros arranjos
sintácticos correspondentes que temos em português, como homem pobre
/ pobre homem, mulher grande / grande mulher, cão amigo / amigo cão
e assim por diante.
No caso específico do SAdj, em geral, a ordem canónica, após o núcleo
do SN, tende a expressar conteúdo mais referencial e objectivo (águas
passadas, homem pobre, mulher grande, cão amigo), enquanto a
anteposição ao núcleo do SN cria efeitos mais subjectivos (passadas águas,
pobre homem, grande mulher, amigo cão). Trata-se, portanto, não só de
um problema de estruturação da frase, mas de conteúdos distintos.
2.4. Sintagma Adverbial (SAdv)
O sintagma adverbial tem como determinado um advérbio. Via de
regra, o sentido veiculado pelo SAdv incide sobre o verbo da frase. Dessa
forma, assim como o SAdj se subordina ao núcleo do SN, o SAdv subordina-
se ao núcleo do SV. Ambos - SAdj e SAdv - ocupam posições e articulam
sentidos subsidiários nos sintagmas maiores que integram.
O SAdv funciona na expressão de uma série de circunstâncias
referentes à acção verbal, como o local, o tempo, o modo, o meio, a
intensidade, entre outras de menor frequência. Devido ao seu carácter
marginal, o lugar canónico do SAdv na frase é na parte final, após o núcleo
do SV e seus complementos.
Tomemos a frase (a) como exemplo. Podemos, por um processo
de"expansão" de sentido e de forma, ampliá-la com a posposição de uma
série de SAdv, que vão concorrer para a expressão de variados matizes da
acção verbal:
a) O João seguiu o Pedro na rua.
b) O João seguiu o Pedro na rua atentamente ontem.
Em (b), o que fizemos foi, ao final da frase, justapor mais duas
circunstâncias ao acto praticado por João, respectivamente, o modo
(atentamente) e o tempo (ontem). Essa série de três constituintes pode ser
interpretada com um só SAdv, composto por três núcleos, ou ainda, com
base nas distintas circunstâncias articuladas, podemos admitir que cada
qual representa um SAdv específico.
Quando enfatizamos o conteúdo expresso pelo SAdv numa frase, o
sintagma passa a ocupar posição inicial ou intermediária. Na modalidade
oral, essa antecipação ou intercalação é acompanhada por pausa; na
escrita, costumamos usar vírgula para tal marcação. Com base em (b), são
muitas as possibilidades de (re)ordenação dos SAdv, vamos ilustrar apenas
duas:
c) Atentamente, o João seguiu o Pedro na rua ontem.
d) Ontem, o João seguiu o Pedro na rua atentamente.
O que motiva a ordem dos sintagmas em (c) e (d) é o tipo de destaque
que se faz ou não das circunstâncias expressas. Em (c), enfatiza-se o modo
da acção; em (d), o tempo. Como já referimos anteriormente, não estamos
a discutir acerca de arranjos sintácticos "certos" ou "errados'; mas a tratar
da adequação das frases e as suas diversas opções de ordenação, às
condições de produção dos textos que produzimos no uso linguístico
quotidiano.

2.5. Sintagma Preposicional (SP)


Também chamado de sintagma preposicionado, esse tipo de unidade
é constituído a partir de dois arranjos distintos: preposição + SN ou
preposição + SAdv. Tal como o SAdj e o SAdv, o SPrep ocupa posição
hierárquica inferior em relação ao SN e ao SV, uma vez que funciona como
determinante, ou subordinado, destas unidades maiores.
Ao lado do núcleo do SN e do núcleo do SV, o SPrep pode constituir
um complemento ou uma adenda a esse núcleo, assumindo funções
atributivas ou circunstancias, entre outras. Como são diversas as
preposições e a sua frequência é grande, os SPrep constituem um tipo de
unidade muito usada na sintaxe do português.
No interior do predicado, o SPrep tende a complementar determinados
verbos, como por exemplo gostar e precisar, que requerem a posposição de
unidades do tipo de chocolate e de dinheiro, respectivamente.

1. A Estilística de alguns tempos verbais

O dia-a-dia da língua, por ser mais prático, tende a ser mais objectivo
em relação à gramática. Este postulado é mais evidente no uso dos tempos
verbais, pois há uma distinção fundamental entre duas entidades descritas
pelos verbos em português: os acontecimentos, e os estados. Os
acontecimentos acontecem num tempo e num lugar determinado, ao
contrário dos estados.

A) TEMPOS DO INDICATIVO

1.1. O Presente

O Presente usa-se normalmente para propriedades (estados)


presentes:
1. Está calor.
2. Ela é simpática.
3. Gosto muito de teatro.

Quando usado com acontecimentos designa um hábito ou regra (ou


um futuro próximo, como veremos depois).
1. Como muito ao jantar.
2. Não bebes muito vinho.
3. Ela dança, e ele escreve.
4. Quando tenho calor tomo banho na piscina.
5. Quem canta seus males espanta. (provérbio)
6. Aos sábados dou um passeio pela cidade.

Se se quiser afirmar que um acontecimento está a acontecer no


momento presente, TEM de se usar a forma progressiva:
1. Estou a comer uma maçã e não Como uma maçã.
2. O que é que estás a fazer? e não O que é que fazes?
O presente pode referir acontecimentos futuros, desde que seja bem
definida a sua ocorrência (ou seja, haja uma previsão não só da ocorrência,
mas também da altura em que o acontecimento se dará).
1. Hoje dou aula às 3.
2. O avião chega às 9.
3. O filme é às 8.
4. Esta noite o Presidente fala na televisão.
5. Vou para Itália em Dezembro.
6. Quando receber o dinheiro, compro uma televisão.
7. Logo que chegares, faço o jantar.

Em alguns casos, uma frase no presente é vaga entre uma regra e um


caso (futuro) único:
1. Quando é que almoças?
2. Aonde vais nas férias?
3. O comboio chega às 6.
4. Dou aula às 10.

O presente é usado em português para especificar um período


passado que inclui o presente (ao contrário do inglês ou do norueguês):
1. Estou em Oslo desde Janeiro.
2. Ele é professor há vários anos.
3. O João toca viola desde os 10.
4. Estou à espera há dois dias.

O presente é também usado para fazer actos de fala (na 1.a pessoa
do singular):
1. Prometo
2. Baptizo-te
3. Juro

Por outro lado, em reportagens desportivas, ao contar anedotas, e em


livros de História antigos usa-se o chamado presente histórico:
1. Entra um homem num bar e pergunta: etc...
2. Gilberto passa para Zé Kalanga, Zé Kalanga cruza para Akwá,
este centra e goooooooooooolo!
3. Júlio César entra na Gália, vence os gauleses chefiados por
Vercingetórix e chega às Ilhas Britânicas no princípio do Verão

3.2. Mais-que-perfeito

É usado para descrever um acontecimento ocorrido antes de um


determinado ponto de referência passado, que é geralmente assinalado por
um Perfeito:

1. Ele deitou fora o bilhete, que tinha comprado na véspera.


2. O João apresentou-me a rapariga que tinha conhecido na festa.

O Mais que perfeito tem várias propriedades em comum com o Perfeito.


Por exemplo, pode ser usado para descrever um estado causado por uma
dada acção passada (relevância de um acontecimento passado):
1. As fotografias tinham caído para baixo da estante.
2. O cano tinha descaído com a pressão.
3. o que corresponde respectivamente a
4. As fotografias estavam (caídas) debaixo da estante
5. O cano estava mais abaixo.

Assim como com o Perfeito, já + Mais que perfeito apenas indica que o
acontecimento ocorreu, não interessando quando:
1. Ele já tinha comprado o bilhete quando ela lhe sugeriu irem ao
teatro.
2. Quando o João finalmente entrou na sala, já todos tinham chegado.
Já tem contudo uma outra função, que é a de indicar precedência
quando há dois Mais que perfeitos envolvidos:
1. Quando fora para a tropa, já tinha tido vários desgostos.

Sem já, a frase anterior refere-se a desgostos durante a tropa, e não antes
de ir para a tropa.
O Mais que Perfeito é usado no discurso indirecto para traduzir o
Perfeito:
2. Comprei um carro, fui dar um passeio e fiquei deslumbrado.
3. Ele disse que tinha comprado um carro, tinha ido dar um passeio e
tinha ficado deslumbrado.
Mas não para traduzir o Imperfeito:
1. Os meus tios eram comunistas e nunca iam à igreja.
2. Ele disse que os tios dele eram comunistas e que nunca iam à igreja.
(e não tinham sido comunistas e nunca tinham ido à igreja)

Em geral, quando o Imperfeito é habitual, co-ocorre com o Mais que


perfeito (ou seja, não há hábitos mais passados):
1. Ele tinha-se esquecido dos banhos que o pai tomava ao entardecer.
2. Ele tinha detestado os camponeses que falavam em revolução.

Compare-se com
1. Ele tinha detestado os camponeses que se tinham instalado nas
suas terras.
em que é um acontecimento que é referido na oração relativa, e por isso
deve estar no Mais que perfeito.
Em geral, o Mais que perfeito simples já não se usa na linguagem
falada, ainda que possa ser utilizado na linguagem escrita por razões
estilísticas (é menos pesado), sobretudo quando vários verbos são
utilizados:
1. Os homens que amara e que a tinham amado...
2. Quando a vira, tinha-se apercebido de que nada voltaria a ser igual.

