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B L O C O I N F O R M AT I V O Bloco informativo

I – GRAMÁTICA (Sistematização) MORFOLOGIA

Fonética e fonologia
Processos regulares de formação de palavras *NOTA
Base − é o
Processos fonológicos de inserção O léxico de uma língua é formado por todos os constituintes morfológicos portadores de significado. Dele constituinte
morfológico
fazem parte não apenas as palavras do vocabulário atual mas também as palavras que já não se usam e que contém o
Prótese Adição de uma unidade fónica no início da palavra. SCRIBERE- > escrever significado lexical
todas as que podem ser criadas através de processos regulares (derivação e composição) ou através de (exclui os afixos)
Epêntese Adição de uma unidade fónica no interior da palavra. HUMILE- > humilde e a partir do qual
processos irregulares (ver página 372). se formam novas
Paragoge Adição de uma unidade fónica no fim da palavra. ANTE > antes palavras.

Processos fonológicos de supressão Derivação não afixal


Processo de formação de palavras que gera nomes deverbais, acrescentando marcas
Aférese Queda de uma unidade fónica no início da palavra. alá (port. antigo)> lá
de flexão nominal a um radical verbal.
Síncope Queda de uma unidade fónica no meio da palavra. GENERU- > genro Exs.: troc- troca; troco
Apócope Queda de uma unidade fónica no fim da palavra. AMARE > amar abraç- abraço
(sem junção de afixos)
Processos fonológicos de alteração Conversão
Processo de formação de palavras, também chamado derivação imprópria, que
Alteração de uma unidade fónica por influência de outra, ou seja, duas unidades fónicas consiste na integração de uma dada unidade lexical numa nova classe de palavras por
Assimilação diferentes tornam-se mais semelhantes ou iguais porque uma se aproxima articulatoria- IPSE > esse via sintática, sem que se verifique qualquer alteração formal.
mente da outra.
Exs.: olhar verbo olhar nome
Processo exatamente inverso à assimilação, ou seja, duas unidades iguais ou com
Dissimilação LILIU- > lírio Estás a olhar para mim. Tem um olhar penetrante.
características semelhantes distanciam-se articulatoriamente.
Transformação de uma consoante surda (por exemplo, /p/, /t/, /k/) na sua correspondente Prefixação
Sonorização VITA- > vida
sonora (nestes casos, /b/, /d/, /g/). Consiste na adição de um prefixo a uma base.
Derivação
Tipo de assimilação que acontece quando uma unidade ou sequência ganha uma articulação Exs.: desfazer; macroeconomia; infiel
Palatalização CLAMARE- > chamar
palatal (assim se formam as consoantes palatais do português).
Metátese Troca de posição de unidades mínimas ou sílabas no interior de uma palavra. SEMPER > sempre Sufixação
Consiste na adição de um sufixo a uma base.
Transformação de uma consoante em vogal (depois de outra vogal, esta unidade realiza-se
Vocalização OCTO > oito Exs.: cozinheiro; caçada
como semivogal).
Afixal
Crase Contração de duas vogais numa só. TIBI > tii > ti Processo morfológico que
consiste na associação de Prefixação e sufixação
Contração Transformação em ditongo de uma sequência de duas vogais em hiato, pela
Sinérese LEGE- > lee > lei um afixo a uma forma base* Consiste na adição de um prefixo e de um sufixo a uma base.
semivocalização (transformação em semivogal) de uma delas.
Ex.: in>condicional>mente
Enfraquecimento de uma vogal em posição átona. Na atualidade, no português europeu, esse fenómeno é observável incondicionalmente
Redução
quando comparamos formas como mesa/mesinha, em que uma mesma vogal surge com diferentes timbres, consoante
vocálica
se encontra em sílaba tónica (mesa) ou em sílaba átona (mesinha). Parassíntese
Processo morfológico de formação de palavras que consiste na adição simultânea de
um prefixo e um sufixo a uma base.
Etimologia: étimo e palavras convergentes e divergentes Exs.: a[padrinh]amento; a[podr]ecimento; a[noit]ecer
Segundo o dicionário terminológico (DT online − http://dt.dge.mec.pt), etimologia significa o estudo da origem e evolução
Processo de composição que associa um radical a outro(s) radical(is) ou a uma ou mais
das palavras. Já étimo é definido como palavra da qual deriva, diacronicamente, outra palavra.
Radical + radical palavras. De um modo geral, entre os radicais ou o radical e a palavra associada ocorre
Radical + palavra uma vogal de ligação.
Palavras convergentes Palavras divergentes (morfológica) Exs.: [agr]+ i +[cultura] = agricultura; [lus] + o +[descendente]= luso-descendente;
Palavras que apresentam a mesma forma, embora provenham Palavras que apresentam formas diferentes, apesar de terem o [psic]+ o +[pata] = psicopata
Composição
de étimos diferentes, dando origem a palavras homónimas. São mesmo étimo. São exemplo deste tipo de palavras as seguintes:
exemplo de palavras convergentes: Processo de composição que associa duas ou mais palavras. A estrutura destes
RIDEO (forma verbo rir) solteiro Palavra + palavra compostos depende da relação sintática e semântica entre os seus membros, o que
(morfossintática) tem consequências na forma como são flexionados em número.
rio (verbo ou nome) SOLITARIU-
Exs.: surdo-mudo; guarda-chuva; via láctea; fim de semana; saca-rolhas
RIVU- (= curso de água) solitário

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Flexão verbal CLASSES DE PALAVRAS


O verbo apresenta diferentes formas, que variam em função da pessoa e do número, do modo e do
tempo. Estas formas podem ser simples ou compostas. “Conjunto das palavras que, por partilharem características morfológicas, sintáticas e/ou semânticas
podem ser agrupadas na mesma categoria”
In Dicionário Terminológico
Modo Tempo Exemplificação
Presente saio, sais, sai, saímos, saís, saem Classes Subclasses Características Exemplificação

Pretérito imperfeito saía, saías, saía, saíamos, saíeis, saíam Próprio1: designa Os nomes têm por referentes entidades com 1
José Saramago recebeu o Prémio
uma entidade individualizada, existência real ou imaginária. Apresentam Nobel da Literatura.
Pretérito simples saí, saíste, saiu, saímos, saístes, saíram
única. características semânticas (dado designarem 2
Os poemas de Pessoa são conhecidos
perfeito composto tenho saído, tens saído, tem saído, temos saído, tendes saído, têm saído entidades), morfológicas (porque variam em
Indicativo Comum2: não além-fronteira.
Nome

designa necessariamente número, e alguns em género e grau) e ainda


simples saíra, saíras, saíra, saíramos, saíreis, saíram
3
A multidão assistia à procissão da
Pretérito sintáticas (uma vez que são o núcleo do grupo
um referente único. Quaresma.
mais-que- tinha saído, tinhas saído, tinha saído, tínhamos saído, tínheis saído, nominal, podendo ser antecedidos
-perfeito composto Coletivo : designa, no
3
de determinantes ou de quantificadores).
tinham saído
singular, um conjunto de seres
Futuro sairei, sairás, sairá, sairemos, saireis, sairão ou entidades do mesmo tipo.

Presente saia, saias, saia, saiamos, saiais, saiam Exprimem ordem ou sucessão, ocupam • Mensagem foi a primeira obra de
Formas geralmente uma posição pré-nominal, Pessoa que li.
finitas Pretérito imperfeito saísse, saísses, saísse, saíssemos, saísseis, saíssem
Numeral podendo ser antecedidos por determinantes.
tenha saído, tenhas saído, tenha saído, tenhamos saído, tenhais saído, Correspondem à classe tradicional dos
Pretérito perfeito composto
tenham saído numerais ordinais.
Adjetivo

Conjuntivo Pretérito mais-que-perfeito tivesse saído, tivesses saído, tivesse saído, tivéssemos saído, tivésseis saído,
composto tivessem saído Exprimem uma qualidade ou propriedade • As rosas vermelhas são o símbolo do
do nome. Ocupam, geralmente, posição amor.
simples sair, saíres, sair, sairmos, sairdes, saírem pós-nominal, embora alguns ocorram quer • Manuel da Fonseca foi um grande
Futuro tiver saído, tiveres saído, tiver saído, tivermos saído, tiverdes saído, tiverem Qualificativo à esquerda quer à direita, originando, todavia, contista.
composto valores semânticos diferentes. Variam em
saído • Os avós de Saramago viviam numa
número e alguns em grau; quando biformes,
simples sairia, sairias, sairia, sairíamos, sairíeis, sairiam casa pequena.
variam em género.
Condicional
composto teria saído, terias saído teria saído, teríamos saído, teríeis saído, teriam saído
Advérbios que contribuem com informação 1
José Saramago dedicou-se mais à
Imperativo Presente sai, saí sobre grau ou quantidade. Podem ocorrer prosa.
internamente ao predicado1, ou como 2
Qualquer escritor é muito dedicado à
simples sair, saíres, sair, sairmos, sairdes, saírem Quantidade e grau modificador de grupos adjetivais2 ou
Pessoal sua obra
adverbiais3. Alguns destes advérbios são
composto ter saído, teres saído, ter saído, termos saído, terdes saído, terem saído 3
Fernando Pessoa deambulava muito
Infinitivo utilizados para a formação do grau dos
calmamente pelas ruas.
simples sair adjetivos e advérbios.
Formas Impessoal
não composto ter saído Advérbio que contribui para reverter • Ricardo Reis, na verdade, não existiu.
finitas Negação o valor de verdade de uma frase afirmativa ou
Valores semânticos

simples saindo
Gerúndio para negar um constituinte.
Advérbio

composto tendo saído


Advérbios que se utilizam em resposta a 1
− Tencionam ir à visita de estudo? / −
Particípio saído interrogativas globais1 ou como modificador de Certamente.
Afirmação
um constituinte2, contribuindo para asserir ou 2
Lemos a obra, sim, e gostámos muito.
reforçar o valor afirmativo de um enunciado.
• Quanto à flexão, os verbos podem ser regulares – quando mantêm a forma do radical e os sufixos
típicos de flexão em toda a conjugação (exs.: canto / cantarei / cantasse) – ou irregulares – quando Advérbios que modificam, incluindo • Participaram todos na representação,
Inclusão
apresentam variação da forma do radical e/ou dos sufixos de flexão (exs.: faço / fazia / fiz). o constituinte num conjunto. até o João que é tímido.

• Um verbo defetivo é aquele que não apresenta todas as formais flexionadas possíveis. Os verbos de- Advérbios que permitem realçar o constituinte 1
Fernando Pessoa só ganhou um
que modificam, excluindo-o de um conjunto1. prémio literário.
fetivos podem ser: impessoais, se apresentam apenas formas no infinitivo e na 3.a pessoa do singular Podem modificar cada um dos grupos
Exclusão 2
Apenas um conto de Manuel da
(exs.: chover, trovejar, haver, quando significa 'existir') e unipessoais, se apresentam apenas formas no constituintes de uma frase2. Fonseca faz parte do Programa de
infinitivo e na 3.a pessoa do singular e do plural (exs.: cacarejar, chilrear, ladrar,miar, zurrar, ...). 12.˚ ano.

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Classes Subclasses Características Exemplificação Classes Subclasses Características Exemplificação

Advérbios que evidenciam uma ideia • Talvez Mário de Carvalho possa vir à nossa escola. Antepõem-se ao nome, contribuindo para a sua • A obra de que mais gosto é
Dúvida
de incerteza, indecisão ou hesitação. leitura genérica ou indefinida. Memorial do Convento.
Artigo O artigo indefinido nunca antecede um nome • Um texto interessante
Advérbios que remetem para a indicação • Eis o escritor que convidámos. • Definido: próprio nem coocorre com os quantificadores desperta a nossa atenção.
Designação
de algo ou alguém. o, a, os, as todos e ambos.
• Indefinido: Os artigos definidos e indefinidos surgem, muitas
Advérbios que habitualmente, podem ser 1
Os trabalhadores do convento viviam mal. vezes, contraídos com as preposições a, de, em e
Valores semânticos

um, uma, uns, umas


modificadores de predicado1, da frase2 ou, por: ao (a+o), à (a+a), da (de+a), num (em+um),
2
Felizmente, Blimunda recolheu a vontade de Baltasar.
(continuação)
Advérbio

Modo ocasionalmente, predicativos do sujeito3. pela (por+a).


3
Depois de reencontrar o seu passado, George não
ficou bem.
Variam em género e número, têm valor deítico • Esta personagem revela
Demonstrativo ou anafórico, contribuindo para a construção da poderes extraordinários.
Advérbios que geralmente são modificadores. • Amanhã tenho de fazer o trabalho sobre O ano da este(s), esta(s), esse(s), essa(s), referência do nome que os precede tendo em
Tempo • Aquele aluno leu a obra de
Morte de Ricardo Reis. aquele(s), aquela(s) conta a sua relação de proximidade ou distância. Pessoa em dois dias.

