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Américo José Muzime

UMA REFLEXÃO SOBRE A DUPLA NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS DE MAPUTO

(Caso da Escola Secundária Machava Bedene e Escola Secundária Francisco Manyanga)

Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa com habilitação em Ensino de Língua Bantu

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo

Novembro, 2020
Américo José Muzime

UMA REFLEXÃO SOBRE A DUPLA NEGAÇÃO NO PORTUGUÊS DE MAPUTO

(Caso da Escola Secundária Machava Bedene e Escola Secundária Francisco Manyanga)

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências de


Linguagem, Curso de Português, na Faculdade de
Ciências de Linguagem Comunicação e Artes, como
meio de avaliação parcial e final para obtenção do grau
de Licenciatura em Ensino de Português com
Habilitações em Ensino de Xirhonga.

Supervisor: Dr. Carlos Mutondo

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo

Novembro, 2020
ii

INDICE

Lista de abreviaturas .................................................................................................................................. v

Dedicatória.................................................................................................................................................. vi

Agradecimentos ......................................................................................................................................... vii

Declaração de honra ................................................................................................................................ viii

Resumo ........................................................................................................................................................ ix

Abstract........................................................................................................................................................ x

Capítulo 1: Introdução ............................................................................................................................. 10

1.1. Enquadramento do tema ............................................................................................................... 10

1.2. Objectivos ....................................................................................................................................... 11

1.2.1. Objectivo Geral ....................................................................................................................... 12

1.2.2. Objectivos Específicos............................................................................................................. 12

1.3. Formulação do problema de pesquisa ..................................................................................... 12

1.4. Hipóteses .................................................................................................................................... 13

1.5. Justificativa................................................................................................................................ 14

Capítulo II: Pressupostos teóricos ........................................................................................................... 16

2.1. Definição de conceito de frase ....................................................................................................... 16

2.2. Tipos de Frase ................................................................................................................................ 18

2.3. Modalidades de Frases, segundo (…) ........................................................................................... 19

2.4. Tipos de Frase, segundo Cegalla (1982) ....................................................................................... 19

2.5. Tipos de Frase, segundo Costa et al. (2012) ................................................................................. 20

2.6. Formas de frase ......................................................................................................................... 21


iii

2.6.1. Frase de forma afirmativa ................................................................................................ 21

2.6.2. Frase de forma negativa ................................................................................................... 21

2.6.3. Frase activa e Frase Passiva ............................................................................................. 22

2.7. Concepção da dupla negação ................................................................................................... 22

2.8. Conceito de negação .................................................................................................................. 26

2.8.1. Grandes tipos de negação ................................................................................................. 28

2.8.2. Negação sintáctica e seus subtipos ................................................................................... 32

2.8.3. Negação oracional ............................................................................................................. 32

2.8.3.1. Subtipos da negação oracional ..................................................................................... 33

2.8.3.2. Negação morfossintáctica .................................................................................................... 35

2.9. Advérbios de negação ............................................................................................................... 36

2.10. As unidades negativas e os constituintes negados .............................................................. 36

2.11. Subordinação e a negação ........................................................................................................... 38

2.12. Coordenação .......................................................................................................................... 38

2.13. Situação linguística do Português em Moçambique ................................................................. 39

Capítulo III: Metodologia de investigação.............................................................................................. 41

3.1. Descrição da população ................................................................................................................. 41

3.2. Método de procedimento ............................................................................................................... 42

3.3. Técnicas de recolha de dados ........................................................................................................ 42

3.4. Local da pesquisa ........................................................................................................................... 43

3.5. População e Amostra ..................................................................................................................... 43

3.6. Instrumentos de pesquisa .............................................................................................................. 44

Capítulo IV. Apresentação e análise de dados da pesquisa recolhidos – a dupla negação ................. 46

4.1. Análise e discussão dos resultados ................................................................................................ 46


iv

4.2. Análise de dados ............................................................................................................................. 47

4.2.1. Análise dos dados do inquérito aplicado aos alunos da ESFM ............................................... 47

4.2.2. Análise dos dados do inquérito aplicado aos alunos da ESMB ............................................... 56

Conclusão e recomendações ..................................................................................................................... 61

Conclusão ............................................................................................................................................... 61

Recomendações ..................................................................................................................................... 62

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................................... 63

Anexos ........................................................................................................................................................ 66
v

Lista de abreviaturas

CECH Centro Educacional de Chiurairwe;

ESFM Escola Secundária Francisco Manyanga;

ESGRAMA Escola Secundária Graça Machel;

ESMB Escola Secundária Machava Bedene;

INE Instituto Nacional de Estatística

L1 Língua Primeira;

L2 Língua Portuguesa;

MEIC Método de Investigação Científica;

PE Português Europeu;

PEA Processo de Ensino Aprendizagem;

PM Português de Moçambicano;

PP Práticas Pedagógicas;

TCC Trabalho de Culminação de Curso


vi

Dedicatória

Dedico este trabalho à toda minha família, em particular, à minha esposa e aos meus filhos, que
tanto apoio me têm proporcionado na realização de todos os trabalhos da faculdade, para que este
grande objectivo um dia venha se concretizar, aos meus pais, José Muzime e, a minha falecida
mãe Cecília Fumo, que sempre tiveram desejo de me ver formado, sem me esquecer dos docentes
que, também, me tem apoiado na planificação de todas as actividades da academia para que este
sonho um dia se torna numa realidade.
vii

Agradecimentos

Depois da realização do maior sonho da minha vida, que era um dia estar na faculdade, este se
calhar será provavelmente o momento mais difícil em que não vou pude- me recordar de todas as
pessoas, que directa ou indirectamente, deram o seu contributo para a sua realização, mas apesar
de considerá-lo difícil, existem algumas pessoas que pela importância que têm, não posso deixar
de mencionar.

