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Maputo
2021
Epifânia Celestino Lissane
Maputo
2021
ii
Índice
Índice ........................................................................................................................................... ii
Lista de abreviaturas................................................................................................................... iv
Lista de tabelas ............................................................................................................................ v
Declaração .................................................................................................................................. vi
Dedicatória ................................................................................................................................ vii
Agradecimentos ........................................................................................................................ viii
Resumo ....................................................................................................................................... ix
Abstract ....................................................................................................................................... x
1. Introdução .............................................................................................................................. 11
1.1. Formulação do problema de pesquisa ............................................................................ 12
1.2. Objectivos da pesquisa ................................................................................................... 13
1.2.1. Geral: ...................................................................................................................... 13
1.2.2. Específicos: ............................................................................................................. 13
1.3. Justificativa e/ou motivação do Estudo .......................................................................... 14
1.4. Hipóteses de Estudo ....................................................................................................... 15
1.5. Análise do Programa de Português da 12ª classe do Ensino Secundário Geral. ............ 16
CAPÍTULO II ............................................................................................................................... 18
2. Fundamentação Teórica ......................................................................................................... 18
2.1. Pronome ......................................................................................................................... 18
2.2. O Pronome Oblíquo Átono “lhe” ................................................................................... 19
2.3. Distribuição dos clíticos pronominais ............................................................................ 19
2.4. O uso do “lhe” nas variedades do Português.................................................................. 24
2.4.1. O Pronome “lhe” no Português Brasileiro .............................................................. 24
2.4.2. O pronome “lhe” no Português Moçambicano ....................................................... 25
2.4.3. O “lhe” no Português Europeu ................................................................................ 26
2.5. Teoria de Caso ................................................................................................................ 26
iii
Lista de abreviaturas
Acus. - Acusativo
Dat. – Dativo
NOM – Nominativo
OBL – Oblíquo
OD – Objecto Directo
OI – Objecto Indirecto
PB – Português Brasileiro
PE – Português Europeu
PM – Português Moçambicano
SN – Sintagma Nominal
Suj. – Sujeito
Lista de tabelas
Tabela 1 Formas Pronominais rectas e oblíquas de acordo com Lima (2001) ……….. Pág. 19
Tabela 2 Pronomes Pessoais Rectos e Pronomes Oblíquos de acordo com Almeida Pág. 20
1963…………………………………………………………………………...
Declaração
Eu, Epifânia Celestino Lissane, declaro, por minha honra, que a presente monografia, intitulada
“As ocorrências acusativas e dativas do pronome lhe no discurso dos alunos do Ensino
Secundário Geral”, é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, Doutor Carlos Mutondo. O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas
estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que, este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a
obtenção de qualquer grau académico.
___________________________________________
(Epifânia Celestino Lissane)
vii
Dedicatória
Agradecimentos
Em primeiro plano, queria expressar o meu profundo agradecimento a todos aqueles que, de
forma directa ou indirecta, contribuíram para a concretização deste trabalho.
Em seguida, dedico o meu profundo agradecimento ao meu supervisor, Doutor Carlos Mutondo,
por um lado, por se ter prontificado, sem nenhum receio, a trabalhar comigo nesta investigação,
por outro, pela abertura e paciência demonstradas durante o percurso do trabalho.
No mesmo plano, quero, igualmente, endereçar o meu obrigado a todos os docentes do Curso de
Português, sem excepções, que paciente e incansavelmente trabalharam e transmitiram-me todas
as competências necessárias para a actuação profissional nesta área.
Terceiro, a todos os meus colegas, em especial à Leontina Vilanculos e ao Alberto Monjane, vai
o meu profundo agradecimento pela inteira colaboração, nesta jornada.
Por fim, não menos importante, vai uma palavra de apreço à minha família, em especial, ao meu
marido que não poupou esforços para a minha formação. Pelo apoio e encorajamento, vai o meu
muito obrigado!
ix
Resumo
Abstract
The Portuguese Language in Mozambique is moved away in many aspects from the
norm/standard or the official adopted in this country.
Every day is often making modifications at different levels as morphologic, lexical, semantic,
and syntactic, etc. Is in that problem that appeared this scientific job with the topic “Accusatives
and datives occurrences of the pronoun “lhe” in speech of students of General Secondary
School”, which has the main purpose, to make the description of circumstances of the use of the
pronoun “lhe” by the students of Manyanga Secondary School and Heróis Moçambicanos
Secondary School, both situated at Maputo city, from a resolution of an inquest. So, the
administrated inquest , allowed to assess the behavior of analyzed aspect, where we achieved on
the conclusion that the pronoun “lhe” which the function is dative, is, constantly used in contexts
where the verb require the pronoun with the function of accusative.
1. Introdução
1
Gonçalves (2005) citando Trudgill (1983) diz que “uma norma padrão refere-se à variedade de uma língua que é
habitualmente impressa, e que é ensinada em escolas e a falantes não nativos quando aprendem a língua. É também
a variedade que é normalmente falada por pessoas instruídas e usada na emissão radiofónica de notícias e outras
situações similares”.
12
dos pronomes clíticos, concretamente o “lhe”, dativo, no processo de escrita assim como durante
a fala.
Lakatos & Marconi (2003: 127) defendem que “formular problema consiste em dizer, de
maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade com que nos
enfrentamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando as suas
características”.
