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Unidade: Os Níveis de Análise

Linguística I
Unidade I:

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Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I

OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA I

Níveis de análise da língua

Análise significa partição em segmentos menores para melhor compreensão do


tema.

Quando falamos em níveis de análise, queremos dizer que a língua, objeto de


estudo da Linguística saussuriana, pode ser estudada sob diferentes aspectos,
considerando-se as unidades que a constituem, até o limite da frase.
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Assim, a teoria explicativa de Saussure é também conhecida como frasal, já


que os mesmos princípios podem ser observados desde o menor elemento –
os sons da língua – até a produção do sintagma “frase”.

Se pensarmos nas menores unidades linguísticas, os fonemas, abordaremos a


língua no nível fonológico, ou seja, entraremos numa área específica da

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Linguística que é a Fonologia. Vamos a ela, na perspectiva de nossa língua
portuguesa.

I) Fonologia

Estudar o nível fonológico implica estudar significantes e não significados. Os


significantes na fala, ou seja, os sons como concretamente são produzidos
pelos falantes, são chamados fones e se constituem como objeto da Fonética.

Os significantes na língua, quer dizer, os sons quando cumprem uma função


distintiva, são denominados fonemas e são estudados pela Fonologia. Veja: Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I

Cada língua dispõe de um número determinado de unidades fônicas cuja


função é determinar a diferença de significado de uma palavra em relação a
uma outra. Por exemplo, a palavra [„kasa] “caça” diferencia-se de [„kaza] “casa”
pelo uso de uma fricativa alveolar surda [s] em “caça” e de uma sonora [z] em
“casa”. Esses tipos de unidades como /s/ e /z/, que permitem diferenciar
significados, denominam-se fonemas. Assim, /s/ e /z/ são dois fonemas no
português. (Mori: 2001, 151)
Um dos principais procedimentos para verificação dos fonemas em uma língua
é a comutação:

comutação: a mudança (troca,


substituição) aplicada a uma forma “galo” / “ralo”
mínima ou vocábulo pode revelar outra
forma

Os fonemas são definidos como unidades mínimas distintivas justamente


por essa propriedade: eles distinguem os signos.

No uso da língua, pode ocorrer a variação de sons de um mesmo fonema, por


exemplo, quando pronunciamos “porta”.

Falantes diferentes, de origens diferentes, podem produzir o som representado Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I
por “r” de formas também diferentes. Imagine um falante carioca e um falante
do interior de São Paulo pronunciando a palavra.
representação fonema representação
fonética fonológica

Falante [„pɔɣta]
carioca “porta” /R/ /‟pɔRta/

Falante do [„pɔɹta]
interior de SP

Podemos verificar que tais variações de sons não geram novos signos:
teremos então apenas alofones.

Vejamos outro exemplo:

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pronúncia representação fonema representação


fonética fonológica

tchia [„t ʃ i a] /t/ /‟tia/


“tia”
tia [„tia]
Nesse caso, as diferentes pronúncias da palavra “tia” não geram novos signos:
estamos diante de alofones, variações do fonema /t/.

Em outras circunstâncias, por exemplo, na produção das sequências “caro” e


“carro”, o “r” mais fraco ou mais forte determinará signos distintos. Estamos
diante de diferentes fonemas e não meras variações do mesmo som.

fonemas representação
fonológica

“r” forte “carro” /R/ /‟kaRo/

“r” fraco “caro” /ɾ/ /‟kaɾo/ Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I

Vejamos o que diz Mattoso Camara Jr. (1988, 34-35), principal seguidor de
Saussure no Brasil:

É claro que, assim entendido, o fonema abrange vários sons vocais


elementares. Um ouvido arguto pode percebê-los como diferentes. São as
“variantes”, ou “alofones” de um fonema. A chave da sua definição está em que
a troca de um alofone por outro pode soar “mal” a um ouvido delicado, mas não
substitui uma forma da língua por outra. Assim, em português, [sau] e [sal] é
sempre o mesmo vocábulo.

Seguem algumas características e definições importantes sobre os fonemas,


objeto de estudo da Fonologia:

Fonemas

 unidades mínimas distintivas;


 subdivisão da sílaba;
 dividem-se em vogais e consoantes;
 possuem um número limitado e fixo em uma dada língua;
 os fonemas de uma língua são depreendidos pelo processo
de comutação

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Para uma outra visão sobre o tema, visite o link:


http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/F/fonologia.htm
II) Morfologia

Já vimos que, no nível morfológico, as unidades de análise são os


morfemas, que são definidos como unidades mínimas significativas, ou
seja, são os menores signos da língua.

Os morfemas podem ser classificados como gramaticais ou lexicais.

Os morfemas que possuem um significado restrito ao universo lingüístico –


indicam gênero, número, modo ou tempo verbal, por exemplo – são
denominados morfemas gramaticais.

