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1.

ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA

2. LÓGICA INFORMAL • Todos os dias utilizamos o discurso para levar os nossos interlocutores a aderir às nossas opiniões –
chamamos a isto comunicação argumentativa. • Estamos no domínio da lógica informal, mais centrada nos efeitos da
comunicação do que na validade formal dos argumentos.

3. LÓGICA INFORMAL • Retórica é o domínio da lógica informal que estuda a arte de falar com eloquência. • A retórica surgiu
na antiga Grécia, ligada à democracia e em particular à necessidade de preparar os cidadãos para uma intervenção ativa no
Governo da cidade. ―Rector‖ era a palavra grega que significava ―orador‖, o político.

4. YOUR TOPIC GOES HERE Lógica formal ou dedutiva Lógica informal ou não dedutiva Objetivo: Estudo dos aspetos formais
da argumentação. Objetivo: Estudo dos aspetos concretos da argumentação. Distingue argumentos válidos de inválidos quanto à
forma lógica. Distingue graus de força dos argumentos. Válido na linguagem da lógica informal significa forte. Inválido significa
fraco. Se a forma do argumento é válida, então premissas verdadeiras justificam e garantem conclusões verdadeiras. Um
argumento forte com premissas verdadeiras justifica, mas não garante a verdade da conclusão. O estudo da validade prescinde de
referências ao conteúdo das proposições e ao contexto da argumentação. O estudo da validade dos argumentos não prescinde de
referências ao conteúdo das proposições e ao contexto da argumentação.

5. DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO
6. DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO 1. Se o Mar Mediterrâneo for água, é H20. O Mar Mediterrâneo é água. Logo, é
H20. 2. Se os animais não têm deveres, não têm direitos. Os animais não têm deveres. Logo, não têm direitos. No argu-mento 1,
trata-se de verdades estabelecidas, que ninguém põe em causa. Mas a primeira premissa do argumento 2 é muitíssimo disputável.
Até pode ser verdadeira, mas não é uma verdade solidamente estabelecida e amplamente reconhecida como tal. Aristóteles diria
que o primeiro é um raciocínio analítico ou demonstrativo e o segundo um raciocínio dialético, ou argumentativo.

7. DEMONSTRAÇÃO ARGUMENTAÇÃO É rígida e aplica-se nas ciências lógico – dedutivas. Serve-se de uma linguagem
simbólica e apoia-se na lógica formal – bivalente. Parte de proposições consideradas verdadeiras para chegar a conclusões
igualmente verdadeiras. É impessoal e independente do contexto. É flexível e utiliza-se nas ciências sociais e humanas.
Usa a linguagem natural, informal – polivalente. Parte de proposições verosímeis e chega e conclusões prováveis. É pessoal e
contextualizada.

8. DEMONSTRAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO • A argumentação trata de questões éticas, jurídicas ou politicas. • Procura-se o


mais verosímil ou provável. • Na ausência de verdade, procura-se a adesão do interlocutor ou do auditório, tentando persuadir,
convencer (retórica).

9. ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
10. ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS Na sua obra sobre a retórica, Aristóteles distinguiu três formas de argu-mentação: • A
argumentação baseada no carácter (ethos) do orador; • A argumentação baseada no estado emocional (pathos) do auditório; • A
argumentação baseada no argumento (logos) propriamente dito.

11. O ETHOS • O orador persuade por intermédio do carácter moral, do ethos, quando é visto pelo auditório como alguém que
inspira confiança. • Para isso, é preciso que o discurso crie no auditório uma imagem do orador como pessoa prudente, virtuosa e
benevolente.

12. O ETHOS «Persuade-se pelo carácter quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser
digno de fé. Pois acreditamos mais e bem mais depressa em pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas sobretudo nas de
que não há conhecimento exato e que deixam margem para dúvida. É, porém, necessário que esta confiança seja resultado do
discurso e não de uma opinião prévia sobre o carácter do orador; pois não se deve considerar sem importância para a persuasão a
probidade do que fala (…), mas quase se poderia dizer que o carácter é o principal meio de persuasão.» Aristóteles, Retórica,
1356a

13. O PATHOS • Para ser persuasivo, o orador deve procurar suscitar sentimentos e emoções no auditório que o predisponham de
forma favorável para a tese que defende.

