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Morfologia da Língua Portuguesa UNIDADE 02 AULA 04

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

Processos de formação
de palavras I: derivação

1 Objetivos da aprendizagem

„„ Conceituar o processo de derivação;


„„ Classificar os tipos de derivação em Língua Portuguesa.
Processos de formação de palavras I: derivação

2 Começando a história

Olá, aluno! Vamos começar mais uma aula da disciplina de Morfologia da Língua
Portuguesa.

Figura 1 Nesta aula, a quarta da disciplina, vamos falar


sobre um dos processos que é responsável pela
formação de uma incontável parte dos vocábulos
que utilizamos em nossa língua: a derivação.

Mas o que significa derivar? Como esse termo é


empregado no estudo da Morfologia da Língua
Portuguesa? E mais, como o processo chamado
de derivação ocorre?

Segundo Bechara (2009, p. 268), derivar significa ter origem, provir de. Desse
modo, a ideia que o verbo derivar expressa justifica a adoção do termo derivação
para intitular um dos processos através do qual as palavras se originam.

Tendo discutido brevemente sobre o que é a derivação em sua terminologia,


vamos tecer conhecimento e refletir sobre como esse processo se desenvolve.

3 Tecendo conhecimento

Na aula anterior, estudamos sobre os elementos formadores das palavras, ou seja,


discutimos sobre os “pedaços” que, juntos, estruturam as palavras que compõem
a nossa língua. Essas noções serão úteis para compreendermos o processo de
derivação, pois, a todo instante, discutiremos como os tais “pedaços” se unem
para fazer com que novas palavras derivem de outras.

3.1 A derivação

Dubois et al. (2006, p. 172) definem a derivação como um “processo de formação


das unidades léxicas”. Esse processo ocorre através do acréscimo de prefixos e/
ou sufixos à raiz de uma palavra.

Para que se formem, no entanto, as unidades léxicas chamadas de derivadas,


precisa-se de uma base, que corresponde à “forma a partir da qual se gera uma
nova palavra” (FERRARI NETO, 2011, p. 58). A compreensão do conceito BASE
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associa-se, em outras palavras, ao que tradicionalmente conhecemos como


palavra primitiva, ou seja, o vocábulo inicial, com base no qual as palavras
derivadas se formam.

Vejamos o grupo de palavras a seguir:

PEDRA

PEDREIRO

PEDRINHA

A palavra pedra é a base do grupo, ou seja, é a partir dela que as palavras


derivadas pedreiro e pedrinha surgem.

Não podemos, entretanto, confundir a noção de base com as noções de raiz e


radical. O primeiro termo diz respeito ao elemento comum a todas as palavras
de um grupo lexical. É na raiz que está marcado o significado básico deste grupo.
A noção de radical, por sua vez, remete à parte do vocábulo que está presente
em todas as suas flexões (FERRARI NETO, 2011, p. 59). O radical pode ou não
coincidir com a raiz da palavra.

Desse modo, no exemplo dado anteriormente, em que pedra é a base do grupo


lexical formado ainda por pedreiro e pedrinha, temos como raiz a estrutura pedr-,
comum às palavras que compõem este grupo. No caso deste grupo, o radical
coincide com a raiz, sendo também representado por pedr-.

3.2 Os tipos de derivação

O processo de derivação pode ocorrer de seis diferentes formas, sendo quatro


delas dependentes do que chamamos de afixos, ou seja, elementos que não são
fixos à palavra, mas que se unem à raiz para transformar a base, dando origem
a novos vocábulos derivados.

Os seis tipos de derivação são: derivação prefixal, derivação sufixal, derivação


prefixal e sufixal, derivação parassintética, derivação regressiva e derivação
imprópria.

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3.2.1 Derivação prefixal

A derivação prefixal ocorre quando um prefixo é adicionado ao morfema lexical.

