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24.01.22 - Prof.

Leonardo Teixeira

Leitura indicada: Tratado da argumentação - A nova retórica - Chaïm


Perelman

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 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

Argumentar > convencer < Persuadir

Argumentação: Presença de argumentos para o auditório, trazer argumentos


lógicos, sólidos, explícitos e de maneira concatenada.

Pacto argumentativo: Se não houver uma predisposição do auditório para


ouvir, não há possibilidade de convencimento. Existem circunstâncias sociais em
que o pacto argumentativo é pré-construído.

Manutenção do pacto: Exigência formal do próprio discurso argumentativo.

Auditório: Pode ser particular e universal. O auditório nunca será puramente


particular ou puramente universal, uma vez que em todo auditório particular
terá também o universal. E quando se tem um auditório universal, o locutor tem
um leitor modelo, a concepção de homem médio.

Auditório = Destinatário de um discurso argumentativo (dentro da lógica da


nova retórica);

O conjunto de regras de linguagem, regras textuais deve ser conforme o perfil


do auditório.

Tanto argumentar, como persuadir tem como objetivo maior o convencimento.

Ninguém argumenta apenas para apresentar suas ideias; isso seria apenas uma
fala expositiva, pois não há preocupação com o auditório do ponto de vista do
convencimento.

Quando a fala é expositiva não me interessa as modificações causadas com a


passagem da ideia.

Obs.: Se o tema for polêmico é possível emitir opinião sem emitir uma tese.

Para argumentar ou persuadir meu objetivo deve ser convencer. Porém,


argumentar e persuadir não são sinônimos. Os propósitos são diferentes.
 Classificações de auditório segundo C. Perelman

- Auditório universal: Toda a sociedade; toda a diversidade de pessoas.


Engloba todas as pessoas do mundo, com suas diferenças sociais, culturais,
econômicas, etárias, religiosas, entre outras.

- Auditório particular: Aquela pessoa ou grupo de pessoas que traga um traço


distintivo que seja do conhecimento do enunciador.

Ex.: Advogado peticionando para o juízo, ele sabe quem é o auditório dele e
sabe que o juiz possui bagagem jurídica para compreender sua fala e seus
argumentos.

Também serve para um grupo específico (por exemplos os alunos da EMERJ);


todos são formados em direito.

Atenção: Não existe um auditório puro; ou seja, puramente auditório universal


ou particular. Pois, por trás de todo e qualquer auditório particular existe um
auditório universal (crenças, concepções de mundo, criação familiar). E no
auditório universal temos a questão do leitor modelo (homem médio), ou seja,
particulariza-se de alguma forma.

No fundo, o processo argumentativo deve levar em conta tudo isso (auditório


particular + universal).

Em uma ótica maior, o juiz deve se preocupar em falar com a sociedade, ou seja,
validar condutas sociais e levar uma ótica de compreensão de mundo e de
como aquelas situações são decididas pelos tribunais.

O texto do juiz deve ser dirigido para o auditório universal.

É fundamental entender o papel do judiciário como um poder que precisa se


rever (crise da democracia).

O poder judiciário é o mais ameaçado pela crise da democracia, pois ele não
tem por natureza representatividade (não escolhemos os nossos juízes). Para a
sociedade o poder judiciário não parece legítimo para representar a sociedade
(menos democrático).

Obs.: Procure evitar pedantismo, prolixidade e rebuscamento. A linguagem deve


ser acessível para todos. Não se trata de empobrecimento da linguagem
jurídica; simplificar não é empobrecer.
 Argumentar

- Para argumentar eu preciso de argumentos;

- Organizar de forma lógica e racional os argumentos, de forma clara e explícita;

- Não pode haver pressuposições, nada obscuro;

O meu auditório precisa compreender claramente os argumentos presentes;


colocados da maneira mais racional possível.

- Argumentos claros, transparentes e organizados para o auditório =


concatenação;

Concatenar ideias significa que um argumento se vincula ao outro em busca de


uma lógica racional completa.

 Convicção x Crença

As pessoas hoje em dia são movidas por crenças, que levam ao radicalismo,
falta de diálogo;

Poucos comentários são calcados em argumentos; a maior parte estão


vinculados a crenças.

A lógica de argumento calcada de acordo com o judiciário não pode se basear


em crenças; devemos vigiar constantemente para não reforçar uma tendência
social de pessoas idiossincráticas (nossas crenças não podem ser verdades
absolutas);

Idiossincrásico é um adjetivo que se refere à idiossincrasia, que é a maneira de


ver, de sentir e de reagir, própria de cada pessoa. Em psicologia, idiossincrasia é
o conjunto de elementos cuja combinação dá o temperamento e o caráter
individual. É a particularidade psíquica de um indivíduo.

