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Versão 3.2
por
2016
A compilação destas notas foi inspirada pelos meus queridos estudantes do curso
de pós graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco,
Jokderléa Correa de Sousa, Salim Abdelnor Arruda e Juliana Cisneiros Lima. A eles
estão dedicadas...
ELC
© 2016, Eduardo Luis Canedo, Renate Maria Ramos Wellen e Yêda Medeiros Bastos de Almeida.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma ou meio ou arquivada em qualquer banco de dados sem permissão escrita
dos titulares do direito autoral.
Contato: ecanedo2004@yahoo.com
Citar como:
Canedo, E.L; Wellen, R. M. R; Almeida, Y. M. B. Cristalização de Polímeros – Tratamento de Dados
e Modelagem Macrocinética. ANP PRH-28/DEQ/UFPE, Recife, 2016.
DOI: 0000000000000
Apresentação
Dezembro de 2016
Conteúdo
1. Introdução ....................................................................................................... 1
1
isotérmica e os modelos Pseudo-Avrami, de Ozawa e de Mo para cristalização não
isotérmica. A relação entre o modelo de Avrami e de Ozawa é discutida em termos
do “supermodelo” de Nakamura e procedimentos para avaliar a energia de ativação
efetiva para o processo de cristalização (Kissinger, Friedman) são considerados.
Os modelos considerados, não obstante a motivação “teórica” (i.e., microcinética) de
alguns deles, são basicamente correlações empíricas dos resultados experimentais,
desenvolvidos principalmente com o objetivo de predizer o desenvolvimento da
cristalinidade e da taxa de cristalização no tempo. Nesse contexto, a medida em que
os modelos representam os dados experimentais – isto é, a incerteza das predições
baseadas nos modelos – e o intervalo de validade dos mesmos em casos
particulares, são considerados em detalhe. Técnicas analíticas e preditivas
baseadas na análise cinética “isoconversional” ou sem a utilização de modelos
(model-free kinetics analysis) não são consideradas neste trabalho, dedicado
principalmente aos modelos “clássicos” de cristalização de polímeros.
O nível do tratamento da matéria é necessariamente elementar, mas métodos e
conceitos são desenvolvidos e analisados rigorosamente. O assunto é apresentado
em detalhe, mas o escopo do trabalho é limitado e focado nas necessidades das
pesquisas em andamento em nossos grupos, especialmente no desenvolvimento de
blendas e compósitos não convencionais de matrizes termoplásticas semicristalinas.
Exemplos concretos são utilizados para ilustrar os procedimentos, tirados da
experiência de nosso grupo ou de testes conduzidos especificamente para o
presente projeto.
Ainda que poucos conceitos ou métodos novos sejam apresentados neste trabalho,
acreditamos que uma apresentação rigorosa e unificada da matéria com o nível de
detalhe da presente é importante e não se encontra disponível na literatura. Este
trabalho preenche, portanto, uma necessidade, e pode ser de utilidade no
treinamento de novos pesquisadores em ciência e engenharia de materiais.
No DSC, uma pequena amostra de material é submetida a um programa de
temperatura e a energia (térmica) trocada entre a amostra e a vizinhança 1 é
monitorada em função do tempo. O instrumento fornece o valor da temperatura da
amostra, que se assume uniforme e seguindo (aproximadamente) o programa de
temperatura imposto, e o fluxo de energia como funções do tempo em forma
contínua, monitoradas a intervalos uniformes de tempo. Durante um evento de
cristalização a energia liberada pela amostra (calor latente de cristalização) aparece
2
como um pico exotérmico no sinal do DSC. Durante um evento de fusão a energia
liberada pela amostra (calor latente de fusão) aparece como um pico endotérmico.
Vários parâmetros associados ao processo de cristalização ou fusão (temperatura de
cristalização/fusão, taxa de cristalização/fusão, calor latente de mudança de fase,
etc.) podem ser avaliados através do estudo das curvas de DSC. Entre outros
assuntos, é possível estudar a cinética do processo de cristalização ou fusão, isto é,
a evolução da cristalinidade no tempo e sua dependência com as variáveis do
processo.
Os modernos DSC operam em um amplo intervalo de temperaturas, pressões e
tamanhos de amostra, gerando resultados de alta precisão. Técnicas especializadas
(e.g., modulação da temperatura) são utilizadas com crescente frequência. Neste
trabalho só se analisam os procedimentos experimentais mais simples, de uso
corrente nos laboratórios de ensino/pesquisa das instituições acadêmicas e nos
laboratórios de controle de qualidade da indústria. Para isso é suficiente dispor de
um instrumento que opere em temperaturas entre −50°C e 400°C, com taxas de
aquecimento/resfriamento de até 50°C/min e utilizando amostras de 1 a 20 mg em
cadinhos de alumínio descartáveis, abertos ou fechados.
A cristalização dos polímeros nas condições prevalentes no DSC resulta em
materiais policristalinos (técnicas especializadas são necessárias para obter
monocristais e medir sua taxa de crescimento). Os dados fornecidos pelo DSC são
grandezas macroscópicas e globais: referem-se a valores médios na amostra, não ao
comportamento de cristais individuais e não distinguem os detalhes ou estágios do
processo de nucleação e crescimento cristalino. A modelagem matemática da
cinética de cristalização nessas condições é desenvolvida através de modelos
macrocinéticos. Modelos microcinéticos são utilizados para estudar o fenômeno de
cristalização no nível de cristais individuais, onde as taxas de nucleação (número de
núcleos por unidade de tempo) e crescimento (velocidade de avanço da frente
cristalina) podem ser expressas em termos das propriedades fundamentais das
macromoléculas envolvidas e das condições operativas. Uma breve introdução à
modelagem microcinética clássica (modelo analítico de Lauritzen e Hoffman) é
considerada no Apêndice deste trabalho.
Os modelos macrocinéticos considerados neste trabalho são essencialmente
empíricos, ainda que muitos deles tenham sido sugeridos pela consideração dos
mecanismos de cristalização a nível microscópico, e incluso derivados, através de
uma série de suposições e aproximações, a partir dessas considerações. Os modelos
macrocinéticos são analisados enquanto sua capacidade de representar os dados
experimentais e julgados mais ou menos apropriados para correlacionar as
variáveis macroscópicas de um sistema determinado com um dado nível de
incerteza, num determinado intervalo de validade. Não são, portanto, corretos ou
incorretos, nem pretendem – em princípio – explicar como ou porque o processo de
cristalização se desenvolve a nível macromolecular.
3
Do ponto de vista macroscópico os processos de cristalização se classificam em dois
tipos:
• Cristalização isotérmica, conduzida à temperatura constante.
• Cristalização não isotérmica, conduzida à temperatura variável no tempo.
Para a cristalização não isotérmica define-se uma taxa de aquecimento ou
resfriamento; a cristalização isotérmica pode ser considerada como um processo
desenvolvido com taxa aquecimento/resfriamento nula. Neste trabalho só serão
considerados os processos de cristalização conduzidos com taxa aquecimento/
resfriamento constante durante o evento de mudança de fase. Distinguimos:
• Cristalização a partir do fundido (melt crystallization) durante o resfriamento da
amostra.
• Cristalização a frio (cold crystallization) ou cristalização a partir do estado
sólido 2, durante o aquecimento da amostra.
Para cristalização isotérmica também é possível distinguir entre cristalização a frio
e cristalização a partir do fundido. Obviamente, neste caso não se trata de
cristalização durante aquecimento ou resfriamento (a temperatura é mantida
constante). Porém, cabe assinalar que as condições de “temperatura constante” e
“taxa de aquecimento ou resfriamento constante” são idealizações, mais ou menos
realizáveis na prática.
As fontes para o estudo da cristalização de sistemas poliméricos por calorimetria
exploratória diferencial provem de duas áreas de conhecimento e pesquisa. Por uma
parte, trabalhos focados em ciência de materiais, interessados principalmente nos
mecanismos microcinéticos da cristalização e suas consequências na
microestrutura (morfologia) do sistema. Exemplos típicos desta área de
conhecimento são as obras de Schultz (2001) e Mandelkern (2002, 2004). Um
tratamento atualizado, incluindo desenvolvimentos teóricos, simulações numéricas
e técnicas experimentais mais recentes é a obra multi-autoral de Piorkowska &
Rutledge (2013).
Por outra parte, as obras dedicadas à análise térmica, com ênfase em
instrumentação e análise de dados. Exemplos típicos recentes nesta área de
conhecimento são os textos avançados de Menczel & Prime (2009) e Wunderlich
(2010), e os volumes pertinentes do tratado de análise térmica editado por P. K.
Gallagher (Brown, 1998; Cheng, 2002; Brown & Gallagher, 2008) e do handbook
editado por J. E. Mark (2007). Vyzovkin (2015) apresenta um tratamento magistral
dos métodos isoconversionais. Menção especial merecem as monografias práticas
4
sobre o assunto (Ehrenstein et al, 2004; Wagner, 2010) que têm nos ajudado
bastante nesta tarefa.
Para a fundamentação metodológica da calorimetria exploratória diferencial –
assunto que será desenvolvido neste trabalho – pode ser consultada a bibliografia
especializada, por exemplo, Höhne et al. (2010). A bibliografia em português é muito
limitada 3. Temos utilizado também as normas técnicas (e.g., ASTM D 3417/3418,
ASTM E 2070, ISO 11357) e os boletins e notas de aplicação difundidas pelos
fabricantes de instrumentos; nesse sentido, os mini-artigos nas séries Thermal
Analysis UserCom da Mettler Toledo e On-Set da Netzsch (disponíveis gratuitamente
na Internet) tem sido de grande utilidade. Finalmente, cabe mencionar as
compilações de dados disponíveis na Internet (e.g., ATHAS - Advanced Thermal
Analysis System ) ou na forma mais tradicional de livro impresso (Brandrup et al,
1999; Mark, 1999). As clássicas monografias de Bicerano (2002) e Van Krevelen &
Nijenhuis (2009) contém uma interessante seleção de dados experimentais e
descrevem métodos para predizer as propriedades físicas dos polímeros a partir de
sua estrutura química.
3 Por exemplo, o texto prático, Mothé & Azevedo, 2009, e um capítulo de livro, Machado &
Matos, 2004. O texto introdutório de Akcelrud (2007) inclui um excelente capítulo dedicado ao
assunto – de escopo limitado, devido ao caráter geral da obra.
5
6
2. Tratamento de dados
2.1. Dados experimentais
dT
φ= (2-1)
dt
T =T0 ± φ ( t − t0 ) (2-2)
7
utilizado para a amostra, no modelo mais comum de DSC). A temperatura da
amostra é aproximadamente igual à temperatura de referência, mas apresenta
pequenas, mas significativas, variações, especialmente durante os eventos de
cristalização a partir do fundido (durante o resfriamento). Veja Exemplo 2. A taxa de
aquecimento/resfriamento instantânea real pode ser avaliada a partir dos dados
experimentais como uma função do tempo:
Ti +1 − Ti −1
=φi = , i 1, 2,.. (2-3)
∆t
6 Em física o termo fluxo de calor é utilizado para indicar a energia térmica transferida por
unidade de tempo e de área normal à direção da transferência, uma grandeza vetorial. Em
português se utiliza o mesmo termo para o calor transferido por unidade de tempo – no
sentido empregado nestas notas. Em inglês o primeiro é chamado heat flux e o segundo
(nosso fluxo de calor) é chamado heat flow.
8
unidade de massa de polímero cristalizável, mP = wP mS, sendo wP a fração mássica
de polímero cristalizável:
J
Jˆ = (2-5)
wP mS
9
Do ponto de vista experimental o teste pode ser dividido em estágios de
aquecimento, resfriamento ou temperatura constante. Os eventos de mudança de
fase (cristalização ou fusão) se apresentam na forma de picos (simples ou
complexos) no traço J versus t (ou J versus T ). A Figura 2-1 mostra um exemplo
típico das curvas experimentais de temperatura e fluxo de energia versus tempo, no
caso obtidas com uma amostra de PHB [poli(3-hidroxibutirato)], um termoplástico
com cristalinidade de aproximadamente 50%.
Figura 2-1. Output de DSC (PHB, massa da amostra: 5 mg, taxa de aquecimento/
resfriamento: 10°C/min) mostrando a temperatura (vermelho, escala na direita) e o
fluxo de energia (azul, escala na esquerda) como funções do tempo. Fonte: P. B.
Cipriano (2012).
O teste envolve três estágios: aquecimento [1] da temperatura ambiente (~25°C) até
200°C, resfriamento [2] de volta até a temperatura ambiente, e reaquecimento
novamente até 200°C; a taxa (nominal) de aquecimento/ resfriamento é mantida em
10°C/min durante todo o teste. Quatro eventos de mudança de fase podem ser
identificados: fusão (F1) da fração cristalina, com pico duplo, durante o primeiro
aquecimento, cristalização a partir do fundido (C1) durante o resfriamento, e
cristalização a frio (C2) e segunda fusão (F2) durante o reaquecimento.
10
temperatura 108-167°C) observa-se um evento exotérmico, identificado com a
cristalização (parcial) do polímero. O fluxo de energia J(t ) se afasta a linha de base
para t > t1, atinge um máximo a tp = 316 s (Tp = 126°C) e se confunde novamente
com a linha de base para t > t2; t1 e t2 são os tempos inicial e final do evento, T1 e T2
as temperaturas inicial e final, e Tp é a temperatura do pico de cristalização ou,
simplesmente, a temperatura de cristalização, Tc ≡ Tp .
(a) (b)
Figura 2-2. Cristalização a frio de PET (massa da amostra: 7,5 mg, taxa de
aquecimento: 20°C/min) mostrando o fluxo de energia como função do tempo (a) e
da temperatura (b). Fonte: R. M. R. Wellen (2007).
11
Figura 2-3. Determinação dos pontos inicial e final, P1 e P2, do evento de
cristalização do exemplo anterior. A linha azul, J(t ), é o fluxo de energia reportado
pelo instrumento; as linhas vermelhas, J1(t ) e J2(t ), são a linhas de base retas
anterior e posterior ao evento.
dE= J − J 0 dt (2-7a)
dE ∝ dX (2-7b)
12
anteriormente é um caso típico de coincidência aproximada (Figura 2-4). A linha de
base virtual reta pode ser utilizada quando a inclinação das linhas de base retas
antes e depois do evento não diferem apreciavelmente. Lembrando que a inclinação
da linha de base está associada à capacidade calorífica do material, podemos dizer
que a aproximação linear à linha de base virtual é válida quando o processo de
cristalização não muda apreciavelmente a capacidade calorífica; isto é, quando o
calor específico do polímero amorfo é aproximadamente igual ao calor específico do
polímero semicristalino.
Figura 2-4. Linha de base virtual linear (linha vermelha pontilhada) durante o
evento de cristalização do exemplo anterior.
Porém, em alguns casos as inclinações das linhas de base anterior e posterior são
suficientemente diferentes como para que a simples aproximação linear seja pouco
recomendável. Esses casos requerem procedimentos de interpolação mais
sofisticados, considerados na secção 2.4.
13
Figura 2-5. Construção para a avaliação da altura do pico de cristalização ∆Jp e a
largura do pico a meia-altura ∆t½. Mesmo sistema e condições do exemplo anterior.
A razão das larguras ξ½ = ∆t2/∆t1 é uma medida da assimetria do pico 8. Tanto ∆t½
como ξ½ são determinadas na região central do pico, fora da zona de influência das
“caudas”. A incerteza desses parâmetros é provavelmente menor que a incerteza
dos intervalos medidos nos extremos das caudas. No exemplo apresentado na
Figura 2-5 se obtém ∆Jp = 5,065 mW, ou ∆Jp/mS = 0,645 W/g. A largura a meia
altura resulta ser ∆t½ = 37,5 s ou ∆T½ = φ ∆t½ = 12,5°C; compare com τmax ≈ 175 s e
∆Tc ≈ 59°C avaliados anteriormente, incluindo as caudas. O pico é
significativamente assimétrico, ainda tirando as caudas: ξ½ = 1,5.
Outros parâmetros frequentemente reportados na literatura e favorecidos pelas
normas técnicas (ASTM D3418, ISO 11357) 9 são os chamados pontos extremos
extrapolados. A extrapolação em questão é implementada através das tangentes à
curva do fluxo de energia traçados nos pontos de inflexão que precedem e seguem
ao pico. A intersecção das retas tangentes com a linha de base virtual determinam
os pontos inicial e final extrapolados. A Figura 2-6 mostra um exemplo de
avaliação da temperatura inicial extrapolada, T 1(ex) = 117,4°C. Um procedimento
semelhante pode ser utilizado para avaliar a temperatura final extrapolada.
8 O parâmetro ξ½ pode ser avaliado também com as diferenças de temperatura. Porém, para
cristalização a partir do fundido (durante o resfriamento) leve em consideração que T1 < T2;
caso contrário o valor de ξ½ será inverso do obtido com as diferenças de tempo.
9 Um resumo destas e outras normas técnicas relevantes são encontrados em Ehrenstein et
al (2004).
14
Figura 2-6. Construção para a avaliação da temperatura inicial extrapolada no
teste do exemplo anterior. A curva azul inteira corresponde ao fluxo de energia
como função da temperatura J(T ) e a reta azul tracejada à linha de base virtual
J 0 (T ). P1 é o ponto inicial do evento e PX1 é o primeiro ponto de inflexão da curva
J(T ). A reta vermelha é a tangente a J(T ) no ponto de PX1. O ponto vermelho é o
“ponto inicial extrapolado”.
10 Por exemplo, H. N. Beck & H. D. Ledbetter (1965), citado por C. Chen et al. (2002).
11 Nos capítulos 3 e 4 utilizamos a derivada da taxa na determinação do seu valor máximo.
12 Wagner (2010).
15
Figura 2-7. Construção para a avaliação da temperatura do pico extrapolada no
teste do exemplo anterior. A curva azul corresponde ao fluxo de energia como
função da temperatura J(T ) e a retas vermelhas são as tangentes a J(T ) nos pontos
de inflexão PX1 e PX2. O ponto vermelho corresponde ao “pico extrapolado”.
Cabe assinalar que os valores extrapolados não tem significado físico em sistemas
poliméricos (Menzel & Prime, 2008). Seu uso é justificado por serem –
supostamente – mais reprodutíveis (e independentes das caudas) que outros
parâmetros equivalentes. Valores extrapolados fazem sentido na análise térmica de
substâncias “puras” com pontos de fusão e cristalização bem definidos, onde as
caudas podem ser atribuídas principalmente à contaminação das amostras ou à
inercia térmica do instrumento 13.
t
=
E (t )
∫
t1
J (t ′) − J 0 (t ′) dt ′ (2-8)
16
t2
=E0
∫t1
J (t ) − J 0 (t ) dt (2-9)
Observe que E0 é a área sob o pico de cristalização ou, mais precisamente, a área
entre a curva do fluxo de energia e a linha de base virtual durante o evento de
cristalização. Se assumirmos que a energia liberada é proporcional à massa
transformada do estado amorfo ao estado cristalino, podemos definir a fração
transformada entre o tempo inicial t1 e o tempo t :
∫
E (t ) 1
=
x(t ) = J (t ′) − J 0 (t ′) dt ′ (2-10)
E0 E0 t1
X (t ) − X 1
x(t ) = (2-11)
X 2 − X1
τ = t − t1 (2-12)
17
(a) (b)
Figura 2-8. Cristalinidade relativa como função do tempo (a) e da temperatura (b)
para cristalização a frio de PET (massa da amostra: 7,5 mg, taxa de aquecimento:
20°C/min).
T T2
x(T ) =
∫
T1
J (T ′) − J 0 (T ′) dT ′
∫
T1
J (T ′) − J 0 (T ′) dT ′
(2-13)
Ainda que o procedimento seja correto para processos não isotérmicos que
procedem a taxa de aquecimento/resfriamento constante, fica limitado a essas
condições. No entanto, a Eq.(2-10) é válida para cristalização isotérmica e não
isotérmica, e não requer a constância da taxa de aquecimento/resfriamento.
Em princípio, as integrais das equações (2-8) e (2-9) são obtidas numericamente.
Usualmente os intervalos de tempo ∆t são suficientemente pequenos em relação ao
tempo de cristalização total τmax e J(τ ) é suficientemente suave como para permitir o
uso de algoritmos simples (e.g., a “regra de Simpson”). O uso do programa
INTEGRAL desenvolvido especialmente para isso é descrito na seção 4.7.
A avaliação de função 14 x(τ ) abre interessantes possibilidades. Como J(0) = J0(0), a
taxa de cristalização c(τ ), obtida diferenciando a Eq.(2-10), é diretamente
proporcional a |J – J0|:
dx J (τ ) − J 0 (τ )
c(τ ) ≡ = (2-14)
dτ E0
18
A taxa “instantânea” de cristalização, expressa em unidades de tempo recíproco (s−1
ou min−1) não é nada mais que o pico de cristalização, com linha de base retificada
e normalizado com área sob o mesmo (Figura 2-9). Observa-se que a cristalinidade
relativa e a taxa de cristalização são formalmente independentes da massa da
amostra.
(a) (b)
Figura 2-9. Taxa de cristalização como função do tempo (a) e da temperatura (b).
Mesmo sistema e condições do exemplo anterior.
0, 6
c20−80% = (2-16a)
τ 80% − τ 20%
e uma taxa média global em que cristaliza 99% do polímero cristalizável, entre 0,5%
e 99,5% de cristalinidade relativa:
19
0,98
c1−99% = (2-16b)
τ 99% − τ 1%
15A preferência de τ½ sobre τmax como parâmetro cinético pode ser relacionada ao fato dos
modelos microcinéticos simplificados ser aplicáveis preferentemente nas condições iniciais,
onde a interação entre cristalitos crescentes é mínima, e o processo de cristalização pode ser
assimilado ao crescimento de cristalitos isolados, livres de impedimentos.
20
(a) (b)
Figura 2-11. Construção para a avaliação de tempos (a) e temperaturas (b) em que a
cristalinidade relativa atinge valores determinados. Mesmo sistema e condições do
exemplo anterior.
21
o resultado de um teste de cristalização não isotérmica a frio (durante o
aquecimento) de uma blenda de PET com 5% de poliestireno (PS). Observam-se dois
picos de cristalização bem definidos, com máximos a 134,2°C e 149,3°C; ambos os
picos correspondem à cristalização do PET (o PS utilizado é um polímero
completamente amorfo). Veja o Exemplo 3 para uma discussão do assunto.
22
J1 (T ) =J A + c1 (T − TA )
(2-18)
J 2 (T ) =J A + c2 (T − TA )
J 0 (T ) = J A + c( x) ⋅ (T − TA ) (2-20)
ou
J 0 (T ) =
(1 − x) J1 (T ) + xJ 2 (T ) (2-21)
como a linha de base virtual no intervalo T1 ≤ T ≤ T2. Para situações em que a taxa
de aquecimento/resfriamento durante o evento for constante é válida uma
expressão semelhante em termos do tempo. Esta linha de base interpolada é
conhecida como linha de base sigmoide (Menczel & Prime, 2008) porque às vezes
adota essa forma.
O uso da Eq.(2-21) requer o conhecimento de x(T ). Mas a cristalinidade relativa
requer uma linha de base virtual J0(T ). Portanto, linha de base virtual e
cristalinidade relativa tem ser avaliadas simultaneamente. Um procedimento
iterativo resolve a questão; por exemplo:
• Uma primeira aproximação à cristalinidade relativa x[1] é obtida integrando o
fluxo de energia com a linha de base reta J0[0], a “aproximação zero” à linha de
base.
• Utilizando x[1] computa-se uma primeira aproximação J0[1] à linha de base virtual
através da Eq.(2-21).
• Com a linha de base J0[1] avalia-se uma segunda aproximação à cristalinidade
relativa x[2] utilizando a Eq.(2-10).
E assim seguindo, até que duas iterações sucessivas resultem em valores que
defiram em menos do que um limite de tolerância preestabelecido. Do ponto de
vista prático a convergência pode ser verificada em forma integral, através da
23
avaliação sucessiva de E0, a área entre J e J0, Eq.(2-9). A experiência indica que
apenas três ou quatro iterações são necessárias.
A Figura 2-12 mostra um exemplo particularmente expressivo, a cristalização a frio
de PET a taxa de aquecimento de 3,5°C/min após um aquecimento rápido da
temperatura ambiente até 80°C. Neste caso a energia liberada durante o evento,
atribuível ao calor latente de cristalização, é avaliada em E0 = 85,7 mJ utilizando a
linha de base sigmoide; com a linha de base reta teria se obtido E0 = 180,6 mJ,
mais do dobro! O efeito sobre a cristalinidade relativa e a taxa de cristalização, as
funções básicas utilizadas para a modelagem cinética é também significativa
(Figura 2-14).
Figura 2-13. Linha de base sigmoide para a cristalização não isotérmica do PET a
3,5°C/min (massa da amostra: 5,5 mg). A curva azul inteira corresponde ao fluxo
de energia como função do tempo J(t ) e a reta azul de traços à linha de base virtual
reta J 0[ 0 ] P1 é o ponto inicial do evento e P2 é o ponto final. As retas vermelhas
correspondem às linhas de base anterior e posterior J1e J2. A curva lilás é a linha
de base sigmoide J 0[ 3 ] obtida após três iterações. Fonte: R. M. R. Wellen (2007).
(a) (b)
Figura 2-14. Efeito da escolha de linha de base virtual sobre a cristalinidade
relativa (a) e a taxa de cristalização (b). Mesmo sistema e condições do exemplo
anterior.
24
2.5. Calor latente de cristalização e cristalinidade
O calor latente de cristalização por unidade de massa ou entalpia específica de
cristalização é simplesmente:
E
∆H c =0 (2-22)
mS
∆H c
∆X c = X 2 − X 1 = (2-24)
∆H m0
∆H c
Xc = (2-25)
∆H m0
25
O ∆Hm° é geralmente determinado utilizando técnicas microcalorimétricas com
monocristais em equilíbrio com o fundido ou é extrapolado a partir de valores
determinados experimentalmente a taxas finitas. Valores bastante diferentes são
regularmente reportados na literatura para o mesmo polímero 16. Por esse motivo, é
recomendável utilizar dados tomados de compilações críticas recentes; a seleção
dos valores mais confiáveis é tarefa de especialistas. Normalmente o calor latente de
fusão do polímero 100% cristalino é reportado à temperatura de fusão de equilíbrio
Tm° (superior à temperatura de fusão ordinária medida em amostras semicristalinas
imperfeitas e taxas finitas).
Tm0
∆H m0
Tc
=
∆H m0
Tm0
−
∫
Tc
[cam (T ) − ccr (T )] dT (2-26)
onde cam e ccr são os calores específicos da fase amorfa e da fase cristalina,
respectivamente. Se os calores específicos podem ser considerados independentes
da temperatura (como é caso quando a diferença de temperaturas Tm° − Tc é
relativamente pequena) a Eq.(2-26) fica:
∆H m0
Tc
= ∆H m0
T 0
m
(
− ∆c Tm0 − Tc ) (2-27)
onde ∆c = cam − cc. Se os calores específicos são considerados como funções lineares
da temperatura:
cam =cam
0
1 + β am (T − TR )
(2-28)
ccr =ccr0 1 + β cr (T − TR )
onde cam° = cam (TR), ccr° = ccr (TR) e TR é uma temperatura de referência, usualmente
− −
25°C; β am e βcr são coeficientes da ordem 10 3 °C 1. Substituindo na Eq.(2-26) e
integrando
16Por exemplo, valores entre 128 e 166 kJ/kg tem sido reportados na literatura para o calor latente de
fusão do PET completamente cristalino; o valor mais confiável, recomendado na última edição do
Polymer Handbook (Brandrup et al., 1999), é ∆Hm° = 140 ± 5 kJ/kg. Veja também Mark (1999) e Van
Krevelen & Nijenhuis (2009). Para os valores extremos veja Kirshenbaum (1965) e Illers (1980).
