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VOCABULÁRIO CRÍTICO
DE ARGUMENTAÇÃO
Instituto de
Filosofia da Linguagem
Grácio Editor FCSH / UNL
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FICHA TÉCNICA
Título:
Vocabulário Crítico de Argumentação
Autor:
Rui Alexandre Grácio
Prefácio:
Rui Pereira
Capa:
Grácio Editor
Design gráfico:
Grácio Editor
ISBN: 978-989-8377-43-2
Dep. Legal: 359724/13
© Grácio Editor
Avenida Emídio Navarro, 93, 2.º, Sala E
3000-151 COIMBRA
Telef.: 239 091 658
e-mail: editor@ruigracio.com
sítio: www.ruigracio.com
PREFÁCIO
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RUI PEREIRA
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VOCABULÁRIO CRÍTICO
DE ARGUMENTAÇÃO
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ABDUÇÃO
Segundo Charles S. Peirce (1839-1914) são três os modos distintos
de raciocínio com que nos deparamos no conhecimento científico:
a dedução, a indução e aquilo a que Peirce chama «abdução». A
dedução é um raciocínio que, se partir de premissas verdadeiras,
não pode conduzir a conclusões falsas. Ela é sempre analítica e
representa um modo de exposição. A indução é uma argumentação
que, partindo do conhecimento de que determinados membros de
uma classe, escolhidos ao acaso, possuem determinadas proprie-
dades, extrai a conclusão de que todos os membros da mesma
classe as possuem também. Por isso a indução move-se numa
linha de factos homogéneos; a bem dizer, ela classifica, não explica.
O mesmo não acontece com o terceiro tipo de raciocínio que dá o
salto dos factos homogéneos para as suas causas. Este raciocínio,
que Peirce designa por «abdução», procede segundo o seguinte es-
quema:
a) Dá-se a observação de X, que é um facto surpreendente.
b) Ora, se Y fosse verdade, X seria natural.
c) Logo, há motivo para suspeitar que Y é verdadeiro.
Este tipo de raciocínio indica-nos que, com a finalidade de encon-
trar uma explicação acerca de um facto problemático, devemos
inventar uma hipótese ou conjetura a partir da qual se podem de-
duzir consequências. É, pois, um raciocínio para a melhor hipótese,
para a melhor explicação, para a aquilo que melhor podemos ima-
ginar. Por seu turno, tais consequências devem ser examinadas
indutivamente, ou seja, de modo experimental. Desta forma, a
abdução está intimamente ligada quer à dedução, quer à indução.
Por outro lado, a abdução mostra que as crenças científicas são
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ANÁLISE ARGUMENTATIVA
ANÁLISE ARGUMENTATIVA
A análise argumentativa pode ter diversas incidências e varia de
acordo com o conceito de argumentação de que parte. Se conside-
rarmos, como o faz Amossy, que a argumentação é constitutiva do
discurso, então a análise argumentativa é vista como «um ramo
da análise do discurso» (2006: 246) e tem um espectro alargado:
«abrange tanto as informações televisivas como uma descrição,
uma narrativa de uma viagem, uma conversa em família» (Amossy,
2006: 245). Inserindo-se na análise do discurso, a abordagem ar-
gumentativa norteia-se por certos princípios. Amossy enumera
os seguintes: «1. Estudo da argumentação na língua natural, na
materialidade do discurso, como elemento integrante de um fun-
cionamento discursivo global. 2. Situa a argumentação, assim en-
tendida, numa situação de enunciação precisa da qual é preciso
conhecer todos os elementos (participantes, lugar, momento, cir-
cunstâncias, etc.). 3. Estuda a forma como a argumentação se
move no interdiscurso, situando-se relativamente ao que se disse
antes e ao momento da tomada da palavra sob o modo da retoma,
da modificação, da refutação, do ataque, ... 4. Toma em considera-
ção a forma como o logos, ou o desenvolvimento dos argumentos
em língua natural, se alia concretamente ao ethos, a imagem de
si que o orador projeta no seu discurso, e ao pathos, a emoção que
quer suscitar no outro e que deve também construir discursiva-
mente» (Amossy, 2008: 7). Esta abordagem da argumentação e da
análise argumentativa acarreta certas consequências: 1. Implica
um corte com a abordagem lógica (formal ou informal) da argu-
mentação, a qual não se interessa pelos funcionamentos lingua-
geiros e neles vê, muitas vezes, obstáculos para a boa formação
dos argumentos (pense-se, por exemplo, na falácia da ambigui-
dade). Com este corte cria uma via de acesso para abordar a ar-
gumentação na linguagem natural e coloca ao mesmo tempo a
questão do estatuto dos esquemas lógico-discursivos e dos para-
logismos, privilegiados por certas correntes filosóficas, no funcio-
namento real dos discursos com visada persuasiva. 2. A filiação
do estudo da argumentação na AD conduz a uma abordagem es-
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ANALOGIA
ANALOGIA
Do ponto de vista argumentativo, uma analogia consiste em partir
de uma relação geralmente conhecida e admitida e assimilá-la a
outra que pode ser mais distante ou problemática. A analogia fun-
ciona, assim, aproximando o que é mais familiar ao que é mais es-
tranho para, desse modo, permitir aplicar (por transferência) ao
que nos é menos familiar, os critérios de clareza que temos relati-
vamente ao que nos é mais familiar . Por exemplo, se uma farma-
cêutica pretende introduzir um novo medicamento, ela pode re-
correr à analogia para o promover, dizendo que «do mesmo modo
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ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA
ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA
Trata-se de uma teorização da argumentação desenvolvida pelos
linguistas franceses Jean-Claude Anscombre e Oswald Ducrot.
Situados numa tradição estruturalista que procura explicar o fun-
cionamento da língua sem recorrer a qualquer tipo de elementos
que a ela são exteriores, esta teoria afirmará que é constitutivo
dos enunciados e da sua articulação um modo de significação que
consiste em orientar para. É neste sentido que considera que todo
uso da língua é argumentativo: indica uma direção, projetando
idealmente o seguimento do discurso. A teoria desenvolvida em
torno da intuição de que o uso da língua, ou seja, o discurso,
«impõe à atividade da argumentação constrangimentos específicos
que não encontram explicação nas condições lógicas ou psicológicas
da demonstração» (1997: 5), levou os teóricos da argumentação
na língua (abreviadamente, ADL, do francês Argumentation dans
la langue) a debruçarem-se sobre as palavras vazias que servem
para ligar enunciados, como, por exemplo, portanto, logo, mas,
etc.. A estes elementos de articulação entre dois enunciados cha-
maram «conectores» e atribuíram-lhe uma valência argumentativa
na medida em que são linguisticamente condicionadores da se-
quência do discurso. Assim, o enunciado «este restaurante é bom,
mas caro» remete para a sequência «não vamos», tal como o enun-
ciado «este restaurante é caro, mas bom» remete para a sequência
«vamos». Ou seja, a formulação linguística e o operador argumen-
tativo «mas» condiciona e torna expectável a sequência do discurso,
sendo que se pode dizer que a argumentação está na língua. No
entanto, e numa segunda fase, esta teorização centrou-se, para
além da articulação dos enunciados, no próprio uso das palavras
consideradas como topoi. A escolha da palavra «caro» é desde logo
argumentativa na medida em que, longe de descrever uma quali-
dade objetiva do restaurante, procede a uma classificação que re-
mete para a sua consideração em termos das significações que es-
tão associadas a essa palavra. Neste sentido as próprias palavras
podem ser vistas como feixes de topoi e a relação com o aquilo a
que comummente são associadas faz com que a sua significação
seja uma forma de orientar. Os desenvolvimentos mais recentes
desta teoria, realizados conjuntamente por Marion Carel e Ducrot,
centram-se na teoria dos blocos semânticos (TBS) e valorizam es-
sencialmente a noção de encadeamento discursivo. A ideia é a de
que a conexão de proposições num enunciado (como por exemplo
«conduzes demasiadamente depressa, arriscas-te a ter um aci-
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ARGUMENTAÇÃO
ARGUMENTAÇÃO
É a disciplina crítica (ou seja, organizada, controlada e problema-
tizante) de leitura e interação entre as perspetivas inerentes à
discursividade e cuja divergência os argumentadores tematizam
em torno de um assunto em questão. As questões de argumentação
estiveram tradicionalmente ligadas a três disciplinas: à lógica, à
retórica e à dialética. A partir dos meados do século XX, nomea-
damente com as obras de Chaïm Perelman e de Stephen Toulmin,
a argumentação tendeu a ser encarada como um domínio disci-
plinar próprio. Na sua teorização encontramos uma quantidade
assinalável de propostas, muitas das quais incompatíveis entre
si. Podemos assinalar essa heterogeneidade, que indica que não
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ARGUMENTAÇÃO1 E ARGUMENTAÇÃO2
ARGUMENTAÇÃO1 E ARGUMENTAÇÃO2
A distinção entre duas formas de olhar para a argumentação foi
introduzida por O’Keefe (1977: 121) da seguinte forma: «argumen-
tação1 é algo que uma pessoa faz (ou oferece, ou apresenta, ou
enuncia), enquanto argumentação2 é algo que duas ou mais pessoas
fazem (ou em que se envolvem)». Ou seja, uma argumentação tanto
pode ser vista como uma iniciativa discursiva tomada como algo
de consumado e, poderíamos supor, com um ónus persuasivo, como
pode ser considerada como uma situação de interação cuja especi-
ficidade reside na existência de um intercâmbio caracterizado por
uma oposição e por uma sequência de turnos de palavra. A argu-
mentação, no sentido de argumentação1, pode assim ser associada
à expressão «argumentar que» (por exemplo, «o João argumentou
que devíamos ver o Citizen Kane»), estando o sentido de argumen-
tação2 ligado à expressão «argumentar sobre» (por exemplo, «eles
estiveram a argumentar sobre a energia nuclear»).
O caso paradigmático para perceber a argumentação1 — propõe
ainda O’Keefe (1982: 17) — é que possamos separar o ato comu-
nicativo em que ele é veiculado (ou seja, o elaborar uma argu-
mentação, ou «argument-making») e nele possamos distinguir e
explicar linguisticamente a presença de uma tese e de uma ou
mais razões de suporte: «portanto, a minha convicção é a de que
casos exemplares de argumentação1 são aqueles nas quais pode-
mos dizer ‘a tese é tal e tal e as razões são isto e aquilo’. Por con-
seguinte a minha visão é que os casos paradigmáticos da argu-
mentação1 são aqueles que envolvem teses linguisticamente
explicáveis e uma ou mais razões linguisticamente explicáveis».
