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Morfologia da Língua Portuguesa UNIDADE 02 AULA 05

INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA

Processo de formação de
palavras II: composição
e outros processos

1 Objetivos da aprendizagem

„„ Conceituar o processo de composição;


„„ Apresentar os tipos de composição em Língua Portuguesa;
„„ Expor os demais processos de formação de vocábulos em
Língua Portuguesa: abreviação vocabular, neologismo,
estrangeirismo, hibridismo, onomatopeia e siglas.
Processo de formação de palavras II: composição e outros processos

2 Começando a história

Olá, aluno! Chegamos à quinta aula da disciplina de Morfologia da Língua


Portuguesa. Na aula passada, começamos a estudar os processos através dos
quais as palavras da nossa língua se formam. Estudamos, pois, o processo de
derivação.

Mas é claro que a nossa língua não se forma apenas com a derivação. Desse modo,
veremos esta semana os demais processos dos quais os falantes e usuários da
língua lançam mão para que as palavras se formem.

3 Tecendo conhecimento

Através dos processos de derivação prefixal, sufixal e parassintética, o que


acontece com as palavras é o uso de afixos junto a raízes. Mas não são apenas
os afixos que podem ser acrescentados a palavras.

No primeiro processo de formação de palavras que veremos na presente aula,


discutiremos a possibilidade de juntar duas palavras para dar origem a outras.

3.1 A composição

A composição se caracteriza pela criação de novos vocábulos através da junção


de outras já existentes. Como descrevem Silva e Koch (2005, p. 41), na composição
dois morfemas lexicais são combinados e, entre eles, ocorre uma fusão semântica
de duas formas.

Na primeira forma, a fusão semântica se manifesta de forma menos complexa,


como na palavra guarda-roupa, em que o significado de cada item continua claro.
Porém, na segunda forma, a complexidade semântica é maior e o significado
da palavra formada pela junção apresenta um significado praticamente novo
e distinto daquele apresentado pelos elementos lexicais isoladamente, como
exemplo, temos a palavra pé-de-moleque.

Entretanto, não é só pela complexidade semântica que o processo de composição


se distingue. A forma como este processo ocorre também apresenta diferenças,
que, por sua vez, fazem com que a composição seja classificada como justaposição
ou aglutinação.

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3.1.1 Composição por justaposição

O processo de composição por justaposição apresenta maior simplicidade do


ponto de vista da combinação de elementos, pois ocorre sem que nenhum dos
vocábulos envolvidos perca em termos estruturais, ou seja, neste processo os
vocábulos se combinam lado a lado e mantêm ambos a sua autonomia fonética.

Os vocábulos compostos por justaposição podem se apresentar separados por


hífen ou juntos, sem o hífen.

O uso do hífen é um tema bastante discutido atualmente, pois, com a


reforma ortográfica pela qual passou a Língua Portuguesa recentemente,
algumas palavras que anteriormente apresentavam hífen, passaram a
ser escritas sem ele. Sobre isso, aprofundaremos nosso conhecimento
mais adiante.

Vejamos exemplos deste processo de formação de palavras:

a) passa + tempo = passatempo


b) amor + perfeito = amor-perfeito
c) saca + rolha = saca-rolha

É interessante, ainda, que observemos a palavra girassol. Vemos que ela se


forma através da junção de gira e sol. Mas de onde vem o segundo “s” presente
na palavra? A resposta é simples, embora na composição por justaposição não
haja alterações nos vocábulos envolvidos, neste caso, para cumprir uma norma
da língua, outro “s” entra na palavra, de modo a manter o som de /S/ entre as
duas vogais.

3.1.2 Composição por aglutinação

O segundo processo de composição é conhecido como aglutinação. A própria


forma de nomear o processo já dá pistas de como ele ocorre, ou seja, aglutina
os vocábulos envolvidos de modo que estes se fundem num todo fonético, com
um único acento. Neste processo também há a perda ou alteração de alguns
dos elementos presentes nos vocábulos a serem fundidos.

Vejamos exemplos deste processo:

a) plano + alto = planalto


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b) água + ardente = aguardente


c) vinho + acre = vinagre

Observemos também a palavra pontiagudo, que se forma pela aglutinação


de ponta e agudo. Da mesma forma que nos perguntamos de onde vinha o
segundo “s” da palavra girassol na composição por justaposição, podemos nos
questionar sobre a origem da letra “i” em pontiagudo. Para responder a esta
pergunta, pedimos que você leia em voz alta a palavra a seguir, exatamente
como ela está gravada: PONTAGUDO.

Conseguiu ler? Achou algo estranho? Pois bem, algumas vezes é necessário que
utilizemos vogais ou consoantes, que anteriormente não estavam presentes na
palavra, para que a pronúncia seja melhorada e facilitada para o falante. A essas
vogais e consoantes damos o nome de vogal ou consoante de ligação. Elas não
alteram em nada a estrutura da palavra, apenas auxiliam a produção vocabular.