Nascimento (2010:17), citando Ramos (1999), acrescenta dizendo o seguinte: “no Português
Moçambicano são frequentes frases com a presença do fenómeno em estudo” como podemos
verificar nos exemplos abaixo:
(2) O António tinha um padre que lhe educava. [Cf. Nascimento (2010)].
(3) Ficaram aborrecidos e prenderam-lhe. [Cf. Nascimento (2010)].
Não obstante o problema acima exposto, Dias et al. (2009:412) defendem que o facto da
variedade do Português usada em Moçambique se distanciar, em muitos aspectos, da variedade
2
O caso dativo serve para marcar o objecto indirecto dentro de uma oração.
3
O caso acusativo é o caso gramatical usado para marcar o objecto directo de um verbo transitivo directo
13
europeia “padrão”, não implica que se deva generalizar a ideia de que os professores não sabem
falar a língua. Ainda na senda de Dias et al. (op. cit),“os professores sabem falar a língua, só que
é importante reconhecer que todos nós falamos uma Língua Portuguesa que, em alguns aspectos,
se diferencia da variante europeia que nos serve de padrão”.
Gonçalves (2005:6), procurando uma resposta para a mesma problemática, considera que “os
aprendentes têm poucas oportunidades de contacto com manifestações da norma, que é ensinada
num vasto leque de contextos”. Não só o fraco e/ou a dificuldade de contacto com as
manifestações da norma, mas também as condições de aprendizagem em contexto escolar estão
longe de proporcionar aos aprendentes uma competência comunicativa satisfatória, devido ao
fraco alcance das instituições educacionais.
Por via disso, o presente trabalho procura encontrar uma resposta para a seguinte questão:
Que factores interferem na selecção da forma dativa (lhe) em contextos em que se exige a
ocorrência da forma acusativa (o/a), nos discursos (orais e/ou escritos) dos alunos pré-
universitários das Escolas Secundárias Francisco Manyanga e Heróis Moçambicanos?
1.2.Objectivos da pesquisa
1.2.1. Geral:
1.2.2. Específicos:
(i) Apontar, nas respostas dos alunos das Escolas Secundárias Francisco Manyanga e
Heróis Moçambicanos, os casos do uso desviante do pronome clítico “lhe”.
(ii) Identificar os factores que levam o grupo pesquisado a cometer desvios no uso da
forma dativa “lhe”.
14
A escolha pelo tema desta monografia justifica-se pelo facto de haver um “choque” entre o
prescrito no Português Europeu (PE), adoptado, em Moçambique, como padrão e o que se
observa no português dos falantes moçambicanos. Verifica-se, no Português Moçambicano
(PM), que a colocação dos clíticos pronominais se caracteriza por um certo distanciamento em
relação ao Português Europeu, um dos fenómenos que levanta, segundo muitos autores, a
possibilidade do surgimento de um Português de Moçambique.
Sabe-se que a Língua Portuguesa, para além de ser uma língua oficial, é também uma língua
de ensino. Assim, espera-se que os alunos tenham um domínio oral e escrito que lhes permita
comunicar, em várias situações das suas vidas, bem como responder satisfatoriamente às
exigências do ensino superior. No 2º Ciclo, a aprendizagem da Língua Portuguesa observa uma
exigência maior, de forma a desenvolver certas competências, como por exemplo: “usar o
Português em várias situações de comunicação nos domínios familiares, académico, comunitário
e laboral”. (PCESG4, 2007).
4
PCESG refere-se ao Plano Curricular do Ensino Secundário Geral.
15
A opção pelo segundo ciclo, concretamente a 12ª classe, deve-se ao facto de este, segundo o
PCESG (2007), ser de carácter especializado e ter como objectivo preparar o estudante para a
vida, não só, mas também para a continuação dos estudos no ensino superior. Ainda segundo o
mesmo plano, o aluno deve, no final do ciclo, ter a capacidade de comunicar de forma fluente,
oral e por escrito, em Língua Portuguesa.
Em consideração ao acima exposto, pretendemos avaliar até que ponto o público pesquisado
satisfaz os objectivos consagrados, para este nível, nos documentos orientadores do processo de
E-A do Português, dando maior enfoque ao uso que estes fazem do pronome dativo “lhe”.
Motiva-nos ainda a realização deste trabalho, pelo facto da temática escolhida ter uma
importância de índole didáctico-pedagógica e linguística. Do ponto de vista didáctico-
pedagógica, este trabalho serve de mais um contributo para a sensibilização da classe estudantil
sobre o tema em análise. Do ponto de vista linguístico, tem relevância para a descrição das regras
sintácticas do português falado em Moçambique.
Vários trabalhos afins já foram realizados, com maior destaque para os trabalhos de Mapasse
(2005) e César (2014). No entanto, nenhum destes trabalhos dá maior ênfase, em particular, ao
uso do pronome clítico dativo “lhe”, o que potencia a pertinência do nosso estudo.
1.4.Hipóteses de Estudo
Rudio (1980), citado por Oliveira (2011), diz que «hipótese é uma suposição que se faz na
tentativa de explicar o que se desconhece». Trata-se de uma suposta resposta ao problema a ser
investigado. Entende-se por hipótese uma antecipação de um conhecimento na expectativa de o
mesmo ser comprovado e uma das suas características é que esta é provisória.
Uma vez que o nosso trabalho avalia o comportamento sintáctico do clítico “lhe”, a partir do
inquérito administrado aos sujeitos pesquisados, optamos por analisar não só o programa da
classe a que estes pertencem (12ª classe), mas também a classe precedente (11ª classe), visto que
ambas pertencem ao mesmo ciclo de aprendizagem. Assim, num olhar minucioso aos programas
das classes acima citadas, foi possível aferir que os mesmos não trazem a abordagem dos
pronomes clíticos, especialmente o pronome “lhe”, o que legitima a nossa primeira hipótese.