Exemplos:

IN- FELIZ INFELIZ

DES- LEAL DESLEAL

3.2.2 Derivação sufixal

Na derivação sufixal, um sufixo é acrescentado ao morfema lexical, formando


um novo vocábulo.

Exemplos:

FELIZ -DADE FELICIDADE

LEAL -DADE LEALDADE

Observe que, na palavra felicidade, derivada por sufixação, ocorreu uma alternância
de z para c, além do aparecimento da vogal de ligação i.

3.2.3 Derivação prefixal e sufixal

A derivação prefixal e sufixal ocorre quando, simultaneamente, são acrescentados


um prefixo e um sufixo ao morfema lexical, podendo, a qualquer instante, ser
retirado ou o prefixo ou o sufixo, de modo que a palavra restante faça parte do
inventário da língua.
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Exemplos:

IN- FELIZ -DADE INFELICIDADE

DES- LEAL -DADE DESLEALDADE

3.2.4 Derivação parassintética

Embora ocorra, assim como a derivação prefixal e sufixal, através do acréscimo


simultâneo de um prefixo e um sufixo ao morfema lexical, este processo
derivacional distingue-se, pois a retirada ou do prefixo ou do sufixo pode
transformar a palavra formada pela parassíntese em um termo inexistente no
inventário da Língua Portuguesa.

Exemplo:

EN- TARDE -ECER ENTARDECER

Através do acréscimo dos afixos en- e -ecer à base tarde, formou-se a palavra
entardecer. Se retirarmos o prefixo, teremos *tardecer, e se retirarmos o sufixo,
teremos *entarde, ambos inexistentes na Língua Portuguesa, o que ilustra
o processo em que a palavra só é derivada obrigatoriamente pela afixação
simultânea.

O asterisco (*) ao lado dos termos tardecer e entarde é utilizado para indicar
que tais termos são agramaticais, ou seja, não existem na nossa língua.

A parassíntese é, basicamente, responsável pela formação de verbos, em


especial dos que exprimem mudança de estado ou fenômeno, como: entardecer,
amanhecer, rejuvenescer. Porém é também responsável pela origem de alguns
adjetivos, como: desalmado (SILVA & KOCH, 2005, p. 40).
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3.2.5 Derivação regressiva

Dos processos derivacionais, a derivação regressiva é o único que não ocorre


pelo acréscimo de afixos. Muito pelo contrário, as palavras formadas por este
processo perdem uma letra em relação à palavra da qual tiveram origem.

A derivação regressiva ocorre a partir da substituição da desinência verbal do


infinitivo (r) e da vogal temática verbal pelas vogais temáticas nominais -a, -e,
-o (SILVA & KOCH, 2005, p. 40). Associa-se, geralmente, o processo de derivação
regressiva à criação de substantivos que indicam ação.

Exemplos:

Verbo
AJUDAR CORTAR PULAR

(a) AJUDA (o) CORTE (o) PULO


Substantivo

3.2.6 Derivação imprópria

O processo de derivação imprópria baseia-se na criatividade e no enriquecimento


vocabular, pois se dá através do emprego das palavras de forma a modificar a
sua classe gramatical original.

Exemplos:

O vestido AZUL de Maria.


ADJETIVO

AZUL é minha cor favorita.


SUBSTANTIVO

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Após discutirmos o processo de derivação em Língua Portuguesa, vamos aos


exercícios, que ajudarão a fixar o conteúdo.

Exercitando

1) Leia o “Soneto de Fidelidade”, de Vinícius de Moraes, e observe as palavras


destacadas. Todas passaram por processo derivacional. Explique como
ocorreu a derivação em cada um dos vocábulos.

De tudo ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

2) Observe a lista de palavras a seguir, proceda à decomposição delas e indique


o processo derivacional através do qual cada uma se formou. Siga o exemplo.

a) Deslealdade: Des- (prefixo) + leal (radical) + -dade (sufixo) – Derivação


Prefixal e Sufixal.
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b) Infiel:

c) Endurecer:

d) Improvável:

e) Felizmente:

f) Inesquecível:

g) Amanhecer:

3) Observe o trecho a seguir.