Em primeiro lugar, agradeço a Deus pela protecção e vida que me tem dado, pois sem ele não teria
conseguido triunfar nesta longa caminhada.

Agradeço, em especial, a minha família Muzime, particularmente, a minha esposa Gilda


Manhique, pela compreensão dispensada nos momentos de muita aflição e disponibilidade.

Quero também agradecer a todos os docentes da Faculdade de Ciências de Linguagem


Comunicação e Arte, em particular aos docentes da cadeira de (MEIC) Método de Investigação
Científica, Prof. Doutor Ernesto Júnior, e das (PP) práticas pedagógicas, as Professoras Josefina
Caetano, Orlanda Gomane e a Doutora Stela, que muito fizeram desde o primeiro ano. Aos
professores da TTC (Trabalho de Culminação de Curso) por me terem aberto a mente e me fizeram
sentir paixão pela monografia, principalmente a Professora Doutora Hildizina Dias, pelo
encorajamento, pois, na altura não tinha ideia do que devia escrever mas depois de lhe apresentar
incentivou-me a ter que avançar. Aos professores da área de Linguística pelos ensinamentos
preciosos que me transmitiram durante o tempo da formação principalmente aos Professor Doutor
Paulino e ao Doutor Mutondo, meu supervisor, porque foram eles que durante as aulas diziam
quais são os temas que podiam servir de objecto de estudo tendo, no entanto, sentido paixão pelo
tema.

Por último, ao meu grande amigo de infância António Mabote, quero exprimir um especial
agradecimento por me ter encorajado a concorrer para o ensino superior, depois pelo apoio moral
e financeiro principalmente nos dias em que não tinha como realizar os dois movimentos ida e
volta a faculdade.
viii

Declaração de honra

Eu, Américo José Muzime, declaro por minha honra que o presente trabalho é da minha autoria e
nunca foi apresentado na sua essência em nenhuma instituição de ensino e que o conteúdo versado
é consequência da minha investigação, tendo feito indicação no texto e na bibliografia todas as
fontes consultadas.

Maputo, _________________________ de 2020

____________________________________________

Américo José Muzime


ix

Resumo

No português falado em Moçambique, verifica-se uma tendência de confundir-se a dupla negação


com a negação reforçada, a semelhança do que acontece nos outros países e isso resulta do facto
de os interlocutores pensarem que estas duas expressas são sinónimas.

No presente trabalho, intitulado «Uma reflexão sobre a dupla negação no contexto de Maputo:
caso particular das Escolas Secundária Francisco Manyanga e Escola Secundária da Machava
Bedene», tem-se como objectivo, reflectir sobre as implicações que a dupla negação causa e
procurar perceber em que momentos os falantes (PM) usam estas frases e qual é o impacto que
isso traz no (PE). Os nossos inquiridos foram submetidos a um questionário previamente elaborado
que tinha (24) vinte e quatro questões divididas em (4) quatro grupos, onde os mesmos deviam
escolher a frase correcta conforme a indicação do enunciado. Importa referir que a informação dos
alunos foi muito fundamental para o desenvolvimento desta nossa pesquisa. As reflexões sobre a
dupla negação foram fundamentadas nos seguintes autores: Mateus et al. (1989) e (2003), Raposo
(2013), Costa (2012) Neves (2000), Costa et al. (2012), Cegalla (1981), entre outros e ainda foi
também usado o seguinte site: https//www.normaculta.com.br/duplanegação/da internet.

Durante o trabalho, conseguimos perceber que a dupla negação é resultado da necessidade de


comunicação o que faz com que haja ampliação do léxico e isso, de certa forma, afecta o padrão
ou a norma do PE.

Palavras-chave. Negação. Negação reforçada. Negação reiterada. Negação reforçada e reiterada.


Dupla negação.
x

Abstract

In the Portuguese spoken in Mozambique, there is a tendency to confuse double negation with
reinforced negation, as is the case in other countries, and this results from the fact that the
interlocutors think that these two expressions are synonymous.

In this paper, entitled "A reflection on double negation in the context of Maputo: the particular
case of Francisco Manyanga Secondary Schools and Machava Bedene Secondary School", the
aim is to reflect on the implications that double negation causes and try to understand at what
moments the speakers (MP) use these sentences and what impact this has on (EP). Our respondents
were submitted to a previously prepared questionnaire that had (24) twenty-four questions divided
into (4) four groups, where they should choose the correct sentence as indicated in the statement.
It should be noted that the information of the students was very fundamental to the development
of our research. The reflections on double negation were based on the following authors: Mateus
et al. (1989) and (2003), Raposo (2013), Costa (2012) Neves (2000), Costa et al. (2012), Cegalla
(1981) among others and the following site https//www.normaculta.com.br/duplanegação/of
internet was also used.

During the work, we realized that the double negation is the result of the need for communication,
which causes the lexicon to be expanded and this in a way affects the standard or the EP standard.

Key words: Negation. Reinforced negation. Repeated negation. Reinforced and reiterated
negation. Double negation.
Capítulo 1: Introdução

1.1. Enquadramento do tema

O aluno é um indivíduo que deve estar preparado para lidar com todas as formas de comunicação
em qualquer lugar onde estiver, mas para isso, precisa treinar a sua mente para poder perceber
qualquer mensagem que é veiculada visto que todo o conhecimento que possui chega através da
linguagem.