Advérbios que podem ser complementos 1


José Saramago morou lá, em Lanzarote.
Determinante

oblíquos1, predicativos do sujeito2 Possessivo Variam em pessoa, género e número 1


Os nossos resultados no teste
2
Esta tarde ficamos aqui para visitar a Casa de Pessoa.
Lugar ou modificadores3. meu(s), minha(s); e em contextos definidos. sobre Caeiro foram bons.
3
Saramago discursou lá quando recebeu o Prémio teu(s), tua(s); seu(s), sua(s); São geralmente precedidos por um
Nobel.
2
Estas minhas preferências por
nosso(s), nossa(s); vosso(s), artigo definido1 ou por um determinante poesia são inexplicáveis!
vossa(s) demonstrativo2.
Advérbios que identificam o constituinte • Quando começaste a ler a obra?
interrogado numa construção interrogativa • Porquê analisar tantos poemas? Variam em género e número e são utilizados em • Certos estudantes leem muitos
(direta ou indireta), sendo substituíveis por Indefinido
Interrogativo • Diga-nos porque lemos tantas obras. contextos em que se assume que o referente romances, outros só leem
grupos adverbiais ou preposicionais. certo(s), certa(s),
do nome que precedem não corresponde a contos.
• Diz-me onde compraste o livro de Maria Judite de outro(s), outra(s)
informação específica ou identificada.
Carvalho.

Advérbios que estabelecem nexos entre frases1 1


Lemos a poesia do ortónimo e depois a dos Variam em género e número e estabelecem a • As obras, cuja ação se baseia
Relativo
ou constituintes da frase, nomeadamente heterónimos. ligação entre o nome seu antecedente e a oração em factos verídicos, são as
cujo, cuja, cujos, cujas
relações de consequência2, de contraste3 relativa que introduz. minhas preferidas.
2
Analisámos muitos textos, portanto estamos
ou de ordenação4. preparados para o teste.
Precedem um nome em construções • Que livro de Mário de Carvalho
Advérbio

Distinguem-se de conjunções com valor


Funções

3
Gosto de ler romances, contudo prefiro obras menos interrogativas, permitindo a identificação do leste?
Conectivo idêntico por poderem, por exemplo, ocorrer Interrogativo
extensas. constituinte interrogado.
entre o sujeito e o predicado5. que, qual, quais • Quais poemas são para leitura
4
Primeiro viram o documentário, seguidamente de férias?
responderam às questões.
5
Fizemos um trabalho sobre o conto. A professora, Pessoal Variam em pessoa e número, e alguns variam em • Eles encontraram-se ontem.
porém, ainda não o avaliou. género.
• Formas tónicas: eu, tu, você, ele/ • Perguntaram-nos se lhes
As formas átonas ocorrem adjacentes ao verbo indicávamos o caminho.
Advérbio que introduz uma oração subordinada 1
A obra onde interagem Ricardo Reis e Fernando ela, nós, vós, vocês, eles/elas; mim,
(à esquerda do verbo − em próclise −, à direita
relativa, permitindo identificar uma relação Pessoa chama-se O ano da morte de Ricardo Reis. ti, si • Ganha-se muito ao ler bons
− em ênclise −, ou ainda no interior das formas
com o nome antecedente (no caso das orações • Formas átonas: me, te, o, a, lhe, de futuro do indicativo e condicional − em livros.
Relativo 2
A maneira como Saramago cativa os leitores é
subordinadas adjetivas relativas1-2). Introduz inovadora. nos, vos, os, as, lhes, se mesóclise); as restantes são formas tónicas.
também orações relativas sem antecedente
(orações subordinadas substantivas relativas3).
3
Vou onde houver declamação de poemas.
Demonstrativo Variam em género e número e têm um valor 1
Estas linhas de leitura da obra
Pronome

• Formas tónicas variáveis1: deítico ou anafórico. Estabelecem a sua são mais interessantes do que
este(s), esta(s) referência tendo em conta a relação de aquelas.
Valores semânticos Exemplos esse(s), essa(s) proximidade ou de distância em relação a um 2
Aquilo que me disseste sobre a
aquele(s), aquela(s) participante do discurso ou a um antecedente obra foi importante.
• locativo • à esquerda, de fora, de longe, em cima, ... textual.
• Formas tónicas invariáveis2: 3
Percebeu a intenção do autor e
Locução adverbial • temporal • à noitinha, desde cedo, por agora… isto, isso, aquilo demonstrou-a.
São constituídas por duas ou mais palavras • modo • de bom grado, por acaso, à pressa, … • Formas átonas3: o(s), a(s) 4
Revelou que tinha gostado da
e têm comportamento e classificação igual • negação • de modo algum, de maneira nenhuma, … obra de Reis/ Revelou-o.
à de um advérbio. • Forma átona invariável4:
• quantidade e grau • no mínimo, de mais, tão pouco, … o (usada na substituição
de facto, na verdade, sem dúvida, … de constituintes oracionais)

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Classes Subclasses Características Exemplificação Classes Subclasses Características Exemplificação

Possessivo Variam em pessoa, género e número • Gostei muito do teu texto. Gostaste do meu?

Quantificador
Expressam uma quantidade numérica • O Pedro comprou duas mochilas azuis.
• Um possuidor: e têm um valor deítico ou anafórico, • A professora reviu os nossos trabalhos. E os inteira precisa, um múltiplo de uma • Ainda só li um terço das obras do Programa
meu, minha, meus, minhas referindo-se, tipicamente, a um vossos? Numeral quantidade ou uma fração precisa de do 12.˚ ano.
teu, tua, teus, tuas participante do discurso
uma quantidade.
seu, sua, seus, suas ou a um antecedente tomado como • Já li metade da “Ode triunfal”.
dele, dela possuidor, respetivamente.
São geralmente precedidos de artigo
• Vários possuidores: definido. Ligam elementos com igual valor • A Maria e a Joana gostam de poesia e o Pedro
nosso, nossa, nossos, nossas sintático, sejam palavras ou grupos gosta de prosa.
vosso, vossa, vossos, vossas Conjunções coordenativas de palavras numa só oração, sejam • Finalizámos o trabalho, mas já depois do
• copulativas: e, nem orações diferentes, mas equivalentes prazo estipulado.
Indefinido Alguns admitem variação em género • Ninguém chegou tarde ao teste. sintaticamente e independentes
(continuação)

• adversativas: mas
Pronome

• Formas invariáveis1-3: e número, quando correspondentes • Todos gostaram da obra de Manuel da umas das outras. • Escreves um texto de opinião ou defendes
alguém, ninguém, tudo, nada, ao uso pronominal de um Fonseca. • disjuntivas: ou essa a ideia oralmente?
algo, outrem quantificador ou de um determinante
• conclusivas: logo • Não ouvi a orientação, logo tive dificuldades
indefinido. Referem uma terceira
• Formas variáveis4-5: na realização da tarefa.
pessoa ou uma quantidade • explicativas: pois, que
algum(a), alguns, algumas, indeterminadas. • Acho que o teste correu bem ao Pedro, pois
nenhum(a), nenhuns, nenhumas, estava feliz.
outro(a)(s), muito(a)(s),
pouco(a)(s), todo(a)(s), vário(a)
(s), tanto(a)(s) Introduzem orações subordinadas 1
Afirmaram que tinham estudado. / Perguntou
Conjunção

Conjunções subordinativas que desempenham uma função se havia TPC. / Pediu para sair mais cedo.
Relativo Ocorrem no início das orações • Está é a pessoa à qual Saramago dedicou a sintática relativamente à 2
Como gostaram da obra, os resultados foram
− Substantivas completivas : 1
subordinante.
• Variáveis: o qual, os quais, a qual, relativas. Podem remeter para obra.
que, se, para bons.
as quais um constituinte anterior, quando • Indico-te quem me falou do Livro do − Adverbiais: 3
Encarnou a figura de Pessoa tão bem como se
• Invariáveis: (o) que, quem possuem antecedente. Desassossego. • causais2: porque, como fosse um ator.
• comparativas3: como,
Dividem-se em várias subclasses, 1
O padre Bartolomeu morreu! conforme
4
Embora goste de prosa, a poesia dá-me um
de acordo com as suas restrições • concessivas4: embora, encanto especial.
2
Blimunda, no fim da narração, encontrou
de seleção. Baltasar./Blimunda, no fim da narração, malgrado 5
Se me preparar bem, obterei êxito na
Intransitivo1 • condicionais5: se, caso apresentação oral.
encontrou-o.
Transitivo direto2 • consecutivas6: que 6
Estudei tanto que era impossível ter má nota.
3
O diretor de turma telefonou ao meu pai. / O
Transitivo indireto3-4 (antecedido de tão, tanto…)
diretor de turma telefonou-lhe.
principal

• finais7: para
7
Li todos os contos de Manuel da Fonseca para
Transitivo direto e indireto 5-6 4
Fernando pessoa viveu em Lisboa. • temporais8: apenas, conhecer melhor a escrita deste autor.
Transitivo-predicativo7 5
Ricardo Reis escreveu uma carta a Marcenda. enquanto, quando, mal 8
Quando terminaram a tarefa, comunicaram-
(achar, considerar, julgar, nomear, / Ricardo Reis escreveu-lhe uma carta. no ao professor.
eleger, declarar, chamar, supor, ter 6
Fernando Pessoa colocou o casaco no quarto
por, tratar por)
de Reis./ Fernando Pessoa colocou-o no
quarto de Reis. São constituídas por duas ou mais palavras cujo valor semântico se associa ao das conjunções coordenativas
Verbo

7
Lídia tratou Ricardo Reis por “meu amor” ou subordinativas.
copulativo

Ocorre numa frase em que existe um • Os alunos permanecem atentos.


• copulativas: não só… mas/como também; nem… nem; tanto… como
Locuções conjuncionais

(ser, estar, ficar, continuar, parecer, constituinte com a função sintática • O João tornou-se um leitor exímio. Coordenativas
permanecer, tornar-se, revelar-se, ...) de sujeito e outro com a função • disjuntivas: ou… ou; já… já; ora… ora
sintática de predicativo do sujeito.
• causais: visto que; dado que; uma vez que; atendendo a que; dado que
Os verbos auxiliares são usados 1
Ele tem lido todas as obras indicadas pelo
na formação de tempos compostos1 professor. • comparativas: bem como; assim como; tal… qual; tão/tanto… como; mais… (do) que
(ter/haver), em construções passivas2 2
O Memorial do Convento foi lido por todos os • concessivas: se bem que; ainda que; nem que; não obstante
(ser), podendo, ainda, contribuir
auxiliar

alunos desta turma. Subordinativas • condicionais: salvo se; desde que; sem que; exceto se; contanto que; a não ser que
(ser, ter, haver, estar, dever, poder) para veicular valores modais3 (dever,
poder)
3
Todos os alunos devem ler o Memorial do • consecutivas: de modo que; de maneira que; de forma que
ou aspetuais4 (estar). Convento.
• finais: para que; a fim de/que; com a finalidade de
4
A aluna está a ler uma das obras de
Saramago. • temporais: antes de/que; logo que; agora que; cada vez que; até que; assim que

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Classe Características Exemplificação


SINTAXE

Palavra invariável que exige sempre ser complementada por: 1


Os alunos foram para onde
uma oração1, um grupo nominal2, um grupo adverbial3. o professor indicou.
Funções sintáticas
2
Com vontade de vencer,
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, Funções sintáticas ao nível da frase
Preposição perante, por, segundo, sem, sob, sobre, trás as barreiras ultrapassam-se.
3
Só sei que não vou por ali. Sujeito
Nota: as preposições a, de, por e em podem ocorrer contraídas
com artigos (definidos e indefinidos), determinantes e pronomes
Função sintática desempenhada pelo constituinte da frase que controla a concordância verbal. Pode ser (1) um
demonstrativos, advérbios, …
grupo nominal, substituível pelos pronomes pessoais eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas, ou (2) um constituinte
oracional. Encontra-se, por norma, em posição pré-verbal.
São formadas tipicamente por um advérbio ou um nome seguido de uma preposição ou por um advérbio no meio
Locuções de duas preposições.
prepositivas Sujeito com realização lexical. Pode ser: Sujeito sem realização lexical. Pode ser:
Exs.: apesar de, junto a, além de, em redor de, perto de, defronte a/de, por causa de, em vez de, antes de, para com, …
• Simples • Subentendido
Exs.: Manuel da Fonseca é um contista exímio. Ex.: Fez uma apresentação oral sobre a obra
(grupo nominal) Saramaguiana.
Classe Quem ler Saramago ficará fascinado. (depreende-se da forma verbal – Ele)
Valores semânticos (oração) • Indeterminado
Interjeição Locuções interjetivas Ex.: Lê-se muito a prosa do século XX.
• Composto
(alguém lê)
oh!; ah!; eia! que bom! muito bem! Alegria Exs.: Maria Judite de Carvalho e Mário de
Carvalho não são irmãos. (coord. de grupos nominais)
eia!; vamos!; coragem!; upa! vamos lá! toca a andar! Incitamento/encorajamento Quem visitou o Convento de Mafra e quem
leu Memorial do convento ficou a conhecer
bravo!; viva!; boa!; apoiado!; fixe!; bis!; eia! muito bem! é assim mesmo Aplauso melhor o reinado de D. João V. (duas ou mais orações)

ai!; ui!; Jesus!; credo! valha-nos Deus! ai Jesus! ai que aflição! Aflição, dor, tristeza, terror Vocativo

atenção!; cuidado!; oh! Advertência ou repreensão Função sintática desempenhada por um constituinte que não controla a concordância verbal e que serve apenas
para interpelar ou chamar o interlocutor, em posição inicial, medial ou final, surgindo em frases de tipo imperativo1,
ó!; pst; olá!; eh!; socorro! ó da guarda! ó senhor! Chamamento, invocação interrogativo2 ou exclamativo3.