O céu amanheceu azul, limpo, sem nuvens. Aquele azul motivou minha ida à bela
praia de Ipanema. Quando cheguei, avistei a bela que conheci numa festa no fim
de semana anterior. Logo pensei: “essa amizade vai crescer...”. E foi o que aconteceu,
após vários anos, o crescer de nossa amizade se torna cada vez mais concreto.

Identifique no trecho as ocorrências de derivação imprópria, explicando como


ocorreu a alteração na classe gramatical em cada exemplo desta derivação.

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4 Aprofundando seu conhecimento

Sabemos, desde os bancos do Ensino Fundamental e Médio, que os prefixos e


sufixos utilizados na Língua Portuguesa para a formação de palavras através da
derivação têm origem, basicamente, nas línguas grega e latina.

Mas como trabalhar este conceito em sala de aula?

Indicamos, como forma de você aprofundar seu conhecimento sobre o tema, um


artigo apresentado ao Curso de Especialização em Gramática e Ensino de Língua
Portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela professora Camila
Timm. Através do link abaixo, você terá acesso ao portal de artigos da UFRGS
e poderá acessar o texto sobre o ensino de prefixos e sufixos gregos e latinos.
àà http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/60667

O objetivo do trabalho indicado para a leitura é “abordar a importância de se


estudar os afixos gregos e latinos nas aulas de língua portuguesa” (TIMM, 2011).

5 Trocando em miúdos

Vimos, durante a aula, que a derivação é um dos processos mais importantes


na formação das palavras da Língua Portuguesa e que pode ocorrer de seis
diferentes formas.

Em quatro dessas formas – derivação prefixal, derivação sufixal, derivação prefixal


e sufixal, derivação parassintética – surgem os afixos, que são acrescentados ao
morfema lexical para a formação de novas palavras.

Discutimos também que, muito embora apresentem um processo muito


semelhante, as derivações prefixal e sufixal e parassintética distinguem-se, e
verificar a distinção é simples: basta retirar ou o prefixo ou o sufixo e verificar se
a palavra restante ainda faz parte do inventário da nossa língua.

Os dois outros tipos de derivação, regressiva e imprópria, não estão relacionados


ao uso de afixos. Muito pelo contrário: na derivação regressiva, há substituição
de dois elementos (desinência verbal de infinitivo e vogal temática verbal) por
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apenas um outro (vogal temática nominal). Já na derivação imprópria, o que


ocorre é “uma inversão de papéis”, isto é, uma mesma palavra é utilizada em
contextos diferentes, assumindo classes gramaticais diferentes.

6 Autoavaliando

Sabemos que o estudo da derivação não é algo com que você, estudante, só se
deparou no curso de Letras. Pelo contrário, este assunto já deve ter sido visto
pelo menos duas vezes, uma no Ensino Fundamental e outra no Ensino Médio.
Porém ficam os questionamentos:

1) Será que eu me lembrava de todas as informações discutidas na aula?


2) Com base na minha experiência como estudante e usuário da Língua
Portuguesa, será que, quando eu me deparei com este assunto em
momentos educacionais anteriores, eu estava preparado para desenvolver
um pensamento mais crítico sobre a derivação?
3) Como eu posso criar estratégias e atividades para discutir essas informações
no momento em que eu estiver lecionando Morfologia?

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Referências

BECHARA, E. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora


Nova Fronteira, 2009.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1986.

FERRARI NETO, J. Morfologia Derivacional. In: ______. A morfologia e sua


interface com a sintaxe e com o discurso (Org.). João Pessoa: Editora da
UFPB, 2011.

SILVA, M. C. P. de S. KOCH, I. G. V. Linguística aplicada ao Português: Morfologia.


15. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

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