Olhando para a qualidade e profundidade dos conteúdos, os programas, no nosso ponto de
vista, propõem conteúdos que permitem a formação de indivíduos com as respectivas
competências previstas, na medida em que os mesmos contêm uma série de tipologias textuais
que permitem ao professor explorar os vários domínios da língua, não só, como também alguns
temas transversais que ajudam o estudante a reflectir sobre os diversos problemas que,
eventualmente, aflijam a sociedade.
Os programas em análise, tornam explícito que em todas as classes do ESG, ou seja, da 8ª a
12ª classe, não há ruptura em termos dos conteúdos abordados, mas sim uma continuidade dos
mesmos, isto é, há uma tendência de se fazer a retoma dos conteúdos já abordados nas classes
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anteriores, mas, desta feita, com um nível de exigência ainda maior em termos de objectivos
específicos. A título de exemplo, podemos atentar na primeira unidade temática, em que, na 8ª
classe, o aluno analisa, no caso dos Textos Normativos, especificamente, o Regulamento. O
mesmo aluno, quando transita para a 9ª classe, é colocado a interpretar a Declaração dos Direitos
Humanos e a dos Direitos da Criança. Já na 10ª classe, o aluno vai reflectir em torno da
Constituição da República. Mais adiante, na 11ª classe, estuda a Lei da família e, finalmente, na
12ª classe, a Lei Eleitoral.
Olhando para a logicidade, na sequência dos conteúdos, pode-se afirmar que estes estão
dispostos segundo a pertinência de cada tópico no que respeita ao desenvolvimento das
habilidades da língua.
No entanto, quando observamos a parte do Funcionamento da Língua, notamos a
problemática acima exposta, isto é, a não abordagem dos pronomes clíticos, tanto no programa
da 11ª classe assim como no da 12ª classe.
A seguir, os conteúdos do funcionamento da língua abordados em cada unidade temática:
Unidade temática 1 - Formação de palavras;
Unidade temática 2 - Conjunções/Locuções subordinativas e orações subordinadas
concessivas, condicionais e finais;
Unidade temática 3 - Regência Verbal;
Unidade temática 4 - Concordância Verbal;
Unidade temática 5 - Figuras de estilo;
Unidade temática 6 - Uso de conectores, quantificadores, orações relativas: uso dos
pronomes cujo, onde.
Conforme se verifica, não há nenhuma unidade temática que trate do uso dos pronomes clíticos.
18
CAPÍTULO II
2. Fundamentação Teórica
O pronome “lhe” é visto como um pronome oblíquo ou átono, dependendo de cada autor, que
desempenha a função sintáctica de dativo ou complemento indirecto, assim como acusativo ou
complemento directo, dependendo da variante da Língua Portuguesa.
Assim, neste trabalho, cujo título é “As ocorrências acusativas e dativas do pronome lhe
no discurso dos alunos do Ensino Secundário Geral”, procuraremos, antes de mais, trazer uma
breve definição do pronome, no geral, e, logo em seguida, a definição do pronome em alusão.
Mais adiante, o capítulo discute o uso do “lhe” nas três variedades do Português, nomeadamente:
português europeu (PE), brasileiro (PB) e no Português de Moçambique (PM). E porque o
trabalho aborda a questão do caso acusativo e dativo, faz-se pertinente uma breve menção à
Teoria do caso. Para finalizar, procura-se trazer alguns pronomes na função de acusativo e
dativo, assim como ilustrar as propriedades de alguns verbos usados com o pronome “lhe”.
2.1.Pronome
Ao tratar de pronome, Vilela (1995) apud César (2014: 15) afirma que “a designação Pro-
Nomen indica a relação existente entre esta classe de palavras e o nome”. O autor acrescenta
dizendo que “os pronomes encontram a sua definição no discurso, indicando a pessoas, seres
vivos, objectos ou estado de coisas em que a relação fixada na materialidade do pronome é
deduzida da conexão da frase, do texto ou da situação do discurso”.
Na perspectiva de Bechara (2009:177), o pronome “é a classe de palavras categoremáticas
que reúne unidades em número limitado e que se refere a um significado léxico pela situação ou
por outras palavras do contexto”.
Para Mattoso (1970) citado por Guarino (2011:11) “o pronome faz uma referência ao nome
dentro de um contexto e, por isso expressa também as categorias de género e número, além de
possuir formas diferentes para pessoas e funções sintácticas”.
Diante das citações acima, é possível concluir que um pronome representa uma classe de
palavras que representam ou substituem um nome. Temos como exemplo, os pronomes pessoais
do caso recto, pronomes pessoais do caso oblíquo, etc.
19
De acordo com Bahule (2009:49),“a Língua Portuguesa faz uma distinção formal entre o
objecto directo e o indirecto. O nome objecto indirecto é sempre regido de preposição, o que não
acontece com o objecto directo”. Ainda segundo Bahule (op. cit.), o clítico, pronome pessoal que
serve de Objecto Directo, difere do que funciona como Objecto Indirecto, na 3ªpessoa do
singular e plural, mantendo-se com a mesma forma nas outras pessoas gramaticais.