14. O PATHOS • O apelo à popularidade ou à maioria é uma forma de argumento que explora sentimentos da audiência para a
fazer adotar o ponto de vista de quem fala.

15. O PATHOS • Os argumentos ad populum não são, com propriedade, argumentos, mas estratagemas para despertar e
manipular as emoções, desejos e paixões da maioria das pessoas. • E, como se sabe, o apelo aos sentimentos é, em muitos casos, o
caminho mais eficaz – e curto – para persuadir um auditório.

16. O PATHOS • O apelo à piedade (ad misericordiam) acontece quando alguém argumenta recorrendo a sentimentos de piedade
e de compreensão por parte da audiência de modo que a conclusão ou afirmação defendida seja aprovada.

17. O LOGOS • Conjunto de argumentos organizados de modo a persuadir. Hoje designa o medium (meio - palavra ou imagem)
que transmite a mensagem. Refere a racionalidade dos argumentos e o tipo e a estrutura dos discursos
18. YOUR TOPIC GOES HERE • Your Subtopic Goes Here ETHOS PATHOS LOGOS Centrado na figura do orador. Este
deve ter caráter, ser virtuoso e credível, para conseguir a confiança do auditório. O orador não deve ser arrogante, apresentando-
se como dono da verdade. Deve aparecer como alguém moderado, leal e responsável. Centrado no auditório. Este deve ser
emocionalmente impressionado e seduzido. O auditório tem a tendência a deixar-se influenciar não apenas pelo caráter racional
dos argumentos, mas também pelos sentimentos que lhe são despertados. Centrado na tese. Deve ser bem estruturada, sob o
ponto de vista lógico- argumentativo, para ser clara e bem compreendida. O orador deve selecionar argumentos, antecipar
objeções à tese e procurar recursos estilísticos. Existe uma relação estreita entre o logos, o ethos e o pathos, uma vez que as
emoções (pathos) que o discurso (logos) do orador suscita no auditório têm um papel importante na construção da imagem que
este faz do carácter (ethos) do orador e, desse modo, da sua capacidade de persuasão.

19. EXERCÍCIOS

20. EXERCÍCIOS 1. Em que consiste argumentar? 2. O que se pretende ao argumentar? 3. O que é o «auditório»? 4. Demonstrar
uma ideia e argumentar a favor de uma ideia são a mesma coisa ou coisas diferentes? 5. Segundo Aristóteles, quais são as três
formas de argumentação?
21. EXERCÍCIOS - CORREÇÃO 1. Em que consiste argumentar? Argumentar é apresentar argumentos de forma organizada. 2.
O que se pretende ao argumentar? O objetivo é conseguir a adesão do auditório. 3. O que é o «auditório»? O auditório são as
pessoas a quem nos dirigimos. Os meios para se fazer chegar ao auditório o que pensamos são vários: falando diretamente com as
pessoas, ou através da rádio ou da televisão (nestes casos, o auditório são as pessoas que nos escutam), escrevendo (aqui, o
auditório é quem nos lê), etc.
22. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO 4.

23. EXERCÍCIOS - CORREÇÃO 5. Segundo Aristóteles, quais são as três formas de argumentação? De acordo com a
classificação de Aristóteles, as três formas de argumentação são as seguintes: a argumentação baseada no carácter (ethos) do
orador, a argumentação baseada no estado emocional (pathos) do auditório e a argumentação baseada no argumento (logos)
propriamente dito.
24. EXERCÍCIOS - CORREÇÃO 1. Atenção dada ao orador. 2. Evidência naquilo que o orador diz e como diz. 3. Sentimentos
provocados nos ouvintes. 4. Estrutura argumentativa segundo um plano adequado. 5. Credibilidade do sujeito que fala. 6.
Ponderação, racionalidade e lealdade. 7. Figuras de estilo. 8. Carácter do emissor. 9. Discurso com ritmo. 10. Ênfase posta no
auditório. 11. Discurso argumentativo. 12. Público predisposto a emocionar-se. 13. Ser afetado na sensibilidade. 14. O que o
orador proclama. Nas frases seguintes, assinale com E as que se referem ao Ethos, com P as que se reportam ao Pathos e com L as
que têm a ver com o Logos.
25. EXERCÍCIOS- CORREÇÃO Nas frases seguintes, assinale com E as que se referem ao Ethos, com P as que se reportam ao
Pathos e com L as que têm a ver com o Logos. 1. Atenção dada ao orador. E 2. Evidência naquilo que o orador diz e como diz. L
3. Sentimentos provocados nos ouvintes. P 4. Estrutura argumentativa segundo um plano adequado. L 5. Credibilidade do sujeito
que fala. E 6. Ponderação, racionalidade e lealdade. E 7. Figuras de estilo. L 8. Carácter do emissor. E 9. Discurso com ritmo. L
10. Ênfase posta no auditório. P 11. Discurso argumentativo. L 12. Público predisposto a emocionar-se. P 13. Ser afectado na
sensibilidade. P 14. O que o orador proclama. L