Há, no entanto, alguns usos idiossincráticos do Mais que perfeito


simples que não podem ser substituídos pelo composto:
1. Quem me dera ir ao Rio!
2. Tomara eu que ele olhasse para mim!

3.3. Futuro do indicativo e futuro perfeito

O futuro não se usa para acontecimentos futuros, cuja data de


ocorrência seja previsível, caso em que se usa o Presente,

1. Passo por tua casa esta noite.

nem para aqueles que correspondem a uma promessa ou desejo cuja


data é indefinida:
1. Hei-de convidar-te para cá vires jantar.
2. Tu hás-de ser reconhecido como um grande poeta.

Igualmente, acontecimentos ou estados futuros considerados prováveis


são expressos pela perífrase ir no presente mais o verbo no infinitivo:
1. Vou comprar um carro desportivo.
2. O Benfica vai remodelar a sede.
3. O novo aeroporto de Oslo vai ser em Gardemoen.
4. A Manuela vai ter outro bebé no Verão.
5. Quando me deres o livro, vou lê-lo de uma ponta à outra.

Assim, o futuro do indicativo em português só tem os seguintes usos

1. quando é expresso com quantificação, ou seja, quando se refere a


mais do que uma ocasião futura:

a) Nada te faltará
b) O rei nunca será esquecido
c) Terás sempre a impressão de ter perdido alguma coisa.
d) Nunca perceberás porque ele te deixou.
e) Não chegará a matar, mas estará lá perto muitas vezes.
f) Farei tudo o que for preciso.

2. quando exprime uma dúvida sobre o futuro


a) Terá cura?
b) Choverá?
c) Não sei se fará o que prometeu.
d) Se fará ou não, só o futuro o dirá.
e) Conseguiremos manter a promessa?

3. Pode exprimir uma dúvida também sobre o presente:


a) Será que os vizinhos foram de férias?
b) Será que o João está doente? ou Estará o João doente?
c) Será possível?

Para exprimir dúvida sobre o passado, usa-se o futuro perfeito:


1. Terão chegado já?
2. Terá sido o Gustavo o responsável por esta balbúrdia?
3. Lembras-te se terás contado à tua irmã?

O futuro perfeito também se usa para exprimir um tempo futuro


anterior a outro tempo também futuro:
1. O Miguel vai para a tropa em 1996. Nessa altura já terá feito
o 12º ano.
2. Até que chegues, a criança terá tido tempo para fazer muitos
disparates.
3. Quando acabares o curso, terás tido muitas ofertas de
emprego./terás aprendido mais do que pensas.
embora esteja a ser substituído pelo Perfeito com já na linguagem falada.
1. Quando lá chegares, já eu comi a sopa.

3.4. Condicional

O tempo/modo condicional é empregue em três tipos de contextos:

1. O Condicional pode representar um futuro alternativo no passado:


Quando o conheci em 1990, ele disse-me que partiria um dia para
terras de África e que não voltaria.
2. Ou um contexto hipotético, não real, no presente
a) Tu não resistirias a um tal choque.
b) A Joana nunca faria uma coisa dessas.

ou no futuro
a) Se a Rita visse isso, ficaria demasiado perturbada para reagir.
b) Se ganhasse a lotaria, compraria uma quinta.

Neste caso, ou seja, no contexto "frase principal com uma subordinada


se no Imperfeito do Conjuntivo", o Condicional tende a ser substituído pelo
Imperfeito em português de Portugal.

3. Por outro lado, o Condicional é empregue para exprimir incerteza


numa afirmação, ou seja, para indicar que o falante não responde
pela verdade da sua afirmação.

a) Teria aí uns trinta anos


b) Eu diria que ele estava bêbado.
c) Dir-se-ia que a casa tremia toda.

Finalmente, o Condicional usa-se no discurso indirecto para


exprimir o Futuro:
1. Nada te faltará
2. Ele afiançou-lhe que nada lhe faltaria.
3. Ter-se-á esquecido do que combinámos?
4. Ela interrogou-se sobre se ele se teria esquecido do que tinham
combinado.
Em consequência, é também usado no discurso indirecto livre com
essa função:
1. O José parou. Seria possível? Teria ela feito mesmo aquilo de que o
Pedro a acusava?
2. A Rita sorriu. Conseguiria manter a promessa? Era tão frágil, pensou
o João.
O Condicional composto apenas difere do Condicional por pressupor
um tempo passado

 sobre o qual se indica um futuro,


1. Quando tivesses ido à tropa, já terias sido roubado de tudo.

 ao qual se refere o contexto hipotético


1. Se tivesses feito o que te disse, terias ganho uma fortuna.
2. Aqui não te teriam enganado!

 sobre o qual se exprime incerteza


1. Teria escrito alguns livros, dizia-se.
2. Teríamos bebido e dito coisas que não devíamos.
B) TEMPOS DO CONJUNTIVO
Os tempos do conjuntivo (subjuntivo, em português brasileiro) são
empregues para descrever uma acção/situação fora do plano real. Assim,
o presente pressupõe uma avaliação/acção associada à situação descrita
nesse tempo; o futuro representa uma acção ainda sem realização
específica (sem localização temporal determinada, ou com um actor
genérico, etc.); e o imperfeito descreve essa acção como uma hipótese
contrária aos factos, além de ser, primordialmente, a versão passada tanto
do futuro como do presente do conjuntivo.
Os tempos compostos, por outro lado, apenas adicionam ao sentido
do tempo simples a informação de que a acção/situação é encarada como
passada, ou seja, já completada, e não introduzem pois nenhum elemento
adicional de sentido.
É importante salientar que, ao contrário de outras línguas, os tempos
do conjuntivo não apresentam sinais de desaparecimento em português.

3.5. Futuro do conjuntivo

Este tempo usa-se apenas em dois tipos de contextos:

1. Em orações iniciadas por se, em que se põe a hipótese da acção


descrita por esse tempo vir a ocorrer:

a) Se vieres a Lisboa, vem cá ter a casa.


b) Eu pago-lhe o almoço se ele quiser.
c) Se ganhar a lotaria, compro uma vivenda no Restelo.

2. Em frases iniciadas por quando, quem, o que, como, etc., em que


descreve uma acção genérica, ou melhor, uma acção em que uma
dada característica (a descrita por essa palavra) ainda não foi fixada.

a) Quando vieres a Luanda, telefona-me.


b) Quem puder ler o artigo, por favor, fale comigo.
c) Arranja-te como quiseres.
d) Faz o que entenderes.
Dentro deste grupo, destacam-se também alguns tipos de
subordinadas temporais (cujo significado está relacionado com
quando):
a) Logo que puderes, telefona-me.
b) Enquanto estiveres em Cuba, não precisas de cá vir.
c) Enquanto não vires a Serra da Leba, não sabes do que
estás a falar.
d) Assim que fizer este embrulho, vou para aí.
3.6. Presente do conjuntivo

O uso mais frequente do presente do conjuntivo é o de afirmar uma


dada atitude do falante perante a situação descrita nesse tempo, quer seja
de dúvida, de desejo ou de mera atribuição de uma probabilidade, até à
indicação de uma postura determinada quanto à acção.
Como tal, é frequentemente utilizado em orações dependentes de
verbos ou expressões com esse significado, que pode ser, para efeitos de
generalização, divididas em (as frases marcadas com asterisco indicam que
o modo indicativo também é possível):

 expressão de crença/descrença

a) Duvido que o Pedro venha.


b) Acredito que o Partido saia reforçado deste congresso.*
c) Suponho que estejas cansado.*
d) Imagino que não te lembres de mim.

 expressão de desejo/receio

a) Espero que o livro seja um sucesso.


b) Receio que esse movimento traga consequências graves.
c) Tenho medo que este depoimento perturbe a campanha.
d) Temo que não apareça.
e) Desejo que tenhas uma vida muito feliz.

 expressão de afirmação (acto de fala)

a) Insisto para que faças o que prometeste.


b) Nego que o tenha feito alguma vez.*
c) Sugiro que ponha o lugar à disposição.
d) Proponho que a comissão se reúna.
e) Peço que me dispense amanhã.
f) Não digo que não o conheça.*

 expressão de avaliação (quer sobre a veracidade da oração no


conjuntivo, quer sobre os seus resultados)

a) Pode ser que o rapaz não esteja a mentir.


b) É possível que ele entregue o artigo a tempo.
c) É (pouco) provável que este livro desencadeie grande
oposição.
d) É bom que ele seja tão aplicado.
e) É mau que os portugueses não votem.
f) É uma maravilha que as crianças aprendam uma língua sem
dificuldade.
Exemplos dos mesmos verbos (marcados com asterisco) seguidos de
orações no indicativo:

a) Acredito que ele é honesto.


b) Não nego que ele trabalha bem.
c) Suponho que és comunista.

 Também em orações dependentes de nomes aparecem


associados estes valores:
a) A proposta de que se construa uma nova ponte foi
rejeitada.
b) O receio de que ele esteja doente amargura-lhes a vida.
c) O medo de que o furacão chegue à cidade levou já vários
habitantes a fugir para o campo.
d) A sugestão de que se faça um livro de actas colheu
grande apoio.
e) A esperança de que esta medida melhore
significativamente as condições no país levou a uma
grande receptividade por parte dos cidadãos.