De acordo com Mateus et al. (2003), um acto de fala é “um comportamento verbal, governado por
regras que asseguram que as intenções comunicativas venham a ser adequadamente
interpretadas”. Na mesma perspectiva, Costa et al. (2012‫׃‬283), defendem que o acto ilocutório
consiste na “produção de enunciado, de acordo com as regras gramaticais de uma determinada
língua ˗ nos planos fonético, morfológico, sintáctico e semântico ˗ e que transmite um conteúdo
proposicional.”

A partir destas definições, podemos perceber que são vários processos que concorrem para a
produção dos próprios enunciados, contudo o mais importante é ter em consideração os diferentes
níveis de língua e sabermos também que a mesma depende essencialmente dos intervenientes. Isto
significa que no âmbito da comunicação a linguagem vai variando de lugar para lugar conforme a
intenção comunicativa e das próprias pessoas envolvidas no processo. Deste modo, podemos
afirmar que nem todo o significado linguístico é bem interpretado pelos alunos, existindo casos
em que alguns enunciados são mal interpretados ou mesmo considerados errados pelo facto de o
aluno não estar preparado para lidar com determinadas construções. É o caso de orações que
apresentam a dupla negação, em que a ocorrência de dois operadores negativos em sequência,
anulam-se.

Na esteira de Raposo (2013:479), esta possibilidade não é inteiramente livre, estando antes sujeita
a duas fortes restrições: por um lado os dois operadores têm de ser diferentes e, por outro, não
podem ocorrer em qualquer ordem.
11

Pelo facto de termos percebido que a maior parte dos alunos enfrenta dificuldades quando se trata
de orações que envolvem a dupla negação pois, para além da negação oracional propriamente dita
onde temos a subordinação e a coordenação esta envolve também o verbo negativo deixar, e para
que no futuro os alunos não olhem para estas frases como agramaticais, este tema despertou em
nós um certo interesse e achamos que poderíamos dar a nossa contribuição sob pena de se
considerar como uma variante do português.

Com este trabalho queremos dar a nossa contribuição trazendo uma reflexão sobre as implicações
de orações com a dupla negação de forma a chamar atenção para o facto de que o português, sendo
uma língua como qualquer outra, tem norma e esta deve ser seguida.

E, por termos falado da norma que os alunos devem seguir, apraz-nos realçar que na perspectiva
de Mattos & Silva (2004:106), a norma padrão é uma impossibilidade de uso pela esmagadora
maioria.

Estas autoras referem que o conceito de língua padrão em L2 é vista como uma idealização, pois
este assunto tem sido discutido com o objectivo de desmistificar o modelo do falante nativo
inatingível.

A razão da escolha da Escola Secundária Machava Bedene e da Escola Secundária Francisco


Manyanga é justamente por se enquadrar melhor ao nosso tema. Sendo que a primeira se localiza
em Maputo província e a segunda em Maputo Cidade. O universo de dados que teremos constituirá
o corpus central da análise que faremos e que constitui o cerne do presente trabalho.

É neste sentido que avançamos com o nosso estudo, e na sequência vamos dar a conhecer aquilo
que são os objectivos e perguntas de partida.

1.2. Objectivos

O desenvolvimento de qualquer que seja a actividade tem por finalidades atingir determinados
objectivos. Neste contexto, o presente trabalho, que tem como tema «Uma reflexão sobre a dupla
12

negação no Português de Maputo: caso da Escola Secundária da Machava Bedene e Escola


Secundária Francisco Manyanga», pretende atingir os seguintes:

1.2.1. Objectivo Geral

Constitui objectivo geral deste trabalho o seguinte:

 Reflectir sobre as implicações que as construções ou orações que apresentam a dupla


negação causam nas construções do Português de Maputo.

1.2.2. Objectivos Específicos

Olhando para o objectivo acima definido, procuramos derivar como objectivos específicos os
seguintes:

 Verificar até que ponto os alunos da ESMB e ESFM têm domínio desta matéria porque
esta envolve tanto a negação oracional propriamente dita (comum de subordinação e de
coordenação) com o verbo negativo deixar;
 Analisar as construções de dupla negação usadas pelos alunos da ESMB e ESFM;
 Descrever a forma como são abordadas as aulas em contextos reais de sala de aulas;
 Interpretar a forma como os temas que envolvem o funcionamento da língua são abordados
em contexto de sala de aulas, no que tange à coordenação e subordinação (dupla negação).

1.3.Formulação do problema de pesquisa

A formulação do problema prende-se ao tema proposto: ela esclarece a dificuldade específica com
a qual se defronta e que se pretende resolver por intermédio da pesquisa. Neste contexto, formular
um problema consiste em dizer de maneira explicita, clara, compreensível e operacional, qual a
dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e
13

apresentando suas características. Desta forma, o objectivo da formulação do problema é torná-lo


individualizado, específico, inconfundível.

Em consonância com o pensamento de Rúdio (1978), Gil (2008:33), discute a questão de


formulação de problema, afirmando que qualquer questão não solvida e que é objecto de discussão,
em qualquer domínio de conhecimento pode ser um problema de pesquisa. Assim sendo, no
presente trabalho propomo-nos a procurar perceber:

 Quais são as implicações que as construções ou orações que apresentam dupla negação
causam no Português de Maputo?

1.4.Hipóteses

Nesta etapa, pretendemos esboçar as nossas ilações primárias no que diz respeito a este trabalho
e, sendo assim, antes de mais, iremos apresentar algumas definições do conceito hipóteses. Punch
(1998) apud Coutinho (2015:5) considera que uma hipótese é “uma previsão de uma resposta para
o problema de investigação”. Sendo uma previsão de explicação de um fenómeno que está
expresso no problema a investigar resulta óbvio que o papel da hipótese numa investigação
dependerá da perspectiva ou paradigma-quantitativa / positivista ou interpretativa- em que se
insere a investigação propriamente dita.