26
∆H m0 = ∆H m0 − ∆c 0 (Tm0 − Tc ) 1 − 1 2 K (Tm0 + Tc − 2TR ) (2-29)
Tc Tm0
β cr ccr0 − β am cam
0
K= (2-30)
∆c 0
Por exemplo, para o PET temos cam° = 1,55 J/g°C e ccr° = 1,15 J/g°C a TR = 25°C;
isto é, ∆c°= 0,40 kJ/kg°C. Utilizando os coeficientes “genéricos” de temperatura, β am
− −
= 0,0012 °C 1 e βcr = 0,0030 °C 1 (Van Krevelen & Nijenhuis, 2009), temos, de
− −
acordo com a Eq.(2-30), K ≈ 4,0·10 3 °C 1. Levando em consideração que Tm° =
280°C, a Figura 2-15 mostra a correção do calor latente de ∆Hm°(T m°) − ∆Hm°(Tc)
como função da temperatura de cristalização Tc. A correção é significativa para
todos os valores de Tc; na zona típica de cristalização a frio (100 a 140°C) a correção
diminui o valor de ∆Hm° para 50 a 60% de seu valor à temperatura de fusão de
equilíbrio. Portanto, a correção por temperatura não é refinamento, mas parte
essencial da avaliação da cristalinidade, e justifica um estudo mais apurado das
capacidades caloríficas das fases.
Figura 2-15. Correção do calor latente de fusão do PET 100% cristalino pela
diferença entre temperatura de fusão de equilíbrio e temperatura de cristalização.
Linha cheia: calores específicos dependentes da temperatura; linha tracejada: calores
específicos independentes da temperatura (valores a 25°C utilizados no cálculo).
27
−1
1 − X c ρ cr
Xv =
1 + ⋅ (2-31)
X c ρ am
2.6. Fusão
Os eventos de fusão podem ser analisados com os mesmos procedimentos
utilizados na análise dos eventos de cristalização. As equações (2-10) e (2-14) que
definem a fração cristalizada (cristalinidade relativa) x e a taxa de cristalização c são
válidas para o processo de fusão, mas agora x é a fração fundida e c é a taxa de
fusão. Tempos, temperaturas, intervalos e taxas características são definidas e
avaliadas da mesma forma, sendo agora tempos, temperaturas, intervalos e taxas
de fusão.
A temperatura pico de fusão Tmp – temperatura em que a taxa de fusão é máxima – é
utilizada como temperatura característica de fusão em normas e textos de ciência
dos materiais. Porém em muitas aplicações, a temperatura em que se completa o
processo de fusão – que vamos chamar nestas notas ponto de fusão e representar
com o símbolo Tm – é mais expressiva (Menczel & Prime, 2008). A Figura 2-16
ilustra o caso para um polietileno de alta densidade (HDPE) com cristalinidade em
torno de 62%.
28
Figura 2-16. Fluxo de energia versus temperatura durante a fusão de HDPE de
(cristalinidade ~63%) aquecido a 10°C/min, mostrando a temperatura inicial e final
do evento T1 e T2, e a temperatura do pico de fusão Tmp.
29
Tanto a estrutura dos picos quanto os parâmetros do evento (temperaturas, taxas, etc.)
encontram aplicação tanto para a caracterização morfológica dos sistemas poliméricos
quanto para o desenho e otimização do processamento dos mesmos. Os picos de
cristalização são usualmente mais simétricos do que os picos de fusão, se iniciam mais
abruptamente e sua cauda posterior é maior; características opostas são observadas nos
picos de fusão: são assimétricos, com cauda anterior e terminam mais abruptamente.
Os parâmetros de cristalização são usualmente mais sensíveis às condições do teste
(e.g., taxa de aquecimento/resfriamento na cristalização não isotérmica) e à composição
da amostra (e.g., teor de carga em compósitos de matriz polimérica) do que os
parâmetros de fusão, relativamente insensíveis a essas características. Por esse motivo,
a análise do processo de cristalização – incluindo a modelagem macrocinética – é mais
utilizada em ciência de polímeros. Porém, o processo de fusão afeta criticamente o
processamento não formativo e é da maior importância na escolha das condições de
processamento e no estudo da dispersão de cargas durante o processamento. No
processo formativo (extrusão, injeção, etc), o processo de cristalização desempenha papel
semelhante.
Seis exemplos complementam este capitulo. O Exemplo 1 ilustra em detalhe os
procedimentos desenvolvidos no capítulo para o caso de cristalização a frio PET
puro e blendas PET/PS.
Os Exemplos 2 e 3 consideram – de forma mais condensada – a cristalização não
isotérmica a partir do fundido em compósitos de matriz poliméricas: PHB/fibra
vegetal e PET/ZnO. Os dados brutos correspondentes a alguns testes discutidos
nestes exemplos serão disponibilizados aos estudantes que desejem praticar a
análise de dados
Os Exemplos 4, 5, 6 e 7 consideram tópicos “especiais”: a constância da taxa de
resfriamento durante eventos cristalização, a reprodutibilidade dos resultados de
DSC, o tratamento de picos complexos, e a cristalização de blendas de dois
polímeros semicristalinos.
30
Apêndice 1: Parâmetros de fusão de termoplásticos semicristalinos
∆H m0 Tm0 ∆Cm
Polímero
(J/g) (°C) (J/g°C)
PE 293 141 0,25
PP 207 188 0,29
PTFE 82 332 0,25
POM 326 184 0,23
PA-6 230 260 0,30
PA-66 255 301 0,32
PET 140 280 0,25
PBT 145 245 0,32
PLA 78 207 0,24
PCL 157 69 0,19
PHB 146 197 0,25
PBAT 114 160 0,25
i-PVC 176 273 0,20
i-PS 94 184 0,22
31
32
Exemplo 1
O exemplo apresenta uma análise de 30 testes de DSC em blendas PET/PS, com
amostras contendo entre 0% (PET puro) e 60% em massa de PS. Todos os testes
envolveram um estágio único de aquecimento entre a temperatura ambiente (20 a
40°C) e 300°C, a taxas de aquecimento (constantes ao longo de cada teste) entre 1 e
50°C/min. Todos os testes foram realizados pela Prof. Renate Wellen em 2003-2004
como parte de seu trabalho doutoral. 16 Os dados foram obtidos no instrumento de
marca Shimadzu, modelo DSC-50, em atmosfera de ar, com amostras 5 e 10 mg
(±0,1 mg) substancialmente amorfas. As blendas foram preparadas em misturador
interno de laboratório com polímeros previamente secos em estufa e resfriadas a
0°C imediatamente para minimizar a cristalização do PET.
Em todos os casos serão analisados os eventos de cristalização a frio e de fusão do
PET (o PS é um polímero amorfo) identificados, utilizando o programa INTEGRAL
(veja seção 5.1). A análise do evento térmico de transição vítrea (transformação de
segunda ordem), facilmente identificável no output do DSC na faixa de 60 a 80°C,
não é considerado neste exemplo. Além dos parâmetros numéricos, o programa
INTEGRAL avalia a fração cristalizada (ou fundida, dependendo do tipo de evento) e
a taxa de cristalização (ou fusão) como funções do tempo e da temperatura.
Os resultados “brutos” registrados pelo software do instrumento incluem o tempo
(um ponto por segundo), a temperatura da amostra (com precisão de ±0,01°C), e o
fluxo de energia entre a vizinhança e a amostra (com precisão de ±0,1 µW).
Os testes estudados correspondem a três séries:
• Testes com PET puro, aquecido a taxas de 1,0 - 2,5 - 5,0 - 7,5 - 10 – 15 – 20 –
30 - 40 - 50°C/min.
• Testes com a blenda PET/20%PS, aquecidos a taxas de 1,0 - 2,5 - 5,0 - 7,5 - 10
– 15 – 20 – 30 - 40 - 50°C/min.
• Testes com PET puro e blendas PET/PS com 1 - 2 - 3 - 5 - 10 - 15 - 20 - 30 - 40
e 60 % de PS, aquecida à taxa uniforme de 10°C/min.
Três estudos podem ser desenvolvidos com base nos dados disponibilizados:
(1) Efeito da taxa de aquecimento para teor de PS wS = 0% (PET puro).
(2) Efeito da taxa de aquecimento para teor de PS wS = 20%.
(3) Efeito do teor de PS à taxa de aquecimento φ = 10°C/min.
Nas seções seguintes são apresentados os resultados destes três estudos.
16Renate Maria Ramos Wellen, Cristalização a frio do PET e das blendas PET/PS e PET/SAN.
Tese de Doutorado em Engenharia de Processos. Universidade Federal de Campina Grande,
Campina Grande PB (2007); todos os testes foram reanalisados pelo autor destas Notas a
partir dos arquivos originais do DSC. Veja também Wellen et al (2011).
33
Parte 1: Efeito da taxa de aquecimento na cristalização e fusão de PET
puro
Os dez testes de DSC analisados nesta parte foram realizados sobre amostras de
PET (puro) submetidas a um estágio de aquecimento entre a temperatura ambiente
(20 a 50°C) e 300°C, à taxas de aquecimento nominais de 1, 2,5, 5, 7,.5, 10, 15, 20,
30, 40 e 50°C/min. Dois eventos de mudança de fase são identificados em todos os
testes no gráfico de fluxo de energia versus temperatura (Figura E1-1):
• Cristalização a frio do PET à temperaturas entre 100 e 200°C;
• Fusão da fração cristalina do PET à temperaturas entre 200 e 300°C.
34
Tabela E1-1. Massa de amostra e taxa de aquecimento calculada.
35
Cristalização a frio
Os resultados experimentais do DSC para a cristalização foram plotados em função
da temperatura e analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final do
evento (Figura E1-3).
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
36
(g) (h)
(i) (j)
Figura E1-3. Fluxo de energia versus temperatura durante a cristalização a frio em
amostras de PET puro submetidas a diferentes taxas de aquecimento (indicadas),
mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base virtual reta
(linha de traços).
37
Figura E1-4. Cristalinidade relativa versus temperatura. PET puro a diferentes
taxas de aquecimento (indicadas).
Figura E1-5. Taxa de cristalização versus temperatura. PET puro a diferentes taxas
de aquecimento (indicadas).
38
Tabela E1-2. Parâmetros da cristalização a frio para todos os testes de PET puro
T1% °C 101,7 104,3 97,4 104,8 116,5 118,4 121,0 123,3 128,8 131,5 ↑
T50% °C 109,7 114,3 119,0 122,0 124,4 130,0 133,4 139,0 144,9 152,0 ↑
T99% °C 122,9 135,7 137,6 140,9 143,2 144,8 151,0 162,7 171,2 189,9 ↑
∆Tc °C 21,2 31,4 40,2 36,1 26,7 26,4 30,0 39,4 42,4 58,4 ↑
Tc °C 110,1 112,4 117,6 120,4 125,5 128,7 132,0 137,3 142,7 148,9 ↑
∆Hc J/g 20,2 23,0 22,7 20,6 23,4 20,9 21,6 22,3 22,3 25,2 ≈
∆Xc % 14,4 16,4 16,2 14,7 16,7 14,9 15,4 15,9 15,9 18,0 ≈
c1-99% min−1 0,046 0,078 0,121 0,202 0,361 0,545 0,634 0,707 0,847 0,797 ↑
c20-80% min−1 0,093 0,193 0,301 0,486 0,833 1,069 1,277 1,490 1,655 1,575 ↑
cmax min−1 0,100 0,235 0,331 0,576 1,228 1,289 1,566 1,870 2,086 2,080 ↑
τ½ min 10,0 5,4 5,6 3,2 1,23 1,11 0,85 0,75 0,63 0,61 ↓
As setas ↑↓ indicam tendência crescente/decrescente do valor do parâmetro com o aumento da taxa de aquecimento;
≈ indica ausência de tendências (parâmetro aproximadamente constante, independente da taxa de aquecimento).
39
Observa-se que a temperatura do pico de cristalização aumenta com a taxa de
aquecimento, entre 110°C (a 1°C/min) e 149°C (a 50°C/min), um incremento de
39°C. As temperaturas inicial e final do evento (medidas a 1% e 99% da
transformação) variam em 30 e 67°C, respectivamente, no mesmo intervalo (Figura
E1-6).
Figura E1-6. Temperatura inicial T1% , pico Tc e final T99% do evento de cristalização.
17A cristalinidade é avaliada a partir do calor latente de cristalização por unidade de massa
(determinado por integração do pico) utilizando o valor ∆H°m = 140 J/g para o calor de fusão
do PET 100% cristalino, valor que não foi corrigido pela diferença entre as temperaturas de
fusão e cristalização.
40
(a) (b)
Figura E1-7. (a) Intervalo de temperatura de cristalização ∆Tc = T99% − T1% . (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento ∆Xc = ∆Hc/∆H°m = 15.9 ± 1.1 %.
Figura E1-8. Taxas de cristalização média c 1-99% e c20-80% e máxima cmax (a T = Tc).
41
Fusão
Os dados do DSC para a fusão foram plotados em função da temperatura e
analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final do evento (Figura
E1-10).
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
42
(g) (h)
(i) (j)
Figura E1-10. Fluxo de energia versus temperatura durante a fusão de PET puro
submetido a diferentes taxas de aquecimento (indicadas), mostrando a temperatura
inicial e final do evento e a linha de base virtual reta (linha de traços).
43
Figura E1-11. Fração fundida versus temperatura. PET puro a diferentes taxas de
aquecimento (indicadas). As linhas de traços correspondem aos testes para baixas
taxas de aquecimento que não seguem o padrão.
Figura E1-12. Taxa de fusão versus temperatura. PET puro a diferentes taxas de
aquecimento (indicadas).
44
Tabela E1-3. Parâmetros da fusão para todos os testes de PET puro.
T1% °C 228,4 221,9 219,5 219,9 221,5 219,2 222,3 223,3 225,0 225,9 ≈
∆T50% °C 2,2 2,3 3,3 3,4 3,4 3,6 3,2 2,5 1,5 1,4 ≈
T99% °C 259,3 258,5 256,4 256,3 256,6 260,5 262,9 267,1 271,7 277,2 ↑
∆Tm °C 30,9 36,6 36,9 36,4 35,9 41,3 40,6 43,8 46,6 51,3 ≈
Tmp °C 253,3 249,9 248,7 248,9 248,6 249,7 249,8 250,2 250,9 253,6 ↑
Tm °C 260,0 260,2 258,4 258,7 259,3 263,4 267,5 272,0 277,2 282,4 ↑
∆Hm J/g 34,4 36,1 29,3 30,5 31,9 32,3 31,5 30,0 28,3 26,6 ↓
Xc % 24,5 25,8 21,0 21,8 22,8 23,1 22,5 21,4 20,2 19,0 ↓
c1-99% min−1 0,033 0,070 0,139 0,213 0,294 0,380 0,520 0,727 0,905 1,039 ↑
c20-80% min−1 0,054 0,116 0,221 0,349 0,487 0,683 0,915 1,320 1,716 1,916 ↑
cmax min−1 0,064 0,159 0,312 0,488 0,654 0,898 1,167 1,639 2,147 2,322 ↑
τ½ min 24,2 11,7 5,9 4,1 2,9 2,3 1,44 0,95 0,72 0,61 ↓
As setas ↑↓ indicam tendência crescente/decrescente do valor do parâmetro com o aumento da taxa de aquecimento;
≈ indica ausência de tendências (parâmetro aproximadamente constante, independente da taxa de aquecimento).
45
A temperatura inicial de fusão, assim como a temperatura pico, em torno de 223,
245 e 250°C, respectivamente, mostram pequena variação (5 a 7°C) com a taxa de
aquecimento. Já o ponto de fusão cristalino mostra uma dependência significativa,
variando de 258°C para 282°C (24°C) quando a amostra é aquecida entre 1°C/min.
O intervalo de fusão, ∆Tm = T99% – T1% varia entre 31°C e 51°C no intervalo de taxas
de aquecimento testadas (Figura E1-14a).
A cristalinidade sofre uma queda de 25% para 15% (6%) quando a taxa de
aquecimento varia entre 1°C/min e 50°C/min. Sendo a incerteza da cristalinidade
da ordem de ±2%, a variação – ainda que pequena – é estatisticamente significativa.
O mesmo comportamento peculiar (mínimo relativo em torno de 5°C/min) é
observado neste caso (Figura E1-14b).
Figura E1-13. Temperatura inicial T1% , temperatura pico Tp e ponto de fusão Tm.
(a) (b)
Figura E1-14. (a) Intervalo de temperatura de fusão ∆Tm = T99% − T1% . (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento Xc = ∆Hm/∆H°m.
46
A taxa de fusão aumenta significativamente com a taxa de aquecimento. As taxas
médias global ( c 1-99% ) e central c 20-80% são 32 e 36 vezes maiores, respectivamente,
quando a amostra é aquecida a 50°C/min que quando é aquecida a 1°C/min.
Nesse intervalo, a taxa máxima (cmax) aumenta 36 vezes (Figura E1-15). O tempo
necessário para fundir 50% do polímero cristalizado (τ½) varia entre 24 min (a
1°C/min) e 36 s (a 50°C/min). O “tau um-meio” é inversamente proporcional à taxa
de fusão na primeira metade do evento (Figura E1-16).
Figura E1-15. Taxa de fusão média global c 1-99% e central c20-80% , e máxima cmax.
47
Parte 2: Efeito da taxa de aquecimento na cristalização e fusão da
blenda PET/20%PS
Os testes de DSC analisados nesta seção foram realizados sobre amostras da
blenda com 80% PET e 20% PS submetidas a um estágio único de aquecimento
entre a temperatura ambiente (20 a 50°C) e 300°C, a taxas de aquecimento
nominais de 1, 2,5, 5, 7,5, 10, 15, 20, 30, 40 e 50°C/min. Dois eventos de
mudança de fase são identificados em todos os testes no gráfico de fluxo de energia
versus temperatura (Figura E1-17):
• Cristalização a frio do PET à temperaturas entre 100 e 225°C;
• Fusão da fração cristalina do PET à temperaturas entre 225 e 300°C.
48
Figura E1-18. (a) Fluxo de energia versus temperatura entre os eventos de
cristalização e fusão. (b) Determinação do ponto de inflexão do gráfico (a) através do
plot suavizado da derivada do fluxo de energia versus temperatura.
49
Figura E1-19. Diferença relativa entre as taxa de aquecimento real e nominal.
Cristalização a frio
Os dados do DSC para a cristalização foram plotados em função da
temperatura e analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final do
evento (Figura E1-20).
(a) (b)
(c) (d)
50
(e) (f)
(g) (h)
(i) (j)
Figura E1-20. Fluxo de energia versus temperatura durante a cristalização a frio
em amostras da blenda PET/20%PS submetidas a diferentes taxas de aquecimento
(indicadas), mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base
virtual reta (linha de traços).
51
Os picos foram integrados utilizando o programa INTEGRAL, para obter a fração
cristalizada (cristalinidade relativa) e o pico normalizado (taxa de cristalização)
como funções da temperatura ou do tempo desde o início do evento, apresentadas
nas Figuras E1-21 e E1-22, para todos os testes. O programa fornece uma série de
parâmetros numéricos (temperaturas, tempos, taxas, cristalinidade, etc.), alguns
deles reportados na Tabela E1-5
52
Tabela E1-5. Parâmetros de cristalização a frio para todos os testes de PET/20%PS.
T1% °C 102,6 108,9 109,0 114,2 116,0 118,8 126,8 128,9 146,4 161,0 ↑
T½ °C 121,1 127,9 132,0 138,2 142,0 148,6 155,1 160,4 174,4 183,8 ↑
T99% °C 130,9 139,1 145,7 151,7 155,8 168,2 173,1 187,2 200,4 213,6 ↑
∆Tc °C 28,3 30,2 36,7 37,5 39,8 49,4 46,2 58,3 54,0 47,0 ↑
Tc °C 122,3 129,8 133,9 139,6 143,1 151,5 155,9 163,4 174,4 183,2 ↑
∆Hc J/g 28,6 22,4 23,2 22,1 26,4 20,8 25,7 24,7 26,0 15,6 ≈
∆Xc % 20,4 16,0 16,5 15,8 18,8 14,9 18,4 17,6 18,6 11,2 ≈
c1-99% min−1 0,035 0,081 0,133 0,196 0,245 0,296 0,417 0,481 0,697 1,025 ↑
c20-80% min−1 0,070 0,122 0,236 0,381 0,551 0,533 0,866 0,771 1,229 1,566 ↑
cmax min−1 0,102 0,200 0,324 0,481 0,670 0,705 1,014 0,982 1,402 1,738 ↑
τ½ min 22,9 9,0 5,8 4,1 3,4 2,5 1,8 1,46 0,94 0,55 ↓
As setas ↑↓ indicam tendência crescente/decrescente do valor do parâmetro com o aumento da taxa de aquecimento;
≈ indica ausência de tendências (parâmetro aproximadamente constante, independente da taxa de aquecimento).
53
Em geral, os picos de cristalização mostram um ombro durante a fase inicial do
processo cristalização. Os picos são quase simétricos. Para baixas taxas de
aquecimento mostram uma pequena assimetria, ∆T½ = Tc – T½, positiva (cabeça
maior que a cauda) entre 1 e 3°C. Para taxas de aquecimento iguais ou maiores que
20°C/min são visualmente simétricos (exceto para 30°C/min, possivelmente devido
o significativo ombro para essa taxa).
A temperatura do pico de cristalização aumenta com a taxa de aquecimento, entre
121°C (a 1°C/min) e 183°C (a 50°C/min): um incremento de 62°C. As temperaturas
inicial e final do evento (medidas a 1% e 99% da transformação) variam em 58 e
83°C, respectivamente, no mesmo intervalo (Figura E1-23).
(a) (b)
Figura E1-24. (a) Intervalo de temperatura de cristalização ∆Tc = T99% − T1% . (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento ∆Xc = ∆Hc/∆H°m, = 22,1 ± 2,4 % (média
e desvio obtidos excluindo o valor a 50 °C/min).
54
O intervalo de cristalização, ∆Tc = T99% – T1% , aumenta com a taxa de aquecimento,
de 28°C a 1°C/min até um máximo de 58°C a 30°C/min (Figura E1-24a). A
cristalinidade desenvolvida durante o evento é independente da taxa de
aquecimento, sendo ∆Xc = 17,3 ± 1,8 % (excluindo o valor obtido a 50°C/min);
Figura E1-24b.
A taxa de cristalização aumenta significativamente com a taxa de aquecimento,
ainda se estabiliza para elevadas velocidades. As taxas médias global ( c 1-99% ) e
central c 20-80% são 29 e 22 vezes maiores, respectivamente, quando a amostra é
aquecida a 50°C/min que quando é aquecida a 1°C/min. Nesse intervalo, a taxa
máxima (cmax) aumenta 17 vezes (Figura E1-25).
O tempo necessário para transformar 50% do polímero cristalizável (τ½) varia entre
23 min (a 1°C/min) e 30 s (a 50°C/min). O “tau um meio” é inversamente
proporcional à taxa de cristalização na primeira metade do evento (Figura E1-26).
55
Fusão
Os dados da fusão foram plotados em função da temperatura e analisados
visualmente para determinar o ponto inicial e final do evento (Figura E1-27).
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
56
(g) (h)
(i) (j)
Figura E1-27. Fluxo de energia versus temperatura durante a fusão de amostras
da blenda PET/20%PS submetidas a diferentes taxas de aquecimento (indicadas),
mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base virtual reta
(linha de traços).
57
Figura E1-28. Fração fundida versus temperatura. Todos os testes. As linhas de
traços correspondem aos testes para baixas taxas de aquecimento que não seguem
o padrão.
58
Tabela E1-6. Parâmetros da fusão para todos os testes de PET/20%PS
T1% °C 242,9 226,4 223,5 223,2 223,1 223,8 225,4 222,4 224,7 225,5 ≈
T50% °C 252,9 248,4 246,1 246,2 244,2 245,5 246,0 247,3 250,7 250,1 ≈
T99% °C 260,2 258,1 256,7 257,5 255,6 258,5 260,8 265,8 274,1 278,6 ↑
∆Tm °C 17,3 31,7 33,2 34,3 32,5 24,3 35,4 43,4 49,4 53,1 ↑
Tmp °C 250,8 – 255,7 249,8 249,2 249,8 247,1 248,4 248,4 249,8 252,5 251,6 ≈
Tm °C 261,3 259,6 259,5 260,6 258,8 262,8 265,6 270,5 280,3 286,2 ↑
∆Hm J/g 16,7 23,6 31,1 29,6 33,1 27,8 29,5 27,7 24,0 23,2 ↓
Xc % 12,0 16,8 22,2 21,2 23,6 19,8 21,1 19,8 17,1 16,6 -
c1-99% min1 0,059 0,080 0,154 0,224 0,317 0,452 0,594 0,730 0,855 1,003 ↑
c20-80% min1 0,079 0,136 0,249 0,371 0,527 0,783 1,055 1,377 1,596 1,821 ↑
cmax min1 0,076 – 0,096 0,175 0,336 0,495 0,684 1,005 1,299 1,700 1,960 2,212 ↑
τ½ min 11,3 10,0 5,1 3,7 2,9 1,72 1,21 0,97 0,73 0,55 ↓
As setas ↑↓ indicam tendência crescente/decrescente do valor do parâmetro com o aumento da taxa de aquecimento; ≈ indica
ausência de tendências (parâmetro aproximadamente constante, independente da taxa de aquecimento).
59
Os picos de fusão são visualmente simples, exceto no caso (anômalo?) do pico
duplo no teste a 1°C/min. A temperatura inicial e pico de fusão mostram um
pequeno aumento com a taxa de aquecimento, mas podem ser consideradas
aproximadamente independentes da mesma: T1% = 224,2 ± 1,3°C e Tp = 249,6 ±
1,6°C. O ponto fusão varia entre 260°C e 280°C. Todas as temperaturas mostram
um comportamento peculiar, com um mínimo em torno de 5°C/min (Figura E1-30).
Figura E1-30. Temperatura inicial T1% , temperatura pico Tp e ponto de fusão Tm.
O intervalo de cristalização, ∆Tc = T99% – T1% varia entre 30°C e 50°C no intervalo de
taxas de aquecimento testadas (Figura E1-31a). Os picos são assimétricos, com
uma pequena assimetria positiva (cauda maior que a cabeça), da ordem 1.5 a
3.5°C. A cristalinidade sofre uma queda de 23% para 16% (7%) quando a taxa de
aquecimento varia entre 5°C/min e 50°C/min. Sendo a incerteza da cristalinidade
da ordem de ±2%, a variação – ainda que pequena – é estatisticamente significava
(Figura E1-31b).
(a) (b)
Figura E1-31. (a) Intervalo de temperatura de fusão ∆Tm = T99% − T1% . (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento Xc = ∆Hm/∆H°m.
60
A taxa de fusão aumenta significativamente com a taxa de aquecimento. As taxas
médias global ( c 1-99% ) e central c 20-80% são 32 e 36 vezes maiores, respectivamente,
quando a amostra é aquecida a 50°C/min que quando é aquecida a 1°C/min.
Nesse intervalo, a taxa máxima (cmax) aumenta 36 vezes (Figura E1-32).
Figura E1-32. Taxa de fusão média global c 1-99% e central c20-80% , e taxa máxima de
fusão cmax.
O tempo necessário para fundir 50% do polímero cristalizado (τ½) varia entre 24
min (a 1°C/min) e 36 s (a 50°C/min). O “tau um meio” é inversamente proporcional
à taxa de fusão na primeira metade do evento (Figura E1-33).
61
Comparação dos fenômenos de mudança de fase no PET puro e nas
blendas
Nesta seção são comparados os resultados obtidos para PET (puro) e para blenda
PET/20% PS no evento de cristalização a frio.
Para o evento de fusão, com a possível exceção do teste a 1°C/min, todos os
parâmetros de fusão do PET na blenda PET/20%PS são virtualmente idênticos aos
observados para a fusão de PET puro. A presença de 20% PS não parece ter afetado
o processo de fusão.
Os picos de cristalização são relativamente simétricos em todos os casos. Porém os
picos para PET puro apresentam uma moderada assimetria negativa, contrastando
com a moderada assimetria positiva dos picos de cristalização na blenda (Figura
E1-34).
Figura E1-34. Assimetria dos picos, medida como a diferença entre a temperatura
pico (Tc ) e a temperatura para 50% de cristalinidade relativa (T½). Assimetria
positiva (Tc > T½) indica cabeça maior que cauda; assimetria negativa (Tc < T½)
indica cauda maior que cabeça.