Idiossincrasia: fenômeno social, minha maneira de ver o mundo, conceber tudo


é a única certa, quem não concorda comigo não presta, deve ser eliminado.

Convicção: Tudo que você consegue defender com argumentos sólidos,


explícitos.

Crença: Cegamente toma para si e reproduz, opinião que não consegue provar,
demonstrar.
O discurso do juiz nunca pode ser fundamentado em crenças. Como quebrar
barreiras de crenças e mostrar um caminho de convicção?

Convicções são bem-vindas, mas crenças devem ser repelidas.

Como eu conseguirei quebrar a barreira das crenças para provar que meus
argumentos podem alcançar o convencimento? Trata-se de uma tarefa árdua.

A maioria das vezes temos ofensas e atitudes terroristas; forja-se notícias e


verdades (Fake News). Não posso acreditar que minha verdade é absoluta.

Lembre-se: Que juíza eu quero ser para a sociedade?

Se a argumentação é um processo explícito, meu auditório precisará admitir


esse jogo argumentativo. Ou seja, se o auditório não estiver disposto a ouvir,
não haverá possibilidade de apresentar argumentos e consequentemente
convencer meu auditório.

Pacto argumentativo = Em alguns casos pode ser pré-construído. Mas, as


pessoas precisam entender o que você deseja transmitir.

Manutenção do pacto é uma exigência formal do discurso argumentativo. Pois,


se não, ele não levará ao convencimento, objetivo final da argumentação.

Verdade universal = Axioma.

Obs.: Eu não posso argumentar como se o que eu dissesse fosse um axioma,


principalmente no que tange temas polêmicos.

Em alguns casos o auditório pode não estar preparado para entender aquela
argumentação e precisará de uma introdução para que o processo
argumentativo se conclua.

Devemos buscar o convencimento sem grandes polêmicas, pois se eu ignorar


que meu auditório está motivado por determinadas crenças, minha
argumentação será em vão; eles não irão me ouvir.

Hoje em dia as pessoas cada vez menos conseguem estruturar argumentos e


apresentar discursos que apresentem uma convicção real, vez que se baseiam
em crenças.

Argumentar é defender pontos de vista, conforme seu auditório.


Atenção: O magistrado não pode se fundar em crenças, pois se não será o pior
representante que o Estado poderia ter.

 Persuasão

Não há argumentos, apresentação de frases categóricas. Busca-se outros


caminhos, além dos argumentos, para levar o auditório ao convencimento, uma
ideia nova motivando uma mudança de postura ou de atitude. Uma estratégia
subjetiva, um jogo implícito; a pessoa não percebe a tentativa de
convencimento, a pessoa percebe que a conclusão a que eu quero chegar nasce
dela, ela que conclui, não houve compra de ideia externa, ela desenvolveu a
ideia, mas no fundo foi motivada pelos recursos da linguagem que levaram a
esse processo de convencimento.

Em grande parte, a persuasão tem um papel falacioso, quando se emprega


mecanismos que fogem à lógica dos fatos. Falácias são recursos do advogado
como meio de convencimento.

A argumentação e persuasão podem coexistir, sendo a argumentação


obrigatória para o juiz, podendo agregar elementos que venham na forma de
linguagem e figura de linguagem que aumentem o poder de convencimento,
poder persuasivo.

Retórica: Arte do convencimento

Oratória: Arte de falar bem, que não significa falar de maneira argumentativa.

Aristóteles: Como o indivíduo em seu discurso conseguirá conquistar seu


auditório? Adesão: Efetiva construção de pacto argumentativo; incorporar uma
nova ideia. Persuasão: Permissão ao caminho de conhecimento.

Orador:

- Logos: O orador tem que trazer o conhecimento, precisa dominar o conteúdo,


ter conhecimento do que se fala.

- Ethos: O discurso do orador tem que parecer sempre ético, não basta que ele
seja ético, tem que parecer.

- Pathos: Condição orgânica.


Lugar de fala: Como dizer sobre algo que não faz parte sobre meu lugar de
fala? Dessa forma, quando tenho logos, terá autonomia para o lugar de fala.
Quando combinado com o logos, ele se amplia.