Na perspectiva de Kopnin (1987: 250), A hipótese é “a explicação, condição ou principio, em


forma de proposição declarativa, que relaciona entre si as variáveis que dizem respeito a um
determinado fenómeno ou problema”. É a solução proposta como sugestão no processo de
investigação de um problema «um processo activamente criador de representação do mundo.» Os
dois autores supracitados consideram que as hipóteses são respostas prévias de um problema de
pesquisa, entretanto Marconi & Lakatos (2003: 127), acrescentam que “estas respostas podem ao
longo da investigação ser alteradas se elas não corresponderem ao problema que está a ser
estudado”, mas também, existe a possibilidade de definir as hipóteses como uma relação existente
entre as variáveis em estudo. Ora, as hipóteses podem ou não ser validadas nas conclusões.
14

Em conformidade com o tema apresentado, definimos como hipóteses para o nosso trabalho a de
que «as orações que apresentam a dupla negação e do verbo negativo “deixar”» fazem com que os
estudantes as considerem agramaticais, o que a nosso ver, os objectivos das aulas ligadas ao
desenvolvimento da competência comunicativa não são alcançados.

As nossas reflexões sobre a forma como esta matéria é tratada nas escolas moçambicanas, em
particular na Escola Secundária da Machava Bedene (ESMB) e Escola Secundária Francisco
Manyanga (ESFM) levou a que chegássemos as seguintes constatações:

1- As construções de dupla negação que envolvem tanto a negação oracional propriamente dita
(comum de subordinação e de coordenação) com o verbo negativo deixar, não são tratadas
formalmente nas escolas secundários;

2- Os alunos do ESG, quando constroem frases com dupla negação fazem-no sem observância das
regras na medida em que a selecção de um ou de outro elemento marcador da negação é feita sem
ter em conta a variante padrão da língua portuguesa.

1.5.Justificativa

Pode-se considerar justificativa, as motivações que levam o indivíduo a fazer um determinado


projecto de pesquisa para analisar ou investigar um determinado problema. Assim, a motivação
primária da realização deste estudo está imanentemente ligada ao facto de sermos estudantes do
Curso de Licenciatura em Ensino de Português, visto que é do nosso interesse desenvolver estudos
que vão catapultar o PEA do português em Moçambique.

Este tema é de extrema importância porque existe uma tendência de ampliação do léxico que no
nosso entender afecta o padrão ou norma do português. O ensino das estruturas frásicas seguindo
a norma nas escolas, constitui uma das tarefas principais da educação.

Contribuíram os seis (6) anos de leccionação no primeiro ciclo do Ensino Secundário Geral (ESG),
isto é, de 2009 à 2014 no Centro Educacional de Chiurairue em Manica no distrito de Mussorize,
15

e na Escola Secundaria Graça Machel em Gaza distrito de Massingir, (ESGRAMA) como


vulgarmente é tratada.

Por outro lado, a nossa motivação está relacionada com experiência que temos na nossa formação,
com mais enfoque nas práticas pedagógicas Ӏ, ӀӀ e III, que de certo modo contribuiu bastante para
a escolha do tema. Desta forma, achamos que o surgimento daquilo que se considera dupla negação
no português Maputo (PM), está relacionado com a flexibilidade que se verifica na oralidade por
parte dos interlocutores, em querer transmitir informações sem observância das regras, pois esta
situação entendemos que acontece de forma voluntária e como é sabido, a linguagem oral
caracteriza-se pela comunicação imediata onde o ouvinte procura ajustar-se sempre a ela a todo
momento.

Segundo os dados do INE (2007:5), do III recenseamento geral da população e habitação, no nosso
país, a língua portuguesa tem estatuto de língua segunda para a esmagadora maioria da população
e é a língua de ensino ou de escolaridade, por isso torna-se importante o seu domínio.

Desta feita, concordamos com a ideia de Gonçalves (1996:1), que considera que a língua
portuguesa é língua segunda (L2) para a maior parte dos seus locutores e acrescenta que a situação
de contacto linguístico, por um lado, e o estatuto de L2 por outro são factores de relevo no processo
de variação e mudança desta língua em Moçambique.

No âmbito da comunicação, os falantes vão empregando algumas estratégias de forma criativa


com o objectivo de organizar o seu discurso consoante o público-alvo, no entanto o uso destas
formas alternativas no discurso oral faz com que não se respeitam as regras da gramática da língua.
Importa ainda referir que estas formas alternativas com o tempo vão ganhando espaço, visto que
têm sido estas formas da maioria que com o tempo passam a ser usadas por todos, fazendo assim
parte da gramática do falante.

Assim, com o presente trabalho, pretendemos dar a nossa contribuição, alertando para a
necessidade de se continuar a olhar para o funcionamento da língua como uma área que contribui
bastante para o desenvolvimento da competência comunicativa dos jovens estudantes para que no
futuro passem a usar respeitando a norma.
Capítulo II: Pressupostos teóricos

Neste capítulo do nosso estudo pretendemos apresentar aquilo que são as várias concepções
apresentadas por vários estudiosos sobre a dupla negação, em que algumas delas coincidem nas
suas definições. O nosso tema pretende reflectir sobre as implicações da dupla negação no contexto
moçambicano mais concretamente em Maputo, onde como é sabido, a língua portuguesa tem
estatuto de língua primeira (L1) para uns, e língua segunda (L2) para outros.