No PET puro observam-se ombros muito fracos (no limite de identificação visual) à
direita do pico (a temperatura maior que a temperatura pico) e somente para baixas
taxas de aquecimento; para taxas iguais ou maiores que 10°C/min os picos são
visualmente simples. Na blenda, se localizam à esquerda do pico principal (a
temperatura menor que a temperatura pico); os ombros estão presentes para todas
as taxas de aquecimento e são mais definidos, especialmente para taxas elevadas
(Figura E1-35).
62
(a) (b)
Figura E1-35. Exemplo de ombros identificados nos gráficos de fluxo de energia
versus temperatura para a cristalização a frio do PET. (a) PET puro a 2.5°C/min:
ombro apenas identificável à direita do pico. (b) Blenda PET/20%PS a 30/min:
ombro bem definido à esquerda do pico.
63
Figura E1-37. Intervalo de temperatura de cristalização no PET puro e na blenda
PET/20%PS.
64
Uma forma de verificar a confiabilidade potencial dos valores de cristalinidade
obtidos consiste em avaliar a diferença entre a cristalinidade determinada no
fus
evento de fusão (Xc ) e o aumento de cristalinidade verificado durante o evento de
cris
cristalização a frio (∆Xc ). A diferença em questão corresponde – em princípio – à
cristalinidade inicial da amostra (X0). Os resultados para taxas de aquecimento
entre 5 e 30 °C/min rendem X0 = 6.5 ± 1.2 % para PET puro e X0 = 4,3 ± 1,5 % para
a blenda PET/20%PS (Figura E1-39).
fus cris
A existência diferenças negativas (Xc < ∆Xc ) indica que o calor latente de fusão
não foi corretamente avaliado, tal vez porque a fusão se iniciou antes do “ponto
inicial” determinado visualmente. A presença de tendências nos resultados, em
relação à taxa de aquecimento, indicam a existência de artifícios introduzido
durante o teste (a cristalinidade inicial das amostras – antes do teste – não pode
depender da taxa de aquecimento a que serão submetidas no futuro!).
65
Figura E1-40. Taxa máxima de cristalização no PET puro e na blenda PET/20%PS.
Figura E1-41. Tempo necessário para cristalizar 50% do PET cristalizável (τ½).
66
Parte 3: Efeito do teor de PS na cristalização a frio e fusão nas blendas
PET/PS aquecidas a 10°C/min
Os testes de DSC analisados nesta parte foram realizados sobre amostras de
blendas com conteúdo de PS entre 0% (PET puro) e 60% em massa, submetidas a
um estágio de aquecimento entre a temperatura ambiente (20 a 50°C) e 300°C à
taxa de aquecimento nominal de 10°C/min. A massa da amostra varou entre 5 e 10
mg (± 0.1 mg), de acordo com a Tabela E1-7:
0 6,8 6,80
1 7,9 7,82
2 7,0 6,86
3 5,8 5,63
5 6,7 6,37
10 8,8 7,92
15 8,1 6,89
20 5,0 4,00
30 9,6 6,72
40 8,0 4,80
60 9,1 3,64
Além da transição vítrea do PET (que não é analisada neste relatório), dois eventos
de mudança de fase são identificados em todos os testes no gráfico de fluxo de
energia normalizado 18 versus temperatura (Figura E1-42):
• Cristalização a frio do PET à temperaturas entre 100 e 200°C
• Fusão da fração cristalina do PET à temperaturas entre 200 e 300°C
Em alguns testes, o estágio de aquecimento foi conduzido até uma temperatura
máxima de 400°C. Nesses casos o fluxo de energia se torna irregular a partir de
320-330°C, observando-se às vezes um evento fortemente endotérmico,
possivelmente associado à decomposição do PS.
18Devido à ampla variação da massa de polímero cristalizável (PET) nas amostras, o fluxo
de energia foi normalizado divido pela massa de PET na amostra; chamamos ao resultado
potência específica.
67
Figura E1-42. Fluxo de energia versus temperatura. Devido a variação
relativamente ampla da massa da amostra, o fluxo de energia foi normalizado para
amostras de 7,5 mg.
68
Cristalização a frio
Os dados do DSC para a cristalização foram plotados em função da temperatura e
analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final (Figura E1-44).
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
69
(g) (h)
(i) (j)
(k)
Figura E1-44. Fluxo de energia versus temperatura durante a cristalização a frio
em amostras de PET puro submetidas a diferentes taxas de aquecimento
(indicadas), mostrando a temperatura inicial e final do evento e a linha de base
virtual reta (linha de traços).
70
Os picos foram integrados utilizando o programa INTEGRAL, para obter a fração
cristalizada e a taxa de cristalização como funções da temperatura ou do tempo
desde o início do evento, apresentadas nas Figuras E1-45 a E1-47, para todos os
testes. O programa fornece uma série de parâmetros numéricos (temperaturas,
tempos, taxas, cristalinidade, etc.), alguns deles reportados na Tabela E1-8.
Figura E1-45. Fração cristalizada como função do tempo desde o início do evento, para PET
(linha de traços) e blendas PT/PS (teor de PS indicado).
Figura E1-46. Fração cristalizada como função da temperatura, para PET (linha de
traços) e blendas PT/PS (teor de PS indicado).
71
Figura E1-47. Taxa de cristalização como função da temperatura, para PET (linha
de traços) e blendas PT/PS (teor de PS indicado).
Figura E1-48. Taxa de cristalização como função da fração cristalizada, para PET
(linha de traços) e blendas PT/PS (teor de PS indicado).
72
Tabela E1-8. Parâmetros de cristalização a frio para todos os testes a 10°C/min.
Teor de PS (%)
0 1 2 3 5 10 15 20 30 40 60
T1% °C 116,8 114,1 117,1 115,6 122,0 119,7 115,4 117,6 126,7 128,5 131,0
T50% °C 125,6 135,7 139,8 134,8 143,1 145,3 140,8 142,0 140,6 142,5 142,9
T99% °C 144,8 153,8 157,1 153,5 160,7 159,1 158,2 155,8 155,6 162,2 156,9
∆Tc °C 28,0 39,7 40,0 37,9 38,7 39,4 42,8 38,2 38,8 33,7 25,9
∆Hc J/g 23,5 20,9 23,7 20,9 25,5 23,5 21,6 26,1 27,8 20,8 23,0
∆Xc % 16,8 14,9 16,9 14,9 18,2 16,8 15,4 18,6 19,8 14,8 16,5
c1-99% min−1 0,344 0,244 0,243 0,259 0,252 0,249 0,228 0,256 0,338 0,289 0,379
c20-80% min−1 0,820 0,359 0,379 0,393 0,329 0,437 0,343 0,559 0,626 0,505 0,608
cmax min−1 1,052 0,439 0,424 0,374 0,434 0,616 0,470 0,675 0,723 0,619 0,811
τ½ min 1,15 2,60 2,86 2,37 2,47 3,03 3,00 3,14 1,73 1,78 1,43
* O segundo valor corresponde ao pico secundário (no caso de ombros valor aproximado entre colchetes)
73
A morfologia do pico de cristalização a frio é bastante complexa. Para PET puro (0%
PS), o pico de cristalização é simples e moderadamente assimétrico (assimetria
negativa). Para teores de PS entre 1% e 15% o pico é complexo: picos duplos para 2
a 5% PS, ombros bem definidos à esquerda do pico para 1%, 10% e 15% PS (Figura
E1-49). Para 20% o pico se torna simples e moderadamente assimétrico (assimetria
positiva) e para 40% se observa um fraco ombro à direita do pico. Picos simples,
virtualmente simétricos são observados para 30% e 60% PS.
74
Figura E1-50. Intervalo de cristalização (T1% , T99% ) e temperatura do pico (Tc ),
incluindo picos secundários e ombros (T'c ).
Figura E1-51. Taxa de cristalização média global ( c1−99% ) e central ( c20−80% ), e taxa
máxima de cristalização (cmax); os quadrados correspondem ao PET puro.
75
......
(a) (b)
Figura E1-52. (a) Tempo necessário para completar 50% da transformação (τ½). (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento (∆Xc).
Fusão
Os dados do DSC para a fusão foram plotados em função da temperatura e
analisados visualmente para determinar o ponto inicial e final (Figura E1-53).
(a) (b)
76
(c) (d)
(e) (f)
(g) (h)
77
(i) (j)
(k)
Figura E1-53. Fluxo de energia versus temperatura durante a fusão em amostras
de PET puro submetidas a diferentes taxas de aquecimento (indicadas), mostrando
a temperatura inicial e final do evento e a linha de base virtual reta (linha de
traços).
78
Figura E1-54. Fração fundida como função da temperatura.
79
Tabela E1-9. Parâmetros de fusão para todos os testes a 10°C/min.
Teor de PS (%)
Tendência Valor médio
0 1 2 3 5 10 15 20 30 40 60
T1% °C 221,5 221,2 223,7 224,3 223,9 224,7 224,5 224,3 223,7 225,8 224,9 ≈ 223,9 ± 1,4
T50% °C 245,2 245,4 245,0 246,2 244,5 245,0 246,9 244,3 244,6 246,8 246,2 ≈ 245,5 ± 0,9
T99% °C 256,6 256,9 256,6 257,2 255,6 257,3 258,3 255,5 257,5 259,9 260,3 ↑ -
∆Tm °C 35,1 35,7 32,9 32,9 31,7 32,6 33,8 31,2 33,8 34,1 35,4 ≈ 33,6 ± 1,3
Tp °C 248,6 249,1 248,1 249,5 247,6 248,0 250,5 247,1 247,5 249,5 248,6 ≈ 248,6 ± 1,0
Tm °C 259,3 259,4 259,6 259,7 258,1 260,9 261,2 258,3 262,1 263,6 263,9 ↑ -
∆Hm J/g 36,1 30,1 30,0 26,8 30,6 29,2 28,9 32,5 34,3 26,0 35,6 ≈ 30,9 ± 3,3
Xm % 25,8 21,5 21,4 19,2 21,9 20,9 20,6 23,2 24,5 18,6 25,4 ≈ 22,1 ± 2,4
c1-99% min−1 0,294 0,292 0,312 0,314 0,321 0,314 0,304 0,332 0,301 0,299 0,291 ≈ 0,307 ± 0,013
c20-80% min−1 0,487 0,489 0,506 0,502 0,516 0,515 0,491 0,538 0,504 0,511 0,504 ≈ 0,506 ± 0,014
cmax min−1 0,655 0,654 0,661 0,662 0,674 0,656 0,655 0,693 0,649 0,656 0,639 ≈ 0,660 ± 0,014
τ½ min 2,88 2,98 2,51 2,59 2,41 2,41 2,66 2,27 2,41 2,49 2,48 ≈ 2,55 ± 0,21
A seta ↑ indica tendência crescente do valor do parâmetro com o aumento do teor de PS. O símbolo ≈ indica ausência de tendências; nesse
caso é fornecido o valor médio para todos os testes (0 a 60% PS).
80
Os picos de fusão são simples e moderadamente assimétricos (∆T½ ≈ 3°C). Sua
característica mais marcante é quase completa uniformidade, que revela um
processo de fusão do PET virtualmente independente da presença de PS. A
temperatura pico de fusão, a cristalinidade desenvolvida, a taxa de fusão, etc. são
praticamente as mesmas para PET puro e para blendas contendo entre 1% a 60%
PS (Figuras E1-56 a E1-58). O único parâmetro que mostra uma clara tendência é
o ponto de fusão, que aumenta modestamente (4,8°C) no intervalo de teores de PS
testados.
Figura E1-56. Temperatura inicial (T1% ), temperatura pico (Tp) e ponto de fusão (Tm).
Figura E1-57. Taxa de fusão média global ( c1 99% ) e central ( c20 80% ) e máxima (cmax).
81
(a) (b)
Figura E1-58. (a) Tempo necessário para completar 50% da transformação (τ½). (b)
Cristalinidade desenvolvida durante o evento (∆Xc).
82
Exemplo 2
O exemplo considera a cristalização a de poli(etileno tereftalato) (PET) a partir do
fundido, na resina pura e em compósitos com óxido de zinco (ZnO), com 3% e 5%
de carga. Os materiais foram processados em misturador interno de laboratório. As
condições de processamento (baixo fator de enchimento, curto tempo de
processamento) foram escolhidas para promover a distribuição uniforme da carga
na matriz polimérica, minimizando a dispersão (redução do tamanho de partícula)
do ZnO (diâmetro médio ~15 µm) e a degradação da matriz.
83
(a)
(b)
Figura E2-1. Fluxo de calor versus tempo para os testes com PET (a) e PET/5%ZnO
(b) a 15°C/min.
84
A diferença entre J e J0 foi integrada no tempo para obter a cristalinidade relativa
(ou fração cristalizada) x e a taxa de cristalização c (ou fluxo de calor normalizado)
como funções da temperatura e do tempo. A integração foi realizada com ajuda do
programa INTEGRAL (descrito na terceira parte deste relatório).
85
Uma série de parâmetros do processo de cristalização não isotérmica (temperaturas
caraterísticas, taxas médias, etc.) assim como o calor latente de cristalização. O
programa INTEGRAL estima A partir desse valor a cristalinidade desenvolvida
durante o evento foi estimada assumindo que o calor latente de fusão por unidade
massa é ∆H °m = 140 J/g para o PET 100% cristalino, como recomendado na
literatura (Van Krevelen & Nijenhuis 2008)
PET puro
A Figura E2-3 apresenta os gráficos de taxa de cristalização versus temperatura (c-
T ) obtidos com as amostras de PET testadas a diferentes taxas de resfriamento (φ ).
Observa-se a presença de picos complexos nos testes realizados com taxas de
resfriamento iguais ou menores que 30°C/min (duplos para φ ≤ 20°C/min), assim
como a crescente assimetria dos picos na medida em que aumenta a taxa de
resfriamento. A Figura E2-4 apresenta os gráficos de cristalinidade relativa versus
temperatura (x-T ) obtidos com as amostras de PET testadas a diferentes taxas de
resfriamento. A complexidade dos picos de cristalização para baixas taxas de
resfriamento se reflete na distorção das sigmoides.
Figura E2-3. Taxa de cristalização versus temperatura para PET puro a diferentes
taxas de resfriamento (indicadas).
86
Figura E2-4. Cristalinidade relativa versus temperatura para PET puro a diferentes
taxas de resfriamento (indicadas).
212,5 0,586
10 219,7 203,5 170,8 - 0,308 1,62 46,7 33,4
195,8 0,308
208,7 0,711
15 215,7 195,5 160,5 - 0,368 1,35 46,5 33,2
187,4 0,394
203,2 0,735
20 210,8 186,6 143,9 - 0,408 1,21 44,1 31,5
182,6 0,505
25 213,0 189,9 132,3 201,6 10,8 1,063 0,427 0,93 43,2 30,9
30 206,7 188,9 129,9 195,0 11,5 1,530 0,562 0,60 36,4 26,0
35 205,8 187,1 118,8 192,6 14,0 1,710 0,634 0,54 35,8 25,5
35 208,0 188,7 135,7 193,6 12,9 1,786 0,708 0,55 32,1 22,9
40 203,0 180,6 100,3 190,3 14,7 1,561 0,520 0,56 29,6 21,1
40 207,2 185,9 136,9 191,2 14,7 1,854 0,826 0,54 30,7 21,9
40 205,5 187,1 133,5 191,3 12,7 2,158 0,834 0,47 32,1 23,0
87
(a)
(b)
(c) (d)
Compósitos PET/3%ZnO
As Figuras E2-6 e E2-7 apresentam os gráficos de taxa de cristalização versus
temperatura (c-T ) e cristalinidade relativa versus temperatura (x-T ) obtidos com as
amostras de PET/3%ZnO testadas a diferentes taxas de resfriamento (φ ). A Tabela
E2-2 apresenta uma seleção de parâmetros termodinâmicos e cinéticos
88
caraterísticos do evento de cristalização a partir do fundido estimados com o
programa INTEGRAL para o compósito PET/3%ZnO.
89
Tabela E2-2. Parâmetros de cristalização do PET/3%ZnO
10 219,1 209,3 188,8 209,0 7,5 1,202 0,746 1,01 53,3 38,1
15 212,1 200,2 180,7 199,8 9,0 1,543 1,017 0,82 52,5 37,5
20 211,3 199,5 177,7 199,2 9,7 1,910 1,257 0,61 52,8 37,7
25 213,1 200,9 184,7 200,2 8,8 2,600 1,674 0,52 50,8 36,3
30 211,0 198,5 179,7 197,8 9,0 2,975 1,814 0,44 48,3 34,5
35 210,7 198,9 178,7 198,3 9,4 3,361 2,071 0,35 51,0 36,4
40 208,7 195,0 158,5 194,9 8,7 3,664 1,684 0,37 48,9 34,9
40 208,6 195,5 173,1 195,1 8,1 4,125 2,290 0,35 50,6 36,1
40 208,2 194,9 169,4 194,5 9,3 3,822 2,169 0,35 48,8 34,9
(a) (b)
90
(c) (d)
Compósitos PET/5%ZnO
As Figuras E2-9 e E2-10 apresentam os gráficos de taxa de cristalização versus
temperatura (c-T ) e cristalinidade relativa versus temperatura (x-T ) obtidos com as
amostras de PET/5%ZnO testadas a diferentes taxas de resfriamento (φ ). A Tabela
E2-3 apresenta parâmetros caraterísticos para o compósito PET/3%ZnO.
91
Figura E2-10. Cristalinidade relativa versus temperatura para PET/5%ZnO
10 217,9 207,4 182,8 207,3 8,7 1,040 0,647 1,08 52,0 37,1
15 214,2 201,2 175,8 200,8 9,5 1,390 0,862 0,89 52,7 37,6
20 212,8 199,9 173,4 199,4 9,7 1,896 1,166 0,66 52,0 37,2
25 212,1 198,5 175,2 197,8 9,6 2,279 1,378 0,57 53,1 37,9
25 212,0 198,4 172,0 197,6 9,6 2,256 1,352 0,56 52,6 37,6
25 210,5 197,6 170,4 197,1 10,0 2,671 1,572 0,45 50,7 36,2
30 209,8 196,3 170,4 195,8 10,5 2,980 1,793 0,40 51,2 36,5
35 209,1 194,4 172,1 193,5 10,7 3,385 2,071 0,39 51,3 36,7
40 208,3 194,1 170,2 193,3 10,8 3,348 2,037 0,37 52,1 37,2
40 208,7 194,2 170,7 193,6 10,7 3,332 1,999 0,38 51,2 36,6
40 217,9 207,4 182,8 207,3 8,7 1,040 0,647 1,08 52,0 37,1
92
(a) (b)
(c) (d)
93
(b) O teor carga, 3% ou 5%, não muda significativamente os parâmetros de
cristalização; as pequenas diferenças observadas podem ser atribuídas à incerteza
experimental ou falta de uniformidade nas amostras.
Figura E2-12 ilustra o comportamento da temperatura. A temperatura média T50%
(a temperatura acima da qual cristaliza 50% do polímero cristalizável) é utilizada
como medida da temperatura de cristalização. Esta temperatura é preferível à
temperatura do pico de cristalização Tc (a temperatura em que a taxa de
cristalização é máxima), usualmente cotada, especialmente nos casos em a
cristalização envolve picos complexos. O intervalo de temperatura de cristalização é
definido como ∆Tc = T0,1% – T99,9% .
A temperatura de cristalização diminui com a taxa de resfriamento em todos os
casos; o efeito é mais pronunciado no PET puro do que nos compósitos. A
temperatura de cristalização é maior: o polímero cristaliza mais facilmentenos
compósitos do que na matriz pura. O intervalo de temperatura cristalização
diminui significativamente no PET puro e discretamente nos compósitos. O
intervalo é menor nos compósitos do que na matriz pura, resultado consistente
com a maior facilidade de cristalização na presença de carga.
(a) (b)
94
Figura E2-13. Cristalinidade como função da taxa de resfriamento para os três
materiais.
(a) (b)
95
compósitos: cmax ∝ φ
matriz pura: cmax ∝ φ
Super-resfriamento e nucleação
Ainda que o objetivo destas notas não seja interpretar microestrutural ou
mecanisticamente os resultados, cabe assinalar que resultados semelhantes aos
obtidos no caso presente são utilizados regularmente na literatura como evidência
do efeito nucleante da carga particulada. Indiscutivelmente, os resultados
apresentados indicam que carga facilita e promove o crescimento cristalino. Porém,
temperatura média, taxa máxima, e cristalinidade são parâmetros característicos
da etapa de crescimento cristalino, não da nucleação dos cristais, que pode ou não
ter lugar simultaneamente. Uma medida mais adequada do “efeito nucleante” da
carga antes da etapa de crescimento é o super-resfriamento necessário para iniciar
o processo de cristalização, definido como:
96
super-resfriamento parece ser independente da presença de carga, e só diminui
modestamente (~3°C) para φ ≥ 30°C/min.
A Figura E2-15 não prova a ausência de efeito nucleante do ZnO. Mas as Figuras
E2-12 a E2-14 também não provam sua presença. Em nossa opinião, não é
conveniente falar de efeito nucleante na base exclusivamente dos resultados
macroscópicos fornecidos pelo DSC ordinário. Equipamentos mais avançadas –
incluindo o DSC “ultra-rápido” (com taxas de aquecimento/resfriamento superiores
aos 1000°C/s) - e outras técnicas experimentais – podem fornecer informação mais
confiável sobre a nucleação em sistemas poliméricos 20.
97
98
Exemplo 3
Neste exemplo apresentamos resumidamente um estudo do processo de
cristalização da matriz em compósitos de PHB, poli(3-hidroxibutirato) e carga de
fibra vegetal obtida da casca do fruto do babaçu. O sistema PHB/babaçu é um eco-
compósito paradigmático (Zini & Scandola, 2011): insumos obtidos a partir de
recursos renováveis utilizando tecnologias de baixo impacto ambiental, atóxicos e
biocompatíveis, completamente biodegradáveis, etc. Se trata, portanto, de um
sistema de grande importância científica e tecnológica no presente e,
possivelmente, de importância econômica futura.
Compósitos com 10, 20, 30, 40 e 50% em massa de babaçu foram preparados em
misturador interno de laboratório, utilizados diferentes tipos e granulometrias da
carga e tempos de processamento. Testes de DSC foram conduzidos no TA
Instruments DSC Q20 com amostras de 4 a 7 mg em cadinho de alumínio fechado,
sob fluxo de nitrogênio (50 a 100 mL/min). As mostras foram aquecidas da
temperatura ambiente (~ 30°C) até 185°C, resfriadas até 25°C, e reaquecidas até
200°C, com taxas de aquecimento/resfriamento de 2, 3, 4, 6, 8, 12, 16 e 24°C/min.
Os parâmetros termodinâmicos e cinéticos do processo foram avaliados com o
programa INTEGRAL, utilizando os procedimentos desenvolvidos nesta seção, a
partir dos arquivos com os resultados brutos fornecidos pelo instrumento.
A seguir, apresentamos um sumário dos resultados obtidos para compósitos com
10%, 30% e 50% de carga, a título de exemplo. A Figura E3-1 mostra os resultados
comparativos do PHB puro (processado) e os compósitos. A figura mostra que a
matriz pura cristaliza parcialmente durante o resfriamento e completa o processo
durante o reaquecimento. Porém, o PHB cristaliza exclusivamente a partir do
fundido. Nas secçoes sucessivas, são apresentados, para cada composição, os plots
dos dados brutos (J versus T ), cristalinidade relativa (x versus τ e x versus T ) e
taxa de cristalização (c versus T ) para este processo. Uma tabela com parâmetros
de cristalização e plots dos parâmetros versus a taxa de resfriamento completam a
apresentação. Finalmente, a dependência dos resultados com a composição e a
taxa de resfriamento é brevemente discutida. Uma pequena seleção de dados
brutos é disponibilizada em arquivo anexo.
Os testes apresentados neste exemplo foram realizados por Maria do Bom
Conselho Vitorino e Lizzia Reul, estudantes do curso de Engenharia de Materiais
da UFCG, como parte de um projeto de Iniciação Científica no período 2012-2013,
orientado pela Profa Laura Hecker de Carvalho e o autor. 21
21Maria do Bom Conselho Vitorino e Lizzia Tanyra Albuquerque Reul, Compósitos PHB/
Babaçu. Influência das Variáveis de Processamento na Microestrutura – Relatório Final
(Completo) do Projeto PIBIT 2012-2013. Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais,
Universidade Federal de Campina Grande (UAEMa/UFCG), Campina Grande, PB, Setembro
2013. Veja também a publicação destes (e outros) resultados em Vitorino et al (2015).
99
Figura E3-1. Fluxo de calor específico versus tempo para PHB puro e compósitos
de PHB e mesorcarpo de babaçu (malha #200) processado por 8 min. Taxa de
aquecimento/resfriamento: 8°C/min
100
Compósitos PHB/10% babaçu
Figura E3-3. Fração cristalizada versus tempo desde o início do evento durante o
estágio de resfriamento para amostras de PHB com 10% babaçu sob diferentes
taxas de resfriamento.
101
Figura E3-4. Fração cristalizada versus temperatura durante o estágio de
resfriamento para amostras de PHB com 10% babaçu sob diferentes taxas de
resfriamento.
102
Tabela E3-2. Parâmetros da cristalização (PHB/10% babaçu)
T0.1% (°C) 120,3 118,1 116,1 113,9 110,9 108,0 105,8 105,2
T50% (°C) 111,1 107,8 105,2 101,9 98,0 92,5 88,1 80,6
T99.9% (°C) 99,9 91,1 84,8 80,3 78,3 68,6 61,3 52,0
∆Tc (°C) 20,4 27,0 31,3 33,6 32,6 39,4 44,5 53,2
∆Hc (J/g) 84,3 83,8 82,2 79,2 74,3 70,1 67,1 61,3
∆Xc (%) 57,8 57,4 56,3 54,2 50,9 48,2 46,0 42,0
c0,1-99,9% (min−1) 0,098 0,111 0,127 0,178 0,245 0,304 0,359 0,451
c20-80% (min−1) 0,244 0,315 0,383 0,504 0,610 0,769 0,856 0,989
cmax (min−1) 0,275 0,359 0,436 0,574 0,693 0,875 0,972 1,122
τ½ (min) 4,66 3,49 2,78 2,04 1,64 1,32 1,12 1,03
(a) (b)
Figura E3-6. Temperaturas (a) e cristalinidade (b) em amostras de PHB/10%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação (escala
logarítmica).
103
(a) (b)
Figura E3-7. Taxas (a) e tempos de cristalização (b) em amostras de PHB/10%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação.
104
Figura E3-9. Fração cristalizada versus tempo desde o início do evento durante o
estágio de resfriamento para amostras de PHB com 30% babaçu sob diferentes
taxas de resfriamento.
105
Figura E3-11. Taxa de cristalização versus temperatura durante o estágio de
resfriamento para PHB/30% babaçu sob diferentes taxas de resfriamento.
T0.1% (°C) 123,4 121,1 118,9 116,3 114,3 111,5 110,0 105,8
T50% (°C) 115,9 113,0 110,8 107,5 104,6 100,7 97,3 91,7
T99.9% (°C) 105,5 98,1 94,9 93,2 82,6 80,6 78,8 63,4
∆Tc (°C) 17,9 23,0 24,0 23,1 31,7 30,9 31,2 42,4
∆Hc (J/g) 83,1 83,9 81,8 74,7 77,1 76,1 69,2 65,8
∆Xc (%) 57,0 57,4 56,1 51,1 52,8 52,1 47,4 45,1
c0,1-99,9% (min−1) 0,11 0,13 0,17 0,26 0,25 0,39 0,51 0,57
c20-80% (min−1) 0,30 0,41 0,50 0,68 0,81 1,07 1,27 1,57
cmax (min−1) 0,34 0,46 0,57 0,77 0,92 1,22 1,44 1,79
106
(a) (b)
Figura E3-12. Temperaturas (a) e cristalinidade (b) em amostras de PHB/30%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação (escala
logarítmica).
(a) (b)
Figura E3-13. Taxas (a) e tempos de cristalização (b) em amostras de PHB/30%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação (escala
logarítmica).