Já os casos paradigmáticos de argumentação2, na visão de todos
dias são, para O’Keefe (1982: 19), «interações nas quais desacordos
evidentes e prolongados ocorrem entre os que interagem», sendo
que a palavra «prolongados» significa que há uma persistência no
desacordo e que este não é apenas um aspecto passageiro ou oca-
sional da interação.
Se quisermos enquadrar esta distinção noutra terminologia po-
deríamos dizer que a focalização na argumentação1 corresponde
a uma abordagem monológica e a uma incidência que privilegia
essencialmente a estrutura lógico-linguística (localiza a argumen-
tação a partir de uma determinada estrutura de articulação e de
encadeamento presente numa produção linguística), enquanto a
focalização na argumentação2 corresponde a uma imagem empí-
rica do argumentar como conflitualidade entre os que interagem,
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ARGUMENTAÇÃO1 E ARGUMENTAÇÃO2
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ARGUMENTÁRIO
Utiliza-se geralmente a palavra «argumentário» para designar o
conjunto de argumentos apresentados pelas partes sobre um as-
sunto em questão. Por exemplo, na questão da decisão da legali-
zação do aborto, quer a posição a favor, quer a posição contra de-
senvolvem conjuntos de argumentos para definirem e sustentarem
as suas perspetivas específicas. Da mesma forma, englobamos no
argumentário dos que são a favor, ou contra, a pena de morte, as
razões que clarificam a suas posições e que são apresentadas para
basearem a sua perspetiva.
ARGUMENTATIVIDADE E ARGUMENTAÇÃO
É importante distinguir entre argumentatividade e argumentação.
O que é que diferencia uma da outra? A argumentatividade é ine-
rente aos discursos e pode ser focalizada a três níveis principais: 1.
Como uma força projetiva inerente ao uso da língua (e neste caso
estamos a focalizar quer a utilização das palavras na sua relação
com os topoi, quer os enunciados e o seu encadeamento através de
conectores), sendo que aqui a tónica é posta nos mecanismos de
orientação enunciativa. 2. Como uma força configurativa inerente
ao discurso (e neste sentido estamos a focalizar a ação sobre ou-
trem através das tematizações, vidências, ideias ou imagens es-
quematizadas no modo de produzir o discurso, configuradoras de
posicionamentos e produtoras de influência sobre aqueles a quem
são dirigidas), sendo que aqui a tónica é posta nos mecanismos de
influência discursiva que preparam a receção do discurso em ter-
mos de interpretação. 3. Como uma força conclusiva ou ilativa
que corresponde a processos de raciocínio postos em ação no dis-
curso (tipos e esquemas de raciocínio), sendo que aqui a tónica é
posta nos mecanismos de inferência. A argumentação, tal como
aqui a consideramos não é, contudo, algo que se reduza à argu-
mentatividade, ou força argumentativa, nem à apresentação de
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ARGUMENTO AD HOMINEM
ARGUMENTO AD HOMINEM
A argumentação ad hominem é uma forma de argumentação ligada
à estrutura da interação, dizendo respeito ao modo de lidar com o
discurso do outro. Com efeito, uma das formas de contra-argu-
mentar pode consistir em mostrar que, tomando o discurso do in-
terlocutor nos seus próprios termos, as suas assunções acabam
por se manifestar como incompatíveis, contraditórias ou incoe-
rentes. Assim, pode-se contra-argumentar retomando o discurso
do outro («se disseste isto e aquilo, como é que podes agora afirmar
uma coisa que parece não se encaixar nas declarações prévias?).
Por conseguinte, argumentar ad hominem é colocar-se no terreno
do adversário sem contudo subscrever a sua argumentação e,
para retomar um termo grato a Popper, submetê-la a um processo
de eventual «falsificação». É corrente confundir-se a argumentação
ad hominem com a argumentação ad personam, na qual o que
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ARGUMENTO AD PERSONAM
A argumentação ad personam consiste em desvalorizar e mesmo
desautorizar o discurso do outro através de ataques que incidem
sobre a sua pessoa, o seu carácter ou os seus atos. Este tipo de ar-
gumentação, procurando descredibilizar o oponente enquanto pes-
soa, visa desvalorizar a sua iniciativa argumentativa como algo
que não merece ser tomado em conta ou ser ouvido. Deste modo
salienta aspectos que colocam em evidência a falta de autoridade
do oponente para se pronunciar sobre o assunto em questão. Por
exemplo, num tribunal os advogados podem querer mostrar que
as palavras de uma testemunha não são fiáveis tendo em consi-
deração o seu passado pouco abonatório, imputando-lhe um estado
emocional perturbado ou doentio ou evidenciando inconsistências
do seu presente testemunho relativamente a testemunhos passa-
dos. Se se mostra, por exemplo, que alguém mentiu, a classificação
de «mentiroso» pode minar a credibilidade de qualquer discurso
que essa pessoa pronuncie e retirar-lhe força enquanto fonte de
informação fidedigna. A argumentação ad personam pode assim
ir «envenenando o poço» e acabar por desclassificar e desprover o
discurso do outro de qualquer força persuasiva. Será menos radical
quando, apontando para «as circunstâncias», apenas põe em evi-
dência inconsistências do ponto de vista prático: «se fumas, quem
és tu para me dizer para deixar de fumar?». Mas pode também
servir para evidenciar a não imparcialidade do discurso do opo-
nente, mostrando que, de alguma forma ele é parte interessada
no assunto em questão.
ARGUMENTO AD BACULUM
Podendo baculum ser traduzido por «porrete», «cacete», «moca»
ou «vara», o argumentum ad baculum é geralmente considerado
como uma forma de argumentar que faz apelo à força. Mas, mais
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ARGUMENTO AD BACULUM
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ARGUMENTO AD POPULUM
ARGUMENTO AD POPULUM
Trata-se de uma forma de argumentar que retira a sua força do
apelo popular ou à maioria. Justifica assim algo como normal com
base na assunção de que se trata de uma prática comum, de uma
convicção largamente partilhada ou de um procedimento habitual.
O argumento ad populum é geralmente empregue para justificar
formas de agir e subentende a máxima «em Roma, sê romano» —
um princípio cuja razoabilidade ninguém negará. Todavia, esta
forma de argumentar é usualmente classificada como uma falácia
lógica. Dizem os lógicos que a maioria ou os costumes não são cri-
tério para estabelecer a verdade de uma proposição. Dizer que um
determinado produto é bom porque é consumido pela maior parte
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ARGUMENTO AD VERECUNDIAM
das pessoas, por exemplo, não constitui uma prova lógica de que o
produto é, realmente, bom. O problema é que a argumentação ad
populum se liga essencialmente às ações e às deliberações, que
são algo diferente de proposições. Se destas podemos dizer que po-
dem ser verdadeiras ou falsas, já das ações apenas podemos dizer
que são aceitáveis ou não, boas ou más, moralmente corretas ou
não. Neste sentido, podemos dizer que o ad populum faz apelo ao
senso democrático, valorizando o que é instituído por práticas co-
muns ou o que vai ao encontro da maior parte das pessoas, sobre-
pondo a dimensão social aos aspectos formais. É claro que quando
alguém argumenta com um polícia que, apesar de reconhecer que
ia acima do limite de velocidade, acrescenta que «é o que toda a
gente faz», ele está a procurar livrar-se da multa, fazendo apelo a
regras que não são as que o polícia supostamente deve fazer cum-
prir, pelo que este pode contra-argumentar também com o ad po-
pulum: «pois, mas deve reconhecer que todos sabem que o código
das estradas não permite circular acima das velocidades estipula-
das». Como na maior parte dos argumentos em ad, tudo se joga na
zona cinzenta entre regras formais e práticas sociais, autoridade
legítima e papéis sociais, o racional e o razoável. Podemos, por
conseguinte, dizer que a argumentação ad populum — como aliás
qualquer outro tipo de argumentação — pode ser demagógica, po-
pulista e enganosa, como pode ser apropriada, justa e razoável. O
contexto, os valores e os papéis de quem avalia, bem como a situa-
ção em que é usada, serão geralmente a base para a aceitar ou
para a condenar. Dependendo do contexto e de elementos circuns-
tanciais, a argumentação ad populum não é lógica nem intrinse-
camente falaciosa. Pode revelar-se como um critério apropriado
ou desapropriado, manifestando-se, nesse sentido, como mais ou
menos eficaz em termos persuasivos. Trata-se, em suma, de uma
estratégia retórica que argumenta a partir do impacto prático que
a opinião da maioria exerce sobre os espíritos.
ARGUMENTO AD VERECUNDIAM
A argumentação ad verecundiam é uma forma de argumentar
que faz apelo à autoridade. Numa perspetiva que encara a razão
como razão eterna e que, no seguimento de Descartes, considera
que ela é uma faculdade universal dos homens, é suposto que
possamos fundar as argumentações na Razão, o que significaria
levá-las a um plano demonstrativo capaz de fazer transparecer a
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ARGUMENTO AD VERECUNDIAM
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ASSUNTO EM QUESTÃO
ASSUNTO EM QUESTÃO
Escreve Plantin (2003a) que o assunto em questão «é a unidade
intencional que organiza o campo das intervenções e define o es-
paço argumentativo. Globalmente, todos os acontecimentos se-
mióticos que ocorrem nesta situação têm um valor argumentativo.
(…) O facto argumentativo é algo de muito complexo, que tem a
sua unidade na intenção global (o problema) que organiza o campo
do intercâmbio». Retenha-se que a ideia de assunto em questão é
solidária da emergência de um espaço a partir do qual a confron-
tação de perspetivas se torna possível e se concretiza. Trata-se de
uma noção solidária de uma conceção interacionista da argumen-
tação na medida em que o «em questão» não é o questionável, não
corresponde a questões que se podem colocar, mas àquilo que, ao
ser efetivamente questionado, dá origem a perspetivas cuja dis-
sonância só é percetível pela sua referência a um assunto comum
que, sendo discutido, se revela «em questão». Nota Crosswhite
(1996: 112) que «em qualquer argumentação há um assunto em
questão e, a não ser que se possa identificar esse conflito, não se
pode criar nem entender uma argumentação». A noção de assunto
em questão é pois nuclear na compreensão do que se passa nas
argumentações vistas como processos que envolvem turnos de pa-
lavra. Notar-se-á que, mesmo quando uma interação argumenta-
tiva se centra numa questão bem definida (por exemplo, ser a
favor da eutanásia ou ser contra a eutanásia), a argumentação
desenvolvida pelas partes tematiza esta questão como um assunto,
ou seja, recorrendo a um conjunto de considerandos diversos (por
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ASSUNTO EM QUESTÃO
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AUDITÓRIO
AUDITÓRIO
No âmbito da arte oratória, o termo «auditório» designa generica-
mente aqueles a quem é dirigido o discurso do orador. A relação
orador-auditório reflete o quadro situado da produção do discurso
do orador e evidencia o princípio da adaptação ao auditório (com
o que isso implica de processos de identificação que fomentam a
comunhão de desejos e motivos) como um componente retórico
fundamental desse discurso. Na retórica antiga, o auditório implica
uma dimensão presencial de um grupo de pessoas com o qual se
estabelece uma comunicação assimétrica: ao orador compete a
iniciativa discursiva e ao auditório manifestações de agrado
(aplausos, vivas, etc.) ou de desagrado (assobios, apupos, etc.), que
permitem aferir a eficácia persuasiva do discurso. Neste sentido
o auditório é diferente da atual noção de «público». Com a media-
tização da retórica, não só o público não precisa de estar fisica-
mente presente como a comunicação, acentuada na sua unilate-
ralidade, se processa por meios audiovisuais diversos solidários
da transformação da receção num momento de espetáculo, con-
duzindo à espetacularização da comunicação.
