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Ficha de Avaliação
___ª Unidade Duração – 90 minutos
Leitura: Texto Crítico / Funcionamento da Língua: Classes de palavras; Actos ilocutórios; Funções
sintácticas / Expressão escrita: Requerimento
Nome: ………………………………………………………………………………………………………………………………… N.º ……
Grupo I – Leitura
JOÃO LOPES
DE QUE GOSTAMOS QUANDO GOSTAMOS DE UM FILME?
Uma história. Um actor. Uma proeza técnica. Que nos faz gostar de um filme?
JOÃO LOPES pergunta e propõe uma resposta: tudo isso e o que está nos intervalos
1 disso tudo... (o pretexto é «O Fim da Aventura»)
Uma das frustrações regulares do trabalho crítico decorre, paradoxalmente, da sua (inevitável)
dimensão informativa. Ou seja: é sempre preciso explicar um pouco o que acontece em determinado filme,
5 como é que isso surgiu, quem trabalhou no projecto, de onde vêm aquelas personagens, para onde vai
aquela história. É normal que assim aconteça, sobretudo se não esquecermos que o exercício da crítica
envolve o presente do cinema, o passado dos filmes, o presente e o passado das ideias sobre os filmes e
o cinema, a imaginação e o desejo do próprio indivíduo que propõe a sua visão (afinal, nesse sentido,
idêntico a qualquer espectador).
10 Mas bastará? Em boa verdade, quando gostamos de um filme, gostamos um pouco disso tudo. Mas
apetece-me dizer que gostamos também (talvez gostemos mesmo sobretudo) daquilo que acontece nos
intervalos dessas coisas mais ou menos concretas. E que acontece, então? Quase sempre algo que tem a
ver com o que só no cinema pode acontecer: a estranha reconversão do espaço e das suas dimensões,
do tempo e das suas coordenadas.
15 Retomo aquele que me parece ser um dos mais fascinantes filmes do momento: O Fim da Aventura,
de Neil Jordan, adaptação do romance homónimo de Graham Greene, com Ralph Fiennes e Julianne
Moore nos papéis principais (respectivamente Maurice e Sarah). E regresso à sua fascinante convulsão
interior para propor uma breve reflexão em torno de um dos seus admiráveis «flashbacks».
Aliás, o trabalho de Jordan é de tal modo brilhante que a própria designação de «flashback» é
20 insuficiente para descrever o que está em jogo. Não é um «flashback», por princípio, um retorno a um
acontecimento passado, de modo a inserir esse passado no fluxo do presente em que o filme está a ser
narrado? A resposta poderá ser: sim, mas não necessariamente... É que este é um filme em que, por
assim dizer, os «flashbacks» se repetem e, sobretudo, se repetem de modo diferente — lembremos o caso
exemplar da explosão que vemos do ponto de vista dele e, depois, dela (e o modo como isso altera a
25 nossa percepção da oração dela).
Peço, então, que tentem visualizar a cena em que Sarah e Maurice se reencontram no restaurante
que costumavam frequentar:
— A partilha das memórias da sua paixão acaba por não favorecer uma imediata cumplicidade ou
reaproximação. Sarah sai a correr e Maurice segue-a, procurando uma imediata reconciliação, ao mesmo
30 tempo que a protege da chuva com a sua gabardina.
— Inesperadamente, o filme faz-nos regressar ao restaurante: à mesa, dilacerado, permanece
Maurice que continuamos a acompanhar através da sua magoada voz «off».
— Ou seja: Maurice nunca saíu do seu lugar e as imagens da reconciliação à chuva correspondem
a algo que nunca aconteceu, a não ser no seu desejo suspenso. (…)
35 Assistimos, assim, a qualquer coisa de prodigioso, de cinematograficamente prodigioso: as imagens
do «flashback» com a gabardina correspondem a algo que nunca aconteceu na dimensão em que o
vemos, mas que passou pelas emoções de ambas as personagens. Estamos perante um paradoxo
admirável: a representação realista de um acontecimento psicológico que nunca teve lugar no mundo
visível.
40 É o poder do cinema numa expressão superior das suas faculdades: é verdade que no cinema se
filma aquilo que se coloca à frente da câmara, mas, como se prova, não só...
É também, convenhamos, um pouco mais rico, mais interessante e mais tocante do que a
desgraçada telenovela das nove.
1.5. O filme O Fim da Aventura de Graham Greene é um dos temas deste artigo.
2.1. Identifique dois elementos neles contidos que preparam o leitor para um
texto de apreciação crítica.
4. Segundo ao autor, para além dos aspectos concretos associados a um filme, existem
outros elementos que determinam a opinião de um crítico ou simples espectador.
«A resposta poderá ser: sim, mas não necessariamente... É que este é um filme em que, por assim
dizer, os «flashbacks» se repetem e, sobretudo, se repetem de modo diferente — lembremos o caso exemplar
da explosão que vemos do ponto de vista dele e, depois, dela (e o modo como isso altera a nossa percepção da
oração dela).» l.l. 23 a 26
CRÍTICA
COTAÇÕES
Bom Trabalho!
A professora: Carla Diogo