107
Compósitos PHB/50% babaçu
Figura E3-15. Fração cristalizada versus tempo desde o início do evento durante o
estágio de resfriamento para amostras de PHB com 50% babaçu sob diferentes
taxas de resfriamento (indicadas).
108
Figura E3-16. Fração cristalizada versus temperatura durante o estágio de
resfriamento para amostras de PHB com 50% babaçu sob diferentes taxas de
resfriamento.
109
Tabela E3-4. Parâmetros da cristalização (PHB/50% babaçu)
T0.1% (°C) 124,8 122,7 120,6 116,7 114,7 111,6 108,4 107,9
T50% (°C) 116,2 114,2 112,1 107,7 105,3 100,7 96,4 92,2
T99.9% (°C) 99,9 99,1 99,4 91,0 91,1 78,7 75,8 60,5
∆Tc (°C) 24,9 23,6 21,2 25,7 23,6 32,9 32,6 47,4
∆Hc (J/g) 88,9 73,8 70,6 79,8 74,2 74,9 71,3 71,1
∆Xc (%) 60,9 50,6 48,4 54,7 50,8 51,3 48,7 48,7
c0,1-99,9% (min−1) 0,08 0,13 0,19 0,23 0,34 0,37 0,49 0,51
c20-80% (min−1) 0,29 0,41 0,52 0,68 0,86 1,07 1,28 1,58
cmax (min−1) 0,33 0,46 0,59 0,77 0,98 1,22 1,46 1,78
τ½ (min) 4,31 2,86 2,14 1,52 1,96 0,93 0,73 0,67
(a) (b)
Figura E3-18. Temperaturas (a) e cristalinidade (b) em amostras de PHB/50%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação (escala
logarítmica).
110
(a) (b)
Figura E3-19. Taxas (a) e tempos de cristalização (b) em amostras de PHB/30%
babaçu como funções da taxa de resfriamento utilizada na determinação.
Por outra parte, os valores da cristalinidade sofrem e uma incerteza muito maior e
não é possível identificar diferenças estatisticamente significativas para os
diferentes teores de carga (Figura E3-21). A cristalinidade diminui com o aumento
da taxa de resfriamento.
111
(a) (b)
Figura E3-20. Temperatura pico (a) e taxa de cristalização máxima (b) em
compósitos de PHB com 10, 30 e 50% de babaçu como funções da taxa de
resfriamento utilizada na determinação (escala logarítmica).
112
Exemplo 4
Temos adiantado que no DSC a temperatura da amostra não é exatamente a
temperatura de referência. Em testes não isotérmicos a taxa de
aquecimento/resfriamento nominal corresponde à variação da temperatura de
referência, usualmente muito bem controlada pelo instrumento. A diferença entre a
taxa nominal e taxa real, avaliada a partir das variações da temperatura da
amostra reportada é geralmente – não sempre – desprezível. Observa-se que,
durante o resfriamento, especialmente durante eventos de cristalização a partir do
fundido, e mais particularmente na vizinhança da temperatura pico de
cristalização, a diferença entre taxa nominal e real pode não ser desprezível.
Neste exemplo investigamos um caso particular, observado em um equipamento TA
Instruments DSC Q20, durante a cristalização de PHB em compósitos com 30% de
fibra vegetal (mesocarpo micronizado do fruto da palmeira babaçu, passante em
peneira ABNT 200 e retido em peneira ABNT 325). Os testes foram realizados com
amostras de 4 a 7 mg em cadinho de alumínio fechado, sob fluxo de nitrogênio (50
a 100 mL/min). As mostras foram aquecidas da temperatura ambiente (~ 30°C) até
185°C a 32°C/min, e em seguida resfriamento a varias taxas nominais de
resfriamento (constantes) φnom entre 2 e 32°C. A temperatura da amostra T e o fluxo
de energia foram registrados pelo instrumento com o funções do tempo t em
intervalos de ∆t = 0,2 s (300 pontos por minuto); uma precisão de ±0,01°C e
±0,0001 mW (provavelmente, uma ordem de magnitude superior à
reprodutibilidade dos dados).
A taxa de resfriamento da amostra (taxa “real” ou “verdadeira”) φ foi estimada ponto
a ponto como função do tempo:
Ti −1 − Ti +1
φi = , i = 1, 2,... (2-3)
2∆t
22É bem conhecido o fato que a diferenciação numérica aumenta e a integração numérica
diminui a incerteza aleatória da variável dependente.
113
software de tratamento de dados faz isso automaticamente. A Tabela E4-1 mostra
os resultados para todas as taxas nominais de resfriamento utilizadas.
φn φ ± ε 95% σ
2 2,00 ± 0,01 0,12
114
A Figura E4-1 mostra o comportamento da taxa de resfriamento real versus a
temperatura para diferentes valores da taxa nominal, para os testes no sistema
PHB/30% babaçu.
(a)
(b)
Figura E4-1. Taxa de resfriamento real versus temperatura para diferentes valores
da taxa de resfriamento nominal (indicados). Note a escala vertical diferente nas
duas partes do plot. As retas correspondem à taxa nominal e as setas marcam a
temperatura pico de cristalização. Sistema PHB/30% babaçu.
115
O padrão de comportamento se manifesta claramente nos testes para taxas
nominais maiores que 3 ou 4°C/min; para as taxas mais baixas o padrão se
confunde com o “ruído” ou incerteza aleatória da taxa real.
A diferença entre a taxa real e a taxa nominal parece ser aproximadamente
proporcional à derivada do sinal do DSC em relação ao tempo (por exemplo, no plot
normalizado ou plot da taxa de cristalização). Ou, o que é o mesmo, proporcional à
segunda derivada da fração cristalizada em relação ao tempo 23:
dc d 2 x
φ − φnom ∝ =
dt dt 2
∆φ1 = φ − min(φ )
φ2 max(φ ) − φ
∆=
A Tabela E4-2 apresenta dados numéricos para os testes com PHB/30% babaçu.
φnom 2 3 4 6 8 12 16 24
ε95% (cristalização) 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,03 0,04 0,04
23O esquema seguinte mostra a relação de uma função de pico f (x ) – Lorentziana, neste
exemplo – (centro) com sua integral (esquerda) e sua derivada (direita):
← →
116
A Tabela E4-2 mostra, para todos os valores da taxa nominal (φnom ) testados – com
exceção da taxa máxima de 32 °C/min, caso que será discutido mais adiante: a
taxa real média ( φ ) e seu desvio quadrático médio (σ ) no intervalo de
temperaturas entre 145 e 125°C, durante o estágio de resfriamento, mas antes do
início do evento de cristalização; a taxa média, desvio padrão e “erro provável da
média” com 95% de confiança (ε95% ) durante o evento de cristalização (intervalo de
tempo/temperatura em que a fração cristalizada varia entre 0,1 e 99,9%); os
desvios extremos da taxa de resfriamento durante a cristalização (∆φ1 e ∆φ2)
definidos pela equação anterior e o valor relativo de sua soma em relação à taxa
média.
Em termos absolutos, o desvio padrão atribuível ao “erro experimental” aleatório
aumenta discretamente com a taxa de resfriamento, mas diminui
significativamente em termos relativos. O mesmo acontece, ainda que em nível
superior, com os desvios médios durante a cristalização. Em geral, a média da taxa
de resfriamento real é aproximadamente igual à taxa nominal, com desvios médios
bem controlados.
Porém, os desvios sistemáticos durante o evento de cristalização são bastante
significativos, e mostram a relativa incapacidade do sistema de controle do DSC
para manter uma taxa de resfriamento constante durante os eventos de mudança
de fase. Ainda para taxas de resfriamento moderadas (10 e 20 são taxas geralmente
utilizadas nos testes padronizados para caracterização de materiais e controle de
qualidade) e com sistemas de cristalização relativamente “lenta” como os
poliésteres. Resta verificar se os resultados obtidos dependem de alguma forma
(desconhecida) do procedimento ou do instrumento particular empregado.
Figura E4-2. Taxa de resfriamento real versus temperatura nos testes realizados à
máxima taxa de resfriamento nominal (30 ou 32°C/min). A cristalização a partir do
fundido ocorre no intervalo 105-45°C.
117
A Figura E4-2 mostra a taxa de resfriamento medida em amostras de três
formulações (PHB com 10, 30 e 50% babaçu) quando estas foram resfriadas à
máxima taxa de variação da temperatura testada (30 ou 32°C/min, nominal).
Observe que, além do comportamento sui generis, com máximos e mínimos durante
a primeira parte do evento de cristalização (105-65°C), observa-se a queda
catastrófica da taxa de resfriamento a partir do 65°C, que continua até finalizar a
cristalização (a 45°C) e além.
A taxa de resfriamento durante queda varia linearmente com a temperatura,
resultando em uma cinética de resfriamento de primeira ordem:
dT
= −kT
dt
Formulação (% babaçu) 10 30 50
φn 30 32 30
φ (140-125°C) 29,97 31,97 29,97
118
de resfriamento constantes, até um máximo de 32°C/min. Na ocasião do primeiro
teste nessas condições (PHB/30% babaçu), o instrumento emitiu um warning,
indicando sua incapacidade de controlar a temperatura a essa taxa. Por esse
motivo, a taxa de resfriamento máxima nos testes para outras formulações (PHB
com 10 e 50% babaçu) foram programados para uma máxima taxa de 30°C/min.
Quando executados, esses testes não geraram warnings; isso foi interpretado como
indicativo de que o sistema podia sim controlar o resfriamento a essa taxa.
Porém, o comportamento do DSC programado com taxa de resfriamento de
30°C/min é basicamente o mesmo que para a taxa de 32. Em ambos os casos, a
mesma queda livre da taxa de resfriamento real acima 65°C é observada. Nenhum
desses testes pode ser utilizado para a modelagem da cinética de cristalização.
119
120
Exemplo 5
Neste exemplo consideramos a reprodutibilidade 24 dos resultados de DSC,
expressos através de parâmetros característicos do processo de cristalização. Os
resultados do DSC, como os de toda medição, estão sujeitos a erro experimental,
que assumimos (sem nenhuma justificativa específica) seja aleatório e
normalmente distribuído. O erro experimental pode ser atribuído a imperfeições no
instrumento e seus sensores, variações indetectáveis na implementação dos
procedimentos e variabilidade na composição e morfologia das amostras testadas.
Todos estes fatores contribuem à falta de repetitividade, isto é, às variações nos
resultados da mesma amostra, testada no mesmo instrumento, pelo mesmo
operador e sob as mesmas condições. Chamamos grau de reprodutibilidade às
diferenças observadas entre testes que deveriam fornecer idênticos resultados.
Os seguintes resultados correspondem à cristalização a partir do fundido em PET e
compósitos PET/ZnO, estudada no DSC1 da Mettler-Toledo, discutidos no Exemplo
2. Medições em duplicata ou triplicata com diferentes formulações foram utilizadas
para estimar a reprodutibilidade dos resultados. A temperatura do pico de
cristalização Tc e a cristalinidade desenvolvida durante o evento ∆Xc foram os
parâmetros escolhidos. A Tabela E5-1 mostra os resultados (média e desvio
padrão).
121
A reprodutibilidade pode ser considerada excelente. A incerteza nas temperaturas é
menor que ±0,5°C e nas cristalinidades da ordem de ±0,8%.
Figura E5-1. Fluxo específico de calor (fluxo de calor por unidade de massa de
amostra) versus temperatura durante a cristalização a partir do fundido para testes
duplicados a três taxas de resfriamento. Sistema: PHB/50% babaçu;
122
Figura E5-2. Fração cristalizada versus temperatura para testes duplicados a três
taxas de resfriamento. Sistema: PHB/50% babaçu.
123
Tabela E5-2. Reprodutibilidade de quatro parâmetros
característicos do evento de cristalização a partir do fundido
(PHB/50% babaçu)
φ = 6 °C/min
Tc (°C) 107,3 108,5 108,8 0,8°C
∆T5-95% (°C) 11,6 11,4 12,2 0,4°C
Xc (%) 54,7 49,0 48,1 7,0 %
−1
cmax (min ) 0,772 0,784 0,717 4,5 %
φ = 8 °C/min
Tc (°C) 105,0 106,1 1,1°C
∆T5-95% (°C) 11,4 11,5 0,1°C
Xc (%) 50,8 46,3 6,5 %
−1
cmax (min ) 0,977 0,981 0,3 %
φ = 12 °C/min
Tc (°C) 100,4 101,5 1,1°C
∆T5-95% (°C) 14,3 14,4 0,1°C
Xc (%) 51,3 44,3 10,3 %
cmax (min−1) 1,221 1,233 0,7 %
124
Exemplo 6
A cristalização de um polímero “puro” leva, em geral, à geração de um pico simples
no DSC. A existência de ombros, picos múltiplos ou outras irregularidades pode ser
atribuída 26 à existência de diferentes “populações” de macromoléculas que
cristalizam com diferentes características termodinâmicas e/ou cinéticas, cada
uma das quais resulta em um subevento de cristalização ordinário, que gera um
pico simples. Assim, o pico complexo pode ser analisado como a soma de dois ou
mais picos simples e o evento de cristalização correspondente pode ser considerado
como sendo formado pela superposição parcial de dois ou mais subeventos.
No Exemplo 1, temos visto que vários testes apresentam picos complexos. O
processo de cristalização frio em todos eles pode ser considerado como a soma dois
processos de cristalização independentes, que ocorrem em intervalos de tempo ou
temperatura parcialmente superpostos, resultando no pico complexo observado
experimentalmente. Para decompor o pico complexo em dois picos simples
“elementares” consideramos o fluxo de energia experimental como a soma dos
fluxos de energia dos componentes. PeakFit 4.12 (SeaSolve Software Inc., USA) é
um pacote computacional que facilita o estudo da decomposição de uma função
arbitrária F(x ) definida num intervalo (a,b) da reta real com a condição:
=
lim =
F ( x) lim F ( x) 0 (E6-1)
x →a x →b
∆( x)= F ( x) − S ( x) (E6-2)
onde
S = ∑ Fi (E6-3)
∫
b
σ
= ∆ 2 ( x)dx (3-4)
a
26 O argumento microscópico é apresentado como motivação para a separação dos picos complexos
em componente simples, mas a decomposição dos picos é assunto macroscópico, independente da
validade ou não do argumento.
125
software. Porém, importantes decisões têm que ser tomadas pelo usuário, entre
elas a escolha do tipo das funções de pico a ser utilizadas na modelagem dos picos
simples.
Para o caso dos picos de DSC, em geral assimétricos, escolhemos uma função
logística assimétrica de 4 parâmetros:
a0 (1 + a3 )1+ a3 f
y= (E6-5)
a3a3 (1 + f )1+ a3
onde:
x − a1 − a2 ln a3
=f exp − (E6-6)
a2
27 A área sob o pico normalizado (que resulta ser igual à taxa de cristalização) considerado como
função da temperatura resulta ser igual à inversa da taxa de aquecimento φ = dT/dt.
126
(a1) (a2)
(b1) (b2)
(c1) (c2)
127
(d1) (d2)
(e1) (e2)
(f1) (f2)
Figura E6-1. Separação dos picos complexos “experimentais” (cinza) em dois picos
simples (azul, vermelho) vista no pico normalizado ou taxa de cristalização
(esquerda ) e no plot de cristalinidade relativa versus temperatura (direita).
128
A Tabela E6-1 apresenta os resultados globais (os parâmetros do pico complexo)
para os testes considerados; a tabela é uma cópia parcial da Tabela E1-8 do
Exemplo 1.
Teor de PS (%)
0 1 2 3 5 10 15 20
∆Hc J/g 23,5 20,9 23,7 20,9 25,5 23,5 21,6 26,1
c1-99% min−1 0,344 0,244 0,243 0,259 0,252 0,249 0,228 0,256
cmax min−1 1,052 0,439 0,424 0,374 0,434 0,616 0,470 0,675
A Tabela E6-2 coleta os parâmetros dos picos simples, componentes dos picos
complexos para os testes analisados.
129
Tabela E6-2. Parâmetros dos subeventos de cristalização a frio
Teor de PS (%) 1 2 3 5 10 15
Pico I II I II I II I II I II I II
Area % 34,0 66,0 56,5 43,5 54,2 45,8 41,6 58,4 17,8 82,2 23,5 76,5
T1% °C 111,6 118,0 116,8 130,8 115,4 119,5 120,0 128,9 116,8 126,1 112,8 120,8
T50% °C 126,8 139,7 135,0 147,4 130,3 141,0 133,3 148,6 133,0 146,7 127,5 143,3
T99% °C 141,4 154,5 150,1 158,7 147,6 154,7 147,8 161,4 143,9 158,4 144,3 158,7
∆Tc °C 29,8 36,5 33,3 27,9 32,2 35,2 27,8 32,5 27,1 32,3 31,5 37,9
Tc °C 127,3 141,1 135,6 148,0 130,0 142,5 133,3 149,5 134,6 148,0 127,4 144,5
∆Hc J/g 7,10 13,78 13,37 10,29 11,32 9,55 10,63 14,91 4,18 19,34 5,08 16,50
∆Xc % 5,07 9,84 9,55 7,35 8,09 6,82 7,59 10,65 2,99 13,81 3,63 11,78
c1-99% min−1 0,329 0,268 0,294 0,351 0,304 0,278 0,353 0,302 0,362 0,303 0,311 0,259
cmax min−1 0,204 0,415 0,374 9,334 0,356 0,303 0,275 0,418 0,119 0,616 0,144 0,460
a2 3,75 2,95 3,33 2,79 4,24 2,83 3,79 2,80 2,44 2,44 4,29 3,28
a3 0,668 0,447 0,697 0,643 1,378 0,458 0,955 0,542 0,334 0,441 1,148 0,529
130
A distribuição da área total sob o pico complexo “experimental” em duas partes,
correspondentes aos dois picos simples é, possivelmente, o resultado mais
importante desta seção. As áreas, expressas como percentagens da área total 28, são
apresentadas graficamente na Figura E6-2a. Observe que as áreas em questão são
proporcionais ao calor latente de cristalização por unidade de massa de PET (∆Hc )
liberado durante cada subevento, e à cristalinidade desenvolvida neles (∆Xc ). A
Figura E6-2b apresenta a relação entre as mesmas.
(a) (b)
Figura E6-2. Calor latente relativo (distribuição de áreas dos picos normalizados).
Observe que a distribuição é virtualmente simétrica (45 a 55% da área total para
cada pico) para teores de PS de 2-3%, e significativamente assimétrica, com um
pico menor (~20% da área) seguido de um pico maior (~ 80% da área).
A posição dos máximos na escala de temperatura (as temperaturas pico de
cristalização apresentam uma variação limitada para os teores de PS testados
(Figura E6-3a), assim como a diferença entre as temperaturas de cristalização
(Figura E6-3b). Nenhuma tendência é detectada.
28A área sob o pico “experimental” no gráfico da taxa de cristalização versus tempo é igual a
1 (adimensional) por conta da normalização. No gráfico da taxa de cristalização versus
temperatura a área é igual à taxa de aquecimento (∆T = φ ∆t ).
29A proporcionalidade (aproximada) entre área e altura dos picos é devida a sua largura e
assimetria aproximadamente constantes (27°C ≤ ∆Tc ≤ 37°C; -0.3°C ≤ ∆T½ ≤ 1.6°C).
(a) (b)
Figura E6-3. Temperatura pico de cristalização (posição do pico normalizado).
(a) (b)
Figura E6-4. Taxa máxima de cristalização (altura do pico normalizado).
Nota
Na literatura o processo de separação ou resolução de picos complexos nos picos
componentes simples é frequentemente chamado deconvolução. Em matemáticas o
termo “deconvolução” tem um significado completamente diferente e o uso desse
termo no presente contexto deve ser evitado. No caso presente o pico complexo é
simplesmente a soma dos picos simples:
F=
(t ) f1 (t ) + f 2 (t ) (E6-7)
132
∞
=
G (t )
∫
−∞
f1 (t − ξ ) f 2 (ξ )dξ (E6-8)
G=
(t ) f1 (t ) ⊗ f 2 (t ) (E6-9)
133
134
Exemplo 7
Neste exemplo analisamos a cristalização não isotérmica em uma blenda – que
assumimos seja imiscível – de poli(butileno adipato-co-butilieno terftalato) (PBAT) e
poli(β-hidroxibutirato) (PHB). Ambos os polímeros são semicristalinos, com pontos
de fusão de equilíbrio em torno de 160°C (PBAT) e 190°C (PHB), e calores latentes
de fusão do polímero 100% cristalino de 114 J/g (PBAT) e 146 J/g (PHB). A
cristalinidade exibida pelo PHB puro é usualmente significativamente maior da do
PBAT puro (50% versus 15%). A blenda foi aquecida/resfriada em intervalos de
temperatura em é esperável que ambos os polímeros cristalizem.
Três amostras extrusadas de PBAT, PHB e uma blenda com 50% em massa de
PBAT e PBAT foram analisadas por calorimetria exploratória diferencial (DSC), no
instrumento DSC-1 da Mettler-Toledo, nos laboratório do Departamento de
Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco, Recife PE, por Anna
Raffaela de Matos Costa, doutoranda na Universidade Federal de Rio Grande do
Norte, Natal RN. Nos testes analisados neste exemplo, amostras de 6 mg foram
aquecidas de 25°C a 190°C a uma taxa de 24°C/min, resfriadas até 25°C, mantidas
a essa temperatura por três minutos, e reaquecidas até 190°C; a taxa de
resfriamento e reaquecimento foi de 16°C/min.
A Figura E7-1 mostra os resultados dos testes durante o resfriamento e
reaquecimento (o primeiro aquecimento foi desconsiderado).
Figura E7-1. Fluxo de calor versus tempo para PBAT, PHB e uma blenda
PBAT/PHB (1:1) durante o resfriamento e reaquecimento 16°C/min. Curvas
deslocadas verticalmente para facilitar a visualização.
135
Observa-se a cristalização a partir do fundido (durante o resfriamento) nos três
sistemas (evento C1) na forma de picos simples, cada vez mais rasos (menores) na
sequencia PBAT→blenda→PHB. A cristalização a frio completa o processo de
mudança de fase durante o reaquecimento (evento C2) nas amostras de PHB e da
blenda, também na forma de picos simples; o PBAT puro não cristaliza a frio. A
Figura E7-2 ilustra os eventos de cristalização em detalhe.
(a) (b)
Figura E7-2. Fluxo de calor versus temperatura durante a cristalização a partir do
fundido (a) e a cristalização a frio (b) para PBAT, PHB e a blenda PBAT/PHB. Taxa
de resfriamento/aquecimento: 16°C/min.
136
diferentes (PBAT e PHB) e sugere que a hipótese (c) sobre a cristalização é a mais
correta.
A Figura E7-4 ilustra a determinação dos pontos inicial e final dos sub-eventos; as
cristalinidades podem ser avaliadas integrando cada pico com o procedimento
usual, considerando a massa de cada componente na amostra.
Figura E7-4. Ponto inicial e final do processo de fusão dos componentes de uma
blenda PBAT/PHB (1:1) aquecida a 16°C/min, indicando a cristalinidade de cada
componente.
137
Observe que a hipótese (c) não assume que as cristalizações (a partir do fundido e a
frio) de PBAT e PHB sejam independentes uma da outra, apenas que resultam em
populações cristalinas separadas, que fundem separadamente quando o sistema é
aquecido.
Para avaliar a cristalinidade gerada nos eventos C1 e C2 utilizando a Eq.(2-24):
∆H
∆X = o
∆H m
∆X A ∆X B
∆H m
= (∆H m ) A + (∆H m ) B (E7-2)
∆X A + ∆X B ∆X A + ∆X B
PBAT 85,7 118,5 143,3 57,6 121,5 0,588 0,395 11,8 10,4
PBAT 196,9 120,4 134,7 27,8 120,6 0,922 0,731 4,9 4,3
PBAT/PHB
PHB 144,7 166,0 174,6 29,9 168,4 1,583 0,787 59,9 41,0
PHB 99,4 165,6 176,9 77,5 170,0 1,202 0,371 83,7 57,4
138
Tabela E7-2. Cristalização (C1 & C2)
PBAT 88,3 71,4 55,8 32,5 70,4 1,06 1,278 0,839 15,8 13,9
PBAT/PHB 90,4 67,6 51,8 36,6 66,1 1,43 1,195 0,742 10,2 7,1
PHB 100,2 66,2 40,7 59,5 64,9 2,12 0,520 0,376 8,6 5,9
PBAT/PHB 37,7 50,1 61,0 23,3 50,6 0,77 1,873 1,197 16,2 11,3
PHB 43,8 57,6 67,7 23,9 58,4 0,85 1,802 1,159 33,3 22,8
139
140
3. Cristalização isotérmica: modelo de Avrami
3.1. Modelo
O modelo desenvolvido por Avrami 31, baseado em conceitos microcinéticos, é o mais
antigo e respeitado modelo da cinética de cristalização isotérmica ainda utilizado na
prática. O modelo de Avrami, na sua forma integral, é expresso como:
1 − exp ( − Kτ n )
x= (3-1)
1
=y ln [ − ln(1 −=
x) ] ln ln = ln K + n ln τ (3-2)
1− x
dx n−1
=c = Knτ (1 − x) (3-3)
dτ T
1−1/ n
dx 1
=c = nK 1/ n (1 − x) ln (3-5)
dτ T 1− x
141
O expoente n de Avrami é um número positivo (sem unidades), usualmente no
intervalo 1 < n < 4. O parâmetro K, também positivo, tem unidades de tempo
elevada à potência negativa do expoente de Avrami (e.g., s−n). Para apresentar
graficamente o efeito do expoente de Avrami na forma das funções x(τ ) e c(τ ), é
necessário selecionar o valor do parâmetro K, que está relacionado com a
magnitude da cristalização. Para obter resultados facilmente comparáveis,
consideramos o tempo τ½ (crystallization half-time) necessário para cristalizar a
metade do polímero cristalizável, isto é, para atingir uma cristalinidade relativa x =
0,5. Da Eq.(3-1):
ln 2
K= (3-6)
τ ½n
A Figura 3-1 representa x(τ ) e c(τ ) para τ½ = 100 s. Para n > 1 a cristalinidade
relativa é uma sigmoide e a taxa de cristalização apresenta um máximo relativo
para algum valor de τ > 0; para n ≤ 1 x(τ ) não é uma sigmoide e c(τ ) não possui
máximo relativo. A taxa é nula para τ → ∞ em todos os casos e é nula também para
τ = 0 se n > 1; para n = 1, c(0) = 1 e para n < 1, c(0) → ∞. Fica claro que para
cristalização de polímeros n > 1.
142
intervalo limitado de valores de τ (ou x ) 32. É comum que os dados para valores
muito baixos ou muito altos do tempo fiquem fora da reta que correlaciona os dados
para valores intermédios do tempo no plot de Avrami.
No momento, a única forma de determinar os valores inicial e final a serem
utilizados para obter os parâmetros de Avrami por regressão linear é puramente
“visual”: o pesquisador decide, observado o plot de Avrami, convenientemente
amplificado, o intervalo que será utilizado na regressão. Se for necessário, algumas
tentativas podem ser feitas, adicionando ou retirando pontos nos extremos, e
monitorando o resultado através do desvio padrão dos dados informado pelo
software, até obter um balanço satisfatório entre precisão e intervalo de validade.
Uma vez decidido o intervalo de tempos é conveniente avaliar e reportar o intervalo
de cristalinidade relativa em que o modelo de Avrami, com os parâmetros
determinados pela regressão linear executada previamente, representa a cinética de
cristalização.
O intervalo de tempos ou cristalinidades relativas utilizado para obter os
parâmetros do modelo é chamado intervalo de correlação e não é, em geral, igual ao
intervalo de validade do modelo, definido como o intervalo em que a cristalinidade
relativa (ou taxa de cristalização) avaliadas pelo modelo aproximam
satisfatoriamente os dados experimentais. O intervalo de correlação é determinado
no plot de Avrami; o intervalo de validade no plot de cristalinidade relativa (ou taxa
de cristalização) versus tempo. O exemplo incluído nesta seção ilustra estes
conceitos. Vale salientar que o intervalo de validade depende do sistema e da
temperatura.