 Persuadir

Não há argumentos. Jogo implícito, de modo a fundar uma ideia no auditório,


como se ele tivesse concluído por ele mesmo.

Não há pacto argumentativo. Jogo se sedução.

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Observação: Oficialas de Justiça é o termo correto para o feminino de Oficial de


Justiça. Assim como Presidenta (feminino de Presidente).

O judiciário irá incorporar o discurso neutro? Entendo que não é cabível.

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Como eliminar crenças? 2 técnicas combinadas para atingir esse objetivo.

Eu preciso agir como advogado e juiz ao mesmo tempo.

Exemplo: Furtar 1L de leite x 1L de vodca.

Pelo viés da crença quem furta 1L de vodca é vagabundo, safado, etc. Mas, se
for demonstrado/explanado que o alcoolismo é uma doença e não safadeza,
faz-se possível argumentar a favor da pessoa que furtou a bebida.

Técnica de planificação + Técnica de contra argumentação = Técnica de


enquadramento

A argumentação é um processo de crescimento.

Argumento oculto da competência linguística e discursiva: Ocupa um


espaço intermediário entre argumentação e persuasão. Aqui existe uma
aparente contradição, pois na argumentação precisa que o argumento seja
explícito, porém nesse caso ele é implícito, vinculando-se nesse aspecto à
persuasão.

Argumento oculto: A forma que irá agradar, irá funcionar


Boa escrita e boa gramática, fortalecem o pacto argumentativo e reforçam a
credibilidade com o auditório.

Competência se faz com CLAREZA e PRECISÃO.

Lei Complementar 95/98 (ensina a escrever leis).

 ATENÇÃO

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e


ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I - para a obtenção de clareza:

a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a


norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a
nomenclatura própria da área em que se esteja legislando;

b) usar frases curtas e concisas;

c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e


adjetivações dispensáveis;

d) buscar a uniformidade do tempo verbal em todo o texto das normas legais,


dando preferência ao tempo presente ou ao futuro simples do presente;

e) usar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os abusos de


caráter estilístico;

II - para a obtenção de precisão:

a) articular a linguagem, técnica ou comum, de modo a ensejar perfeita


compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto evidencie com
clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende dar à norma;

b) expressar a ideia, quando repetida no texto, por meio das mesmas palavras,
evitando o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico;

c) evitar o emprego de expressão ou palavra que confira duplo sentido ao


texto;
d) escolher termos que tenham o mesmo sentido e significado na maior parte
do território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais;

e) usar apenas siglas consagradas pelo uso, observado o princípio de que a


primeira referência no texto seja acompanhada de explicitação de seu
significado;

f) grafar por extenso quaisquer referências feitas, no texto, a números e


percentuais;

f) grafar por extenso quaisquer referências a números e percentuais, exceto


data, número de lei e nos casos em que houver prejuízo para a compreensão do
texto;     (Redação dada pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001)

g) indicar, expressamente o dispositivo objeto de remissão, em vez de usar as


expressões ‘anterior’, ‘seguinte’ ou equivalentes;     (Incluída pela Lei
Complementar nº 107, de 26.4.2001)

III - para a obtenção de ordem lógica:

a) reunir sob as categorias de agregação - subseção, seção, capítulo, título e


livro - apenas as disposições relacionadas com o objeto da lei;

b) restringir o conteúdo de cada artigo da lei a um único assunto ou princípio;

c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma


enunciada no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida;

d) promover as discriminações e enumerações por meio dos incisos, alíneas e


itens.

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Observações:

1. Inconteste não é sinônimo de incontestável;


2. Vislumbrar significa não ver claramente;
3. Usar tem propósito intrínseco;
4. Utilizar é dar utilidade diferente/nova ao objeto.
 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO

Premissa maior é a lei, premissa menor é o caso concreto e a conclusão é a


combinação da lei com o caso concreto, analisando se aquilo se encaixa ou não,
julgando o agente pela adequação entre eles.

Atualmente, não é possível que você enquadre o tipo penal de maneira fria, pois
cada ato do agente é visto de uma maneira diferente. Por exemplo, uma mulher
que entra na mercearia pra furtar 1 litro de leite e outra que entra pra furtar 1
litro de vodka. Ambos os casos são furto, mas cada um é visto de uma forma
distinta, a princípio.

Auditório é todo destinatário da argumentação, podendo ser uma pessoa, dez


pessoas ou até mesmo um milhão delas.