Não há fontes suficientes sobre a questão relacionada com a dupla negação que é o nosso tema de
investigação, pois acreditamos que é um tema que não é muito tratado no contexto moçambicano,
mas sendo um desafio para nós, abordaremos nos apoiando nos seguintes suportes teóricos:
gramaticais de língua portuguesa, alguns artigos científicos de Brasil, visto que apresentam algo
escrito relacionado com o nosso tema. Neste contexto, convocamos o posicionamento destas
gramaticais de modo a explorar o máximo toda a informação, pois apresentam algo sobre a frase
negativa por considerarmos que são mais relevantes para facilitar a nossa investigação, e sendo
esta uma área da linguística estrutural, procura perceber a linguagem no sentido de ver como esta
é usada porque é um instrumento de inteiração social, iremos também trazer aquilo que é o
posicionamento da própria linguística funcional que passamos apresentar.

2.1. Definição de conceito de frase

Na perspectiva de Bizzaro & Figueirredo (2004‫׃‬130), entendem frase como “sendo uma unidade
sequencial autónoma” ˗ ordenação de palavras e morfemas delimitado no início por uma maiúscula
e, no fim, por um sinal de pontuação forte ou uma entoação descendente ascendente ˗ e uma
unidade de sentido. Pinto & Lopes (2003:173), consideram que frase é um “enunciado lógico
organizado de acordo com as regras gramaticais e com um sentido completo”.

Por outro lado, Raposo et al. (2013:306), defendem que “frase é uma sequência de palavras numa
determinada ordem, que satisfaz as regras e os princípios gramaticais da língua a que pertence,
e que descreve uma situação do mundo sobre o qual se fala ou remete para ela”. Acrescentam
ainda que, as frases são elementos abstractos, inteiramente determinados pelo sistema gramatical,
17

o seu estatuto é independente de qualquer realização oração ou escrita, ou seja, do seu uso concreto
por falantes ou escritores, num momento e num lugar determinado. Como forma de deixar bem
claro, consideram ainda que uma frase constitui a unidade gramatical autónomo, ou melhor, pode
ser isoladamente, constituído por si só um enunciado, pode ser produzido ou escrito normalmente
por um falante/ escritor sem qualquer material linguístico anterior ou posterior a ela.

Por seu turno, Dubois et al. (1993:292), definem frase como «uma reunião de palavras que formam
sentido.»

Não estando satisfeito com a primeira, apresentam outra definição se calhar mais elaborada,
segundo a qual uma frase «é um tipo de sequência de palavras construída que (i) tem um conteúdo
proposicional; (ii) tem como elemento nuclear um verbo; (iii) esse verbo está no modo indicativo
ou imperativo; e (iv) pode ser usada como um enunciado autónomo.» Dubois et al. (1993:292).

Esta definição pode ser integrada na definição que é apresentada por Cunha & Cintra (1996: 119)
que na sua perspectiva, definem a frase como “um enunciado de sentido completo, unidade mínima
de comunicação”, enquanto na perspectiva de Cegalla (1981:211), frase é “todo o enunciado
capaz de transmitir aquém nos ouve ou lê tudo o que pensamos, queremos ou sentimos.” Pode
revestir as mais variadas formas, desde simples palavras até o período mas complexo, elaborado
segundo os padrões sintácticos do idioma.

Deste modo, consideramos as definições apresentadas por todos os estudiosos como válidas,
embora divergem nas suas abordagens, mas as definições apresentadas por Cegalla (1981) e
Raposo (2013) são de extrema importância porque têm em vista o alinhamento de palavras através
das regras de concordância e posicionamento, e também dá forma de modo a transmitir o
pensamento ao falante.

Estes estudiosos, para além de considerar frase como uma sequência de palavras, consideram ainda
os casos em que esta é formada por uma só palavra como é o caso de verbos meteorológicos, ou
verbos que descreve uma mudança de uma parte do dia para outro como: anoitece, amanhece,
portanto cada uma destas palavras quando ditas ou escritas isoladamente segundo considera
Raposo (2013‫׃‬310), podem descrever uma situação, isto é, tem conteúdo proposicional pode
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constituir um enunciado autónomo, o que faz com que em parte ele concorde com os outros
estudiosos.

2.2. Tipos de Frase

Pretendemos apresentar neste subcapítulo, todos os tipos de frase explorados nos programas de
Língua Portuguesa com vista a conferir maior especificidade e propriedade científica no capítulo
da análise de dados.

Merece observação o facto de que na estrutura organizacional, as frases independentemente do


tipo, não são uma soma linear das palavras, porque elas obedecem a uma certa estrutura na qual
elas formam grupos que se articulam entre si a partir de unidades menores até chegar ao nível
superior.

Segundo Raposo (2013:304), no sistema gramatical, a frase do tipo declarativo ocupa um lugar de
central, porque manifesta de forma canónica os princípios gerais da gramática. Os elementos que
compõem este tipo de frases ocorrem usualmente na ordem não marcada da língua, que revela de
modo transparente as suas funções gramaticais e os seus valores semânticos. A maneira mais
profícua de abordar o estudo dos outros tipos de frases – interrogativas, exclamativas e imperativas
- consiste em tomar como modelo a organização das frases declarativas e descrever as alterações
sistemáticas que os seus elementos constitutivos sofrem para formar frases desses outros tipos.

Desta forma, conseguimos perceber que, a frase do tipo declarativo, ocupa um lugar central para
o estudo dos outros tipos de frases, visto que esta monstra de forma clara, as regras do
funcionamento da língua, isto significa que, este estudioso reconhece que a língua portuguesa
segue um ritmo ascendente que se traduz numa sequência progressiva na produção de enunciados.