26. ARGUMENTOS INFORMAIS

27. ARGUMENTOS INFORMAIS • Os argumentos informais válidos são argumentos em que a verdade das premissas é razão
suficientemente forte para acreditarmos na verdade da conclusão. • Ao contrário da lógica formal a lógica informal tem
necessariamente de atender ao conteúdo das premissas. • Concluímos que um argumento é forte quando pensamos que muito
provavelmente a realidade não vai negar a conclusão.
28. ARGUMENTOS INDUTIVOS • Nunca nevou em Sevilha. • Logo, quando este Inverno for a Sevilha, não verei neve. •
Analisemos a premissa: esta diz-nos que, até à data, não caiu neve em Sevilha, nem uma única vez. • A conclusão diz-nos que,
num futuro próximo, irei a Sevilha e que não verei neve nessa cidade. • Como é muito provável que a conclusão seja verdadeira, o
argumento é indutivamente válido, ou seja, forte. • Generalizações e previsões são tipos de argumentos indutivos.
29. ARGUMENTOS INDUTIVOS GENERALIZAÇÕES • As generalizações são argumentos em que a conclusão acerca de um
grupo de objetos é estabelecida observando uma amostra desse grupo de objetos. A generalização consiste em atribuir a todos os
casos possíveis de certo tipo aquilo que se verificou em alguns casos desse tipo. • Exemplo: • Cada um dos cães que observei até
hoje ladrava. • Logo, todos os cães ladram.

30. ARGUMENTOS INDUTIVOS GENERALIZAÇÕES • A generalização não garante que a sua conclusão é verdadeira. •
Como a conclusão é mais geral do que a premissa, a generalização não pode garantir que um dos casos por observar não venha a
refutar a conclusão. • O máximo que conseguimos com este tipo de argumento é legitimidade para tratar a conclusão como sendo
muito provável.

31. ARGUMENTOS INDUTIVOS REGRAS DAS GENERALIZAÇÕES Regra 1. A amostra deve ser ampla. Quanto maior for a
amostra observada mais forte o argumento será. Regra 2. A amostra deve ser relevante ou representativa. Uma amostra
relativamente grande pode ser a base de uma generalização mais fraca do que outra baseada numa amostra menor que contenha
informação mais relevante. Regra 3. A amostra não deve omitir informação relevante. Um argumento, mesmo sendo baseado
numa amostra ampla e relevante, será fraco se omitir informação relevante.

32. ARGUMENTOS INDUTIVOS PREVISÕES As previsões são argumentos em que as premissas se baseiam em casos
passados e a conclusão se refere a casos particulares ainda não observados. Exemplo: Todos os 27 feijões que retirei deste saco
são brancos. Logo, o próximo feijão que retirar deste saco é branco.