3.2 Outros processos de formação de palavras

Após vermos os processos de derivação (na aula passada) e de composição (no


tópico anterior), veremos os demais processos pelos quais as palavras da Língua
Portuguesa podem se formar.

3.2.1 Abreviação vocabular

O processo de formação de palavras por abreviação vocabular ocorre através


da redução de uma palavra até um ponto máximo sem que seu significado seja
prejudicado. Este é um processo relacionado à economia, como mostram Silva
e Koch (2005, p. 42), a lei do menor esforço. As palavras que se formam por este
processo são constantemente utilizadas no nosso cotidiano, de modo que, às
vezes, até nos esquecemos de suas formas longas.

Exemplos deste processo são:

a) motocicleta que se transforma em moto


b) automóvel que se transforma em auto
c) fotografia que se transforma em foto
d) pneumático que se transforma em pneu

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3.2.2 Neologismo

O processo de formação de palavras por neologismo pode ser compreendido


partindo das considerações de Sapir (1971) que apontam para o fato de que a
língua não tem sua existência isolada de uma cultura, ou seja, é um instrumento
capaz de denotar aspectos referentes à história, ao modo de vida, às mudanças
de pensamento da sociedade e à evolução tecnológica.

O neologismo, dessa forma, caracteriza-se pela criação de novas palavras dentro


de um contexto que envolve tecnologia e evolução sociocultural. A aceitação
ou a rejeição do neologismo, entretanto, são fatores determinados:

I) pelo caráter linguístico, pois a criação lexical deve estar de acordo com as
regras do sistema da língua;
II) pelo social, que implica o prestígio do criador, do grupo social ou do meio
de difusão do neologismo;
III) pelo psicológico e social, que determinam a concorrência entre morfemas, o
prestígio de algumas formas e o não prestígio de outras (ALVES, 2000, p. 111).
Muitos exemplos de neologismos surgem a partir de um vocábulo importado
de outro sistema linguístico. A palavra blogueiro, por exemplo, que é utilizada no
contexto da comunicação virtual para nomear o indivíduo que possui um blog
na internet, surgiu da palavra de Língua Inglesa blog, e consolidou-se através
da utilização de um sufixo (-eiro) da Língua Portuguesa que expressa a ideia de
ocupação.

3.2.3 Estrangeirismo

Muito embora seja fácil confundir as noções de neologismo e estrangeirismo,


tratamos aqui de dois processos distintos. O estrangeirismo se caracteriza pelo
empréstimo de uma palavra de uma língua estrangeira e sua posterior utilização.

Os vocábulos resultantes desse processo estão, assim como os de neologismo,


comumente associados ao avanço tecnológico. As palavras internet, mouse e
pendrive são exemplos do processo de estrangeirismo, pois, muito embora sejam
palavras da Língua Inglesa, são normalmente utilizadas por falantes nativos da
Língua Portuguesa inseridos em contextos e práticas sociais situadas no espaço
onde a Língua Portuguesa é a língua de registro oficial.

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3.2.4 Hibridismo

O hibridismo se caracteriza pela junção, através de composição por justaposição,


de dois radicais de origens linguísticas diferentes. Como em:

I) auto (grego) + clave (latim) = autoclave


II) socio (latim) + logia (grego) = sociologia
Há, porém, duas vertentes que tratam do hibridismo na Língua Portuguesa. Em
uma delas, o hibridismo se constitui como processo de formação de palavras.
Já em uma segunda perspectiva, o hibridismo não é considerado um processo
de formação de palavras.

Silva e Koch (2005, p. 43), por exemplo, defendem que o hibridismo é um processo
de formação de palavras baseando-se no fato de que o falante nativo (exceto os
estudiosos da língua) não consegue depreender sincronicamente a origem do
vocábulo, ainda que note a existência de dois morfemas lexicais.

3.2.5 Onomatopeia

A onomatopeia é considerada um processo de formação de palavras e consiste


na reduplicação silábica idêntica ou quase idêntica com o intuito de imitar sons
emitidos por animais ou objetos.

Como exemplos, podemos citar:

I) tique-taque (do relógio)


II) zum-zum-zum (das abelhas)

3.2.6 Siglas

Por fim, temos um processo que consiste na redução de longos títulos à utilização
das letras iniciais das palavras que os compõem. A esse processo damos o nome
se siglas. São exemplos:

I) IFPB – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia


II) SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor
III) UTI – Unidade de Terapia Intensiva.

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Sobre a utilização das siglas, é sempre bom lembrar que podemos


empregá-las sem problemas em textos, porém, para que o leitor possa
compreendê-la, é preciso que citemos o título inteiro junto à primeira vez
que utilizamos a sigla. A partir da segunda citação, entretanto, a sigla pode
ser utilizada sem a necessidade de repetir o título inteiro.