Por via disso, pode-se ressaltar que o objecto directo é o complemento do verbo que não vem
acompanhado de uma preposição e que pode ser representado pelos pronomes oblíquos o, a, os,
as. O mesmo não acontece com o Objecto Indirecto, que vem acompanhado de uma preposição e
que representa a pessoa ou a coisa a que se destina a acção. Este pronome pode ser representado
pelos pronomes “lhe” e “lhes”.
1ª eu me me
Singular
2ª tu, você te, você, o, a te, lhe (a você)
No referente ao quadro acima, Lima (2001) apud Nascimento (2010) acrescenta “você e
vocês” como pronomes de segunda pessoa, não os colocando no grupo das formas de tratamento,
como são por muitos considerados.
Em contraparte, as gramáticas tradicionais classificam o pronome “você” como pronome de
tratamento que possui carácter definido. No entanto, Ramos (1997), citado por Guarino (2011:
35), mostra que esse pronome adquiriu também a interpretação indefinida, tornando marcante a
indeterminação do sujeito. O autor afirma ainda que a gramática tradicional faz tais
classificações, porque recupera uma regularidade latina, na qual se tinha a correspondência
perfeita entre pessoas do pronome e pessoas do verbo, porém esta correspondência foi rompida
pela inserção do “você”, que é da segunda pessoa (no lugar do tu) mas que leva o verbo para a
terceira pessoa.
Lopes & Romeu (2007), citados por Guarino (2011), corroboram ao afirmar que a forma
“você” tem a sua origem no nome, no entanto, ao assumir, em certos contextos discursivos,
determinadas propriedades, valores e funções, essa nova forma pronominalizada passa a fazer
parte de uma outra classe/categoria.
5
Os pronomes rectos são aqueles que desempenham a função de sujeito da oração.
6
As formas oblíquas assumem, geralmente, funções de complementos verbais.
7
Quadro retirado de Nascimento (2010:48)
21
Assim, no quadro apresentado por Lima (2001), está-se perante o uso do PB, onde houve a
fusão do paradigma da 2ª pessoa com o da 3ª pessoa do singular.
No que tange aos pronomes oblíquos, Lima (2001) faz menção às formas “te e lhe” como
pronomes de segunda pessoa do singular na função de objecto indirecto. Como pronomes de
segunda pessoa do plural cita “lhes, vos” nessa função.
É possível notar, neste quadro, que o pronome dativo “lhe”, é um pronome de segunda
pessoa do singular, podendo ser substituído por “você”. É, também, considerado, pronome de
terceira pessoa do singular, tendo o mesmo sentido que “ a ele” e “a ela”.
O tratamento dado ao pronome dativo singular “lhe”, é também dado ao pronome dativo
plural “lhes”, onde, ocupa o lugar de segunda pessoa do singular, podendo ter o mesmo sentido
que “a vocês”. É, também, considerado pronome de terceira pessoa, onde, tem o mesmo sentido
que “ a eles” e “a elas”.
Faz menção ainda às formas “você, te, o, a” como pronomes relacionados à segunda pessoa
do singular na função de objecto directo. A cerca dos pronomes “o” e “a”, estes, são
considerados como sendo de segunda e terceira pessoas do singular, no entanto, no plural, são
considerados, apenas, como sendo de terceira pessoa.
Ainda no quadro apresentado acima, na segunda pessoa do plural tem-se o “vós”, na função
de objecto directo, e o autor não contempla o “vocês” na mesma função. Porém, parece-nos essa
associação do “vocês” ao objecto directo pouco produtiva, dado que ao observamos, por
exemplo, no quadro acima, esse assume o mesmo sentido que o pronome “lhe”, na função de
objecto indirecto. De referir que, o autor em alusão, não assume a inclusão do pronome reflexivo
“se” na sua classificação de pronomes.
22
Pronomes Pessoais
Pessoas Caso recto Caso oblíquo
gramaticais Átonos Tónicos
1ª pessoa singular eu me mim, comigo
2ª pessoa singular tu te ti, contigo
3ª pessoa singular ele, ela o, a, lhe, se si, consigo, ele (a)
3ª pessoa plural eles, elas os, as, lhes, se si, consigo, ele (as)
Quadro 28: Pronomes pessoais rectos e pronomes oblíquos de acordo com Almeida (1963)
No quadro acima apresentado, o autor não admite a inclusão das formas pronominais “você e
vocês” como pronomes de segunda pessoa, mas sim como pronomes de tratamento. Ele
considera somente as formas “tu e vós” como sendo pronomes de segunda pessoa, singular e
plural, respectivamente. O autor, aponta, ainda, o pronome reflexivo “se” como sendo um
pronome com o mesmo estatuto com os pronomes que são, de forma exclusiva, acusativos (o (s),
a (s)) e dativos (lhe e lhes).
O quadro a seguir, retirado de Mapasse (2005), mostra o paradigma dos clíticos não-
reflexivos e reflexivos, de acordo com a pessoa gramatical e a forma casual a que correspondem.
8
Quadro retirado de Nascimento (2010:46)
23
1ª singular me me me
2ª singular te te te
Mapasse (2005) considera os clíticos acusativos (me, te, o/a, nos, nos, vos, os/as) e os clíticos
dativos (me, te, lhe, nos, vos, lhes) como sendo não reflexivos e os clíticos que apresentam o
sincretismo como sendo clíticos reflexivos.