33. FALÁCIAS INDUTIVAS FALÁCIA DA GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA Esta falácia ocorre quando uma
generalização se baseia num número muito limitado de casos. São exemplos de generalização precipitada: • concluir, após uma
experiência amorosa falhada, que "as mulheres são a nossa desgraça"; • concluir que as bebidas alcoólicas são prejudiciais porque
um familiar morreu devido ao abuso de álcool; • concluir que a marijuana é saudável por ser usada no tratamento de algumas
doenças;

34. FALÁCIAS INDUTIVAS POST HOC - «DEPOIS DISSO, POR CAUSA DISSO» OU FALÁCIA DA FALSA CAUSA
Trata-se de um argumento segundo o qual apenas por um facto se seguir a outro se conclui que o primeiro é causa do segundo. O
exemplo seguinte é um caso extremo desta falácia: • Tanto quanto observei, as pessoas que se curaram das constipações não
deixaram de beber água durante uma constipação. • Logo, beber água cura constipações.

35. ARGUMENTOS POR ANALOGIA O argumento por analogia atribui uma propriedade a um acontecimento ou objeto por tal
propriedade se ter verificado em algum objeto ou acontecimento semelhante. Como este cão é muito semelhante ao do Miguel,
também deve morder sem razão aparente. Neste argumento, usam-se as semelhanças entre o cão do Miguel e o cão sob
observação para justificar a atribuição ao segundo da propriedade de «morder sem razão aparente», já verificada no primeiro.
36. ARGUMENTOS POR ANALOGIA Como é frequente em contextos práticos, o argumento apenas declara que existem
semelhanças. Se estas fossem explicitadas, obtínhamos um argumento com este aspeto: • O cão do Miguel é semelhante a este em
raça, porte e olhar nervoso. • O cão do Miguel morde sem razão aparente. • Logo, este cão morde sem razão aparente.

37. ARGUMENTOS POR ANALOGIA REGRAS DA ANALOGIA Regra 1. A amostra deve ser suficiente. Regra 2. O número
de semelhanças deve ser suficiente. Regra 3. As semelhanças verificadas devem ser relevantes.
38. ARGUMENTO DE APELO À AUTORIDADE Num argumento de apelo à autoridade declara-se que a conclusão é
verdadeira pelo facto de uma pessoa ou organização tidas por autoridades no assunto a declararem verdadeira. Exemplos: • Figo
recomenda o uso de gás natural. • Segundo um estudo da ONU a fome aumentou no mundo.

39. REGRAS DO ARGUMENTO DE APELO À AUTORIDADE Regra 1. As pessoas ou organizações citadas têm de ser
reconhecidos especialistas nas matérias em questão. Defender o uso de uma vacina por recomendação da Organização Mundial de
Saúde é justificado. Mas defender a pena de morte ou o consumo da cerveja Alpha por recomendação de um famoso futebolista
parece uma clara violação desta regra. A tradição designou esta falácia por ad verecundiam – apelo a uma autoridade não
qualificada. Regra 2. Deve haver consenso entre os especialistas sobre as matérias em questão. Se não há consenso entre os
especialistas, não faz sentido citar um especialista para provar uma afirmação.

40. EXERCÍCIOS

41. EXERCÍCIOS 1. O que são induções? 2. O que distingue a generalização da previsão? 3. Como se avaliam generalizações e
previsões? 4. O que é um argumento por analogia? 5. Como se avalia um argumento por analogia? 6. O que é um argumento de
autoridade? 7. Como se avalia um argumento de autoridade?

42. EXERCÍCIOS- CORREÇÃO 1. O que são induções? • Induções são argumentos não dedutivos em que, a partir de alguns
casos se infere uma conclusão que se pretende ser verdadeira para caso(s) do mesmo género. As induções são de dois tipos: a
generalização e a previsão. 2. O que distingue a generalização da previsão? • O que as distingue é o seguinte: na generalização,
parte-se do que é verdadeiro para um conjunto de casos particulares e conclui-se que também o é para todos os casos em geral
(Ex: Todos os corvos observados até hoje são pretos; logo, todos os corvos são pretos); na previsão, parte-se de um conjunto de
casos ocorridos no passado e conclui-se que o mesmo se verificará no futuro, em relação a um determinado caso particular (Ex:
No passado, o sol nasceu todos os dias; portanto, o sol vai nascer amanhã).

