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Argumentação Jurídica e Retórica


Preparação: Professor Dr. Josival Nascimento

Argumentação Jurídica
Um bom profissional da advocacia está acostumado a construir argumentos
convincentes. Ele trabalha constantemente com a argumentação jurídica para
persuadir os participantes de uma reunião, para elaborar uma peça jurídica ou na
tribuna durante uma sustentação oral. Ou seja, é tarefa do advogado convencer e
persuadir o seu interlocutor, fazendo com que este compartilhe da mesma versão dos
fatos e do mesmo entendimento acerca das consequências jurídicas que ele. Assim, o
advogado promove na cabeça do seu interlocutor a ideia de uma decisão igual a sua.
Existem duas técnicas bastante utilizadas durante o processo de argumentação
jurídica: a identidade ideológica e a mobilização das emoções. O objetivo deste
texto não é esgotar todo o tema, mas falar rapidamente sobre essas técnicas, de modo
que o leitor possa se aperfeiçoar na arte do convencimento e da retórica.

Argumentar com identidade ideológica não significa dizer que o advogado e o


interlocutor devem compartilhar de forma absoluta e total as suas ideias. O importante
é que os argumentos utilizados pelo advogado não sejam incompatíveis com as ideias
de seu interlocutor, o que torna os argumentos mais aceitáveis aos ouvidos do receptor
da ideia. Afinal, se o argumento for mais compatível com as ideias do
interlocutor, este será mais receptivo ao discurso.
Porém, utilizar a técnica da identidade ideológica também não quer dizer que
o advogado deve renunciar aos seus valores para convencer o seu interlocutor. Na
verdade, o advogado precisa ser sensível para perceber quando a identidade
ideológica poderá influir negativamente ou positivamente no convencimento de seu
interlocutor, para então acentuá-la ou neutralizá-la e utilizar outros recursos de
argumentação jurídica para persuadi-lo.

Mobilização das emoções 


Como seres humanos, nem sempre decidimos de maneira racional. Algumas
das deliberações que fazemos levam em consideração a nossa postura perante a
sociedade, as nossas experiências e nossos sentimentos. Então, utilizar as emoções
como ferramenta retórica é importante para o advogado.
Soa um pouco estranho dizer isso, especialmente porque o Direito é visto
como um sistema racional. Mas a realidade é diferente, especialmente porque
estamos falando de pessoas.
Assim, é fundamental que o advogado tenha a habilidade de dar um caráter
lógico aos argumentos emocionais, para torná-los mais fortes e persuasivos. Eu
costumo dizer que devemos “carregar a tinta da caneta” em certos pontos da narrativa,
principalmente naqueles que possam sensibilizar o destinatário e trazê-lo para o seu
lado. Nesse sentido, ganham força as falácias não formais.
Lembrando que as falácias não formais são aquelas que, apesar de não
possuirem consistência lógica, fundamentam um argumento convincente, se a
ambiguidade ou irrelevância da premissa for imperceptível ao interlocutor. Em outras
palavras, são aquelas que decorrem de premissas irrelevantes para aceitação da
conclusão e são utilizadas para convencimento, por meio das emoções do interlocutor.
Exemplos comuns de utilização de argumentos com falácia não formal são: ad
hominem, que consiste em desacreditar determinada pessoa para que as suas
afirmações sejam comprometidas; ad misericordiam, segundo o qual o
convencimento se dá pelo apelo à piedade; e o argumento de autoridade, em que o
advogado se utiliza de opinião de terceiro para fundamentar a sua ideia. Assim, o
argumento pode ser falacioso, do ponto de vista lógico, mas eficaz do ponto de vista
retórico em razão da mobilização das emoções.
Importante dizer que não existe uma fórmula para dominar os recursos
retóricos de convencimento. Cada profissional desenvolve um estilo próprio de
argumentação jurídica, que passa, por diferentes graus, entre as técnicas da identidade
ideológica, mobilização de emoções e intercâmbio intelectual. Além disso,
a linguagem corporal e o tom de voz são importantes ferramentas e auxiliam no
convencimento, especialmente durante uma reunião ou na tribuna.

Retórica
Retórica é a técnica de uso da linguagem para se expressar bem e ser persuasivo.

Foram os sofistas que fizeram o primeiro estudo que se tem registro sobre o


poder da linguagem, considerando sua capacidade de persuasão. Em função disso, o
nascimento da Retórica é datado do século V antes de Cristo, na Sicília. Essa arte de
falar bem ganhou a atenção na região após a introdução da questão em Atenas pelo
sofista Geórgia. Logo, os estudos ganharam repercussão nos meios políticos e
judiciais. Inicialmente, a Retórica era utilizada como instrumento para persuadir em
audiência de variados assuntos, porém, com o tempo, tornou-se uma espécie de
sinônimo da arte de falar bem.
A divergência entre a pressuposição original dos sofistas para Retórica e a
significação que foi atribuída pelos gregos gerou oposição entre ambos. Os sofistas
argumentavam baseando-se no sentido original do termo Retórica, enquanto Sócrates
criou uma escola de pensadores suportados por novas concepções. Com o tempo, a
formulação grega ganhou complexidade. Aristóteles escreveu um livro no qual
sistematizava o estudo da Retórica e a definia como importante elemento para a
Filosofia. Colocava a Retórica no mesmo patamar da lógica e da dialética.
Séculos à frente, a Retórica ganhou uma significância importante para a Idade Média.
Era considerada como uma das três artes liberais, as quais eram ministradas nas
universidades, ao lado da lógica e da gramática. Desde seu surgimento, a Retórica
sempre foi importante elemento para manifestação do homem, seja para persuadir,
seja para expressar-se com um bom discurso. Permaneceu como um dos elementos
fundamentais da boa educação ocidental até o século XIX.
Ao longo dos séculos, a Retórica formou oradores e escritores capazes de
fazer crer na mensagem que desejavam transmitir suportando-se através do logos, do
pathos e do ethos. Logos, que inicialmente significava o Verbo, ganhou com os
gregos a significação de razão. Pathos é uma palavra grega que denomina paixão. E
Ethos tem origem na palavra ética e representa o caráter do interlocutor. Ou seja, a
Retórica faz uso de várias ferramentas para validação da linguagem no que se refere a
alcançar seus objetivos. Assim, a elaboração do discurso está envolta pela invenção,
pela organização do conteúdo, pela expressão adequada, pela memorização e
declamação. Deve haver uma consonância de voz e gestos com o conteúdo do
discurso.
Ao mesmo tempo que é uma arte, a Retórica é também uma ciência, pois
fornece métodos para elaborar um discurso estruturado. Inicialmente, dedicava-se do
discurso falado. Com o tempo, foi aplicada à linguagem escrita. É chamada,
atualmente, de estilística aplicada aos textos literários. Mas a oralidade e a escrita não
são as únicas vias de expressão da Retórica, ela também está presente na música, na
pintura e na publicidade, por exemplo.

Fontes:
http://afilosofia.no.sapo.pt/11filosret.htm
http://www.persuasao.com/

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