“As modalidades da frase, ou tipos de frase, traduzem a atitude do enunciador a respeito daquilo
que enuncia e a respeito do destinatário. Consideram que as frases classificam ˗ se em diversas
modalidades segundo os tipos de actos que permitem realizar”. Bizzaro & Figueirredo (2005‫׃‬131)
19

2.3. Modalidades de Frases, segundo (…)

Assim, na perspectiva de Bizzaro & Figueiredo (2005: 131), as frases apresentam as seguintes
modalidades, ou os seguintes tipos:

A. Modalidade assertiva ou declarativa ˗ Quando a asserção limita-se a enunciar um facto.

1. O Pedro chegou. [Bizzaro e Figueirredo (2005:131)]

B. Modalidade interrogativa ˗ pede informações sobre alguma coisa ou alguém.

2. O Pedro já chegou? (idem)

C. Modalidade imperativa ˗ A ordem exprime a vontade de que um facto se realize ou uma


situação aconteça. A ordem é reforçada pela entoação, identificada graficamente pela presença de
uma interjeição.

3. Ó Pedro, chega aqui. (idem)

D. Modalidade exclamativa ˗ exprime as reacções do enunciado face a um facto.

4. O Pedro já chegou! [Bizzaro e Figueiredo (2005:132)]

2.4. Tipos de Frase, segundo Cegalla (1982)

Na esteira de Cegalla (1982: 212), as frases podem ser:

A. Declarativos - quando enceram a declaração ou enunciação de um juízo acerca de alguém ou


alguma coisa.

5. Nessa noite, não pensei mais na moda. [Cegalla (2005: 201)]

B. Interrogativas - encerram uma interrogativa.

6. Não sabe ao menos o nome do pequeno? (idem)


20

C. Imperativas - quando contém uma ordem, proibição, exortação ou pedido.

7. Cala-te. Respeite este templo. (idem)

D. Exclamativas - quando traduz-se uma admiração, surpresa, arrependimento, etc.

8. Uma senhora instruída meter-se nestes bibocasǃ (idem)

E. Optativas - quando exprimem desejo. (idem)

9. Quem me dera ser como Casimiro Lopes. (idem)

F. Imprecativas – consideram-se imprecativas aquelas frases em que há uma maldição, praga,


que expressa vontade de prejudicar algo ou alguém, é uma palavra que ainda não possui nenhum
significado cadastrado.

10. Maldito seja quem arme ciladas no seu caminho. (idem)

2.5. Tipos de Frase, segundo Costa et al. (2012)

Costa et al. (2012:232) consideram os seguintes tipos de frases:

A. Declarativo - exprime uma asserção, não surgindo marcas específicas deste tipo de enunciado.
Assim, a sua identificação poder-se-á estabelecer por oposição às frases interrogativas,
exclamativas e imperativas.

11. Vamos comer um gelado.[Costa et al. (2012:232)]

B. Interrogativas – exprimem um pedido de informação ou acção, correspondendo a uma


formulação de pergunta. Com este tipo de frase, normalmente, pretende-se que seja fornecida
uma informação de que não se dispõe.

12. Queres ir comer um gelado? (idem)

C. Imperativa – exprime uma ordem ou desejo, podendo também assumir o valor de pedido,
exortação, conselho ou instrução. Quando o enunciador ou locutor recorre a uma frase de tipo
21

imperativo pretende obter num futuro imediato a execução de uma acção por parte do seu
interlocutor.

13. Não corram nos corredores. [Costa et al. (2012:233)]

D. Declarativa – exprime sentimentos e emoções.

14. O trabalho está péssimo. [Costa et al. (2012:235)]

Em relação as frases imperativas e o seu valor pragmático, Mateus et al. (2003:449), consideram
todas as frases que exprimem um acto ilocutório directivo, ou seja, aquelas com que, através do
seu enunciado, o locutor visa obter num futuro imediato a execução de uma determinada acção ou
actividade por parte do ouvinte, ou alguém a quem o ouvinte transmite o acto ilocutório.

2.6.Formas de frase
2.6.1. Frase de forma afirmativa

Costa et al. (2012:235), consideram que a frase de forma afirmativa não é marcada por nenhuma
realização lexical específica, pelo que se identifica pela ausência da marcação da frase de forma
negativa.

A palavra sim, muitas vezes designada como marcador da forma afirmativa, ocorre apenas em
alguns contextos como resposta a perguntas ou com valor de contraste.

15. (a) Vais para casa? [Costa et al. (2012:237)]

(b) Sim vou. (idem)

2.6.2. Frase de forma negativa

A frase assume a forma negativa quando denota a inexistência de uma situação ou propriedade
que seria originariamente apresentada,

16. (O dia está quente) – frase na forma afirmativa (idem)


17. (O dia não está quente) – frase de forma negativa (idem)
22

2.6.3. Frase activa e Frase Passiva

A oposição entre a construção sintáctica activa/passiva constrói-se com base na oposição criada
pela perspectiva distinta na análise de uma situação.

Na construção de frase activa, os lugares de predicação são os opostos daqueles que ocorrem na
frase passiva. Assim, na construção activa, a frase apresenta a perspectiva centrada a partir do
sujeito que estabelece uma relação com outra (s) entidade (s), que, na frase passiva, se torna o
agente da passiva.

18. Não fiz nenhuma confusão - voz activa


19. Nenhuma confusão foi feita por mim - voz passiva

No que diz respeito a formação de frases na forma activa e passiva envolvendo a dupla negação,
importa referir que a dupla negação apenas ocorre na voz activa, não sendo utilizada a voz passiva.