43. EXERCÍCIOS- CORREÇÃO 3. Como se avaliam generalizações e previsões? • Há duas regras fundamentais a que a
generalização e a previsão têm de obedecer: 1) O número de casos em que se baseiam tem de ser representativo e 2) não pode
haver contra-exemplos. No exemplo acima apresentado, a generalização é válida, porque respeita as duas regras. Quando
generalizamos a partir de um número não representativo de casos incorremos na falácia da generalização precipitada. • Quanto às
previsões, a «prova dos nove» é a confrontação com a realidade. Antes disso, porém, podemos sempre avaliar se a regra 1) foi
respeitada. Para além disso, é importante verificar se a previsão não é excessivamente vaga; se tal acontecer, isso pode significar
que a vagueza é intencional, provavelmente com o objetivo de evitar contra-exemplos demolidores. As «previsões» astrológicas
utilizam abundantemente este «truque» …
44. EXERCÍCIOS - CORREÇÃO 4. O que é um argumento por analogia? • Nos argumentos por analogia raciocina-se do seguinte
modo: se o que estamos a comparar é semelhante em alguns aspetos, também o será noutros. Por exemplo: «Na Natureza tudo
funciona de maneira organizada, como uma máquina. Todas as máquinas foram criadas por alguém. Logo, a Natureza foi criada
por alguém». 5. Como se avalia um argumento por analogia? Ao avaliarmos um argumento por analogia deveremos perguntar três
coisas: 1) As semelhanças apontadas são relevantes para a conclusão? 2) A comparação tem por base um número razoável de
semelhanças? 3) Apesar das semelhanças, não haverá diferenças fundamentais entre o que está a ser comparado? • No exemplo
dado, embora possamos aceitar que são cumpridos os critérios 1) e 2), verificamos que tal não acontece com o critério 3), já que
há uma diferença fundamental, que é a seguinte: enquanto que uma máquina é um ser artificial (e, portanto, teve de ser criado por
alguém) a Natureza é algo de natural, pelo que é muito discutível concluir-se que teve de ser criada por alguém. Este argumento
por analogia é, por isso, um argumento fraco.

45. EXERCÍCIOS- CORREÇÃO 6. O que é um argumento de autoridade? O argumento de autoridade é um argumento em que a
conclusão se apoia no depoimento de alguém tido como autoridade no assunto. Por exemplo: «Kant defende que devemos agir
sempre por dever. Logo, devemos agir sempre por dever». 7. Como se avalia um argumento de autoridade? Um bom argumento
de autoridade deve obedecer aos dois critérios seguintes: 1) O especialista invocado é reconhecido como uma autoridade na
matéria 2) Os especialistas não discordam entre si quanto a esse assunto Como se pode ver, o exemplo apresentado respeita o
critério 1), mas não o critério 2). Tal sucede quase sempre em Filosofia: uma vez que os especialistas raramente estão de acordo,
os argumentos de autoridade em Filosofia são, em princípio, maus argumentos. Nestes casos, estamos na presença do apelo
falacioso à autoridade.

46. OUTRAS FALÁCIAS INFORMAIS

47. FALÁCIAS INFORMAIS • Num processo argumentativo é relativamente frequente um ou mais dos interlocutores recorrerem
a raciocínios que escondem vícios e fragilidades que decorrem, não da forma do raciocínio, mas do seu conteúdo, cometendo
assim falácias informais. • Aquele que for capaz de detetar esses vícios e de se defender deles encontrar-se-á numa posição
vantajosa.

48. FALSO DILEMA OU FALSA DICOTOMIA É dado um limitado número de opções (na maioria dos casos apenas duas),
quando de facto há mais. O falso dilema é um uso ilegítimo do operador "ou". Pôr as questões ou opiniões em termos de "ou sim
ou sopas" gera, com frequência (mas nem sempre), esta falácia. Exemplos: • Ou concordas comigo ou não. (Porque se pode
concordar parcialmente.) • Reduz-te ao silêncio ou aceita o país que temos. (Porque uma pessoa tem o direito de denunciar o que
entender.) • Ou votas no Silveira ou será a desgraça nacional. (Porque os outros candidatos podem não ser assim tão maus.) • Uma
pessoa ou é boa ou é má. (Porque muitas pessoas são apenas parcialmente boas.)