 É também comum omitir o verbo principal (e por vezes o que)


em alguns contextos mais fixos, como é o das exclamações,
desejos e ordens:
a) (desejo que) Viva Angola!
b) (desejo que) O diabo seja cego, surdo e mudo!
c) (espero) Que lhe faça bom proveito!
d) (espero) Que lhe sirva de lição!
e) Se baterem à porta, (diga-lhes) que entrem.
f) (ordeno que) Entre!
g) (recomendo que) Não te esqueças do casaco.
h) (sugiro que) Coma mais um bolinho!
i) (desejo) Que o leve o diabo!

De facto, a expressão das ordens (o modo imperativo) foi quase


totalmente substituído, formalmente, pelo presente do conjuntivo. Assim,
ordens negativas exprimem-se sempre no conjuntivo, e as afirmativas só
na segunda pessoa do singular usam o imperativo:
a) Não entres!
b) Não corra!
c) Saia!
d) Vejamos!
Ouçam!

 Dois advérbios em posição pré-verbal também requerem o


conjuntivo: talvez, e oxalá. Note-se que funcionam, em termos
de sentido, como expressão de desejo (oxalá) e de avaliação
quanto à veracidade do enunciado (talvez).
a) Oxalá venha depressa!
b) Oxalá que consigam fazer o que querem!
c) Ele talvez não tenha sido convidado.
d) Talvez queira um cigarro.

 Em relação a talvez, note-se que existem alguns casos


marginais em que é usado em posição pós-verbal, com o verbo,
portanto, no indicativo, nesse caso apenas se reportando ao
sintagma imediatamente a seguir:
a) Ele é talvez o melhor romancista do século XX.
b) Este hipopótamo come talvez dez quilos de forragem por
dia.

 Muitas conjunções em orações subordinadas também pedem o


presente do conjuntivo, quando a oração principal se reporta
ao presente ou futuro:
a) Quer chova quer faça sol, lá está ele de plantão de
madrugada.
b) Embora seja convidado, não é tratado como os outros.
c) Mesmo que venha, já não chegará a tempo para
ouvir o discurso.
d) Por mais que faça, chega sempre atrasado.
e) A não ser que se veja livre dela, não sei como a poderá
esconder.
 Existem alguns casos de orações subordinadas sem conjunção,
correspondendo a quer ... quer :
a) Faça sol ou chuva, ele percorre o país de lés a lés.
b) Venha o rei ou a sua comitiva, não conseguem
demovê-lo.

ou especificamente indicando várias hipóteses (através de uma


oração com futuro do conjuntivo):
a) Venha quem vier, faço o discurso.
b) Faça-se o que se fizer, acontece sempre a mesma coisa.
c) Aqui em Catete ela não conhece seja quem for que a possa
ajudar nesse assunto.

 Em orações relativas, o presente do conjuntivo indica uma


dada propriedade sobre a qual não há ainda instância (caso
particular):
a) Procuro uma secretária que saiba alemão.
b) Quero um prato que não tenha muito sal.
c) Não mora aqui ninguém que eu conheça.
d) A quem prometa mundos e fundos não se pode
entregar o governo.
Por outro lado, o presente do conjuntivo é usado em expressões
objecto de verbos indicando existência, expressões essas indefinidas devido
ao pronome quem.
a) Há quem diga que a casa está assombrada.
b) Não falta quem goste de apoucar os outros.

 Finalmente, em linguagem popular usa-se a expressão eu seja


"qualquer coisa má" se para indicar de forma extrema que a
frase seguinte é verdadeira:
Eu seja ceguinho se estou a mentir. (= Não estou a mentir)
Eu seja desgraçada se ele não me mostrou a criança. (= Ele mostrou-
me a criança)

3.7. Futuro do conjuntivo vs. presente do conjuntivo em orações


relativas

A distinção entre o futuro do conjuntivo e o presente do conjuntivo


em orações relativas é semelhante àquela que opõe "uma pessoa qualquer"
a "qualquer pessoa". Com efeito, uma oração relativa no presente do
conjuntivo descreve uma pessoa qualquer com uma dada propriedade, mas
apenas uma, enquanto que no futuro do conjuntivo descreve qualquer
pessoa com essa propriedade:
a) Uma secretária que souber alemão arranja emprego
facilmente.
b) Um prato que tiver muito sal é desagradável ao cliente.
c) Uma educadora que puder tratar desse problema será bem
vinda.
Donde, em termos de implicação, em termos de valores de verdade,
uma dada frase no futuro do conjuntivo implica a correspondente no
presente do conjuntivo (FC => PC). O que não quer dizer que seja
substituível (ou aceitável) em todos os contextos.

3.8. Conjuntivo vs. indicativo

Alguns verbos usam o conjuntivo quando negados, mas o indicativo


se não negados: achar, acreditar, crer, pensar, ter a certeza.

a) Não acho que este vinho seja mau, mas acho que o outro é bem
melhor.
b) Não acredito que o João seja assim. Acredito que ele é honesto.
c) Não creio que esteja errado. Creio que são três horas.
d) Não penso que ele seja mau de todo, mas penso que a sua companhia
te é prejudicial.
e) Não tenho a certeza de que não haja políticos honestos, mas tenho a
certeza de que são poucos.

Estilística da Frase

Noção de frase

Uma frase é o enunciado de uma acção ou de um juízo. Pressupõe


um termo que apresente ao espírito a coisa a respeito da qual se levanta
uma questão – o sujeito psicológico – e um termo que indique o que se tem
a dizer sobre essa coisa – o predicado psicológico. Na frase de juízo, sujeito
e predicado estão ligados por uma cópula, o verbo ser ou um dos seus
substitutos lexicológicos: o cão é fiel. Se se trata de uma acção, o verbo
desempenha a dupla função de cópula e predicado: O Paulo trabalha.
Além disso, a frase é constituída por termos secundários que
determinam os elementos principais, que notam as circunstâncias da acção
ou do estado: hoje, o Paulo escreveu uma longa carta a seu pai. O cão é fiel
ao seu dono.
Por mais simples que sejam, estas frases representam já um estádio
bastante avançado de elaboração, não no tempo, mas no pensamento. Antes
de atingir este grau de intelectualidade e esta unidade, a frase passou pelas
etapas do monorema e do direma.

a) Monorema
Imaginemos o seguinte cenário: deixo a minha bicicleta contra o
passeio; quando volto, verifico que desapareceu. O meu sentimento
manifesta-se com uma exclamação: roubada! Estará esta frase incompleta?
O sujeito gramatical não está, de facto, expresso, mas reconstitui-se por si
só. Também poderia dizer: a minha bicicleta! A ideia de roubo não está
exteriorizada, mas existe no meu pensamento. Convém notar que estas
frases, cujo esclarecimento advém apenas de uma implicitação de factos e
circunstâncias, surgem nomeadamente como reacções pessoais que não
visam um destinatário particular, a não ser, possivelmente, um
interlocutor-testemunha, que possua todos os elementos que permitam
fazer a reconstituição histórica do acontecimento. Estamos perante uma
linguagem espontânea que se exprime por explosão súbita do sentimento e
a que recorremos, instintivamente, quando estamos sob a acção de uma
forte emoção.
As interjeições (ah! bah! chiu! ai!, etc.) não são mais que frases
monoremas; mas não o são as respostas constituídas por um advérbio de
opinião (sim, não, sem dúvida) ou por um termo único: Quando chegas? –
Amanhã, que são abreviaturas ou convenções sintácticas.

b) Direma

Com o direma, ou frase de dois membros, atingimos um grau


superior da explicitação. Temos sujeito e predicado psicológicos, embora
os termos não estejam ainda ligados: Voou, o chapéu! – O meu chapéu!
Voou! – Acabaram-se! Os dias maus – Este homem! Um malandro!
O pensamento elabora-se em dois tempos. A explosão é seguida de
um segundo termo, que completa a ideia. Notar-se-á, aliás, que não existe
uma correspondência necessária entre o sujeito gramatical e o sujeito
psicológico, entre o predicado gramatical e o predicado psicológico: o meu
chapéu (sujeito psicológico) voou (predicado psicológico). Voou (sujeito
psicológico) o chapéu (predicado psicológico).
Não é por o verbo estar subentendido1 que a frase é diremática; a
frase também é diremática, por exemplo em: Tem bastantes dificuldades, o
camponês. É-o porque o pensamento se faz em dois tempos, não tendo a
precipitação, nascida da afectividade, chegando a deixá-lo organizar-se e
a encontrar a sua unidade.
Por vezes, surge um rudimento de síntese, com a cópula de: Ah!
Complicação de vida! Estupidez de homem! Disparate de guerra! Estas
expressões mantêm-se na frase organizada, porque o substantivo
caracterizador precede o substantivo caracterizado, isto é, passando de
predicado gramatical a sujeito psicológico.
A construção diremática exprimirá também um curioso tipo de
relativa: chove! E a minha janela que ficou toda aberta! Pensamento em
dois tempos: e a minha janela! Ficou toda aberta! A que o relativo dá
princípio de síntese.

c) Frase organizada

Na etapa superior, temos a frase organizada. O locutor teve cuidado


de não formar o seu enunciado, de não exteriorizar o seu pensamento
enquanto não efectuou a síntese do sujeito e do predicado. Isto não quer
dizer que a frase organizada exclua qualquer conteúdo emocional ou
expressivo. A emoção pode ter uma tradução imediata e espontânea; pode
também revestir-se de determinado grau de intelectualização. O génio da
língua saberá adaptar-se aos mais variados cambiantes, tendo em conta,
1
Em Linguística não há subentendidos
simultaneamente, as circunstâncias da comunicação, a reacção do locutor
perante os factos e uma série de intenções mais ou menos conscientes que
constituem a estética dessa comunicação.
Se quisermos dar-nos conta das intenções exactas de uma frase –
quer a ordem das palavras resulte de um propósito expressivo ou de um
propósito artístico, quer seja, muito simplesmente, devido a uma
preocupação de assegurar a ligação com a frase precedente – teremos de,
para cada facto, reportar-nos ao tipo intelectual mais neutro.
Assim, este verso: Sem amizade por um, e pelo outro sem chama2,
contém um efeito, porque a ordem natural foi alterada: a sequência
progressiva desaparece na segunda parte, a cadência modifica-se e o
pensamento afirma-se de forma dissimétrica. Isto não significa que a ordem
natural corresponda ao grau zero da afectividade. Através da tradição e da
educação auditiva, adquirimos certos hábitos, o sentido de determinada
lógica da fala, de uma certa cadência, de uma certa musicalidade. Dentro
destes parâmetros, podemos exprimir tudo o que temos a dizer, mas o
mínimo desvio é susceptível de implicar determinado efeito.