É possível notar, neste quadro, que os pronomes da 1ª e 2ª pessoas gramaticais não
apresentam nenhuma diferença no que diz respeito à função sintáctica. O mesmo não se verifica
na 3ª pessoa gramatical. Assim como Almeida, Mapasse aponta o pronome reflexivo “se”, como
sendo um pronome da terceira pessoa do singular, assim como do plural que desempenha a
função de acusativo e dativo.
Os autores dos quadros acima convergem na medida em que consideram os pronomes da
terceira pessoa do singular ou plural “lhe, lhes” como pronomes na função de objecto indirecto e
os pronomes o (s), a (s), como pronomes na função de objecto directo, embora, os mesmos
tenham, também, o estatuto de pronomes de segunda pessoa do plural e singular na visão de
Lima (2001)
24
(5) Escrevo-lhe (dat.) esta carta para agradecer o amor e o carrinho. [Cf. Nascimento
(2010)]
(6) Por isso resolvi -lhe (Acus.) procurar... [Cf. Nascimento (2010)]
Nascimento (2010:55) assegura que, no PB, se observam três grandes mudanças no que diz
respeito aos pronomes:
i. A inclusão da forma “você” alternando com o “tu” na função de sujeito;
ii. O desaparecimento dos pronomes acusativos “o(s), a(s)” em favor de outras estratégias
dos complementos objecto directo;
iii. A reinterpretação do clítico dativo “lhe” da terceira pessoa, que passou a ser empregue,
também, como acusativo, referindo-se à segunda pessoa, com verbos transitivos directo.
Bazenga e Rodrigues (2019:25) acrescentam que para a realização do dativo, para além da
estratégia da realização zero, ou objecto nulo, também em uso quando se trata de OD/acusativo,
os falantes do PB recorrem ainda a sintagmas preposicionais, como em:
9
O objecto directo é o complemento do verbo que não possui preposição e que também pode ser representado
pelos pronomes oblíquos o, a os, as.
10
Já o objecto indirecto vem acrescido de preposição e, igualmente, pode ser representado pelos pronomes “lhe,
lhes”.
25
(7) O José deu o livro a ela / para ela. [Cf. Rodrigues (2019)].
“No entanto, o PE, padrão, não inclui esta construção no seu subsistema pronominal. Esta
variedade do PE configura propriedades sintácticas distintas”. (Bazenga & Rodrigues, 2019).
Gonçalves (2011:1) defende que “em variedades não europeias do português, é frequente o
uso do pronome pessoal “lhe” em contextos em que a norma europeia preconiza o uso do
pronome “o”. Este fenómeno costuma ser designado como “lheísmo11”.
Hagemeijer (2016), citado por Bazenga & Rodrigues (2019:28), assegura que, na variedade
moçambicana do Português, observa-se uma tendência para o uso do “lhe” em contexto
acusativo de terceira pessoa, como ocorre em algumas variedades do PE, nomeadamente
insulares, e não de segunda pessoa, como em variedades do PB.
No português de Moçambique, o “lheísmo” ocorre, em geral, quando o pronome pessoal se
refere a um ser humano, independentemente de se tratar da pronominalização do complemento
directo ou do complemento indirecto. Este fenómeno é muito frequente nas produções orais e
escritas dos falantes, incluindo aqueles que têm um grau de instrução elevado, podendo dizer-se
que este é um traço característico da variante culta das variedades do português desses países.
Ainda segundo a mesma autora, apesar do carácter relativamente estável do “lheísmo”, ainda
se registam casos em que, num mesmo discurso, os falantes alternam entre o uso dos pronomes
“lhe” e “o/a”, em contextos que, de acordo com a norma europeia, deveria ser usada esta última
forma.
11
Refere-se ao uso incorrecto e abusivo do pronome lhe/lhes.
26
(10) Mas a minha mãe sempre insistia-lhe de não fazer aquelas coisas todas. [Cf.
César, (2014)]
(11) As pessoas não lhe gostam [Cf. César, (2014)].
Por sua vez, quando se trata de pronominalizar o complemento directo, deve usar-se, ainda
de acordo com o Português Europeu Padrão, a forma “o”.
(13) a) Convidei [o João] para a festa. [Cf. Gonçalves (2011)]
b) Convidei-o porque é um bom amigo. [Cf. Gonçalves (2011)]
“Ao dizer convidei-o, está a seguir-se a norma padrão europeia, e, ao dizer convidei-lhe, está-
se de acordo com as variedades, moçambicana e angolana do Português.” (Gonçalves, 2011:2).
12
Uma abreviatura inglesa que significa Determiner Phrase, que em Português significa Grupo Determinante
27
Nominativo - Sujeito
Acusativo - Objecto Directo
Dativo - Objecto Indirecto
Oblíquo - complemento indirecto, Adjunto
Genitivo – Posse
13
[Linguística] identidade formal entre terminações ou formas morfológicas diferentes de uma palavra.
29
pronomes que podem ser empregues tanto como objecto directo assim como objecto indirecto,
exceptuando os pronomes da terceira pessoa.
No entanto, observa-se que o clítico “lhe” passou a ser empregue como acusativo, com
verbos transitivos, como em:
(17) Lucas lhe viu ontem (Objecto directo – 3ª pessoa) [Cf. Nascimento 2010].
(18) Eu lhe amo muito (Objecto directo – 2ª pessoa) [Cf. Nascimento 2010].
14
Disponível em: www2.dbd.Puc-rio.br>tesesabertas
30
Os verbos transitivos directos são aqueles que necessitam de um complemento que conclua o
seu sentido, respondendo principalmente às perguntas “o quê?” ou “quem?” e, não necessitam de
preposição para estabelecer a regência verbal.
