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A argumentação
na interação
Prefácio de
Moisés Olímpio Ferreira e Kelly Cristina de Oliveira
Ficha técnica
Título:
A argumentação na interação
Autor:
Rui Alexandre Grácio
Capa:
Grácio Editor
Coordenação editorial:
Grácio Editor
Design gráfico:
Grácio Editor
ISBN: 978-989-8377-90-6
© Grácio Editor
Travessa da Vila União, 16, 7.º drt
3030-217 COIMBRA
Telef.: 239 084 370
e-mail: editor@ruigracio.com
sítio: www.ruigracio.com
Prefácio ........................................................................................................7
I. PERSPETIVAS TEÓRICAS:
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO
1. A argumentação na interação ...............................................................15
2. «Não fujas ao assunto!» — o que é que o teorizador ...............................
da argumentação retórica pode aprender com este imperativo..........57
3. Compreensão, argumentação e retórica...............................................71
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RUI ALEXANDRE GRÁCIO
1. Introdução
No presente curso irei apresentar um ponto de vista teórico sobre a
argumentação, perspetiva que tenho vindo a desenvolver há alguns anos
e que designo como «a argumentação na interação».
As minhas investigações e pesquisas tiveram duas motivações
fundamentais que importa referir para melhor se poderem compreender as
problemáticas que estão na origem do caminho tomado.
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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO
Ora, aquilo que eu tinha para lhes ensinar — e isto pondo de parte os
momentos em que organizava debates sobre assuntos fraturantes —
revelava-se demasiado restrito e até um pouco frustrante relativamente
às suas expectativas. Faltava-lhe uma componente prática, artística e viva, ou
seja, a teoria tornava-se silenciosa quando chegávamos à interação, sendo que
a interação, no mínimo bilateral e com uma importante dimensão cairológica
e de improviso, parecia ser o fulcro das situações de argumentação.
Feito este enquadramento motivacional, passarei agora a referir o
rumo do desenvolvimento das minhas investigações.
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por uma dissonância entre as suas posições, pelo interesse em ver o que pode
resultar do aprofundamento dessa dissonância, por turnos de palavra e pela
crítica do discurso de um pelo discurso do outro.
Ou seja, o ponto de partida, desta conceção, repito, o ponto de partida
não é a análise dos mecanismos linguísticos ou discursivos (que não serão
todavia descurados, remetendo para um plano mais micro), nem a análise
de raciocínios lógicos, ou de formas de esquematizar as ideias, mas sim a
noção de situação argumentativa enquanto episódio de interação social no
qual as pessoas assumem um comportamento específico, ou seja, se veem
como argumentadores.
Podemos assim dizer, resumidamente, que na perspetiva que estou a
apresentar, se dá um deslocamento do texto para a situação de
argumentação, do dialogismo para os turnos de palavra e da leitura e
análise do discurso para a análise da interações.
Mas, comecemos por algumas considerações teóricas — até porque a
conceção que desenvolvi foi elaborada em diálogo crítico com algumas das
mais importantes correntes teóricas do estudo da argumentação — para
depois irmos a alguns exemplos e atividades práticas.
2. Considerações teóricas
A teorização da argumentação, como já ficou subentendido atrás,
pauta-se por uma multiplicidade de abordagens diferenciadas e por vezes
irredutíveis entre elas. Para além do mais, as abordagens disciplinares,
são muitas vezes difíceis de relacionar com uma visão da argumentação
enquanto prática social umbilicalmente ligada ao nosso ser e ao nosso
modo de viver e conviver. Dito de outro modo, os espartilhos disciplinares
distanciam muitas vezes as teorias e suas aplicações analíticas das
práticas concretas tal como ocorrem na vida real, revelando dificuldades
para lidar quer com a multidimensionalidade que encontramos nos
fenómenos argumentativos, quer com a dimensão filosófica sem a qual não
é possível ter uma visão mais holística, integral e existencialmente
significativa da argumentação.
A irredutibilidade dos diferentes paradigmas teóricos está relacionada,
antes de mais, com aquilo que, em última análise, é considerado pelos
teóricos como a sua unidade de estudo, ou seja, aquilo que é tido por
relevante em termos do foco de análise do fenómeno argumentativo. No
fundo, trata-se de responder à questão da adequação descritiva, a qual
formulo da seguinte forma: que fenómenos estuda a teoria da
argumentação? Quais são as suas tarefas descritivas? E a natureza da
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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO
COGNITIVO
LINGUÍSTICO
• Implica a avaliação
SOCIAL
do discurso de um
pelo discurso do outro.
• Implica a emergência de Neste sentido trata-se
interesses partilhados. de uma interação crí-
A ARGUMENTAÇÃO tica e problemati-
• Pressupõe eficácia do RETÓRICO INTERACTIVO
É UM FENÓMENO: zante.
ponto de vista da comuni-
cação.
Escreve Plantin (2004:
LÓGICO AFECTIVO 172): «Se definimos o
FILOSÓFICO
objecto da argumentação
como um encontro de
discursos divergentes, então
• Implica a produção de raciocínios. a situação argumentativa é
• Diz ao Si (Self) quem é e onde se
• Permite identificar a presença de estru- posiciona. fundamentalmente
turas e esquemas. • Supõe a perspetivação dos assuntos marcada por emoções como
em questão. a incerteza, o embaraço, a
• Recorre a procedimentos ilativos (se... inquietude, a cólera, o
• Remete para a assunção de decisões
então). arrependimento, etc».
especulativas e de princípios.
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Feita esta crítica de fundo à lógica informal, quero contudo deixar claro
que não considero que o plano do raciocínio não tenha a sua importância,
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como é patente, por exemplo, nos discursos que são os articulados dos
advogados, ou em certos momentos das interações argumentativas nas
quais reclamamos a deficiência do raciocínio do outro. Mas, volto a frisar,
não me parece que o raciocínio seja a unidade de estudo das argumentações,
na medida em que a argumentação é um fenómeno mais amplo e
multidimensional e requer que não aproximemos em demasia, fazendo-a
funcionar como um microscópio, a nossa lente analítica.
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É claro que Amossy dirá aqui que o discurso é sempre dialógico, ou, nas
suas palavras, «a argumentatividade aparece pois como consequência do
dialogismo inerente ao discurso» (2010: 33). Concordo com esta afirmação
mas devo assinalar que ela põe a tónica no discurso e não nos argumen-
tadores. Acentua o modo de ver e de dar a ver através do discurso, mas não
dá suficiente atenção à relação de interdependência discursiva e às pro-
gressões interlocutivas que acontecem em interações desenvolvidas em
torno de um assunto em questão e regidas por turnos de palavra.
Dito de outra forma, o dialogismo acaba por se centrar no discurso
monogerido e, com isso, não dá grande atenção ao fenómeno da poligestão
discursiva que, a meu ver, é característico das situações de argumentação.
É pelo menos assim que interpreto a afirmação de Amossy segundo a qual
«é ainda preciso sublinhar que a situação de debate pode permanecer
tácita. Nem a questão retórica nem a, ou as, respostas antagonistas têm
necessidade de ser expressamente formuladas» (2010: 32).
Ora, a esta afirmação contraponho a crítica que Michel Meyer faz nos
seguintes termos:
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3. A argumentação na interação
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De acordo com esta ideia, direi que o uso do discurso não significa,
como acontece nas conceções que designo como «pan-argumentativas», que
estejamos desde logo a argumentar. Como observou James Crosswhite,
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É que, e aproveito de novo para citar este autor quando este define a
interação argumentativa como
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