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Rui Alexandre

Grácio

A argumentação
na interação

Prefácio de
Moisés Olímpio Ferreira e Kelly Cristina de Oliveira
Ficha técnica

Título:
A argumentação na interação

Autor:
Rui Alexandre Grácio

Capa:
Grácio Editor

Coordenação editorial:
Grácio Editor

Design gráfico:
Grácio Editor

1ª edição: junho de 2016

ISBN: 978-989-8377-90-6

© Grácio Editor
Travessa da Vila União, 16, 7.º drt
3030-217 COIMBRA
Telef.: 239 084 370
e-mail: editor@ruigracio.com
sítio: www.ruigracio.com

Reservados todos os direitos


Índice

Prefácio ........................................................................................................7

I. PERSPETIVAS TEÓRICAS:
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO
1. A argumentação na interação ...............................................................15
2. «Não fujas ao assunto!» — o que é que o teorizador ...............................
da argumentação retórica pode aprender com este imperativo..........57
3. Compreensão, argumentação e retórica...............................................71

II. RACIONALIDADE RETÓRICO-ARGUMENTATIVA


4. Um espelho da liberdade: uma imagem ..................................................
argumentativa do pensamento .............................................................93
5. Da epistemologia à racionalidade retórica: .............................................
a argumentação na sua condição civil................................................109
6. Retórica e objetividade........................................................................127

III. ANÁLISE, METODOLOGIA DE ANÁLISE E ENSINO


7. A importância da Nova Retórica ..............................................................
para a compreensão de textos opinativos .........................................143
8. Já estais saciados! — a figura retórico-argumentativa .........................
da ironia no corpus Paulinum ............................................................155
9. Recursos metodológicos ao serviço de uma .............................................
interação discursiva: análise argumentativa .........................................
do texto «o meu sonho» de Alcione Araújo..........................................181
10. Reflexões sobre o ensino da argumentação......................................189

IV. OUTRAS REFLEXÕES


11. Estudos culturais, perspetivismo e compromisso cívico..................199
12. A ideia de «um mundo melhor» e o fascismo pós-moderno .............207
13. Virtudes do ócio .................................................................................213
I.
PERSPETIVAS TEÓRICAS:
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO
1. A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO*
Resumo:
Uma das formas de teorizar a argumentação é a de responder à questão «onde está
a argumentação?». Há quem tenha respondido a esta pergunta afirmando que a
argumentação está no raciocínio, na língua ou no discurso. Pelo nosso lado, afirmamos
que a argumentação está na interação entendida como crítica do discurso de um pelo
discurso do outro. Desta forma, no presente texto, procura dar-se a perceber esta
forma de teorizar a argumentação, apresentando o seu quadro conceptual e
assinalando a sua fecundidade.
Palavras-chave:
Argumentação na interação, situação de argumentação, bilateralidade, turnos de
palavra, assuntos em questão.
Estrutura:
1. Introdução
1.1. Questões e motivações iniciais: a diversidade das focalizações teóricas
1.2. Questões e motivações iniciais: o ensino da argumentação
1.3. Caminho tomado: onde está a argumentação?
2. Considerações teóricas
2.1. A lógica informal
2.2. A lógica natural
2.3. A argumentação no discurso
3. A argumentação na interação
3.1. A noção de situação de argumentação
3.2. Argumentatividade e argumentação
3.3. Discurso argumentado e argumentação
3.4. O guião da argumentação
3.5. Fases numa situação de argumentação
3.6. Questões argumentativas
3.7. Perguntas e questões
3.8. A noção de assunto
3.9. Assunto em questão
4. A análise das argumentações de um ponto de vista interacionista
4.1. Situações planificadas de argumentação
4.2. Situações não planificadas de argumentação
4.3. Alguns dos tópicos para a análise das interações argumentativas
4.3.1. A importância do discurso argumentado
4.3.2. Análise do discurso argumentado
4.3.3. Análise da interação argumentativa
5. Uma definição de argumentação do ponto de vista interacionista
Referências bibliográficas
* Texto do minicurso ministrado durante o III Seminário de Estudos sobre Discurso e Argu -
mentação — SeDiAr, realizado Universidade Federal de Sergipe, em Aracaju, Brasil, nos
dias 30 e 31 de Maio e 1, 2 e 3 de junho de 2016.

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RUI ALEXANDRE GRÁCIO

1. Introdução
No presente curso irei apresentar um ponto de vista teórico sobre a
argumentação, perspetiva que tenho vindo a desenvolver há alguns anos
e que designo como «a argumentação na interação».
As minhas investigações e pesquisas tiveram duas motivações
fundamentais que importa referir para melhor se poderem compreender as
problemáticas que estão na origem do caminho tomado.

1.1. Questões e motivações iniciais: a diversidade das focali-


zações teóricas
A primeira questão com que me confrontei derivou da constatação de
que há uma grande diversidade de teorias — muitas vezes heterogéneas —
no que diz respeito à argumentação. Ora, perante um campo de estudos
teoricamente fragmentado e povoado por múltiplas incidências disci-
plinares — que vão da filosofia à linguística, da análise do discurso à
pragmática lógica, do direito à publicidade, etc. etc. —, a minha pergunta
foi a de saber se não seria possível chegar a uma perspetiva que abarcasse
o sentido das práticas argumentativas segundo um foco de incidência
holístico e descritivamente adequado, que não fosse nem demasiado amplo
nem demasiado restrito, que recuperasse a condição civil e existencial do
argumentar e, finalmente, que não ficasse refém dos estreitamentos
impostos pelas focalizações disciplinares que acabam por turvar o carácter
multidimensional e transversal dos fenómenos argumentativos.

1.2. Questões e motivações iniciais: o ensino da argumentação


A segunda motivação foi de ordem pedagógica. Com efeito, no que diz
respeito à experiência do ensino da argumentação, debatia-me com duas
dificuldades:

• por um lado, a exposição de diferentes perspetivas teóricas sobre a


argumentação, a exemplificação de certas técnicas argumentativas
e de certos esquemas argumentativos ficavam sempre, de algum
modo, aquém das expectativas — legítimas, diga-se — dos alunos;

• por outro, não era tanto a capacidade de construírem ou analisarem


textos ou discursos argumentados aquilo que lhes interessava, mas o
serem postos à prova em situações concretas em que, mais do que
discorrer, se viam envolvidos em situações de confronto oposicional,
regidas por turnos de palavra e nas quais o jogo tensional, improvisado
e dinâmico dos argumentos e dos contra-argumentos era fundamental.

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Ora, aquilo que eu tinha para lhes ensinar — e isto pondo de parte os
momentos em que organizava debates sobre assuntos fraturantes —
revelava-se demasiado restrito e até um pouco frustrante relativamente
às suas expectativas. Faltava-lhe uma componente prática, artística e viva, ou
seja, a teoria tornava-se silenciosa quando chegávamos à interação, sendo que
a interação, no mínimo bilateral e com uma importante dimensão cairológica
e de improviso, parecia ser o fulcro das situações de argumentação.
Feito este enquadramento motivacional, passarei agora a referir o
rumo do desenvolvimento das minhas investigações.

1.3. Caminho tomado: onde está a argumentação?


Da mesma maneira que alguns teóricos colocaram, no início da sua
investigação, a questão «onde está a argumentação?» para, a partir daí,
apresentarem definições, delimitando o foco de incidência que permite a
sua compreensão e o seu estudo, também eu segui o mesmo procedimento.
Antes da pergunta «o que é?», a pergunta «onde está?».
Alguns teóricos, como Anscombre e Ducrot afirmaram que a argu-
mentação está na língua. Outros, como Philippe Breton, afirmaram que a
argumentação está na comunicação. Outros ainda, como Ruth Amossy,
afirmaram que a argumentação está no discurso. Eu, pela minha parte —
e repararão que essa minha parte é muito devedora, entre outros, aos
trabalhos de Henry Johnstone Jr., Charles Arthur Willard e de Christian
Plantin — digo que a argumentação está na interação.
A afirmação pode parecer redundante: pois não é óbvio que a
argumentação é sempre uma forma de interação? Na minha perspetiva, sim.
Mas, quando olhamos para as diferentes teorias da argumentação, a
tendência mais comum é a da fixação na análise textual ou na análise do
discurso, o que conduz a reduzir a análise argumentativa a questões de
interpretação e à clarificação de funcionalidades e estratégias discursivas.
Ainda que se pressuponha uma moldura interativa virtual, baseada na
assunção retórica de que todo o discurso se dirige virtualmente a um
auditório, de que todo o discurso habita o interdiscurso e de que o dialogismo
é inerente ao uso da linguagem — e escreve, a este respeito, Amossy

«com efeito na medida em que toda a palavra surge no interior


de um universo discursivo prévio, ela responde necessariamente
a interrogações que frequentam o pensamento contemporâneo
e que são tanto objeto de controvérsias em boa e devida forma,
como de discussões larvares. Todo o enunciado confirma,
refuta, problematiza as posições antecedentes, sejam estas ex-
pressas de uma forma precisa por um dado interlocutor ou de
forma difusa no interdiscurso contemporâneo» (2006: 35).

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o facto é que a análise argumentativa acaba por se concretizar numa des-


crição do modo como os sentidos do texto ou do discurso são construídos
em função de determinadas finalidades e aponta, por isso, sobretudo, para
a categoria de leitura crítica.
Digamos que o analista da argumentação possui uma competência de
acuidade na leitura que lhe permite descodificar os sentidos dos discursos
através da explicação do modo como eles são construídos em função de
determinadas finalidades, nomeadamente, persuasivas. No fundo, ele é
um hermeneuta com competências aprofundadas de leitura, suportadas
por quadros teóricos e conceptuais desenvolvidos para o efeito e capaz de
uma atitude crítica perante aquilo que poderíamos designar como a
produção retórico-discursiva de significações e de sentidos.
Mas — e é aqui que se colocam as questões que me levaram a pensar a
argumentação na interação — não será insuficiente, e até algo de enviesado
no que diz respeito a teorizar a argumentação, atermo-nos apenas à análise
da materialidade textual e discursiva? A ideia mais espontânea de
argumentação remete-nos para uma análise de textos ou para uma
discutibilidade dos assuntos que se plasma em debates e discussões? E nos
debates e discussões o que está em causa não é justamente a forma como os
participantes interagem entre si? E não deveria a análise argumentativa,
mais do que descodificar e desvelar interpretações, debruçar-se sobre o que
fazem os intervenientes que participam, enquanto argumentadores, numa
interação? Será que o estudo da argumentação não deverá estar centrado nos
argumentadores, naquilo que debatem e na forma como discutem, no modo
como respondem uns aos outros? E será que o estudo da argumentação não
deveria capacitar as pessoas, mais do que serem analistas do discurso (e sem
de modo algum descurar a importância decisiva da análise do discurso), para
serem argumentadoras no sentido de perceberem, serem capazes de articular
os elementos presentes nas interações argumentativas e, assim, nelas
poderem participar com maior discernimento? E, neste sentido, não há uma
relação estreita entre argumentação, posicionamento de si no mundo e
cidadania? Não há uma relação estreita entre argumentação e participação?
Confesso que sempre achei que há frequentemente um momento em que
o estudo da argumentação se desvia da dimensão prática, empírica e
existencial, ou seja, na qual, por um lado, as pessoas de algum modo clamam
por razão ou pretendem que as suas razões sejam reconhecidas e, por outro,
entram num ping-pong discursivo que assemelhamos a um debate ou a uma
discussão. Donde, a ideia de tentar teorizar a argumentação de molde a
captar estes aspectos que me parecem ir ao encontro de uma representação
comum da argumentação, para a qual a polarização recíproca e a tensão
discursiva são essenciais.