1. Ordem das palavras

Na esmagadora maioria das línguas do mundo as combinações de


palavras em frases declarativas (isto é, em asserções afirmativas ou
negativas) obedecem a uma das três seguintes ordens básicas: SVO (ordem
verbo-medial: o sujeito precede o verbo e este precede os seus
complementos), VSO (ordem verbo-inicial) e SOV (ordem verbo-final).
A ordem básica das palavras de uma língua, também denominada
ordem não marcada, é a ordem estruturalmente mais simples e
discursivamente mais neutra – quer dizer, aquela em que não se dá
nenhum destaque especial a qualquer dos elementos da frase.
A língua portuguesa é uma língua verbo-medial. Isto não significa
que todas as frases declarativas do Português correspondam ao padrão
SVO. Na realidade, razões de natureza discursiva (como a escolha de uma
expressão diferente da que tem a relação gramatical de sujeito para assunto
acerca do qual se afirma ou nega alguma coisa, ou o estatuto de informação
nova do sujeito ou do sujeito e do objecto simultaneamente) e construções
sintácticas específicas (como as orações relativas em que o pronome
relativo não tem a relação gramatical de sujeito) podem levar a que a ordem
básica seja alterada. Assim, considerem-se os seguintes exemplos:

2
Corneille
1. a) [Os miúdos]s [devoraram]v [o gelado]o.
b) [O gelado], [devoraram]-no [os miúdos].
c) [Devoraram] [os miúdos] [o gelado].
d) [Devoraram] [o gelado] [os miúdos]

A frase (1a), com a ordem básica SVO, pode ocorrer num discurso
em que se esteja a narrar o que aconteceu durante uma festa de anos de
uma criança (por exemplo, Chegou finalmente a hora do lanche. Os
miúdos devoraram o gelado como resposta a uma pergunta como O que é
que aconteceu? Este é um caso em que se transmite uma informação nova,
isto é, informação desconhecida para quem fez a pergunta.
A frase (1b) não é discursivamente neutra, uma vez que se faz do
objecto o gelado o assunto sobre o qual se afirma ou nega alguma coisa (os
linguistas costumam dizer «o tópico acerca do qual se faz uma predicação»)
e o sujeito os miúdos é a parte da frase que transmite a informação com
maior grau de novidade (os linguistas costumam dizer «o foco
informacional»). Por isso, esta frase, em que o objecto em posição inicial é
retomado junto do verbo sob a forma de um pronome, pode ocorrer como
resposta a uma pergunta sobre o gelado: O que aconteceu com o gelado?
R: O gelado, devoraram-no os miúdos.
A frase (1c) também não é discursivamente neutra, pois,
contrariamente ao que é habitual, não só o objecto o gelado como também
o sujeito os miúdos constituem informação nova, pelo que a frase pode
ocorrer como resposta à pergunta Quem é que devorou o quê? R:
Devoraram os miúdos o gelado.
Como as duas frases anteriores, 1d) não é discursivamente neutra,
uma vez que o sujeito constitui informação nova, de que o interlocutor não
dispunha. Por esta razão, pode ocorrer como resposta a uma pergunta
como Quem é que devorou o gelado? R: Devoraram o gelado os miúdos.
Do comentário às frases anteriores, podemos concluir que as
diferentes ordens de palavras em frases declarativas simples, isto é, em que
só existe uma oração, reflectem o estatuto discursivo das expressões que
elas ocorrem. Assim, a posição inicial da frase é reservada para o tópico e
a final para a informação com maior grau de novidade, ou seja, a ordem de
palavras básica em Português é aquela em que o sujeito da frase é o tópico
e o objecto é o foco informacional (ou, num contexto de pergunta e
resposta, em que toda a frase constitui informação nova).
Também construções sintácticas específicas, tanto em frases
declarativas como em interrogativas ou exclamativas, podem exigir a
alteração da ordem básica SVO. Considerem-se os seguintes exemplos:

2. a) Não gosto do gelado que os miúdos devoraram.


b) Não sei o que os miúdos devoraram.
c) O que devoraram os miúdos?
d) Que grande gelado devoraram os miúdos.

Nessas frases, ocorrem palavras e expressões com uma propriedade


sintáctica interessante: são atraídas para a posição inicial da oração. É isto
que acontece com o pronome relativo que em (2a), com o pronome
interrogativo o que em (2b), frase que contém uma oração subordinada
interrogativa indirecta, e em (2c), uma oração interrogativa directa, e com
a expressão que integra o quantificador exclamativo que em (2d), uma
frase exclamativa. Porque a maioria das palavras que têm esta propriedade
começam pela letra q em Português, é usual chamar-lhes palavras-Q, tal
como é habitual designar as expressões que contêm estas palavras
Sintagmas-Q.
Como é visível nos exemplos em (2), esta propriedade das palavras e
expressões-Q origina ordens de palavras diferentes da ordem básica nas
orações relativas e exclamativas, quando a palavra ou expressão-Q não tem
a relação gramatical de sujeito.
Nas frases interrogativas directas como em (2c), nas exclamativas
como em (2d) e, num subconjunto de orações adverbiais não finitas
(concretamente nas gerundivas não preposicionadas e nas participiais),
existe igualmente uma alteração ao padrão básico de ordem de palavras.
Com efeito, nestes tipos de construções frásicas, o verbo precede
obrigatoriamente o sujeito, como mostra o contraste de gramaticalidade
entre os exemplos apresentados em (3) e (4) – o símbolo ‘?’ à esquerda de
uma sequência assinala que ela tem um estatuto marginal na língua, ou
seja, não é completamente gramatical, mas também não é completamente
excluída pela gramática da língua.

3. a) O que devoraram os miúdos?


b) Que grande gelado devoraram os miúdos!
c) Devorando os miúdos o gelado desta maneira, ele acaba-se
num instante.
d) Devorando o gelado pelos miúdos, acabou-se o lanche.

4. a) *O que os miúdos devoraram?


b) ?/*Que grande gelado os miúdos devoraram!
c) *Os miúdos devorando o gelado desta maneira, ele acaba-se
num instante.
d) *O gelado devorado pelos miúdos, acabou-se o lanche.
Tome-se nota que, quando interrogativas directas e exclamativas
com palavras-Q são construídas, respectivamente, com é que e com que, o
sujeito precede legitimamente o verbo; o mesmo acontece em orações
gerundivas iniciadas pela preposição em:

5. a) O que é que os miúdos devoraram?


b) Que grande gelado que os miúdos comeram
c) Em os miúdos devorando o gelado, acaba-se o lanche.

Outro exemplo de construções sintácticas que envolve


preferencialmente uma alteração à ordem básica de palavras é o caso de
frases contendo orações substantivas completivas (na tradição gramatical
luso-brasileira, integrantes) com a relação gramatical de sujeito da frase
complexa – comparem-se os exemplos abaixo:

6. a) Surpreendeu os amigos que o João tivesse chegado atrasado à


festa.
b) É possível que o João chegue atrasado à festa.
c) É verdade que o João chegou atrasado à festa.

7. a) Que o João tenha chegado atrasado à festa surpreendeu os


amigos.
b) ? Que o João chegue atrasado à festa é possível.
c) ? Que o João chegou atrasado à festa é verdade.