Segundo Perelman, é possível diferenciar quatro tipos de auditório:
o auditório universal (cujo apelo é correlativo do uso de expressões
como «a ninguém passará pela cabeça», «todos concordarão», «es-
tamos todos conscientes de que»), e três tipos de auditórios parti-
culares: o auditório composto por um grupo de pessoas, o auditório
composto por um único interlocutor e o auditório enquanto ence-
nação dual de si mesmo (ou seja, quando se estabelece um diálogo
interior que pesa posições distintas). Neste último caso Perelman
fala em deliberação íntima, devendo notar-se que a sua classifica-
ção como auditório é estabelecida por analogia: «o acordo consigo
mesmo não é senão um caso particular do acordo com os outros.
Assim, do nosso ponto de vista, é a análise da argumentação diri-
gida a alguém que nos levará a compreender melhor a deliberação
consigo mesmo, e não o inverso» (Perelman & Olbrechts-Tyteca,
1998: 54). A conceptualização da argumentação em termos de ora-
dor-auditórico corresponde a uma visão retórica da argumentação,
ou seja, que aceita a assimetria interlocutiva e coloca a tónica na
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AUDITÓRIO UNIVERSAL
AUDITÓRIO UNIVERSAL
A noção de auditório universal foi cunhada por Perelman & Ol-
brechts-Tyteca e tem sido alvo de interpretações controversas.
Grande parte das dificuldades interpretativas desta noção reside
no facto dela ser simultaneamente utilizada quer no quadro da
teorização da argumentação levada a cabo pelos autores, quer no
da filosofia do razoável que também propõem.
No quadro da teoria da argumentação, o auditório universal é
uma noção descritiva que caracteriza um género específico de dis-
curso: o discurso filosófico. Ela é forjada para responder à questão:
«como representaremos para nós próprios os auditórios aos quais
é conferido o papel normativo que permite decidir do carácter
convincente de uma argumentação? (Perelman & Olbrechts-Ty-
teca, 1988: 39). Os filósofos aspiram à universalidade e não se
contentam em ser persuasivos: aspiram a convencer e isso é in-
dissociável do recurso a uma imagem de razão que procuram in-
carnar com o seu discurso. Uma consideração histórica das aspi-
rações filosóficas mostra a recorrente associação entre a imagem
de razão, as características da necessidade e da universalidade e
a consideração da razão como razão eterna. Neste sentido, escre-
vem, «uma argumentação que se dirige a um auditório universal
deve convencer o leitor do carácter constrangedor das razões for-
necidas, da sua evidência, da sua validade intemporal e absoluta,
independentemente das contingências locais ou históricas» (Pe-
relman & Olbrechts-Tyteca, 1988: 41). Neste sentido, o recurso ao
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AUDITÓRIO UNIVERSAL
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AUDITÓRIO UNIVERSAL
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AUTORIDADE E ARGUMENTO
AD VERECUNDIAM
Se pensarmos que os discursos argumentativos recorrem cons-
tantemente a formas de conferir força ao que se diz, facilmente
perceberemos que os aspectos da autoridade são omnipresentes
nas questões de argumentação. Toulmin refere, a propósito dos
raciocínios argumentativos, que eles articulam dados e conclusões
através de regras de passagem a que chama garantias (warrants),
sendo estas pensadas como «autoridade racional» de um tal ra-
ciocínio (Toulmin, Rieke, Janik, 1984: 49). Por outro lado, e aten-
dendo a que há muitos modos de argumentar, várias formas de
garantia podem ser utilizadas. Quando se trata de questionar ou
de comparar garantias alternativas o caminho é o de ver que re-
forço (backing) pode ser convocado para tornar credível a garantia
utilizada. No contexto do esquema toulmineano da argumentação
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CAMPO ARGUMENTATIVO
CAMPO ARGUMENTATIVO
A noção de «campo argumentativo» foi introduzida por Toulmin e
remete para a visão especializada dos saberes, para as fronteiras
entre as diferentes disciplinas e para a especificidade da lingua-
gem e das metodologias de cada domínio. Trata-se de um conceito
que liga a argumentação à retórica própria das disciplinas cientí-
ficas (ou dos jogos de linguagem típicos de certos temas) que se
assumem como autoridades no próprio domínio. A noção de «campo
argumentativo» remete para a ideia de que as avaliações das ar-
gumentações dependem muito dos critérios dos fóruns em que
decorrem, os quais, aliás, determinam em grande medida a acei-
tabilidade dos argumentos.
Perelman utilizou também a expressão «campo da argumentação»
não para se referir a campos de conhecimento, mas para distinguir
duas formas de pensar: à primeira, caracterizada pelo ideal de
demonstrabilidade (demonstração), opôs a ideia de razoabilidade
(argumentação), essencialmente ligada ao raciocínio prático, à de-
liberação e à ação através do discurso. Destacou, por contraposição
à ideia de raciocínio lógico e matemático, que, no plano da argu-
mentação, o pensamento procede essencialmente através de dois
mecanismos fundamentais: a associação e a dissociação de noções.
Uma outra noção de «campo argumentativo» pode ser também
referida tendo em consideração a utilização do raciocínio axioló-
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CÂNONE RETÓRICO
CÂNONE RETÓRICO
Do ponto de vista da substância do discurso, a primeira e funda-
mental questão é a seguinte: o que é importante convocar para
abordar um assunto de modo a exprimir uma perspetiva e um
discurso consistentes? Na retórica clássica, a este momento de
selecionar e encontrar os aspectos relevantes para falar do assunto
foi dado o nome de invenção, no sentido de descoberta, e constituía
a primeira e fundamental etapa na produção do discurso. No en-
tanto, ela não deixava de estar associada a outros momentos. De
facto, não basta encontrar aquilo que se considera relevante para
um determinado assunto. É também preciso saber levá-lo à co-
municação. Assim, por exemplo, a forma como os argumentos
serão sequenciados no discurso e a ordem pelo qual serão organi-
zados é importante a um duplo título: ao nível da clareza com que
são transmitidos e ao nível do impacto que provocarão.
Deste modo, a disposição dos argumentos no discurso pode ter re-
lação direta com os seus efeitos persuasivos junto de um auditório.
Uma organização mal estruturada e confusa pode levar a rejeitar
a argumentação apresentada e a descredibilizar o comunicador.
Pelo contrário, um discurso fortemente organizado, com passos bem
encadeados, que fornece de uma forma explícita os seus pontos de
ancoragem e confere uma necessidade quase matemática às suas
conclusões tem muito mais força e probabilidades de se impor (no-
meadamente a auditórios do foro científico). A essa forma de argu-
mentar que tira a sua força da similitude com o pensamento mate-
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CÂNONE RETÓRICO
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CLICHÉ | COALESCÊNCIA
CLICHÉ
Conta Bateson (1972) que cliché é um termo francês oriundo da
imprensa: «quando imprimiam uma frase tinham de pegar nas di-
ferentes letras e colocá-las em ordem uma por uma numa espécie
de caixa sulcada para soletrarem a frase. Mas para palavras e
frases que as pessoas utilizavam muito, o impressor guardou as
pequenas caixas de letras já feitas. E essas frases já-feitas são cha-
madas clichés». Seja esta descrição verídica ou não, ela capta a es-
sência: um cliché é uma forma de expressão cuja repetição a trans-
forma num chavão, ou seja, algo que comum e espontaneamente se
diz sem que com isso se diga algo de novo. Se alargarmos a classi-
ficação deste termo ao conteúdo do pensamento, poderemos dizer,
com Amossy, que os clichés são uma espécie de «pronto-a-pensar do
espírito», um modo de pensar «por defeito», ou seja, segundo padrões
vulgarizados e algo exauridos no seu sentido pelo uso repetido. De
uma forma geral atribui-se ao cliché uma conotação negativa, li-
gando-o a formas estereotipadas que, como as metáforas mortas, já
nada trazem de novo.
COALESCÊNCIA
Com a designação de «argumentação coalescente» M. Gilbert
(1997) propõe uma conceção de argumentação em que a finalidade
é a de explorar as situações de desacordo com base nos pontos de
acordo que podem ser alcançados. Neste sentido, escreve, «a ar-
gumentação coalescente é a implementação de métodos e de téc-
nicas que aumentam o elemento heurístico e diminuem o elemento
erístico, mantendo simultaneamente uma atitude realista quanto
à natureza essencialmente orientada por objetivos da maior parte
das argumentações» (Gilbert, 1997: 108). Poder-se-ia também dizer
que as interações argumentativas guiadas pelo ideal de coales-
cência, mais do que a análise e o juízo, premeiam a leitura e a
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COGÊNCIA
9. Regra do fecho.
O falhanço da defesa de uma tese deve resultar na retratação da
tese defendida e uma defesa bem sucedida de uma tese deve re-
sultar na retratação das dúvidas que sobre ela foram lançadas.
10. Regra do uso.
Nenhuma das partes deve usar formulações que sejam insufi-
cientemente claras, confusas ou ambíguas e ambas as partes de-
vem interpretar cuidadosamente e com o maior rigor possível as
formulações da outra parte» (van Eemeren, Grootendorst & Hen-
kemans, 2002c: 182-183).
Como um código implica também a possibilidade de ser infringido,
a violação das suas regras é muitas vezes vista como uma falácia:
«cada violação de qualquer das regras do procedimento de discus-
são por que se pauta uma discussão crítica (seja ela cometida por
qualquer das partes e em qualquer dos estádios da discussão) é
uma falácia» (van Eemeren e Grootendorst, 2004a: 175).
À perspetiva de elaboração de um código formal de conduta e da
visão funcional das argumentações reagem certos teorizadores
enfatizando que na prática, mais do que partirmos de códigos for-
mais e previamente estabelecidos, os participantes numa argu-
mentação vão co-construindo o seu próprio contexto de interação,
trazendo para ele normatividades que entendem como relevantes.