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Aliás, Perelman, que concebeu a sua teoria da argumentação em torno


da ideia de «adesão», apesar de não estudar propriamente as interações
argumentativas enquanto crítica do discurso de um pelo discurso do outro,
apesar de se ter debruçado sobre as «técnicas argumentativas» e elaborado
uma tipologia de argumentos, não deixou de alertar para algo que para
mim constituiu o bom ponto de partida para a teorização da argumentação:

«insistimos, antes de proceder ao estudo analítico dos argu-


mentos, sobre o carácter esquemático e arbitrário deste. Os
elementos isolados com vista ao estudo formam, na realidade,
um todo: eles estão em interação constante e isso em vários
planos: interação entre os diversos argumentos enunciados,
interação entre estes e o conjunto da situação argumentativa,
entre estes e a sua conclusão e, finalmente, interação entre os
argumentos contidos no discurso e aqueles que os tomam por
objeto». (1988: 610. Itálico meu)

A perspetiva teórica que aqui quero expor é, pois, a da argumentação


na interação. E, da mesma maneira que considero que as diferentes
teorizações trazem intuições importantes para o estudo da argumentação,
enriquecendo assim este domínio de estudos, espero que o mesmo aconteça
também com a conceção que aqui vou propor.
Julgo que ela se destaca de outras teorizações sobretudo pela sua
abrangência e pela assunção de que é importante considerar os estudos da
argumentação sobre o prisma da multidimensionalidade. Esta multidi-
mensionalidade deve considerar os diferentes contributos, de incidência
mais restringida, como partes de um todo. Considera ainda que argu-
mentação é, no seu cerne, um uso social da palavra, uso caracterizado pelo
valor atribuído à apresentação de razões, pelo sentido de justiça, pela
dimensão ética e existencial que envolve e, finalmente, por um sentido de
comunidade que em princípio supõe que os argumentadores sejam pessoas
abertas à negociação.
Note-se que, a própria ideia de negociação implica desde logo pelo
menos duas partes que interagem para eventualmente chegarem a um
entendimento ou a uma finalidade de interesse mútuo. Uma negociação
envolve tipicamente uma eventual progressão a partir do jogo de propostas
e contrapropostas daqueles que nela participam. Neste sentido, podemos
dizer que a teoria da argumentação é uma teoria da coexistência humana
e penso que este foco nunca deve ser perdido de vista nem exilado por
imperativos disciplinares.
Avançando um pouco o que irei desenvolver, direi que a argumentação na
interação se caracteriza pela presença de, pelo menos, dois argumentadores,

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por uma dissonância entre as suas posições, pelo interesse em ver o que pode
resultar do aprofundamento dessa dissonância, por turnos de palavra e pela
crítica do discurso de um pelo discurso do outro.
Ou seja, o ponto de partida, desta conceção, repito, o ponto de partida
não é a análise dos mecanismos linguísticos ou discursivos (que não serão
todavia descurados, remetendo para um plano mais micro), nem a análise
de raciocínios lógicos, ou de formas de esquematizar as ideias, mas sim a
noção de situação argumentativa enquanto episódio de interação social no
qual as pessoas assumem um comportamento específico, ou seja, se veem
como argumentadores.
Podemos assim dizer, resumidamente, que na perspetiva que estou a
apresentar, se dá um deslocamento do texto para a situação de
argumentação, do dialogismo para os turnos de palavra e da leitura e
análise do discurso para a análise da interações.
Mas, comecemos por algumas considerações teóricas — até porque a
conceção que desenvolvi foi elaborada em diálogo crítico com algumas das
mais importantes correntes teóricas do estudo da argumentação — para
depois irmos a alguns exemplos e atividades práticas.

2. Considerações teóricas
A teorização da argumentação, como já ficou subentendido atrás,
pauta-se por uma multiplicidade de abordagens diferenciadas e por vezes
irredutíveis entre elas. Para além do mais, as abordagens disciplinares,
são muitas vezes difíceis de relacionar com uma visão da argumentação
enquanto prática social umbilicalmente ligada ao nosso ser e ao nosso
modo de viver e conviver. Dito de outro modo, os espartilhos disciplinares
distanciam muitas vezes as teorias e suas aplicações analíticas das
práticas concretas tal como ocorrem na vida real, revelando dificuldades
para lidar quer com a multidimensionalidade que encontramos nos
fenómenos argumentativos, quer com a dimensão filosófica sem a qual não
é possível ter uma visão mais holística, integral e existencialmente
significativa da argumentação.
A irredutibilidade dos diferentes paradigmas teóricos está relacionada,
antes de mais, com aquilo que, em última análise, é considerado pelos
teóricos como a sua unidade de estudo, ou seja, aquilo que é tido por
relevante em termos do foco de análise do fenómeno argumentativo. No
fundo, trata-se de responder à questão da adequação descritiva, a qual
formulo da seguinte forma: que fenómenos estuda a teoria da
argumentação? Quais são as suas tarefas descritivas? E a natureza da

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

abordagem dos fenómenos argumentativos é descritiva, normativa ou


comporta ambas as dimensões?
Ainda que, de uma maneira geral, todos reconheçam a importância do
uso da comunicação através linguagem verbal para as práticas argumen -
tativas (apesar de hoje se falar também de argumentação pela imagem),
em termos de objeto de análise vemos os teóricos selecionarem focos de
incidência muito diferentes. O seguinte esquema pode ajudar a dar uma
visão disso mesmo.

• Activa «pré-construídos» culturais. • Não há uso da


• Implica a sociabilidade da lin- palavra sem
• Implica o agenciamento, a organização e o pro-
guagem. recurso a uma lín-
cessamento de informações e de conhecimentos. gua.
• Coloca o problema da autoridade.
• Produz esquematizações discursivas. • Significar é orientar.
• Tem implicações com a doxa.

COGNITIVO
LINGUÍSTICO
• Implica a avaliação
SOCIAL
do discurso de um
pelo discurso do outro.
• Implica a emergência de Neste sentido trata-se
interesses partilhados. de uma interação crí-
A ARGUMENTAÇÃO tica e problemati-
• Pressupõe eficácia do RETÓRICO INTERACTIVO
É UM FENÓMENO: zante.
ponto de vista da comuni-
cação.
Escreve Plantin (2004:
LÓGICO AFECTIVO 172): «Se definimos o
FILOSÓFICO
objecto da argumentação
como um encontro de
discursos divergentes, então
• Implica a produção de raciocínios. a situação argumentativa é
• Diz ao Si (Self) quem é e onde se
• Permite identificar a presença de estru- posiciona. fundamentalmente
turas e esquemas. • Supõe a perspetivação dos assuntos marcada por emoções como
em questão. a incerteza, o embaraço, a
• Recorre a procedimentos ilativos (se... inquietude, a cólera, o
• Remete para a assunção de decisões
então). arrependimento, etc».
especulativas e de princípios.

A argumentação como fenómeno multidimensional

2.1. A lógica informal


Por exemplo, para quem acha que a argumentação é essencialmente
uma questão de lógica, o foco do seu estudo é o raciocínio. É claro que o
raciocínio de que aqui estamos a falar não se limita ao plano da
inferencialidade formal. O estudo da argumentação do ponto de vista da
lógica deu origem à chamada «lógica informal», a qual se interessa não
apenas pela validade formal dos raciocínios mas, também, pela sua
avaliação, por exemplo, em termos de aceitabilidade, de relevância e de
suficiência. Assim concebido o raciocínio recebe o nome de argumento.
Nesta perspetiva teórica, a linguagem corrente deverá ser filtrada
(havendo aqui uma componente de análise do discurso) para dela retermos
os raciocínios/argumentos e procedermos à sua análise, avaliando assim a
força dos argumentos.

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As três grandes dificuldades desta conceptualização residem, a meu ver,


no facto do raciocínio ser uma unidade demasiado pequena para captar a
dinâmica real das argumentações. Isolar raciocínios para análise não é o
mesmo que os ver a funcionar numa unidade maior que é a situação de
argumentação. É precisamente essa crítica que é feita na seguinte passagem:

«como seria caricato se uma situação argumentativa tivesse de


ser interrompida a todo o tempo e vezes sem conta só para que
os respetivos destinatários, munidos de lápis, se pudessem
certificar da forma lógica de cada argumento, da sua validade
formal, ou mesmo da sua plausibilidade» (Tito Cardoso e Cunha
e Américo de Sousa, 2005: 1834-1835. Itálico meu).

Além de mais, poderíamos perguntar se ver o raciocínio numa pers-


petiva lógica (na qual é central a ideia de proposição) não é algo de redutor
no que diz respeito ao que se passa nas argumentações e, ainda, colocar a
pergunta: de quantos raciocínios se faz uma argumentação?
A segunda dificuldade da lógica informal reside nos seus próprios
propósitos normativos. Ela procura avaliar as argumentações através da
avaliação dos raciocínios/argumentos e isso levanta, por sua vez, duas
dificuldades.
Uma é a de que uma argumentação é sempre mais do que a soma das
partes. Pode ter aspetos melhores e piores, argumentos mais conseguidos
ou menos conseguidos, mas o conjunto é mais importante do que a análise
das, e por, partes. Pelo meu lado, diria que aquilo que está em causa nas
argumentações não são, em primeiro lugar, os raciocínios, mas perspetivas
sobre assuntos em questão, de tal forma que podemos sempre dizer: o
raciocínio é bom, a perspetiva é que não é grande coisa.
Por exemplo, no seguinte entimema:

O filme X é o melhor filme de todos os tempos.


O filme X foi o filme que mais vendeu.

Está pressuposta ou implícita a premissa:

Os melhores filmes são os que mais vendem.

Do ponto de vista da inferencialidade formal, o raciocínio é logica-


mente válido. No entanto, o ponto de vista do pressuposto material que
nele está incluído, a saber, «Os melhores filmes são os que mais vendem»,
é uma perspetiva muito discutível e muitos poderão dizer que a qualidade
dos filmes nada tem que ver com as vendas. Ou seja, o raciocínio pode estar
correto, mas a perspetiva não ser grande coisa.

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

A outra dificuldade da lógica informal é a ideia de que existem critérios


não-argumentativos para a avaliação das argumentações e que os lógicos
os podem estabelecer. Sobre esta ideia, recorro à seguinte passagem crítica
de Hamblin:

«se ele disser ‘As premissas do Smith são verdadeiras’ ou ‘O


argumento do Jone é inválido’, está a tomar posição no diálogo
exatamente como se fosse um dos participantes; mas, a não ser
que ele esteja de facto envolvido num diálogo de segunda ordem
com outros observadores, a sua observação mais não diz do que
‘Aceito as premissas do Smith’ ou ‘Não aprovo o argumento do
Jone’. Aos lógicos é certamente permitido exprimirem os seus
sentimentos, mas há algo de repugnante na ideia da Lógica ser
o veículo da expressão dos próprios juízos de aceitação ou de
desacordo do lógico relativamente a afirmações ou a argumentos.
O lógico não está acima e fora da argumentação prática ou faz,
necessariamente, juízos sobre ela. Não é um juiz nem um tribunal
de apelo, e não existe um tal juiz nem um tal tribunal: quando
muito, ele é um advogado com experiência. Daqui decorre que não
é um trabalho específico do lógico declarar a verdade de qualquer
afirmação, ou a validade de qualquer argumento» (1970: 244.
Itálico meu).

