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15 de maio de 2006

Mais uma noite chuvosa em Florianópolis para me acompanhar na


minha bebedeira noturna, hoje faz um ano que ela se foi e o
mundo não parece mais suportável do que há um ano atrás. O
Morgan veio me visitar hoje, o desgraçado nunca desiste de mim
e faz mais por mim do que eu mesmo, talvez na esperança de
voltarmos aos velhos tempos de policia.
Eu acho que ele é um baita de um iludido, mas também é o
melhor cara que eu já conheci, para infelicidade dele eu não
acho que tenha volta pra mim. Essas noites cinzas passam
rápido, ainda sinto como se estivesse no mesmo dia que entrei
no meu apartamento e encontrei ela sangrando no chão, aquele
dia de merda.
Eu tento falar para Morgan e para Alice, já deu pra mim, só to
esperando a terra decidir me engolir de vez, morrer como o
covarde de merda que eu virei. Esse ódio queima no meu peito
junto com essa porra dessa saudade do caralho. Eu minto pra
mim mesmo dizendo que quero reencontrar com ela, a real é que
eu torço para esse uísque barato me afogar antes que eu me
levante amanhã, porque se eu me levantar o mundo vai sentir a
minha vingança.

28 de agosto de 2006

O tornado de merda na minha vida não para. Eu virei a merda de


um justiceiro do caralho, recentemente eu estive andando pelas
ruas e vi um merda assaltando uma velha e dando uma porrada na
cara dela. Isso fez o meu coração bater forte pela primeira
vez nesses últimos tempos e quando me vi já tava em cima do
desgraçado socando a cara dele contra o chão. Não sei o que
deu em mim mas eu não consegui parar até ver aquele filho da
puta morrer, na hora eu fiquei em choque e não acreditei no
que fiz, vomitei e saí correndo acho até que um velho me viu
saindo do beco mas eu caguei pra isso. Pensei melhor no que eu
fiz e acho que sei a palavra que usam para isso: Justiça.

4 de setembro de 2006

Puta que pariu, aquele velho do beco, aquele velho estranho e


pálido apareceu na minha casa. Ele disse que meu juízo era bom
e que eu seria uma ótima adição aos guerreiros de Haqim, seja
la o que for essa porra, e então partiu pra cima de mim como
um flash, não deu tempo nem de piscar e ele ja tava pulando no
meu pescoço. Eu não lembro o que rolou depois disso, acordei
só a algumas horas atrás com uma fome do caralho, umas bolsas
de sangue suspeitas na minha geladeira e um bilhete escrito
com o endereço de uma “Mesquita al Khalifah”, eu não vou nem
fodendo. Até tentei botar o estômago para digerir alguma coisa
mas não importa o que eu coma, volta logo em seguida, eu acho
que to ficando maluco porque aquele sangue na geladeira tá
começando a parecer apetitoso. Caralho, o que tá rolando nessa
merda?

6 de setembro de 2006

Eu fui na tal mesquita, porque eu não tava entendendo oque ta


rolando comigo. Quando eu cheguei lá, eu fui recebido pelo
mesmo velho que se apresentou como Saleet el-Khalaf, ele me
contou uma história gigantesca sobre monstros e figuras
históricas e como eu fui escolhido do fundo do poço para me
tornar um “Filho de Haqim”, me contou uma conspiração sobre
vampiros dominando o governo pelas sombras e sobre linhagens
de sangue vampíricas. Aparentemente ele é meu “Senhor”, o
responsável por me “Abraçar” e por me educar nesse mundo
noturno. Pelas histórias do velho, minha linhagem de sangue é
a de vampiros árabes justiceiros chamados Banu Haqim.
É claro que eu não acreditei em uma palavra do que aquele
velho gagá falou, mas eu fui na onda, senti uma ponta de
verdade ou sei lá, vai ver ele falou tudo de uma forma
metafórica e eu não me toquei.

23 de janeiro de 2007

Não sei o que me tornei, a fúria e a fome só somem quando eu


tiro a vida dos criminosos que eu encontro nas ruas. Saleet
tinha falado toda a verdade e agora eu estou em um tipo de
regime de treinamento, tenho que treinar combate com espadas,
furtividade, assassinato e meus recém adquiridos poderes.
Parece que eu fiquei capaz de correr sobrenaturalmente rápido,
é uma viagem, além de me ocultar e fazer um tipo de bruxaria
que chamam de Quietus. Vou assumir que achei esse tal de
Quietus uma chatice, Saleet e os outros Banu Haqim querem que
eu estude isso como a porra de um graduando de faculdade. Eles
tão loucos se tão achando que eu vou perder meu tempo com
isso.