oh!; oxalá!; tomara! quem me dera! Deus queira! se Deus quiser! Desejo Exs.: 1 Meninos, abram os livros.
2
Achas, João, que consegues responder?
hum! Dúvida 3
Pode preparar-se para a procissão, Majestade?
ah!; oh!; hi!; ena!; caramba!; diabo!; credo!;
essa é boa! não é possível! não acredito! essa agora! Espanto ou surpresa
chi!; puxa!; bolas! Predicado

Impaciência, irritação Função sintática desempenhada por um grupo verbal. Pode corresponder só ao verbo ou ao verbo com os seus
bolas!; irra!; fogo!; arre!; mau! ora bolas!; raios partam; mau, mau!
ou aborrecimento respetivos complementos e/ou predicativos requeridos, e ainda os modificadores (do grupo verbal). Assim temos:
• Predicado — só com verbo ou grupo verbal (por norma, quando o verbo é intransitivo)
irra!; homessa!; apre!; ora! ora essa! nem pensar! Indignação
Ex.: A cidade adormecera.
chega!; basta!; alto! Interrupção ou suspensão • Predicado — verbo + complementos e/ou predicativos e modificadores
Ex.: Ricardo reis deambulou pela cidade.
silêncio!; caluda!; fora!; rua!; alto!; chega! fora daqui!; toca a andar!; em frente! Ordem

paciência!; pronto! que remédio!; é a vida!; deixa lá! Resignação Modificador (de frase)

Função sintática desempenhada por um constituinte de uso facultativo, não selecionado por nenhum dos seus
olá!; adeus! ora viva! boa noite! bem haja! bons olhos o vejam! Saudação
elementos. Acrescenta um juízo de valor sobre o conteúdo da frase/oração e pode ser eliminado sem que a frase se
psiu!; silêncio!; caluda! toca a calar! Silêncio torne agramatical. Pode ser desempenhada por um grupo adverbial1, por um grupo preposicional2 ou uma oração
subordinada3.
Nota: A interjeição não estabelece relações sintáticas com outras palavras e tem uma função exclusivamente emotiva. Exs.: 1 Infelizmente, nem todos leram a poesia de Pessoa.
O valor de cada interjeição depende do contexto de enunciação e corresponde a uma atitude do falante ou do enunciador. 2
Com convicção, a professora expõe as matérias.
3
Ainda que os contos sejam textos breves, transmitem uma forte carga emotiva aos leitores.

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Bloco informativo Bloco informativo

Funções sintáticas internas ao grupo verbal Funções sintáticas internas ao grupo nominal

Complemento direto Complemento do nome

Função sintática selecionada por verbos transitivos diretos, transitivos diretos e indiretos ou transitivos-predicativos, Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um nome e que lhe completa a referência.
sendo exercida por grupos nominais (GN) ou constituintes oracionais. Os GN que exercem esta função são prono- Corresponde geralmente a um grupo preposicional, a uma oração introduzida por uma preposição ou a um grupo
minalizáveis pelos pronomes pessoais o, a, os, as, e os constituintes oracionais são substituíveis pelos pronomes adjetival. Requerem complemento:
demonstrativos invariáveis isto, isso, aquilo.
• nomes de graus de parentesco1
Exs.: Os alunos preferem textos em prosa. Os alunos preferem-nos.
• nomes de profissões que derivam de outros nomes2 (guia, condutor, …)
Saramago demonstrou que os autos de fé eram inaceitáveis. . Saramago demonstrou isso.
• nomes icónicos3 (gravura, fotografia, …)
Complemento indireto • nomes epistémicos4 (hipótese, desejo, …)
• nomes que derivam de verbos5, por norma, transitivos (construção, pesca, …)
Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte sin-
tático que exerce a função de complemento indireto é introduzido pela preposição a e pronominalizável pelos • nomes que designam cargos6 (presidente, ministro, cônsul, …)
pronomes lhe, lhes. • numerais fracionários e multiplicativos7 (dobro, terço, …)
Ex.: Blimunda agradeceu a padre Bartolomeu. Blimunda agradeceu-lhe.
Exs.: 1 O pai de Marcenda vivia em Coimbra.
Complemento oblíquo 2
O guia de Baltasar era o padre Bartolomeu.
Função sintática selecionada por um verbo transitivo indireto, ou transitivo direto e indireto. O constituinte sintático 3
A deambulação de vários poetas permitiu traçar um retrato de Lisboa.
que exerce a função de complemento oblíquo é introduzido, maioritariamente, por uma preposição. Pode assumir 4
A hipótese de se encontrar com Fernando Pessoa agradava a Ricardo Reis.
um valor locativo1, de movimento2, de duração3, de necessidade ou de carência4. 5
A construção do convento de Mafra deveu-se a uma promessa de D. João V.
Exs.: 1 Saramago viveu em Lisboa e em Lanzarote. 6
O ministro da educação avaliou o conteúdo do Programa de Português.
2
O interesse pela obra de Pessoa levou-o à África do Sul. 7
O Memorial do convento requer o dobro do tempo da leitura de “George”.
3
A procura de Blimunda por Baltasar prolongou-se por nove anos.
4
Os poetas precisam de inspiração.
Modificador do nome

Complemento agente da passiva Constituinte do grupo nominal que lhe modifica o sentido, apesar de não ser por ele selecionado. Pode ser:
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo direto conjugado • Modificador do nome restritivo: restringe/limita a referência do nome que modifica. Pode configurar-se num
na passiva, tendo como auxiliar o verbo ser. grupo adjetival1, preposicional2, numa oração adjetiva relativa3, numa oração subordinada final4.
Ex.: Reis, Campos e Caeiro foram criados por Fernando Pessoa. Exs.: 1 A prosa contemporânea é muito interessante.
2
A obra de Fernando Pessoa requer ainda muita investigação.
Predicativo do sujeito 3
A análise que alguns críticos fazem de “Autopsicografia” é brilhante.
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo copulativo que atribui uma propriedade
4
Os livros sugeridos para lermos em projeto de leitura são muito interessantes.
ao sujeito.
• Modificador do nome apositivo: não restringe nem limita a referência do nome que modifica. É obrigatoria-
Exs.: Alguns alunos ficaram apaixonados pela poesia de Caeiro. mente delimitado por vírgula(s), e pode estar configurado num grupo nominal1, adjetival2 ou preposicional3,
A obra de Manuel da Fonseca é aliciante. mas também numa oração adjetiva relativa explicativa4.
Exs.: 1 Alberto Caeiro, o poeta da natureza, não seguia correntes literárias.
Predicativo do complemento direto
2
Alguns textos, claros e objetivos, elucidam sobre o simbolismo de Mensagem.
3
Os estudantes, com ideais progressistas, gostam muito da obra de Saramago.
Função sintática desempenhada por um constituinte selecionado por um verbo transitivo-predicativo que atribui uma
propriedade ao complemento direto.
4
A obra de Maria Judite de Carvalho, que me fascinou, tem sido pouco divulgada.

Ex.: D. João V considerava a sua obra deslumbrante.


Função sintática interna ao grupo adjetival
Modificador (do grupo verbal)
Complemento do adjetivo
Função sintática desempenhada por um constituinte do grupo verbal e que pode ser eliminado sem que a frase
se torne agramatical. A função de modificador (do grupo verbal) pode ser desempenhada por uma oração Função sintática exercida por um constituinte selecionado por um adjetivo e que ocorre normalmente à direita
subordinada1, por um grupo preposicional2 ou por um grupo adverbial3. desse adjetivo, sendo composto, normalmente, por um grupo preposicional1, mas também por um grupo oracional2.
Exs.: 1 Quando chegou a Lisboa, Ricardo Reis instalou-se um hotel.
2 Exs.: 1 Saramago estava convicto da irracionalidade dos atos de alguns homens.
Blimunda procurou Baltasar com mágoa.
3
Lídia olhava Ricardo Reis comovidamente.
2
Os alunos estão ansiosos por visitar a Casa Fernando Pessoa.

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Frase complexa – coordenação e subordinação Subordinação


A frase complexa é aquela que apresenta mais do que um verbo principal ou copulativo, ou seja, trata- Processo de combinação de duas ou mais orações em que uma delas, a subordinada, está sintaticamen-
se de uma frase com mais do que uma oração, podendo obter-se pelo recurso à coordenação e/ou à te dependente de outra, a subordinante. As orações ubordinadas classificam-se como substantivas,
subordinação. adjetivas ou adverbiais.

Coordenação
Orações subordinadas substantivas
Processo de combinação de duas ou mais frases equivalentes. Por isso, a oração coordenada está con-
tida numa frase complexa, não mantendo uma relação de subordinação sintática com a(s) frase(s) ou Oração subordinada Elementos
Exemplificação
oração(ões) com que se combina. Distingue-se, tipicamente, das orações subordinadas por não poder substantiva de ligação
ser anteposta. As orações coordenadas podem ser:
Completa o sentido de

• Assindéticas a. outra oração


Completiva • Penso que o romance Memorial do convento é um dos melhores
Orações coordenadas justapostas, sem recurso a conjunções ou locuções conjuncionais. Podem desempenhar as de Saramago.
funções sintáticas de • conjunções
• O João disse para analisarmos melhor o poema.
Ex.: Fernando Pessoa foi empregado de escritório, escreveu uma vasta obra sob diversas identi- sujeito, de complemento subordinativas
de um verbo, de completivas: • Perguntei-lhe se já tinha lido a obra.
dades, traduziu textos de autores estrangeiros, fundou revistas que se destacaram na lite-
complemento de um nome que, se, para
ratura portuguesa. b. um nome
ou de complemento de um
adjetivo. • George tinha a certeza de que não queria voltar à sua terra natal.
• Sindéticas
c. um adjetivo
Orações coordenadas ligadas por conjunções ou por locuções conjuncionais. • Bartolomeu estava convicto de que conseguiria voar.

Ex.: Fernando Pessoa foi empregado de escritório e escreveu não só uma vasta obra sob diver-
sas identidades como também traduziu textos de autores estrangeiros e fundou revistas Relativa
Podem desempenhar as
que se destacaram na literatura portuguesa. funções sintáticas de sujeito, • pronomes • Quem leu o Memorial do convento ficou mais informado sobre
de complemento direto, relativos: o séc. XVIII.
Estas orações estabelecem, entre si, relações semânticas expressas pelas conjunções ou locuções coor- de complemento indireto, quem, (o) que
• No final, o Batola não era quem a sua mulher conhecera.
denativas que as unem, tal como se sistematiza na tabela seguinte. de complemento oblíquo, • advérbio relativo:
de predicativo do sujeito e onde • A multidão ia onde passasse a procissão.
de modificador (do grupo
Oração Conjunções/locuções verbal).
Sentido Exemplificação
Coordenada conjuncionais coordenativas

e, nem, nem… nem,


não só… mas também, • Lemos a obra de Saramago e, posteriormente,
Copulativa Adição
não só… como (também), participámos numa visita de estudo a Mafra. Orações subordinadas adjetivas
tanto… como
Oração subordinada adjetiva Elementos de ligação Sentido/Exemplificação
Oposição, • Blimunda não encontrava Baltasar, mas não deixou de o
Adversativa mas
contraste procurar.
Introduzida por um relativo que retoma um antecedente. Fornece
• pronomes relativos: informação adicional sobre o constituinte que modifica.
ou, ou… ou, Alternativa,
• Fazes a síntese do conto ou analisas um fragmento do Relativa explicativa que, quem (invariáveis),
Disjuntiva outra • Ricardo Reis, que não é o único heterónimo de Pessoa, era
ora… ora Livro do desassossego? o qual (variável em género
possibilidade monárquico.
e número)
Nota: estas orações são sempre separadas por vírgulas.
• Já visitei o Alentejo, logo já percebo melhor a obra de • determinante relativo:
Conclusiva logo Conclusão
Manuel da Fonseca. cujo (variável em género
Introduzida por um relativo que retoma um antecedente. Restringe
e número)
a referência do constituinte que modifica.
• Compra um livro de Mário de Carvalho, pois é um autor Relativa restritiva
Justificação, muito conceituado. • advérbio relativo: onde • Analisamos todos poemas de Fernando Pessoa que foram
Explicativa pois, que indicados pela professora.
explicação • Compra um livro de Mário de Carvalho que é um autor
muito conceituado.