Em alguns casos os dados experimentais correspondentes a um teste podem ser
correlacionados com o modelo de Avrami em dois ou mais intervalos de validade
diferentes, com parâmetros (K e n ) diferentes para cada intervalo. No limite, é
possível correlacionar os dados em uma série de N intervalos de validade xi < x <
xi +1, i = 1 ... N, com xi +1−xi = ∆x << 1; esse tipo de raciocínio leva ao desenvolvimento
dos métodos isoconversionais.
Outro assunto a ser considerado é a incerteza (ou “erro provável”) dos resultados
obtidos. Com dados limitados a um teste para cada temperatura, a única incerteza
que pode ser avaliada corresponde ao desvio da correlação em relação aos dados
experimentais. Nesse sentido, tanto os dados experimentais primários (J versus t )
quanto os pontos inicial e final do evento e a linha de base virtual são considerados
“exatos”. A incerteza estima o desvio do modelo de Avrami dos dados específicos.
Não informa sobre a qualidade do modelo de Avrami para predizer a cinética de
cristalização do material testado nas condições testadas. Esta última depende da
reprodutibilidade dos dados do teste, que por sua vez depende da uniformidade,
143
forma e tamanho das amostras e do “erro experimental” introduzido pelo
equipamento, procedimento experimental, operador, etc.
O software de regressão fornece o desvio padrão dos parâmetros K e n. Porém, a
transformação logarítmica dos dados não permite estimar corretamente a incerteza
da correlação a partir do plot de Avrami. A função y(x ) é assimétrica e
significativamente não-linear nos extremos (Figura 3-2), isto é, para x < 0,3 e x >
0,9.
c = k (T ) f ( x) (3-7)
onde
k = nK 1/n (3-8)
e
144
1−1/ n
1
f ( x)= (1 − x) ln (3-9)
1− x
1 − exp {−( K ′τ ) n }
x= (3-10)
K ′ = K 1/n (3-11)
O parâmetro K' pode ser, esse sim, corretamente identificado como a constante
cinética do processo de cristalização. Muita confusão se origina no uso implícito da
Eq.(3-1) ou da Eq.(3-10) como ponto de partida.
A Eq.(3-9) define a função de Avrami, de interesse para este e outros modelos
macrocinéticos 34. A Figura 3-3 mostra a função f (x) para diferentes valores do
expoente.
145
Figura 3-3. A função f (x) para diferentes valores do expoente n de Avrami.
1
ln =1 (3-12)
1 − x1
isto é:
1 e −1 ≈ 0,632
x1 =− (63, 2%) (3-13)
f ( x1 ) =1 − x1 ≈ 0,368 (3-14)
1/ n
df 1 1 1
= ln 1 − n (1 − x) + ln 1 − x
2
(3-15)
dx 1 − x
Para n > 1 a função de Avrami possui um máximo relativo em x = x0 que pode ser
obtido anulando a derivada na Eq.(3-15):
146
1/ n
df 1 1 1
= ln 1 − n (1 − x0 ) +=
2
(3-16)
dx x = x0 1 − x0
ln 0
1 − x0
1 1
1 − (1 − x0 ) + ln = (3-17)
2
0
n 1 − x0
que deve ser resolvida numericamente. Uma vez obtido x0, o valor de f no máximo
pode ser avaliado:
1−1/ n
1
f 0 (n)= f ( x0 )= (1 − x0 ) ln (3-18)
1 − x0
1/ n
1 1
τ 0 = ln (3-19)
K 1 − x0
147
supor, pelo momento, que o expoente de Avrami n seja o mesmo para todos os
testes, isto é, que seja independente da temperatura).
O parâmetro de Avrami, ou melhor ainda, a constante cinética avaliada a partir de
K e n, pode ser correlacionada com a temperatura. Frequentemente k depende
exponencialmente do inverso da temperatura absoluta; nesse caso é usual
expressar a dependência através da equação de Arrhenius, que define a energia de
ativação do processo 36:
E
=k k0 exp − a (3-20)
RΘ
Ea
=
ln k ln k0 − (3-21)
RΘ
Ea d ln k 1 dk 1 dK
=
− =2 ⋅ = 2⋅ (3-22)
R d (1/ Θ) k Θ dT nK Θ dT
148
resultante [Avrami com n = n(T )] modelo estendido de Avrami. Nesse caso, as
equações (3-1)-(3-5) são igualmente válidas, e os parâmetros K(T ) e n(T ) podem ser
avaliados por regressão linear através da Eq.(3-2). Porém, o conceito de constante
cinética e as equações (3-7)-(3-9) não são aplicáveis, já que, se n = n(T ), resulta
impossível separar um fator f (x) que dependa apenas da cristalinidade relativa.
Consequentemente, uma energia de ativação não pode ser definida.
Se a dependência de n com T for relativamente fraca, como acontece quando é
devido principalmente ao erro experimental, é possível “salvar” a constante cinética
(e avaliar a energia de ativação) se, na potência do logaritmo na Eq.(3-5), for
utilizado o valor médio (constante) do expoente de Avrami; nos outros fatores
conserva-se o expoente variável:
1−1/ n′
1
=c nK 1/ n
(1 − x) ln (3-23)
1− x
Como n' não depende da temperatura:
1−1/ n′
1
f ( x)= (1 − x) ln (3-24)
1− x
é independente da temperatura e
k = n(T ) [ K (T ) ] (3-25)
1/ n (T )
38 Têm formas mais elaboradas de estimar o “melhor” (estatisticamente falando) valor de n'.
149
formados ao acaso (randomicamente) durante todo o tempo de cristalização (taxa de
nucleação é constante) e nucleação heterogênea quando todos os núcleos são
formados instantaneamente no início da cristalização. Em termos da velocidade de
crescimento do cristal também é possível considerar dois casos extremos. Na
medida em que material cristalizável é incorporado ao cristal, o material não
cristalizável se acumula no frente cristalino. Se o material não cristalizável é
retirado instantaneamente do frente, a velocidade de crescimento do cristal se
mantém constante. Porém, se a difusão do material não cristalizável para longe do
frente cristalino controla o processo, a velocidade de crescimento assume a
dependência proporcional à inversa da raiz quadrada do tempo ( ~ t −1/ 2 ),
característica dos processos difusivos.
A Tabela 3-1 apresenta os valores do expoente de Avrami resultantes das possíveis
combinações de casos extremos. Valores intermédios do expoente são inteiramente
possíveis (e previsíveis). Observe que o expoente de Avrami é um critério ambíguo
para estabelecer o mecanismo de cristalização a nível microscópico (por exemplo, n
= 2 poder ser associado tanto à nucleação homogênea quanto heterogênea, e a
velocidade constante ou variável de crescimento cristalino). Cabe assinalar também
que a teoria de Avrami é baseada em muitas simplificações e aproximações, que
transforma suas “predições” em “sugestões”, a ser confirmadas pela observação
microscópica, além do valor dos parâmetros obtidos pela correlação de dados
macrocinéticos. 39
39 É a opinião dos especialistas: “all in all, the Avrami analysis is rather a convenient
representation of experimental data than a way of obtaining physical insights in the polymer
crystallization kinetic ” (Vyazovkin, 2015, p.104). Veja também Cheng (2002), p.179, and
Piokowska & Rutledge (2013) pp 242 ss.
150
3.6. Outros modelos para cristalização isotérmica
Outros modelos para estudar a macrocinética da cristalização isotérmica de
polímeros têm sido reportados na literatura. Nenhum, porém, com o sucesso do
modelo de Avrami, podem ser de utilidade em casos particulares. Supaphol (2001)
discute alguns deles; o leitor interessado pode encontrar nesse trabalho referências
aos artigos originais. Neste trabalho vamos discutir brevemente o modelo associado
ao nome de Tobin (1974, 1976), ainda que tenha sido utilizada numa base
puramente empírica com anterioridade (e.g., Rabesiaka & Kovacs, 1961).
A equação que define o modelo de Avrami, Eq.(3-1), pode ser expressa como:
1
= Kτ (3-26)
n
ln
1 − x
mas
1 x
= 1+ (3-27)
1− x 1− x
Substituindo na Eq.(3-26), e considerando que em primeira aproximação 40, para
x/(1−x ) << 1 (isto é, para x << 1):
x
= Kt n (3-28)
1− x
A Eq.(3-28) pode, em alguns casos, correlacionar os dados de cristalinidade relativa
versus tempo melhor que o modelo de Avrami e/ou para um intervalo maior de
valores da cristalinidade relativa. A Eq.(3-28) define um novo modelo que podemos
chamar modelo de Tobin.
O modelo, na sua forma integral, é expresso como:
x
= Kτ n (3-29)
1− x
onde x é a cristalinidade relativa e τ é o tempo medido desde o início do evento de
cristalização isotérmica (a temperatura T constante); K = K(T ) e n são os parâmetros
que, em princípio, não estão relacionados com os parâmetros de Avrami, com os
que compartem o símbolo. Os parâmetros de Tobin podem ser determinados pela
regressão dos dados experimentais de x versus τ, através da relação linear, derivada
da Eq.(3-29):
x
ln = ln K + n ln τ (3-30)
1− x
ln(1 ) 12 16 ...
2 3
151
A taxa de cristalização a temperatura constante obtida diferenciando a Eq.(3.29):
dx
=c = nK 1/ n x1−1/ n (1 − x)1+1/ n (3-31)
dτ T
que corresponde à forma diferencial do modelo de Tobin.
Seguindo o procedimento utilizado com o modelo de Avrami, podemos apresentar
graficamente o efeito do expoente de Tobin na forma das funções x(τ ) e c(τ ),
selecionando o valor do parâmetro K necessário para obter uma cristalinidade
relativa x = 0,5. Da Eq.(3-29) temos, neste caso:
1
K= (3-32)
τ ½n
A Figura 3-5 representa x(τ ) e c(τ ) para τ½ = 100 s.
onde
k = nK 1/n (3-34)
e
f ( x) x1−1/ n (1 − x)1+1/ n
= (3-35)
A comparação das Figuras 3-1 e 3-5 mostra que, ainda que as equações
correspondentes, Eqs.(3-7)-(9) e Eqs.(3-29)-(31), aparentem ser bastante diferentes,
a forma das curvas de cristalinidade relativa e taxa de cristalização do modelo de
Avrami e de Tobin são muito semelhantes. O modelo de Tobin deve ser considerado
152
como uma extensão puramente empírica do modelo de Avrami e ser utilizado
somente se a melhora no fitting dos dados experimentais e/ou no intervalo de
validade da correlação compensa o fato que o expoente de Tobin – contrariamente o
caso do expoente de Avrami – é um parâmetro empírico, sem interpretação
microcinética válida.
153
154
Exemplo 8
Como exemplo de utilização prática do modelo de Avrami apresentamos a análise
cinética de um teste de cristalização isotérmica a frio de PET [poli(etileno
tereftalato)] à temperatura nominal de 115°C (Figura E8-1). A amostra de 7,4 mg de
PET “amorfo” foi aquecida da temperatura ambiente (~35°C) até 115°C a uma taxa
de 100°C/min e mantida a essa temperatura por 10 min, intervalo em que o PET
cristalizou. A temperatura real da amostra durante a cristalização não é constante e
aumenta a uma taxa de 0,5°C/min, sendo o valor médio durante o evento de
cristalização (que leva 4,2 min para se completar) de 114,4°C.
(a) (b)
Figura E8-1. (a) Plot do fluxo de energia J versus o tempo t, mostrando a linha de
base virtual (reta de traços) utilizada para avaliar a energia liberada durante a
cristalização por integração numérica, e os pontos inicial (t1 = 371 s) e final (t2 =
625s) do evento. (b) Plot da cristalinidade relativa x versus o tempo relativo τ. Fonte:
Wellen (2007).
41Observe, na Tabela 3-1, que n ≈ 2,2 (a metade de caminho entre 2 e 5/2) não esclarece
absolutamente nada sobre a natureza da nucleação, a geometria do crescimento cristalino
ou o efeito da difusão...
155
Figura E8-2. Plot de Avrami y versus ln(τ ) mostrando a reta (azul) que fita os
pontos entre 10 e 200 s, que correspondem a cristalinidades relativas entre 0,5% e
95% (um ponto de cada 5); a seta vermelha marca a localização do máximo do pico
de cristalização. A escala no topo do gráfico foi avaliada com ajuda da Figura 3-2.
O intervalo de validade envolve todo o evento, 0 < x < 100% (0 < τ < 250 s), onde o
modelo de Avrami prediz a cristalinidade relativa com um desvio médio de 1%
(máximo de 2,4%). Um tratamento semelhante pode ser aplicado à taxa de
cristalização.
156
Figura E8-3. Plot da cristalinidade relativa x versus o tempo desde o início da
cristalização τ : dados “experimentais” (um ponto de cada cinco) e curva do modelo
de Avrami com os parâmetros K e n avaliados no exemplo.
157
158
4. Cristalização não isotérmica
4.1. Pseudo-Avrami
A cinética da cristalização em condições não isotérmicas é estudada através de
testes conduzidos a taxas de aquecimento (cristalização a frio) ou resfriamento
(cristalização a partir do fundido) constantes no tempo. Cada teste gera, após a
integração do pico de cristalização, uma curva de cristalinidade relativa x em
função do tempo τ, válida para uma taxa de aquecimento/resfriamento φ
determinada. A temperatura varia durante o teste, aumentando ou diminuindo
monotonamente na medida em que o tempo passa e o material cristaliza:
T= T1 ± φτ (4-1)
1 − exp ( − K ′τ n′ )
x= (4-2)
42A referência usual para o modelo é Jeziorny (1978). O Apêndice desta seção comenta os
usos e abusos desse artigo.
159
1
ln ln = ln K ′ + n′ ln τ (4-3)
1− x
O modelo Pseudo-Avrami é também conhecido como “modelo de Avrami
modificado”, “modelo de Avrami para cristalização não isotérmica”, etc., nomes
originados na semelhança das expressões e procedimentos do modelo com o
clássico modelo de Avrami para cristalização isotérmica. Nestas notas preferimos o
nome “Pseudo-Avrami” (que, de acordo com o Dicionário Aurélio, significa “falso
Avrami”). Avrami e Pseudo-Avrami são modelos essencialmente diferentes: o modelo
de Avrami correlaciona dados colhidos em temperatura constante e o parâmetro K
de Avrami é função da temperatura; o modelo Pseudo-Avrami correlaciona dados
colhidos para taxas de aquecimento/resfriamento constantes e o parâmetro K' de
Pseudo-Avrami é função da taxa de aquecimento/resfriamento, não da
temperatura. A semelhança entre os dois modelos é, portanto, superficial. Na
secção 4.3 veremos que o modelo macrocinético de cristalização não isotérmica que
pode ser considerado como equivalente do modelo de Avrami para cristalização
isotérmica é o modelo de Ozawa, não o modelo Pseudo-Avrami.
43Epígono: discípulo de um grande mestre nas ciências, letras ou artes, sem força criadora
própria (Michaelis, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – online). Nestas notas prefiro
não mencionar os epígonos por nome (“condena-se o pecado, não o pecador”), mas aqueles
com um mínimo conhecimento da literatura de cristalização de polímeros não terão
problema em identificar muitos deles.
160
The kinetics of non-isothermal crystallization can be characterized by the
application of two procedures. The former is based on the acceptance of the
simplifying assumption that occurs under constant temperature. In this case, the
parameter determining the crystallization kinetics is the constant Zt occurring in
the Avrami equation for polymers:
[1 − X ] = exp − Z t t n (1)
log [ − log(1 −=
X ) ] n log t + log Z t (2)
Drawing the straight line given by equation (2) enables us to determine log Zt. But
considering the non-isothermal character of the process investigated, the value
determined should be adequately corrected. The factor should be considered is the
cooling rate of the polymer. Assuming constant or approximately constant cooling
rate, the final form of the parameter characterizing the kinetics of non-isothermal
crystallization is given as follows:
log Z t
log Z c = (3)
dT / dt
161
Avrami (que o processo ocorre a temperatura constante), mas também sem
compartilhar a interpretação microcinética dos parâmetros resultantes.
Como temos discutido nestas notas, o modelo representado pela equação (1) não é o
modelo de Avrami, ainda que compartilhe (formalmente) a mesma equação. O
parâmetro de Avrami é uma função da temperatura; o parâmetro da equação (1) é
uma função da taxa de resfriamento.
dT / dt
Zt = Zc (A2-1)
162
4.2. Modelos de Ozawa e de Mo
O estudo macrocinético de cristalização para um sistema determinado envolve
usualmente um conjunto de testes a diferentes temperaturas (cristalização
isotérmica) ou taxas de aquecimento/resfriamento (cristalização não isotérmica). Os
modelos discutidos até este ponto (Avrami, Pseudo-Avrami) correlacionam os dados
e avaliam os parâmetros do modelo para cada item do set separadamente. A adição
de novos itens (isto é, testes a novas temperaturas ou taxas de
aquecimento/resfriamento) não altera os resultados (os valores dos parâmetros)
obtidos com o set original. Os modelos a serem discutidos a partir deste ponto
(Ozawa, Mo) requerem o conjunto completo de testes antes de correlacionar os
dados e avaliar os parâmetros do modelo para cada item. A adição de novos itens ao
conjunto altera, em princípio, os valores dos parâmetros correspondentes aos itens
do set original 44, que devem ser reavaliados para cada atualização do conjunto.
Esta é uma importante diferença prática.
(
1 − exp −κφ − m
x= ) (4-5)
= @ φ constante →=
x x(T ) = x x(φ ) @
= T constante (4-6)
44Pode-se dizer que isso é devido ao ajuste imperfeito do modelo aos dados e/ou ao erro
experimental nos mesmos; se o modelo ajustasse perfeitamente os dados e os dados fossem
exatos, a adição de novos itens não afetaria os parâmetros obtidos previamente.
163
A Figura 4-1 mostra uma forma de como isso pode ser feito, através de um exemplo
(dados para cristalização a frio de PET).
A descrição geral do procedimento é mais complexa; o leitor pode se referir à Figura
4-10 e consultar o Exemplo 7 (mais adiante). O ponto de partida são as relações x =
x(T ) para cada uma das N taxas de aquecimento testadas, seja na forma de tabelas
numéricas o ou de gráficos x versus T. Analisando os dados disponíveis, escolhem-
se M temperaturas dentro do intervalo de cristalização comum a três ou mais
testes 45. Para cada temperatura Tj escolhida, são avaliadas as cristalinidades
relativas xij correspondentes às taxas de aquecimento φi , interpolando nas tabelas
ou no gráfico. O resultado é uma matriz N×M de valores xij , cada fila i = 1 ... N
correspondente a uma taxa de aquecimento (φi ) e cada coluna j = 1 ... M
correspondente a uma temperatura (Tj ). É possível que existam “buracos” na
matriz, isto é, combinações ij para as quais não foi possível avaliar xij (por falta de
três ou mais testes para essa temperatura), mas cada coluna contém, no mínimo,
três valores de x.
45 O intervalo de temperaturas de cristalização “razoável” pode ser definido com base nos
limites de 1% e 99% de cristalinidade relativa; critérios diferentes podem ser adotados. Da
mesma forma, o mínimo de três pontos para cada temperatura pode ser modificado,
dependendo da disponibilidade de dados.
164
1
ln ln = ln κ − m ln φ (4-7)
1− x
utilizando os pares (x, φ ) avaliados anteriormente para cada valor de T, isto é, para
cada coluna da matriz {xij }. O plot do duplo logaritmo (termo da esquerda na
equação anterior) versus o logaritmo da taxa de aquecimento/resfriamento é
chamado plot de Ozawa.
O procedimento descrito tem sérias limitações. O número máximo de pontos a ser
utilizados na regressão linear para obter os parâmetros de Ozawa não pode superar
o número de testes conduzidos a diferentes taxas de aquecimento/resfriamento,
usualmente 4 a 8; compare com os 50 a 200 pontos disponíveis na regressão linear
para fitar o modelo Pseudo-Avrami aos dados experimentais fornecidos pelo DSC a
intervalos de tempo de 1 s. Consequentemente, a incerteza na determinação dos
parâmetros de Ozawa é bastante elevada.
165
cristalinidade relativa. Nesses casos, a definição de intervalo de temperatura de
cristalização comum dever ser modificado para se adequar à essa realidade. O
assunto será discutido em detalhe no Exemplo 7.
A regressão linear seguindo o procedimento descrito resulta em uma série de
valores dos parâmetros de Ozawa κ e m avaliados a diferentes temperaturas dentro
do intervalo comum. O software de regressão fornece os desvios padrão dos
parâmetros, mas temos visto que esses desvios não são uma boa medida da
qualidade do fitting, nem permitem julgar em que medida o modelo de Ozawa é
apropriado para representar os dados experimentais. Para isso é necessário avaliar
o desvio da cristalinidade relativa experimental da curva predita pelo modelo. Isso
envolve a inversão da expressão simbólica, Eq.(4-6). Isto é, é necessário reconstruir
a cristalinidade relativa como função da temperatura (a taxa constante) a partir dos
valores de cristalinidade relativa à temperatura constante, obtidos a partir dos
parâmetros calculados:
=x x(φ ) @
= T constante →= @ φ constante
x x(T ) = (4-8)
166
4.2.2. Modelo de Mo
Temos visto modelos para cristalização não isotérmica que correlacionam a
cristalinidade relativa como função do tempo à taxa de aquecimento/resfriamento
constante (Pseudo-Avrami) e como função da taxa de aquecimento/resfriamento a
temperatura constante (Ozawa). Resta agora considerar um modelo, atribuído a Mo
(Liu et al., 1997, 1998; An et al., 1998), que correlaciona a taxa de aquecimento e
resfriamento como função do tempo à cristalinidade relativa constante.
O modelo de Mo é expresso como:
φ = Fτ −α (4-9)
=x x(τ ) @
= φ constante →=
φ φ (τ ) @
= x constante (4-10)
A Figura 4-3 mostra uma forma de como isso pode ser feito, através de um exemplo
(dados para cristalização a frio de PET).
167
O procedimento é semelhante ao descrito para o modelo de Ozawa; compare a
Figura 4-3 com a Figura 4-1. O ponto de partida são as relações x = x(τ ) para cada
uma das N taxas de aquecimento testadas, seja na forma de tabelas numéricas ou
de gráficos x versus τ. Para M valores da cristalinidade relativa xj são avaliadas os
tempos τij correspondentes às taxas de aquecimento φi , interpolando nas tabelas ou
no gráfico. O resultado é uma matriz N×M de valores τij , cada fila i = 1 ... N
correspondente a uma taxa de aquecimento (φi ) e cada coluna j = 1 ... M
correspondente a uma cristalinidade relativa (xj ).
Os parâmetros de Mo são determinados, para cada cristalinidade relativa, pela
regressão dos dados experimentais de φ versus τ, através da relação linear derivada
da Eq.(4-9):
=
ln φ ln F − α ln τ (4-11)
utilizando os pares (φ, τ ) avaliados anteriormente para cada valor de x, isto é, para
cada coluna da matriz { τij }.
A regressão linear seguindo o procedimento descrito resulta em uma série de
valores dos parâmetros de Mo F e α avaliados a diferentes cristalinidades relativas.
O software de regressão fornece os desvios padrão dos parâmetros, mas para
verificar em que medida o modelo de Mo é apropriado para representar os dados
experimentais é necessário avaliar o desvio da cristalinidade relativa “experimental”
da curva predita pelo modelo. Isso envolve a inversão da expressão simbólica, Eq.(4-
10):
=φ φ (τ ) @
= x constante →=x x(τ ) @
= φ constante (4-12)
168
Exemplo 9
Como um primeiro exemplo de aplicação do modelo Pseudo-Avrami apresentamos
um teste de cristalização não isotérmica a partir do fundido de PP (homopolímero
PPH301 da Braskem). A amostra de 8,3 mg de PP como recebido foi aquecida de
−50°C a uma taxa de 10°C/min até 240°C e imediatamente resfriado a uma taxa de
10°C/min. O polímero cristalizou entre 119 e 105°C, com uma temperatura do pico
de cristalização de 113,8°C. A Figura E9-1 apresenta os plots de fluxo de energia e
cristalinidade relativa versus tempo desde o início da cristalização.
(a) (b)
Figura E9-1. (a) Plot do fluxo de energia J versus o tempo t, mostrando os pontos
inicial (t1 = 2455 s) e final (t2 = 2615 s) do evento; (b) plot da cristalinidade relativa x
versus o tempo desde o inicio da cristalização τ. Fonte: T. S. Alves (2010).
169
Figura E9-2. Plot de Avrami ln[−ln(1 − x )] versus ln(τ ) mostrando a reta (azul) que
ajusta os pontos entre 25 e 85 s, que correspondem a cristalinidade relativa entre
2% e 98% (um ponto de cada 3).
170
Figura E9-3. Plot da cristalinidade relativa x versus o tempo desde o inicio da
cristalização τ : dados experimentais (um ponto de cada cinco) e curva do modelo
Pseudo-Avrami com os parâmetros K' e n' avaliados no exemplo.
171
172
Exemplo 10
Neste exemplo consideramos a cinética de cristalização a partir do fundido
correlacionada de acordo com o modelo Pseudo-Avrami para PET e compósitos de
poli(etileno tereftalato) (PET) e óxido de zinco (ZnO) com 3% e 5% de carga. Os
compósitos foram preparados no misturador interno de laboratório Haake Rheomix
3000 com rotores de alta intensidade (tipo “roller’), operado 270°C e 60 rpm por 10
min. Testes foram realizados no DSC-1 da Mettler-Toledo do DEQ/UFPe por
Reginaldo Gomes de Lima Junior. Testes de DSC foram conduzidos com PET puro e
compósitos PET/ZnO, com amostras de 5 a 8 mg em cadinho de alumínio aberto,
sob um fluxo de gás nitrogênio de 50 mL/min. Um programa de temperatura em
dois estágios foi utilizado: aquecimento de 25°C a 300°C, seguido de resfriamento
até 25°C, com taxas de aquecimento/resfriamento – constantes durante cada teste
– de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40°C/min.
Os dados brutos do DSC foram integrados utilizando o programa INTEGRAL, para
obter a cristalinidade relativa x e a taxa de cristalização c (pico normalizado) como
funções do tempo τ a partir do início do evento e da temperatura T da amostra, para
a cristalização a partir do fundido durante o resfriamento. Duplicatas e triplicatas
de algumas composições/condições foram realizadas, obtendo-se a excelente
reprodutibilidade (melhor que ±0,5°C na temperatura de cristalização, melhor que
±1% na cristalinidade).
A Figura E10-1 apresenta os resultado de c = c(T ) para o PET e os compósitos
PET/ZnO.
173
Figura E10-1. Taxa de cristalização versus temperatura para PET e compósitos
PET/3%ZnO e PET/5%ZnO para diferentes taxas de resfriamento (indicadas)
Observa-se que o PET puro cristaliza na forma de picos complexos (picos duplos
explícitos para φ ≤ 25°C/min). No entanto, o PET nos compósitos cristaliza com
picos simples relativamente simétricos.
174
mecanisticamente o fenômeno): uma zona (I) para baixa fração cristalizada (menor
que 25%) e outra (II) para elevada fração cristalizada (maior que 40%). Para os
compósitos a “segunda zona” se manifesta para cristalinidade relativa maior que
95% e pode ser desconsiderada.
Figura E10-2. Plot de Avrami (y versus ln τ ) para testes seletos com PET puro
(acima) e com o compósitos PET/ZnO com 5% de carga (abaixo). Cinza: dados
experimentais; símbolos em cor: dados escolhidos para determinar os parâmetros
do modelo Pseudo-Avrami; linhas em cor: regressão linear desses dados. No eixo da
direita: valores na escala – não linear – de cristalinidade relativa.
175
Tabela E10-1. Parâmetros do modelo Pseudo-Avami: matriz
φ Zona I Zona II
(°C/min) ln K' n' σ ln K' n' σ
φ PET/3%ZnO PET/5%ZnO
10 −1,399 ± 0,006 4,27 ± 0,02 0,051 −1,441 ± 0,006 3,85 ± 0,01 0,052
15 −0,528 ± 0,003 4,54 ± 0,01 0,024 −0,770 ± 0,004 4,21 ± 0,01 0,033
20 0,850 ± 0,006 3,98 ± 0,01 0,027 0,550 ± 0,008 4,01 ± 0,01 0,039
30 2,224 ± 0,016 4,21 ± 0,02 0,039 1,994 ± 0,017 3,73 ± 0,02 0,049
35 2,930 ± 0,018 3,79 ± 0,02 0,035 2,444 ± 0,024 4,02 ± 0,03 0,057
3,142 ± 0,049 4,18 ± 0,04 0,086 2,802 ± 0,020 4,21 ± 0,02 0,040
40
3,142 ± 0,037 4,12 ± 0,03 0,069 2,763 ± 0,023 4,00 ± 0,02 0,048
176
compósitos PET/ZnO exibem uma notável regularidade, sendo praticamente
independentes do teor de carga.