49. DERRAPAGEM OU BOLA DE NEVE • Neste tipo de argumento, premissas apenas prováveis são enunciadas como se
fossem certas, escondendo assim o facto de que a conclusão é necessariamente menos provável do que cada uma das suas
premissas. • Na verdade, a probabilidade de uma série de acontecimentos é sempre menor do que a probabilidade de cada
acontecimento. Exemplo: • Se beberes um copo de vinho, vais beber dois. • Se beberes dois copos de vinho, vais beber três. • Se
beberes três copos de vinho, vais beber quatro. • Logo, se beberes um copo de vinho, vais tornar-te alcoólico.

50. FALÁCIA DA COMPOSIÇÃO A falácia da composição consiste em atribuir ao todo propriedades que apenas dizem respeito
às partes. Exemplo 1 • Cada um dos jogadores daquela equipa é muito bom. Logo, aquela equipa é muito boa. Exemplo 2 • As
células não têm consciência. • Logo, o cérebro, que é feito de células, não tem consciência.

51. FALÁCIA DA DIVISÃ0 A falácia da divisão consiste em atribuir a uma das partes propriedades que apenas dizem respeito ao
todo. Exemplo 1 A equipa x é muito boa. O João joga na equipa x. Logo, o João é muito bom jogador. Exemplo 2 A Mercedes
produz bons carros. O meu carro é um Mercedes. Logo, o meu carro é muito bom.

52. PETIÇÃO DE PRINCÍPIO OU ARGUMENTO CIRCULAR Um argumento circular consiste em pretender provar uma
conclusão tendo, como premissa, a própria conclusão. Dito de outra maneira: supõe-se como já provado ou consensual aquilo que
se quer provar. «A Ford Motor Company produz os melhores automóveis dos EUA. Sabemos que produzem os melhores carros
porque têm os melhores engenheiros. A razão pela qual têm os melhores engenheiros é a de poderem pagar-lhes mais do que os
outros produtores. Obviamente, podem pagar-lhes mais porque produzem os melhores carros dos EUA.»
53. APELO À IGNORÂNCIA (AD IGNORANTIAM) Esta falácia ocorre quando se argumenta que uma proposição é verdadeira
porque não foi provado que é falsa ou falsa porque não foi provado que é verdadeira. Exemplos: Ninguém provou que Deus
existe. Logo, Deus não existe. Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe. Os extraterrestres existem. Ninguém
provou o contrário.

54. CONTRA A PESSOA (AD HOMINEM) Ataca-se a pessoa que apresentou um argumento e não o argumento que foi
apresentado. Formas mais habituais: • Ataque ao carácter da pessoa. • Referem-se circunstâncias relativas à pessoa. • Invoca-se o
facto de a pessoa não praticar o que diz. Exemplos: • É natural que concordes com o congelamento dos salários. És rico. • Dizes
que eu não devo beber, mas tu andas sempre nos ―copos‖...
55. PERGUNTA COMPLEXA Dois tópicos sem relação, ou de relação duvidosa, são conjugados e tratados como uma única
proposição. Pretende-se que o auditório aceite ou rejeite ambas quando, de facto, uma pode ser aceitável e a outra não. Trata-se de
um uso abusivo do operador "e". Exemplos: Deves apoiar a educação familiar e o Direito, dado por Deus, de os pais educarem os
filhos de acordo com as suas crenças. Apoias a liberdade e o direito de andar armado? Já deixaste de fazer vendas ilegais? (São
duas questões: já cometeste ilegalidades? Já te deixaste disso?)
56. APELO À FORÇA (AD BACULUM) O auditório é informado das consequências desagradáveis que se seguirão à
discordância com o autor. Exemplos: • É melhor admitires que a nova orientação da empresa é a melhor — se pretendes manter o
emprego. • A NAFTA é um erro! E se não votares contra a NAFTA, então "votamos-te" para fora do escritório.
57. APELO À PIEDADE (AD MISERCORDIAM) Apela-se ao sentimento de piedade para se conseguir a aprovação de uma
conclusão. Pede-se a aprovação do auditório na base do estado lastimoso do Autor. Exemplos: • Como pode dizer que eu reprovo?
Eu estava mais perto da positiva e, além disso, estudei 16 horas por dia. • Esperamos que aceite as nossas recomendações.
Passámos os últimos três meses a trabalhar desalmadamente nesse relatório.

