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APRESENTAÇÃO
Bons estudos.
DESAFIO
Blog é uma palavra simplificada do termo weblog e esta, por sua vez, é resultante da
sobreposição de web (Internet) e log (registro de atividade ou desempenho regular de algo),
sendo um diário online.
O blog apresenta vários elementos como textos, imagens, músicas ou vídeos, que são inseridos
em páginas da Internet, onde são publicados, podendo ser dedicados a um assunto específico ou
ser de âmbito bastante geral.
INFOGRÁFICO
Fiorin (2009) estabelece algumas relações para se trabalhar com as categorias de enunciador e
enunciatário na análise de textos sob uma perspectiva da sintaxe discursiva.
No intuito de buscar as marcas linguísticas dessas categorias de pessoa, observaremos como elas
são atualizadas em diferentes gêneros discursivos e, também, como se relacionam às categorias
enunciativas de tempo e espaço também elaboradas por Benveniste, leia mais no capítulo
Enunciador e Enunciatário do livro Linguística avançada.
Boa leitura!
LINGUÍSTICA
AVANÇADA
Debbie Mello
Noble
Priscilla Rodrigues
Simões
Laís Virginia Alves
Medeiros
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-144-0
CDU 81’33
Introdução
Neste texto você vai conhecer as noções de enunciador e enuncia-
tário que são oriundas da Teoria da Enunciação – a teoria linguística
que se dedica ao estudo do enunciado, manifestação oral ou escrita
produzida por um locutor (enunciador) em uma situação de enunciação.
O enunciado é proferido por um enunciador para um enunciatário que
deve interpretá-lo a partir da superfície linguística, remetendo, ainda, o
enunciado à situação enunciativa em que é produzido. Para que essa
interpretação possa ser realizada, instruções linguísticas devem ser dadas
pelo enunciador ao enunciatário, e essas instruções deixam marcas no
enunciado e podem ser reconhecidas pelo enunciatário.
Você vai conhecer algumas dessas marcas linguísticas que remetem
ao enunciador, ao enunciatário e à situação enunciativa em alguns
textos
Enunciador
Benveniste (1989, p. 83), em Problemas de linguística geral II, diz que “A
enunciação é esse colocar em funcionamento a língua por um ato individual
de utilização [...]” e que o locutor se apropria do aparelho formal da língua
e enuncia sua posição de locutor, “[...] mas imediatamente, desde que ele se
Enunciador e enunciatário 67
declara locutor e assume a língua, ele implanta o outro diante de si.”. Ao tratar
da noção de pessoa, o autor diz que “eu” não se refere a um indivíduo parti-
cular, mas ao ato individual de apropriação da língua por um locutor que se
enuncia como sujeito. A referência temporal desse locutor é sempre o momento
atual (agora) e ele só pode ser identificado na instância do discurso, ou seja,
na língua. A referência espacial desse locutor é sempre o lugar atual (aqui).
O enunciador também é chamado de locutor nas teorias enunciativas, ele é
o autor do enunciado e organiza as vozes anônimas que habitam o enunciado e
com ele dialogam. Narrador ou interlocutor são formas de denominar o enun-
ciador em outras perspectivas teóricas, mas, no trabalho com a produção e a
interpretação textual, entende-se que quem produz o enunciado, ou texto, ou
discurso é o seu enunciador, que dialoga e dirige sua palavra a um enunciatário.
Consoante Barros (1997), o enunciador define-se como o destinador-
-manipulador, responsável pelos sentidos do enunciado e capaz de levar o
enunciatário a crer e a fazer. A manipulação do enunciador é um modo de
persuasão, ao passo que ao enunciatário cabe interpretar tal estratégia uti-
lizada pelo enunciador por meio de marcas enunciativas. Pensar, portanto,
na categoria de enunciador, ou locutor, como definiu Benveniste, é pensar
sobre um sujeito que produz um ato individual de utilização da língua em
determinada situação de enunciação e, estabelecendo uma relação dialógica,
convoca o outro a interpretar o enunciado produzido.
Enunciatário
O enunciatário é considerado o sujeito ao qual se dirige o enunciador, também
conhecido como narratário (em oposição a narrador), ou interlocutário (em
68 Enunciador e enunciatário
[...]
Há uma voz que diz: “Vi um radiofono Hi-Fi [...]” – que aponta para uma
conclusão do tipo: “Vou comprá-lo para mamãe”, mas outra voz diz: “[...] nosso
apartamento é um ovo de tico-tico [...]” – que orienta para uma conclusão
contrária “não vai caber lá, não devo comprá-lo”.