177
que tenham sido avaliados integrando ponto a ponto os “verdadeiros” dados
experimentais, o fluxo de calor J ).
A Figura E10-5 mostra as curvas da cristalinidade relativa experimental (pontos) e
da cristalinidade relativa prevista pelo modelo (linhas) para alguns testes com o
compósito PET/3%ZnO. Os valores previstos foram calculados com a Eq.(4-1) e os
parâmetros K' e n' da Tabela E10-2
=
∆x x previsto − xexperimental (E10-1)
A Figura E10-6 mostra um plot de ∆x versus x para todos os testes com o compósito
PET/3%ZnO. Verifica-se que a máxima discrepância |∆x|max < 2,5% para testes
realizados a taxas de resfriamento φ < 40°C/min (|∆x|max < 4% para φ < 40°C/min).
O modelo Pseudo-Avrami sobrestima a cristalinidade na primeira parte (20 a 40%
cristalinidade relativa), subestima na segunda (50 a 90% cristalinidade relativa), e
sobrestima novamente no fim (x ≈ 95%).
178
Como temos observado anteriormente, modelos macrocinéticos empíricos como o
Pseudo-Avrami não são corretos ou incorretos, mas adequados ou inadequados
para aplicações específicas dos materiais em questão nas condições testadas. Para
uma aplicação em que uma discrepância entre modelo e realidade de 4% seja
aceitável, o modelo Pseudo-Avrami é perfeitamente apropriado. Cabe assinalar que
as discrepâncias observadas entre modelo e experimento são da mesma ordem de
magnitude da reprodutibilidade do DSC, de acordo com os expertos no assunto 46.
Resultados semelhantes foram obtidos com os compósitos com 5% de carga.
179
180
Exemplo 11
Como exemplo de aplicação do modelo de Ozawa apresentamos uma série de testes
de cristalização não isotérmica a frio de PET a taxas de aquecimento entre 1°C/min
e 40°C/min com amostras de PET substancialmente amorfo aquecidas da
temperatura ambiente (~25°C) até 300°C às taxas indicadas.
A Figura E11-1 apresenta os dados experimentais de cristalinidade relativa, e taxa
de cristalização normalizada em função do tempo desde o início da cristalização
para todos os sistemas estudados. A Figura E11-2 mostra o detalhe da Figura E11-
1 para os testes conduzidos a φ ≥ 10°C/min:
(a) (b)
Figura E11-1. Cristalinidade relativa (x ) e taxa de cristalização (c ) para a
cristalização a frio do PET em função do tempo desde o início da cristalização (τ )
para diferentes valores da taxa de aquecimento nominal (φ ). Observe a diferença de
escala temporal entre a as figuras (a) e (b). Fonte: Wellen et al (2010).
(a) (b)
Figura E11-2. Cristalinidade relativa (x ) e taxa de cristalização (c ) para a
cristalização a frio do PET em função do tempo desde o início da cristalização (τ ),
para taxas de aquecimento φ entre 10°C/min e 40°C/min. Mesma escala temporal
nas figuras (a) e (b).
181
A Figura E11-3 apresenta os mesmos dados da Figura E11-1, mas em função da
temperatura. Observe as diferenças entre a representação dos dados experimentais
em termos do tempo e da temperatura. As figuras permitem também apreciar a
qualidade dos dados experimentais.
(a) (b)
Figura E11-3. Cristalinidade relativa (x) e taxa de cristalização (c) para a cristalização
a frio do PET em função da temperatura (T ), para diferentes valores da taxa de
aquecimento (φ ).
182
Tabela E11-1. Alguns parâmetros termodinâmicos e cinéticos.
cmax
φ Tc ∆Tc ∆Hc τ½
×1000
(°C/min) (°C) (°C) (kJ/kg) (s−1) (s)
φ T (°C)
(°C/min) 105 110 115 120 125 130 135 140 145 150 155
5,2 7,13 27,72 57,80 80,26 90,01 94,31 96,87 98,58 99,61 99,98
7,7 1,89 16,09 51,57 78,83 90,27 94,75 97,19 98,58 99,43 99,86
10,3 0,03 1,09 11,16 45,90 77,96 89,20 93,43 96,03 97,80 98,96 99,61
15,5 0,12 2,35 17,72 53,53 79,47 88,88 92,92 95,32 96,96 98,15
20,5 0,01 0,80 6,72 29,57 60,89 80,56 89,03 93,15 95,59 97,19
30,3 0,02 2,04 14,10 41,53 68,08 83,08 90,99 95,28 97,62
A partir dos valores na Tabela E11-2 foi construído o plot de Ozawa, apresentado
na Figura E11-4 para quatro temperaturas:
183
Figura E11-4. Plot de Ozawa para a cristalização a frio do PET a temperaturas
entre 115 e 130°C, mostrando os dois estágios de cristalização: um estágio para
baixa a moderada cristalinidade relativa (azul) e outro estágio para maiores
cristalinidades relativas (vermelho).
Figura E11-5. Plot de Ozawa para a cristalização a frio do PET, temperaturas entre
115 e 155°C: pontos correspondentes ao primeiro estágio de cristalização.
184
Valores numéricos das constantes de Ozawa para o primeiro estágio (e alguns
valores para o segundo) são apresentadas na Tabela E11-3.
(a) (b)
Figura E11-6. Parâmetros de Ozawa para o primeiro (azul) e segundo (vermelho)
estágios da cristalização a frio do PET como funções da temperatura; a linhas para
o primeiro estágio correspondem aos polinômios de quarto grau, Eq.(E11-1).
185
Tabela E11-4. Coeficientes das Eq(E11-1) para os parâmetros de Ozawa.
(primeiro estágio).
ln κ m
a0 −2,2619⋅103 b0 0,9529⋅103
a1 59,71 b1 −25,27
a2 −0,5932 b2 0,2517
a3 2,627⋅10−3 b3 −1,114⋅10−3
a4 −4,371⋅10−6 b4 1,848⋅10−6
186
Observa-se também que o desvio do modelo de Ozawa em relação aos dados é
sempre positivo, isto é o modelo prediz uma cristalinidade relativa maior que a
observada experimentalmente. A Figura E11-8 apresenta o desvio entre dados e
modelo em termos da temperatura e da cristalinidade relativa.
Se adotarmos um desvio máximo de 6%, isto é, se admitirmos que o modelo é
aceitável quando o valor da cristalinidade relativa avaliada a partir da Eq.(4-5)
estiver compreendido entre 0 e 6% a mais do valor “real” os intervalos de validade
em termos da taxa de aquecimento são apresentados na Tabela E11-5.
Se cálculos neste exemplo forem corretos, o fato dos desvios entre o modelo e os
dados ser sempre positivos revela um sério defeito no procedimento para obter o
valor “ótimo” dos paramentos de Ozawa. Se a intenção for modelar a cristalinidade
relativa como função da temperatura, x = x(T ), para taxas de aquecimento φ >
10°C/min e cristalinidades moderadas, é possível reavaliar os parâmetros κ = κ (T ) e
m = m(T ) – utilizando os métodos do cálculo operacional – com o intuito de
transformar o erro absoluto de −0/+6% para ±3%.
(a) (b)
Figura E11-8. Desvio entre os dados experimentais e a predição do modelo de
Ozawa, como função da temperatura (a) e da cristalinidade relativa (b), para cinco
valores da taxa (nominal) de aquecimento. A linha de traços cinza corresponde a
um desvio de 6%.
187
Tabela E11-5. Intervalo de validade do modelo de Ozawa com parâmetros
correspondentes ao primeiro estágio de cristalização, considerando desvio máximo de 6%
acima do valor experimental.
10 0-56%
15 0-85%
20 0-46%
30 0-45%
40 0-10%
188
Exemplo 12
Neste exemplo correlacionamos os resultados da cristalização a partir do fundido
em compósitos de poli(etileno tereftalato) (PET) e óxido de zinco (ZnO) com 3% e 5%
de carga utilizando o modelo de Mo. Os mesmos resultados foram correlacionados
pelo modelo Pseudo-Avrami no Exemplo 10. Lembramos que temos disponível a
cristalinidade relativa x como função do tempo τ, obtidos com taxas de resfriamento
φ de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40°C/min.
Estes resultados foram interpolados utilizando o programa INTERPOL
cristalinidades relativas entre 5% e 95% em intervalos de 5%. A Figura E12-1
apresenta os plots de Mo, ln φ versus ln τ , correspondentes a alguns valores da
fração cristalizada para ambos os compósitos. A Tabela E12-1 coleta valores
numéricos dos parâmetros de Mo, junto com o coeficiente de correlação r2
correspondente ao ajuste. Tanto a Figura E12-1 quanto a Tabela E12-1 revelam a
incerteza relativamente elevada nos parâmetros de Mo.
Na Figura E12-2 os parâmetros de Mo são exibidos graficamente como funções da
cristalinidade relativa. A dependência funcional pode ser expressa com polinômios
de terceiro grau, observando-se um excelente ajuste:
ln F =a1 + b1 x + c1 x 2 + d1 x 3 (E12-1)
α =a2 + b2 x + c2 x 2 + d 2 x3 (E12-2)
Figura E12-1. Plots de Mo, ln φ versus ln τ , para PET/3%ZnO (a) and PET/5%ZnO
(b), para valores seletos da cristalinidade relativa x (indicados).
Tabela E12-1. Parâmetros de Mo para cristalização a partir do fundido de PET em
compósitos PET/ZnO.
189
PET/3%ZnO PET/5%ZnO
x (%)
ln F α r2 ln F α r2
10 2,206 ± 0,095 1,061 ± 0,109 0,959 2,158 ± 0,091 1,207 ± 0,103 0,965
20 2,378 ± 0,073 1,090 ± 0,103 0,965 2,379 ± 0,068 1,215 ± 0,095 0,971
30 2,491 ± 0,061 1,105 ± 0,099 0,969 2,517 ± 0,055 1,217 ± 0,089 0,974
40 2,579 ± 0,052 1,113 ± 0,094 0,972 2,622 ± 0,046 1,216 ± 0,084 0,977
50 2,656 ± 0,045 1,119 ± 0,090 0,975 2,711 ± 0,040 1,214 ± 0,079 0,979
60 2,726 ± 0,040 1,123 ± 0,087 0,977 2,792 ± 0,035 1,211 ± 0,075 0,981
70 2,797 ± 0,035 1,127 ± 0,083 0,979 2,872 ± 0,030 1,207 ± 0,070 0,984
80 2,875 ± 0,031 1,130 ± 0,078 0,981 2,962 ± 0,026 1,203 ± 0,065 0,986
90 2,986 ± 0,025 1,140 ± 0,068 0,986 3,090 ± 0,021 1,203 ± 0,056 0,989
190
Tabela E12-2. Coeficientes das equações (E12-1/2).
191
Figura E12-4. Discrepância relativa da cristalização correlacionada de acordo com
o modelo de Mo para todos os valores da taxa de resfriamento testados.
192
aplicações em diferentes estágios dessa cadeia requerem resultados confiáveis com
um grau de aproximação à realidade amissível para cada caso. A missão do analista
térmico (ou do engenheiro no papel de analista térmico) é fornecer os resultados
junto com uma estimativa de sua incerteza e reprodutibilidade 47.
193
4.3. Relação entre os modelos de Avrami e de Ozawa: o “supermodelo”
de Nakamura
Nakamura et al. (1972, 1973, 1974) 48 apresentaram um modelo para cristalização
de polímeros em condições de temperatura arbitrárias, T = T(t ). O modelo, baseado
nas mesmas considerações microcinéticas do modelo de Avrami, mas generalizadas
para temperatura variável sob a chamada condição isocinética 49, pode ser expresso
como:
τ ν
1 − exp −
x=
∫ 0
K N dτ ′
(4-13)
ν ν
( )
τ
∫
ν ν
1 − exp − K N
x= dτ ′ = 1 − exp − K Nτ (4-14)
0
n ≡ν (4-15)
ν
K ≡ KN (4-16)
dT
dτ = ± (4-17)
φ
194
τ
∫ ∫
T
1
K N dτ ′ = K N dT ′ (4-18)
0 φ T1
1 ν
∫
T
1 − exp − ν
x= K N dT ′ (4-19)
φ T0
m ≡ν (4-20)
ν
∫
T
κ ≡ K N dT ′ (4-21)
T1
K N = K 1/n (4-22)
e a partir da Eq.(4-21):
d κ 1/m
KN = (4-23)
dT
n=m (4-24)
d κ 1/ m
K 1/ n = (4-25)
dT
195
parâmetros de Avrami e de Ozawa assim obtidos podem ser relacionados através
das equações (4-24) e (4-25).
A única condição de validade das equações (4-24)-(4-25) é que tanto o processo
isotérmico quanto o não isotérmico, às temperaturas e taxas de aquecimento
utilizadas, sejam modelados pela Eq.(4-13) com um valor comum dos parâmetros
KN = K N (T ) e ν constate. Nessas condições, as equações (4-24)-(4-25) permitem obter
os parâmetros de Avrami a partir dos parâmetros de Ozawa determinados
experimentalmente, e vice versa.
Observe que o expoente de Avrami resulta igual ao expoente de Ozawa. Na
aplicação prática, as relações matemáticas seguintes podem ser de utilidade:
d κ 1/ m κ 1/ m d ln κ 1 dκ
= = 1−1/ m
(4-26)
dT m dT mκ dT
Temos então os modelos Pseudo-Avrami, Ozawa e Mo, que podem ou não ajustar os
dados experimentais. Pode ser que nenhum, ou só um deles, seja apropriado aos
dados. Em princípio, também é possível que dois deles fitem os dados corretamente
196
(não existe nenhuma razão teórica para que isso seja impossível), mas não é
razoável assumir que sempre os dados experimentais possam ser fitados por dois
modelos ao mesmo tempo.
No tratamento seguinte vamos assumir que os expoentes de Mo, Ozawa e Pseudo-
Avrami (α, m, n' ) sejam constantes. Esta suposição não é realmente necessária
para o raciocínio, mas simplifica bastante as expressões e permite apreciar melhor
o ponto central do mesmo. Vamos supor que seja o caso que Pseudo-Avrami e
Ozawa representem aceitavelmente os dados experimentais não isotérmicos. Temos
então que a mesma cristalinidade relativa pode ser expressa simultaneamente de
duas formas diferentes:
1 − exp {− K ′(φ )τ n′ }
x= (4-27)
1 − exp {−κ (T )φ − m }
x= (4-28)
K ′(φ )τ n′ = κ (T )φ − m (4-29)
Uma consequência disto é que os dados também são representados pelo modelo de
Mo:
φ = F ( x)τ −α (4-30)
onde:
κ
1/m
F = (4-31)
K′
n′
α= (4-32)
m
Isto é:
Pseudo-Avrami + Ozawa → Mo
Porém, mais informação pode ser obtida da Eq.(4-29). Observe que para
cristalização não isotérmica a frio com taxa de aquecimento constante 51:
T − T1
τ= (4-33)
φ
197
n′
K ′(φ )
(T − T1 ) = κ (T )φ − m (4-34)
φ n′
ou
κ (T )
φ m−n′ K ′(φ ) = n′ (4-35)
(T − T1 )
Temos reduzido o problema a duas variáveis independentes, temperatura e taxa de
aquecimento. Observe que a taxa de aquecimento é a derivada da temperatura em
relação ao tempo; as duas variáveis são, portanto, T e dT/dt.
O termo da esquerda da Eq.(4-35) é só função de φ e o termo da direita é só função
de T. Portanto, ambos os termos têm que ser iguais a uma mesma constante, isto é,
tem que ser independentes de φ e T. Verifica-se então:
n′
(T ) A (T − T1 )
κ= (4-37)
para uma constante A. Temos obtido a forma funcional dos parâmetros dos
modelos Pseudo-Avrami e Ozawa com uma única suposição: que ambos os modelos
ajustam os dados experimentais corretamente. Ainda mais, substituindo as
equações (4-36) e (4-37) na equação (4-31) e levando em consideração a equação (4-
33):
α
φ α −1 1 φ
=F = α (4-38)
(T − T1 ) φ T − T1
Isto é, o parâmetro F de Mo fica expresso em termos das variáveis independentes T
e φ. Mas o parâmetro F é função da cristalinidade relativa x. A Eq.(4-38) indica que
para x = constante o mesmo valor do termo na direita será obtido qualquer que seja
a combinação de φ e T utilizada para avaliá-lo, uma vez conhecido o valor de α :
α α α
1 φi 1 φj 1 φk
=F ( x) = = = ... (4-39)
φi Ti − T1 φ j T j − T1 φk Tk − T1
198
4.5. Forma diferencial dos modelos macrocinéticos
Contrariamente à apresentação usual em cinética química, os modelos
macrocinéticos do processo de cristalização de polímeros são definidos através de
suas versões integradas. A forma integrada relaciona as variáveis do processo; para
o caso da cristalização não isotérmica a taxas de aquecimento/resfriamento
constante essas variáveis são: cristalinidade relativa x, taxa de aquecimento/
resfriamento φ, tempo τ, temperatura T. A forma integrada é de utilidade para
estimar os parâmetros do modelo ou quando é necessário avaliar uma variável em
termos das outras.
Porém, às vezes é necessário expressar a taxa de cristalização como função das
variáveis do processo. A versão diferencial dos modelos é obtida diferenciando – em
relação ao tempo – a forma integral correspondente. A seguir consideramos a forma
diferencial dos três modelos macrocinéticos clássicos para cristalização não
isotérmica de polímeros: Pseudo-Avrami, Ozawa e Mo. A versão diferencial dos
modelos pode ser importante nas aplicações ao processamento de polímeros.
1 − exp(− K ′τ n′ )
x= (4-45)
∂x dx
=
c ≡ (4-46)
∂τ dτ φ
dx
c = =− exp(− K ′τ n′ ) × (−n′K ′τ n′−1 ) (4-47)
dτ φ
52Observe que a cristalinidade relativa varia entre 0 e 1, 0 < x < 1 (não entre 0 e 100% !).
Nestas notas preservamos a notação diferenciada para os parâmetros de Avrami (K e n) e
Pseudo-Avrami (K' e n' ), raramente implementada na prática, mas de grande valor
educativo, até que o estudante internalize as diferenças entre os dois modelos...
199
=c n′K ′τ n′−1 (1 − x) (4-48)
1/ n′
1
τ = K′ −1/ n′
ln (4-49)
1− x
1−1/ n′
dx 1
n′K ′ (1 − x) ln
1/ n′
=c = (4-50)
dτ φ 1− x
=c k (φ ) ⋅ f ( x) (4-51)
onde:
1−1/ n′
1
f= (1 − x) ln (4-53)
1− x
200
Se o expoente n' não for constante, isto é, se depender da taxa de aquecimento,
resulta impossível separar um fator que seja apenas função da conversão e a Eq.(4-
50) pode ser escrita como:
=c k (φ ) ⋅ f ( x, φ ) (4-54)
1 − exp(−κφ − m )
x= (4-55)
∂x dx
=
c ≡ (4-56)
∂τ dτ φ
dx dκ dT − m
c=
= ⋅ φ (1 − x) (4-57)
dτ φ dT dτ
ou
dκ 1−m
c=
± φ (1 − x ) (5-58)
dT
54 As equações (4-55)-(4-57) foram introduzidas por Ozawa (1971) – equações (14) a (17)
nesse artigo. O sinal do termo da direita na Eq.(4-57) não fica claro no trabalho de Ozawa,
que utiliza diferentes símbolos para o parâmetro κ determinado durante aquecimento ou
resfriamento.
201
para os processos de cristalização não isotérmica durante o aquecimento e durante
o resfriamento:
dκ
> 0 para dT / dτ > 0
dT
(4-59)
dκ
< 0 para dT / dτ < 0
dT
−1/ m
1
φ = κ 1/ m ln (4-60)
1− x
1−1/ m
dx 1/ m d ln κ
(1 − x ) ln
1
=c = κ (4-61)
dτ φ dT 1− x
=c k (T ) ⋅ f ( x) (4-62)
d ln κ
k = κ 1/ m (4-63)
dT
1−1/ m
1
f= (1 − x) ln (4-64)
1− x
m
dκ
c = φ m dκ + κ dφ (1 − x) =... =
dm 1+ m
+ κ ln φ φ (1 − x) (4-65)
dτ dτ dT dT
55Observe a diferença entre o parâmetro cinético (do modelo) κ e a constante cinética (do
processo) k, diferença que nem sempre (de fato, quase nunca...) é levada em consideração
na literatura de ciência de polímeros.
202
A partir da Eq.(4-55) se obtém uma expressão para φ como função T e x :
−1/ m
φ = κ 1/ m ln
1
(4-66)
1− x
e do logaritmo de φ :
1 1
ln φ
= ln κ − ln ln (4-67)
m 1 − x
1−1/ m
dx d ln κ d ln m 1 1
c=
= κ 1/ m − ln ln (1 − x ) ln (4-68)
dτ φ dT dT 1− x 1− x
4.5.3. Modelo de Mo
A forma integral do modelo expressa a taxa de aquecimento/resfriamento φ , medida
a cristalinidade relativa x constante, como função do tempo τ desde o início do
evento de cristalização:
φ = Fτ −α (4-69)
∂x dx
=
c ≡ (4-70)
∂τ dτ φ
F = τ αφ (4-71)
∂F dF dx
= = ατ α −1φ (4-72)
∂τ dx dτ φ
203
dF dx
= αφ 1/α F 1−1/α (4-73)
dx dτ φ
ou
−1
dx −1/α d ln F
αφ F
1/α
=c = (4-74)
dτ φ dx
=c k (φ ) ⋅ f ( x) (4-75)
k = αφ 1/α (4-76)
−1
1−1/α dF
f =F (4-77)
dx
dF dx dτ α α dα dx
= φ= τ α φ + ln τ (4-78)
dx dτ φ dτ τ dx dτ φ
ou
α −1
dx ατ φ
=c = (4-79)
dτ φ dF − τ α ln τ dα
dx dx
A última etapa consiste em eliminar τ e lnτ entre as Eqs.(4-79) e (4-71); uma forma
do resultado final é:
dx αφ 1/α F −1/α
=c = (4-80)
dτ φ d ln F + ln F d ln α
1 −
dx ln α dx
204
que apareçam bastante complexas – especialmente as Eqs.(4-68) e (4-80) – são
facilmente programáveis uma vez que os parâmetros do modelo são estimados como
funções (empíricas) das variáveis independentes correspondentes (φ, T, x ).
Expressões analíticas exatas, como as discutidas, são de grande utilidade – ainda
neste modo dominado pelos métodos computacionais numéricos – no momento de
inserir os modelos de cristalização não isotérmica em protocolos de processamento
e fabricação de materiais, para desenvolver e controlar processos industriais nos
que a cristalização é mais um entre outros fenômenos que ocorrem
simultaneamente (por exemplo, moldagem de peças, formação de filmes e fibras,
etc).
E
k = k0 exp − a (4-81)
RΘ
A → [X] → B
56 Nestas notas utilizamos o símbolo Θ para denotar a temperatura “absoluta” (em Kelvin),
relacionada como a temperatura “ordinária” T (em graus Celsius) através Θ/K = T/°C +
273,15. Observe que (numericamente) dΘ = dT.
57O complexo ativado [X] não é uma espécie química no sentido usual do termo; seu tempo
de vida é da ordem de magnitude da inversa das frequências de vibração das ligações
químicas envolvidas.
205
A energia de ativação é interpretada como uma barreira energética, isto é a
diferencia de energia interna entre o estado de transição e os reagentes:
∂ ln k
Ea = − R (4-82)
∂Θ −1
206
Se o parâmetro Ea definido pela Eq.(4-82) é razoavelmente independente da
temperatura, é possível avaliar o mesmo a partir de resultados experimentais. O
significado físico da energia de ativação aparente nesses casos não é claro: com
certeza não pode ser interpretada com uma barreira energética no sentido discutido
anteriormente. Porém, como os cientistas de materiais e analistas térmicos insistem
em avaliar esse parâmetro – ainda sem ter muito claro o significado do que estão
avaliando – consideramos o assunto nestas notas.
d ln κ
k = κ 1/ m (4-83)
dΘ
onde κ =κ (Θ). A definição de energia de ativação, Eq.(4-82), pode ser escrita como:
RΘ 2 d k
Ea = (4-84)
k dΘ
RΘ 2 1 d ln κ 2 d 2 ln κ
Ea = κ 1/ m + 2
(4-85)
k m dΘ dΘ
RΘ 2 d ln κ d d ln κ
Ea = 1 + m (4-86)
m dΘ d Θ d Θ
Em princípio, parece pouco provável que a função (empírica) κ (Θ) que correlaciona o
parâmetro de Ozawa resulte em um valor de Ea independente da temperatura –
condição necessária para que a Eq.(4-86) defina uma energia de ativação
significativa. Porém, Todo é possível. Tentemos, por exemplo, a função:
κ A exp(− BΘ−1 )
= (4-87)
RB mB
Ea = 1− (4-88)
m 3Θ 2
Se 1
3 mB / Θ 2 << 1 a energia de ativação seria:
207
RB
Ea ≈ (4-89)
m
− d ln κ / d Θ .
em termos do expoente m de Ozawa e do parâmetro B =
−1
dx Ea
= k0 exp − f ( x) (4-90)
dτ φ RΘ
d 2 x Ea df E dx
=
φ + k0 exp − a (4-91)
dτ RΘ RΘ dτ
2 2
dx
φ Ea df E
=
−k0 exp − a (4-92)
RΘ2p dx p RΘ p
208
Ea = − R
(
d ln φ / Θ2p ) (4-93)
d (1/ Θ p )
φ 1
ln = a −b (4-94)
Θ 2p Θp
onde
df R
=
a ln − k0
dx p Ea
(4-95)
Ea
b=
R
ou seja:
Ea = Rb
b exp(a ) (4-96)
k0 =
− ( df / dx ) p
No seu trabalho original Kissinger (1956) assumiu uma cinética de primeira ordem,
f (x ) = 1−x , de onde (df/dx )p = −1. Nesse caso, a Eq.(4-92) fica reduzida a:
φ Ea E
= k0 exp − a (4-97)
RΘ p RΘ p
2
Ea = Rb
(4-98)
k0 = b exp(a )
209
demonstrar que o efeito de (df/dx )p na energia de ativação é relativamente pequeno
para muitas outras expressões cinéticas f (x ) (Elder, 1985; Budrugeac & Segal,
2007). Estes estudos são bastante sugestivos, mas envolvem necessariamente casos
particulares.
O método de Kissinger depende da linearidade da relação entre ln (φ /Θ 2p ) e 1 / Θ p . Se
os dados experimentais de Θp(φ ) não exibem essa linearidade – isso é, se os pontos
no plot de Kissinger não se alinham aproximadamente numa reta – o método não é
aplicável: provavelmente, a constante cinética não depende exponencialmente da
inversa da temperatura absoluta e, portanto, não é possível definir uma energia de
ativação. Ainda assim, sempre é possível regredir linearmente os resultados
experimentai e obter formalmente os parâmetros a e b da Eq.(4-94). Porém, uma
energia de ativação obtida nessas condições não tem valor algum. Infelizmente,
muitos pesquisadores não resistem a tentação de estimar e reportar esses valores,
ainda que a relação entre ln (φ /Θ 2p ) e 1 / Θ p seja notoriamente não linear e/ou que
numero de pontos seja insuficiente para obter valores significativos de Ea (em
princípio, são necessário no mínimo 5 pontos; isto é, testes a 5 valores diferentes da
taxa de aquecimento).