Convencimento é o objetivo de qualquer argumentação. Eu emprego os


argumentos para obter o convencimento. Esse convencimento não precisa
acontecer para que haja argumentação. Não é o resultado que configura a
argumentação. Argumentação é o processo e o convencimento é o produto.
Ao argumentar eu terei elementos constituintes que chegarão na obtenção do
produto.

O que precisamos entender inicialmente é que argumentar, convencer e


persuadir são três verbos distintos que precisam ser definidos em seu papel.

Persuadir também tem como objetivo convencer, mas argumentar e persuadir


não são sinônimos. Convencimento é a mudança de postura, de pensamento, é
a admissibilidade da razão do outro.
Quando eu ouço uma argumentação, eu posso não concordar com a fala do
outro, mas posso reconhecer que tudo faz sentido, ainda que eu não queira
seguir dessa forma. Ou seja, eu posso ser convencido daquilo, mas não ser
persuadido.

Dependendo do auditório eu talvez deseje modificar a pessoa em essência,


como por exemplo numa estrutura familiar.

Argumentar e persuadir são duas estratégias que tem o mesmo objetivo:


convencer, que tem intenção de gerar uma admissibilidade da existência de
uma lógica interna.

Argumentação x persuasão

A primeira característica da argumentação é a organização lógica, que


segue uma linha racional. Por exemplo, se existe uma relação de causalidade e
consequência entre os fatos, eles seguem uma linha racional. Se eles seguem
essa linha lógica, eles serão considerados argumentos sólidos.

Por outro lado, existem argumentos que não se encaixam na lógica da


aceitação. Quando eu não tenho elementos de prova, eu vou lidar com
elementos de plausibilidade (parece lógico) e verossimilhança (parece
verdadeiro). Os elementos sólidos são carregados de plausibilidade e
verossimilhança.

Convicção x crença  convicção é tudo que você consegue defender com


argumentos sólidos. Crença é o que você defende, é algo em que você acredita,
mas sem conseguir defender com argumentos sólidos.

Idiossincrasia é a opinião que o indivíduo tem e que rejeita todas as opiniões


diversas da sua. Ele julga ser o único correto e não é aberto a mudanças. Essa
pessoa não ouve a opinião que é diversa da sua, nem sequer para avaliar o valor
da argumentação.
Argumentar é organizar argumentos sólidos e explícitos, ficar atento se eles
têm a natureza de fundamentação e criar um pacto argumentativo.

Exposição é quando alguém fala sem se preocupar se as pessoas estão


entendendo, como, por exemplo, falar para um objeto inanimado. Quando eu
tenho como objetivo convencer o auditório, o foco é outro e eu preciso me
preocupar em argumentar, através de uma tese, que organiza os argumentos
sólidos de uma maneira lógica.

Quando eu pretendo convencer, inicialmente eu preciso me preocupar em


saber quem é o meu auditório. O auditório pode ser universal ou particular.
O universal é o mundo inteiro, com todas as suas diferenças e crenças,
formações educacionais, etc. Se eu falo para um auditório universal, a minha
postura é diferente de quando apresentando para um auditório particular.

Nem todo auditório particular é 100% particular. Por trás dele também tem um
auditório universal. Por exemplo, na sala de aula, por mais que todos sejam
graduados em direito, existem inúmeras histórias de vida, culturas regionais, etc.

Essa dimensão de universo particular ou universal vai orientar o argumentador


no sentido de preparar sua exposição através dos argumentos.

A técnica do enquadramento é quando eu coloco meus argumentos dentro de


uma moldura. Dessa forma eu preciso que todos pensem aproximadamente da
mesma forma, ainda que com suas diferenças.

No exemplo da senhora que furtou um litro de leite, se eu argumento que ela


estava com muita fome, o auditório universal passa a aceitar aquele ato e ter
pena dela devido ao seu estado de necessidade.

Entretanto, se ela furtou um litro de vodka, o auditório universal parte da crença


que ela é “vagabunda, cachaceira e safada”. Logo eu, como defesa, preciso que
o auditório pense de maneira diferente. Através da técnica do enquadramento,
eu argumento que, segundo a OMS, o alcoolismo é considerado uma doença e
que a pessoa quando doente, sofre de abstinência e, por isso, não age
racionalmente, sendo também enquadrado como um ato em estado de
necessidade. Dessa forma, todo o auditório se enquadra naquele argumento do
advogado e entende que alcoolismo é doença.

Se eu vou argumentar, eu devo pensar em quais são as crenças do auditório, de


forma a fragilizar as crenças que ela possui e “emoldurar” a maneira de pensar
deles através de argumentos sólidos.