Olhando para a frase activa que se considera que nela ocorre a dupla negação, importa salientar
que esta não ocorre, porque os dois operadores negativos embora diferentes não se encontram em
sequência, apenas temos a ocorrência da negação reforçada onde o primeiro advérbio é o não que
é o marcador protótipo da negação e o segundo elemento da negação é o nenhum que é um
quantificador e que desempenha o papel de reforço, pois como considera Raposo (2013‫׃‬462), que
é nosso principal referencial teórico, a negação reforçada pode ser apresentada por outros
operadores.

2.7.Concepção da dupla negação

Segundo Seixas e Alkimin (s/d), a dupla negação expressa uma pressuposição do corrente de uma
estratégia de negação.

Para além disso, os autores afirmam que o uso de dupla negação até ao século XIX estava
regularmente associada a função retórica de negação.
23

Ainda segundo Seixas e Alkimin (s/d), defendem que um enunciado de negativo se:

a) Contradiz o conteúdo proferido ou inferível de proferimento emanado do interlocutor, ou


b) Contradiz o conteúdo proferido ou inferível a partir da consideração de conteúdos presentes no
discurso do próprio falante.

Para Goldnadel (2016:159), defende que ao lado da negação canónica, como um operador de
negação pré-verbal, o português ostenta duas alternativas e semanticamente equivalentes de (SIC);
a dupla negação, com o operador repetido em fim da frase, e a negação pós-verbal com apenas um
operador em fim de frase.

Flores. J.J (10), considera que «a linguística funcional é área da ciência que procura explicar as
estruturas de uma língua a partir da inteiração humana».

De acordo com Cunha (2001), considera que as análises linguísticas de orientação funcionalista
partem do postulado básico de que: «a linguística é uma estrutura maleável sujeita as pressões de
uso de um código totalmente arbitrário”. Na mesma linha de pensamento, De Souza & Vilaça,
(2011), defendem que estudar “a linguagem humana é pois estudar um aspecto particular das
faculdades mentais da espécie humana o que designam por faculdades da linguagem».

Como consequência da interferência destes factores externos, na estrutura da língua surgem


inúmeros fenómenos linguísticos dentre eles a dupla negação -no intuito de adaptar a gramática de
uma língua às estruturas linguísticas que vem sendo praticadas pelos falantes da língua. (…) as
estruturas morfossintácticas inovadoras são motivados por factores de natureza comunicativo e
cognitivo, a sintaxe por exemplo origina-se no discurso, pois nele o falante emprega estratégias
criativas no sentido de organizar funcionalmente seu texto conforme o público alvo, a recorrência
de determinadas formas de oralidade é capaz de modificar as regras da gramática e caracterizar o
processo de regularização linguística, fazendo-se mister observar e analisar a língua como ela é
falada. O uso frequente de tais expressões é um dos factores que indica se eles são ou não
considerados pela comunidade linguística como a gramática.
24

Ainda segundo Cunha (2001), «considera que na oralidade encontram -se três estratégias de
negação, nos textos escritos a negação pré -verbal canónica e categórica.» A partir daí infere-se
que a negativa dupla e pós -verbal podem estar passando por um processo de dramatização porém,
ainda em fase inicial, haja vista não figurarem graficamente.

A autora acrescenta que, «a negativa dupla manifesta -se em contexto de uso específico: trechos
do discurso nos quais o falante interrompe o tema ou tópico central do diálogo de forma a
provocar uma suave mudança no discurso que corresponde a uma pausa temática.»

Rocha (2013), considera que «existe mais de uma forma de realizar a negação de uma sentença em
português. Por seu turno Seixas (2000:51), defende que esta é a única das línguas românicas a
apresentar três estruturas para esse fim.»

Estes dois estudiosos comungam a mesma ideia ao considerarem que no grupo das línguas
românticas a língua portuguesa é a única a apresentar três formas de realização de sentenças
negativas, o que os coloca em divergência com outros estudiosos porque, para estudiosos como
Raposo (2013), a língua portuguesa apresenta (4) quatro formas de realizar a negação.

Raposo et al. (2013:471), sustentam a ideia de que «o português como presumivelmente a maioria
das línguas naturais, apresenta genuínos casos de dupla negação do tipo conhecido do cálculo
proposicional, em que dois operadores negativos ocorrem em sequência, anulando-se
mutuamente».

Considera também que, esta possibilidade não é inteiramente livre, estando antes sujeita a duas
fortes restrições: por um lado, os dois operadores têm de ser diferentes, e por outro, não podem
ocorrer em qualquer ordem.

Veja-se os seguintes exemplos ilustrativos:

20. O aluno não pode deixar de ouvir o que o professor dizia, e respondeu não sem alguma
dignidade.
21. Perante aquela explanação, o aluno fitou-a sem deixar de sentir um certo ressentimento.
22. Não deixa de ser verdade, o que estás a dizer.
25

Segundo Raposo (op. cit), que é importante não confundir os casos de dupla negação com os que
apresentam dois operadores negativos associados a verbos diferentes e, por isso defensalmente, a
diferentes proposições, como na sequência muito comum como não podia deixar de ser (presente
por exemplo, na frase como não podia de ser. Chegamos atrasados), onde o operador não está
associado ao verbo modal poder e ao verbo negativo deixar está aplicado a uma proposição
construída com o verbo ser (aqui significando acontecer ou ocorrer).

Achamos que todas as definições aqui apresentadas são válidas, embora não comungam as mesmas
ideias em relação a ocorrência do fenómeno de dupla negação, porque existem algumas diferenças
específicas na forma de abordagem de cada um dos estudiosos. Desta maneira, conseguimos
perceber que muitos estudiosos na sua maioria consideram dupla negação orações que apresentam
negação reforçada.