Este é um importante ponto na medida em que afirma que, porquanto


nos movemos no terreno da argumentação, não existem critérios meta-argu-
mentativos de avaliação das argumentações. Dito de outro modo, argu-
mentação e avaliação são indissociáveis. Tal não quer dizer que não
existam planos em que há critérios de avaliação que estão em princípio
fora de questão e que são exercidos por autoridades instituídas. Na rea -
lidade, as situações de argumentação não são possíveis seja a propósito de
que assunto for ou seja em que contexto for, havendo também situações
intermédias em que, apesar de aceite, o debate é muito controlado por
procedimentos (como é o caso do direito).
A terceira dificuldade da lógica informal reside no facto de, retomando
as palavras de Crosswhite (1996: 65), os lógicos informais não verem

«o estudo do raciocínio como uma forma de assumirmos as


nossas identidades e de dar forma às nossas vidas éticas e
sociais. Não reconhecem a importância de compreender o
raciocínio como um medium da nossa própria criação».

Feita esta crítica de fundo à lógica informal, quero contudo deixar claro
que não considero que o plano do raciocínio não tenha a sua importância,

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como é patente, por exemplo, nos discursos que são os articulados dos
advogados, ou em certos momentos das interações argumentativas nas
quais reclamamos a deficiência do raciocínio do outro. Mas, volto a frisar,
não me parece que o raciocínio seja a unidade de estudo das argumentações,
na medida em que a argumentação é um fenómeno mais amplo e
multidimensional e requer que não aproximemos em demasia, fazendo-a
funcionar como um microscópio, a nossa lente analítica.

2.2. A lógica natural


Achando que o estudo do raciocínio não pode ser separado do discurso
e do ato de discorrer, Jean-Blaise Grize pensou a argumentação como uma
lógica natural, ou seja, algo que alia o raciocínio e a fala ou, melhor, que nos
mostra o que fazemos quando raciocinamos ao falar.
Ora, para este teórico, aquilo que produzimos quando raciocinamos ao
falar são «esquematizações». Nelas configuramos e propomos modos de ver
e de dar a ver. Construímos significações e desenhamos verbalmente
imagens para agir sobre o outro. A análise do modo como se produzem
essas esquematizações é o objeto dos estudos da argumentação do ponto de
vista da lógica natural.
Digamos que esta perspetiva se centra nos aspectos cognitivos e
comunicacionais da produção de configurações discursivas de alguém para
alguém de modo a influenciar a compreensão daqueles a quem o discurso
se dirige. Poderíamos dizer também que ela se debruça sobre a forma como
as ideias são discursivamente desenhadas de modo a orientar a sua com-
preensão na instância de receção.
Trata-se de uma muito interessante teoria que, quanto a mim, só peca
por apresentar uma conceção pan-argumentativa e, por conseguinte,
demasiado alargada, da argumentação. Relembro a seguinte afirmação de
Grize: «comunicar as suas ideias a alguém é sempre, pouco ou muito,
argumentar» (1997: 9). Se esta ideia permite dizer que a argumentatividade
é omnipresente nos processos de comunicação discursiva, ela não permite
contudo perceber a especificidade de uma situação de argumentação na sua
diferença relativamente a outras situações onde as pessoas não se veem como
argumentadores. Digamos que aqui, ao contrário do efeito de microscópio,
temos o efeito do telescópio, com um posicionamento demasiado afastado e
abrangente da nossa lente analítica.

2.3. A argumentação no discurso


Alargando a ideia de «argumentação na língua» de Anscrombre e de
Ducrot, acolhendo as intuições de Grize e de Perelman e distanciando-se
das abordagens lógicas que atribuem centralidade ao raciocínio, Ruth

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Amossy propôs uma teorização a que chamou a «argumentação no


discurso».
Colocando o discurso como unidade, esta conceção de argumentação
filia-se na análise do discurso e subscreve a inerência argumentativa dos
usos da linguagem, o que leva à definição de argumentação como

«os meios verbais que uma instância de locução põe a funcionar


sobre o seus auditores tentando fazê-los aderir a uma tese,
modificar ou reforçar as representações e as opiniões que lhes
são atribuídas ou, simplesmente, para suscitar a sua reflexão
sobre um dado problema» (2006: p. 37).

É por se centrar na «instância de locução» e, por conseguinte, na


produção do discurso, que, noutro local, a teórica israelita escreve:

«a minha tese é que a argumentatividade constitui uma


característica inerente do discurso. A natureza argumentativa
do discurso não implica o uso de argumentos formais, nem
significa impor uma ordem sequencial premissa-conclusão num
texto oral ou escrito. Orientar o modo como a realidade é per-
cebida, influenciar um ponto de vista e direcionar um
comportamento são ações desempenhadas por toda um espec-
tro de meios verbais. Desta perspetiva, a argumentação está
totalmente integrada no domínio dos estudos da linguagem»
(2009b: 254).

Duas observações críticas acerca destas passagens e desta teoria que,


aliás, considero que marca um passo decisivo e consistente na evolução da
teorização da argumentação.
A primeira diz respeito à apresentação do argumentador como «uma ins-
tância de locução». Parece-me uma designação demasiado inespecífica para
caraterizar o argumentador e a própria situação discursiva em que ele se
encontra. Com efeito, parecer-me-ia mais interessante precisar a «instância de
locução» como uma instância de interlocução (o que já remeteria mais para a
ideia de uma interação real ou, pelo menos, para um vaivém discursivo
polarizado num qualquer tipo de conectividade). Assim, ao falar em «instância
de locução» a tendência é para analisarmos aquilo que ela produz, ou seja, o
discurso e não propriamente (ou apenas num plano virtual) a tensão efetiva
entre discurso e contradiscurso que, quanto a mim, é uma característica da
situação de argumentação e que, por outro lado, me parece ser o que
empiricamente faz com que alguém identifique como «estar a argumentar» a
atividade que desenvolve quando assume a posição de argumentador.

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É claro que Amossy dirá aqui que o discurso é sempre dialógico, ou, nas
suas palavras, «a argumentatividade aparece pois como consequência do
dialogismo inerente ao discurso» (2010: 33). Concordo com esta afirmação
mas devo assinalar que ela põe a tónica no discurso e não nos argumen-
tadores. Acentua o modo de ver e de dar a ver através do discurso, mas não
dá suficiente atenção à relação de interdependência discursiva e às pro-
gressões interlocutivas que acontecem em interações desenvolvidas em
torno de um assunto em questão e regidas por turnos de palavra.
Dito de outra forma, o dialogismo acaba por se centrar no discurso
monogerido e, com isso, não dá grande atenção ao fenómeno da poligestão
discursiva que, a meu ver, é característico das situações de argumentação.
É pelo menos assim que interpreto a afirmação de Amossy segundo a qual
«é ainda preciso sublinhar que a situação de debate pode permanecer
tácita. Nem a questão retórica nem a, ou as, respostas antagonistas têm
necessidade de ser expressamente formuladas» (2010: 32).
Ora, a esta afirmação contraponho a crítica que Michel Meyer faz nos
seguintes termos:

«Tudo isso se explica sem recurso ao dialogismo, uma vez que


aquilo que importa não é a pluralidade de vozes, mas a presença
expressa de alternativas cujas interrogativas são a expressão
e os termos» (2008: 159. Itálico meu).

A segunda questão diz respeito aos meios escolhidos como veículo da


argumentação, ou seja, os «meios verbais». Esta escolha segue de perto as
propostas de Perelman e de Jean-Blaise Grize e leva, de novo, a que nos
centremos na materialidade discursiva. Uma vez mais, não há nada de
errado com esta escolha desde que se assuma que o espaço de comunicação
em que ocorrem as argumentações é bastante mais alargado do que aquilo
que é visto no quadro dos fenómenos da linguagem.
Como bem notou a este respeito Michel Gilbert,

«atualmente a ênfase é posta na linguagem e a linguagem não


é tão precisa como gostaríamos que fosse. Focamo-nos nela
porque é a única parte do todo o processo argumentativo que
é fisicamente identificável, e mesmo assim muitos bits de sumo
são deixados de fora das nossas imaginadas descodificações
entimemáticas» (GILBERT, 1995b: 132-133)

O ponto que aqui quero realçar é que, numa situação de argumen-


tação, muito do que podemos considerar como pertencente à comunicação
não-verbal é também importante. Dou apenas alguns exemplo: expressões

26 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

faciais, gestos e gesticulações, olhares de aprovação ou de reprovação, sobre-


posição de falas, aumento ou aceleração do débito verbal. É claro que este
exemplos não nos remetem para a categoria de texto escrito, que tem cen-
tralidade para os analistas do discurso, mas para interações presenciais orais.
Aliás, se quisemos ir mais longe, poderíamos dizer que aquilo que
Amossy designa por «ethos pré-discursivo» é geralmente um fator decisivo
nas situações de argumentação na medida em que, antecipadamente,
tende a definir a legitimidade, muitas vezes institucional, dos papéis que
serão desempenhados pelos participantes. Ou seja, há muito de extradis -
cursivo a considerar nas situações de argumentação, embora, é claro, nos
possamos ater ao estudo mais restringido da construção do ethos na mate -
rialidade discursiva.
A conceção teórica da argumentação no discurso coloca-nos, ainda
assim, perante uma conceção aparentemente alargada de argumentação
que entende esta no quadro da problemática geral da influência, ou seja,
sem especificar um tipo de influência próprio da argumentação. Isto porque,
se se pode falar de «visada argumentativa» para definir um discurso cujo
intencionalidade é manifestamente persuasiva, Amossy diz também que há
uma «dimensão argumentativa» que é inerente a todo o discurso.
Assim, poderíamos dizer que, na medida em que o discurso dá a ler ou
a ver de determinado modo, orientando para um determinada maneira de
compreender e propondo os termos a partir dos quais essa compreensão deve
ser desenrolada, o objeto de estudo desta proposta teórica serão os
mecanismos de orientação discursiva a partir dos quais as interpretações ou
versões são construídas por alguém e para alguém. Isto, é claro, sem descurar
todo um conjunto de elementos históricos, situacionais, contextuais,
dialógicos e interdiscursivos sem os quais seria difícil explicar a dimensão
concreta e enraizada da construção do sentido e das significações.
Poderia multiplicar exemplos de diferentes perspetivas teóricas. No
entanto, as evocadas bastam para expor a crítica que me conduziu a propor
uma outra teorização que designo, como anteriormente anunciei, por «a
argumentação na interação».
Como já frisei, os diferentes teóricos elegeram diferentes objetos de
estudo, ou focalizações teóricas para proceder ao estudo da argumentação.
Cada um deles destaca uma unidade essencial em torno da qual as
argumentações devem ser estudadas. E é também comum — pelo menos nas
correntes que colocam a argumentação sob a égide da análise do discurso —
verem no discurso o «lugar» onde se encontram as argumentações.

Voltar ao índice 27
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

3. A argumentação na interação

3.1. A noção de situação de argumentação


Ora, é a partir da centralidade atribuída ao discurso que retomo
minha crítica: o discurso é um dos elementos relevantes — essencial,
poderemos dizer — para o estudo das argumentações, mas não deve ser o
seu ponto de partida. Antes tomo como ponto de partida a ideia de que as
argumentações são encontros sociais e representam um intercâmbio ou
uma troca que significa que, de algum modo, estamos perante uma
«atividade conjunta» no sentido em Goodwin a refere:

«por ‘atividade conjunta’ entendo aquela em que os participantes


reconhecem mutuamente que os seus esforços individuais se
dirigem à atividade que partilham. Um tango é uma atividade
conjunta. Uma guerra não» (GOODWIN, 2007a: 87, nota 1).