Os verbos transitivos indirectos também necessitam de um complemento que inclua o seu
sentido, porém respondendo, principalmente, às perguntas “de quê?”, “para quê?”, “de quem?”,
“para quem”?, entre outras. Estes tipos de verbos necessitam obrigatoriamente de preposição
para estabelecer a regência verbal.
Os verbos de dois lugares, denominados verbos transitivos, são aqueles que seleccionam um
argumento externo e um interno com relação gramatical, seja de objecto directo, seja de objecto
indirecto. (Nascimento 2010:57).
CAPÍTULO III
3 Metodologia
Nesta secção, apresentar-se-ão os procedimentos metodológicos que foram aplicados durante
a concretização do trabalho. Esses caminhos traduzem-se num conjunto de técnicas e/ou
actividades que permitiram o alcance dos objectivos traçados neste estudo. Antes de exibirmos as
estratégias metodológicas adoptadas, faz-se pertinente trazer, primeiro, o conceito “método”.
3.1 Método
Para Gil (1999), citado por Oliveira (2011:13), o método “é o conjunto de procedimentos
intelectuais e técnicos utilizados para atingir o conhecimento”. O autor acrescenta que para que
seja considerado conhecimento científico, é necessária a identificação dos passos para a sua
verificação, ou seja, determinar o método que possibilitou chegar ao conhecimento. Portanto,
compreende-se que o método seja o caminho que o investigador percorre ou os passos que o
mesmo obedece de modo a chegar a um determinado conhecimento.
Eco (1977), citado por Oliveira (2011:13), fundamenta que “ao fazer um trabalho científico,
o pesquisador estará aprendendo a colocar as suas ideias em ordem, no intuito de organizar os
dados obtidos”. Sendo o objectivo de um trabalho científico atender a um determinado propósito
pré-definido, o uso de um método específico torna-se essencial.
No que diz respeito à metodologia, esta deve apresentar o modo como se pretende realizar a
investigação. “O autor deve descrever a classificação quanto aos objectivos da pesquisa, natureza
da pesquisa, escolha do objecto do estudo e quanto às técnicas de colecta e de análise de dados”.
(Oliveira, 2011:16). Para Silva & Menezes (2001:10), “adoptar uma metodologia significa
escolher um caminho, um percurso global do espírito”. Os autores sublinham que o percurso,
muitas vezes, requer ser reinventado a cada etapa.
Quanto ao tipo de pesquisa para este trabalho, optamos pela pesquisa quantitativa devido à
natureza do trabalho. A escolha sustenta-se nas ideias do Richardson (1999), citado por Oliveira
(2011), quando diz que “a pesquisa quantitativa é caracterizada pelo emprego da quantificação,
tanto nas modalidades de colecta de informações quanto no seu tratamento por meio de técnicas
33
Por via disso, pretendemos, neste trabalho, quantificar os dados recolhidos e aplicar a análise
estatística. Deste modo, para a efectivação desta pesquisa, fomos ao campo e colhemos as
informações através de um inquérito dirigido aos alunos, as quais foram traduzidas em número,
classificadas e analisadas, a fim de confrontar os resultados com as hipóteses.
Para mais fundamentação do trabalho, usamos também o método dedutivo, pois partimos de
um grupo amplo, analisando o Português falado pelos alunos da 12ª classe do Ensino Secundário
Geral, até chegarmos a conclusões mais particulares sobre o grupo pesquisado.
34
Por sua vez, o método bibliográfico, na perspectiva de Oliveira (2011:40), citando Vergara
(2000), é desenvolvido a partir de material já elaborado, constituído, principalmente, de livros e
artigos científicos. Este método é importante para o levantamento de informações básicas sobre
os aspectos, directa e indirectamente ligados à nossa temática. Assim sendo, recorremos a
materiais bibliográficos para a fundamentação do nosso trabalho.
Marconi & Lakatos (2003: 222) defendem que “as técnicas são um conjunto de preceitos ou
processos de que se serve uma ciência. São, também, a habilidade para usar esses preceitos ou
normas, na obtenção de seus propósitos.”
Para a recolha de dados da presente pesquisa, servimo-nos da técnica de observação directa
extensiva, entendida por Marconi & Lakatos (1991:201) como aquela que “se realiza através do
questionário, formulário, de medidas de opinião e atitudes e de técnicas metodológicas”. Nesta
observação, aplicámos o inquérito para a recolha de dados.
Para estudarmos o comportamento sintáctico do pronome “lhe”, usamos como instrumento
de recolha de dados um inquérito. Esse inquérito foi administrado a alunos da 12ª classe da
Escola Secundária Heróis Moçambicanos e da Escola Secundária Francisco Manyanga, com
vista a percebermos a forma como este grupo utiliza os pronomes “lhe” (dativo) e “a(s),o(s)”
(acusativo), na escrita.
O inquérito cobriu um total de setenta e quatro alunos (74) do grupo seleccionado e foi
aplicado aos alunos pertencentes a quatro turmas, sendo duas para cada escola e cada turma
constituída por um número que varia de vinte (20) a vinte e cinco (25) alunos.
Como foi antes referenciado, o inquérito é constituído por quatro (2) partes: a primeira parte
visa o levantamento dos dados pessoais dos nossos alunos (informantes), com vista a obter
35
informações sociais relacionadas com o nome da escola do aluno, a idade, sexo e a naturalidade.