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Orações subordinadas adverbiais Pronome pessoal em adjacência verbal − regras de utilização


Orações que desempenham a função sintática de modificador e que devem ser destacadas por vírgu- As formas átonas (tais como o, a, os, as, nos, vos, lhe, lhes) ocorrem em adjacência verbal, ou seja, junto
la(s) quando antecedem a subordinante ou quando surgem intercaladas. ao verbo, desempenhando a função de complemento direto ou de complemento indireto.

Oração
Conjunções ou locuções
subordinada Sentido Exemplificação Colocação do pronome pessoal átono
conjuncionais subordinativas
adverbial
• Saramago tornou-se 1. Tradicionalmente, o pronome surge em posição pós-verbal (ênclise).
mundialmente conhecido
porque, que, como, dado, Indica a razão, a causa, o motivo ou porque recebeu o Nobel. Ex.: O aluno leu todas as obras recomendadas. O aluno leu-as.
Causal dado que, uma vez que, visto que, a justificação da situação expressa
pois, já que, ... na subordinante. • Como recebeu o Nobel,
Saramago tornou-se • Nesta posição, os pronomes átonos o, a, os, as podem sofrer alterações, se a forma verbal termi-
mundialmente conhecido. nar em -r, -s ou -z. Neste caso, estas consoantes desaparecem e os pronomes tomam as formas
Expressa uma comparação, contendo -lo(s), -la(s).
o segundo elemento da comparação • Saramago tanto elogiou o
mais/menos… do que, qual (depois estabelecida com o conteúdo Ex.: Aquele jovem fez o trabalho sozinho. Aquele jovem fê-lo sozinho.
povo pela construção epopeica
de “tal”), quanto (depois de da subordinante.
Comparativa do convento como criticou
“tanto”), tanto/tão… como, bem
As subordinadas comparativas podem o rei pelo seu despesismo e • Se a forma verbal terminar em -ns, passa a -m, quando seguida de pronome átono o, a, os, as, e os
como, como se, que nem, ...
corresponder a construções elípticas, arrogância.
pronomes tomam as formas -lo(s), -la(s).
nas quais o grupo verbal é elidido.
• Ainda que a construção Ex.: Tu tens o meu livro. Tu tem-lo.
embora, conquanto que, ainda que, Apresenta uma ideia ou um facto
do convento fosse muito
Concessiva mesmo que/se, posto que, que contrasta com o expresso na
dispendiosa, D. João V não • Quando a forma verbal termina em ditongo nasal (-m, -õe, -ão), os mesmos pronomes assumem
se bem que, por mais/menos que, ... subordinante.
abandonou a sua edificação.
as formas -no(s), -na(s).
Apresenta a condição ou a hipótese • Caso não tivesse regressado
se, caso, desde que, contanto que, Exs.: Os alunos leem os livros recomendados. Os alunos leem-nos.
Condicional exigida para a realização da situação do Brasil, Ricardo Reis nunca se
salvo se, a menos que, a não ser que, ...
expressa na subordinante. encontraria com o seu criador. A Rita põe o dever acima de tudo. A Rita põe-no acima de tudo.
• A criação literária de Fernando
tão/tanto… que, a ponto de, Expressa o efeito ou a consequência Pessoa foi tão intensa que 2. Quando ocorrem com formas verbais do futuro do indicativo e do condicional, os pronomes átonos
Consecutiva
de tal modo… que, ... do que é dito na subordinante. ainda hoje surgem textos são colocados no interior dessa forma verbal (mesóclise).
inéditos deste autor.
Exs.: O Miguel apresentará o seu trabalho no segundo período. O Miguel apresentá-lo-á no
para, para que, com a finalidade/
Refere o propósito, a intenção ou • Ricardo Reis visitou o cemitério segundo período.
o objetivo de, de modo a/que,
Final a finalidade da ação expressa na com a finalidade de ver Ele trataria melhor os mais pequeninos. Ele tratá-los-ia melhor.
de forma a que, a fim de (que),
subordinante. Fernando Pessoa.
de maneira a (que), ...
quando, enquanto, apenas, mal, logo 3. O pronome átono desloca-se para antes do verbo – próclise – em construções frásicas como as
Cria uma referência temporal à luz da
que, depois de/que, antes de/que, até • Mal leias o conto, inicia a seguintes:
Temporal qual a ação expressa na subordinante
que, sempre que, todas as vezes que, resolução das atividades.
deve ser interpretada.
agora que, cada vez que, assim que, ... a. Frases de polaridade negativa.

Exs.: Ele nunca apresentou o trabalho. Ele nunca o apresentou.


Frase ativa e frase passiva
A Joana não fez a análise do poema. A Joana não a fez.
Frase Explicação Exemplos
b. Frases com conjunções coordenativas com um elemento de polaridade negativa (não só… mas
A frase é ativa quando apresenta um grupo verbal constituído por um também; nem… nem; etc.) e conjunções coordenativas disjuntivas (ou… ou; etc.).
• Os alunos leem vários capítulos do
Ativa verbo principal transitivo direto, transitivo direto e indireto ou transitivo-
Memorial do Convento. Exs.: O Henrique não só analisou o poema como também apresentou o poema à turma.
predicativo, podendo ser antecedido ou não de verbo auxiliar.
A frase é passiva quando apresenta um grupo verbal constituído por um O Henrique não só o analisou como também o apresentou à turma.
verbo principal no particípio passado, antecedido pelo verbo auxiliar ser. Na Ou ajudais o vosso colega ou ele perde-se. Ou o ajudais ou ele perde-se.
transformação da frase ativa para a frase passiva,
• Vários capítulos do Memorial do
Passiva – o complemento direto da frase ativa é transformado
Convento são lidos pelos alunos.
no sujeito da frase passiva.
– o sujeito da frase ativa, se for realizado, transforma-se
em complemento agente da passiva.

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c. Frases com pronomes indefinidos como alguém, ninguém. LEXICOLOGIA


Ex.: Ninguém percebeu a ironia de José Saramago. Ninguém a percebeu.
Arcaísmos e neologismos
d. Frases em que o verbo é antecedido de advérbios como mal, sempre, ainda, já, apenas, só, talvez,
aqui, … • Arcaísmos
Ex.: Ainda li este poema ontem. Ainda o li ontem. Palavras ou expressões que deixam de ser comummente utilizadas pela comunidade e que, por isso,
passam a considerar-se antiquadas. É o caso de coita, forma antiga para referir ‘sofrimento’, ‘infeli-
e. Orações introduzidas por uma conjunção subordinativa. cidade’.
Exs.: A turma garantiu que leu o poema "Isto". A turma garantiu que o leu.
• Neologismos
Diz-me quando vais comprar o livro recomendado. Diz-me quando o vais comprar.
A professora disse para lermos o livro. A professora disse para o lermos. Palavras novas ou novas associações de forma e sentido que resultam, fundamentalmente, da necessi-
dade de renovação do léxico. Assim, o neologismo tanto pode resultar da atribuição de um novo sen-
f. Orações relativas (adjetivas ou substantivas). tido a uma palavra já existente, como acontece com alguns termos da área da informática (rato, sítio,
portal, navegar, …), como pode decorrer da atuação dos diferentes processos de formação de pala-
Exs.: O autor que criticou a sua época foi admirado. O autor que a criticou foi admirado.
vras (cf. europeizar, aerogerador, eurodeputado). Também do contacto com outras línguas pode resultar
Quem criticou a Inquisição foi José Saramago. Quem a criticou foi José Saramago.
a integração de novo vocabulário (empréstimos – cf. p. 371).
g. Frases ou orações iniciadas por um pronome relativo1 ou por um advérbio interrogativo2.

Exs.: 1 Quem leu os livros recomendados? Quem os leu? Campo lexical e campo semântico
2
Onde puseste o livro? Onde o puseste? • Campo semântico
h. Frases de tipo exclamativo nas quais se manifestem emoções ou desejos1 ou aquelas em que Conjunto de significados que uma palavra pode ter, dependendo dos contextos em que ocorre.
o falante constrói frases com determinada intencionalidade, destacando certos constituintes O campo semântico de mar, por exemplo, integra os significados que, em situações distintas, o nome
e desviando-os da ordem padrão2. adquire.

Exs.: 1 Oxalá percebas os poemas todos! Oxalá os percebas todos! Exs.: Andava um mar de gente na baixa.
Nem tudo é um mar de rosas.
2
Que Deus proteja os jovens! Que Deus os proteja!
• Campo lexical
4. Colocação do pronome pessoal átono em complexos verbais.
Conjunto de palavras que, pelo seu significado, se associam a um determinado conceito ou ideia. Por
a. Nos complexos verbais com os auxiliares dos tempos compostos (ter e haver) e o auxiliar da exemplo, ao campo lexical de mar, associam-se muitas outras palavras: pescadores, traineiras, mestre,
passiva (ser), o pronome é colocado à direita do verbo auxiliar. varinas, peixeiras, embarcações, …
Exs.: O professor tinha aconselhado mais estudo aos alunos. O professor tinha-lhes aconse-
lhado mais estudo. Monossemia e polissemia
O livro é emprestado pela biblioteca aos alunos. O livro é-lhes emprestado pela
• Palavras monossémicas
biblioteca.
Palavras que têm um só significado. Predominam nos textos científicos dado que neles se procura
b. Pode ocorrer antes do complexo verbal quando algum elemento requer a próclise. veicular uma mensagem objetiva, que deve ser entendida por todos os leitores.
Ex.: Ninguém quis ler em voz alta o poema. Ninguém o quis ler em voz alta. Exs.: cartografia, biologia, caligrafia, ...

c. Nos complexos verbais com auxiliares como começar a, acabar de, estar a, andar a, o pronome • Palavras polissémicas
ocorre depois do verbo principal. Palavras que apresentam uma propriedade semântica que lhes permite apresentarem vários signifi-
Ex.: Estou a apreciar o conto “Sempre é uma companhia”. Estou a apreciá-lo. cados, de acordo com o contexto em que surgem, havendo, todavia, um elo comum nesses múltiplos
sentidos.
O termo ilha pode surgir como:
Exs.: espaço rodeado de água Visitei a ilha da Madeira.
designação de um local “Sabia já Baltasar que o sítio onde se encontrava era conhecido
pelo nome de Ilha da Madeira”
pessoa tímida e com dificuldades de relacionamento Aquele rapaz é uma ilha!
espaço que pelas suas características geográficas fica isolado Esta aldeia é uma ilha!

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Denotação e conotação Processos irregulares de formação de palavras


• Denotação
Designação Definição
Significado literal da palavra ou expressão e que, normalmente, é comum a todos os falantes.
Criação de um vocábulo através da junção de letras ou sílabas de um grupo de palavras, que se pronunciam
• Conotação como uma só palavra.
Acrónimo
Significado atribuído a uma palavra, que não o normal ou literal. Ex.: ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações)

Exs.: Ele traz uma flor. (sentido denotativo)


Ele não é flor que se cheire. (sentido conotativo/figurativo – “má pessoa”). Criação de uma palavra a partir das iniciais de um grupo de palavras.
Sigla
Exs.: SCP (Sporting Clube de Portugal) / FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia)

Relações semânticas Transferência de uma palavra de uma língua para outra, com ou sem adaptações às características formais da
As relações semânticas entre palavras podem ser de vários tipos. Empréstimo língua recetora.
Ex.: Dossiê (do francês dossier)
• Relações de hierarquia: hiperonímia e hiponímia
Criação de novos sentidos para uma palavra já existente na língua que, contudo, não perde o(s) significado(s)
Relação hierárquica de inclusão entre palavras: Extensão anterior(es).
semântica
– hiperónimo – sentido mais genérico: peixe Ex.: Rato (aplicado à informática como comando manual do computador)
– hipónimo – sentido mais específico: pescada, carapau, sardinha, robalo, …
Criação de um termo que se caracteriza pela eliminação de parte da palavra de que deriva.
O hipónimo mantém com o hiperónimo traços semânticos comuns. Por isso, as espécies de peixes Truncação
Ex.: Metro (metropolitano)
elencadas são hipónimos do hiperónimo peixe, e vice-versa.