É assim que há quem defenda que a interação argumentativa,
não tendo a priori quadros prévios que a delimitem nas suas ca-
racterísticas e finalidades, é uma transação comunicacional au-
torregulada. Para esta linha de pensamento há uma normativi-
dade natural das argumentações que faz com que a norma do
discurso de um esteja no discurso do outro.
COGÊNCIA
Mais do que à argumentação, o termo «cogência» reporta-se à ló-
gica e serve para descrever um raciocínio no qual se verificam os
critérios de avaliação informal dos argumentos. Para Trudy Govier
esses critérios sintetizam-se sob a sigla «ARG»: «A» de aceitabili-
dade das premissas, «R» de relevância das premissas para as con-
clusões e «G» de grounds, ou seja, da adequação das premissas re-
lativamente à conclusão. Critério semelhante é proposto por
Johnson e Blair (2005) quando apresentam o critério da «ARS»:
aceitabilidade, relevância e suficiência. A cogência distingue-se
da validade na medida em que não se trata de uma avaliação me-
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CONCESSÃO | CONCLUSÃO
CONCESSÃO
Uma concessão é um movimento argumentativo que consiste em
considerar como bom, para efeitos da progressão na interação,
algo que, não fazendo parte da perspetiva de quem faz a concessão,
pode ser assumido como admissível e constituir uma plataforma
comum. As concessões desempenham um papel essencial nas ne-
gociações e fazem parte das estratégias para chegar a acordos.
De um ponto de vista argumentativo, a concessão pode ter ser
vista como uma atitude cooperativa e, nesse sentido, favorecer o
ethos de quem faz a concessão: afinal, conceder manifesta razoa-
bilidade, demonstra que não se é intransigente e é uma forma de
considerar o outro nos seus próprios termos, dando-lhe um sinal
de que está a ser ouvido e a ser levado a sério. Mas também pode
funcionar como uma forma de lançar um ad hominem, fazendo
concluir do que se concede algo de contrário à posição do interlo-
cutor a quem se fez a concessão. No âmbito da dialética formal
uma concessão significa que mais um dado foi acrescentado ao
«armazém de compromissos» que cada participante vai estabele-
cendo na interlocução e pelo qual tem de responder de uma forma
coerente.
CONCLUSÃO
Em lógica, a conclusão é o ponto de chegada do raciocínio. Tem
como seu antecedente, no caso de uma inferência imediata, uma
proposição (por exemplo, podemos inferir de «todos os A são B» a
conclusão de que «alguns A são B») e, no caso da inferência me-
diata, duas ou mais premissas (por exemplo, «todos os A são B, to-
dos os B são C, logo, todos os A são C»).
Se sairmos da esfera do raciocínio, a conclusão assinala o corolário
de uma perspetiva ou de um ponto de vista que é desenvolvido
sobre a questão que organiza o discurso monologicamente consi-
derado. A conclusão significa aqui que estamos perante um dis-
curso argumentado que foi desenvolvido para um determinado
ponto focal que por ele é reiterado. Neste caso, a conclusão é o re-
sultado de um processo de tematização. Os considerandos feitos
no discurso funcionam geralmente como argumentos e a conclusão
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DEDUÇÃO
DEDUÇÃO
A dedução é a operação que consiste em passar de uma ou mais
proposições, tomadas como premissas, para uma nova proposição
que é a sua consequência necessária.
Trata-se portanto de um movimento que extrai de um princípio
geral uma conclusão particular. Passa das leis para os factos ou
das causas para os efeitos e, por isso, as suas conclusões são pro-
posições apodícticas ou necessárias (que não poderiam ser de
outro modo).
Exemplo:
«Todos os homens são mortais.
Pedro é homem.
Pedro é mortal.»
Existem alguns princípios lógicos que servem de base à dedução.
É o caso dos princípios da não-contradição, da identidade e do ter-
ceiro excluído. Estes três princípios são o fundamento mais sólido
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DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
Para Perelman, a noção de argumentação é explicitada a partir da
sua oposição com a de demonstração. Aquilo que, segundo este teó-
rico, distingue uma da outra são as seguintes características:
• primeira ideia: «enquanto a lógica formal é a lógica da demonstra-
ção, a lógica informal é a da argumentação» (Perelman, 1986a: 17);
• segunda ideia: ao invés da lógica tradicional, esta última não se
preocupa com a verdade abstrata, categórica ou hipotética, mas
com a adesão (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1952: 18). Nota
Perelman que «na argumentação não se trata de mostrar, como
na demonstração, que uma qualidade objetiva, como seja a ver-
dade, passa das premissas para a conclusão, mas que se pode
fazer admitir o carácter razoável, aceitável de uma decisão a
partir do que o auditório já admite, a partir das teses às quais
ele adere com uma intensidade suficiente. O discurso persuasivo
visa, portanto, uma transferência de adesão duma qualidade
subjetiva que pode variar de espírito para espírito» (Perelman,
1986a: 17-18);
• terceira ideia: a lógica opõe-se à retórica porquanto na primeira
a ideia ou a opinião que o auditório tem do orador não é impor-
tante para a avaliação das conclusões que este apresenta, o
mesmo não acontecendo na retórica onde se verifica uma intera-
ção constante entre a pessoa do orador e o auditório para o qual
discorre (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1952: 23, 1988: 426);
• quarta ideia: outro traço distintivo da lógica relativamente à
retórica é que enquanto na primeira «se raciocina sempre no
interior de um sistema dado, supostamente admitido, numa ar-
gumentação retórica tudo pode ser sempre recolocado em ques-
tão; pode sempre retirar-se a adesão: aquilo a que se dá assen-
timento é um facto e não um direito» (Perelman, 1986a: 26).
Escreve ainda que «um sistema formal mostra quais são as con-
sequências que decorrem dos axiomas, sejam estes considerados
como proposições evidentes ou simples hipóteses convencional-
mente admitidas. Num sistema formal os axiomas não são nunca
objeto de controvérsia; supõem-se serem verdadeiros, objetiva-
mente ou por convenção. O mesmo não se passa na argumenta-
ção na qual o ponto de partida deve ser admitido pelo auditório
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DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
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DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
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DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
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DEMONSTRAÇÃO VS ARGUMENTAÇÃO
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DIALÉTICA FORMAL
DIALÉTICA FORMAL
A ideia de dialética formal foi proposta por Hamblin como uma
forma de pensar o que se passa na interação argumentativa. Se
pensarmos que uma argumentação é algo que ocorre entre pessoas
(pelo menos duas) e que é composta por turnos de palavra, ela
pode sê-lo em termos dialéticos e através dos movimentos argu-
mentativos da lógica que cada participante traz à argumentação.
Para isso pode pensar-se a argumentação a partir de um modelo
ideal assente nas ideias de sistema como jogo, de compromisso (ou
obrigação) e de consistência. É preciso, explica Hamblin, «incluir
as características do contexto dialético no interior do qual os ar-
gumentos são avançados» (1970: 254). Para se assinalar uma falta
argumentativa «precisamos de ver o nosso raciocínio no tipo de
contexto no interior do qual, e apenas aí, essas faltas são possíveis»
(1970: 253). A dimensão formal deste sistema dialético é dado atra-
vés da ideia de que «não nos preocuparemos em considerar nenhum
contacto do diálogo com o mundo empírico fora da situação de dis-
cussão» (1970: 253). E o que caracteriza formalmente a situação
de discussão? É a existência de armazéns de compromissos que
define o papel dos participantes e a consistência para com os seus
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DISCURSO EPIDÍCTICO
DISCURSO EPIDÍCTICO
Na sua Retórica, Aristóteles define o discurso epidíctico como
aquele que tem por objeto o elogio e a censura, a virtude e o vício.
O seu tempo é essencialmente o presente (e nisso difere do discurso
deliberativo, virado para o futuro, e do discurso judicial, virado
para o passado), mas não deixa de ter relação com o passado e com
o futuro: «para o género epidíctico o tempo principal é o presente,
visto que todos louvam ou censuram eventos atuais, embora muitas
vezes também argumentem evocando o passado e conjecturando
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DISCURSO EPIDÍCTICO
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ENTIMEMA
ENTIMEMA
O conceito de entimema foi cunhado por Aristóteles (384-322 a.C)
e deve ser considerado a partir da distinção que este filósofo faz
entre o carácter constringente das provas lógicas que, operando
segundo regras inferenciais que conferem às conclusões do racio-
cínio um carácter necessário, são por isso demonstrativas (e o seu
modelo é o raciocínio silogístico) e as provas retóricas que se apli-
cam a «questões sobre as quais deliberamos e para as quais não
possuímos artes específicas» (Retórica, 1357a), ou seja, em que o
problema da deliberação se coloca num quadro em que não há re-
gras sistemáticas. Assim, o entimema surge como uma espécie de
silogismo, ou seja, como um «silogismo retórico», caracterizado
não pelo certo, mas pelo provável. Esta dimensão de provável não
significa que ele seja um parente pobre do silogismo demonstra-
tivo. Quer antes dizer que se articula com as exigências práticas
da comunicação e com os propósitos da retórica, definida como «a
capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim
de persuadir» (Retórica, 1355b), salientando ainda Aristóteles
(ponto a tónica na seletividade dos recursos, mais tarde designada
por inventio), que «é também evidente que ela [a retórica] é útil e
que a sua função não é persuadir mas discernir os meios de per-
suasão mais pertinentes para cada caso» (ibidem). Ora, como o
persuasivo é sempre persuasivo para alguém, o raciocínio enti-
memático está não só diretamente ligado à noção de auditório e
ao princípio da adaptação do discurso àqueles para quem se dis-
corre como também ao assunto específico que está a ser tratado.
O raciocínio entimemático desenvolve-se, assim, contando entre
as suas premissas com aquilo que em princípio é admitido pelo
auditório e permite fazer a economia da sua explicitação. Dito de
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ENUNCIADO
ENUNCIADO
Se, como nota Grize (1997), «numa proposição a noção de sujeito
enunciador está ausente», o mesmo não acontece num enunciado.
A enunciação implica a mobilização da língua por um locutor que
a semantiza no discurso. Esta mobilização, que implica processos
seletivos, comporta aspectos dialógicos na medida em que não
apenas deixa marcas linguísticas posicionais do locutor como im-
planta o outro na referência do discurso (relação eu-tu). Conside-
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ERÍSTICA | ESQUEMATIZAÇÃO
ERÍSTICA
O adjetivo «erístico» está ligado ao gosto pela controvérsia, pela
disputa, pela discussão. Mas costumam designar-se por «erísticas»
as interações emolduradas num quadro adversarial do qual re-
sultará um vencedor e um vencido. A lógica da disputa erística é
assim a do ganhar/perder e não a da coalescência (ganhar/ganhar).