58. APELO ÀS CONSEQUÊNCIAS (AD CONSEQUENTIAM) O argumentador, para "mostrar" que um argumento é falso,
aponta consequências desagradáveis que advirão da sua defesa. Exemplos: Não podes aceitar que a teoria da evolução é
verdadeira, porque se fosse verdadeira estaríamos ao nível dos macacos. Deve-se acreditar em Deus, porque de outro modo a
vida não teria sentido. (Talvez. Mas também é possível dizer que, como a vida não tem sentido, Deus não existe.)

59. APELO A PRECONCEITOS Termos carregados e emotivos são usados para ligar valores morais à crença na verdade da
proposição. Exemplos: • Os portugueses bem intencionados estão de acordo em plebiscitar a pena de morte. • As pessoas
razoáveis concordarão com a nossa política fiscal. • O primeiro-ministro tem a veleidade de pensar que as novas taxas de juro
ajudarão a diminuir o déficit. (O uso de "tem a veleidade de pensar" sugere sem argumentos que o primeiro ministro está
enganado.) • Os burocratas do parlamento resistem às leis de defesa do património. (Compare-se com: "Os parlamentares
rejeitaram a proposta de lei de defesa do património.")

60. APELO AO POVO (AD POPULUM) Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira por ser aceite como
verdadeira por algum sector representativo da população. Esta falácia é, por vezes, chamada "Apelo à emoção" porque os apelos
emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a população como um todo. Exemplos: • Se você fosse bela poderia viver como nós.
Compre também Buty-EZ e torne-se bela. (Aqui apela-se às "pessoas bonitas") • As sondagens sugerem que os liberais vão ter a
maioria no parlamento, também deves votar neles. • Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então por que razão insistes nas tuas
excêntricas teorias?
61. ESPANTALHO OU BONECO DE PALHA O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um
argumento diferente, mais fraco ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das "técnicas" de argumentação mais
usadas. Exemplos: • As pessoas que querem legalizar o aborto, querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos
uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado. • Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas
não querem o fazer o serviço militar porque não lhes convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a
conveniência.
62. FALÁCIAS

63. EXERCÍCIOS

64. EXERCÍCIOS 1. Identifique as falácias cometidas e justifique a sua resposta. a) Nenhum dos meus netos gosta de
Matemática. Creio que na próxima geração não teremos cientistas. b) A pena de morte está errada porque não há o direito de tirar
a vida a ninguém. c) A pena de morte justifica-se para os crimes como o assassínio e o rapto, porque é legítimo e apropriado que
alguém seja condenado à morte por cometer atos tão repugnantes e desumanos. d) "Com estas leis sobre o controlo de armas
querem tirar-nos as nossas armas de defesa. É o que querem agora? Mas e depois o que não irão querer tirar-nos? Em breve, serão
as armas de caça e as facas de mato e sabe-se lá mais o quê! Em breve teremos um Estado policial em que só o governo opressor
possuirá armas. Se lhes damos um dedo, em breve quererão todo o braço. Em conclusão, ficarmos sem as nossas armas é nada
mais, nada menos do que deixarmos de ser livres."
65. EXERCÍCIOS e) f) As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no parlamento, também deves votar neles. g)
Esperamos que aceite as nossas recomendações. Passámos os últimos três meses a trabalhar desalmadamente nesse relatório. h)
Ou és feliz ou infeliz. i) Se não arrumares o quarto ficas de castigo! j) Porque é que eu afirmo que Deus existe? Porque na Bíblia
afirma-se que Deus existe. Ora, a Bíblia é verdadeira, uma vez que quem a escreveu estava inspirado por Deus. Portanto, Deus
existe. k) As pessoas que querem legalizar o aborto, querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos uma
sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.

66. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO a) Nenhum dos meus netos gosta de Matemática. Creio que na próxima geração não teremos
cientistas. Generalização precipitada baseada num número muito limitado de casos (netos de uma pessoa). Que os netos de uma
pessoa não gostem de matemática não implica que a geração a que pertencem não se interesse pela matemática e pelas ciências. b)
A pena de morte está errada porque não há o direito de tirar a vida a ninguém. Estabelecer a pena de morte significa que se
reconhece o direito legal de tirar a vida a alguém. Portanto, argumentar "Não há direito de tirar a vida a ninguém" é provar a
conclusão tendo como premissa essa mesma conclusão, ou seja, considera-se provado o que se pretende provar. É uma petição de
princípio.

67. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO c) A pena de morte justifica-se para os crimes como o assassínio e o rapto, porque é legítimo e
apropriado que alguém seja condenado à morte por cometer atos tão repugnantes e desumanos. A premissa e a conclusão dizem o
mesmo por palavras diferentes. Com efeito, dizer que a pena de morte é "justificável" tem o mesmo sentido que dizer que é
"legítimo e apropriado" aplicá-la. Trata-se de uma petição de princípio. Aqui, assume-se a conclusão que se pretende demonstrar,
enunciando-a sob forma subtilmente diferente na premissa.
68. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO d) "Com estas leis sobre o controlo de armas querem tirar-nos as nossas armas de defesa. É o
que querem agora? Mas e depois o que não irão querer tirar-nos? Em breve, serão as armas de caça e as facas de mato e sabe-se lá
mais o quê! Em breve teremos um Estado policial em que só o governo opressor possuirá armas. Se lhes damos um dedo, em
breve quererão todo o braço. Em conclusão, ficarmos sem as nossas armas é nada mais, nada menos do que deixarmos de ser
livres." Falácia da derrapagem ou bola de neve. É evidente que as leis sobre o controlo de armas não visam acabar com a caça
nem instaurar um Estado policial que atrofie a liberdade dos cidadãos. Há uma grande diferença entre controlar a proliferação de
armas e oprimir os cidadãos. Quem argumenta que a situação deslizará inevitavelmente para esse extremo está a ser falacioso. Se
seguíssemos a lógica deste pseudo-argumento, quem come uma batata frita comerá todo o pacote; quem comece a fumar será
sempre um fumador.

69. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO e) f) As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no parlamento, também deves
votar neles. Apelo ao povo (argumentum ad populum). Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira (liberais vão
vencer) por ser aceite como verdadeira por algum sector representativo da população (a maioria da população) Apelo à piedade
(argumentum ad misercordiam). Pede-se a aprovação do auditório na base do estado lastimoso do Autor (Help), isto é, apelando a
sentimentos de piedade ou compaixão.

70. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO g) Esperamos que aceite as nossas recomendações. Passámos os últimos três meses a trabalhar
desalmadamente nesse relatório. Apelo à piedade. Apela-se à compaixão e não à razão, isto é, pede-se a aprovação do auditório na
base do estado lastimoso do Autor (trabalhou desalmadamente). h) Ou és feliz ou infeliz. Falsa Dicotomia. São apresentadas
apenas duas alternativas mas de facto há mais, não estar feliz nem infeliz. i) Se não arrumares o quarto ficas de castigo! Apelo à
força (argumentum ad baculum). Pretende-se persuadir alguém pela força (ficar de castigo) e não pelos argumentos

71. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO j) Porque é que eu afirmo que Deus existe? Porque na Bíblia afirma-se que Deus existe. Ora, a
Bíblia é verdadeira, uma vez que quem a escreveu estava inspirado por Deus. Portanto, Deus existe. Petição de princípio. Conclui-
se que Deus existe com base na Bíblia e aceita-se o que é afirmado na Bíblia com o argumento de que foi escrita por inspiração de
Deus. Ou seja: a conclusão («Deus existe») já estava aceite à partida. A premissa e a conclusão dizem o mesmo por palavras
diferentes, ou seja, considera-se provado o que se pretende provar.

72. EXERCÍCIOS -CORREÇÃO k) As pessoas que querem legalizar o aborto, querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas
nós queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado. Falácia do espantalho ou boneco de palha. O
“argumentador”, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou
tendenciosamente interpretado (prevenção irresponsável da gravidez). Como é evidente as pessoas que são a favor do aborto não
defendem a prevenção irresponsável da gravidez.
73. FIM

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