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Este ponto centra-se na Retórica, uma disciplina das mais antigas e com
a qual a Filosofia manteve uma relação complexa ao longo da
história. A retórica foi muito usada pelos sofistas e deve a Platão a sua
conotação negativa - por se associar o retórico à excessiva preocupação
estilística e à despreocupação com a verdade dos conteúdos
(proposições). A retórica recebeu, nas últimas décadas do século XX,
uma cuidada atenção por parte dos filósofos (Perelman), sob a forma de
uma nova retórica.
Vimos que a lógica estuda as condições de validade do raciocínio e do
argumento, isto é, estuda as condições formais que o argumento deve
cumprir para ser considerado correto ou válido. Ao atender apenas à
estrutura formal de um raciocínio ou da sua expressão linguística - o
argumento -, a lógica deixa de lado o seu conteúdo, a sua matéria, a sua
verdade material. A verdade e a falsidade da matéria (ou conteúdo) das
proposições que fazem parte do raciocínio não podem ser detetadas
pelas regras formais.
Uma vez que a racionalidade humana não se esgota na sua validade
formal (esta seria uma perspetiva demasiado redutora), é necessário
prestar, também, atenção aos argumentos que não dependem de
critérios lógicos, mas de critérios dialéticos e retóricos, isto é, a
argumentos desencadeados a partir de opiniões geralmente aceites.
Assim, os dois grandes domínios da racionalidade filosófica - Lógica
Formal e Retórica - implicam procedimentos distintos, embora não
totalmente separáveis (podemos sempre combiná-los de forma criativa):
-para conduzir alguém a uma conclusão necessária e universal,
precisamos apenas de o demonstrar seguindo as regras da lógica formal;
-para conduzir alguém a uma conclusão que é apenas verosímil,
plausível, preferível e razoável, teremos de argumentar seguindo os
critérios da retórica.
Torna-se, por isso, necessário entender as principais diferenças entre a
demonstração e a argumentação.
Vejamos como Aristóteles, um filósofo da Grécia antiga, distingue a
argumentação, característica da retórica, da demonstração.
As demonstrações são inferências dedutivamente válidas. Na
demonstração, as premissas são admitidas como verdadeiras e não
deixam lugar para qualquer dúvida, a conclusão é uma consequência
que decorre delas de forma necessária, ou seja, uma vez que as
premissas são inquestionavelmente verdadeiras e o raciocínio é
dedutivamente válido (obedece às regras), não podemos deixar de
aceitar a conclusão, somos obrigados logicamente a aceitá-la.
A argumentação retórica não consiste unicamente na apresentação de
demonstrações. O orador não tem de partir de premissas
inquestionavelmente verdadeiras, as premissas de que parte podem
consistir apenas em opiniões (acordos = factos, verdades, presunções ou
valores, hierarquias, juízos) aceites pelo auditório. Ao orador chega que
as premissas sejam prováveis e pareçam verosímeis ao auditório. O
orador não deve estar empenhado em mostrar escrupulosamente que a
conclusão se segue validamente às premissas, uma vez que se o
auditório, no seu conjunto, tem uma capacidade muito limitada para
seguir raciocínios, está emocionalmente envolvido. Por isso, é
possível apresentar os argumentos de uma forma abreviada e sugestiva
recorrendo à dedução e ao raciocínio não dedutivo (seja através de
entimemas, exemplos isolados, analogias ou recorrendo a autoridades).
No quadro seguinte, encontramos os principais aspetos distintivos entre
a demonstração e a argumentação.
Demonstração Argumentação
Falácias Informais
As falácias informais são argumentos em que as premissas, que se
apresentam, não sustentam a conclusão por causa do seu conteúdo. O
erro que ocorre, nestes argumentos, resulta do conteúdo significativo das
proposições, das características da linguagem ou da sua irrelevância
para sustentar a tese em causa.
As orientações para efeitos de avaliação sumativa externa das
aprendizagens na disciplina de Filosofia indicam que, em 2.2. O discurso
argumentativo - principais tipos de argumentos e falácias
informais, "(…) deverão ser abordadas (…) as seguintes falácias
informais: petição de princípio, falso dilema, apelo à ignorância, ad
hominem, derrapagem (ou "bola de neve") e boneco de palha.»