A evidência da supremacia de um dos participantes sobre o outro
acerca de uma determinada discórdia e não a preocupação com a
produção de consensos é, assim, uma das características que molda
a confrontação erística. Assim perspetivadas, as interações erísti-
cas são frequentemente reprovadas como algo em que «vale tudo»
para atingir o objetivo final e as técnicas da obtenção da vitória
pela vitória, com vista à glória de si, foram severamente condena-
das por Platão e levaram à estigmatização dos sofistas (que, cons-
cientes da antifonia, ou seja, da possibilidade de inversão de qual-
quer argumentação através de uma outra argumentação, eram
praticantes do método antilógico com que preparavam os alunos
para defenderem uma tese e a sua contrária) como manipuladores,
enganadores, sem ética e insensíveis à questão da verdade. Esta
ideia das práticas argumentativas como erísticas é retomada con-
temporaneamente na ideia de que «a argumentação é a guerra»
(Lakoff e Johnson, 1980) e enfatiza a competição em detrimento
da cooperação.
ESQUEMATIZAÇÃO
Considerando a forma como raciocinamos ao falar e tendo em
conta que os procedimentos de enunciação implicam uma forma
de dar a ver personalizada e individualizada através de procedi-
mentos de filtragem e de saliência (filtrar é reter alguns aspectos
das representações e ocultar outros; salientá-los é servir-se de
meios da língua para fixar a atenção» Grize, 1996: 68), é possível
dizer que o discurso é solidário de esquematizações. Segundo
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ESTREITAMENTO FOCAL
ESTREITAMENTO FOCAL
Para Grize, o discurso argumentativo procede frequentemente a
um estreitamento focal que consiste em desenhar o problema ge-
nericamente colocado através da seleção de questões que encami-
nham para uma única resposta. Assim, assinala quatro movimen-
tos neste processo:
«a) Ponto de partida: uma descrição daquilo que se trata.
b) Por desnivelamentos sucessivos, respostas a questões abertas,
logo delimitação do campo de que se trata.
c) Respostas a questões fechadas.
d) Conclusão que decorre: a resposta que permanece» (Grize: 1986:
54).
Note-se que nesta esquematização há desde logo uma narrativa
que contextualiza «aquilo de que se trata» e que o processo de
descrição implica um movimento argumentativo essencial que é
o da focalização que à partida valoriza aquilo que circunscreve,
mas cujo registo descritivo tende a fazê-lo passar como algo de
neutro, impessoal e suscetível de gozar do estatuto de «factos» e
assim beneficiar de um acordo universal. A capacidade de focagem
no que é salientado tende a colocar na sombra o carácter seletivo
que opera no seu estabelecimento e a gerar um acordo que é si-
multaneamente um compromisso.
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ETHOS
ETHOS
Nota Goffman (1993: 11): «Quando um indivíduo surge na presença
de outros, estes habitualmente procuram obter informações sobre
ele, ou recorrer a informação que já possuam a seu respeito. Inte-
ressar-se-ão pelo seu estatuto socioeconómico global, pelo que o
indivíduo pensa de si próprio, pela sua atitude para com eles, pela
sua competência, pelo grau de confiança que merece, etc. (…) Se
dispuserem das informações adequadas, os outros saberão melhor
como devem atuar a fim de obterem do indivíduo a resposta pre-
tendida». Em termos argumentativos o ethos diz respeito ao ca-
rácter do argumentador e à credibilidade que deste pode, ou não,
emanar. Em termos retóricos podemos dizer que todo o discurso
faz transparecer uma imagem de si que não é dissociável da força
do seu impacto. É possível distinguir entre um ethos pré-discursivo
e um ethos discursivo (Amossy, 2006: 79-81). O primeiro está rela-
cionado como estatuto institucional daquele que fala e com as fun-
ções e posições que ocupa num determinado campo e que legitimam
certas expectativas — ou seja, que levam a que os outros, ou o au-
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FALÁCIA
FALÁCIA
A primeira fonte sistemática do estudo das falácias são as Refu-
tações Sofísticas de Aristóteles, tema que aparece também tratado
nos Primeiros Analíticos, nos Tópicos e na Retórica. Aristóteles
distingue dois grupos de falácias: o que se liga ao uso da linguagem
e o que é independente do uso da linguagem. Ainda que, tal como
acontece nas Refutações Sofísticas, as falácias sejam vistas num
contexto dialético, a tradição que se lhe seguiu tendeu a consi-
derá-las em termos monológicos, o que acabou por criar dificulda-
des quanto à sua teorização sistemática. A distinção contemporâ-
nea entre «falácias formais» e «falácias informais» visa de alguma
maneira distinguir entre a questão da validade no que diz respeito
à estrutura lógica do raciocínio (e que se centra nos processos de
inferência do raciocínio, ou seja, no processo formal da passagem
de dadas premissas para uma conclusão), para as que consideram
o raciocínio em termos de cogência, sendo que «um argumento
persuasivo é ‘cogente’ (...) apenas quando as razões aduzidas tor-
nam racional aceitar a tese para a qual foram oferecidos como su-
porte» (Blair, 1992: 361). Na análise da cogência do raciocínio são
consideradas, por exemplo, a aceitabilidade das premissas, a sua
relevância para estabelecerem a conclusão e a sua suficiência
para suportar a mesma. Assume-se, assim, uma perspetiva crítica
sobre o raciocínio e a sua classificação como falacioso, ou não,
está associada a um conjunto de perguntas críticas que visam
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FALÁCIA
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FASES DA ARGUMENTAÇÃO
FASES DA ARGUMENTAÇÃO
Escreve van Eemeren (2009: 60): «em primeiro lugar, há ‘o estádio
da confrontação’, no qual a diferença de opinião é externalizada a
partir do potencial espaço de desacordo. Depois há o ‘estádio da
abertura’ no qual o protagonista e o antagonista de uma posição
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FASES DA ARGUMENTAÇÃO
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GENERALIZAÇÃO APRESSADA
GENERALIZAÇÃO APRESSADA
O processo de generalização é um procedimento indutivo que,
com base num determinado número de casos, estabelece um pa-
drão. No seu limite, a generalização apressada significa que esta-
mos a saltar de um caso para um padrão geral e que essa passa-
gem não é suficientemente segura enquanto inferência. Dizer, a
partir de algo que uma pessoa de determinada nacionalidade fez
que as pessoas dessa nacionalidade são assim é produzir um infe-
rência com muito fracas bases e que não é segura nem rigorosa.
Por exemplo, se dissermos que «ontem divorciou-se mais um ator
de Hollywood» e, na sequência, acrescentarmos que «os atores de
Hollywood estão sempre a divorciar-se», naturalmente que, em
termos inferenciais esta é uma conclusão que está longe de ser
segura. Por isso, e do ponto de vista lógico, estamos perante um
raciocínio que peca por ser uma generalização abusiva, excessiva
ou apressada. No entanto, as coisas tornam-se mais complexas
se, em vez de vermos este tipo de discurso como um raciocínio in-
dutivo, o virmos como uma argumentação pelo exemplo. Nesse
caso, a relação entre premissa e conclusão inverte-se: a premissa
será «os atores de Hollywood estão sempre a divorciar-se», afir-
mação que é corroborada pelo exemplo: «ontem divorciou-se mais
um ator de Hollywood». Assim, de um ponto de vista lógico, um
modo de inferir apoiado em bases insuficientes é considerado um
modo de raciocinar falacioso. Mas, de um ponto de vista argu-
mentativo a força de um único exemplo permite pelo menos não
descartar o padrão como possível e obriga a pôr como possível a
sua hipótese. Por outro lado, se o exemplo invocado for algo de to-
cante, os seus efeitos persuasivos podem ser consideráveis. Ob-
viamente que não podemos concluir que «o mundo é um lugar pe-
rigoso para as crianças» a partir do caso do rapto de uma criança.
Mas o exemplo poderá certamente influenciar no sentido de nos
tornarmos mais prudentes e agirmos de forma mais cautelosa no
que diz respeito aos nossos filhos. Se a generalização apressada
pode ser logicamente falaciosa, o facto é que ela é por vezes sufi-
ciente, nomeadamente quando queremos jogar pelo seguro. É aliás
comum que formas de raciocinar que são consideradas como logi-
camente falaciosas sejam usadas banalmente como formas credí-
veis de discorrer.
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IMPLÍCITO ARGUMENTATIVO
IMPLÍCITO ARGUMENTATIVO
Se, numa visão interacionista, uma situação de argumentação se
caracteriza pela presença de um discurso e de um contradiscurso,
o seu implícito argumentativo é o assunto em questão em torno
da qual se organiza a dissensão, permitindo distinguir perspetivas
diferenciadas que vão sendo tematizadas numa sequência de tur-
nos de palavra. Notar-se-á, também, que a interação não poderá
ser dissociada da invocação e do confronto de critérios normativos
que permitem configurar e fazer prevalecer a perspetiva de cada
um dos interlocutores relativamente à do outro. Se, por outro
lado, considerarmos que à discursividade é inerente a perspetiva-
ção, optando por uma visão semântico-argumentativa, diremos
que os implícitos remetem sempre para processos seletivos de fil-
tragem e de saliência através das quais se estabelecem posições.
Neste sentido, os discursos dos participantes têm de ser simulta-
neamente interpretados quer a partir do que é dito explicita-
mente, quer do que permanece implícito, seja como pressuposto
ou como subentendido. Assinale-se, contudo, que interpretar não
é o mesmo que produzir um contradiscurso sob a tensão do dis-
curso do outro.
Numa visão retórica, que traz a primeiro plano a sociabilidade da
linguagem e a associa ao seguimento de regras, a necessidade do
implícito pode ser explicada como uma forma de evitar o contradis-
curso e de poder ser responsabilizado por algo que é sempre possível
negar ter-se dito. Trata-se, neste sentido, de deixar ao interlocutor
«enfiar o barrete» sem o locutor, se acusado, disso poder ser respon-
sabilizado. É neste sentido que Ducrot (1991: 4-12) afirma que «te-
mos frequentemente a necessidade de, simultaneamente, dizer cer-
tas coisas e de poder fazer como se não as tivéssemos dito, de as
dizer, mas de tal forma que possamos recusar a responsabilidade
da sua enunciação. (...) Na medida em que, apesar de tudo, pode
haver razões para falar destas coisas, torna-se necessário ter à sua
disposição modos de expressão implícita, que permitem deixar en-
tender sem arcar com a responsabilidade de ter dito. Uma segunda
origem possível da necessidade do implícito deve-se ao facto de
uma afirmação explicitada se tornar, por isso mesmo, um tema de
discussões possíveis. Tudo o que é dito pode ser contradito. De
forma que não seria possível anunciar uma opinião ou um desejo
sem as sujeitar ao mesmo tempo às objeções eventuais dos interlo-
cutores. Como foi frequentemente sublinhado, a formulação de uma
ideia é a primeira e decisiva etapa para a sua colocação em questão.