O método de Kissinger, em geral, fornece valores aproximados da energia de
ativação, muitas vezes (mas não necessariamente sempre) aceitáveis. A
aplicabilidade do método de Kissinger é restrita a processos que ocorrem durante o
aquecimento (dΘ/dτ > 0). Vyazovkin (2002) tem demonstrado que o método de
Kissinger não é aplicável a processos que ocorrem durante o resfriamento (dΘ/dτ <
0). Não é, portanto, aplicável para os processos de cristalização a partir do fundido.
E ( x)
c(Θ, x) =
k0 exp − a f ( x) (4-99)
RΘ
210
Não é difícil interpolar os resultados 58 para obter a taxa de conversão como função
da temperatura e a conversão atingida c = c(T,x); o procedimento é semelhante a
utilizado para gerar os valores para ser correlacionados pelo modelo de Mo.
E (x )
c(Θ, x0 ) =
k0 exp − a 0 f ( x0 ) (4-100)
RΘ
ou
Ea ( x0 )
ln c(Θ, x0 ) = ln k0 + ln f ( x0 ) − (4-101)
RΘ
1
ln c= a − b (4-102)
Θ
onde
Ea ( x0 )
b= (4-103)
R
ou seja:
Ea ( x0 ) = Rb (4-104)
211
212
Exemplo 13
Na primeira parte deste exemplo estimamos a energia de ativação para a
cristalização a frio do PET, utilizado o método de Kissinger com as temperaturas do
pico de cristalização medidas com diferentes taxas de aquecimento, discutidas no
Exemplo 1 destas notas. Além disso, discutimos o cálculo errado 59 da energia de
ativação para a cristalização a partir do fundido do PET, utilizando os dados do
Exemplo 2. Na segunda parte estimamos a energia de ativação neste último caso (a
cristalização a partir do fundido) utilizando o procedimento isoconversional.
Finalmente apresentamos um método alternativo de estimar o efeito da temperatura
na taxa de cristalização.
Método de Kissinger
213
(a) (b)
Figura E13-1. Plot de Kissinger para a cristalização de PET, a frio (a) e a partir do
fundido (b). O plot (b) não está baseado na verdadeira equação de Kissinger; os
parâmetros da correlação linear (indicada) não têm significado físico algum.
214
Figura E13-2. Plot de Kissinger para a cristalização a frio de PET, mostrado ajustes
lineares para os dados a elevada (vermelho) e baixa (verde) temperaturas.
Método isoconversional
O método de Friedman pode ser utilizado para estimar uma energia de ativação
dependente da cristalinidade para o processo de cristalização a partir do fundido.
Valores da taxa de cristalização interpolados para diferentes cristalinidades
relativas podem ser convenientemente obtidos com o programa INTERPOL. A Figura
E13-3 mostra o resultado para o caso do PET;
215
A bela Figura E13-3 oculta sua origem tenebrosa. A figura foi construída a partir
dos valores obtidos pela regressão linear do logaritmo da taxa de cristalização em
termos da inversa da temperatura absoluta para valores constantes da
cristalinidade relativa. A Figura E13-4 mostra alguns exemplos.
É claro que a enorme dispersão dos dados não permite estimativas confiáveis da
energia de ativação (o desvio padrão da inclinação das retas supera em alguns
casos ± 100%). A bela Figura E13-3 é uma ilusão.
216
onde β > 0 é um coeficiente característico do material e do processo, que deve ser
determinado experimentalmente. A Eq.(E13-1) é puramente empírica, sem
nenhuma pretensão mecanística. Porém, trata-se de uma dependência “razoável” –
tão razoável quanto razoável seja escolha de força motriz.
Propomos a seguinte escolha de força motriz. Para o caso da cristalização não
isotérmica partir do fundido, que ocorre durante o resfriamento, a força motriz é
fornecida pelo super-resfriamento: a diferença entre a temperatura de fusão de
equilíbrio e a temperatura em que se desenvolve o processo:
temos que:
dc df
= c βφ + k0′ exp ( β ∆T ) (E13-5)
dτ dx
217
Se assumirmos (df/dx)p constante menor que 0 (seguindo a Kissinger, e com a
mesma justificativa – ou falta dela – que nesse caso) o coeficiente b pode ser obtido
da regressão linear dos resultados experimentais da taxa de aquecimento/
resfriamento φ versus a força motriz no pico ∆Tp:
df k0′
=ln φ ln − + β∆Tp (E13-7)
dx p β
A Figura E13-5 mostra os plots de φ versus ∆Tp para a cristalização de PET a frio e
a partir do fundido. O ajuste não muito bom, mas não é muito pior do que nos plots
de Kissinger, Figuras E13-1 e E13-3.
Os coeficientes resultam:
218
5. Software
Nesta seção se discutem os programas de computação desenvolvidos para auxiliar
nos cálculos da análise de dados e modelagem cinética. Infelizmente, não é possível
automatizar completamente os procedimentos de cálculo. Várias etapas requerem a
análise crítica dos resultados numéricos ou gráficos pelo técnico ou pesquisador
responsável pelos testes, especialmente para a identificação dos intervalos de
aplicação e validade dos modelos. Outras etapas são tão simples que o software
gráfico comercial (Excel, Origin, SigmaPlot) é mais conveniente para processar os
dados. Finalmente, algumas etapas opcionais (e.g., a resolução de picos complexos)
requerem software especializado (e.g., PeakFit).
Dois programas de cálculo foram desenvolvidos: INTEGRAL e INTERPOL. Os
programas foram codificados em FORTRAN e compilados com Digital Visual
Fortran. O seguinte roteiro ou sequencia de cálculo de análise de dados e
modelagem cinética explica as etapas em que os programas desenvolvidos podem
ser utilizados (azul), assim como as etapas que requerem a intervenção crítica do
técnico ou pesquisador (verde). Os itens em preto podem ser conduzidos
manualmente ou com auxilio de software gráfico comercial; SigmaPlot é utilizado
como exemplo, por ser esse o pacote de software utilizado neste projeto, mas outros
são igualmente adequados.
[1] Plotar os dados brutos do DSC (fluxo de calor versus tempo) – SigmaPlot
[2] Identificar visualmente os eventos de mudança de fase (fusão, cristalização a
frio, cristalização a partir do fundido) e os intervalos de tempo em que
transcorrem. Salvar manualmente os segmentos da tabela de dados brutos
correspondentes.
[3] Plotar os dados brutos correspondentes aos eventos individuais (fluxo de calor
versus tempo ou temperatura) – SigmaPlot
[4] Identificar visualmente os pontos inicial e final dos eventos.
[5] Integrar os dados brutos para obter os parâmetros termodinâmicos e cinéticos
do evento, assim como a fração fundida/cristalizada e a taxa de
fusão/cristalização como funções do tempo e da temperatura – INTEGRAL
[6] Identificar visualmente o(s) intervalo(s) apropriados para a modelagem cinética
da cristalização de acordo com o modelo Pseudo-Avrami.
[7] Obter os parâmetros do modelo Pseudo-Avrami por regressão linear;
correlacionar os parâmetros obtidos como funções da taxa de aquecimento/
resfriamento – SigmaPlot
[8] Interpolar a cristalinidade relativa como função da temperatura e do tempo
para obter os dados necessários para aplicação dos modelos de Ozawa e Mo, e
a estimativa da energia de ativação aparente de acordo com procedimento
isocorvesional de Vyazovkin – INTERPOL
[9] Identificar visualmente o(s) intervalo(s) apropriados para a modelagem cinética
da cristalização de acordo com os modelos de Ozawa e do Mo.
219
[10] Obter os parâmetros dos modelos de Ozawa e Mo por regressão linear;
correlacionar os parâmetros obtidos como funções da temperatura (Ozawa) e
da cristalinidade relativa (Mo). Obter a energia de ativação aparente
(Vyazovkin) – SigmaPlot
As seções seguintes contém, para cada programa, uma introdução explicando o
método de cálculo, seguida das instruções detalhadas para a utilização do
programa (o “manual” do software). A primeira parte é um resumo de material
previamente discutido nestas notas; sua inclusão neste ponto facilita a consulta
desta seção por aqueles que desejam apenas se informar sobre os programas
INTEGRAL e INTERPOL.
∫
t
1
=x(t ) J (t ′) − J 0 (t ′) dt ′ (*)
E0 t1
onde:
∫
t2
=E0 J (t ) − J 0 (t ) dt
t1
62 Um programa especial, INTEGRAL2, foi desenvolvido para os poucos casos em que a linha
de base virtual reta deve ser substituída por uma linha de base virtual sigmoide para evitar
erros significativos na estimativa da cristalinidade. Esse programa requer a identificação da
linha de base antes e depois do evento.
220
O parâmetro E0 – a área entre o pico J e a linha de base J0 – é a energia total
liberada durante o evento exotérmico de cristalização. O calor latente de
cristalização por unidade de massa do polímero cristalizável (∆H c ) é avaliado como:
E
∆H x = 0
wP mS
onde mS é a massa de amostra e wP é a fração mássica de polímero cristalizável.
A mudança de cristalinidade durante o evento (∆Xc) é estimada como:
∆H
∆X c = 0x (**)
∆H m
T =T0 + φ (t − t0 )
onde T0 = T(t0), ponto de localização arbitrária. Gráficos em termos do tempo e da
temperatura diferem somente em um fator de escala.
Definimos também o tempo desde o início do evento:
τ = t − t1
No gráfico x versus T são determinadas as temperaturas inicial (T1) e final (T2) do
evento como aquelas em que transformação atinge 1% e 99% do total,
respectivamente. O intervalo de cristalização é definido como:
∆Tc = T2 − T1
221
No gráfico x versus t podem ser estimados os tempos em que a transformação
atinge diferentes valores de x. Taxas médias de cristalização podem ser avaliadas a
partir dos mesmos; em particular:
0.98
c1−99% =
t99% − t1%
0.6
c20−80% =
t80% − t20%
Chamamos à primeira a média global e à segunda a média central. Outras médias
podem, obviamente, ser definidas e avaliadas.
O tempo necessário para que cristalize 50% do total τ½ é obtido como a diferença
entre o tempo x = 50% e a x = 0.1%; τ½ é inversamente proporcional à taxa de
cristalização durante a primeira metade do evento.
O fluxo de energia normalizado é avaliado dividindo a “altura” do pico |J − J0| pela
área total do mesmo. Resulta ser igual à taxa pontual de cristalização c ; a partir da
Eq.(*):
dx J (t ) − J 0 (t )
c(=
t) =
dt E0
A taxa máxima de cristalização (cmax) é avaliada no pico do gráfico c versus t ou T.
No gráfico c versus T é determinada a temperatura (pico) de cristalização Tc. Para
eventos de fusão, a temperatura pico é simbolizada Tp. Em caso de picos duplos –
explícitos ou ocultos (ombros) – Tc corresponde ao pico maior ou principal; a
temperatura do pico menor ou secundário é simbolizada T'c. ou Ts.
A assimetria dos picos é caracterizada no presente trabalho através da diferença
entre a temperatura do pico é a temperatura da média. Assimetria positiva (Tc > T½)
corresponde a picos cabeça maior que cauda, e assimetria negativa (Tc < T½) a picos
com cauda maior que cabeça; para picos simétricos: Tc = T½ .
222
• Coluna 1: tempo em segundos ou minutos
• Coluna 2: temperatura em °C
• Coluna 3: fluxo de energia em mW
O arquivo deve conter três colunas, sem cabeçalhos ou linhas em branco antes ou
depois, e utilizar a vírgula como símbolo decimal. O nome do arquivo pode ter até
oito letras ou números, sem espaços ou símbolos especiais. A extensão do arquivo
deve ser TXT (ou txt). O arquivo deve ser codificado de acordo com o protocolo ASCII
(ou ANSI); arquivos de texto “Unicode” não são reconhecidos.
O programa integral pode processar arquivos de até 20,000 linhas, com 10,000 no
intervalo a ser analisado.
É recomendável extrair só os pontos necessários da planilha de dados. Antes de
utilizar, verifique (abrindo o arquivo no Bloco de Notas), o simbolo decimal,
separador entre colunas e codificação. Se não forem os aqdequados, mude.
Quando o programa é executado se abre uma janela que solicita:
Enter name of TXT file with input:
Digite 0 se o pico for de “cabeça pra cima” (que geralmente corresponde a um pico
de cristalização) o digite 1 se o pico for de “cabeça pra baixo” (que geralmente
corresponde a um pico de fusão). ENTER. Pede a continuação:
Enter time/temp input iot =
Digite 0 se você vai indicar o tempo inicial e final ou 1 se vai indicar a temperatura
inicial e final do pico. O programa integra no tempo, mas permite que você defina os
pontos inicial e final seja como tempos ou temperaturas. ENTER. Próxima pergunta:
Enter time units iun =
Digite os tempos inicial e final (expressos na unidade escolhida com iun). Digite só
o número (lembre utilizar a vírgula como símbolo decimal se for necessário; se for
um número inteiro pode desconsiderar a virgula). Pressione a tecla ENTER em cada
caso.
223
Se escolheu o iot = 1 o programa solicita agora as temperaturas inicial e final:
Enter start temperature T1 =
Digite as temperaturas inicial e final (em °C). Digite só o número (lembre utilizar a
vírgula como símbolo decimal se for necessário; se for um número inteiro pode
desconsiderar a vírgula). Pressione a tecla ENTER em cada caso.
A condição básica é que os tempos t2 > t1 (em caso das temperaturas pode ser T1 >
T2 ou T2 > T1; o importante é que os tempos correspondentes a essas temperaturas
cumpram o requerimento). Os tempos inicial e final tem que ser pontos interiores
no arquivo input (t1 não pode ser o primeiro ponto e t2 não pode ser o último) e é
necessário que existam, no mínimo três ou quatro pontos no arquivo input
compreendidos entre t1 e t2.
É conveniente que exista pelo menos um “pico” entre t1 e t2. Isto é, que para algum
tempo t, t1 < t < t2 o valor do fluxo J(t ) seja maior que J(t1) e J(t2) – se kin = 0 – ou
menor – se kin = 1. Caso contrário, o programa retorna resultados imprevisíveis.
Depois de entrar os tempos ou temperaturas iniciais e finais, o programa solicita
alguns dados necessários para avaliar o calor latente de mudança de fase e estimar
a cristalinidade da amostra. Em primeiro lugar pede a massa de amostra:
Enter sample mass mS =
Digite a massa (em mg) e pressione a tecla ENTER. A massa deve ser um número
positivo maior que zero. Se não quiser que o programa avalie o calor latente por
unidade de massa digite 0 (ou qualquer número negativo); nesse caso o input
termina neste ponto: o programa não vai avaliar o calor latente por unidade de
massa.
Porém, se você digitou uma massa válida, o programa pede agora a fração de
polímero cristalizável na amostra:
Enter polymer fraction wP =
Digite o valor da fração (não a percentagem!). A fração deve ser um número positivo
maior que 0 e menor ou igual que 1. Para blendas com polímeros amorfos não
cristalizáveis nas condições do teste ou no caso de compósitos com recheios sólidos,
a fração pedida é menor do que 1. Se a amostra é de um polímero puro cristalizável,
digite 1.
Finalmente, o programa solicita o calor latente de fusão por unidade de massa do
polímero 100% cristalino:
Enter latent heat 100% H0 =
224
Uma vez concluídos os cálculos o programa avisa:
DONE!
e pergunta:
Para cada arquivo processado pelo programa INTEGRAL dois arquivos são gerados
com o output (resultados) com o mesmo nome seguido de –INT e –EXT (abos são
arquivos de texto com extensão TXT). Assim, se o arquivo com o input era
P0010a.txt os arquivo com o output será P0010a-INT.TXT e P0010a-EXT.TXT.
O arquivo INT com o output é um arquivo de texto com quatro colunas separadas
com ponto-e vígula. O arquivo pode ser visualizado com o Bloco de Notas ou
importado em SigmaPlot.
• Coluna 1: tempo em minutos desde o início do evento (nossa variável τ ).
• Coluna 2: temperatura em °C
• Coluna 3: pico normalizado, |J – J0|/E0 em nossa nomenclatura, que
corresponde a taxa de cristalização ou de fusão, segundo seja o caso; as
unidades são minutos recíprocos (min−1).
• Coluna 4: cristalinidade relativa ou fração fundida, segundo seja o caso, em %.
Observe que as colunas 1, 3, e 4 se iniciam em 0,0; a coluna 3 termina em 0,0 e a
coluna 4 termina em 100,0.
O arquivo EXT contém uma série de parâmetros e pode ser visualizado com o Bloco
de Notas, Word, etc. Em primeiro lugar apresenta-se uma tabela dos SPECIAL
POINTS com os valores de tempos time (desde o início do evento, em minutos) e
temperaturas temp (em °C) interpolados para 11 valores determinados da fração
transformada x (em %), correspondentes a:
0,1 – 1 – 5 – 10 – 20 – 50 – 80 – 90 – 95 – 99,9 %
0,1 – 99,9 %
1 – 99 %
5 – 95 %
10 – 90 %
20 – 80 %
A tabela contém também as taxas médias ca de fusão/cristalização (em min−1)
avaliadas dividindo a diferença das frações (não percentagens!) transformadas pelo
intervalo de tempo em que ocorrem.
225
O item seguinte, sob o título de OTHER PARAMETERS, agrupam vários
parâmetros do processo:
(1) O calor latente total de mudança de fase, E0 (E0) avaliado através da integral da
diferença entre o fluxo de energia reportado pelo DSC, J(t ) e a linha de base virtual,
J 0 (t ), entre os instantes inicial, t1, e final, t2, do evento, Eq.(7-2). E0 é expresso em
mJ.
(2) Se foi providenciada uma massa de amostra mS > 0 e uma fração de polímero
cristalizável 0 < wP ≤ 1, o calor latente de mudança de fase por unidade de massa
de polímero cristalizável, ∆Hm ou ∆Hc, segundo o caso, (dH) é avaliada pela Eq.(7-3).
∆Hx é expesso em mJ/mg = J/g = kJ/kg.
(3) Se foi providenciado o calor latente do polímero 100% cristalino, ∆H°m, valor
tomado da literatura e que normalmente é conhecido com incerteza relativamente
elevada (± 5 a 10%), a variação de cristalinidade da amostra durante um evento de
cristalização ou a cristalinidade da amostra antes de um evento de fusão
(assumindo fusão completa), ∆Xc (Xc), é estimada pela Eq.(7-4).
(4) O intervalo de tempo necessário para alcançar 50% da transformação a partir do
início do evento (crystallization half-time), o τ½ (tau), avaliado como:
τ=
=½ tx =
50% − t x 0,1%
para evitar o uso do “tempo zero” do evento, relativamente arbitrário; τ½ é expresso
em minutos.
(5) A taxa máxima de cristalização ou fusão cmax (cmax) e a largura do pico medida
a uma taxa igual à metade da máxima (FWHH = full width at half height), tanto
como tempo quanto como temperatura.
Finalmente, o item seguinte MAXIMA inclui as posições e amplitude (valores da
taxa de transformação) dos máximos da curva do pico normalizado versus tempo ou
temperatura, isto é, dos picos de fusão/cristalização. Para cada pico é listada a
temperatura tem pico (°C) e a posição no tempo time pico (min), assim como o
valor da taxa máxima relativa de transformação c pico (min−1).
O programa identifica somente os três primeiros picos – em ordem crescente do
tempo – e só separa picos que diferem em mais do que 5 s. O programa não
identifica picos “virtuais” (ombros).
O programa avalia o pico fixando ou ajustando um polinômio de segundo grau
(quadrático) aos 5 pontos mais próximos do pico. No caso de traço irregular, comum
a baixas taxa de aquecimento, é possível que todos os picos identificados sejam
“falsos” (isto é, que correspondam às irregularidades do traço); nesse caso é
necessário identificar o pico visualmente e obter os parâmetros interpolando
manualmente na tabela de taxa de cristalização versus temperatura.
226
O painel mostra um exemplo do conteúdo do arquivo EXT:
*** SPECIAL POINTS ***
x % time m temp C
0,1 0,4988 125,16
1,0 1,4192 134,36
5,0 2,6202 146,35
10,0 3,2469 152,60
20,0 3,8588 158,67
50,0 4,5438 165,40
80,0 5,1179 171,14
90,0 5,2696 172,63
95,0 5,3515 173,50
99,0 5,4846 174,97
99,9 5,6446 176,61
227
5.2. Programa INTERPOL
Os modelos de Ozawa e Mo correlacionam os resultados de cristalização não
isotérmica (a partir do fundido ou a partir do sólido amorfo) medidos a taxa de
resfriamento/aquecimento constante.
O modelo de Ozawa relaciona a cristalinidade relativa x a temperatura constante T
com a taxa de resfriamento/aquecimento φ :
1 − exp ( −κφ − m )
x=
ln ln =
1
ln κ − m ln φ
1 − x
z
y
=
ln
φ ln F − α ln
τ
y z
=
c
dx E
(
= k0 exp − a f ( x)
dt RΘ )
onde k0 é uma constante, f (x) é uma função somente da cristalinidade relativa, Θ é
a temperatura absoluta (Θ/K = T/°C + 273,15), R é a constante universal dos gases
(R = 8,3145 J/mol·K) e Ea é a energia de ativação aparente, função da cristalinidade
relativa x.
228
Para dados a cristalinidade relativa (conversão) constante, Ea pode ser estimada
regressão linear dos dados interpolados:
Ea −1
c = ln k0 + ln f ( x) − R Θ
ln
y z
229
possível voltar atrás: se errar, pressione1 CTRL-C para fechar a janela e reinicie a
execução de INTERPOL. Os parâmetros T1, T2, DT e DX podem ser expressos em
números reais ou inteiros (120 é o mesmo que 120,0).
Enter name of TXT file with input:
Digite a temperatura inicial (em °C) para a varredura (Ozawa). Real positivo.
Enter end temp, T2 =
Digite a temperatura final (em °C) para a varredura (Ozawa). Real positivo; T2 < T1
se kk = 0 ou T2 > T1 se kk =1.
Enter temp step DT =
Digite o incremento de temperatura (em °C) para a varredura (Ozawa). Real positivo;
2 < T2 − T1 / ∆T < 100 . A tabela de Ozawa será construída com valores interpolados
para temperaturas T1, T1 ± DT, T1 ± 2*DT, ... até T2 (sinal + para cristalização
durante o aquecimento, sinal – para cristalização durante o resfriamento).
Enter conv step Dx =
Notas sobre Mo. O número de pontos em cada set é o mesmo para o modelo de Mo
do que para o modelo de Ozawa. O número de plots de Mo (isto é, o número de
pares de parâmetros {F,α } a ser avaliados) é igual ou menor que 100/ ∆x − 1 .
230
O output do programa INTERPOL é um arquivo de texto como o mesmo nome-raiz
do que o input, seguido de –POL.TXT. Por exemplo, se o input for o arquivo PHB2C-
INT.TXT, o output será o arquivo PHB2C-POL.TXT. O output consiste em duas
tabelas: a tabela de Ozawa e a tabela de Mo.
A Tabela de Ozawa é formada por T2 − T1 / ∆T filas e três colunas:
Coluna 1: Temperatura (°C) → T
Coluna 2: Cristalinidade relativa (%) → x [valores interpolados]
Coluna 3: Variável y = ln {ln [1 / (1 − x ) ]} [avaliado a partir da coluna 2]
A Tabela de Mo é formada por 100/ ∆x − 1 filas e três colunas:
Limitações do programa INTERPOL. O arquivo “INT” com o input deve ter no máximo
5000 linhas e ser um arquivo válido para um evento de cristalização (τ ≥ 0 variável
monótona crescente; T variável monótona crescente ou decrescente – de acordo com
o valor de kk; 0 ≤ x ≤ 500 variável monótona crescente). Os valores de T1, T2, ∆T e ∆x
escolhidos de forma tal que o número filas nas tabelas de Ozawa e Mo (NT ) não
exceda 500.
231
232
Referências
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241
242
Apêndice
1. Introdução
Os modelos de cristalização têm um objetivo duplo: explicar os resultados cinéticos
e morfológicos, e proporcionar métodos analíticos ou numéricos para predizer
medições cinéticas e desenvolvimentos estruturais de processos reais. O
comportamento preditivo de um modelo analítico é útil na medida em que o modelo
possa ser inserido nos protocolos de processamento e fabricação de materiais, para
desenvolver e controlar processos comerciais nos que a cristalização é mais um
entre outros fenômenos que ocorrem simultaneamente (por exemplo, moldagem de
peças, formação de fibras, etc). Um modelo com a forma correta para as
dependências nas variáveis externas (temperatura, tensão e deformação,
composição) é muito útil, ainda que o valor numérico de todos os parâmetros
constantes do modelo não seja conhecido. Os parâmetros livres resultantes podem
ser avaliados através de experimentos auxiliares.
Tem pouca controvérsia em relação à modelagem da nucleação dos cristalitos, um
processo que chamaremos de nucleação primária. Porém, os expertos no assunto
discutem ainda sobre como deve ser modelado o crescimento. Em muitos casos, o
modelo analítico proposto por Lauritzen e Hoffman é amplamente utilizado e
satisfaz muitos requisitos de um modelo que exiba dependência aproximadamente
correta com importantes variáveis externas. Este modelo tem dominado a área a tal
extremo que considerável espaço lhe será dedicado nesta apresentação. Porém, o
modelo tem limitações e é razoável examinar detalhadamente seus fundamentos,
que têm sido criticados. O tratamento de Lauritzen-Hoffman está baseado no
conceito de uma interface de crescimento molecularmente plana, sobre a qual uma
nova camada cristalina deve nuclear (nucleação secundária) e crescer. Algumas
críticas ao modelo se originam na ideia de que a superfície de crescimento é, na
realidade, molecularmente rugosa e, portanto, a nucleação secundária é
desnecessária. O tratamento da “superfície rugosa” será examinado em seções
subsequentes.
Antes de entrar na matéria pode ser útil comentar sobre como as cinéticas
separadas de nucleação primária e crescimento cristalino se integram nos modelos
245
cinéticos globais de cristalização. Quando ocorre a cristalização, novos centros se
desenvolvem (via nucleação primária) ao mesmo tempo em que crescem os centros
existentes. Portanto, todo tratamento global da cinética de cristalização deve
considerar os dois fenômenos simultaneamente. Como a cinética de nucleação e
crescimento se relacionam com os modelos analíticos para a taxa global de
cristalização é outro assunto.
∆
=G 4π r 2σ + 4 3 π r 3∆Gv (1)
Como o sistema está abaixo do ponto de orvalho ∆Gv é negativa e acurva ∆G versus
r será como esquematizado na Figura 1. A curva exibe um máximo a ∆G* e r*.
246
No trabalho original 2 sugere-se que todo embrião de tamanho r* se torna instável e
cresce espontaneamente, já que seu aumento de tamanho diminui a energia livre do
sistema. Chamamos “núcleo” a um cristal embrionário desse tamanho. O tamanho
e a energia livre do núcleo podem ser obtidos anulando a primeira derivada da
Eq.(1):
2σ
r* = − (2)
∆Gv
e
16πσ 3
∆G* = 2 (3)
3∆Gv
I = N *S *Z * (4)
∆G*
=
N * N exp − (5)
kT
onde N é a concentração de moléculas do vapor. Completando o tratamento da
nucleação de líquido a partir do vapor
S * = 4π r *2 (6)
p
Z* = (7)
2π mkT
2 Volmer (1939).
3 Volmer & Weber (1926).
247
onde p é a pressão do gás, m é a massa de uma molécula, T é a temperatura e k é a
constante de Boltzmann. O resultado final é:
∆G* p ∆G*
=I 4π r NZ exp −=
*2 *
4π r N
*2
exp − (8)
kT 2π mkT kT
∆G*
=I 4π r *2 Nα *Z * exp − (9)
kT
onde:
VL2 ∆Gv4
α* = (10)
64π 2σ 3kT
248
número de cadeias
no embrião: ν
comprimento
do embrião: λ
área transversal
do embrião: aν
área transversal
de uma cadeia: a
A diferença de energia livre entre o embrião e o líquido de onde provem esta dada
por:
∆G (ν , λ ) = aνλ∆Gv + 2aνσ e + C aν λσ s (11)
ν = # ( Cλσ s )2 (12)
4a ( λ∆Gv + 2σ e )
2
249
Se assumirmos que a natureza utiliza a menor barreira energética disponível,
procuramos então o valor de λ associado com o ponto de sela da função ∆G(ν, λ ).