15 de maio de 2022

(Esse trecho foi transcrito de uma conversa entre o cainita


que foi rebatizado como Perdigueiro após terminar seus 10 anos
de treinamento e sua amante Cassandra, uma cainita do clã
Lasombra)

Cass: O que foi? Por que tá tão pensativo?


Perdigueiro: Hoje é aniversário da morte da minha esposa.
Cass: Caramba…você sabe mesmo como acabar com o clima, ein.
Perdigueiro: Vai se ferrar, você quem perguntou.
Cass: É verdade, mas ainda sim é um saco estar nua do lado de
um cara e ele ficar pensando na esposa morta, aprenda a ter um
pouco de decência. O que rolou com ela?
Perdigueiro: Tá com ciúmes? Ela não é do tipo de morta que
ainda anda por aí igual a você, pode ficar relaxada. Enfim,
quando eu ainda era mortal eu trabalhava na polícia, era
detetive do departamento de homicídios. Se lembra daqueles
assassinatos em série de 2004?
Cass: Uhum, sei…
Perdigueiro: Eu fui encarregado da investigação e sem querer
me gabar, eu sou muito bom no que eu faço. Precisavam de
alguém realmente bom pra tirar alguma pista daqueles corpos
destroçados e eu era esse cara. Eu comecei a conectar algumas
pistas e acho que consegui até começar a fazer algum maldito
progresso… mas acho que o assassino também tava ligado nisso.
Quando eu voltei pra casa depois de um dia de trabalho, eu
entrei no meu apartamento e vi Laura cheia de sangue no chão,
o assassino invadiu nosso apartamento e matou ela seguindo o
mesmo modus operandi.
Cass: E de todas as pessoas VOCÊ não foi atrás do assassino
até a morte? Por que?
Perdigueiro: Quando minha esposa morreu, eu perdi minha
cabeça, só pensava em vingança. Comecei a beber igual a um
condenado e não tinha vontade nem de sair da cama se não fosse
pra comprar uísque. E no pior momento da minha vida, o Saleet
me encontrou fazendo merda e resolveu me transformar na sua
próxima cria. Enfim, foi isso que rolou. Eu não fui atrás do
cara na época porque eu me acovardei.
Cass: Como você sabe que era um cara?
Perdigueiro: Coisa de detetive, você não entenderia. Mas algum
dia aquele verme vai conhecer a minha vingança, não importa
quem ou o que se meta no meu caminho, eu vou degolar todos até
ele conhecer a justiça.
Cass: Eu adoro quando você fica com cara de mau e todo cheio
de mistério, é quando seu sangue fica mais saboroso.
Perdigueiro: Você também deveria aprender a ter um pouco de
decência, sabia?
Cass: Sei, temos isso em comum. Acho que é por isso que nos
damos bem.
Perdigueiro: Eu acho que é por que você é uma das poucas com
força pra me parar caso eu perca o controle.

20 de abril de 2023
(Uma série de assassinatos seguindo o modus operandi do serial
killer Serafim Escarlate volta a acontecer em Grande
Florianópolis, Perdigueiro é encarregado pelos mais velhos do
clã Banu Haqim a investigar e levar a justiça até o assassino)
Saleet: Está contente em receber essa tarefa, minha Criança?
Perdigueiro: Não, mas estou satisfeito.
Saleet: Foi de uma extrema falta de sabedoria sua desdenhar
dos ensinamentos antigos do Quietus.
Perdigueiro: Talvez tenha sido mesmo mas você também era um
péssimo professor dessa coisa.
Saleet: Leve esse códice e estude por conta própria, você vai
precisar conhecer o seu sangue antes de evoluir como filho de
Haqim. Você já sabe o básico de Quietus, só precisa aprender a
usar seu sangue para bota-lo em prática e se auto aprimorar.
Perdigueiro: Você já é antigo, eu acredito no que diz, velho.
Vou levar o livro.
(Perdigueiro recomeça seus estudos em Quietus na fraca
esperança de que vá ajudar na sua jornada por vingança.)

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