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IMPLÍCITO ARGUMENTATIVO
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INDUÇÃO
INDUÇÃO
Contrariamente à dedução, a indução é a operação que consiste
em fazer passar do particular para o geral. Partindo dos factos,
da observação e da experiência, a indução permite concluir uma
lei geral, aplicável a todos os casos da mesma espécie. Na indução,
o pensamento parte dos factos concretos para as causas que os
explicam. As suas conclusões são, pois, assertórias ou contingentes
(isto é, podiam ser de outro modo, não necessárias), uma vez que
se fundam na investigação experimental. É o caso do seguinte
exemplo:
A água dos rios Tejo, Douro, Mondego e Guadiana é doce.
Ora, o Tejo, o Douro, o Mondego e o Guadiana são rios.
Logo, a água dos rios é doce.
Podemos distinguir dois tipos de indução: indução completa ou
totalizante, também designada por aristotélica ou formal e a in-
dução incompleta, também conhecida por amplificante ou baco-
niana. A primeira verifica-se sempre que se infere um universal
depois de se terem enumerado todos os casos singulares com-
preendidos nesse universal. Exemplo:
Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Úrano, Neptuno
e Plutão descrevem rotas elípticas.
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KAIRÓS
KAIRÓS
No campo da retórica a noção de kairós liga-se ao momento opor-
tuno para se produzir um discurso. Na interação argumentativa
relaciona-se com a oportunidade mais apropriada para produzir
um turno de palavra. É um elemento essencial na força do discurso
e na força persuasiva dos argumentos, podendo ser determinante,
por exemplo, na ordem da apresentação destes. Se é suposto que
os argumentos sejam elaborados a propósito daquilo que está em
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LÓGICA INFORMAL
LÓGICA INFORMAL
O que é a lógica informal? Segundo Leo Groarke (2007) a lógica
informal «tem as suas raízes mais recentes nos movimentos sociais
e políticos caracterizados pela exigência de uma educação mais
‘relevante’ para as questões do dia-a-dia» que se registaram nos
Estados Unidos a partir do anos 60, 70 e 80. Uma tal preocupação
está patente, explica ainda Groarke, por exemplo numa diretiva
da Universidade Estadual da Califórnia segundo a qual «a ins-
trução no pensamento crítico tem por objetivo promover um en-
tendimento das relações da linguagem com a lógica, a qual deve
conduzir à capacidade de analisar, criticar, defender ideias, racio-
cinar indutiva e dedutivamente e formular juízos de facto e de
valor baseados em inferências apropriadas feitas a partir de afir-
mações não ambíguas sobre conhecimentos ou convicções». De
acordo com Blair que, com Ralph Johnson, é um dos representan-
tes mais proeminentes desta perspetiva, este movimento «tem
objetivos simultaneamente pedagógicos e teóricos. (…). Enquanto
corrente pedagógica a sua finalidade é a de modificar os conteúdos
dos cursos universitários com a pretensão de desenvolver o racio-
cínio lógico. (...) Enquanto corrente teórica o seu objetivo é o de
abarcar todos os aspectos requeridos para uma avaliação lógica
não formal dos argumentos e das argumentações» (Blair, 1991:
79). Tomando em consideração alguns dos variados trabalhos des-
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LÓGICA INFORMAL
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LÓGICA NATURAL
LÓGICA NATURAL
A lógica natural é a designação adotada por Jean-Blaise Grize
para a sua teorização dos processos espontâneos que são acionados
quando raciocinamos ao falar. Ela não se ocupa com a dimensão
normativa da argumentação, debruçando-se, antes, sobre o estudo
das operações do pensamento que são postas em jogo no discurso.
Tais operações do pensamento são encaradas em oposição àquelas
que encontramos na lógica matemática e formal. E o que as dis-
tingue? Em primeiro lugar, o facto das primeiras serem naturais
— donde Grize utilizar a expressão «lógica natural» para designar
o campo de estudo que delimitou — e as segundas serem artificiais.
Enquanto as operações da lógica natural procedem da esponta-
neidade da aprendizagem de uma língua materna, o mesmo não
acontece com a lógica matemática e com as línguas artificiais.
Em segundo lugar, as operações lógicas, de um ponto de vista da
lógica natural, estão indissociavelmente ligadas a atividades dis-
cursivas, ou seja, são sempre «operações lógico-discusivas» (Grize,
1997: 65) indissociáveis de um contexto de comunicação, o que
não acontece quando lidamos com sistemas formais. Em terceiro
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LÓGICA NATURAL
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MANIPULAÇÃO E SEDUÇÃO
MANIPULAÇÃO E SEDUÇÃO
No âmbito da argumentação, a ideia de manipulação tem uma co-
notação ética e é essencialmente relativa à forma como os interlo-
cutores se tratam entre si. Wayne Brockriede (1972), servindo-se
de uma metáfora sexual, distingue, em termos de argumentação,
entre o violador, o sedutor e o amante. No que diz respeito à atitude,
o violador não se interessa pelo assentimento, mas pelo poder, co-
mandos, ameaças e coação; a relação entre os participantes é uni-
lateral; o interlocutor é visto como uma presa a ser manipulada; o
interlocutor é visto como um ser inferior; despersonaliza o outro;
apoia-se na agressividade verbal (insultos e ataques pessoais e ao
carácter); uso da força, autoritarismo e sanções; recurso a ameaças
e a ultimatos. No que diz respeito à forma como vê a argumentação,
o violador manifesta desdém pelo outro e pela sua integridade;
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MANIPULAÇÃO E SEDUÇÃO
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MANIPULAÇÃO E SEDUÇÃO
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MONOLOGAL E DIALOGAL
MONOLOGAL E DIALOGAL
Grosso modo, poderíamos dizer que os fenómenos da argumenta-
tividade remetem para uma abordagem monologal ou monogerida
da linguagem em que esta é vista como um produto textual susce-
tível de análise. Uma tal análise parte de uma teoria prévia do
que se entende por argumento (seja «argumento» considerado como
um enunciado que conduz a outro enunciado que é sequência do
primeiro, seja como algo que confere força persuasiva ao discurso,
seja, ainda, como algo que é visto como razões de suporte para
uma tese), procura identificar e interpretar a presença de argu-
mentos no discurso, reconstruir e analisar esses argumentos e,
para alguns teóricos, avaliá-los na sua força.
Se passarmos da argumentatividade para a argumentação, en-
tendida como uma situação que comporta pelo pelos dois partici-
pantes e que implica uma situação de interação, então diremos
que mais do que no discurso dialógico (ou seja, que se dirige sem-
pre a alguém e que invoca ou remete polifonicamente para outras
vozes, não deixando todavia de ser monogerido) a tónica é posta
na dimensão dialogal (ou seja, que invoca a poligestão de um as-
sunto em questão relativamente ao qual há diferença de perspe-
tivas e na qual os participantes podem assumir qualquer dos pa-
péis que definem a dinâmica argumentativa: o de proponente, o
de oponente e o de questionador). Os argumentos não são aqui
vistos «a solo» mas sempre a partir do «dueto» de argumentadores
(pelo menos) em interação e como valores de troca sujeitos a vigi-
lância na interação comunicacional. Nesta perspetiva não se parte
de uma teoria prévia que define a priori o que é um argumento,
mas considera-se que os argumentos são emergentes e que a sua
emergência e força não podem ser dissociadas do contexto especí-
fico da interação polarizado num assunto em questão. Deste ponto
de vista, o uso de argumentos é visto como algo que reforça pers-
petivas sobre um assunto em questão numa situação circunstan-
ciada de interdependência discursiva. Esta interdependência dis-
cursiva pode ser clarificada através do conceito de diafonia, que
aponta para a retoma do discurso de um pelo discurso do outro.
Neste sentido a avaliação da força dos argumentos é sempre rela-
tiva quer ao assunto em questão, quer ao discurso do outro. Pode-
mos assim distinguir entre o estudo analítico dos argumentos que
procura captar a argumentatividade pela inventariação de tipos
de argumentos e de esquemas argumentativos que são utilizados
pelos argumentadores, procurando derivar a sua força das estru-
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O MODELO DE TOULMIN
O MODELO DE TOULMIN
Stephen Toulmin (1958) propõe uma abordagem estrutural daquilo
a que podemos chamar a «célula argumentativa», ou seja, dos ele-
mentos constitutivos do raciocínio argumentativo. Distingue entre
os elementos invariáveis (field invariant), que dizem respeito à
forma (e, nesse sentido, são independentes do assunto de que se
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O MODELO DE TOULMIN
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O MODELO DE TOULMIN
garantia (warrant)
O padrão básico do argumento segundo Toulmin
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O MODELO DE TOULMIN
Note-se, contudo, que o sentido da seta que vai dos dados para a
tese deve ser entendido como estrutura do processo de justificação,
ou seja, como algo que se desenrola depois da tese ter sido desa-
fiada. Em termos comunicacionais, no qual é pressuposto um diá-
logo entre um proponente e um questionador, a ordem é: tese —>
desafio da tese —> seleção de dados que funcionam como funda-
mento —> explicitação da garantia usada como regra de passa-
gem. Escreve Toulmin (1958: 99-100), referindo-se ao modelo bá-
sico: «como este padrão deixa claro, o apelo explícito neste
argumento vai diretamente da tese para os dados com que os fun-
damentamos: a garantia é, nesse sentido, incidental e explanató-
ria, sendo a sua tarefa simplesmente registar a legitimidade da
passagem envolvida e remetê-la para uma classe mais lata de
passagens cuja legitimidade está a ser pressuposta».
Esta forma, no entanto, será complexificada com a introdução de
outros elementos que a permitam tornar mais dinâmica e aberta
ao criticismo.