• Relações de todo/parte: holonímia/meronímia Criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras.
Amálgama
Ex.: Informática (informação + automática)
Relação de hierarquia semântica entre palavras.
– holónimo – refere o todo, a unidade: carro
– merónino – refere uma parte dessa unidade: chassis, volante, bancos, guarda-lamas, para-
-choques, … SEMÂNTICA
Os merónimos correspondem a partes do todo – neste caso o holónimo carro integra todos os
elementos referidos, os merónimos. Valor Temporal – Formas de Expressão do Tempo
A categoria Tempo serve para localizar as situações (eventos ou estados) expressas em diferentes enun-
• Relações de semelhança/oposição: sinonímia e antonímia
ciados. É através dos tempos verbais que mais frequentemente se marca essa localização. Porém, os ad-
– sinonímia – relação de equivalência de significado entre duas ou mais palavras. vérbios ou expressões adverbiais de tempo ou até certas construções podem também ter essa função.
Exs.: bonito/lindo; carro/automóvel; pão/carcaça, ...
– antonímia – relação semântica de oposição entre duas ou mais palavras. Uma situação localiza-se temporalmente em relação a um outro tempo que pode ser marcado de diver-
Exs.: dia/noite; subir/descer; rápido/lento, ... sas formas. Assim, conclui-se que o tempo linguístico é uma categoria relacional.

Os tempos gramaticais referem-se ao tempo entendido como ordenação linear orientada do passado
para o futuro, levando a considerar-se que os tempos gramaticais se articulam em três domínios:

• passado, usados para referências a ações anteriores ao momento da enunciação;

• presente, que se reporta ao momento da enunciação e ao que lhe é simultâneo ou sobreposto;

• futuro, o que é posterior ao momento da enunciação.

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Assim, estabelecem-se relações de anterioridade, simultaneidade e posteridade, que podem expres- Valor modal
sar-se através dos tempos verbais e/ou de certos advérbios ou orações temporais. A título de exemplo:
Exprime a atitude do locutor relativamente àquilo que diz e a quem o diz. Através do valor modal expres-
sam-se apreciações - modalidade apreciativa - sobre o conteúdo de um enunciado, representam-se
Relações temporais Exemplificação
valores de probabilidade ou de certeza - modalidade epistémica, de permissão ou obrigação - valor
Anterioridade
1
Fiz muitos exercícios sobre o valor temporal. deôntico.
Marcada pela utilização do pretérito perfeito do indicativo1, pela 2
Ontem, encomendei uma gramática nova.
utilização de advérbios2 (ou expressões adverbiais), ou por uma 3
Antes de guardarmos os livros, preparámos a apresentação Há três tipos de modalidade: apreciativa, epistémica e deôntica.
oração subordinada adverbial temporal3. oral.

Modalidade Exemplificação
Simultaneidade
1
Ando a ler um romance de Saramago.
Marcada pela utilização do presente do indicativo1 (no complexo 2
Neste momento, não sei dizer se prefiro ler prosa ou ler poesia.
Apreciativa • Lamento que não tenhamos feito uma visita de estudo à
verbal), pela utilização de advérbios2 (ou expressões adverbiais), 3
Enquanto a professora explicava as funções sintáticas, eu
O locutor exprime um juízo valorativo sobre uma situação, Fundação José Saramago.
ou por uma oração subordinada adverbial temporal3. ouvia-a atentamente.
utilizando construções exclamativas e/ou verbos como lamentar, • Felizmente, Blimunda conseguiu encontrar Baltasar.
gostar, apreciar, admirar, … • Este livro é magnífico!
Posterioridade 1
Decidirei que obra vou ler quando chegar a hora.
Marcada pela utilização do futuro1, pela utilização de advérbios2 2
No futuro, quero tornar-me médico.
(ou expressões adverbiais), ou por uma oração subordinada
3
Quando chegar a casa, vou fazer (farei) a seleção dos poemas. Habitual
adverbial temporal3.
Valor de certeza1-2 1
A mulher apoiou, no final, a decisão de Batola.
O locutor assume uma posição de
certeza face ao que afirma. 2
O padre Bartolomeu receava a Inquisição.
Valor aspetual Epistémica 3
Talvez António Barrasquinho vivesse revoltado com a atitude da
Valor de probabilidade3-4 mulher.
O aspeto gramatical relaciona-se com o valor dos tempos verbais, de verbos auxiliares, de estruturas
4
É provável que George se sentisse angustiada.
de quantificação, de certos tipos de nomes ou de modificadores. A combinação de elementos deste tipo O locutor não assume a falsidade ou verdade do que afirma,
permite representar uma situação como culminada/concluída (valor perfetivo), não culminada (valor antes supõe que possa ser verdade ou não o seu juízo.
imperfetivo), genérica, habitual ou iterativa.
Deôntica
Valor aspetual Exemplificação O locutor procura-se agir sobre o interlocutor impondo, proibindo 1
Podes fazer o que quiseres depois de ler os contos! (permissão)
ou autorizando. 2
Ouve o que tenho para te contar. (obrigação – impor)
Perfetivo Os valores deônticos subdividem-se, assim, em
− valor de permissão1 (autorizar);
3
Deves estudar mais! (obrigação – impor)
O tempo verbal normalmente associado a este aspeto é o pretérito perfeito do indicativo. • George vendeu a casa dos pais.
A situação expressa no enunciado apresentada concluída. − valor de obrigação2-3 (impor ou proibir).

Imperfetivo
• Os ceifeiros ouviam as emissões de
O tempo verbal normalmente associado a este aspeto é pretérito imperfeito do indicativo. Para exprimir os valores modais, vários recursos podem ser utilizados:
rádio todas as noites.
A situação expressa no enunciado apresenta-se em curso ou por concluir.
• a frase ou construção de tipo exclamativo;
Genérico • a entoação (na oralidade);
O tempo verbal normalmente associado a este aspeto é presente do indicativo ou o infinito • Viajar abre horizontes.
impessoal conjugado com grupos nominais de interpretação genérica. Apresenta-se em • A Terra gira em torno do Sol. • o emprego de advérbios e locuções adverbiais que formalizam os diversos tipos de modalidade
enunciados que veiculam informações aceites como universais e intemporais. (ex.: certamente, evidentemente, possivelmente, talvez, felizmente, francamente, …);
• o emprego de adjetivos reveladores da perspetiva do locutor em relação ao que enuncia (ex.: bom,
Habitual
Os tempos verbais mais associados a esta situação são o presente do indicativo e o • Costumamos viajar por Portugal nas mau, agradável, desagradável, horrível, importante, permitido, proibido, …);
pretérito imperfeito do indicativo, dependendo do ponto de referência da enunciação. férias.
• a variação do modo ou do tempo verbal (ex.: no uso do imperativo, emerge a modalidade deôntica);
São também recorrentes expressões como costumar, ser costume, ser habitual… • Liam poesia depois de da análise dos
Apresenta situações que surgem em enunciados que expressam uma pluralidade infinita de contos. • o emprego de verbos auxiliares com determinado valor modal (ex.: dever, ter de, poder + infinitivo);
acontecimentos que se sucedem num período de tempo construído como ilimitado.
• o emprego de verbos principais com valor modal (ex.: saber, crer, pensar, duvidar, obrigar, autorizar,
Iterativo permitir, gostar de, agradar, apreciar, detestar, lamentar, …);
• Desde a chegada da rádio, Batola
O tempo verbal associado a este valor aspetual é o pretérito perfeito composto do tem trabalhado imenso na loja. • o emprego do verbo ser em expressões reveladoras de diversos tipos de modalidade (ex.: é pena que,
indicativo e construções como “andar a”, ou outras expressões de valor temporal.
Apresenta-se em enunciados que expressam situações que se repetem num período de • Os alunos do 12.˚ andam a ensaiar a é lamentável que, é necessário que, é certo que, é preciso que, é obrigatório que, é possível que).
tempo delimitado ou não. leitura expressiva da “Ode Triunfal”.

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DISCURSO, PRAGMÁTICA E LINGUÍSTICA TEXTUAL Marcadores discursivos/conectores


São unidades linguísticas invariáveis que, embora não desempenhem uma função sintática no âmbito da
Dêixis: pessoal, temporal e espacial frase nem contribuam para o sentido proposicional do discurso, têm uma função relevante na sua produ-
ção, estabelecendo conexões entre os enunciados, organizando-os e indicando o seu sentido argumentati-
Os deíticos são mecanismos linguísticos de caráter pessoal, espacial e temporal, que remetem para a vo, introduzindo novos temas, mantendo e orientando o contacto do locutor com o interlocutor.
situação de enunciação. Esta, por sua vez, pressupõe sempre um eu/tu, um aqui e um agora.
Os marcadores discursivos podem subdividir-se em:

Os deíticos não têm, portanto, referência fixa; a sua interpretação depende das circunstâncias de enun- • estruturadores da informação, sobretudo com a função de ordenação.
ciação,isto é, a sua referenciação só pode ser identificada tendo em conta os participantes na interação Exs.: em primeiro lugar, por outro lado, por último, ...
verbal, uma vez que é o contexto situacional do “eu”/“tu”, “aqui”, “agora” que fornece os dados para essa • reformuladores, sobretudo com a função de explicação e de retificação.
mesma referenciação. Exs.: ou seja, por outras palavras, dizendo melhor, ou antes, ...
• operadores discursivos, sobretudo com a função de reforço argumentativo e de concretização
Só é possível interpretar um enunciado com deíticos se houver um conhecimento do contexto de enun- Exs.: de facto, na realidade, por exemplo, mais concretamente, efetivamente, nomeadamente, ...
ciação que permita identificar quem produziu o enunciado, a pessoa a quem se dirige, o espaço e o tempo • marcadores conversacionais ou fáticos
referenciados. Exs.: ouve, olha, presta atenção, homem, ...
• conectores, como os que se apresentam na tabela seguinte, e que têm uma determinada função lógi-
Exemplificando: ca/sintática:

Deíticos Exemplos de enunciados Marcas linguísticas Função lógica/sintática Listagem de conectores Exemplificação

− Formas verbais conjugadas na 1.a pessoa Os ceifeiros não saíam de casa nem conviviam.
Adição (aditivo, copulativo) e / nem / bem como /
(do singular): “Tenho”; “quero” “sou”;” falei” Agrupa, adiciona segmentos, sequências. não só... mas também... Não só li o conto “George” como também
“− Também tenho muitos encontros, eu. resolvi as atividades propostas.
Não quero tê-los mas sou obrigada a
isso, vivo tão só. […] Porque... o tal crime A denunciarem a presença do locutor (eu) Alternativa / exclusão (disjuntivo) (ou... ) ou... / ora... ora... / Ou por vontade ou por interesse, a mulher de
de que lhe falei, o único sem perdão, a Apresenta opções, alternativas. seja... seja... Batola acedeu a ficar com o rádio.
Pessoal − Determinantes possessivos e pronomes
velhice. Um dia vai acordar na sua casa pessoais de 3. a pessoa: “lhe” e “sua” Causa (causal) porque / como / visto que / Dada a extensão do livro, iniciei a leitura no
mobilada...” Introduz a causa, a razão. dado (que) / uma vez que / já que verão.
Maria Judite de Carvalho, “George” Concessão (concessivo) embora / ainda que / mesmo Leio poesia embora prefira a prosa.
A denunciarem a presença do interlocutor Nega o efeito, a conclusão da frase que / conquanto / apesar de /
(tu-você) subordinada, sem impedir o que nela é dito. malgrado / não obstante Apesar de preferir a prosa, também leio poesia.

