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Anderson Jaime
1
Agradecimentos
Anderson Jaime
2
Todos direitos das ilustrações reservados aos
proprietários.
Qualquer tentativa de past copy ou comportamento
que ofenda os direitos do autor deste documento será
considerado crime. A luz da lei número 4/2001 de 27
de Fevereiro.
Editora: independente
Email do autor:
andersonfrank1914@gmail.com
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A Trágica Morte do Kafiri
4
Dizia o Kafiri na língua do patrão, porque o patrão, o
proibia de falar a sua língua materna, de ir aos
curandeiros e de dançar as danças que o faziam lembrar
com melancolia do sabor da liberdade.
5
Quem não temeria? homens que vieram salvar os
africanos e a salvação que eles tanto pregavam era a
escravidão?
Quem não temeria? Santos que estupraram nossas
mulheres, destruíram nossos impérios e venderam nossos
irmãos como se fosse frutas?
Eu ainda os temo!
6
Chamaram a nossa medicina tradicional de
curandeirismo, a deles de medicina ocidental.
7
Diga-me patrão, o'que nossas crianças fizeram para
serem vendidas como legumes?
Diga-me patrão, ser preto é um pecado capital? E se não
for, por que enviaste teus padres e cardeais para nos
caçarem como animais?
Diga-me patrão, de que cor é o meu sangue? O preto
não sangra? Não chora e não tem sentimentos? E se têm,
será que não ouviste os nossos gemidos?
8
Depois do patrão ter dito essas palavras, companheiros
de Kafiri permaneceram calados, engolindo as lágrimas
que saíam pelos olhos se recordando das vezes que
tinham dito para aquele rapaz não fazer perguntas.
Choravam no íntimo pensado em quantas vezes tinham
dito ao Kafiri para somente trabalhar.
9
O velho Maganizo e o Kafiri estavam destinados a forca.
Eles tinham somente uma noite.
O velho Maganizo olhou para o Kafiri com seus olhos
penetrantes e prosseguiu dizendo;
– Meu jovem, o que n'zungo te fez? Morrerás muito
jovem. Teus olhos ainda enxergam, teus pés ainda se
movem, teus braços são fortes e parecem saudáveis.
10
Nos dias que viu sua mulher ser estuprada enquanto
olhava, nos dias que viu seus filhos serem marcados com
ferro quente, nos dias que foi torturado calado e nos dias
que lhe foi roubado a liberdade.
E prosseguiu dizendo;
– Falaremos com nós mesmos, falaremos dos nossos
sonhos e das nossas lendas, dançaremos nossas danças e
contaremos nossos contos preto branco.
11
Naquela noite Kafiri e o velho Maganizo conversavam
sobre tudo e mais um pouco, o velho Maganizo se sentia
vivo novamente. Estava livre da escravidão mental,
pensava e não se achava inferior ao homem branco.
12
– Qual é o preço? Meu sangue? Tire se quiser, amanhã
não me servirá de nada, meus dedos ? Arranque, amanhã
esses dedos não me farão sair da sepultura. Seria a minha
alma? Tire de mim, talvez meu sofrimento acabe, mas
duvido que eu tenha uma alma. Eu sacrificaria tudo, por
liberdade e por mundo sem escravidão.
13
Depois do Kafiri ter dito essas palavras, o velho
Maganizo olhou fixamente para Kafiri e disse;
– Espero que encontre a independência que tanto procura
em outras eras e nos outros tempos.
E prosseguiu;
– Agora falarei com meus espíritos e pedirei para que
eles te dê outra vida, em troca da sua alma. Pedirei que
consumam teu corpo como sacrifício e rezarei para que
encontres a independência em outras eras.
14
Depois dessas palavras, o velho caiu ao chão, e quando
o Kafiri o perguntou sobre o que havia acontecido ele
disse que não recordava. Não recordava dos raios nem
das vozes estranhas, mas de uma coisa recordava, o
Kafiri voltaria a viver.
Os dois conversaram tanto que não perceberam que o
tempo tinha acabado e quando as suas consciências
voltaram para eles, já era de manhã.
15
Se eu pedir para calarem, cortem as vossas línguas.
Vocês existem para nos servir.
16
Morreu, derramando lágrimas de sangue e não de medo,
sim ele morreu, mas não morreu como um escravo.
Ele se entregou a agonia mas não amaldiçoou a sua cor.
Ele sentiu tudo e nada. Sentiu sua pele cair e seu crânio
arder e se entregou às chamas. Por fim, ele morreu.
17
Ressurreição do Kafiri
18
Dos raios mortíferos e assustadores apareceu o Kafiri,
todo pálido e assustado, parecia ter perdido a razão, mas
lá estava ele com um olhar radiante.
19
Também estava triste porque não voltaria a ver a sua
família, o velho Maganizo e seus companheiros, e ele
nem sabia que época era aquela.
20
O Kafiri entrou no carro, mas não sabia como e onde se
sentar. Depois de muitas tentativas o Kafiri conseguiu se
sentar.
O homem disse;
– Eu chamo-me João e o senhor?
Kafiri ficou perplexo – João? Como assim João?
Ele perguntou para si mesmo surpreso.
E pensou;
– Onde eu estou? Meus irmãos não falam a minha
língua, meus irmãos já não recebem o nome das nossas
terras. Recebem o nome do patrão! Meus irmãos já não
são Mazatoe e Maganizo. Meus irmãos são chamados de
João. Será que estou realmente livre?
21
Não tem mal algum em vestir pingentes da Europa, o
mal está em considerar eles superior aos nossos.
22
As pessoas ainda eram escravas! E não sabiam. Esse era
o pior tipo de escravo.
E Kafiri se perguntava;
De que independência dizem eles?
De que liberdade? Se somos todos escravos?
23
Somos chicoteados todos os dias pelo patrão, temos
coleiras invisíveis, esse sistema capitalista.
Se não somos escravos de nós mesmos, somos escravos
do sistema.
De que liberdade vocês dizem?
De que independência vocês dizem?
24
Teve saudades das danças que os escravos faziam e dos
contos preto branco que os velhotes contavam nas
fogueiras.
Viveu por 2 anos no mundo dos africanos independentes
e não se sentia livre.
E no fim dos 2 anos ele foi para uma mata onde
pretendia tirar a própria vida, não suportava o sistema.
Não suportava a escravidão.
Quando finalmente colocou a corda sobre o pescoço lhe
vieram perguntas que fizeram parar o tempo enquanto
perdia respiração e o coração falhava, ele pensava;
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