Johnstone Jr. refere isto de outra forma:

«a argumentação genuína apenas pode acontecer quando


aquele que responde não é indiferente nem passivo às
afirmações do argumentador. Apenas pode ocorrer quando
aquele que responde está, ele próprio, interessado no resultado
da argumentação; isto é, quando ele próprio corre um risco e
força o argumentador a corrê-lo» (JOHNSTONE JR., 1992: 44).

Neste sentido, é importante distinguir entre discursos monogeridos e


discursos poligeridos. Um caso típico de discurso monogerido é, por exem-
plo, a comunicação que um orador apresenta num congresso ou que um
político faz num comício. Trata-se de um modo de comunicar essencialmente
unilateral uma vez que vai na direção do orador para o auditório. Ele
diferencia-se dos discursos poligeridos que, sendo aqueles que são cons-
truídos e tecidos na permeabilidade face ao discurso do outro, se inserem
num modo de comunicação essencialmente dialogal e multilateral. Eles
configuram aquilo que designo por «situação de argumentação». Esta
implica a polarização num assunto em questão resultante de um díptico
argumentativo, o desenvolvimento da interação através de turnos de pala-
vra e o confronto de posições realizado sob a forma da crítica do discurso de
um pelo discurso do outro. E, apesar de podermos falar em competição, o
fato é que a interação pressupõe previamente uma postura cooperativa, um
acordo, como diria Perelman, ou seja, como salienta Jacques,

28 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

«O aspecto competitivo, ou pontualmente manipulador, está


articulado com o aspecto cooperativo e depende dele. É sobre
o fundo de uma cooperação, mesmo que simulada, que a
dissensão se ergue» (Jacques, 1991: 156-157).

Marc Angenot fala, pelo seu lado, de um «consenso de circunscrição»,


observando que

«na prática, é não só preciso estar de acordo sobre a existência,


a tangibilidade do tema mas, de uma forma mais premente,
sobre o seu interesse. É preciso que o debate valha a pena, que
a conclusão, caso se chegue a encontrar uma, seja fecunda e útil,
uma vez que se o assunto, seja ele qual for, se revelar como
trivial e sem interesse, não é razoável dispensar-lhe energia»
(ANGENOT, 2008: 137).

Afirmo, assim, que o conceito que deve servir de moldura ao estudo


das argumentações — da argumentação na interação — é o conceito de
«situação de argumentação». Neste sentido, vou ao encontro das palavras
do Tratado, segundo as quais

«o discurso persuasivo produz efeitos pela sua inserção, como


um todo, numa situação, ela mesmo frequentemente bastante
complexa. (...) A análise de uma cadeia de argumentação,
fora do seu contexto e independentemente da situação em que
se insere, apresenta perigos inegáveis» (PERELMAN, Ch.,
OLBRECHTS-TYTECA, L., 1988: 251).

De acordo com esta ideia, direi que o uso do discurso não significa,
como acontece nas conceções que designo como «pan-argumentativas», que
estejamos desde logo a argumentar. Como observou James Crosswhite,

«há formas de raciocínio e de diálogo que aumentam a com-


preensão mútua e conduzem à clareza acerca do que está e do
que não está em questão e sobre o que é ou não argumentável,
e estes tipos de comunicação podem ser muito importantes,
mesmo que não reúnam as condições de justiça requeridos
pela argumentação. E a argumentação nem sempre é um bem
que deva ser alcançado. A Nova Retórica reconhece que não é
de forma alguma bom entrar numa argumentação com
qualquer um sobre seja que assunto for» (2013: 282-283).

A passagem citada coloca a questão de «entrar numa argumentação»


como praticar uma forma específica de diálogo. Ou seja, nem sempre o

Voltar ao índice 29
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

diálogo é uma argumentação. Nem sempre percecionamos a nossa comu -


nicação com os outros como uma argumentação. Nem sempre estamos em
posição de argumentar e nem sempre achamos que vale a pena argu-
mentar. Assim, se toda a argumentação pressupõe diálogo, nem todo o
diálogo é uma argumentação.
O que com esta afirmação quero dizer é que uma argumentação
corresponde a entrar numa moldura relacional específica, ou seja, a entrar
numa situação de argumentação. Significa isto que falar não tenha, de
algum modo, uma dimensão argumentativa, para utilizar a categoria
proposta por Amossy? Não. A minha posição é a de que a argumenta-
tividade é inerente ao discurso e que falar nunca é neutro, mas isso não
implica que, quando falamos, e apenas por falarmos, estejamos desde logo
numa situação de argumentação ou que percecionemos aquilo que estamos
a fazer como «argumentar».
Uma coisa é a não neutralidade do falar — e a análise do discurso é
uma ferramenta poderosa para mostrar que, por detrás da aparente neu-
tralidade discursiva, há sempre formas de orientar que, salientando e fil-
trando, jogando com o implícito e com o projetivo, remetem sempre para
modos específicos de ser, de estar, de pensar e de se posicionar —, outra é
a disponibilidade para submeter os posicionamentos à discussão, aceitar
que eles sejam questionados, confrontados e contra-argumentados. Ora é
aquilo que se origina com esta disponibilidade — ou seja, a participação na
abordagem de um assunto em questão — que, na minha perspetiva,
caracteriza as situações de argumentação. Poderíamos também dizer que
é típico das situações de argumentação os participantes poderem ocupar,
ou terem o poder de iniciativa, em qualquer dos seguintes papéis: o de
proponente, o de oponente e o de questionador.
Este é aliás um dos aspetos que liga a argumentação à democracia e
que leva Plantin (1996: 21) a afirmar que a relação argumentativa implica
uma «situação democrática» ou Dominique Wolton (1995: 11-13) a
sustentar que «há uma «filiação direta entre democratização, comunicação
e argumentação», sendo que «sem argumentação, não há comunicação.
Talvez haja expressão, mas não há troca (...). Comunicar com outrem,
entendido como um outro, igual a, implica pois o recurso à argumentação.
(...) A argumentação é a ‘prima direita’ da liberdade de comunicação». Essa
é, aliás, também a razão pela qual as ditaduras e os regimes autoritários
não são favoráveis à discutibilidade inerente à argumentação.
Este aspeto — que aqui não aprofundaremos — assinala a
incontornável importância que o ensino da argumentação deveria assumir
na formação dos cidadãos, possibilitando não só formar uma imagem
argumentativa do pensamento, base da boa convivencialidade, como

30 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

também articular a liberdade e a responsabilidade pelo elo da argumentação


que diz quem somos e onde queremos estar.

3.2. Argumentatividade e argumentação


Distingo, portanto, entre argumentatividade — que considero inerente
ao discurso e através da qual é tecida a orientação proposta por alguém
para alguém, sendo que o essencial aqui é compreender que a toda a inter-
pretação subjaz uma filigrana argumentativa que pode ser explicitada —
e argumentação — que é algo que considero ligado a uma situação
específica.
O que é que diferencia então argumentatividade e argumentação? A
argumentatividade é inerente aos discursos e pode ser focalizada a três
níveis principais:

1. Como uma força projetiva inerente ao uso da língua e dos


enunciados (e neste caso estamos a focalizar quer a utilização das
palavras na sua relação com os topoi, quer os enunciados e o seu
encadeamento através de conectores e de marcadores discursivos),
sendo que aqui a tónica é posta nos mecanismos de orientação
enunciativa.
2. Como uma força configurativa inerente ao discurso (e neste sentido
estamos a focalizar a ação sobre outrem através das tematizações,
vidências, ideias ou imagens esquematizadas no modo de produzir
o discurso, configuradoras de posicionamentos e produtoras de
influência sobre aqueles a quem são dirigidas), sendo que aqui a
tónica é posta nos mecanismos de influência discursiva que prepa-
ram a receção do discurso em termos de interpretação.
3. Como uma força conclusiva ou ilativa que corresponde a processos
de raciocínio postos em ação no discurso (tipos e esquemas de
raciocínio), sendo que aqui a tónica é posta nos mecanismos de
inferência.

A argumentação, tal como aqui a considero não é, contudo, algo que se


reduza à argumentatividade, ou força argumentativa, nem à apresentação
de argumentos vistos do ponto de vista dos mecanismos de orientação, de
influência ou de inferência, mas sim como uma interação que tem na sua
base uma situação de argumentação caracterizada pelos seguintes aspectos:

a) A existência de uma oposição entre discursos (ou seja, em que é


requerida a presença de um discurso e de um contradiscurso numa
situação de interação entre, pelo menos, dois argumentadores).

Voltar ao índice 31
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

b) A alternância de turnos de palavra polarizados num assunto em


questão e tendo em conta as intervenções dos participantes.
c) Uma possível progressão para além do díptico argumentativo inicial
e em que é visível a interdependência discursiva, ou seja, em que de
algum modo o discurso de cada um é retomado e incorporado no
discurso do outro. Neste sentido a fala de cada um não é dissociável
da fala do outro e da circunscrição do assunto em que essas falas
são consideradas de uma forma séria, porque tidas por relevantes e
de interesse.

Podemos assim dizer que uma interação comunicativa se converte numa


argumentação quando nessa interação se tornam destacáveis discursos em
confrontação polarizados num assunto em questão. Nas práticas conver-
sacionais os assuntos raramente são abordados sob o modo do «em questão»
ou chegam a ser suficientemente tematizados para que se consiga a focalizar
o assunto a tratar. O que se verifica mais frequentemente são episódios de
contradição conversacional que permitem entender as diferentes orientações
e posicionamentos de cada um sem contudo aprofundar essas divergências.
Ou, então, um desinteresse puro e simples pelos termos em que se coloca o
assunto ou pelo próprio assunto.
É aliás nesse sentido que Willard salienta que «uma decisão da atenção
é um compromisso de entrada num processo comunicativo — uma decisão de
participar nos processos de comunicação», a qual se pode exprimir na
questão «a quem vamos dar ouvidos?», que é, segundo o autor, a decisão
epistémica mais importante que uma pessoa faz (Willard, 1983: 268). É
também nesse sentido que acho muito interessantes as palavras de Henry
Johnstone Jr. (1978: 64) sobre a retórica como «arte de chamar a atenção da
outra pessoa» ou como «a evocação e a manutenção da consciência requerida
pela comunicação» (2007: 21) ou, ainda, como «uma espécie de cunha, tal
como uma espécie de ponte e a retórica é a técnica de colocar uma cunha
entre a pessoa e os dados da sua experiência imediata» (2007: 24).
Voltemos à distinção entre argumentatividade e argumentação.
A argumentatividade está ligada à ordem da construção discursiva de
sentido para alguém. Ela é essencial para dar a compreender e suscitar
interpretações no leitor ou no ouvinte. Saber ler um discurso implica per-
ceber como é que nele funciona a argumentatividade, na medida em que
esta constitui a espinha dorsal do desenho discursivo ou da esquematização
veiculada.
A argumentação está ligada à confrontação de posições que mutuamente
se avaliam e onde se verifica a crítica do discurso de um pelo discurso do
outro. Neste sentido, a argumentação difere da argumentatividade porque,