Assim, é possível perceber diferentes vozes (discursos) que aparecem no
interior da voz da garotinha e mostram esse aspecto fundamental da linguagem
que é seu caráter dialógico e polifônico. O discurso da garotinha é habitado por
outros discursos (o discurso escolar, o discurso da propaganda, o discurso crítico
do cronista), revelando a heterogeneidade em um processo de multiplicação de
vozes, nas quais o falante divide, no seu discurso, o espaço com outros sujeitos.
https://goo.gl/2b5qUw
Por intermédio das palavras “filha”, “comprei” e “você” podemos imaginar a situação
enunciativa da qual só temos um registro escrito: a mãe anuncia a compra de um
vestido para sua filha. Com o uso do advérbio “hoje” sabemos o momento em que
se deu a compra do vestido.
Atente que para essa delimitação do enunciador e enunciatário, do espaço e do tempo
foram usadas palavras de diferentes classes gramaticais: um substantivo, um verbo, um
pronome e um advérbio. O que mostra que qualquer classe de palavra pode desem-
penhar a função de remeter aos sujeitos envolvidos em uma determinada situação de
enunciação, ao momento em que ela aconteceu e, inclusive, ao espaço em que se deu.
Enunciador e enunciatário 73
BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. 3. ed. São Paulo: Ática, 1997. (Fundamentos, 72).
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. Campinas: Pontes, 1989. v. 2.
DRUMMOND, C. Para gostar de ler: crônicas. 5. ed. São Paulo: Ática, 1980. (Para gostar
de ler, v. 1).
DUCROT, O. Princípios de semântica linguística: dizer e não dizer. São Paulo: Cultrix, 1977.
FIORIN, J. L. Elementos de análise do discurso. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
FLORES, V. N. Linguística da enunciação: uma entrevista com Marlene Teixeira e Valdir
Flores. ReVEL, v.9, n. 16, 2011. Disponível em: <http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/
revel_16_entrevista.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2017.
PESSOA, F. Mensagem. São Paulo: Hedra, 2007. (Clássicos na escola).
XAVIER, A. C. R.; CORTEZ, S. Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias da
linguística. São Paulo: Parábola, 2003.
Leituras recomendadas
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. 5. ed. Campinas: Pontes, 2005.
FLORES, V. N. et al. Enunciação e gramática. São Paulo: Contexto, 2008.
KNACK, C. Texto e enunciação: as modalidades falada e escrita como instâncias de
investigação. 2012. 189 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
MIRANDA, M. G. M. Relações argumentativas entre enunciador e enunciatário no
romance Partes de África, de Helder Macedo. Cadernos do CNLF, Rio de Janeiro, v. XIV,
n. 2, p. 1601-1611, 2010. Disponível em: <www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_2/1601-
1611.pdf>. Acesso em: 09 ago. 2017.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR
EXERCÍCIOS
O leitor.
A)
O coração.
B)
A amada.
C)
O poeta.
D)
Os seres.
E)
Interlocutor.
A)
Referente.
B)
Leitor.
C)
Destinatário.
D)
Locutor.
E)
3) Num discurso a enunciação apresenta-se, não como uma única voz, mas como um
emaranhado de vozes que originam-se de outros discursos e, ao ser proferido, revela
essa heterogeneidade de vozes. Dessa forma, o enunciador divide o espaço da
enunciação com uma multiplicidade de vozes. Esse é um dos aspectos fundamentais
da linguagem.
Esse caráter é marcado pelo tempo e espaço de enunciação, por isso determina a
B)
heterogeneidade.
Na sua fala o linguista estabelece uma relação entre o seu dizer e o enunciatário de
seu dizer. Assinale a alternativa a seguir que contenha elementos linguísticos que
remetam ao enunciador:
Eu; sei; costumo.
A)
Nós; eu; vivemos.
B)
Eu; nossa; alunos.
C)
Alunos; essa; sistema.
D)
Seres; sua; pergunta.
E)
Leia atentamente o trecho do poema: Mar Português Ó Mar salgado, quanto do teu
sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos
filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó
mar!
Os filhos.
A)
Portugal.
B)
As mães.
C)
O mar.
D)
Deus.
E)
NA PRÁTICA
Algumas categorias linguísticas que também são categorias enunciativas e podem ser
rapidamente localizadas em textos são:
EU - refere-se àquele que diz - o LOCUTOR - é o ponto de partida para as outras coordenadas.
TU/VOCÊ/VOCÊS - refere-se aquele(s) a quem EU digo - o INTERLOCUTOR.
AGORA - indica o momento em que EU falo.
AQUI - identifica o espaço em que EU falo.
ISTO - remete para um objecto próximo do locutor (EU).
ELE - refere o não participante da comunicação.
A música "O meu guri", do Chico Buarque, traz vários dêiticos em diferentes categorias e
também a divisão de vozes, acompanhe a seguir.
SAIBA +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:
No vídeo Categoria de Pessoa, o professor Dr. Fiorin explica que segundo a teoria de
Benveniste, a 1a e a 2a são as pessoas do discurso, os parceiros da enunciação, enquanto a
3a pessoa é a não pessoa.