Conclusão (conclusivo) portanto / assim / logo / O teste é decisivo; logo, tenho de me preparar
“− Partir, não é? Em que se pode pensar
Traduz a conclusão lógica, a inferência resultante. por conseguinte bem.
aqui, neste cu de Judas, senão em
Espacial partir? Ainda não me fui embora por − Advérbio com valor locativo: “aqui” Condição (condicional) se / caso / desde que /
Se respeitares, serás respeitado.
causa do Carlos, mas...” Introduz hipóteses ou condições. a não ser que / contanto que
Maria Judite de Carvalho, “George” como / tal como... (assim...) /
Comparação (comparativo) Tal como os alunos se mostraram interessados,
bem como... também... /
Traduz a comparação. também os professores revelaram satisfação.
“Sai da venda, entra no carro, e diz ao mais (menos) do que…
Batola, aproveitando o ruído do motor: − Advérbio com valor temporal: “agora” O professor afirmou que a obra Mensagem
Temporal − Você, agora, arrume a questão: tem Completamento (completivo) tem um caráter simbólico.
− Marcas de flexão verbal que assinalam o
um mês para a convencer.” Introduz o elemento sintático que completa que / se / para
presente do indicativo: “sai”, “entra” O aluno perguntou se a linguagem era
o sentido do núcleo do grupo verbal.
Manuel da Fonseca, “Sempre é uma companhia” metafórica.
Consequência (consecutivo) daí (que) / por isso / de tal forma... Ele gosta tanto dos poemas de Ricardo Reis
Introduz a ideia de efeito, consequência. que... / tanto, tão, tal... que... que os decorou facilmente.
Em síntese: os elementos de referência deítica podem ser pronomes pessoais, determinantes e prono-
mes possessivos e demonstrativos, advérbios, tempos verbais, algumas preposições e locuções preposi- Finalidade (final) para (que) / a fim de / de modo Participou na visita de estudo a Mafra para
Traduz a intenção visada, o objetivo. (forma) a / com o objetivo de apreciar melhor a obra Saramaguiana.
tivas, alguns adjetivos (atual, contemporâneo, futuro, …), alguns nomes (véspera, …).
Oposição (adversativo) mas / todavia / porém / contudo / Alguns autores têm uma escrita hermética,
Articula conclusões adversárias, diferentes. no entanto mas a beleza das obras mantém-se.
quando / enquanto / mal /
Tempo (temporal) Quando assistimos à leitura expressiva de
entretanto / logo que / depois de /
Exprime relações de tempo. poemas, o seu conteúdo torna-se mais claro.
antes de / desde que

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Bloco informativo Bloco informativo

Reprodução do discurso no discurso Recorde as transformações operadas na passagem do discurso direto para o indireto:

Formas de Transformações operadas na passagem do discurso direto


Definição e estratégias Exemplificação Exemplificação
representação para o discurso indireto

Discurso direto Discurso indireto Discurso direto


Reprodução de um texto ou de um fragmento de texto 1
Exemplo explícito da citação direta são as
(escrito ou oral) noutro texto, sendo destacado por aspas ou citações bíblicas utilizadas pelo Padre António 1.a e 2.a pessoas 3.a pessoa Em que áreas há melhores e piores notas
por um tipo de letra diferente. Vieira. Estas citações conferem autoridade
Emília Lemos, presidente da Associação
A citação pode ser direta ou indireta: utiliza-se a primeira argumentativa ao seu discurso. eu, tu, nós, vós, me, nos ele(s), ela(s), o(s), a(s), lhe(s)
de Professores de Geografia, adianta:
(direta)1 para reproduzir as palavras de alguém ou de fontes 2
Tal como se afirma no Dicionário Terminológico, "Onde surgem mais problemas é nas
Citação meu(s), minha(s), teu(s), tua(s), nosso(s),
consultadas; a segunda (indireta)2 consiste em parafrasear a citação deve ser ” assinalada com referência ao seu(s), sua(s), dele(s), dela(s) perguntas abertas, de desenvolvimento,
ou condensar uma ideia ou assunto abordado por outrem. autor e/ou à obra aos quais pertencem,…” nossa(s), vosso(s)
quer devido à formulação quer ao elevado
As normas de citação exigem a identificação do autor e da(s) http://dt.dge.mec.pt/ grau de dificuldade de interpretação
este(s), esta(s), isto, esse(s), essa(s), isso aquele(s), aquela(s), aquilo
fonte(s) consultada(s). Pode ter uma função argumentativa e de domínio da escrita científica."
(autoridade), uma finalidade didática ou de paródia. aqui, cá, aí, ali, lá, acolá ali, lá, naquele lugar, naquele sítio Miguel Barros, da Associação
de Professores de História, sublinha:
naquele momento, imediatamente, "Com este novo modelo de exame, mais
Modalidade de reprodução do discurso que consiste em “Poisa a mão sobre o ombro do Batola, e agora, neste momento, já, hoje, ontem, fechado e que inclui itens de seleção,
naquele dia, na véspera, no dia anterior,
reproduzir, por escrito, características próprias da oralidade exclama: amanhã, logo como a escolha múltipla, ordenação
no dia seguinte, depois
(realizações fonéticas, hesitações, repetições, pausas, − Dou-lhe a minha palavra de honra que não ou associação, verificamos que os alunos
interjeições, deíticos, ...) numa espécie de simulação ou en¬contra nenhum aparelho pelo preço deste! complemento indireto do verbo introdutor demonstram mais dificuldades."
reprodução do discurso testemunhado, mostrando as vocativo João Paulo Leal, da Sociedade
Sem dar tempo a qualquer resposta, ordena: do discurso
características contextuais vividas por quem é citado. Portuguesa de Química, acusa o IAVE
Aparece, normalmente, marcado graficamente por: − Traz a pasta, Calcinhas!” (Instituto de Avaliação Educativa):
Discurso "As médias são muito baixas porque os
• verbos de tipo declarativo − afirmar, perguntar, responder, Manuel da Fonseca, “Sempre é uma companhia”
direto responsáveis pelos exames assim o querem.
sugerir, concordar, declarar, explicar, podendo estes ser
Não houve, até hoje, vontade de mudar.
eliminados para conferir mais vivacidade, naturalidade e frase interrogativa direta oração subordinada substantiva completiva
Suspeito que haja uma vontade deliberada
fluidez ao discurso;
de afastar os alunos desta área de ensino."
• aspas; In Visão, n.o 1132, 13 a 19 de novembro de 2014, pp. 58-66
(texto adaptado e com supressões).
• dois pontos, parágrafo, travessão;
• itálicos. verbos vir e trazer ir e levar Discurso indireto

Emília Lemos, presidente da Associação


Modalidade de reprodução do discurso onde não há “E, ao meter os papéis dentro da pasta, repara presente do indicativo pretérito imperfeito
de Professores de Geografia, adiantou
interferência direta da(s) personagem(ns), porque as que já é muito tarde. Apressado, conta que veio
que onde surgiam mais problemas era
suas falas são reproduzidas pelo narrador. Apresenta, por ali devido a um engano no caminho.”
pretérito perfeito do indicativo pretérito mais-que-perfeito do indicativo nas perguntas abertas, de desenvolvimento,
normalmente: Manuel da Fonseca, “Sempre é uma companhia” quer devido à formulação quer ao elevado
• verbos declarativos – dizer, afirmar, responder, pedir, grau de dificuldade de interpretação
Discurso perguntar; futuro do indicativo condicional e de domínio da escrita científica.
indireto
• orações subordinadas substantivas completivas ou Miguel Barros, da Associação de
infinitivas; Professores de História, sublinhou que
presente do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo com aquele novo modelo de exame, mais
• utilização da terceira pessoa gramatical, que implica fechado e que incluía itens de seleção, como
também alterações das expressões deíticas bem como a escolha múltipla, ordenação ou associação,
de tempos e modos verbais. futuro do conjuntivo pretérito imperfeito do conjuntivo verificavam que os alunos demonstravam
mais dificuldades.
Modalidade que implica uma fusão entre a enunciação do “Algumas tábuas do convés estavam João Paulo Leal, da Sociedade Portuguesa
emissor-relator (narrador) com a enunciação do locutor- apodrecidas. Teria de substituí-las, trazer os de Química, acusou o IAVE, referindo que
-personagem. É frequente no texto ficcional e permite ao materiais necessários, demorar-se aqui uns dias, as médias eram muito baixas porque os
narrador integrar, no seu discurso, as manifestações verbais ou então, só agora lhe ocorria a ideia, desmontar pretérito imperfeito do conjuntivo ou responsáveis pelos exames assim o queriam.
imperativo
Discurso das personagens, sem recorrer aos verbos introdutórios a máquina peça por peça, transportá-la para infinitivo impessoal (precedido de para) Não tinha havido/houvera, até àquele
indireto livre declarativos. Mantêm-se as marcas do discurso indireto ao Mafra escondê-la debaixo duma parga de palha, momento, vontade de mudar. Suspeitava
nível de pessoa, tempo e modos verbais, mas recorre-se a ou num dos subterrâneos do convento, se que houvesse uma vontade deliberada de
marcas do discurso oral, também presentes no discurso direto, pudesse combinar com os amigos mais chegados, afastar os alunos daquela área de ensino.
como: interjeições, exclamações, expressões modalizadoras, confiar-lhes metade do segredo”
marcadores discursivos (ora, pois bem, sendo assim, …) José Saramago, Memorial do convento Nota: As transformações apresentadas no quadro ocorrem quando o verbo introdutor do discurso indireto se encontra
no passado (cf. verbos sublinhados).

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Bloco informativo Bloco informativo

Texto e textualidade − coerência e coesão textual Intertextualidade


• Coerência textual Qualquer texto pode manter ou constituir com outros textos relações de ordem semântica ou retóri-
co-estilística, às quais se dá o nome de intertextualidade e consiste numa ligação entre um hipertexto
A coerência resulta da articulação lógica entre as diferentes partes e ideias de um texto. Depende (texto produzido a partir de outros ou sobre outros) com um ou diversos hipotextos (que além de literá-
ainda da intencionalidade do autor, da ordenação e estruturação do conteúdo informacional dos
rios, podem musicais, icónicos, …) e pode ocorrer de diversas formas: alusão, citação, imitação criativa,
textos bem como da competência linguística, da capacidade interpretativa e do conhecimento que
o falante possui do mundo. paráfrase, paródia e plágio.

Para haver coerência textual é necessário que o texto:


Observe alguns exemplos de intertextualidade visíveis em obras da literatura portuguesa.

• apresente progressão, ou seja, que acrescente novos factos • privilegie informação relevante, ou seja, que evite quaisquer Hipotexto Hipertexto Relação
ou ideias; dados ou factos que não sejam pertinentes para o tema;
• obedeça à regra da não contradição, isto é, que não exponha • espelhe a continuidade de sentido, isto é, que não haja “quando, inesperadamente, Carlos apareceu em Lisboa “Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha
ideias ou informações incompatíveis com outras já enunciadas; afastamento do tema/assunto. com um arquiteto decorador de Londres (…). veio da Áustria, (…), que em Portugal não há artífices
Vilaça ressentiu amargamente esta desconsideração de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida
• renove a informação, eliminando as repetições inúteis;
pelo artista nacional” ganhariam menos.” Alusão
Eça de Queirós, Os Maias José Saramago, Memorial do convento
• Coesão textual
“Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria
A coesão realiza-se através de mecanismos linguísticos lexicais e gramaticais que conferem con- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça”
sem justiça” Ironia
tinuidade, sentido e progressão entre os elementos da superfície textual, pelo que está intimamente Luís de Camões, Os Lusíadas
José Saramago, Memorial do convento
ligada à coerência.
“Este, que aqui aportou,
“Ulisses é, o que faz a santa casa
Mecanismos de coesão/ Foi por não ser existindo.
Processos implicados Exemplificação À Deusa que lhe dá língua facunda;
Definição Sem existir nos bastou.
Que se lá na Ásia Troia insigne abrasa,
Por não ter vindo foi vindo Alusão
Coesão lexical • Reiteração: repetição de uma mesma unidade lexical ou expressão no Exs.: Cá na Europa Lisboa ingente funda.”
E nos criou.”
Mecanismo que se texto. “D. João, quinto do seu Os Lusíadas, canto VIII
Fernando Pessoa, Mensagem
baseia na repetição • Substituição: substituição de unidades lexicais e expressões por outras nome na tabela real, irá
da mesma palavra ao que se relacio-nam no texto através de relações de: esta noite ao quarto de
longo do texto ou na sua mulher1, D. Mariana
− sinonímia1;
sua substituição por Ana Josefa1, que4 chegou Sequências textuais
outras que com ela se − antonímia2;
há mais de dois anos da
relacionam, constituindo − hiperonímia-hiponímia (hierarquia)3; Qualquer texto é constituído por um conjunto de sequências que podem ser de natureza narrativa, des-
Áustria”
assim uma rede − holonímia/meronímia (parte/todo). critiva, argumentativa, explicativa e dialogal, cada uma correspondendo a um modelo definido por um
semântica adequada “o sol inundou a máquina3, conjunto de características, conforme a tabela seguinte. Recorde-as.
ao tema desenvolvido. brilharam as bolas de
âmbar3 e as esferas3…”
Coesão gramatical • referencial4: relaciona-se com o uso anafórico de pronomes. Natureza da sequência Natureza da sequência Exemplificação
Relaciona-se com a • frásica5 (concordância): refere-se aos mecanismos linguísticos usados “A máquina5 rodopiou5 Narrativa • Pretérito perfeito alternando com
organização interna dos na ligação dos elementos que constituem as frases ou cada uma das duas vezes, despedaçou5, Narração de acontecimentos pretérito imperfeito e presente do
elementos linguísticos suas partes, como a: rasgou5 os arbustos que6 a4 “O táxi desceu a Calçada da Estrela, virou nas
realizados por personagens indicativo.
e com os princípios envolviam, e6 subiu.” Cortes, em direção ao rio, e depois, pelo caminho já
− ordenação das palavras na frase; num determinado espaço e
da concordância • Conectores de natureza espácio- conhecido, ganhou a Baixa, subiu a Rua Augusta”
− flexão e concordância (género e número); que apresentam uma certa
“Sete-Sóis e Sete-Luas, se temporal.
sequencialização temporal. José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis
− regências verbais ou outras exigidas na construção de uma unidade nome tão belo lhe4 puseram, • Articuladores que demarcam a
(conto, fábula, lenda, novela,
de sentido. bom é que o4 use, não sequencialização narrativa.
romance, …)
• interfrásica6: reporta-se aos mecanismos que servem para ligar as desceram de S. Sebastião
frases, os períodos e os parágrafos de um texto através de conectores da Pedreira…” • Predomínio de verbos de estado (ser/
ou apenas da pontuação quando se pressupõe a elipse de conectores. estar/parecer/…).
“Amanhã7 Blimunda terá7 os Descritiva “Por uma dessas alongadas ruas do Porto, que sobe
• temporal7: relaciona-se com mecanismos linguísticos, como advérbios • Utilização do presente e/ou imperfeito
seus olhos, hoje7 é7 dia de Apresentação da descrição de um que sobe e não se acaba, há de encontrar-se um
e tempos verbais, que instituem uma relação temporal com sentido, na do indicativo para transmitir a
cegueira” objeto/tema ao qual se atribuem cruzamento alto, de esquinas de azulejo, janelas
superfície textual. Verifica-se através da: perspetiva durativa.
caraterísticas/qualidades. de guilhotina, telhados de ardósia em escama.”
− utilização correlativa dos tempos verbais; • Estruturas qualificativas
* Todos os excertos pertencem à obra (retrato, adivinha, …) Mário de Carvalho, “Famílias desavindas”
− compatibilidade entre os advérbios de localização temporal e os Memorial do convento, de José Saramago
(modificadores/orações relativas, …).
tempos verbais selecionados. • Recurso a figuras de estilo.