32 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

ao contrário desta, aquela é necessariamente dialogal. Por outro lado, ainda


que ambas possam ter uma dimensão dialógica, na argumentatividade o
dialogismo é intrínseco ao discurso, que é sempre polifónico e habitado por
outras vozes, enquanto na argumentação o dialogismo representa uma troca
efetiva, ou seja, uma interlocução de facto realizada por turnos de palavra e
na qual é manifesta uma tensão discursiva. Há assim uma dinâmica do dar
e do receber, do dizer e do escutar, ou seja, numa palavra, a retoma do
discurso de um pelo discurso do outro.
Deste modo, para retomarmos o fio condutor e concluir, podemos dizer
que a argumentatividade apenas necessita da produção discursiva para
dar origem a análises, e aquilo que frequentemente pretendemos com essas
análises é compreender o sentido do discurso, as visões do mundo ou os
valores que lhes estão subjacentes, as posições implícitas ou explícitas que
veicula, certos pressupostos ou subentendidos em que assentam essas
posições, as estratégias persuasivas utilizadas para produzir certos
destaques ou dar força a certas ideias, a atenção às palavras usadas e às
palavras não utilizadas, etc., etc..
A argumentação, por seu turno, necessita do enquadramento numa
situação específica em que não basta a produção discursiva mas é também
necessária a tematização poligerida da divergência. Ora, aí, o foco da
análise muda para a interação, tal como mudam os parâmetros analíticos,
uma vez que uma situação retórica ou de argumentação tem sempre como
referência o auditório e a questão de saber quem, é porquê, esteve melhor
no confronto. Critérios — que abordaremos mais adiante — como a
civilidade, o centramento ou não no assunto, a capacidade de contra-argu-
mentar, o ato de fazer concessões, de retomar os argumentos do outro, etc.,
tornam-se, então, essenciais.

3.3. Discurso argumentado e argumentação


Distingo ainda entre discurso argumentado e argumentação através de
uma diferente caracterização de cada um: o primeiro é dialógico mas
monologal e o segundo é dialógico e dialogal. Entendo por dialógico o facto
não só do discurso se dirigir a alguém, como, ainda, o de habitar o interdis -
cursivo e nele podermos encontrar referências a outras posições. Mas é
monologal porque está subtraído a uma situação imediata de confrontação.
É uma iniciativa comunicativa que permanece na unilateralidade. É um texto
ou um discurso oral que define posições, apresenta argumentos, sustenta
posições, mas não engloba a dinâmica de progressão subsequente à con-
frontação inantecipável de posições, ou seja, onde assistimos ao ping-pong da
crítica do discurso de um pelo discurso do outro. Ora é isso que acontece com
o dialogal: ele pressupõe que são precisos dois para dançar o tango e que é

Voltar ao índice 33
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

diferente produzir um discurso argumentado sem a pressão direta do


discurso do outro, dirigindo-nos a um auditório virtual, e participar numa
argumentação regida pelo face a face ou, pelo menos, por um movimento de
vaivém e pela tensão de discursos que se opõem.
Nota a este propósito Kerbrat-Orecchioni: «a retórica adota uma pers-
petiva dialógica mas monologal, ao passo que a da pragmática interacionista
é dialogal e dialógica» (2002: 191).
Como veremos mais adiante, para nós importa tomar em consideração
a distinção entre o dialógico mas monologal e o dialógico e dialogal que
esta autora propõe:

«Que a conversação seja uma forma de discurso entre outros,


isso é certo. Mas reduzindo a noção de interação à ideia trivial
de que falamos sempre para alguém, reduzimos o seu poder
teórico e descritivo; e mascaramos diferenças fundamentais ao
assimilarmos destinatário real e virtual, troca explícita e im-
plícita, discurso dialogal (produzido por vários interlocutores
em carne e osso) e discurso dialógico (levado a cabo por um único
locutor, mas que convoca no seu discurso várias ‘vozes’» (Ker-
brat-Orecchioni, 2005: 16).

Penso que a autora está certa e todos já terão tido a experiência de


como é diferente e mais fácil, perante um auditório virtual, inventariar
argumentos que nos parecem fortes e relevantes, do que argumentar
desafiando e sendo confrontado concretamente pelos argumentos dos
outros.
Por conseguinte, uma situação de argumentação é uma situação na
qual explicitamente assistimos não só a uma confrontação de posições,
como, e isso é fundamental, à tematização do desacordo. Uma situação de
argumentação é pois uma situação de oposição ou de dissonância posicional
que é focalizada para debate por, pelo menos, dois interlocutores.
Encontramos esta mesma ideia em Willard quando afirma:

«‘estamos a argumentar’ é uma coorientação, a definição de uma


relação, uma atribuição episódica. A minha assunção é a de que
os atores agem de uma forma única quando estão a
‘argumentar’. O foco da investigação sobre a argumentação deve
ser a forma como o fazem» (WILLARD, 1979: 188).

«uma argumentação é um encontro social construído sobre as


seguintes mínimas: eu assumo que nós discordamos; eu
assumo que tu assumes que nós discordamos; eu assumo que
estou a argumentar e que tu concordas que eu estou a

34 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

argumentar; tu assumes que estás a argumentar e que eu


concordo que estás a argumentar. Estas são assunções meta-
discursivas que são independentes do assunto em causa»
(WILLARD, 1989: 53).

3.4. O guião da argumentação


Poderíamos também dizer que a situação de argumentação implica
um determinado script ou guião e Pamela Benoit descreve-o muito bem
nas seguintes passagens:

«o guião da argumentação requer que aqueles que interagem


considerem as suas posições como uma oposição. Se esta pré-
-condição não é satisfeita uma argumentação não pode ocorrer.
(...) Uma segunda pré-condição afirma que uma argumentação
deve ser merecedora do investimento requerido para concretizar
o guião. Esta pré-condição nota que a argumentação não ocorre
em todas as situações em que se observa um desacordo»
(BENOIT, 1992: 176-177).

«o guião de uma argumentação deixa de correr quando as pré-


-condições deixam de ser satisfeitas. Uma pré-condição implícita
da argumentação na interação é a de requerer pelo menos duas
partes. Quando uma das partes abandona abruptamente a in-
teração, a argumentação finaliza, pelo menos até as partes se
voltarem a encontrar. As argumentações requerem oposição ex-
plícita e esta pré-condição é violada quando o parceiro desiste,
se chega a algum acordo ou o tópico se altera para algum
assunto relativamente ao qual não há desacordo. O guião da
argumentação requer também o acordo conjunto de que vale
a pena continuar o guião e, por isso mesmo, considerar a
argumentação como escusada é suficiente para o guião deixar
de correr» (BENOIT, 1992: 179).

Estas ideias dimensionam, assim, o conceito de «situação de argu-


mentação». Nele se destaca o carácter tensional e é por isso que a ideia de
conflito explícito está no coração das argumentações. (Assinale-se contudo
que, embora indissociável, a retórica se distingue da argumentação na
medida em que a ocultação do questionável e do conflitual pode ser uma das
suas estratégias de persuasão, constituindo aquilo que Michel Meyer apelida
de «retórica negra»).
Por outro lado, segundo esta visão, a argumentação não é apenas a
expressão de um ponto de vista, mesmo que acompanhado de razões ou
argumentos. A argumentação, mais do que expressão de uma opinião

Voltar ao índice 35
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

através de um discurso argumentado é confrontação de posições seguida de


uma troca crítica focada nas posições e argumentos expressos pelas partes
e que na interação são levados à discussão.
É assim que Plantin (2003: 121-129) fala da interação, em termos de
argumentação, como «escutar os outros, integrar o que se disse no seu pró-
prio discurso, e assim combater o ensimesmamento; e também duvidar,
fazer a experiência da incerteza, a qual ocorre quando nos parece que os
discursos antagonistas se equilibram».
Destacaria, ainda, que a função crítica é típica das argumentações e faz
parte da sua dinâmica. Esta ideia de uma função crítica foi aliás um aspeto
salientado pelos chamados «lógicos informais» que sempre estiveram
próximos do movimento do Critical Thinking. Todavia, eles assumiram uma
perspetiva normativa com a qual não concordo, uma vez que colocam padrões
lógicos de avaliação acima das próprias argumentações e da atividade de
argumentar. Com efeito, a meu ver, não há instâncias meta-argumentativas
para proceder à avaliação das argumentações: a avaliação é constitutiva é
indissociável do argumentar.
Escreve a este propósito Angenot:

«a questão daquilo que e válido e inválido na argumentação,


daquilo que é correto ou não, suscetível de convencer ou capcioso,
é ela mesma objeto de debate, ela mesma argumentável, algo
que permanece aberto à discussão, que nada tem de categórico
e que as opções, acessoriamente, não são alheias a certas esco-
lhas ideológicas» (ANGENOT, 2008: 129).

3.5. Fases numa situação de argumentação


Também a chamada escola holandesa propõe que consideremos que o
guião da argumentação comporta quatro partes, a que chama «fases da
argumentação»:

• a fase da confrontação (e aqui se dá a constituição de um díptico


argumentativo ou uma stasis);

• a fase da abertura (e aqui se dá a focalização na questão que divide


e nela se negoceiam os termos da questão);

• a fase da argumentação (e aqui cada uma das partes procura


reforçar a sua perspetiva e argumentos relativamente à perspetiva
e argumentos das outras partes);

36 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

• a fase do fecho (e esta fase assinala a interrupção da argumentação


e da situação argumentativa. Porque penso que pode sempre haver
boas e ricas argumentações sem resolução, prefiro chamar a este
estádio «fase do fecho» em vez de «fase da conclusão»).

A proposta descritiva das fases da situação argumentativa proposta pela


escola holandesa é interessante na medida em que permite ver a argumentação
em termos de progressão, ao mesmo tempo que possibilita também descartar
a ideia de que as pessoas argumentam o tempo todo. Com efeito, na vida
prática, a fase da abertura não se sucede assim com tanta frequência à fase da
confrontação, sendo mais frequente assistirmos a episódios de confrontação
conversacional do que a diferendos argumentativos (para utilizar a termi-
nologia de Plantin). Refira-se, por outro lado, que a progressão das várias fases
não é entendida necessariamente como algo que conduz a uma conclusão, que
produz uma decisão ou que gere um acordo partilhado. Progressão significa
aqui que se vão desenvolvendo modos de perspetivar, que os assuntos vão sendo
desenhados em vários sentidos, que argumentos e contra-argumentos são
colocados sobre a mesa e, por conseguinte, que se registou um adensamento e
aprofundamento do assunto em questão.
É também esta progressividade, ou gradatividade, que é assinalada
por Plantin quando escreve:

«uma dada situação linguageira começa assim a tornar-se


argumentativa quando se manifesta uma oposição de discursos.
Dois monólogos justapostos, contraditórios, sem alusão um ao
outro, constituem um díptico argumentativo. E sem dúvida a
forma argumentativa de base: cada um repete a sua posição.
A comunicação é plenamente argumentativa quando esta
diferença é problematizada numa Questão e se destacam
nitidamente os três papéis de atuação do Proponente, do
Oponente e do Terceiro» (PLANTIN, 2005: 63).

É que, e aproveito de novo para citar este autor quando este define a
interação argumentativa como

«uma situação de confrontação discursiva no decurso da qual


são construídas respostas antagonistas a uma questão»
(http://icar.univ-lyon2.fr/membres/CPlantin/recherche.htm).

Quando enfatiza que

«na base da ação argumentativa está a oposição» (PLANTIN,


1999: 33).