A compreensão entre (6) e (7) leva-nos a concluir que, quando o


sujeito de uma frase é ele próprio uma frase, a ordem de palavras
preferencial é aquela em que tal sujeito ocorre em posição final da frase
complexa (os linguistas designam os sujeitos frásicos que ocorrem em
posição final sujeitos extrapostos.
Na realidade, não são só os sujeitos oracionais que ocorrem
preferencialmente em posição. Como o exemplo (8) mostra, objectos
directos oracionais ocorrem preferencialmente em posição final, o mesmo
acontecendo com objectos directos nominais que contenham orações:

8. a) O João disse aos amigos que ia para Luanda um mês.


b) Dei aos miúdos um livro que conta a história de um anão.
c) Fiz aos miúdos a proposta de passarmos férias em Luanda.
Nos exemplos acima, o objecto directo da frase complexa é,
respectivamente, uma oração subordinada completiva (que ia para Luanda
um mês); um SN que contém uma oração subordinada relativa (um livro
que conta a história de um anão) e um SN que contém uma oração
subordinada completiva (a proposta de passarmos férias em Luanda). Nos
tês exemplos, ocorre uma expressão com a relação gramatical de objecto
indirecto na frase complexa: aos amigos, e aos miúdos. Assim, embora o
padrão básico de ordem no Português seja aquele em que o objecto directo
precede o objecto indirecto (dar um livro aos miúdos, pedir um conselho a
um colega, etc.), quando o objecto directo é oracional ou contém uma
oração ocorre preferencialmente em posição final.
Também em combinações de palavras distintas de frases existe uma
ordem básica. Assim, em constituintes cujo núcleo é uma preposição, esta
precede o seu complemento nominal ou oracional – vejam-se os exemplos
abaixo:
1. a) um chapéu [SP[P de] [SN três bicos]]
b) autorizar os miúdos [SP[P a] [F irem ao cinema]]

Em SNs, determinantes e quantificadores precedem em geral o nome,


complementos e modificadores preposicionais e oracionais seguem-se-lhe
–vejam-se os exemplos:
2. a) [Det. um] [N livro] [SP. de histórias] modificador
b) [Quant todos] [Det. os livros] [F que me emprestaste] modificador

Quanto aos adjectivos em posição atributiva, a sua posição básica


relativamente ao nome depende da classe a que pertencem. Desta feita,
adjectivos que os linguistas classificam como negativos e conjecturais
precedem o nome.
3. a) um falso médico
b) o presumível assassino

4. a) um médico falso
b) ?o assassino presumível

Repare-se que, enquanto a expressão em (3a) tem uma única


interpretação, parafraseável por «um indivíduo que se faz passar por
médico sem o ser», a expressão numerada como (4a) é ambígua: tem a
mesma interpretação que a (4a) e outra interpretação, parafraseável por
«um médico que é mentiroso, em quem não se pode confiar».
Adjectivos pertencentes à classe designada pelos linguistas como
classificadores, isto é, adjectivos que não exprimem propriamente
qualidades mas antes situação, nacionalidade, matéria, origem, classe ou
pertença, ocorrem obrigatoriamente à direita do nome – conforme os
exemplos:
5. a) um escritor angolano
b) uma exploração agrícola
c) a arquitectura religiosa
d) um regime democrático

6. a) *um angolano escritor


b) *uma agrícola exploração
c) *a religiosa arquitectura
d) *um democrático regime

Adjectivos pertencentes à classe de quantidade objectiva, isto é, que


designam qualidades objectivamente observáveis e, em muitos casos,
passíveis de medida, seguem igualmente ao nome:

7. a) uma sopa quente


b) um banco alto
c) um bairro pobre
d) uma jóia antiga

8. a) *uma quente sopa


b) *um alto banco
c) */?um pobre bairro
d) */?uma antiga jóia

Alguns dos adjectivos pertencentes a esta classe, dependendo dos


nomes com que se combinam, aceitam a posição pré-nominal. A colocação
pré-nominal desta classe de adjectivos produz um valor expressivo (cf. (9))
ou provoca uma alteração do significado do adjectivo, que passa de
objectivo a avaliativo (cf. (10)):
9. a) uma forte ventania
b) um imenso vale
c) uma grande sala

10. a) um pobre homem (= um homem infeliz, desgraçado)


b) um velho amigo (= um amigo do peito, que pode não ser
idoso)
c) uma grande descoberta (= uma descoberta importante)

Finalmente, os adjectivos da classe dos avaliativos, isto é, que


exprimem qualidades subjectivas, embora tenham como posição básica a
posição pós-nominal, admitem facilmente a posição pré-nominal:
11. a) uma mulher bela
b) uma situação péssima
c) um rapaz corajoso

12. a) uma bela mulher


b) uma péssima situação
c) um corajoso rapaz

Numa expressão nominal em que ocorra mais do que um adjectivo


pertencente a subclasses diferentes, é usual antepor ao nome o adjectivo de
qualidade objectiva (se co-ocorre com um adjectivo classificador ou o
adjectivo avaliativo:
13. a) a actual situação política
b) uma grande exploração agrícola
c) as antigas lendas nórdicas

14. a) uma linda rapariga congolesa


b) um péssimo romance naturalista
c) um adorável cachorro rafeiro

Independentemente da classe a que pertençam, sempre que os


adjectivos se constroem com complementos, ocorrem obrigatoriamente em
posição pós-nominal:
15. a) um autor orgulhoso da sua reputação
b) uma loja cheia de objectos de gosto
c) um colega especializado em vulcanologia

16. a) *um orgulhoso autor da sua reputação


b) *uma cheia loja de objectos de bom gosto
c) *um especializado colega em vulcanologia
d) *o responsável engenheiro pela obra

A ORDEM DAS PALAVRAS NA CONSTRUÇÃO

DA FRASE NA LÍNGUA PORTUGUESA

A abordagem sobre a ordem das palavras nas frases em Português requer três
pressupostos:

1. Tipo de frase;
2. Elementos constitutivos da frase;
3. Contexto em que a frase é pronunciada.

Tipo de frase

A Gramática tradicional da Língua Portuguesa apresenta-nos quatro


grupos de frases:

1. O grupo das frases do tipo declarativo;


2. As frases do tipo interrogativo;
3. As frases do tipo imperativo;
4. As frases do tipo exclamativo.

Como lembrete, aqui apresento o quadro dos grupos de frases acima


mencionados:

TIPO DE DEFINIÇÃO EXEMPLO


FRASE
Declarativo Informa sobre acontecimentos ou Antes de sair, verifiquei se
situações. estava tudo correcto.
Interrogativo Formula interrogações directas ou O que querias?
indirectas. Perguntei se ele queria
queijo.
Para dar ordens, pedir conselhos, Começa a escrever!
Imperativo fazer pedidos, dar sugestões. Compra-me o
medicamento!
Vai, antes que seja tarde!!
Exprime sentimentos e emoções: Detesto esta corrida!
Exclamativo espanto, admiração, alegria, amor, Oh, que maravilha de
ódio, indignação, etc. criança!
Que belo presente!
Que horror de pessoa!

A par destes grupos, tidos como fundamentais, temos as formas que se


ligam aos tipos, provocando alterações significativas na disposição das palavras
nas frases.

FORMAS DE DEFINIÇÃO EXEMPLO


FRASES
Afirmativa Exprime uma afirmação O delegado pagou a
propina.
Negativa Exprime uma negação O subdelegado não pagou
a propina.
Activa Frase na qual o sujeito pratica a O leão comeu o cabrito.
acção
Passiva Frase em que o sujeito sofre a O cabrito foi comido pelo
acção leão.
Neutra Não apresenta expressões que O delegado pagou a
reforcem ideias da frase propina.
Presença de elementos (é que, cá, O delegado é que pagou a
mesmo) que não introduzem propina.
Enfática informações novas, apenas Eu cá sei como me safar.
reforçam a informação fornecida O subdelegado não pagou
pelos restantes da frase mesmo a propina.

Disposição das palavras nas frases


Esta matéria aborda sobre a ordem directa ou inversa nas frases. Os
elementos sintácticos a ter em conta são o sujeito, o verbo, os complementos
(in)directo. Apenas estes, os circunstanciais não são considerados na
determinação da ordem das palavras, por apresentarem uma oscilação
posicional.

Frases declarativas

As frases declarativas afirmativas obedecem, geralmente, a ordem


directa das palavras: S + V + O (OD+OI). Em outras palavras, este tipo de frase
é o modelo frásico em Português.

Quando a frase em Português não apresentar o esquema apresentado


no período anterior, diz-se que se está perante uma frase na ordem indirecta.
A inversão entre o sujeito e o predicado é imposta pelo contexto pragmático.
Neste grupo de frases, a inversão mais frequente é a entre o verbo e os seus
complementos.

Convém rematar que esta matéria está relacionada com a


pronominalização pessoal, mais concretamente com a ênclise e coma próclise.

Frases interrogativas

O grupo das frases interrogativas divide-se em interrogativas globais


(ou totais) e interrogativas parciais.

Interrogativas globais

Também chamadas de interrogativas de sim ou não e interrogativas


totais, porque a interrogação recai sobre toda a frase e, geralmente, requer
sim ou não como resposta.

Exemplos:
1. Foste à cidade hoje?
2. Fizeste a o exame prático de condução?
3. Comeste o bolo, não comeste?
4. Andaste a novamente a beber, é verdade?

Nas últimas frases, notam-se pequenas estruturas interrogativas


colocadas no final de orações afirmativas ou negativas, para se obter uma
confirmação. Trata-se de interrogativas «tag»3, uma variante de interrogativas
totais.

Neste subgrupo de interrogativas, geralmente, a constituição frásica


obedece à frase modelo, porém, o contexto pode fazer com que haja
opcionalidade frásica.

Exemplos:

1. O exame prático de condução fizeste?


2. À cidade hoje foste?

Interrogativas parciais

Estas frases caracterizam-se pela presença de um elemento


interrogativo ou seja a interrogação é feita por meio de pronomes ou
advérbios interrogativos.