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II – VERBOS INSTRUCIONAIS
Bloco informativo Bloco informativo

A compreensão de um enunciado é fundamental para o desenvolvimento de um raciocínio correto, que conduza a uma respos-
Natureza da sequência Natureza da sequência Exemplificação
ta clara e contextualizada. Para se perceber as operações implicadas nas questões que são colocadas, elencam-se os verbos
Argumentativa mais utilizados na questionação a que está sujeito.
A intenção comunicativa é • Verbos no presente do indicativo.
a de convencer, persuadir o “Um sopro de vida paira agora sobre a aldeia.
• Estruturação do discurso Verbo Operações que implica
interlocutor. A argumentação Todos sabem o que acontece fora dali. E sentem
argumentativo:
está presente em várias situações que não estão já tão distantes as suas pobres Examinar com atenção; observar atentamente o universo de referência, estabelecendo conexões entre as partes, de
tese argumentação conclusão. casas. Até as mulheres vêm para a venda depois Analisar
do dia a dia, nomeadamente modo a descodificar os sentidos do todo.
discussões, debates, conversas. • Abundância de conectores que da ceia. Há assuntos de sobra para conversar.”
Apresentar Mostrar; expor uma ideia, um conceito, uma conclusão.
(artigos de opinião, discursos marcam a progressão e articulam as Manuel da Fonseca “Sempre é uma companhia”
políticos, sermões, textos diferentes partes do texto. Associar Fazer corresponder ideias ou aspetos que se relacionam entre si; ligar elementos.
publicitários, …)
Avaliar Apreciar, emitindo um juízo de valor.
Apresentar a descrição pormenorizada e exata; mostrar as características de determinado espaço, personagem,
• Utilização predominante do Presente Caracterizar
Explicativa comportamento.
do Indicativo “O sistema é simples […]. Um homem pedala
A intenção comunicativa é a numa bicicleta erguida a dez centímetros do chão Clarificar Demonstrar com clareza o sentido de um excerto textual, de uma ideia, de uma posição.
de explicar, expor e informar. • Discurso predominantemente de
por suportes de ferro. A corrente faz girar um
O objetivo é conduzir o leitor à terceira pessoa Interpretar criticamente uma ideia, um excerto textual, uma imagem, evidenciando pormenores; explicar emitindo
imã dentro de uma bobina. A energia gerada vai Comentar
compreensão da informação • Especificidade lexical (de acordo com a um juízo de valor.
acender as luzes de um semáforo, comutadas pelo
fornecida. temática abordada) ciclista.” Comparar Apresentar as semelhanças ou as diferenças entre dois termos / objetos / universos em análise.
(artigos de natureza científica ou • Estruturas qualificativas
enciclopédica, nas definições, …) Mário de Carvalho, “Famílias desavindas” Concluir Formular uma dedução; estabelecer uma ilação.
(modificadores, orações relativas, …)
Deduzir Expor de forma fundamentada uma conclusão, através de um raciocínio.

“− Que pensas fazer, Gi? Definir Apresentar o significado ou o sentido.


− Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, Delimitar Indicar claramente o início e o fim de um excerto textual, de uma ideia; indicar os limites.
neste cu de Judas, senão em partir? Ainda não me
• Referenciação deítica. Demonstrar Fazer ver; provar através de uma reflexão, com exemplos, uma determinada ideia; explicar de forma convincente.
fui embora por causa do Carlos, mas... O Carlos
• Marcas relacionadas com a situação pertence a isto, nunca se irá embora. Só a ideia o
Dialogal Distinguir Estabelecer as diferenças entre dois termos / objetos / universos; identificar ideias ou opiniões diferentes.
de produção do discurso: alternância apavora, não é?
Ocorre sempre que os da primeira e da segunda pessoa − Sim. Só a ideia. Elaborar Construir; organizar corretamente as partes ou elementos de um todo.
interlocutores conversam, usando e formais verbais no presente do
da palavra alternadamente. − Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa Elencar Apresentar por ordem; enumerar.
indicativo.
Está presente em qualquer impossível, de uma ideia louca. Quer comprar uma
• Discurso marcado pelas características ter¬ra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma Exemplificar Dar exemplos para provar uma conclusão, um raciocínio ou uma afirmação.
interação verbal em diferentes
situações e contextos. da oralidade (repetições, pausas…) he¬rança e só sonha com isso. Creio que é a altura Explicar Interpretar de forma clara e evidente; expor, através de desconstrução, uma determinada ideia, comportamento.
(diálogos, debates, entrevistas, …) • Na escrita apresenta travessões e de eu...
mudança de linha para assinalar a − Creio que sim. Explicitar Esclarecer uma ideia; mostrar claramente; concluir a partir das palavras de outrem.
mudança de interlocutor. − Pois não é verdade? Expor Apresentar determinado assunto ou ideia de forma clara e inequívoca; explicar; mostrar de modo evidente.
− Ainda desenhas?”
Identificar Indicar de forma inequívoca quem é ou qual é; nomear; indicar o nome.
Maria Judite de Carvalho “George”
Indicar Mostrar; mencionar; dar a conhecer.
Inferir Retirar uma conclusão; fazer uma dedução.
Explicar determinado texto ou parte de texto; retirar o sentido ou a intenção de determinada expressão, ideia,
interpretar
comportamento.
Provar uma afirmação ou uma opinião quer através de exemplos quer apresentando os motivos que conduziram à
Justificar
reflexão apresentada.
Mencionar Referir; citar; indicar.
Mostrar Revelar; expor uma ideia; comprovar; tornar visível, claro, evidente.
Realçar Dar destaque; mostrar a importância.
Registar Anotar; apresentar determinada ideia, tema, conteúdo.
Relacionar Estabelecer uma relação entre dois aspetos ou duas ideias, apresentando uma conclusão.
Copiar de um texto um excerto, uma frase, uma palavra (devem ser usadas aspas que permitam o destaque
Transcrever
do segmento copiado).

376 377
III – GÉNEROS TEXTUAIS - Domínios e marcas textuais
Bloco informativo

Géneros Definição e marcas Domínios Géneros Definição e marcas Domínios

Estruturação tripartida. Género textual que faz a apresentação de um Uso de uma linguagem apelativa.
Encadeamento lógico dos tópicos abordados. determinado objeto / assunto / tema com Recurso a frases interrogativas e exclamativas.

publicitário
Texto onde se faz a apreciação
Apreciação crítica

Oralidade

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valorativa de um determinado Oralidade vista à divulgação das suas características,
Recurso a mecanismos de coesão − conectores, deíticos, ... Uso de recursos expressivos. (compreensão
objeto (livro, disco, exposição, (expressão oral) funcionalidades, interesse e captação de do oral)
Uso de uma linguagem valorativa. Leitura interessados no produto. Utilização de neologismos.
…), observando-se, sob uma 10.˚
perspetiva crítica, as suas Utilização expressiva da pontuação e da linguagem. Escrita Possui um caráter apelativo e recorre a Utilização de mecanismos de coesão da expressão
características, funcionalidades e Predomínio dos nomes e dos adjetivos. 10.˚/ 11.˚/ 12.˚ múltiplas linguagens (verbal, não verbal). oral e de recursos não verbais.
interesse. Na oralidade: utilização de mecanismos de coesão da
expressão oral e de recursos não verbais. Texto expositivo sobre um determinado
Uso de uma linguagem clara, objetiva e específica
divulgação

aspeto de dada área do saber com o objetivo


Artigo de

científic

de divulgação (por exemplo, de resultados de de uma determinada área. Leitura


Estruturação tripartida. pesquisas). Caracteriza-se pelo rigor e pela Utilização de frases declarativas. 10.˚/ 11.˚
Encadeamento lógico dos tópicos abordados. objetividade assim como pela informação
Exposição sobre

Texto de caráter demonstrativo Oralidade Hierarquização das ideias e explicitação das fontes.
onde se disserta de forma clara Recurso a mecanismos de coesão − conectores, deíticos, … (compreensão e seletiva e criteriosa.
um tema

e fundamentada sobre um expressão oral)


Uso de uma linguagem clara e objetiva, utilizada em sentido
determinado tema, mobilizando denotativo. Leitura Texto predominantemente narrativo e
Escrita
Relato de viagem

informação relevante sobre o Predomínio dos nomes e dos verbos e das frases declarativas. descritivo, versando uma variedade de temas.
assunto. 10.˚/ 11.˚/ 12.˚ Surge numa diversidade de formatos e Predomínio do discurso de primeira pessoa. Uso de
Na oralidade: utilização de mecanismos de coesão da utilizando múltiplos recursos. uma linguagem valorativa. Leitura
expressão oral e de recursos não verbais. Registo das impressões do emissor acerca Utilização expressiva da pontuação e da linguagem. 10.˚
de lugares onde se assiste à prevalência do Predomínio dos nomes e dos adjetivos.
Estruturação tripartida. discurso pessoal e, portanto, com marcas de
Texto de natureza expositiva- subjetividade.
Encadeamento lógico dos tópicos abordados.
Texto/Artigo de

argumentativa, onde se Oralidade


desenvolve um determinado Recurso a mecanismos de coesão − conectores, deíticos, …
(expressão oral)
opinião

Recurso à coerência e validade dos argumentos,


Discurso político

assunto sob uma perspetiva Uso de uma linguagem valorativa. Leitura contra-argumentos, provas, …). Oralidade
pessoal, emitindo um juízo de valor Recurso às frases declarativas, à linguagem objetiva, a nomes e Escrita Texto argumentativo cujo objetivo é a
(compreensão
de forma clara, através do recurso persuasão, através da defesa de um ponto Utilização de recursos expressivos.
a adjetivos. 11.˚/ 12.˚ do oral)
a argumentos e aos respetivos de vista. São colocadas em destaque as Predomínio da primeira pessoa do singular. Leitura
exemplos. Na oralidade: utilização de mecanismos de coesão da capacidades de expor, de argumentar, ...
expressão oral e de recursos não verbais. Utilização de mecanismos de coesão da expressão 11.˚
oral e de recursos não verbais.