Essa é a função da introdução dos elementos designados como re-
forço (backing), qualificadores (qualifiers) e reserva (reservation
ou rebutall) que são aspectos relacionados com o dimensionamento
da argumentação e que apontam para alguma interatividade. Se
a garantia representa, na estrutura da argumentação, a «autori-
dade racional» (Toulmin, Rieke & Janik, 1984: 49), ou a afirmação
geral que é requerida para a ligação dos dados ou razões com a
tese, tal não impede que ela possa ser, por sua vez, questionada
enquanto tal. Com efeito, se de um ponto de vista do raciocínio a
garantia estabelece a necessária articulação entre os dados e a
tese, nem por isso ela se pode validar a si mesma do ponto de
vista da sua eventual aceitabilidade. Aqui a questão desloca-se
da estruturação do raciocínio, que se funda sempre numa garantia,
implicando, por conseguinte, o recurso a uma regra de passagem,
para a questão da sua força enquanto «modo de argumentar» sub-
metido a escrutínio crítico. Ora, estes «modos de argumentar»,
não se podendo validar a si próprios são, todavia, suscetíveis de
reforço. Assim, do plano da estruturação do raciocínio passamos
ao plano da fiabilidade dos «modos de argumentar» e da sua apli-
cabilidade ao caso específico em questão. Como mostrar, por exem-
plo, que uma tal garantia é superior a outras em conflito com ela?
Tal é a função do reforço, ou considerações adicionais que são
avançadas de modo a tornar credível, aceitável e forte o «modo de
argumentar» proposto pela garantia. Ou seja, considerações que
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O MODELO DE TOULMIN
reserva (rebutall)
garantia (warrant)
qualificador (qualifier)
reforço (backing)
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O MODELO DE TOULMIN
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O PROVÁVEL
O PROVÁVEL
No interior do campo argumentativo o provável não se refere a
qualquer tipo de expectativa baseada num cálculo de probabili-
dades quanto a um resultado, mas é uma noção que alia o possível
e o preferível no que diz respeito a um modo de ver ou a caminhos
de ação. Neste sentido, ele tem uma natureza dilemática. O pro-
vável, não em sentido estatístico, mas no sentido ensaístico — de
tentativa não suscetível de certificação, que resiste aos estreita-
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ÓNUS DA PROVA
ÓNUS DA PROVA
O «ónus da prova» é uma expressão procedente do domínio legal e
está associada à noção de presunção. Uma acusação não deve ser
uma condenação e, por isso, face a uma acusação, a presunção da
inocência do acusado deve prevalecer até que quem acusa prove a
sua culpabilidade. Neste sentido, a situação inicial — ou seja, a
inocência — deve prevalecer sobre a acusação e a mudança de
uma tal situação coloca em quem acusa o dever de provar a culpa-
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ÓNUS DA PROVA
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PAN-ARGUMENTATIVISMO
PAN-ARGUMENTATIVISMO
As abordagens pan-argumentativistas da argumentação caracte-
rizam-se por considerarem que a argumentação está a priori no
discurso (cf. Amossy, 2008: 4). Defendem, desta forma, que «comu-
nicar as suas ideias a alguém é sempre, pouco ou muito, argu-
mentar» (Grize, 1997: 9). São geralmente abordagens semânticas
da argumentação que ligam a omnipresença do argumentativo
ao facto da linguagem natural inscrever posicionalmente o locutor
que assim orienta o interlocutor para determinadas formas de
ver. A argumentatividade surge, assim, como inerente à própria
discursividade: «a minha tese é que a argumentatividade constitui
uma característica inerente do discurso. A natureza argumenta-
tiva do discurso não implica o uso de argumentos formais, nem
significa impor uma ordem sequencial premissa-conclusão num
texto oral ou escrito. Orientar o modo como a realidade é percebida,
influenciar um ponto de vista e direcionar um comportamento
são ações desempenhadas por toda um espectro de meios verbais.
Desta perspetiva, a argumentação está totalmente integrada no
domínio dos estudos da linguagem» (Amossy, 2009b: 254). A argu-
mentação torna-se, assim, num ramo da análise do discurso. As
abordagens pan-argumentativas apoiam-se também numa con-
ceção dialógica da linguagem e consideram que o discurso é uma
atividade eivada de dialogismo e, nesse sentido, deve ser vista no
âmbito mais alargado do interdiscurso: «na medida em que toda
a palavra surge no interior de um universo discursivo prévio, ela
responde necessariamente a interrogações que frequentam o pen-
samento contemporâneo e que são tanto objeto de controvérsias
em boa e devida forma, como de discussões larvares. Todo o enun-
ciado confirma, refuta, problematiza as posições antecedentes, se-
jam estas expressas de uma forma precisa por um dado interlo-
cutor ou de forma difusa no interdiscurso contemporâneo»
(Amossy, 2006: 35).
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RACIOCÍNIO
RACIOCÍNIO
À consideração da argumentação em termos de raciocínio corres-
ponde a uma abordagem lógica. Independentemente do contexto
em que ocorre e do tipo de raciocínio que se trate (indutivo, dedu-
tivo, abdutivo, etc.), a perspetiva lógica foca-se essencialmente na
validade e na força da inferência. Um raciocínio implica um mo-
vimento de ilação ou um salto inferencial que se opera entre pre-
missas e conclusão. De um ponto de vista lógico a linguagem na-
tural em que um raciocínio é formulado deve ser reconduzido a
uma expressão proposicional que permita distinguir o que ocupa
o lugar de premissas e o que ocupa o lugar de conclusão. A abor-
dagem lógica implica assim a uma conversão proposicional da
linguagem de forma a avaliar a inferência em termos da estrutura
do raciocínio.
Enquanto de um ponto de vista formal o raciocínio pode ser ana-
lisado em termos de validade inferencial, em termos informais a
avaliação dos raciocínios remete para critérios como a aceitabili-
dade da conclusão tendo em consideração a relevância e a sufi-
ciência das premissas. A aplicação destes critérios é determinada
pela submissão do raciocínio ao teste de perguntas ditas «críticas».
Por exemplo, de um ponto de vista formal podemos dizer que o ra-
ciocínio:
Se A então B
Ora B
Logo A
não é um raciocínio válido porque a condição necessária para afir-
mar B é A. Ora, no raciocínio apresentado, o que é afirmado não é
o antecedente mas o consequente, não sendo possível dele concluir
necessariamente o antecedente.
O ponto de convergência da análise lógica dos raciocínios com a
argumentação dá-se pela introdução da dimensão crítica que abre
o raciocínio a um processo de avaliação em que, para além dos as-
pectos formais da inferência, pode ser questionado o que é sele-
cionado como premissas e o que funciona como regra de passagem,
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RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA
E RACIONALIDADE SOCIOLÓGICA
Naturalmente que o campo da argumentação é também um campo
social e é imprudente falar de racionalidade argumentativa sem
a inserirmos no âmbito mais alargado da racionalidade sociológica
e sem ter em consideração as seguintes quatro vertentes:
1) Em primeiro lugar a argumentação é um fenómeno linguístico
e, como tal, social. Toda a linguagem é linguagem de uma comu-
nidade e toda a organização comunitária, fundada no direito e em
normas de ação, implica valores e relações de poder. As noções de
razão e de razoável, tantas vezes intervenientes no criticismo ar-
gumentativo, têm sempre uma modelagem que, sendo prática, é
social. Neste sentido não é possível compreender as práticas ar-
gumentativas dissociando-as do estatuto social de que o falante
está investido e das suas prerrogativas de ser ouvido e conside-
rado. E é importante não pensar que a possibilidade de argumen-
tar é independente das condições que proporcionam ou que vedam
a argumentação: inibir a iniciativa discursiva é, desde logo, res-
tringir, senão mesmo impossibilitar, a interação argumentativa.
Como bem salienta Bourdieu (1982: 38), «a competência suficiente
para produzir frases suscetíveis de serem compreendidas pode
ser insuficiente para produzir frases suscetíveis de serem escuta-
das, frases próprias para serem reconhecidas como recebíveis em
todas as situações em que falar acontece. (…) Os locutores des-
providos da competência legítima veem-se excluídos, de facto, dos
universos sociais em que ela é exigida, ou condenados ao silêncio».
Dito de outra forma, e apesar de muitas vezes se identificar a ar-
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RELEVÂNCIA
RELEVÂNCIA
A relevância é, sem dúvida, um dos principais critérios de que os
argumentadores se servem quer para construir, quer para avaliar
as argumentações. Os discursos argumentativos caracterizam-se
por neles se operar uma construção da relevância: eles procedem
através de esquematizações que operam por processos de valori-
zação e de desvalorização, de produção de distinções e de hierar-
quias e por ênfases que focalizam certos aspectos como pertinentes,
deixando na sombra aqueles que são considerados como irrele-
vantes. A relevância conduz sempre a distinguir o que é essencial
do que é acessório e, dessa forma, tende a enquadrar e a definir
aquilo que «verdadeiramente» está em questão. Mas como a rele-
vância ou a pertinência não são critérios que possam ser conside-
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RELEVÂNCIA
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SITUAÇÃO ARGUMENTATIVA
SITUAÇÃO ARGUMENTATIVA
Uma situação argumentativa remete para uma situação de oposi-
ção discursiva, mas também para os processos de avaliação colo-
cados em ação na relação de interdependência discursiva. Podemos
considerar a situação argumentativa em termos gradativos, indo
do discurso monológico planificado às interações argumentativas
operadas por turnos de palavra, por vezes determinadas por pro-
cedimentos e scripts muito específicos. Uma situação argumen-
tativa caracteriza-se por ser essencialmente problemática e ocorre
dada a natureza ambígua (pelo menos duas perspetivas possíveis)
das questões em causa. De acordo com esta ideia é possível, para
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SOFISTAS
SOFISTAS
O movimento sofístico surge na Grécia no século V. a.C. e deve ser
compreendido como um movimento que responde às necessidades
de ampliar e renovar as estruturas sócio-político-culturais da época,
proporcionando aos jovens uma nova educação capaz de os tornar
competentes nas práticas públicas. Não é assim de estranhar que
os sofistas tragam uma nova educação, centrada principalmente
no domínio da linguagem e do discurso. São professores no sentido
político e o seu ensino dirige-se aos jovens que querem aceder a
posições políticas importantes, ligando-se, por isso, à arte de viver
e de governar. São técnicos de retórica, de oratória e de eloquência.
Praticam o método antilógico ou a antilogia. Este método antilógico
ou antilogia consiste no seguinte exercício: dar ao aluno a tarefa
de defender uma tese, ou uma causa, fazendo-o desenvolver toda
uma argumentação a seu favor. Depois, pedir ao mesmo aluno que,
relativamente a essa mesma tese ou causa, desenvolvesse uma
argumentação inversa, isto é, de ataque, que a deitasse por terra.