Após discutirmos um pouco sobre processos de formação de palavras, vamos


exercitar o conhecimento, respondendo aos quesitos que seguem.

Exercitando

1) Identifique o processo de formação das palavras a seguir:

a) toc-toc:

b) pernalta:

c) cine:

d) e-mail:

e) antenado:

f) mais-que-perfeito:

2) As siglas representam um processo de formação de palavras recorrente em


nosso cotidiano. Indique o título completo que as siglas abaixo representam:

a) MST

b) FMI

c) PAC

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d) SENAC

e) EaD

f) FGTS

g) LBV

3) Escreva um pequeno texto utilizando exemplos dos processos de formação


de palavras estudados nesta aula. Em seguida, destaque os exemplos do
texto e classifique-os.

4 Praticando

Como vimos durante a discussão dos processos de neologismo e estrangeirismo,


a presença e a evolução da tecnologia são fatores que influenciam os dois
processos de formação de palavras mencionados.

Para enfatizar este assunto, na atividade prática desta semana, você deverá:

1) Selecionar três anúncios publicitários de materiais e/ou serviços relacionados


à tecnologia (anúncios de celulares, computadores, conserto destes
objetos). É indispensável que pelo menos um dos processos – neologismo
ou estrangeirismo – esteja presente no anúncio;
2) Observar a ocorrência dos processos de neologismo e estrangeirismo, e,
em seguida, explicá-los, justificando a classificação como neologismo ou
estrangeirismo;
3) Pesquisar sobre a origem dos vocábulos destacados. De que línguas vieram?
Como é o uso e a aceitação destes vocábulos dentro de nossa sociedade?
4) Montar o trabalho em um slide para que você possa, posteriormente,
apresentar sua produção durante uma aula sobre tais processos de formação
de palavras.

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5 Aprofundando seu conhecimento

Como discutimos quando falávamos sobre o processo Figura 1


de composição por justaposição, o hífen é um assunto
envolvido na Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa,
gerada pelo Novo Acordo Ortográfico.

Certamente, você já ouviu falar bastante sobre o


assunto, quer seja na escola, no trabalho, ou até mesmo
nos telejornais. Porém é sempre bom ficar atento às
mudanças e estar atualizado com as novidades da
nossa língua.

Para isso, indicamos a leitura do livro Novo Acordo Ortográfico Comentado e


Ilustrado, publicado pela professora Mônica Maria Pereira da Silva em parceria com
o professor Willy Paredes Soares, pela Editora Grafset, que trata das mudanças
sistematizadas a partir do Decreto de 1990, que institui mudanças nas 21 bases
da ortografia da Língua Portuguesa.

Indicamos, ainda, assistir ao vídeo que trata sobre o assunto no link:


àà https://www.youtube.com/watch?v=90yNT5MG6-k

Figura 2

6 Trocando em miúdos

Vimos, na aula que estamos encerrando, mais alguns processos de formação


de palavras. A começar pela composição, que pode se dá de duas formas:
justaposição e aglutinação. A diferença entre elas é que, na primeira, não há
perda ou alteração fonológica; já na segunda, ocorre uma junção fonológica,
de modo que as palavras que se juntam tornam-se um todo fonético.

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Processo de formação de palavras II: composição e outros processos

Discutimos também os processos de neologismo e estrangeirismo que, embora


semelhantes, são distintos. Ambos, porém, são motivados por fatores sociais e
evolutivos, tanto cultural quanto tecnologicamente.

A noção de hibridismo também foi discutida e percebemos que há muita discussão


acerca desta noção. É ou não um novo processo de formação de palavras?

A abreviação vocabular e as siglas são dois processos que reduzem elementos


maiores. No primeiro, a palavra diminui até o ponto máximo que não comprometa
seu significado; no segundo, por sua vez, títulos longos são condensados através
da utilização das letras que iniciam as palavras que formam o título.

7 Autoavaliando

Continuando o raciocínio da autoavaliação da aula passada, vamos refletir sobre


nossas práticas, se professores de Língua Portuguesa, e sobre nossas experiências
como aprendizes de Língua Portuguesa.

Como a apresentação dos processos de formação de palavras que estudamos


nesta aula é geralmente realizada? De que maneira poderíamos tornar o tema
mais atrativo e despertar a curiosidade dos estudantes?

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Referências

ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1986.

SAPIR, Edward. A linguagem: introdução ao estudo da fala. 2. ed. Rio de Janeiro:


Acadêmica, 1971. (Tradução de J. Mattoso Câmara Jr.).

SILVA, M. C. P. de S.; KOCH, I. G. V. Linguística aplicada ao Português: Morfologia.


15. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

SILVA, Monica Maria Pereira; SOARES, Willy Paredes. Novo Acordo Ortográfico:
Comentado e Ilustrado. Ed. Grafset: João Pessoa, 2009.

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