Voltar ao índice 37
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

Ou ainda quando refere que

«os discursos argumentativos se constroem, por conseguinte,


sob um duplo constrangimento: orientam-se a partir da per-
gunta e enunciam-se sob a pressão de um discurso oposto»
(PLANTIN, 1999: 34).

Nos esquemas que a seguir apresento podemos ver representadas


várias formas de conceber a análise das argumentações, indo de uma
registo monológico para um registo dialogal:

38 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Voltemos ao tópico da análise argumentativa. Muitas vezes as análises


argumentativas focam-se no funcionamento da língua (no uso de termos e
de conetores que dimensionam a orientação dos enunciados). Contudo,
como observou Plantin,

«a argumentação não está pois localizada (...) ‘na língua’ (...)


[mas é antes] uma forma de interação problematizante
formada por intervenções orientadas por uma questão»
(PLANTIN, 2002: 230).

Outras vezes a análise argumentativa foca-se no discurso e estuda


tópicos como os mecanismos e estratégias discursivas, ou seja, modos

Voltar ao índice 39
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

discursivamente mediados de configurar e dar a ver de determinadas


formas. Também aqui diria que a argumentação não está no discurso mas
numa situação de confronto na qual o discurso é um dos meios usados para
interagir. Na realidade, a situação argumentativa não começa com a
produção de um discurso mas com o surgimento de um contradiscurso.
Como escrevem van Eemeren, Rob Grootendorst, F. Henkemans et al
(1996: 2),

«no discurso, a argumentação diz sempre respeito a uma


opinião particular, ou posição, sobre um assunto específico. A
necessidade de argumentação surge quando opiniões respei-
tantes a esse assunto diferem ou é suposto diferirem. Sustentar
uma opinião, por si mesmo, não é suficiente para iniciar uma
argumentação. Argumentar apenas faz sentido se existir um
ouvinte ou um leitor que lança dúvidas sobre uma opinião ou
tem uma opinião divergente. A argumentação começa na
presunção, certa ou errada, de que a posição do argumentador
não e imediatamente aceite, mas é controversa» (itálico meu).

Claro que podemos analisar, com interesse, por exemplo, a construção


discursiva do pathos ou do ethos, mas convém não esquecer, como já
anteriormente se referiu, que nas interações há muito de situacional e
extradiscursivo. Por exemplo, o local onde se argumenta, a qualidade em
que se argumenta ou o estatuto pessoal dos argumentadores (ou ethos
prévio), são elementos situacionais extradiscursivos que, contudo, se
refletirão na interação. Por isso, diria, com Brockriede, que a argumen-
tação está nas pessoas e, mais precisamente, na transação que as pessoas
entre si estabelecem em torno de questões argumentativas. E se o discurso
tem poder, é preciso não esquecer também que, segundo a advertência de
Bourdieu, o poder chega igualmente à linguagem «de fora» (ou seja, porque
alguém investe outro alguém de determinado estatuto, legitimando com
isso o poder que esse estatuto permite exercer de uma forma assimétrica).

3.6. Questões argumentativas


Mas, voltando à situação de argumentação, podemos dizer que ela se
caracteriza pela presença de, pelo menos, uma questão argumentativa.
Mas, o que são questões argumentativas? Vejamos como Plantin as
caracteriza:

«numa primeira aproximação estas questões argumentativas


opõem-se às questões informativas sobre as quais é possível

40 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

encadear diretamente uma resposta (...), resposta que satura


a questão e a anula. Admitindo várias respostas contraditórias,
as questões argumentativas são insaturadas, sobrevivem às
respostas que lhe são dadas. Elas são ambíguas, no sentido
etimológico do termo» (PLANTIN, 2001: 71-92).

A partir desta ideia, distingo entre perguntas (que se caracterizam por


ser «fechadas» e unidimensionais) e questões (que se caracterizam por
serem «abertas» e multidimensionais).

3.7. Perguntas e questões


Aparentemente, pergunta e questão são termos sinónimos e tendemos
a usá-los de uma forma intermutável. Associamos quer «pergunta», quer
«questão», à expectativa de uma resposta.
No entanto, há uma diferença importante entre a resposta que uma
pergunta suscita e a resposta que uma questão levanta. Uma pergunta
suscita uma resposta linear, uma resposta que, ao responder, anula a per-
gunta, no sentido em que, com a resposta, a pergunta deixa de se colocar.
Perguntar «qual é a capital de Portugal?» suscita uma resposta precisa, o
mesmo acontecendo com a pergunta «que horas são?». O que caracteriza o
perguntar é pois a expectativa de poder obter uma resposta que a satisfaça
no sentido de a resolver. É esta linearidade (todos conhecemos a exigência
que por vezes é feita para responder «sim ou não») que permite esperar
que uma pergunta possa ser resolvida através da resposta. Dito de outra
forma, pressupor que há uma resposta que é a resposta à pergunta é o que
a caracteriza a pergunta enquanto pergunta.
Uma questão, pelo contrário, não se caracteriza pela linearidade da
resposta esperada mas, ao contrário, pela ambiguidade, no sentido
etimológico do termo, ou seja, que origina, pelo menos, dois sentidos de
resposta. Como anteriormente vimos, Plantin chama a este tipo de questões
«questões argumentativas».
Aquilo que as questões põem em questão são assuntos, suscitando a
necessidade prática de sobre eles deliberar e fazer escolhas. Não foi apenas
Protágoras que evidenciou que para cada assunto em questão há sempre,
pelo menos, duas respostas possíveis. Também Aristóteles escreveu que:

«nós deliberamos sobre questões que parecem admitir duas


possibilidades de solução, já que ninguém delibera sobre
coisas que não podem ter acontecido, nem vir a acontecer, nem
ser de maneira diferente; pois, nesses casos, nada há a fazer»
(ARISTÓTELES, 1998: 1357a).

Voltar ao índice 41
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

Vale também a pena citar uma passagem da Ética a Nicómaco na qual


Aristóteles faz notar que ao rigor exigido nas demonstrações se contrapõe
o carácter algo vago dos assuntos argumentativos, que nunca são sem
ambiguidade nem deixam concluir de uma forma inquestionável:

«damo-nos, portanto, por satisfeitos se, ao tratarmos destes


assuntos, a partir de pressupostos que admitem margem de erro,
indicarmos a verdade grosso modo, segundo a sua caracterização
apenas nos traços essenciais. Pois, para o que acontece o mais
das vezes, com pressupostos compreendidos apenas grosso modo
e segundo a sua caracterização nos traços essenciais, basta que
as conclusões a que chegamos tenham o mesmo grau de rigor.
Do mesmo modo, é preciso pedir que cada uma das coisas
tratadas seja aceite a partir dessa mesma base de entendimento.
E que é próprio daquele que passou por um processo de educação
requerer para cada caso particular de investigação apenas tanto
rigor quanto a natureza do tratamento do tema admitir. Na
verdade, parece um erro equivalente aceitar conclusões
aproximadas a um matemático e exigir demonstrações a um
orador». (ARISTÓTELES, 2009: 1094b).

3.8. A noção de assunto


Esta incursão pela distinção entre perguntas e questões conduziu-nos
a uma noção que considero essencial do ponto de vista da teorização da
argumentação na interação: a noção de assunto.
O que caracteriza, então, a noção de assunto? Essencialmente um
assunto é algo de plástico e suscetível de ser configurado pela seletividade
daquilo que convocamos para o abordar. A essa seleção chamamos tema -
tização, que é um outro nome para a inventio retórica.
Donde, em primeiro lugar, a ideia de que a argumentação tematiza
assuntos e, concomitantemente, que os assuntos são tematizáveis porque
para eles não nos limitamos a oferecer respostas para perguntas, mas
porque através da seletividade dos considerandos convocados configuramos
questões em termos da sua problematicidade.
O termo «assunto» é um termo da linguagem corrente ou comum e
corresponde a uma organização mental que é simultaneamente uma forma
de focalizar (no sentido de delimitar) e de referenciar um espaço
potencialmente problemático, mas que remete não só para elementos parti-
lhados e comuns como para posicionamentos diversos (do ponto de vista
da tematização um assunto é uma categoria multidimensional).
O termo «assunto» não remete apenas para uma pergunta infor-
mativa, mas também para um conjunto de considerandos que a seu

42 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

propósito é preciso colocar, nomeadamente, os dados, as questões e as


diferentes posições (donde a diferenciação entre perguntas e questões); a
sua abordagem convoca a possibilidade de várias incidências (o que implica
processos de seleção e procedimentos de filtragem e saliência ligados a
valorizações, desvalorizações e hierarquias). Donde a ideia de que a
tematização dos assuntos produz uma versão.
Um assunto é algo intermédio entre as ideias e as proposições, entre
o claro e o obscuro, sendo suscetível de tematização e de enquadramento.
É algo de situacional e referenciado (parte sempre de determinados
dados ou de certos pressupostos), comportando uma dimensão prática.
É uma noção muito flexível e suscita posicionamentos e perspetivas;
abre possíveis e cruza o possível com o preferível.
Quando «aquilo de que se trata» está envolto em polémica, um assunto
surge como um «um caso».
É algo relativamente ao qual as pessoas tendem a posicionar-se ou,
pelo menos, que têm de equacionar e com que têm de lidar da melhor
maneira.

3.9. Assunto em questão


No entanto, para captar o dinamismo e a interação e, por outro lado,
para diferenciar as situações de argumentação de um processo de
comunicação genericamente considerado, torna-se necessário especificar
com o «em questão» o modo de abordagem dos assuntos que caracteriza a
oposição argumentativa.
Não se trata de um questionamento filosófico, mas de um deno-
minador comum às próprias dissensões circunstanciadas. Um «assunto em
questão» significa que o choque entre discursos faz emergir uma questão
argumentativa, uma questão para a qual são sempre possíveis pelo menos
duas respostas opostas. E, como já anteriormente referi, é na tematização
dessa dissensão que podemos ver os lances e as intervenções que dão corpo
à argumentação.
E o que caracteriza o «em questão»? O «em questão» representa a
presença efetiva de um discurso e de um contradiscurso, ou seja uma
situação de conflito e de dissonância em que se dá a crítica do discurso de
um pelo discurso do outro.
Tomando como unidade metodológica de análise das argumentações o
«assunto em questão» podemos dizer que as situações de argumentação
são aquelas em que se dá a crítica e a avaliação do discurso de um pelo
discurso do outro e que é esse o fenómeno que o analista da argumentação
deve descrever.
Plantin (2009) formulou com rigor esta ideia quando escreveu:

Voltar ao índice 43
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

«a prática da avaliação dos argumentos é guiada por um


princípio simples: aquele que não admite um discurso é o
primeiro, porventura o melhor crítico e, antes de mais, ele fala;
é pois preciso considerar a sua palavra. Esta última afirmação
é um princípio normativo que diz respeito, não à atividade
argumentativa, mas ao método em teoria de argumentação. A
tarefa desta teoria é a de inteirar-se o melhor possível desta
atividade crítica e, não, substituí-la. A conclusão inspirar-se-
á em Guzot: laissez faire, laissez aller — e deixem dizer! Não
existe um super-avaliador capaz de parar o processo crítico por
uma avaliação terminal que a todos faria calar. E quanto mais
avaliações houver, mais argumentações apaixonantes haverá
para descrever».