Ainda na primeira parte, buscamos informações ligadas à relação dos informantes com a Língua
Portuguesa, tais como a idade com que este/a começou a falar a LP, o lugar onde aprendeu a
falar, assim como o lugar onde tem falado com mais frequência.
Na segunda parte do instrumento, apresentamos exercícios lacunares, isto é, um conjunto de
frases com espaços em branco, solicitando o seu preenchimento pelo inquirido, com recurso ao
pronome clítico adequado. É importante referir que, neste exercício não nos limitamos em
apresentar somente os pronomes clíticos em estudo, mas foram também inclusos aqueles que não
teriam utilidade na actividade em questão. O nosso objectivo ao acrescentar pronomes clíticos
desnecessários, era que o aluno explorasse ou mostrasse o seu conhecimento em torno do
assunto.
A opção por duas escolas prende-se com o facto de se pretender uma maior abrangência do
estudo.
37
4 Análise das ocorrências acusativas e dativas do pronome “lhe” no discurso dos alunos
do Ensino Secundário Geral
4.1 Informantes
No processo de levantamento de dados, foi possível apurar que os nossos inquiridos são de
uma idade que varia entre os (16) dezasseis e (20) anos. Relativamente ao sexo, (51) cinquenta e
um são do sexo feminino e (23) são do sexo masculino.
Questionados acerca do local onde os mesmos têm falado a língua com maior frequência,
(30) inquiridos assumiram falar com frequência na escola; (22), na escola; (6), em outros locais
não identificados; (6), na escola e em outros locais não identificados; (7), em casa e no contexto
escolar; e, finalmente, (8) falam com frequência em casa, no contexto escolar e em outros locais
também não identificados.
O quadro que segue traduz a informação acima exposta, através do cálculo percentual que
reflecte o local onde os alunos se apropriaram da Língua Portuguesa.
No absoluto 68 2 1 2 1 74
1 a 57 77% 74 100%
2 a 20 27% 74 100%
3 os 37 50% 74 100%
4 a 21 28% 74 100%
5 os 40 54% 74 100%
6 a 24 32% 74 100%
Olhando para os resultados, na tabela número 5, podemos afirmar que, de acordo com a
variação do valor percentual, a selecção do clítico adequado/correcto não depende da forma
como a questão se apresenta, muito menos do verbo que precede ou que sucede o pronome
clítico. Este fenómeno oscilatório mostra, simplesmente, e de forma evidente, que os pronomes
acusativos não estão devidamente assimilados. Podemos afirmar, também, que os inquiridos
seguiram o seu extinto para a resolução do teste, o que se explica por uma insegurança ou
indecisão no momento de dar a resposta.
Vejamos, a seguir, as questões relativas a esta tarefa:
A frase número 23, a primeira do inquérito, exigia um clítico acusativo da terceira pessoa do
singular “a”. A tabela acima mostra que 57 alunos, correspondentes a 77% dos inquiridos, ou
15
Correspondente ao nº 1 do Inquérito (Cf. O nº do Inquérito)
40
seja, mais que a metade, respondeu correctamente. Embora a maioria tenha acertado, houve o
uso ou o emprego de clíticos de outras pessoas gramaticais.
Na frase número 24, a segunda questão do inquérito, o clítico exigido era igualmente o
exigido na questão anterior, isto é, o clítico acusativo “a”. Nesta frase, diferentemente do que
aconteceu na anterior, apenas 20 alunos, o correspondente a 27% dos inquiridos, colocaram o
clítico correcto, sendo que a maior parte, 29 alunos correspondentes a 39%, optou pelo clítico
dativo “lhe”, sem deixar de lado o emprego de outras pessoas gramaticais pelos restantes.
Esta frase (a número 25), a terceira do inquérito, exigia o clítico acusativo da terceira pessoa
do plural “os”. No entanto, apenas a metade dos inquiridos, ou seja, 37 alunos, que constituem
50% dos inquiridos, é que usaram o clítico correcto. Nesta frase, assim como noutras, houve
também o emprego de clíticos de outras pessoas gramaticais, incluindo os clíticos dativos “lhe,
lhes” com 37%.
O clítico exigido, na frase numero 26, a quarta do inquérito, é o clítico “a”, e, apenas 21
alunos, o equivalente a 28% dos inquiridos, o empregaram. De referir que a maior parte optou
pelo clítico dativo “lhe”, com 32 alunos, o equivalente a 43%.
16
Cf, nº 2 do inquérito
41
40 alunos, que equivalem a 54% dos inquiridos, colocaram o clítico correcto (os). Apesar de
a maioria ter usado o clítico adequado, houve o emprego de outros clíticos como é o caso do
“lhes”, com 26 alunos, o equivalente a 35%, na frase 27, a quinta do nosso inquérito.
Nesta frase (número 28), a sexta questão do inquérito, que exigia um clítico acusativo da
terceira pessoa, feminino, singular, apenas 24 alunos equivalendo a 32 % acertaram. A maior
parte, com 34%, optou pelo pronome “lhe” (clítico dativo da terceira pessoa, singular).
De acordo com Mapasse (2005: 79), trabalhos realizados sobre o Português moçambicano, as
categorias gramaticais, número e género, fazem parte das áreas em que os estudantes apresentam
dificuldades. Gonçalves (1997), citado por Mapasse (op.cit.), revela que “na área da
Morfossintaxe há “erros” relacionados com o uso da morfologia flexional que exprime as
categorias gramaticais de tempo, pessoa, número (singular e plural), género (feminino e
masculino), modo e caso nominativo”. Ainda segundo a mesma autora, os “erros” de
concordância em género ocorrem em maior número com os adjectivos, enquanto os “erros” de
concordância em número ocorrem, mais frequentemente, com determinantes e nomes.