Exemplos:

1. Que horas são?


2. Aonde queres ir?
3. Quem fez o quê?
4. Quando começaste a estudar?
5. O avião trouxe quem?
6. Quem andou com quem, onde e porquê?
7. O empregado limpou o quê?

3
Esta variante da interrogativa global utiliza-se em contextos específicos em que o emissor pretende
confirmar se o seu interlocutor, de facto, percebeu a informação ou se acompanha o seu raciocínio.
Este subgrupo compreende ainda as interrogativas múltiplas e
interrogativas «eco»

As interrogativas múltiplas caracterizam-se pelo facto de, nelas,


ocorrerem vários morfemas interrogativos. Veja os exemplos 3 e 6. Já as de
eco apresentam o morfema interrogativo no fim, como ilustram os
exemplos 5 e 7.

Nestas frases, regra geral, obedecem ao sistema linear; o que não quer
dizer que o contexto não sugira uma inversão.

Portanto, as frases interrogativas podem ser classificadas segundo o tipo


de resposta que se espera obter. Assim, são interrogativas totais as que são
passíveis de obter uma resposta de sim ou não; e são interrogativas parciais as
frases em que a interrogação recai sobre um dos constituintes. As
interrogativas parciais caracterizam-se pela presença de um elemento
interrogativo que, na subclasse das interrogativas parciais de eco, não se
encontra em posição inicial. E ainda as interrogativas directas podem ser
frases simples, enquanto as interrogativas indirectas, são, quase sempre,
subordinadas substantivas completivas.

Frases exclamativas
Geralmente são pronunciadas, como é de se esperar, com uma forte
intensidade emocional. Têm muito em comum com as interrogativas,
principalmente no que se refere a ordem das palavras.
Exemplos:
1. Este jogador é espectacular!
2. Que jogador espectacular!
3. Quanto tempo se espera!

As frases que servem de exemplo para as construções exclamativas


diferem-se pelo facto de a primeira apresentar o sistema linear de frase. O que
a difere da declarativa afirmativa é o tom da voz. É a exclamativa total, a
exclamação recai sobre toda a frase. Já segunda e a terceira apresentam um
morfema sobre o qual recai a exclamação. É a exclamativa parcial.

Frases imperativas
Estilisticamente a frase imperativa relaciona-se com a função apelativa
da linguagem e pode adquirir a forma tradicional representada pelo
imperativo básico e pode adquirir outras formas. Isto é, através de uma frase
do tipo declarativo, interrogativo e exclamativo pode-se representar uma
ordem, um pedido, ou um conselho.

Exemplos:

1. Faz o trabalho.
2. Fechas a janela?
3. É melhor caminhares antes que seja tarde!
4. Hoje tu vais à escola de autocarro.

Ao construir uma frase imperativa básica é preciso ter em conta ao


facto de ser uma frase de sujeito nulo, isto é, de um modo geral, é uma frase
que se constrói sem sujeito. E sempre que o sujeito surgir, deve ser
representado sob a forma pronominal. Não é aconselhável que seja
representado sob a forma nominal.

O recurso ao sujeito (pronominal), na construção imperativa, é para


evitar ambiguidades, pretendendo definir com precisão o sujeito interlocutor
que deve acatar a ordem, o pedido ou o conselho, quando se estiver diante
de mais de uma pessoa.

Exemplos:

1. Faz tu o trabalho.
2. Vão vocês os dois à loja.

O estilo imperativo diz que o sujeito deve ocorrer depois do verbo,


observando-se uma inversão global entre o sujeito e o verbo.

Na linguagem oral, é difícil caracterizar a entoação da frase imperativa:


por vezes, tem uma entoação mais ou menos neutra, semelhante à das frases
declarativas Por exemplo, ao dizer-se, "Entre!", quando reagimos aos toques da
porta porta; mas, se a intenção apelativa se associa à expressão de emoções, é
normal marcar intensamente uma das sílabas: "Sai daííí, rapaz!"
Frases Interrogativas

Incluímos na designação frases INTERROGATIVAS:


- as interrogativas globais (totais, proposicionais ou de sim/não)
afirmativas ou negativas;
- as interrogativas parciais simples ou múltiplas (de constituintes, de
instanciação ou interrogativas "Q"), de que as interrogativas de "eco" são uma
subclasse;
- as interrogativas "tag".
As frases interrogativas são a expressão de um tipo de acto ilocutório
directivo, através do qual o emissor pede ao receptor que lhe forneça
verbalmente uma informação de que não dispõe.

Interrogativas globais

(1)
(a) O António telefonou?
(b) Telefonou o António?

(2)
(a) Terão os governantes actuado democraticamente?

(b) Terão actuado os governantes democraticamente?


(c) Terão actuado democraticamente os governantes?

As interrogativas globais são formuladas com o objectivo de obterem,


da parte do receptor, uma resposta afirmativa ou negativa acerca de um dado
estado de coisas. Elas não constituem ainda uma proposição; é a resposta que
lhes dá o estatuto de proposição.
Há interrogativas globais em que o foco da interrogação incide sobre
um argumento ou sobre a própria relação de predicação; vejam-se os casos
assinalados em (i), (ii) e (iii):

(i) interrogativas focalizadas:

(3)
(a) A Inês vai a Benguela amanhã?

(b) É amanhã que a Inês vai a Benguela?


(ii) interrogativas com expressões adverbiais:

(4) Vais a Lisboa de comboio?


(iii) interrogativas com quantificadores:
(5) Estiveste em Cabinda muito tempo?

Por outro lado, há interrogativas globais que não se destinam a ter


qualquer resposta: é o caso das perguntas retóricas típicas, formuladas com
fins argumentativos ou como expressão da avaliação que o emissor faz de um
determinado estado de coisas.

6) Terei eu feito algum mal a Deus?

Sintacticamente, uma interrogativa global pode não apresentar


qualquer modificação em relação à declarativa correspondente, apenas se
distinguindo dela por uma curva de entoação específica. É o caso de frases
como (1a). Mas pode apresentar uma ordem de palavras diferente das frases
declarativas, como em (1b), (2a), (2b) e (2c): em frases como (1b) opera uma
regra de Inversão do SNSU; em frases como (2a) opera a regra de Subida do
AUX; em (2b) e (2c), além desta, actua a Inversão do SNSU.
Uma interrogativa global pode ser semanticamente aproximada de uma
interrogativa alternativa:

(1)
(c) O António telefonou ou não telefonou?

Uma interrogativa alternativa é composta por uma disjunção de


proposições: o emissor pede uma informação sobre qual das proposições é
verdadeira numa situação particular. Uma dessas proposições constitui a
resposta.

Em interrogativas alternativas como:


(1) (d) O António telefona ou vem?

(7) Compraste bolos ou encomendaste fruta?


as duas proposições podem não ser incompatíveis como em (1c). Mas no
contexto em que os enunciados são produzidos, a interrogativa implica, na
maioria dos casos, que o emissor considere verdadeira apenas uma das
proposições (vd. Nota 3).
As interrogativas negativas são normalmente orientadoras de uma
resposta afirmativa. Vejam-se os exemplos seguintes:
(8) Não estás de acordo comigo?
(9) Não é verdade que gostas de comer bem?
(10) Não te disse para teres cuidado com o fogo?

O emissor pressupõe a verdade de uma proposição que faz parte dum


saber partilhado pelos intervenientes da conversa, ou que já ocorreu no
discurso anterior, e utiliza-a como uma estratégia para levar o receptor a
confirmar, por meio de uma resposta afirmativa, a verdade dessa proposição.
Considerem-se de novo os exemplos de interrogativas focalizadas
apresentadas em (3), (4) e (5). O escopo da interrogação incide sobre um dos
constituintes, o constituinte focalizado. A focalização pode fazer-se por meios
prosódicos (maior intensidade) ou por processos sintácticos (construções
clivadas):

(3) = (11) (a) A Inês vai a Benguela amanhã?


(b) É amanhã que a Inês vai a Benguela?
(c) Amanhã é que a Inês vai a Benguela?

(11)
(a') A Inês vai a Benguela amanhã?
(b') É a Benguela que a Inês vai amanhã?

(c) A Benguela é que a Inês vai amanha?

(11)
(a") A Inês vai a Benguela amanhã?
(b") É a Inês que vai a Benguela amanhã?
(c") A Inês é que vai a Lisboa amanhã?

Em qualquer dos casos estas interrogativas têm um efeito contrastivo.


O que o emissor deseja obter como resposta e o que ele já sabe (o que ele
pressupõe) é diferente nas três possibilidades:
- relativamente a (11a), (11b) e (11c): o emissor procura saber se o
tempo de "A Inês ir a Benguela" é amanhã e não outro tempo qualquer;
- relativamente a (11a'), (11b') e (11c'): o emissor pede informação sobre
se o locativo de "A Inês ir a amanhã" é Benguela e não outro locativo qualquer;
- relativamente a (11a''), (11b") e (11c"): o emissor quer saber se é à Inês
e não a outro qualquer individual que convém a propriedade "ir a Benuela
amanhã". O que o emissor pressupõe é, nos três casos, o seguinte:
-em (11a), (11b) e (11c): A Inês vai a Benguela num dado tempo;
- em (11a'), (11b') e (11c'): A Inês vai amanhã a um dado locativo;
- em (11a"), (11b") e (11c"): Alguém vai amanhã a Benguela.