Com este método, os sofistas procuravam fomentar o espírito crítico
e a capacidade de argumentar. O ensino sofístico encontrava-se
essencialmente ligado à argumentação e à retórica ou, mais preci-
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STASIS
STASIS
Esta teoria, ou sistema invencional, é atribuída a Hermágoras e
foi reconstruída a partir de dados fornecidos por Cícero, Quinti-
liano e outros. Partindo da distinção, na retórica deliberativa,
entre «thesis» e «hipothesis» (a primeira abordando abstratamente
o assunto através de questões gerais e a segunda versando sobre
um conjunto específico e particular de circunstâncias), Hermágo-
ras propôs um método de focalizar os pontos específicos de colisão
numa contenda, o qual consiste na aplicação de um tipo de per-
guntas: as perguntas conjeturais (relacionadas com o apuramento
de factos), as definicionais (que classificam os atos associados aos
factos), as perguntas de qualidade (que avaliam essas ações) e, fi-
nalmente, as perguntas processuais (que procuram extrair ilações
ao nível das consequências práticas). A stasis representa um cho-
que de discursos e o problema ou as questões que levanta estarão
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TEMATIZAÇÃO
Trata-se do processo através do qual, numa argumentação, os par-
ticipantes desenham os assuntos, fazendo distinções, invocando
recursos para darem força à perspetiva avançada e desenvolvendo
raciocínios orientados dentro dessa moldura. É, portanto, um pro-
cesso de configurar os assuntos, perspetivando-os a partir da sele-
ção de determinados considerandos tidos como relevantes e cuja
admissão orienta o pensamento para determinados padrões de
avaliação, juízo e raciocínio. Trata-se de um processo de objetivação
do pensamento (que não de objectividade) ou, se quisermos utilizar
a terminologia de Grize, de uma «esquematização». A tematização
é, em síntese, o processo seletivo (e nesse sentido pode ser equipa-
rada à inventio retórica) de recursos através do qual uma perspe-
tiva é desenhada e estabelece pontos que podem servir de premis-
sas a raciocínios e às suas conclusões. Nela, as dimensões sintáctica,
semântica e pragmática operam indissociavelmente.
TIPOLOGIA DE DIÁLOGOS
Há abordagens normativas que se propõem pensar as regras de
avaliação das argumentações tendo em consideração os seus ob-
jetivos pragmáticos. Douglas Walton lidera esta visão que pode
ser designada como «pragmática normativa». Para delimitar os
objetivos de uma interação, torna-se então necessário proceder a
duas tarefas: por um lado, inventariar e tipificar formas de diálogo
consoante as finalidades que estão em causa; por outro, avaliar os
vários lances dos argumentadores tendo em consideração o con-
tributo que eles apresentam para a realização da finalidade do
diálogo. Neste sentido, os contextos a serem considerados prima-
cialmente na avaliação de uma argumentação são os contextos
dialógicos dirigidos por finalidades, o que permite classificar a in-
teração como pertencendo a um determinado tipo de diálogo. É
também possível, através desta conceção, não só eleger a persua-
são, porquanto remete para a discussão crítica, como o diálogo que
é, por excelência, uma argumentação, como também perceber a
presença de oscilações e mudanças que ocorrem nas interações.
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TIPOLOGIA DE DIÁLOGOS
Situação
Diálogo Método Objetivo
inicial
Inquietação
Escaramuça Ataque pessoal Atingir o outro
emocional
Confronto Impressionar o
Debate Vitória verbal
forense auditório
Persuasão
(investigação Diferença Prova interna Persuadir o
através da dis- de opinião e externa outro
cussão crítica)
Diferença
Negociação Barganha Ganho pessoal
de interesses
Necessidade Assuntos
Busca de ação Produzir ação
de agir impertativos
Difundir
Educacional Ignorância Ensinar
conhecimento
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TIPOLOGIAS ARGUMENTATIVAS
(TOULMIN, RIEKE & JANIK)
Toulmin, Rieke e Janik estabeleceram uma classificação dos ar-
gumentos que engloba cinco tipos: o raciocínio pela analogia, ge-
neralização, signo, causa e autoridade, acrescentando a esta lista
as argumentações pelo dilema, classificação, opostos e grau, ad-
vertindo ainda que não é possível fazer uma listagem exaustiva
de tipos de argumentos. Vejamos, sumariamente, como é que os
autores caracterizam os tipos de raciocínio apresentados.
No raciocínio pela analogia «assumimos que há similitudes sufi-
cientes entre duas coisas para suportar a tese de que o que é ver-
dade para uma é também verdade para outra (1984: 216). Fácil
será ver que a refutação do raciocínio analógico se baseará na
ideia de que se estão a comparar coisas que são essencialmente
diferentes, ou seja, que não partilham das mesmas características
relevantes. De notar, também, que a analogia pode ser usada não
apenas para afirmar a verdade de uma proposição, mas a justeza
de uma forma de considerar os assuntos em questão.
O raciocínio pela generalização: «quando pessoas ou objetos são su-
ficientemente parecidos, torna-se possível agrupá-los em populações,
ou ‘espécies’, e estabelecer teses gerais acerca deles» (1984: 219).
Naturalmente que a refutação do raciocínio pela generalização re-
meterá para a acusação de que as instâncias particulares conside-
radas não são suficientemente seguras para se generalizar.
O raciocínio pelo signo: «sempre que se pode esperar fiavelmente
que o signo e o seu referente podem ocorrer conjuntamente, o facto
de observarmos o signo pode ser usado para suportar a tese acerca
da presença do objeto ou da situação a que o signo se refere» (1984:
33). Por exemplo, se virmos uma bandeira a meia-haste numa ins-
tituição, isso pode ser sinal de que faleceu alguém ligado a essa
instituição. Da mesmo forma, se virmos fumo, podemos pensar
que haverá fogo. Claro que este tipo de inferência pode ser criticada
quanto ao nível de certeza que permite associar o signo ao que su-
postamente ele assinala.
O raciocínio pela causa estabelece uma conexão causal entre dois
acontecimentos, vendo num a causa e noutro o efeito. A crítica de
uma tal forma de argumentar incide na capacidade de estabelecer
com certeza e de uma forma probativa que há efetivamente uma
relação de causa-efeito entre os dois eventos.
O raciocínio pela autoridade é essencialmente um raciocínio cuja
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TIPOLOGIAS ARGUMENTATIVAS
(PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA)
Os dois procedimentos fundamentais nos processos argumentativos
são a ligação e a dissociação de noções. Os procedimentos de ligação
são esquemas que «aproximam elementos distintos, permitindo
estabelecer entre estes últimos uma solidariedade que visa quer
estruturá-los, quer valorizar positiva ou negativamente um rela-
tivamente ao outro» (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 1988: 255). Re-
fira-se, ainda, que estes elementos, tornados solidários pela técnica
de ligação, podem ser considerados, à partida, como independentes.
Os procedimentos de dissociação são «técnicas de rutura com a fi-
nalidade de dissociar, separar, dessolidarizar, os elementos consi-
derados como um todo ou, pelo menos, como um conjunto solidário
no seio de um mesmo sistema de pensamento: a dissociação terá
por efeito a modificação de um tal sistema, modificando certas no-
ções que nesse sistema constituem peças mestras» (Perelman e
Olbrechts-Tyteca, 1988: 255-256). Acrescente-se, de acordo com
esta definição, que os processos de dissociação consistem numa
tentativa de reordenar de forma mais profunda e coerente aquilo
que surge como incompatível, fazendo desaparecer, pela dissociação,
essa incompatibilidade. Refira-se, ainda, que estes dois tipos de
procedimento são complementares (e, na medida em que ao mesmo
tempo que se unem elementos diversos num todo bem estruturado,
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TOPOI
TOPOI
Num sentido genérico pode dizer-se, com Walter Ong, que os topoi
(singular topos) são «nódulos de associação activa para ideias» ou
seja, representam categorias e relações que podem funcionar como
modelos heurísticos a partir dos quais podemos descobrir modos
de abordar e falar sobre os assuntos. Nesse sentido os topoi fun-
cionam como pivots na produção do discurso e a um conjunto mais
ou menos sistematizados de topoi dá-se o nome de «tópica». Se-
gundo Balkin (1996), a ideia de topos ou lugar comum é uma me-
táfora espacial que remete para cinco sentidos entrelaçados entre
si: «em primeiro, os tópicos são lugares a partir dos quais podemos
argumentar. Em segundo, os tópicos são ‘lugares-comuns’, ou seja,
conceitos, assuntos ou máximas que são largamente partilhados
na cultura ou estão associados à sabedoria que foi destilada para
o senso comum. Em terceiro, os tópicos são como arrumos ou
caixas nas quais situações ou acontecimentos podem ser colocados,
categorizados e organizados no seu próprio lugar. Em quarto, Aris-
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TURNOS DE PALAVRA
Os turnos de palavra correspondem às intervenções dos partici-
pantes na interação e pressupõem algum grau de interdependência
interlocutiva. Há debates em que os turnos de palavra são espon-
tâneos e sem grande regulação quanto ao tempo e à definição dos
momentos para intervir, havendo outros que são fortemente regu-
lados, normativizados e controlados. Em lugares institucionais,
como os tribunais, os turnos de palavra estão sujeitos a formas
protocolares controladas pelo juiz. Num debate televisivo esse con-
trolo é geralmente assumido pelo jornalista que modera o debate.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ÍNDICE
Prefácio
O que dizer? — Uma perspetiva exterior
Rui Pereira ..................................................................................................... 5
• Abdução........................................................................................... 13
• Análise argumentativa................................................................... 16
• Analogia .......................................................................................... 24
• Argumentação na língua................................................................ 27
• Argumentação................................................................................. 28
• Argumentatividade e argumentação............................................. 36
• Argumento ad hominem................................................................. 37
• Argumento ad personam................................................................ 38
• Argumento ad baculum.................................................................. 38
• Argumento ad verecundiam........................................................... 41
• Assunto em questão........................................................................ 43
• Auditório ......................................................................................... 45
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• Campo argumentativo.................................................................... 52
• Cânone retórico............................................................................... 53
• Cliché .............................................................................................. 55
• Coalescência.................................................................................... 55
• Cogência.......................................................................................... 58
• Concessão........................................................................................ 59
• Conclusão ........................................................................................ 59
• Dedução........................................................................................... 60
• Demonstração vs argumentação.................................................... 61
• Discurso epidíctico.......................................................................... 67
• Entimema ....................................................................................... 69
• Enunciado ....................................................................................... 70
• Erística............................................................................................ 72
• Esquematização.............................................................................. 72
• Ethos ............................................................................................... 74
• Falácia ............................................................................................. 75
• Fases da argumentação.................................................................. 80
• Indução............................................................................................ 85
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• Kairós .............................................................................................. 86
• Lógica informal............................................................................... 87
• Lógica natural................................................................................. 89
• Monologal e dialogal....................................................................... 95
• O modelo de Toulmin...................................................................... 96
• Pan-argumentativismo................................................................... 105
• Relevância....................................................................................... 118
• Sofistas............................................................................................ 121
• Stasis............................................................................................... 122
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