O pacto argumentativo é a garantia que eu tenho que desenvolver e manter,


fazendo o auditório ficar interessado até o fim. É a força para que o auditório
deseje ouvir toda a argumentação, até o final.

Às vezes eu posso acertar, mas também posso errar. Entretanto, eu sempre


errarei se eu começar a minha exposição defendendo um ponto de vista radical
sobre um assunto polêmico. Por outro lado, se eu trouxer um convite ao
debate, o auditório até pode identificar que existe uma tendência para um dos
lados, contrário ao dele, mas ele permanecerá lendo até o final e reconhecerá
que a lógica está ali colocada de forma correta.

O pacto pode já ser predeterminado. Por exemplo, o aluno da Emerj já saiu de


casa sabendo que irá a escola para ouvir, aprender e se convencer do que é
ministrado, o que não quer dizer que, mesmo sendo previamente construído, o
professor não precisa manter esse pacto. Ele deve sempre se preocupar em
oferecer um grau de convencimento, conhecimento e credibilidade.

Essa credibilidade pode vir de um currículo que o palestrante possui. Mas,


internamente pode não ser assim, pois embora o palestrante seja muito
inteligente escrevendo ele pode não se defender bem na oralidade, ocorrendo a
perda do pacto argumentativo.

Nessa esfera existem dois elementos: um elemento volta ao que é o


ensinamento da retórica de Aristóteles e o outro tem a ver com a persuasão.

Segundo Aristóteles, para um orador ser bem-sucedido, ele precisa ter o


“logos”, que é o saber, a parte racional. Para uma oração funcionar, ele precisa
ter conhecimento. Se um orador não tem conhecimento adequado, ele não terá
adesão do auditório.

O segundo elemento é o “ethos”, que deu origem a ética. Eu preciso saber se os


argumentos do meu orador estão fundamentados numa base ética, que nós
desejamos para a nossa sociedade. Nessa fundamentação eu devo perceber que
deve haver uma adaptação para cada auditório: por exemplo, uma palestra para
um público católico e um grupo evangélico. Para cada um eu devo selecionar os
meus argumentos.

Um terceiro elemento que, para nós hoje significa basicamente a apresentação


pessoal, é o “pathos” que vai dar origem a palavra simpatia, empatia. É a
essência do indivíduo, sua identidade. Simpatia é quando o pathos de uma
pessoa e de outra são harmônicos. Antipatia é quando o pathos de uma pessoa
não está em sintonia com a do outro. Numa argumentação o pathos também
aparece: você falar com clareza, com cuidado para ser ouvido, tendo a garantia
que o auditório inteiro está sendo absorvido pela sua fala. O pathos tem a ver
também com a apresentação de linguagem. O pathos está no plano da
persuasão.

Na persuasão não há argumentos sólidos. Não existe um processo


argumentativo, logo não há pacto argumentativo. Ou seja, na persuasão eu vou
querer convencer o outro sem ele perceber que está sendo convencido.
Persuasão são mecanismos diversos, inclusive falaciosos, de “sedução”. É
fazer o indivíduo fundar dentro de si uma nova ideia, acreditando que foi ele
que chegou a essa conclusão, sem admitir o meu processo de convencimento.
Persuadir é levar uma ideia a ser incutida, fundada dentro do outro.

O juiz não pode argumentar e buscar falácias. A sociedade inteira vive de


falácias, mas a argumentação de sentenças não pode se servir de falácias.

Quando eu adequo o pathos ao plano/aspecto de linguagem eu estou


construindo um argumento oculto da competência linguística e discursiva.

Ele fica num espaço intermediário entre a argumentação e persuasão. E para


mostrar como ele funciona, existem duas analogias: 1) você sai da Emerj e vai
passear pela cidade e entra numa livraria de livros jurídicos e vê dois livros de
direito lacrados, um com capa escura e letras sóbrios e outro colorido na capa
com letras psicodélicas. Obviamente, você optará pelo livro sóbrio. Todavia, ao
comprar o livro A, percebe que o livro é bem superficial. Mas ainda assim você
pensará que o livro B é pior ainda que o livro A pois ele já foi descartado
inicialmente. 2) o professor chega na sala e conta toda sua carreira como
professor, que é muito extenso e, após isso, diz que “vamo resolvê os probrema
da linguística”. Isso vai desconstruir toda a imagem do professor e
quebrará/enfraquecerá o pacto argumentativo. Ainda que o auditório
permaneça escutando, a partir daí ele não mais escutará o palestrante e nem
terá credibilidade. Da mesma forma, se o argumento é bem construído
gramaticalmente e linguisticamente, o pacto argumentativo é reforçado.