10.8.2. Interrogativas parciais


As interrogativas parciais caracterizam-se pela presença de palavras ou
morfemas interrogativos, que a gramática tradicional designa por "pronomes",
"adjectivos" ou "advérbios" interrogativos.
a) morfemas interrogativos com valor nominal ou quantificadores:
(i) QUE como quantificador:
(12)
(a) Que vinho trago?
isoladamente, (12a) tem três interpretações: é uma interrogação sobre a
identificação, ou sobre o tipo, ou sobre a quantidade de vinho; a (12a) podem
seguir-se respostas como:

(12)
(b) Dão Terras Altas.
(c) Tinto.
(d) Aí umas três garrafas.

(ii) QUE ou O QUE como SN:


(13)
(a) Que fazes?
(b) O que fazes?

(iii) QUEM (referido unicamente a [+HUMANO]):


(14)
(a) Quem veio à vossa festa?

(iv) QUAL (como quantificador, quer o N do SN se realize lexicalmente


ou não):
(15)
(a) Quais livros?
(b) Quais compraste?
(c) Qual é a tua, ó meu?
(v) QUANTO, A, OS, AS (como quantificador, quer o N do SN se
realize lexicalmente ou não):
(16)
(a) Quantos bebeste?
(b) Quantos copos bebeste?

b) morfemas interrogativos com valor adverbial:


(vi) ONDE ou AONDE:
(17)
(a) Onde vais?

(vii) QUANDO:
(18) Quando vens cá passar a tarde?

(viii) PORQUE ou POR QUE (vd Nota 3):


(19)
(a) Por que demoraste tanto?

(ix) COMO (vd. Nota 4):


(20) Como conseguiste chegar ate cá?
(...)

10.8.3. Interrogativas "tag"

(29)
(a) Vocês lembram-se, não se lembram?
(b) Vocês lembram-se, não é verdade?
(c) Vocês lembram-se, não é assim?
(d) Vocês lembram-se, não é?
(e) Vocês lembram-se, não?

Uma interrogativa "tag" (como a sequência em itálico em (31a) é


constituída pelo V da frase declarativa que a precede e uma partícula de
negação.
As expressões em itálico nos exemplos (31b), (31c), (31d) e (31e) funcionam
também como "tag".
Estamos perante uma interrogativa "tag" sempre que a seguir a uma
declarativa se encontre:
(V da frase
declarativa)

..., não (é (verdade) ) ?

(assim)

Depois de uma declarativa negativa, não pode ocorrer a primeira das


construções:

(31)
(a) *Vocês não se lembram, não se lembram?

Podem ocorrer as outras formas referidas a ainda pois não?


(31)
(b) Vocês não se lembram, não é verdade?
(c) Vocês não se lembram, não é assim?
(d) Vocês não se lembram, não é?
(e) Vocês não se lembram, não?
(f) Vocês não se lembram, pois não?

Depois de uma frase declarativa negativa, não pode igualmente ocorrer


uma "tag" constituída pelo V da declarativa:

(31)
(g) *Vocês não se lembram, lembram-se?

As interrogativas "tag" têm diferentes valores do ponto de vista


pragmático:
(i) pedido de confirmação do conteúdo preposicional da
declarativa que a precede; a resposta que o LOC espera
receber do ALOC é afirmativa ou negativa consoante o valor
da declarativa;

(ii) estratégia manipulatória pare levar o ALOC a responder como o


LOC pretende:
(32) O senhor passou na Avenida na noite da manifestação, não
passou?
(iii) mecanismo conversacional para dar a palavra ao interlocutor.
Pelas suas funções pragmáticas, uma "tag" não pode ligar-se a outras
interrogativas, quer sejam de sim / não ou parciais (independentes ou
subordinadas):
(33)
(a) *Onde vais? não é verdade?
(b) *Pergunto-te onde vais? não é verdade?
Contudo, podem ocorrer acompanhados de uma "tag" relatos de
perguntas, como em (33c):
(33)
(c) Perguntei-te onde vais, não é verdade?
Em (33c), a "tag" incide sobre a primeira parte da afirmação e não
sobre a segunda: compare-se (33c) com (33c'):
(33)
(c') Perguntei-te onde vais, não é verdade que perguntei?

________________________________
Nota1. Algumas interrogativas são pedidos indirectos de uma acção; por
exemplo:
(i) Podes fechar a janela?
(ii) Passes-me a pimenta?
(iii) Importas-te de pôr o rádio mais baixo?
Enunciados como estes destinam-se a pedir ao ALOC que realize um acto
futuro e não requerem resposta verbal.
Nota2. Se o ALOC não está em condições de responder "sim" / "não" à
pergunta, pode não responder ou responder através de um adverbio modal
(talvez, possivelmente, provavelmente); em qualquer dos casos, a resposta não
confere à interrogação o estatuto de proposição.

Nota3. Normalmente por que (equivalente a por que razão), embora na


resposta seja possível encontrar: por causa de + N ou porque F; por exemplo:
"Por causa do trânsito"; "Porque havia muito trânsito".

Nota4. Como interrogativo tem vários sentidos: MODO (a resposta poderia


ser: "com dificuldade", "bem", etc.) ou INSTRUMENTAL (a resposta seria
"de autocarro", "de táxi").
2. Estilística da Frase sob a ótica de Celso Cunha e Luís F. Lindley Cintra

1. Figuras de Sintaxe

As figuras de sintaxe caracterizam-se pelas transformações ocorridas na estrutura


padrão da frase.

1.1 Elipse
De acordo com os autores Cunha e Cintra (2001), Elipse é a omissão de um termo
que o contexto admiti completar, os autores exemplificam:

“À esquerda, panos de velhos muros, à direita o campo


deserto”.

(V. Ferreira, A, 273)

Segundo Cunha e Cintra (2001) essa figura de sintaxe se apresenta também pelos
casos de DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA, ou seja, o termo divulgado absorve o conteúdo
significativo do termo omitido, os autores dão exemplos:

“a (cidade) capital”

“um (dente) canino”

“uma folha (de papel)”

(CUNHA E CINTRA, 2001, p. 620)

1.1.1 Elipse como processo gramatical

Para os autores na gramática, tal figura de linguagem deve ser invocada somente
quando manifesta e com muita cautela. Cunha e Cintra (2001) exemplificam:

a) do sujeito:
“Ternura sacudiu os ombros, no susto. Ergueu a cabeça,
fixou Manuel: - Para onde? – exclamou”.

(A.M. Machado, JT, 135)

b) do verbo (parcial ou total):

“Vida ruim, a nossa...”

(Alves Redol, G, 105)

“Um senhor. Até na miséria, um senhor”.

(F. Namora, RT, 16)

c) da preposição que introduz certos adjuntos:

“Miguel foi atrás dela, mãos nos bolsos, falando calmo”.

(Luandino Vieira, VVDX, 69)

d) da preposição de antes da integrante que introduz as orações objetivas


indiretas e as completivas nominais:

“Bem me lembro ainda que eu mesmo alcancei a casa de


dona Rosinha em cuja porta de entrada passei horas
seguidas espiando a maré humana”.

(A. F. Schmidt, GB, 44)

e) da conjunção integrante que:


“Hoje me disseram ele era um dos bons”.

(Luandino Vieira, VVDX, 21)

De acordo com Cunha e Cintra (2001), pode-se afirmar que tais orações
são incompletas notoriamente, e que deveria repor os elementos que estão
omitidos, mas os princípios lingüísticos são muito variados, os autores afirmam
que a frase nominal, organizada sem verbo é bem mais decisiva:

“Que talento, que bom gosto, uma delícia!”

(A. Meyer, MA, 153)

1.1.2A Elipse como processo Estilístico

Os autores Cunha e Cintra (2001) afirmam que a Elipse é usada em enunciados


que são constituídos pela rapidez e concisão, os efeitos estilísticos são bem estimáveis,
vejamos:

a) na descrição esquemática de ambientes, de estados de alma, de perfis:

“Subi a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do


jasmineiro

E a voz de uma das filhas, embaixo: - Papai! O telefone...”

(A. M. Machado, CJ, 119)

b) em anotações rápidas, como as de um diário intimo, de um caderno de notas:

“Outubro, 10 – Depressão. Hipocondria. Reações súbitas de


ódio.
Depois, desalento. Pelo menos, antes havia um mistério algo
excitante. Agora, mais melancolia, apenas”.

(C. dos Anjos, M, 143)

c) na enunciação de pensamentos condensados, provérbios, divisas, ditos


sentenciosos ou irônicos:

“Uma vida nova numa terra nova”.

(Castro Soromenho, V, 50)

d) nas enumerações, onde a inexistência do artigo costuma sugerir as idéias de


acumulação, de dispersão:

“Jantares, danças, luminárias, musicas, tudo houve para


celebrar tão fausto acontecimento”.

(Machado de Assis, OC, I, 281)

1.2 Zeugma

Pode-se considerar a partir dos conceitos dos autores, que Zeugma é uma das
formas de Elipse, a mesma se constitui em dois ou mais enunciados expresso em apenas
um para entender melhor os autores citam o exemplo de zeugma simples, a qual o termo
omitido é o mesmo empregado na oração anterior:

“Na vida dela houve só mudança de personagens; na dele


mudança de personagens e de cenários”.

(L. paço d’Arcos, CVL, 249)


Cunha e Cintra (2001) ressaltam a zeugma complexa, sendo esta constituída por
estar implícito um verbo já expresso, mas com outra flexão, contudo exemplificam:

“A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes”.