Isto é, procuramos mínimo da função ∆G(ν #, λ ) 6. A partir do zero para primeira
derivada de ∆G(ν #, λ ) versus λ obtemos λ *, o valor de λ no ponto de sela:
4σ e
λ* = − (13)
∆Gv
ν *
=
( Cσ s )
2
(14)
a∆Gv2
Tm0 − Tc
∆Gv = −∆H v (15)
Tm0
3 ( λ Cσ s )
2
∆G =
#
4 ( λ∆Gv + 2σ e )
250
4σ eTm0
λ =
*
(16)
(
∆H v Tm0 − Tc )
( Cσ s )2 (Tm0 )
2
ν* = (17)
( )
2
a∆H v2 Tm0 − Tc
( )
2
2C 2σ s2σ e Tm0
∆G =
*
(18)
( )
2
∆H v2 Tm0 − Tc
Expressões da taxa de nucleação semelhantes às das Eqs.(4), (,8) e (9) podem ser
obtidas para a cristalização de polímeros. Porém, na oportunidade foi comentado
em relação a estas expressões que uma melhor aproximação ao problema incluía o
balanço detalhado das taxas de crescimento e redução dos embriões presentes,
levando em consideração as condições de não equilíbrio do sistema. Precisamente
isso é o que foi feito nos importantes trabalhos de Lauritzen e Hoffman. 7 Esses
trabalhos, por sua vez, estão baseados na detalhada análise da nucleação de
Turnbull e Fisher. 8 Nesta parte vamos discutir brevemente o modelo cinético da
nucleação de Lauritzen e Hoffman com base na Figura 4.
251
A Figura 4 apresenta esquematicamente as mudanças da energia livre enquanto
cadeias são incorporadas eu retiradas de embriões de um determinado tamanho. A
barreira energética w1 na direção positiva é maior que a barreira no sentido reverso
w2, a diferença entre as mesmas igual variação de energia livre do sistema ∆ =
∆G(ν +1, λ) – ∆G(ν , λ). Chamando ∆f * à barreira energética para o transporte da
cadeia até a superfície, temos que:
w1 = ∆f * + 1 2 [ ∆G (ν + 1, λ ) − ∆G (ν , λ ) ]
(19)
w2 = ∆f * − 1 2 [ ∆G (ν + 1, λ ) − ∆G (ν , λ ) ]
kT w
=ω+ d λ n(ν , λ )d λ exp − 1 (20)
h kT
kT w
ω− d λ =
n(ν + 1, λ )d λ exp − 2 (21)
h kT
kT w w
I ( λ ) d λ = ( ω+ − ω− ) d λ = n(ν , λ ) exp − 1 − n(ν + 1, λ ) exp − 2 d λ (22)
h kT kT
Queremos agora colocar a Eq.(22) em uma forma mais útil. Começamos escrevendo:
∂∆G
w1 − w2 = ∆G (ν + 1, λ ) − ∆G (ν , λ ) ≈
∂ν
(23)
∂n
n(ν + 1, λ ) − n(ν , λ ) ≈
∂ν
252
h ∆f * ∂n n ∂∆G ∆G ∂ ∆G
− exp I (λ ) = + ⋅ = exp − ⋅ n exp kT (24)
kT kT ∂ν kT ∂ν kT ∂ν
π (Cσ s λ ) 2 kT kT ∆f * ∆G* (λ / λ * − 1) 2
=I (λ ) 2 n exp − exp − 1 + (25)
w (λ∆Gv − 2σ e ) kT 1 + 2(λ / λ − 1)
3 0 *
h kT
Na avaliação da Eq.(25) foram utilizadas as Eqs. (15), (17) e (18) para ∆Gv, λ* e ∆G *,
respectivamente.
Um importante resultado obtido a partir da Eq.(25) é que o comprimento λ dos
núcleos se desvia muito pouco do de λ *. Isto pode ser visto nas simulações
numéricas de I(λ ). A figura 5 é um plot de I(λ ) versus λ, utilizando parâmetros
apropriados para polietileno cristalizando a 100°C 11.
Duas coisas devem ser notadas nesta figura. Em primeiro lugar, além uma pequena
percentagem, a taxa de nucleação é efetivamente nula para cadeias de comprimento
diferente de λ *. No pico da taxa nucleação, onde λ = λ *:
π (Cσ λ * ) 2 kT kT ∆f * ∆G*
=I (λ * ) 2 * s n exp − exp − (26)
w (λ ∆Gv − 2σ e )
3 0
h kT kT
11 λ* = 40 nm neste caso.
253
Esta expressão tem a mesma forma que outras obtidas para nucleação em geral. O
mesmo que no resto da teoria da nucleação, não de se esperar que a Eq.(26) forneça
resultados quantitativamente corretos, mas a correta dependência da temperatura
pode ser esperada. Em segundo lugar, o valor numérico de λ * é da correta ordem de
magnitude de 10 nm, mas é aproximadamente o dobro do valor da espessura dos
cristalitos medida a 100°C. Veremos nas próximas seções que este resultado é
correto: os núcleos devem ter aproximadamente um comprimento que seja o dobro
da espessura dos cristais.
É bastante difícil testar as consequências cinéticas da Eq.(25), e incluso testar
adequadamente a dependência com a temperatura sugerida pela expressão.
4. Crescimento: introdução
Todos os modelos cinéticos de crescimento cristalino devem considerar, ou no
mínimo ser consistes com, algumas características do processo:
(1) O modelo deve ser consistente e, se possível, predizer a morfologia observada
nos cristais poliméricos:
(a) O cristal no processo de crescimento é lamelar. O modelo deve ditar esse
hábito.
(b) A espessura das lamelas é da ordem de 10 nm e tem pouca variação dentro
da população presente em cada amostra. O hábito lameliforme e espessura
semelhante em cristais obtidos a partir do fundido ou de soluções diluídas indica
que o mecanismo de crescimento deve ser muito parecido nos dois casos,
especialmente porque o hábito lamelar está muito longe da morfologia no
equilíbrio e aparentemente, surge para otimizar a cinética de crescimento. O
modelo deve predizer a correta ordem de magnitude da espessura das lamelas e
deve ser extrapolável para todos os casos, desde cristais individuais isolados até
cristalização a partir do fundido.
(c) Para valores intermédios do super-resfriamento os cristais têm faces retas,
mas para baixos super-resfriamentos a faces laterais são curvas.
(2) A velocidade de crescimento é máxima para um determinado nível intermédio de
super-resfriamento. O modelo teórico deve predizer isso. A Figura 6a ilustra a
dependência da taxa de crescimento com a temperatura para o caso de poli
(tetrametil p-fenileno siloxano), mas típica para todos os sistemas estudados. Estes
e outros detalhes da dependência da taxa de crescimento com a temperatura, que
serão discutidos mais na frente, devem ser incorporados no modelo.
(3) A Figura 6b mostra o efeito da massa molar na cinética de crescimento do poli
(tetrametil p-fenileno siloxano). Para massas molares acima do nível crítico de
emaranhamento (~1000 unidades repetitivas) a velocidade de crescimento decresce
com a massa molar, mas a temperatura de crescimento à taxa máxima não muda
com a massa molar, como mostra a Figura 6a. O modelo deve concordar com esses
efeitos.
254
(a)
(b)
Um modelo pode ser de utilidade em varias formas: (1) pode aumentar nossa
compreensão dos princípios qualitativos e/ou quantitativos que regem o processo
microscópico real, e/ou (2) pode fornecer expressões matemáticas preditivas do
255
comportamento macroscópico do sistema. Um exemplo do primeiro caso podem ser
os modelos que descrevem qualitativamente as propriedades mecânicas dos
materiais baseadas na geração e movimentação de deslocações. Ainda que a teoria
estabeleceu claramente os princípios gerais já tempo atrás, não permite predizer as
propriedades mecânicas macroscópicas dos materiais. Exemplos do segundo caso
são as equações de Newton F = ma e Planck ∆E = hν. Estas expressões pouco nos
informam sobre os conceitos básicos de “força” ou “radiação”, mas tem provado ser
incrivelmente poderosas nas suas capacidades preditivas.
No estudo da cinética de crescimento de cristais poliméricos procuramos
compreensão ou capacidade preditiva, ou as duas coisas. Veremos a seguir como o
modelo de “nucleação secundária” e suas modificações tem fornecido uma estrutura
preditiva bastante confiável. Veremos também que ainda existem importantes
polemicas sobre o assunto.
256
Consequentemente, a energia interna do primeiro filamento depositado é maior que
a energia dos filamentos sucessivos: a barreira energética ao crescimento cristalino
está, portanto, relacionada à incorporação do primeiro filamento.
λ
w
λ'
b
(a) (b)
Existe um jogo sutil que deve ser considerado em relação ao comprimento λ' em que
se dobra a cadeia polimérica do filamento incorporado. Claramente, λ' deve ser
menor que λ, a altura do substrato; caso contrário o filamento só se ligaria em parte
ao substrato. Dois fatores afetam em sentidos opostos o comprimento do primeiro
filamento depositado: deve produzir a maior quantidade de ligações com o substrato
e, ao mesmo tempo, deve permitir que o segundo filamento se incorpore o mais
rápido possível. O primeiro fator favorece um valor elevado de λ', o segundo um
valor pequeno de λ'. O resultado, como veremos, é que λ' = ½λ.
Usando as mesmas definições dos termos que na seção 3, escrevemos para a
diferença de energia livre após a incorporação do primeiro filamento:
2′
∆G= 2bwλ ′∆Gv + 4bwσ e + 2bλ ′σ s (28)
Quando ν' filamentos têm sido incorporados a diferença de energia livre resulta:
13
A Figura 7 define os parâmetros geométricos do modelo: b é a distância entre camadas
sucessivas (isto é, entre o núcleo e a face do cristalito), w é a distância entre filamentos
sucessivos em uma camada, λ o comprimento de um filamento no cristalito (isto é, a
espessura do cristal) e λ' é o comprimento de um filamento no núcleo; ν' é o número de
filamentos no núcleo (na figura ν' = 5).
257
ν′ ′ ν ′bwλ ′∆Gv + 2ν ′bwσ e + 2bλ ′σ s
∆G= (29)
Gν′ ′ bw ( λ ′∆Gv + 2=
∆Gν′ ′+1 − ∆= σ e ) E (λ ′) (30)
2σ e
λ′ ≥ − (31)
∆Gv
kT ∆f * ∆G1′(λ ′)
′) n0 (λ ′)
r+ (1, λ= exp − exp −
h kT 2kT
(32)
kT ∆f *
∆G1′(λ ′)
λ ′) n(1, λ ′)
r− (1,= exp − exp +
h kT 2kT
kT ∆f * ∆G1′(λ ′) ∆G1′(λ ′)
r (1, λ ′) = r+ (1, λ ′) − r− (1, λ ′) = exp − n0 (λ ′) exp − − n(1, λ ′) exp + (33)
h kT 2kT 2kT
14 Na teoria da nucleação primária, n(ν, λ )dλ foi definido como o número de embriões
compostos de ν filamentos de comprimento entre λ e λ + dλ; portanto, n é a “densidade
linear” (n não um número!) de embriões, com unidades de [comprimento]-1. De acordo com
isso, n(ν, λ' )dλ' deveria ser o número de grupos (clusters) depositados na superfície do
substrato, compostos de ν filamentos (ν = 1, 2, ...) paralelos e sucessivos, cada filamento de
comprimento entre λ' e λ' + dλ'. Para ν = 1, n(1, λ' )dλ' seria o número de núcleos secundários
(i.e., “clusters” de só 1 filamento) na superfície de crescimento, de comprimento entre λ' e λ'
+ dλ'. O termo n0(λ' )dλ' parece ser o número de filamentos de comprimento entre λ' e λ' + dλ'
na vizinhança do substrato, que ainda não foram incorporados ao cristalito, mas que
potencialmente podem ser incorporados em uma única etapa. A frequência de vibração dos
filamentos é kT/h. A barreira energética que deve superar um filamento livre (de
comprimento λ' ) para se incorporar e formar um núcleo secundário é ∆f * + ½∆G'1(λ' ); para
um filamento já incorporado (único, formando o núcleo secundário) ser removido ∆f * −
½∆G'1(λ' ).
258
Se a distância entre filamentos paralelos à superfície de crescimento é w e a largura
da superfície é L, o número de sítios disponíveis é para a primeira deposição é L/w.
A taxa a que o primeiro filamento se incorpora por unidade de largura de substrato
resulta:
u (T ) = bLI (λ ′) (35)
E (λ ′) E (λ ′)
′) n0 (λ ′) n(ν ′ − 1, λ ′) exp −
n(1, λ= − n(ν ′, λ ′) exp + (36)
2kT 2kT
r (ν ′, λ ′) =
r (ν ′ − 1, λ ′) ==
... r (2, λ ′) =
r (1, λ ′)
o que fornece uma recursão que pode ser resolvida iterativamente, com a condição
de borda que ν' → 0 para n → ∞. Obtém-se dessa forma uma expressão 16 para
n(1, λ') como função de n0(λ'):
∆G′(λ ′) E (λ ′) (37)
n(1, λ ′) ≈ n0 (λ ′) exp − 1 sinh −
2kT 2kT
259
Que pode ser substituída na Eq.(34):
n0 (λ ′) kT ∆f * ∆G1′(λ ′) E (λ ′)
(λ ′) 2
I= exp − exp − sinh − (38a)
w h kT 2kT 2kT
Price, Frank e Tosi 17, e Lauritzen e Passaglia18, tem demonstrado – com rigor
aumentado nessa ordem – que uma vez que a primeira dobra da cadeia ocorre com
comprimento λ', o resto da molécula se dobra em segmentos do mesmo
comprimento médio. O comprimento médio e a distribuição do comprimento dos
segmentos entre dobras sucessivas está dado por:
λ′ =e
∫2σ / ∆Gv
λ ′I (λ ′)d λ ′
2σ
− e + δ λ ′ (T )
= (39a)
∞
∆Gv
∫2σ e / ∆Gv
I (λ ′)d λ ′
∫ ( λ ′ − λ ′)
2
I (λ ′)d λ ′
(39b)
( λ ′ − λ ′) 2σ e / ∆Gv
[δ λ′ (T )]2
2
= =∞
∫ 2σ e / ∆Gv
I (λ ′)d λ ′
onde:
δ λ ′ (T ) ≈
kT (40b)
wσ s
2σ 2σ 2T 0σ kT (41)
λ′ =
− e + δ λ ′ (T ) ≈ − e + δ λ ′ (T ) =m e +
∆Gv ∆Gv ∆H v ∆T wσ s
260
4bσ sσ e
∆G′* = −∆G1′(λ ′) = + b ( 2σ s − ∆Gv ) δ λ ′ (T ) (42)
∆Gv
′* 2bλ ′σ s − bw ( λ ′ ∆Gv − 2σ e )
∆G= (43)
∆G′* =
2bλ ′σ s (44)
261
Figura 8. Desenho esquemático mostrando a etapa de nucleação no modelo de
nucleação secundária. (a) Incorporação de um filamento de comprimento λ'. (b)
Geração, a partir da dobra.
(a)
262
(b)
263
delta” para valores bastante elevados do super-resfriamento. Não sabemos até que
ponto estes valores de φ representam o que ocorre na realidade.
A dependência linear da força impulsora ∆Gv no super-resfriamento ∆T = Tm − Tc,
Eq.(15) não parece ser muito apropriada para valores elevados do super-
resfriamento. Hoffman 22 mostrou que uma melhor representação é:
∆T T
∆Gv = −∆H v ⋅ (46)
Tm Tm
bL ∆f * bλ ′( w∆Gv + 2σ s ) bwσ e
u (λ ′) = β exp − exp − exp − (48)
w kT kT kT
kT bw ( λ ′∆Gv + 2σ e )
=β 2n0 (λ ′) sinh − (49)
h 2kT
2σ e
λ′ ≈ − (50)
∆Gv
22 Hoffman (1958).
264
na segunda exponencial da Eq.(47) e notando a débil dependência do seno
hiperbólico com a temperatura para valores típicos dos parâmetros6, podemos
escrever:
bL ∆f * 4bσ sσ e bL ∆f * 4bTm0σ sσ e
u (λ ′) = β exp − exp = β exp − exp − kT ∆H ∆T (51)
w kT kT ∆ Gv w kT v
ou
∆f * Kg
u (λ ′) =
u0 exp − exp − (52)
kT T ∆T
onde
4bTm0σ sσ e
Kg = (53)
k ∆H v
bL bL kT bw ( λ ′∆Gv + 2σ e )
=
u0 = β 2 n0 sinh − (54)
w w h 2kT
∆f * Kg
u (λ ′) =−
u0 exp exp − (55a)
k (T − T∞ ) T ∆T
U* Kg
u (λ ′) =
u0 exp − exp − (55b)
R(T − T∞ ) T ∆T
23 Hoffman et al (1976).
265
Se a física do modelo for correta, um plot com valores determinados
experimentalmente:
U* 1
ln u + versus (56)
R(T − T∞ ) T ∆T
deve render uma linha reta com inclinação igual a –Kg = –4bTmσsσe/k∆Hv. De fato,
esse é o caso para super-resfriamentos relativamente baixos. Porém, para super-
resfriamentos maiores se observa uma quebra brusca na reta, com uma inclinação
que diminui à metade para super-resfriamentos mais elevados. Este
comportamento tem sido observado experimentalmente (Figura 10).
A mudança na inclinação pode ser explicada em base ao papel da taxa de
crescimento 24 G da monocamada ao longo da superfície do substrato. Para super-
resfriamentos elevados, a taxa G é suficientemente lenta em relação à taxa de
nucleação secundária I, a o ponto em que formação da monocamada não pode
considerada instantânea após a incorporação de um filamento. O problema tem
sido estudado por varios pesquisadores 25. Em geral a velocidade de crescimento
cristalino u (unidades: s−1) é uma função da taxa de nucleação secundária I
(unidades: m−1s−1) e da taxa de crescimento lateral da monocapa G (unidades:
m·s−1):
G
=u bf I ⋅ L, (57)
L
onde L é a largura da face cristalina. A forma mais simples desta relação é 26:
f ∝ IG (58)
2bwσ e
G ∝ exp − (59a)
kT
e temos, da Eq.(52):
266
4bσ sσ eTm
I ∝ exp − (59b)
k ∆TH v ∆T
(a)
(b)
Figure 10. Log(u) + U */R(T−T∞) versus 1/T∆T para: (a) poli(3-hidroxibutirato) [fonte:
P. J. Barham, A. Keller, E. L. Otun, O. A. Holmes, J. Mater. Sci. 19,2781 (1984) -
Replotado], e (b) quatro grades de polietileno linear de baixa densidade [fonte: W. S.
Lambert, P. J. Phillips, Macromolecules 27, 3537 (1994) – Replotado].
267
Para T >> ∆T a dependência de G com a temperatura é débil comparada com a
dependência de I, e portanto, a dependência da velocidade de crescimento u do
cristal com a temperatura depende maiormente de I:
U* 1
ln u + versus (61)
R(T − T∞ ) T ∆T
4bσ sσ eTm
u (T ) ∝ I ∝ exp − (62)
k ∆TH v ∆T
Se isto acontece na prática, obsermos o retorno da inclinação do plot
U* 1
ln u + versus (63)
R(T − T∞ ) T ∆T
a seu valor original.
Três regimes de crescimento cristalino são visualizados. Convencionalmente são
conhecidas como regimes I, II e III, de menor a maior super-resfriamento. A Tabela
1 apresenta resumidamente as características de cada regime potencial de
crescimento cristalino potencial (nem sempre todos os regimes são observáveis na
prática para todos os polímeros).
268
Tabela 1. Regimes de crescimento cristalino de Lauritzen-Hoffman.
∆f * Kg
ln u =
ln u0 − − (64)
k (T − T∞ ) T (Tm0 − T )
d ln u
=0 (65)
dT T =T ′′
269
Desconsiderando a dependência de u0 com a temperatura, a Eq.(65) leva a 27:
bσ σ
T ′′ = f * s e (66)
∆f ∆H v
T ′′ ∆f *∆H v
≈
Tm0 − T ′′ 4bσ sσ e
28 Magill (1998).
29 Sadler & Harris (1982); Sadler & Keller (1977, 1979).
30 Lauritzen (1973).
31 Hoffman (1985).
270
taxa de crescimento experimental para polietileno cristalizando a partir do fundido
resultam em valores de L entre 350 e 1500 nm. Hoffman sugeriu que a superfície de
crescimento é envenenada por “defeitos ômega” (um defeito Ω consiste em
segmentos da cadeia fora do plano de crescimento) como mostra a Figura 11. A
ideia é que, quando a cadeia encontra um desses defeitos o crescimento é
bloqueado e a cadeia não continua se dobrando no substrato.
(iv)
271
ter se tornado “áspera” devido a fatores cinéticos. Não é evidente que um modelo,
desenvolvido originalmente para representar o crescimento a partir de uma solução
diluída sob efeito de baixos super-resfriamentos, possa ser estendido para incluir
interfaces rugosas previstas para super-resfriamentos muito mais elevados.
Na direção oposta, isto é, para baixos super-resfriamentos, aparece um
problema semelhante. Experimentalmente se observa que, na medida em que
decresce o super-resfriamento, a curvatura das superfícies de crescimento dos
cristais poliméricos isolados se desvia mais e mais dos planos cristalográficos. O
desvio da superfície dos planos cristalográfico é ocasionada pela formação de um
arranjo ordenado de degraus de espessura monomolecular, como esquematizado na
Figura 1
Superfície média
facetas
Sadler34 observa que a presença real desses degraus indica que devem ser
facilmente formados nas condições de crescimento cristalino usuais. Ele sugere que
a superfície deve ser molecularmente rugosa, isto é, lotada com degraus
densamente empacotados, de forma que cada filamento adjacente pode se
acomodar junto um desses degraus, condição que temos definido como Regime III.
Chamamos a uma superfície deste tipo termodinamicamente rugosa.
Se a superfície for realmente rugosa a nível molecular a nucleação secundária é
desnecessária. 35 De fato, uma teoria mais simples, frequentemente utilizada para
metais, explica adequadamente, e em forma mais realista que o modelo da
nucleação secundária, a cinética de crescimento cristalino. Estas especulações
levaram ao desenvolvimento de uma série de simulações computacionais da
estrutura e cinética de crescimento das superfícies de crescimento cristalino em
polímeros. 36
O modelo de nucleação secundária tem sido estendido de forma que prevê a
existência de superfícies curvas em condições apropriadas. Mansfield 37 resolveu
novamente as equações de crescimento utilizadas originalmente por Frank para a
34 Sadler (1983).
35Todo filamento que se aproxima à superfície de crescimento encontra sempre um “degrau”
sobre o que se encostar...
36 Schultz, Op. Cit., Seção 8F.
37 Mansfield (1988, 1990).
272
análise da cinética de crescimento em Regime II. Neste esquema as equações
diferenciais são resolvidas balançando as taxas de propagação e aniquiliação de
degraus em um ponto na superfície de crescimento. O tratamento original de
Frank 38 a interseção de setores fora desconsidera, os degraus limitados ao
crescimento em comprimento muito menor que o de um setor. Mansfield percebeu
que a interseção de duas superfícies de crescimento pode ser muito importante: na
aresta se juntam duas superfícies – por exemplo, (100) e (110) no caso de polietileno
– que podem se movimentar a diferentes velocidades. Nesse caso, a curvatura da
superfície (através da formação de degraus) permite a que a velocidade face que
cresce mais rapidamente se ajuste à velocidade da face que cresce mais lentamente.
Usando uma condição de borda desse tipo, Mansfield obteve uma solução analítica
(no Regime II) e uma simulação que resulta em curvaturas de face realistas para
cristais de polietileno. Porém, para obter esses resultados foi necessário assumir
um intervalo limitado e específico de velocidades de espalhamento das
monocamadas, condições que são dificilmente verificáveis na prática. Vemos então
que tanto o modelo de nucleação secundária quanto o modelo de superfície rugosa
são consistentes com a existência de superfícies de crescimento curvas. Medições
quantitativas ou simulação serão necessárias pare determinar qual dos modelos é o
correto
É útil considerar a cinética prevista em no modelo de superfície rugosa. Na sua
forma mais simples, despida de detalhe e sofisticação, a cinética de propagação de
uma superfície rugosa (tornada áspera do ponto vista cinético ou termodinâmico)
pode ser tratada como segue. Todas as etapas na superfície são energeticamente
idênticas, acessíveis a todas as cadeias adjacentes e diminuem a entalpia de todo
segmento que esta sendo adicionado. A energia livre versus distância para uma
cadeia na vizinhança da superfície parece como na Figura 13.
38Frank (1974).
273
As energias de ativação para filamentos sendo depositados na superfície ou
separados da superfície são ∆f * − ½ε e ∆f * + ½ ε, respectivamente, onde ∆f * e a
energia de ativação para o transporte e ε é a queda de energia resultante da
deposição do filamento.
As taxas de deposição e separação podem ser expressas como:
kT ∆f * ε
r+′ = A exp − exp +
h kT kT
(67)
kT ∆f * ε
r−′ = A exp − exp −
h kT kT
ε ∆f *
′ ′ ′
r = r+ − r− = A exp − (68)
h kT
∆T
ε ∝ ∆Gv = −∆H v (69)
Tm
Finalmente:
∆f *
r′ =
C ∆T exp − (70)
kT
O objetivo deste exercício tem sido demonstrar que um modelo de interface rugosa
também pode dar origem a um pico na taxa de crescimento versus a temperatura,
(através da dependência positiva da exponencial e negativa do super-resfriamento) e
fornecer resultados no mínimo aproximadamente corretos que podem ser utilizados
nos cálculos de processamento.
h w w (A1)
= I (λ ) n(ν , λ ) exp − 1 − n(ν + 1, λ ) exp − 2
kT kT kT
274
∂∆G
w= w1 − (A2)
∂ν
2
∂n
n(ν + 1, λ )= n(ν , λ ) + (A3)
∂ν
h w ∂n w1 ∂∆G / ∂ν (A4)
I (λ=
) n exp − 1 −n+ exp − exp
kT kT ∂ν kT kT
ou
w h ∂n ∂∆G / ∂ν (A5)
exp 1 I (λ ) =n − n + exp
kT kT ∂ν kT
Aproximado agora:
∂∆G / ∂ν 1 ∂∆G
exp ≈ 1+ ⋅ (A6)
kT kT ∂ν
w h ∂n 1 ∂∆G
exp 1 I (λ ) =n − n + 1 + ⋅ (A7)
kT kT ∂ν kT ∂ν
1 ∂∆G
⋅ << 1 (A9)
kT ∂ν
para obter:
w h ∂n n ∂∆G
− exp 1 I (λ ) = + ⋅ (A10)
kT kT ∂ν kT ∂ν
∂∆G
w1 =∆f * + 1 2 [ ∆G (ν + 1, λ ) − ∆G (ν , λ ) ] =∆f * + 1 2 (A11)
∂ν
e
275
w ∆f * ½ ∂∆G / ∂ν
exp 1 = exp exp (A12)
kT kT kT
w1 ∆f * 1 ∂∆G
exp=
exp 1 + ⋅ (A13)
kT kT 2kT ∂ν
w ∆f *
exp 1 = exp (A14)
kT kT
∂ ∆G ∂n ∆G ∂ exp(∆G / kT )
∂ν n=
exp exp +n
kT ∂ν kT ∂ν
∂n ∆G n ∆G ∂∆G
= exp + exp (A16)
∂ν kT kT kT ∂ν
∆G ∂n n ∂∆G
= exp +
kT ∂ν kT ∂ν
de onde:
∂n n ∂∆G ∆G ∂ ∆G
+ =
exp − n exp kT (A17)
∂ν kT ∂ν kT ∂ν
∆f * h ∆G ∂ ∆G
− exp I (λ ) =
exp − n exp kT (A18)
kT kT kT ∂ν
Q.E.D. Observe as duas aproximações, Eqs. (A6) e (A9), além das da Eq.(23),
necessárias para passar da Eq.(22) a Eq.(24).
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Referências bibliográficas
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D. M. Sadler, R. Harris, J. Polym. Sci., Polym. Pys. Ed. 20, 561 (1982).
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