Na selecção dos clíticos pronominais acusativos, foi possível identificar desvios referentes ao
número e ao género. Uma parte dos inquiridos, embora tenha empregado o clítico acusativo nos
casos em que este se fazia necessário, cometeu desvios de concordância correspondentes aos
exercícios em causa. A seguir o exercício em estudo.
17
Na questão número cinco, não foi encontrado nenhum erro de concordância.
43
percentual
inquiridos
Ocorrência
Total dos
percentual
frase absoluto da frase absoluto percentua
Valor
Valor
l
1 10 14% 1 __ __ 74 100%
2 29 39% 2 __ __ 74 100%
3 2 3% 3 25 34% 74 100%
lhe lhes
4 32 43% 4 2 4% 74 100%
5 __ __ 5 26 35% 74 100%
6 25 34% 6 1 2% 74 100%
A tabela número 6, elucida que, apesar de os números serem relativamente baixos, existem
desvios no que diz respeito ao uso do dativo “lhe”, como ilustram os exemplos a seguir:
34. Frase número 1
A minha mãe tem muito trabalho.
* Eu ajudo-lhe nos trabalhos de casa.
18
Quadro dividido em duas partes, estando nele patentes, resultados referentes ao pronome “lhe” e o seu plural
“lhes”.
45
percentual
percentual
percentual
Valor
Valor
Valor
frase absoluto absoluto absoluto
Como podemos observar, na alínea (a) dos exemplos acima, está patente um desvio referente
à selecção do clítico, ou melhor, houve a substituição do clítico dativo “lhe” pelo clítico
acusativo “o”.
Na alínea (b), foi seleccionado um pronome errado para o contexto em causa, pois para esta
situação, o pronome “me” não é o correcto.
Na alínea (c), há um erro de concordância em relação ao número, uma vez que o SN patente
na frase em 38 está no singular.
Conclusões
Tal como nos referimos logo na parte inicial do trabalho, o Português falado em
Moçambique tem-se afastado, em vários aspectos, do Português assumido como Padrão. Neste
trabalho, procurámos observar o comportamento sintáctico do pronome “lhe” no discurso dos
alunos da 12ª classe.
Embora se tenham detectado tais fragilidades no emprego do “lhe”, há que referir que, em
alguns casos, esse foi colocado em respeito ao que dita a norma. Por via disso, constatámos que a
escolha do pronome clítico, pelos inquiridos, não é ditada pelo tipo de verbo que o antecede ou
que o sucede, no sentido em que a maior parte dos verbos do nosso inquérito são verbos
transitivos directos e, mesmo assim, houve uma inconsistência na resolução do inquérito. Este
fenómeno, revela a ausência de domínio das funções dos pronomes clíticos por parte dos
inquiridos.
A partir disso, acreditamos que, como se refere a nossa primeira hipótese do trabalho, os
alunos da ESFM e da ESHM usam de forma indiscriminada o pronome em alusão, o que denota
um fraco conhecimento das regras de selecção do clítico. O desvio no emprego desses pronomes,
concretamente o “lhe”, parece ser uma característica típica do Português falado em Moçambique,
podendo, por isso, estar a tratar-se de uma outra variante da Língua Portuguesa, a considerada
variante moçambicana da LP. Por isso, vemos a necessidade de se desenvolverem mais estudos
relacionados ao tema em alusão, de modo a atingir um fundamento mais rico e complexo.
49
Bibliografia
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Vol. XV, N.º 5, L3. Rio de Janeiro, CIFEFIL. 2011. p. 2398-2408. Disponível em:
www.filologia.org.br>tomo3.CIFEFIL
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www2.dbd.Puc-rio.br>tesesabertas
BAZENGA & RODRIGUES. Pelos mares da Língua Portuguesa: O uso do lhe em variedades
do Português. 1ª Edição. Aveiro, UA Editora. 2019. 21pp Disponível em:
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“estou estudando ela” em perspectiva sociolinguística. UA Editora. 2019. 14pp.
Disponível em: www.reserchgate.net>publication
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª edição. Rio de Janeiro, Editora
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CAMPOS, Maria Henriqueta Costa & XAVIER, Maria Francisca. Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa, Universidade Aberta. 1991.
GUARINO, Manuela Luna Sousa Wanderley. Pronomes Pessoais: no uso, na escola e nas
gramáticas (Tese para obtenção do grau de licenciatura) Brasília-DF. 2011
GONÇALVES, Perpétua. «Afinal, o que são erros de Português?», In: Conferência Inaugural
das Primeiras Jornadas de Língua Portuguesa. Maputo (26-29/05/05), Universidade
Eduardo Mondlane. 2005. 14pp
LAKATOS & MARCONI. Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª Edição. São Paulo, Atlas
Editora. 2007.
RAPOSO et al. Gramática do Português, Vol. II. Coimbra, Fundação Calouste Gulbenkian.
2013.
Apêndice
54
Inquérito
1. Identificação
1.1 Nome da escola:_____________________________________________________
1.2 Idade______________________________
1.3 Sexo: Masc._________Fem.____________
1.4 Naturalidade:__________________________________
Parte II
Substitui a expressão sublinhada pelo pronome clítico adequado e escreve-o no espaço em
branco.
o, a, os, as, me, te, lhes, nos, vos, lhes, se