4. A análise das argumentações de um ponto de vista


interacionista
Como anteriormente referimos, nem sempre nos encontramos numa
situação de argumentação. Aliás, muitas das situações de argumentação
são planificadas previamente, embora haja frequentemente situações em
que a argumentação surge espontaneamente.
Situações de argumentação planificadas são aquelas que, por exem-
plo, ocorrem em lugares institucionais, como os tribunais, ou em fóruns
organizados de discussão (por exemplo, nas reuniões de concertação social,
em assembleias, etc.). Refira-se que as situações de argumentação plani -
ficadas e institucionais estão sempre ligadas ao estabelecimento de proce-
dimentos que podem ser impostos de uma forma mais ou menos rígida,
mas que são todavia indispensáveis para reconhecermos como tal uma
situação de argumentação.
Mas vejamos, mais de perto, quer as situações planificadas de
argumentação quer as situações espontâneas de argumentação, sempre
tendo um olho nos parâmetros que nos podem guiar na análise das
interações.

4.1. Situações planificadas de argumentação


Do ponto de vista da análise das interações argumentativas planificadas,
é frequente haver um moderador (o termo é sugestivo) que, por um lado, con-
trola a disciplina dos tempos e dos turnos de palavra, procurando manter o
debate nos parâmetros da boa civilidade e dos procedimentos acordados e,
por outro, assume o papel do questionador, lançando as questões relevantes
(dependendo esta relevância, claro está, do auditório que quem está a
desempenhar esse papel considera estar a representar. Assim, um jornalista

44 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

que modere um debate na televisão procurará colocar questões sobre «aquilo


que as pessoas querem saber lá em casa», ou que «os espectadores — ou a
nação — querem saber», assumindo-se como porta-voz desse auditório. Já
um juiz num tribunal fará com que o processo de julgamento se mantenha
nos parâmetros do que é relevante, procedendo a uma triagem acerca do que
deve ser ponderado. E ele fá-lo enquanto representante do poder judicial e em
nome do auditório constituído por aqueles que querem que a justiça seja feita.
E assim por diante).
Para além do moderador — quando de facto há uma pessoa com essas
funções que participa no debate —, de uma interação argumentativa
planificada fazem naturalmente parte os participantes. São eles os
debatedores e por isso são geralmente escolhidas pessoas que se sabe de
antemão terem posições divergentes. Aliás a própria animação do debate
reside no facto dos participantes terem uma postura adversarial uns para
com os outros. Claro que podem haver sempre alianças argumentativas
entre participantes que estão mais próximos, mas a ideia do debate é con-
frontar as divergências, pretendendo-se que cada um expresse e sustente
as suas posições perante a pressão e os argumentos das posições dos outros.
É também por isso que nesses debates se gera, em quem está a assistir,
uma certa expectativa de como é que a outra parte vai reagir às palavras
pronunciadas pelo seu oponente.
Nas interações argumentativas planificadas há também sempre pelo
menos um assunto, podendo haver mais do que um. O mais frequente é que
haja um assunto formulado de um modo genérico, por exemplo «Debate
sobre o orçamento de Estado apresentado pelo governo à Assembleia de
República». Este assunto, para ser debatido, deve ser colocado sob o modo
do «em questão» e é justamente essa a função desempenhada por quem
lança as questões. Através de diferentes colocações interrogativas, ele per-
corre assuntos em questão mais específicos que contribuirão para esclarecer
acerca do assunto em questão mais genericamente formulado. No fundo,
ele explora o assunto percorrendo uma série de subtemas através dos quais
quem assiste ao debate poderá ficar com uma imagem geral. Assim, o
assunto em questão, genericamente considerado, é desdobrado em aspectos
específicos relevantes focalizados pela colocação de diferentes questões, mas
sempre sobre o guarda-chuva do tema geral.
É claro que podem sempre acontecer desvios ao assunto, fenómeno que
de um modo geral o moderador tenta controlar.
Aproveite-se para referir que quem ocupa o papel de moderador e de
questionador tem um grande poder no que vai acontecendo na interação
argumentativa. É ele que coloca as setas no sentido das quais os partici-
pantes devem ir se quiserem evitar a acusação de fuga ao assunto. É ele que,

Voltar ao índice 45
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

não tendo aparentemente a função de se pronunciar, tem a iniciativa de


enquadrar os assuntos de acordo com o seu critério de relevância. É claro que
ele não pode impor mas apenas lançar os termos das questões, já que os
participantes podem sempre reformular esses termos e reenquadrar a
questão em termos mais favoráveis. Mas a iniciativa e a possibilidade de
acusar de fuga ao assunto está nas suas mãos.
Vejamos agora os participantes. De um modo geral, eles estão cientes
do tema ou do assunto em questão que vai estar em debate. Às vezes sabem
de antemão que questões vão ser colocadas, outras vezes não.
A eles cabe-lhes participar no debate, estando em causa:

• respeitar as regras do jogo dos turnos de palavra;


• saber ouvir e falar a partir do que escutou;
• responder às questões e às perguntas com que é confrontado, atendo-se
ao assunto em questão;
• exprimir com clareza e de forma argumentada e persuasiva as suas
posições;
• gerir a situação de confronto, inserindo-se no processo da crítica do
discurso de um pelo discurso do outro e, por conseguinte, lidando
com a necessidade de eventuais concessões e refutações;
• gerir os impactos retórico-comunicativos da situação de argumen-
tação (aspeto muito importante quando estamos, por exemplo,
perante interações mediatizadas).

Destes parâmetros, algumas questões procedimentais decorrem.


A primeira é saber esperar pelo seu turno de palavra.
A segunda é atentar se os termos em que lhe são colocadas as questões
são aceitáveis e se prestam à resposta que se quer dar ou se, pelo contrário,
a questão tem de ser reformulada e reenquadrada. Reparar-se-á que as
frases como «a questão é», ou «o que está em questão», ou, ainda, «o que é
verdadeiramente importante», «o ponto é», são constantes nas interações
argumentativas, pois destas faz parte a luta pelos termos em que as
questões são colocadas.
É que — ponto que deve ser fortemente sublinhado — os termos das
questões são solidários da perspetiva a desenvolver pelo que, para expor
uma perspetiva própria sobre o assunto em questão é preciso ajustar ou ali-
nhar a questão com a resposta que irá ser dada. É a lógica do «se... então»:
dados determinados pressupostos, então o caminho a seguir é este e não
aquele. Neste ponto específico podemos também ver como há uma
articulação indissociável entre argumentação e retórica: o enquadramento
de uma argumentação está sempre articulado com uma estratégica
retórica através da qual se configura a pertinência das questões em jogo.

46 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Feito o devido alinhamento no modo de colocar em questão o assunto,


isto é, tendo-se procedido, ou não, ao seu (re)enquadramento, o parti-
cipante deverá responder apresentando a sua posição. A tecitura da sua
resposta é a tal tematização a que já me referi e esta segue na direção
apontada pela seta do enquadramento, permitindo isso recorrer ao
argumentário de que o participante dispõe e cuja proveniência tanto pode
ser o interdiscurso, ou seja, aquilo que se disse e que habita os discursos
argumentados de opinião que circulam na esfera pública, como as ideias e
argumentos já pensados previamente, por vezes publicados em textos,
revistas ou livros, outras vezes apenas colhidos de conversas com núcleos
mais ou menos alargados de pessoas.
Realce-se também, como anteriormente referido, que a tematização
está antes de mais ligada à chamada inventio, ou seja, à seleção daquilo
que se vai trazer ao discurso. Mas está igualmente ligada aos outros
elementos do cânone retórico, uma vez que será a partir dos «dados» e dos
«considerandos» trazidos ao discurso, e da sua disposição, que o participante
terá de discorrer e de concluir, elucidando sobre a valia da sua perspetiva
e apresentando os argumentos que dão consistência à sua posição. Ou seja,
o participante desenha o assunto, configurando a sua perspetiva e
salientando as conclusões que dela decorrem através da utilização e
aplicação de argumentos (geralmente já elaborados e editados) à situação
específica do debate. Esta aplicação é algo que implica por parte do
participante, quer preparação, quer sentido de oportunidade, sendo que
estes dois aspetos são decisivos para a qualidade das suas intervenções.
Todavia, e uma vez que um debate é um espaço discursivo poligerido,
não basta tematizar o assunto e apresentar a sua posição. É preciso ter
também em conta a situação de confrontação e tematizar o conflito,
retomando os discursos dos oponentes para os criticar, para assinalar
discordâncias ou para de algum modo procurar, senão refutá-los, pelo
menos expor as suas debilidades.
Por fim, o participante num debate tem de gerir os impactos retórico-
-comunicativos do seu desempenho. Por exemplo, quando o debate é media-
tizado pela televisão, o auditório confunde-se com a esfera pública e isso
requer uma consideração específica. Com efeito, a situação de debate em que
ele se encontra não é apenas a de um debate entre algumas pessoas mas a
de um debate que também pode ser escrutinado pelos olhos do público e dos
espectadores. Nesse sentido, o participante terá de ter em atenção a questão
da imagem que está a fomentar no espaço público, sendo que aqui essencial
a aparência de civilidade, para a qual contribuem articuladamente o ethos
o pathos e o logos.

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RUI ALEXANDRE GRÁCIO

4.2. Situações não planificadas de argumentação


Nos debates e situações de argumentação não planificadas assistimos
geralmente a um fenómeno de autorregulação dos turnos de palavra (segundo
uma exigência de paridade) mas é frequente que o foco no assunto em questão
se torne mais laço e mutante, uma vez que não há um propósito previamente
estabelecido para a interação nem, possivelmente, consequências dramáticas
da divergência. Assim, é frequente haver desvios e os participantes podem
mesmo perder o fio condutor relativamente àquilo que deu início ao debate.
De qualquer modo, mesmo aí são patentes as divergências e a retoma e crítica
do discurso de um pelo discurso do outro.

4.3. Alguns tópicos para a análise das interações argumentativas

4.3.1. A importância do discurso argumentado


O ponto de vista da argumentação na interação não coloca pura e sim-
plesmente de lado os discursos argumentados. Embora, como anterior-
mente se disse, eles não constituam, por si, uma situação de argumentação,
eles podem, contudo, vir a despoletar uma: basta, para isso, que surja um
contradiscurso que explicitamente manifeste uma oposição a esse discurso
argumentado e que esse discurso e contradiscurso façam caminho na tema-
tizacão das divergências.
Por outro lado, o discurso argumentado faz parte do interdiscurso e
não pode ser negligenciado quando pensamos nas posições e argumentos
que circulam no espaço público e que tantas vezes são invocados ou mesmo
apropriados pelos argumentadores nos debates.
Por outro lado, ainda, a competência de leitura e de escuta é uma
competência argumentativa fundamental. Saber analisar um discurso
argumentado é essencial para definir posicionamentos quanto a deter-
minadas teses e, simultaneamente, uma oportunidade para se ser crítico
relativamente a elas. Além do mais, sem a exposição à pressão do debate,
podemos desenvolver análises mais minuciosas e com o tempo de reflexão
que as análises e os questionamentos suscitam. Ou seja, podemos estru -
turar melhor as nossas ideias e elaborar um contradiscurso que possa
expor as fragilidades dessas posições. Tudo isso é importante para o
desempenho nas interações argumentativas tal como as caracterizei acima.
Posto isto, dividirei os tópicos a considerar em dois grupos: por um
lado os tópicos que me parecem relevantes na análise do discurso argu-
mentado e, por outro, os tópicos que se afiguram importantes na análise
das interações argumentativas, alertando todavia para o facto destas pro -
postas estarem ainda em desenvolvimento e não serem algo de definitivo
e fechado.