Texto que se caracteriza pela


condensação das ideias de um Encadeamento lógico dos tópicos abordados. Interação verbal, de caráter argumentativo Utilização de uma linguagem clara e objetiva.
Oralidade (dado o assunto polémico que é objeto de
texto de partida − redução a Recurso a mecanismos de coesão: conectores, deíticos, …
Síntese

(expressão oral) Evidenciação de um discurso apelativo.


cerca de um quarto − através da discussão), onde diferentes intervenientes, Oralidade
Recurso às frases declarativas e à linguagem objetiva. Respeito pelas normas reguladoras da interação
Debate

Escrita ora emissores ora recetores, defendem (compreensão e


seleção das ideias essenciais, de Na oralidade: utilização de mecanismos de coesão da comunicativa (princípios da cortesia e da expressão oral)
forma a manter a informação 10.˚ um ponto de vista, recorrendo ao caráter
expressão oral e de recursos não verbais. cooperação).
fundamental. persuasivo através da validade da 11.˚/ 12.˚
argumentação, da contra-argumentação, das Utilização de mecanismos de coesão da expressão
provas. oral e de recursos não verbais.
Peça jornalística que se Uso de uma linguagem objetiva e clara.
caracteriza pela multiplicidade
Reportagem

Recurso ao discurso direto e indireto. Oralidade Uso de um discurso conciso e claro.


de temas abordados e de
argumentativo

intervenientes, o que implica a Recurso à subjetividade do autor. (compreensão Recurso ao valor expressivo da linguagem.
do oral) Interação verbal de caráter persuasivo, onde Oralidade
Utilização da primeira e da terceira pessoas. Utilização de
Diálogo

diversidade de pontos de vista e a cada interveniente defende um ponto de Respeito pelas normas reguladoras da interação
mecanismos de coesão da expressão oral e de recursos não 10.˚ (compreensão e
veiculação de informação ampla vista, através do recurso a argumentos e comunicativa (princípios da cortesia e da expressão oral)
e seletiva. verbais. cooperação).
exemplos válidos. 12.˚
Utilização de mecanismos de coesão da expressão
Uso de uma linguagem objetiva e clara. oral e de recursos não verbais.
Texto que faz a apresentação de
Documentário

um determinado assunto/tema Recurso ao discurso direto e indireto. Oralidade


colhido da realidade e tratado sob Recurso à subjetividade. (compreensão
Tipo de texto caracterizado pela variedade de Utilização do discurso de primeira pessoa.
do oral) temas, uma vez que o emissor “discorre” sobre
Diário

uma determinada perspetiva. Utilização da primeira e da terceira pessoas. Utilização expressiva da linguagem. Encadeamento Leitura
Veicula informação criteriosa e 10.˚ o quotidiano.
Utilização de mecanismos de coesão da expressão oral e de Predomínio de sequências narrativas e lógico dos tópicos tratados. Utilização de 12.˚
seletiva com um fim didático. mecanismos de coerência e de coesão textual.
recursos não verbais. ordenação cronológica dos acontecimentos.

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Géneros Definição e marcas Domínios

Texto de caráter pessoal, versando assuntos


passados ligados ao emissor. Utilização do discurso de primeira pessoa.

Memórias
Caracteriza-se pela variedade de temas e pela Utilização expressiva da linguagem. Leitura
narratividade. Encadeamento lógico dos tópicos tratados.
Possui valor documental, uma vez que 12.˚
Utilização de mecanismos de coerência e de coesão
permitir a reconstrução de espaços, épocas, textual.
vivências pessoais.

Nota: informação recolhida e sistematizada a partir do documento oficial Programa e Metas Curriculares de Português – Ensino Secundário.
IV – RECURSOS EXPRESSIVOS
Bloco informativo Bloco informativo

No texto literário, o desvio relativamente ao uso normalizado da língua é uma marca do poder criativo da linguagem. Contra- Recurso
riamente ao texto informativo e de linguagem corrente, o texto literário sugere muito mais do que diz, explora a diferença, a Definição Exemplificação
expressivo
estranheza bem como o caráter plurissignificativo da linguagem. Para tal, a contribuição dos recursos expressivos que a língua
Atribuição, ao ser ou entidade designado por uma palavra, “Da vida pálida, levando apenas/As rosas breves, os
permite é fundamental.
de uma qualidade ou ação logicamente pertencente a outro sorrisos vagos, / E as rápidas carícias/Dos instantes
Hipálage
ser ou entidade expresso ou subentendido na mesma frase volúveis”
Tal é conseguido porque a língua permite construções que evidenciam mecanismos estilísticos e expressivos vários. Neles
ou sequência textual. Ricardo Reis
cabem os recursos expressivos como:
Utilização de termos excessivos para efeito de exagero “Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!”
Recurso Hipérbole
Definição Exemplificação da realidade. Álvaro de Campos
expressivo
“Da vida iremos / tranquilos, tendo / nem o remorso /
“Porque é ligeiro, leve, certo / No ar de amavio?” Separação de palavras ou membros de frase (sintaticamente
Adjetivação Utilização expressiva e recorrente da classe dos adjetivos. Hipérbato de ter vivido.”
Fernando Pessoa ligados) por intercalação de outros segmentos frásicos.
Ricardo Reis

“As folhas, e volve, e revolve, /E esvai-se inda Encadeamento de metáforas e/ou de comparações, “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de
Aliteração Repetição sucessiva de um tipo de sons consonânticos. outra vez” Imagem contribuindo para uma associação de realidades que têm Portugal!”
Fernando Pessoa características comuns. Fernando Pessoa, Mensagem

“Estou doido a frio, / Estou lúcido e louco, / Estou “Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia,
Repetição de uma palavra ou expressão no início de versos Interrogação Questão que se formula não para obter resposta, mas para
Anáfora alheio a tudo e igual a todos.” / Cadáver adiado que procria?”
ou de frases sucessivos. retórica melhor orientar/realçar a ideia a transmitir.
Álvaro de Campos Fernando Pessoa, Mensagem

Troca da ordem normal dos elementos numa construção “As rosas amo dos jardins de Adónis”
“gente de muita força e pouco mimo” Inversão
Antítese Aproximação de duas ideias opostas ou contraditórias. sintática. Ricardo Reis
José Saramago, Memorial do convento
Expressão de palavra/ideia polemicamente orientada para “D. Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada e fria”
“Senhor, falta cumprir-se Portugal!” Ironia conclusão diferente daquilo que é o sentido literalmente
Interpelação, chamamento do recetor a quem é destinado José Saramago, Memorial do convento
Apóstrofe proferido.
o discurso. Fernando Pessoa, Mensagem

Reconstrução, por analogia, do significado normal de uma “O cântaro está à espera da fonte.”
“este que abre o gavetão, aquele que afasta a Metáfora palavra ou expressão, aproximando-o ou associando-o a um
Supressão intencional de articuladores/conectores entre palavras, cortina, um que levanta a luz” campo semântico distinto. José Saramago, Memorial do convento
Assíndeto
expressões ou frases sucessivas.
José Saramago, Memorial do convento
Relação sintática de termos com lógica contraditória no seio “Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?”
Oxímoro
de um juízo. Álvaro de Campos
“choram os olhos de Blimunda como duas fontes
Relação de realidades, colocadas em paralelo, por meio de um
Comparação de água”
termo comparativo ou verbos como parecer, lembrar, sugerir, ... “E se antes do que eu levares o óbulo ao barqueiro
José Saramago, Memorial do convento Utilização de uma expressão composta por vários termos
Perífrase sombrio”
em vez da possibilidade de utilizar uma só palavra.
Ricardo Reis
“Buscar na linha fria do horizonte / A árvore, a praia,
Apresentação sucessiva de elementos, frequentemente da mesma
Enumeração a flor, a ave, a fonte” “Fita com olhar esfíngico e fatal, / o Ocidente”
categoria gramatical ou com o mesmo tipo de estruturação. Atribuição de sentimentos, ações ou ideias próprias do
Fernando Pessoa, Mensagem Personificação
ser humano a objetos ou elementos da Natureza. Fernando Pessoa, Mensagem

Atenuação na transmissão de uma ideia ou de uma realidade “se for sombra antes” (= se morrer primeiro) “Sejamos simples e calmos / como os regatos e as
Eufemismo Repetição intencional de articuladores entre palavras ou
excessiva, semanticamente negativa. Ricardo Reis Polissíndeto árvores / E Deus amar-nos-á”
frases sucessivas.
Alberto Caeiro

Recurso a sequências/frases de tipo exclamativo, marcando “Ah, poder ser tu, sendo eu!”
Exclamação “E ao imenso e possível oceano / Ensinam estas
reações, atitudes expressivas e subjetivas Fernando Pessoa Expressão da parte pelo todo, do singular pelo plural, do
Sinédoque Quinas, que aqui vês.”
abstrato pelo concreto e vice-versa.
Fernando Pessoa, Mensagem
Sucessão de, pelo menos, três termos sintaticamente equivalentes, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”
Gradação organizados segundo uma ordem crescente (progressiva) Fusão de sensações decorrentes da perceção de diferentes “O cheiro fresco a tinta de tipografia!”
ou decrescente (regressiva). Fernando Pessoa, Mensagem Sinestesia
sentidos. Álvaro de Campos

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V – NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO VI – FICHA DE LEITURA / APRECIAÇÃO CRÍTICA DA OBRA
Bloco informativo Bloco informativo

Os textos poéticos em verso evidenciam um conjunto de aspetos técnicos e versificatórios sistematizados no quadro abaixo.
POESIA

Aspetos técnicos e versificatórios SOBRE O AUTOR


E A SUA ESCRITA
• Extensão do verso pelo número de sílabas métricas
(escansão até à sílaba tónica da última palavra do verso, considerando-se ainda a elisão de sons vocálicos Título:
quando pronunciados numa só emissão de voz; não é coincidente com o número de sílabas gramaticais).
Editora/ano da edição:
SOBRE
Exs.: A OBRA Estrutura (partes/subpartes):
O/poe/ta é/um/fin/gi/dor, – 7 sílabas métricas SELECIONADA Temáticas recorrentes nos vários poemas:
1 2 3 4 5 6 7
Adequação dos títulos e subtítulos aos poemas:
Métrica Quan/do/pa/sso/,sem/pre e/rran/te – 7 sílabas métricas (mas 8 sílabas gramaticais)
1 2 3 4 5 6 7 Descrição formal (estrofes, métrica, rima, …):
Fernando Pessoa
No verso

APRECIAÇÃO Comentário crítico:


CRÍTICA
• Designação do verso pelo número de sílabas métricas:
monossílabo (uma), dissílabo (duas), trissílabo (três), tetrassílabo (quatro), pentassílabo ou redondilha
PONTOS DE CONTACTO Obras do Programa estudadas:
menor (cinco), hexassílabo (seis), heptassílabo ou redondilha maior (sete), octossílabo (oito), eneassílabo
(nove), decassílabo (dez), hendecassílabo (onze), dodecassílabo ou alexandrino (doze). COM CONTEÚDOS DE Outras obras ou outras formas de arte (filmes, peças de teatro, …):

Acento Verso agudo (oxítono ou masculino), grave (paroxítono ou feminino) ou esdrúxulo (proparoxítono).
silábico TEXTO NARRATIVO/DRAMÁTICO

Verso binário (dois segmentos com uma pausa); verso ternário (três segmentos com duas pausas); verso SOBRE O AUTOR
Ritmo E A SUA ESCRITA
quaternário (quatro segmentos com três pausas).

Título:
SOBRE
A OBRA Editora/ano da edição:
• Classificação da estrofe pelo número de versos:
Número SELECIONADA
monóstico (um), dístico (dois), terceto (três), quadra (quatro), quintilha (cinco), sextilha (seis), sétima (sete), Estrutura: divisão em partes/capítulos/atos/cenas/etc.
de versos oitava (oito), nona (nove), décima (dez), irregular (mais de dez versos).
Sim. Quantos? Não. Qual?

• Rima interna – a correspondência de sons verifica-se no interior dos versos. Tema:


SOBRE
Ex.: “irei beber a luz e o amanhecer” (Sophia de Mello Breyner)
A HISTÓRIA, Acontecimentos principais:
• Rima de sons finais ou rima externa – a correspondência de sons verifica-se no final dos versos: A AÇÃO
Outros acontecimentos:
– emparelhada (rima de sons em pares – aa, bb, cc, ...)
Esquema – interpolada ou intercalada (um tipo de som final intercala outro diferente – a b c a)
– cruzada (sons alternam entre versos ímpares e pares – a b a b a c a) SOBRE O ESPAÇO E O TEMPO O espaço:
rimático
(lugares e características
Na estrofe

• Rima encadeada – a última palavra de um verso rima com o meio do verso seguinte: principais) O tempo:
Ex.: "Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte" Protagonista(s):
Florbela Espanca
SOBRE Caracterização do(s) protagonista(s):
AS PERSONAGENS Outras personagens:
Em função da • Consoante (rimam vogais e consoantes)
Relevância para a compreensão da obra:
correspondência de sons • Toante (rimam só as vogais tónicas)

Tipo APRECIAÇÃO Descrição sucinta da obra:


de rima • Rica (a rima incide em unidades pertencentes a classes de palavras CRÍTICA Comentário crítico:
Em função da classe diferentes)
gramatical das palavras • Pobre (a rima incide em unidades que pertencem à mesma classe PONTOS DE CONTACTO / Obras do Programa estudadas:
de palavras) AFASTAMENTO COM… Outras formas de arte (filmes, peças de teatro,…):

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