A persuasão é um mecanismo outro de levar alguém ao convencimento, tendo


a ideia do preletor sido colocada dentro do auditório.

No caso da sentença, o juiz deve utilizar-se de mecanismos para persuadir,


exclusive os mecanismos falaciosos, ou seja, o juiz não se pode valer deles.

Como a EMERJ é formadora de opinião, a defesa atual é pela linguagem jurídica


simplificada, que não significa pobreza linguística.

LEI COMPLEMENTAR 95/98

É uma lei que trata da redação das leis e atos normativos. Isto vai servir para o
legislativo e para atos do executivo. Uma vez que o judiciário não possui
nenhuma lei específica neste sentido, utilizamos essa lei, por extensão, para a
escrita do judiciário.

Para nós vai interessar o artigo 11:

Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem
lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas:

I - para a obtenção de clareza:


a) usar as palavras e as expressões em seu sentido comum, salvo quando a norma
versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura
própria da área em que se esteja legislando;

b) usar frases curtas e concisas;

Usar frases curtas e concisas não significa encher a frase de vírgulas e pontos,
mas respeitar as pausas necessárias de forma que a frase não perca o sentido e
não fique muito extensa.

c) construir as orações na ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e


adjetivações dispensáveis;

A ordem direta é sujeito + verbo + complemento + acessórios. O preciosismo


é quando a pessoa se vale de palavras que ninguém entende. Se o termo é
técnico, vamos respeitar, mas se não é, torna-se pedante. Neologismo é a
criação de vocábulos, e a sentença não é obra de literatura, logo não tem que
criar termos. Adjetivações dispensáveis são todas aquelas de caráter
impressionista, que expressa um valor personalíssimo. Cuidado com palavras
que em sentido coloquial tem um valor distinto do valor real (ex: não é justo
que isto aconteça).

O STF já adotou o artigo 11 como referência, tendo como parâmetro para os


textos jurídicos a clareza, precisão e ordem lógica.

Por exemplo, no caso de algarismos romanos, depois do nome, eles serão


ordinais do I ao IX e cardinais do X em diante.

Ex.: Joao Paulo II, Luis XV, Capítulo III, inciso IV, inciso XI.

Se os algarismos vierem antes do nome, eles serão SEMPRE como ordinais.

Ex.: XXXIII Congresso ...,


Vislumbrar  aquilo que você enxerga com pouca luz. Desta forma, vislumbrar
em direito deve ser usada em frases negativas. Vislumbrar é ver mal, não
entender direito.

Inconteste  não significa incontestável. Uma testemunha inconteste é inválida.

Quando fazendo a sentença é comum utilizar alguns verbos como sinônimos,


mas eles não são: alegar, arguir, aduzir, etc.

Alegar  trazer algo novo ao discurso. Da mesma família do afirmar, sustentar,


defender, apresentar, aduzir (colocar aquilo no conjunto, tem um sentido
somatório interno, como um sinônimo de “acrescentar ao mérito”). Só uso para
questões de mérito.

Arguir  significa questionar. Da mesma família do (...). Eu só posso questionar


o que já existe. Só uso para questões processuais.

Eu, na construção do relatório devo evitar as “palavras ônibus”, que é a palavra


para todos e para tudo. Por exemplo, coisa, negócio, treco, trem, etc. Um verbo
que tem sido utilizado como palavra ônibus é o “levar”.

Na verdade, eu porto um documento, eu carrego uma mala, eu conduzo uma


mala com rodinhas.

Usar é empregar a coisa com o seu propósito natural e específico.

Utilizar é dar emprego diverso à coisa.

Colega é aquele que você estuda ou trabalha. Não são íntimos. O coletivo de
colega é colégio.

Camarada é aquele com quem você divide o quarto de dormir. É aquele em


quem você pode confiar em certas situações.
Amigo tem o mesmo radical de amante, amor. Ou seja, pressupõe uma relação
de intimidade, escolhida pela pessoa.

Companheiro tem o prefixo “com” que significa junto e o “pan” que significa
pão. Desta forma o companheiro é aquele que você divide o pão, o que tem
uma carga muito forte.

Relembrar é trazer de volta à lembrança, aquele elemento racional cognitivo.

Recordar é trazer de volta a emoção, ou seja, viver emocionalmente de novo.

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