(C. Drummond de Andrade, R, 181)

Entende-se que:

“Os altares eram humildes”

Segundo Cunha e Cintra (2001) a zeugma tem privilégio de produção de efeitos


lingüísticos em orações comparativas, os autores demonstram:

“Unidas, bem como as pernas

Das duas asas pequenas

De um passarinho do céu...

Como um casal de rolinhas,

Como a tribo de andorinhas

Da tarde no frouxo véu”.

(Castro Alves, EF, 125)


1.3 Pleonasmo

Para Cunha e Cintra (2001) a figura de sintaxe chamada Pleonasmo é composta


pela fartura de palavras para proclamar uma idéia, ou seja, reiteração da mesma, recurso
de ênfase, com isso os autores exemplificam:

“– Sai lá para fora, João”.

(M. Torga, NCM, 228)

“– Só o Clemente falou aqui direito. A gente


volta para trás”.

(F, Namora, NM, 146)

1.3.1 Pleonasmo vicioso

Os autores destacam que essa figura de linguagem só é concreta, dando maior realce
na expressão, caso contrário, se a mesma não acrescenta força na expressão, somente
acrescenta um descuido, ela não pode ser considerada como um legítimo pleonasmo.
Cunha e Cintra (2001) dão alguns exemplos que não podem ser considerados como um
pleonasmo:

“ Fazer uma breve alocução”

“Ter o monopólio exclusivo”

“Ser o principal protagonista”

(CUNHA E CINTRA, 2001, p. 625)


1.3.2 Pleonasmo e epíteto de natureza

Segundo os autores, essas figuras de linguagem são chamadas de redundâncias


viciosas, o epíteto da natureza, é um recurso literário, o qual é classificado como o
emprego do adjetivo para dar ênfase, e não como reiteração da idéia. Os autores enfatizam
com os exemplos: céu azul, fria neve, prado verde, mar salgado, noite escura e outros.
Cunha e Cintra acrescentam o exemplo de Fernando Pessoa:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!”

( F. Pessoa, OP, 19.)

1.3.3 Objeto Pleonástico

Os autores afirmam que para dar destaque ao objeto direto, é necessário colocar este
no início da frase e posteriormente repeti-lo com a forma pronominal (o, a, os, as),
Cunha e Cintra (2001) exemplificam:

“As posições, conquistara-as uma após as outras.”

(C. dos anjos, M, 163)

“Paisagens, quero-as comigo.”

(F. Pessoa, OP, 531)


Diante das perspectivas dos autores, o pronome (lhe, lhes) é caracterizado por
reiterar o objeto direto propagado por um sintagma nominal, para dar enfoque, Cunha e
Cintra (2001) exemplificam:

“Ao pobre não lhe prometas e ao rico não lhe


faltes”.

(CUNHA E CINTRA, 2001, p.626)

Cunha e Cintra (2001) ainda ressaltam que para dar ênfase no objeto direto ou
indireto, aplica-se um pronome átono com forma tônica conduzida pela preposição a, os
autores justificam com os exemplos:

“Uma mulher preconceituosa que prefere tudo a


que digam que o marido a deixou, ou que ela o
deixou a ele.”

(M.J de Carvalho, TM, 188)

1.4 Hipérbato

De acordo com os autores essa figura de sintaxe, o Hipérbato se dá pela separação


de palavras, as quais pertencem ao mesmo sintagma, isso ocorre pela intercalação de um
membro frásico, ou seja, Hipérbato serve para designar toda inversão de ordem normal
das palavras na oração, eles citam como exemplo:

“Que arcanjo teus sonhos veio

Velar, maternos, um dia?”

(F. Pessoa, OP, 11)


1.5 Anástrofe

Essa figura de sintaxe, segundo os autores Cunha e Cintra (2001), é o tipo de inversão
que se constitui na anteposição do determinante (preposição + substantivo) ao
determinado, os autores citam como exemplo:

“Mas esse astro que fulgente

Das águias brilhara à frente,

Do Capitólio baixou.”

(Soares de Passos, P, 91-92)

1.6 Prolepse

Os autores Cunha e Cintra (2001) apresentam a figura de sintaxe Prolepse ou


antecipação, a qual se constitui na transposição de um termo de uma oração para outra
que a antecede, com isso, a mesma recebe um enfoque, os autores dão como exemplo:

“Os pastores parece que vivem no fim do mundo.”

(Ferreira de Castro, OC, I, 435)

1.7 Sínquise

A Sínquise é caracterizada pela inversão bruscamente das palavras de uma frase,


tornando-as de difícil interpretação, os autores após defini-las desta forma, exemplificam:
“Lícias, pastor – enquanto o sol recebe,

Mugindo, o manso armento e o largo espraia,

Em sede abrasa, qual de amor por Febe

- Sede também, sede maior, desmaia”

Entenda-se:

“Lícias, pastor, enquanto o manso armento


recebe o sol e, mugindo espraia ao largo –,
abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe,
sede também, sede maior”

1.8 Assíndeto

De acordo com Cunha e Cintra (2001), ocorre um Assíndeto, quando as orações de


um período ou palavras da oração se sucedem sem conjunção coordenativa, a qual poderia
interligá-las, ou seja, Assíndeto é um processo de encadeamento do enunciado. Os autores
citam os exemplos:

“A barca vinha perto, chegou, atracou, entramos.”

(Machado de Assis, OC, I, 1067)

1.9 Polissíndeto

Essa figura de sintaxe segundo os autores é o oposto de Assíndeto, uma vez que o
Polissíndeto consiste no emprego reiterado de conjunções coordenativas, principalmente
as aditivas. Pode-se afirmar ainda diante das perspectivas dos autores, que o Polissíndeto
tem o poder de dar uma continuidade, uma seqüência na expressão, Cunha e Cintra (2001)
exemplificam:

“Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!”

(F. Espanca, S, 59)


0. Anacoluto

Os autores Cunha e Cintra (2001) afirmam que Anacoluto é a modificação de


construção sintática no meio do enunciado, normalmente após uma pausa, essa figura de
sintaxe é muito natural na língua falada, uma vez que, é efetivado depois de uma pausa,
aquele que fala ou escreve abstrai o início do enunciado e posteriormente prossegue a
transparecer como se desse início a uma nova frase. Os autores apresentam um exemplo:

“No berço, pendente dos ramos floridos,

Em que eu pequenininho feliz dormitava:

Quem é que esse berço com todo o cuidado

Cantando cantigas alegre embalava?”

(C. de Abreu, O, 78)

2. Silepse

De acordo com os autores Silepse é caracterizada como uma figura de sintaxe, uma
vez que, é a concordância que se pratica com seu sentido, com a idéia que é expressa, e
não com a forma gramatical das palavras, no qual aborda toda a concordância ideológica.
Cunha e Cintra (2001) afirmam que pode ocorrer essa figura em:

2.2.1 Silepse de número

Essa Silepse ocorre com todo substantivo singular concebido como plural e com
termos coletivos, os autores destacam como exemplo:
“Deu-me noticias da gente Aguiar; estão bons.”

(OC, I, 1093)

Pode ocorrer Silepse de número, segundo os autores, quando o sujeito da oração é um dos
pronomes nós e vós, colocados a uma só pessoa e permanecendo no singular, Cunha e
Cintra (2001) dão como exemplo:

“Sois injusto comigo.”

(A. Herculano, MC, II, 35)

2.2.2 Silepse de gênero

Essa figura de linguagem acontece quando as expressões de tratamento Vossa


Majestade, Vossa Excelência, Vossa Senhoria, possuem forma gramatical feminina, mas
aplicam-se com freqüência a pessoas do sexo masculino. Cunha e Cintra exemplificam:

“- Imediatamente, pode Vossa Excelência ficar


descansado!...”

(A.Santareno, TPM, 119)

2.2.3 Silepse de Pessoa

Os autores Cunha e Cintra (2001) afirmam que ocorre Silepse de pessoa, quando
a pessoa que fala ou escreve se inclui em um sujeito enunciado na 3ª pessoa do plural,
o verbo pode ir para 1ª pessoa do plural, como os mesmo citam:

“Todos entramos imediatamente.”


(O. Lara Resende, BD, 25)

Pode-se afirmar ainda diante os conceitos dos autores que acontece Silepse
também, se no sujeito anunciado na 3ª pessoa do plural quisermos envolver a pessoa
a quem nos dirigimos, é válido usarmos a 2ª pessoa do plural, mediante isso, eles
apresentam o exemplo:

“Mas suponho que todos sois da mesma opinião! Todos


acordais em me condenar e abandonar.”

(J. Régio, ERS, 83)

E por fim, ocorre a Silepse de pessoa quando a palavra a gente costuma levar o
verbo para a 1ª pessoa do plural, Cunha e Cintra (2001) após apresentar esse conceito,
os mesmos justificam com o exemplo:

“A gente precisa de mostrar às raparigas que não somos


nenhuns miseráveis.”

(F. Namora, TJ, 94)

BIBLIOGRAFIA

1. ASSIS, Wilen A., Linguística e Estilo, São Paulo, Editora Cultrix, 1964.

2. Bally, Charles. El lenguaje y la vida. Trad. De Amado Alonso. Buenos Aires :


Losada, 1941, 2 v.

3. BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática Portuguesa, 37ª Ed, Editora


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