Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
pareciam mais estar em uma festa, do que em um
sepultamento.
2
árabe “Os fins dos dias no paraíso”. Assim começou a
nossa história, a deles, ou seja, de quem for, a história
do cemitério, das almas que ali habitam.
3
sorrir e nem de chorar com a vida, nem sabem que
perderam a vida, pois nem sabem que as tinha.
4
Enquanto esta risonha richa se seguia, as crianças
continuavam a pular de túmulo em túmulo, até que
acordaram a Chorona. Pra quê? Fazia-se meio dia, o sol
a pino, sombras só na ilusão de seus pensamentos.
Tentaram se esconder, pois sabiam que do jazigo da
Chorona, só sairia lamento, coisa mais chata. Crianças
endiabradas! Pensaram todos! Pra quê despertar a
Chorona? O dia mal estava começando e havia uma
semana que a chorona estava dormindo em seu leito,
sem reclamar.~
5
pregressa vida, esperando ser acompanhada, ela já se
deu mal faz tempo, enquanto ela está aqui, no mundo
entre vivos e mortos, o seu ex- pretendido está a gozar
da vida. A coitada fez um pacto de vida e morte, depois
que sua família não o queria. Fossem antes eles um
casal de homossexuais, pois ninguém meteria a colher,
sabendo que um era virado na giraia, nem se
meteriam. Disse uma pobre alma, de um defunto
antigo. Encostado em seu tumulo, ele acendia seu
cachimbo.
6
a este calvário, pois aqui mais parece que todos são
santos. Deixa estar, aqui não vale cor, raça, credo ou
aptidão sexual, todos, dos mais novos aos mais velhos
estamos fadados a esperar pelo anjo que nos leve para
outro lugar.
-Sinto muito lhe dizer Dr. Setubal, mas nós, como você
diz, os pretos, temos sim vozes, e ela é da mesma cor
que a sua! Não é porque você morreu banqueiro, que
banqueiro está, ou banqueiro estará! Assim como eu
que morri escrava, mas meu patrão benfeitor, me
enterrou neste solo santo, ao seu lado, depois que fui
ama de leite dele, escrava de dentro, mucama da casa,
me fez diferente de todos, sim sinhô. Perdão meu
amigo, se é que posso assim chama-lo, mas você vai
fazer o quê? Me botar no tronco? No pelourinho?
Deixe pra lá sua moda, este tempo já passou. E cada
vez mais passa, ainda mais pra nós, que nem vida
temos, ainda mais moda. Só peço, deixem a menina em
paz, ela ceifou sua vida, precisa de descanso, não
estava bem. Ainda mais se acreditou em homem, que
miséria é esta? Ela no mínimo é uma miserável.
7
De repente as nuvens nebulosas se abrem, dela desce
um anjo, soltando penas, meio troncho, cansado.
8
- Cadê meu amor? Era pra ele estar junto a mim, ele me
disse que estaria comigo! Será que está em outro
lugar? Mas como se só há um cemitério nesta cidade?
9
inferno, e você acha que eu ficarei calado? Sei que não
será este anjo troncho que virá nos buscar, mas sim um
demônio bem fornido, com asas negras crepitantes,
não mais um anjo cansado que irá nos arrastar, vou
dizendo, aproveitei este mundo, e o que dele restou,
não tenha pena de ninguém. Se eu não me arrependo?
Só pergunto, se não fosse eu quem seria a meter terror
neste mundo? Alguém tem que meter terror, senão
não seria a terra, seria o paraíso. Fiz meu trabalho. –
Sacudindo a pança, soltando uma bela gargalha, disse -
- Domenico Albuquerque?
10
Neste momento o cemitério fez um silêncio sepulcral.
11
Em outro local do cemitério Anastácia, a preta gorda se
debatia com Setubal.
12
sabedoria da morte perpétua do seu ser. A ti foi dada
uma segunda chance, antes de entrar no mundo de
Ades, ou fica com uma preta, ou queimará no inferno,
pois neste mundo fez, e antes de ir tem que pagar a
conta.
13
14