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O domínio do discurso

argumentativo –
a procura de adesão do
auditório
2. Argumentação e Retórica
Introdução

 Até agora, estudámos o campo da lógica designado por lógica formal.

 Iremos agora principiar o estudo da argumentação enquanto atividade que


utiliza, não apenas argumentos do tipo dedutivo, mas também outros tipos de
argumentos, com vista a convencer ou persuadir um interlocutor.

 Comecemos por distinguir a lógica formal da lógica informal.


A distinção entre lógica formal e lógica informal

Lógica formal Lógica informal

Estuda os argumentos dedutivos. Estuda os argumentos não dedutivos.

Há uma relação de necessidade entre as Não há uma relação de necessidade entre


premissas e a conclusão dos argumentos – as premissas e a conclusão dos
premissas verdadeiras garantem conclusão argumentos- premissas verdadeiras não
verdadeira. garantem conclusão verdadeira.

Não atende ao conteúdo dos argumentos, Atende não só à forma, mas também ao
mas apenas à forma. conteúdo dos argumentos.
Os argumentos são considerados válidos ou Os argumentos são considerados bons ou
inválidos. maus, fracos ou fortes.
Demonstração e Argumentação

“O raciocínio é uma demonstração quando parte de premissas verdadeiras (…) o


raciocínio é dialético quando parte de premissas prováveis.”
Aristóteles, Tópicos, 100 a 27-30.

 Foi Aristóteles o filósofo que primeiramente estabeleceu a distinção entre estes dois
tipos de raciocínios – demonstração e argumentação.

 Esta distinção continuou a receber atenção na filosofia contemporânea. Chaïm


Perelman (1912-1984) foi um dos filósofos que a desenvolveu.
Demonstração
A demonstração é:

- Uma atividade discursiva cujos raciocínios estabelecem uma relação de


necessidade entre a verdade das premissas e a verdade da conclusão.

Prestemos atenção a este caso:

 Albert Einstein elabora, em 1905, a teoria da relatividade restrita. Para elaborar


a sua teoria, o cientista recorre a experiências físicas e a cálculos matemáticos. Se
a sua teoria assentar em premissas verdadeiras e o cientista conseguir explicá-la
demonstrando os procedimentos que utilizou para chegar à conclusão de que
existe uma tal relação entre a massa e a energia, então a sua teoria será aceite
pela comunidade científica.
Demonstração

 Trata-se de um caso de demonstração. Einstein expõe a sua teoria, a qual, se


tiver premissas verdadeiras, conduzirá necessariamente a uma conclusão
verdadeira.

 É a verdade das proposições que faz com que a comunidade científica aceite os
seus argumentos.

 A demonstração é constringente, isto é, impõe-se de modo evidente a um


auditório universal.
Argumentação

Prestemos agora atenção a esta nova situação:

 Em 1955, em plena Guerra Fria, Einstein e outros cientistas e intelectuais


conhecidos, subscrevem o “Manifesto Russell-Einstein”, contra a utilização de
armas nucleares por parte das grandes potências mundiais. O texto, escrito pelo
filósofo Bertrand Russell, contém argumentos que têm por objetivo persuadir
os líderes políticos a não utilizarem armas nucleares, e a encontrarem uma via
pacífica para a resolução dos conflitos.
Argumentação

 Para o efeito, o discurso de Russell não poderia basear-se apenas em raciocínios


dedutivos. Não poderia limitar-se a demonstrar cientificamente o funcionamento
das bombas atómicas, como a bomba de hidrogénio, dado que os seus
interlocutores não eram apenas cientistas. O seu discurso, ao invés, deveria
assentar numa argumentação tal que fosse capaz de persuadir o auditório a que se
dirigia, levando-o a agir.

Este é um exemplo no qual intervém a argumentação.


Definição

 Argumentação - atividade discursiva de exposição de razões na


defesa de uma opinião ou tese, com vista a obter a
adesão do interlocutor, utilizando diversos tipos de
argumentos.
Demonstração e Argumentação (síntese)

Demonstração Argumentação
Utiliza raciocínios dedutivos. Utiliza diversos tipos de argumentos.
Utiliza uma linguagem desprovida de
Utiliza a linguagem natural.
ambiguidade.
Parte de premissas prováveis e/ou
Parte de premissas verdadeiras.
verosímeis.
Visa um auditório particular; é
Visa um auditório universal.
contextualizada.
Tem por objetivo deduzir certas
conhecimentos de outros Tem por objetivo convencer um auditório.
conhecimentos.
É do domínio do constringente, isto é,
daquilo que se impõe de modo É do domínio do verosímil e do preferível.
Auditório, orador e discurso
 São estes os três elementos fundamentais da argumentação:

Discurso

Orador Auditório
Elementos fundamentais da argumentação

Orador - sujeito particular que possui determinadas crenças e ideias.


Pretende influenciar um auditório através de argumentos.

Auditório - conjunto de pessoas que o orador pretende influenciar.

Discurso - meio de que o orador se serve para influenciar o auditório.


Adequação do discurso ao auditório

 O objetivo da argumentação é convencer o auditório.

 Para tal, o orador deve servir-se dos argumentos que melhor se adaptam ao
auditório a que se dirige.

 A adequação do discurso ao auditório é a regra fundamental da argumentação


persuasiva.
A arte do discurso
O que é a retórica?

 A retórica é uma disciplina que se dedica ao estudo dos instrumentos e das


estratégias de persuasão.

 Pode ser definida como arte de persuadir pelo discurso ou arte de falar com
eloquência a fim de convencer um auditório.
 Aristóteles definiu-a como “capacidade de descobrir o que é adequado a cada
caso com o fim de persuadir”.

Aristóteles, Retórica, INCM, Lisboa, p. 95.

Etimologicamente, retórica (do grego rhêtorikê) significa “arte do discurso”.


“Provas” ou estratégias de persuasão

“a retórica parece ter […] a faculdade de descobrir os meios de


persuasão sobre qualquer questão dada”
Aristóteles, Retórica, INCM, Lisboa, p. 96.

 Como obter a adesão do auditório às teses que lhe são apresentadas?

Esta é a questão fundamental da retórica.


Ethos, pathos e logos

Aristóteles detetou três principais estratégias de que se servem os oradores para


persuadir:

 Ethos - estratégia centrada no caráter do orador.

 Pathos - estratégia centrada no modo como o orador dispõe o auditório.

 Logos - estratégia centrada nos argumentos utilizados.

- Como identificar a estratégia predominante num discurso?


Ethos, pathos e logos

Ethos Pathos Logos


Refere-se ao caráter moral do
orador – conjunto de
características que o orador Refere-se às emoções que o
Refere-se à racionalidade do
tem ou que o auditório orador é capaz de despertar
discurso, ao tipo de
encontra nele (prestígio, no auditório com vista à
argumentos utilizados.
autoridade moral ou científica, persuasão.
personalidade, aspeto físico,
etc.)
Discurso centrado na figura Discurso centrado na Discurso centrado nos
do orador. sedução do auditório. argumentos.
Âmbito de aplicação da retórica

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