Observe alguns exemplos:

a) as = a + s → artigo feminino + plural

b) em = em → preposição
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c) esses = esse + s → pronome demonstrativo + plural

d) uma = um + a → artigo (ou numeral) + feminino


Podemos dizer, nesses casos, que temos:

a) os morfemas gramaticais a e –s, o primeiro indicando a classe da palavra e


o segundo é a desinência de número;

b) o morfema gramatical em, que aponta apenas para a classe da palavra:


preposição;

c) os morfemas gramaticais esse e –s, o primeiro indicando a classe dos


pronomes e o segundo como desinência de número;

d) os morfemas gramaticais um e -a, o primeiro indicando a classe – pode ser


um artigo ou numeral, dependendo do contexto – e o segundo, o gênero
feminino.

Os morfemas que possuem significados que extrapolam o universo lingüístico,


quer dizer, possuem um significado também extralingüístico, referente ao
mundo, são chamados morfemas lexicais.

Vejamos outros exemplos: Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I

e) crianças = crianç + a + s → radical + vogal temática do nome + plural

f) chorar = chor + a + r → radical + vogal temática 1ª conjugação + infinitivo


g) bom = bom + ɸ → radical + singular

h) linda = lind + a + ɸ → radical + feminino + singular

Nos últimos exemplos, temos:

e) o morfema lexical crianç-, um radical, que se refere a uma pessoa de baixa


faixa etária (significado extralinguístico), e os morfemas gramaticais -a e –s,
significando respectivamente a vogal temática nominal e a desinência de
número plural;

f) o morfema lexical chor-, um radical, que remete ao conceito de “derramar


lágrimas” (significado extralingüístico), e os morfemas gramaticais -a, que é a
vogal temática da 1ª conjugação, e o -r, desinência da forma nominal infinitivo;

g) o morfema lexical bom, que se refere a algo positivo, satisfatório (significado Unidade: Os Níveis de Análise Linguística I
extralingüístico), e a ausência (ɸ) de uma marca ou desinência do número
plural, que é também um morfema gramatical;

h) o morfema lexical lind-, que remete à ideia de beleza, o morfema gramatical


que é a desinência do gênero feminino (-a) e a ausência (ɸ) de uma marca ou
desinência do número plural, que é um morfema gramatical.
Observe que identificamos o número singular devido à ausência de uma marca
(-s). Esse morfema gramatical, que significa pelo fato de estar ausente, é
denominado morfema zero (ɸ).

Mattoso Camara Jr. (1988, 84) explica assim:

Os nomes são vocábulos suscetíveis das flexões de gênero e número


(apresentados nesta ordem). O gênero, que condiciona uma oposição entre
forma masculina e forma feminina, tem como flexão básica um sufixo flexional,
ou desinência -a (átono final) para a marca do feminino. A flexão de número,
que cria o contraste entre forma singular e forma plural, decorre da presença,
no plural, de um sufixo flexional, ou desinência /S/, com que a última sílaba do
nome passa a terminar. Assim, o masculino e o singular se caracterizam pela
ausência das marcas de feminino e de plural, respectivamente, como peru,
masculino singular; perus, masculino plural; perua, feminino singular; peruas,
feminino plural. Em outros termos, pode-se dizer que ambos são assinalados
por um morfema gramatical zero (ɸ).

Você deve ter observado que alguns morfemas são grafados com sinais (-):

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-s; -a; crianç-; -o; -r...

Enquanto outros, não:

dia; em; esse; um...

Essas marcas (-) indicam outra característica dos morfemas: eles podem ser
classificados também como formas presas ou livres.
As formas presas são os morfemas que não têm significado a não ser que
estejam combinados, formando determinada composição.

Assim, para que –s seja um morfema gramatical (desinência de número), é


necessário que se agregue a pelo menos uma outra forma, livre ou presa,
como em crianç-a-s .

As formas livres são os morfemas que têm significado mesmo quando isoladas,
elas são – relativamente – independentes , como dia, em, esse...

Para ampliar a compreensão sobre o nível morfológico, assista ao vídeo:


http://www.youtube.com/watch?v=Ght_GZZmo_U

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Material complementar para consulta

SILVA, Thaïs C. “Introdução” In Fonética e fonologia do português. São


Paulo: Contexto, 1999. (p. 11-22)

Referências bibliográficas

FIORIN, José L. (org.) Introdução à Lingüística II: princípios de análise. São


Paulo: Contexto, 2003.

HENRIQUES, Cláudio C. Fonética, Fonologia e Ortografia. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2007.

LOPES, Edward. Fundamentos da Lingüística Contemporânea. São Paulo:


Cultrix, 1995.

MATTOSO CAMARA JR., Joaquim. Estrutura da língua portuguesa.


Petrópolis: Vozes, 1988.
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MORI, Angel C. “Fonologia” In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna C.


(orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez,
2001.

SILVA, Thaïs C. Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto,


1999.
www.cruzeirodosul.edu.br

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