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

4.3.2. Análise do discurso argumentado


No que diz respeito à análise do discurso argumentado é essencial, em
primeiro lugar, perceber qual é, ou quais são, os assuntos em questão. Num
texto de opinião, por exemplo, há que identificar qual é a questão, em termos
gerais, a que o texto dá resposta. Para tal convém formular uma macro-
proposição interrogativa que focalize com rigor a questão abarcante do texto
ou do discurso argumentado. De referir que a focalização do assunto em
questão está intimamente ligada à posição assumida por quem elabora o
discurso argumentado. Na realidade, a posição, perspetiva ou tese defendida
num discurso argumentado é a resposta que nesse discurso é dada ao
assunto em questão. Nesse sentido, em termos analíticos, a identificação do
assunto em questão e a identificação da posição defendida fazem parte de um
mesmo processo. Nunca se deve esquecer, por conseguinte, que uma tese ou
uma posição não é apenas algo que alguém avança em termos assertivos.
Uma tese é, antes de mais, uma resposta (poderíamos dizer também, uma
aposta, uma vez que é um caminho, entre outros passíveis de serem
tomados) a um assunto em questão e não podemos perceber aquela sem
identificar este. No entanto, o assunto em questão e a posição tomada não
esgotam a tecitura do discurso argumentado.
Assim, e em segundo lugar, há que procurar perceber como é que o
assunto em questão foi tematizado, ou seja, saber que caminho ou cami-
nhos foram tomados e que elementos foram chamados ao discurso para o
desenhar tal como ele nos é apresentado. Por exemplo, para além de
classificações, é frequente o uso dos mecanismos designados por Perelman
como procedimentos de ligação e de dissociação. Estes últimos são aliás
particularmente importantes porquanto estabelecem uma alternativa em
torno da qual o autor manifestará a sua posição ao tomar partido por um
dos seus membros em detrimento do outro. Ou seja, a noção de oposição
está implícita na produção de uma dissociação e da sua colocação em termos
alternativos. Este modo de construção textual através de dissociações (uma
coisa é isto, outra é aquilo) não só tende a conferir uma visada argumen-
tativa ao texto como é uma importante chave de leitura da forma como se
processa a tematização. É pois preciso seguir esta filigrana.
Em terceiro lugar, há que identificar os «considerandos» trazidos ao
discurso. Muitos deles aparecem sob a forma de juízos de facto (constatações
impessoais — por exemplo, referências a estatísticas ou a notícias, a
relatórios de organizações credenciadas, evocação de declarações de
especialistas ou de pessoas com notoriedade pública, etc.), juízos de valor
(avaliações — por exemplo, expressões que explicitamente manifestam
preferências) e juízos de ação (propostas de agir — por exemplo, que
convidam a adotar uma determinada atitude, ou praticar uma determinada

Voltar ao índice 49
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

ação). Geralmente os juízos de facto, na medida em que são apresentados


como «objetivos», surgem como premissas ou como pontos em que se vai
escorar uma ilação conclusiva que contribui para perceber a posição adotada.
Podemos ainda dizer que esses «considerandos» contribuem não só para
o enquadramento do assunto em questão como surgem como argumentos
através dos quais se procura fundamentar e dar força à posição tomada.
Esses argumentos podem ser identificados quer recorrendo a tipologias já
elaboradas, quer procedendo à descrição do seu funcionamento e
assinalando a forma como pretendem ter força.
Finalmente, na análise de um discurso argumentado é sempre
importante ver se, e como, é dada voz àqueles que defendem posições
diferentes. Neste sentido é importante ver com o é que eles são tratados.
Além destas tarefas de análise — e pressupondo-as — penso ser
também útil fazer o exercício do contraditório, ou seja, perante um discurso
argumentado, e independentemente de concordarmos ou não com ele,
podemos tentar descobrir como é que esse discurso pode ser alvo de um con-
tradiscurso e, como exercício, elaborar esse contradiscurso. Estou convencido
que um tal exercício se revelará essencial, não só para incrementar as
competências argumentativas do analista como, também, para consolidar a
compreensão do que significa lidar com questões argumentativas.

4.3.3. Análise da interação argumentativa


Antes de apontar alguns tópicos para a análise das interações
argumentativas, lembrarei, com Hample, que «os argumentos são res-
pondidos por outros argumentos e os argumentadores por outros argumen-
tadores» (Hample, 2005: 3). Esta é uma boa citação para nos conduzir à
ideia de interação argumentativa.
Um dos primeiros pontos de análise de uma interação argumentativa
é o de saber se estamos perante uma interação minimamente planificada
ou perante uma interação espontânea.
O aspeto precedente é importante por duas razões principais. Por um
lado, ele liga-se a um outro tópico de análise, ou seja: o assunto está
estabilizado ou está ainda em construção e sofre alterações? Em interações
planificadas, geralmente a delimitação do assunto ou assuntos em questão
está estabilizada, havendo a tendência para não se verificar essa estabilidade
em interações não planificadas. Seja como for, é importante, do ponto de vista
da análise das interações, identificar em qualquer dos casos o, ou os, assuntos
em questão e perceber que transformações se verificam durante o debate.
Podem assim mapear-se as eventuais derivações a que, do assunto em
questão inicial, a interação foi conduzida. Podemos pois averiguar, neste
sentido, se o foco foi mantido, se se transformou ou se se gerou dispersão.

50 Voltar ao índice
A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Por outro lado, a questão de saber se a interação argumentativa foi


planificada ou não é importante para considerar aspetos procedimentais.
Com efeito, quando ela é planificada, encontramos geralmente um conjunto
de procedimentos previamente definidos (regras do jogo, por exemplo,
gestão dos turnos de palavra), bem como um conjunto de formalidades que
moldam a situação de comunicação. Assim acontece, por exemplo, num
debate televisivo, num tribunal, numa assembleia, etc.. Ou seja, há
geralmente procedimentos a seguir e uma arbitragem dos mesmos. Neste
sentido, a interação argumentativa é heterorregulada, ao contrário do que
de passa com as interações espontâneas que, partindo do princípio de uma
certa civilidade no trato, acabam por ser autorreguladas pelos próprios
participantes.
Poderíamos multiplicar os tópicos de análise, mas gostaria agora de
apresentar um texto onde Plantin propõe um conjunto de itens para, do
ponto de vista interacionista, analisar um discurso argumentado ou uma
interação argumentativa:

«Caso se trate de um monólogo que justifica uma posição, pos-


tula-se que essa justificação responde a uma oposição implícita
e que existe em algum lado um contradiscurso e uma
possibilidade de dúvida; daí surgem as perguntas seguintes: que
estatuto concede este monólogo ao contradiscurso e à dúvida sobre
a posição que defende? Por outras palavras, dá voz aos que se
Opõem e aos Terceiros? Como estão presentes em cena? Caso se
trate de uma interação, em que papéis argumentativos intervêm
os atores presentes? Quem é aliado de quem? Como se
manifestam as alianças? Têm os atores possibilidade de mudar
de papel argumentativo? Se sim, será que alguns atores mudam
efetivamente de papel argumentativo? A pergunta está
estabilizada? Sofre transformações durante o debate? Originou
perguntas derivadas? Quais? A finalidade fundamental da in-
teração é o tratamento da questão? Já está formada ou vai-se
formando? Existe um guião sobre esta questão? Está-se a formar
ou já está formado? Qual a natureza do lugar no qual se desenrola
a argumentação? É um lugar argumentativo institucional? Como
funcionam os turnos de palavra? Quais são as funções ins-
titucionais desse lugar? Como se articulam relativamente aos
papéis argumentativos? Por fim, pode considerar-se a constituição
de séries diacrónicas de corpus argumentativos (como e quando
apareceu esta pergunta, como evoluiu e como desapareceu?) ou
sincrónicas (em que lugar se debate a questão? Quais são os
conjuntos de argumentos e como variam segundo os lugares? Que
atores têm a seu cargo os argumentos? Como se articulam em

Voltar ao índice 51
RUI ALEXANDRE GRÁCIO

cada lugar, oralmente ou por escrito?) Todas as tarefas que estas


perguntas sugerem acrescentam-se, evidentemente, aos traba-
lhos clássicos da análise argumentativa, que consistem em
identificar, descrever, classificar e, segundo dizem, avaliar os
argumentos» (PLANTIN, 1999: 47-48).

Sem querer alongar muito os tópicos referidos no texto citado, gostaria


ainda de salientar que nas interações argumentativas há uma reincidência
de intervenções sobre «o que está em questão» e sobre «o que é relevante».
Como dissemos atrás, isso faz parte das estratégias de alinhamento ou enqua-
dramento retórico do discurso e é fundamental ver como é que os participantes
lutam por fazer prevalecer o seu enquadramento dos assuntos em questão.
Há também, com muita frequência, se não a retoma, pelo menos a
referência ao discurso do outro, a qual configura quase sempre uma dinâmica
tensional que é aliás confirmada em momentos em que se dá uma
sobreposição de falas, um aumento do débito verbal e um crescendo no
volume sonoro. Aqui há sobretudo que analisar o jogo entre discursos e con-
tradiscursos e a maneira como cada um, para além de discordar, procura
refutar os argumentos do outro.
Outro dos parâmetros de análise das interações argumentativas é
relativa à civilidade dos participantes e à forma como se tratam mutuamente,
aspeto que se relaciona particularmente com as dimensões do ethos e do
pathos.

5. Uma definição de argumentação do ponto de vista


interacionista
Finalizarei o presente curso com uma breve apresentação da definição
de argumentação a que fui conduzido tendo em conta o foco interacionista
que adotei:

A argumentação é a disciplina crítica de leitura e interação en-


tre as perspetivas inerentes à discursividade e cuja divergência
os argumentadores tematizam em torno de um assunto em
questão.

Alguns aspetos a esclarecer.


Falo em «disciplina» não no sentido de um conjunto de conhecimentos,
mas no sentido das situações de argumentação implicarem disciplina por
parte dos participantes, seja quanto às regras mínimas que possibilitam o
debate, seja quanto à focalização e concentração no assunto em questão, seja,
ainda, quanto à capacidade de coordenação discursiva e contradiscursiva.

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A ARGUMENTAÇÃO NA INTERAÇÃO

Utilizo a palavra «crítica» para designar que a oposição em que se


origina a argumentação leva a ter uma atitude crítica face ao discurso do
outro. Neste sentido, e como já tenho salientado, a argumentação remete
para a crítica do discurso de um pelo discurso do outro.
Refiro depois as noções de «leitura» e de «interação». A primeira aplica-se
quer aos discursos argumentados, quer à interação argumentativa baseada
em turnos de palavra, sendo que neste último caso «ler» significa «saber
escutar». A segunda assinala o caráter tensional dos discursos em oposição e
aponta para a capacidade de falar a partir da escuta do outro e focalizado no
assunto em questão.
Finalmente refiro as palavras «perspetivas», «tematização» e «assunto
em questão». A primeira significa que todo o discurso implica uma forma
de perspetivar (e é nesse sentido que se pode dizer que todo o discurso é
argumentativo) e que é da colisão de perspetivas diferentes que se origina
a argumentação. A segunda refere a forma como as perspetivas se cons-
tituem, ou seja, através da escolha do que é considerado relevante para
abordar o assunto em questão, através da forma de enquadrar. A terceira
significa que o assunto é problemático e que a discussão gravita em torno
de uma questão argumentativa.

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