No entanto, concordamos com a ideia de Raposo (2013), dado que na sua abordagem defende a
ideia de que como os dois operadores são negativos e porque ocorrem em simultâneo anulam-se
mutuamente e, também considera que esta possibilidade não é inteiramente livre, dado que está
sujeita a duas fortes restrições e explica que por um lado, os dois operadores têm de ser diferentes
e por outro, não podem ocorrer em qualquer ordem.

Deste modo, conseguimos perceber que Raposo op cit. nos seus estudos considera que só as três
possibilidades apresentadas nos exemplos acima são aceites, apesar de haver muitos advérbios de
negação, considera que apenas são usados os seguintes advérbios negação (não, sem e o verbo
negativo deixar) para obter frases com dupla negação.

Neste contexto, passaremos a apresentação do nosso trabalho em que começaremos primeiro por
apresentar algumas frases com diferentes elementos usados para exprimir a negação onde cada
estudioso apresenta o seu ponto de vista.

23. (a) As obras não vão acabar antes de Janeiro.

(b) Os meteorologistas não pensam que o tempo se agrave nas próximas horas.

24. (a) crianças não telefonaram a nenhum amigo.

(b) Ninguém comprou o jornal.


26

25. (a) Trata-se de um problema de não fácil resolução


26. (a) Nem todas as propostas foram aprovadas pela assembleia.

(b) Ela vai ouvir não poucos ralhos por ter desobedecido.

Mateus et al. (2003: 769)

As frases (23 a 26) apresentam-se na forma negativa com operadores negativos (não, nenhum e
ninguém). Porém existe diferenças entre si porque nas frases em (23 a e b), o operador negativo
não tem escopo sobre o sintagma verbal (ir e pensar) que o afecta negativamente, já nas frases (24
a e b) a negação é marcada pela presença dos pronomes indefinidos (ninguém e nenhum) em que
o pronome nenhum antecede um nome (amigo) e ninguém por sua vez antecede um verbo
(comprar), ainda em (25), a negação é marcada pelo marcador protótipo da negação frásica que
antecede o adjectivo fácil e por fim em (26 a e b) a negação é marcada pela presença do nem que
é geralmente usado na coordenação e não que neste caso tem estatuto de advérbio.

2.8.Conceito de negação

Segundo Neves (2000:285), a negação “é uma operação actuante ao nível sintáctico - semântico
no (interior do enunciado), bem como no nível pragmático.” É um processo formador de sentido,
agindo como instrumento de inteiração doptado de intencionalidade. A negação é, além de tudo
um recurso argumentativo (ou contra argumento).

Ainda segundo Neves op. cit., considera que o elemento que opera a negação tem incidência, o
que tem sido chamado escopo. O escopo da negação define-se «como o segmento de enunciado
ou em que a negação oferece o seu efeito, ou seja, como conjunto de conteúdos afectadas pelo
operador de negação. É a noção de escopo que permite distinguir.»

Para Mateus et al. (1989:110), «entendem a negação como uma operação de modificação que
actua quer ao nível dos elementos constituintes de uma proposição (modificação da predicação),
quer ao nível sintáctico-semântico de uma frase, quer ao nível pragmático.»
27

Mateus et al. (2003:769), na sua gramática mais recente, apresentam uma definição mais
reformulada onde afirmam que «podemos caracterizar a negação nas línguas naturais como uma
operação que, actuando sobre uma expressão linguística, permite denotar quer a existência da
situação ou entidade originariamente reportada por essa unidade, quer o valor oposto da
propriedade ou quantidade por ela designada.»

Os autores afirmam ainda que o valor negativo ou positivo presente nas expressões linguísticas é
designado como polaridade, respectivamente, polaridade negativa ou positiva. No português a
polaridade positiva é raramente assinalada pela presença de marcador específico. Assim, por
defeito, todas as expressões linguísticas que não contenham elemento negativo exibem polaridade
afirmativa. De facto, a partícula sim, o marcador de polaridade positiva por excelência, só ocorre
em contextos coordenados exibindo contraste de polaridade.

Segundo Ducrot e Todorov (1982:369), definem a negação «como um operador que se agarra ao
predicado que ela transforma no seu extremo posto. Deste modo um enunciado negativo toma por
objecto, uma proposição positiva e a afecta.»

Em relação as definições apresentadas por estes estudiosos, concordamos com todos quando
afirmam que o advérbio (não) é sempre um modificador de qualquer constituinte do grupo em
construções de negação, visto que, qualquer frase que tenha uma modalidade de negação apresenta
uma polaridade negativa e este encontra-se adjacente ao constituinte que modifica.

Os seguintes exemplos são consensuais

27. (a) O pai não comprou brinquedo para as crianças.

(b) O pai comprou aos filhos (não brinquedos), mas livros.

(c) O pai comprou brinquedos para os filhos (não a tarde) mas de manhã.

(d) O pai comprou carro a tarde (não à mulher), mas ao primo.

As frases de (27. a à d), apresentam-se na forma negativa e todas apresentam um operador negativo
não, tal como fizemos referência, este elemento é marcador protótipo da negação. Contudo
28

existem diferença entre elas na medida em que em (27. a), o operador negativo aparece na posição
pré-verbal e modifica todo grupo verbal, em (27.b), o mesmo aparece depois do objecto indirecto
e está junto do objecto directo modificando-o, em (27.c) a negação encontra-se depois do objecto
directo e indirecto e está junto do advérbio modificando-o, em (27.d), o operador da negação
encontra-se depois do objecto directo e do advérbio tarde e está junto do objecto indirecto e
modifica-o.

2.8.1. Grandes tipos de negação

De acordo com Raposo (2013:465), a negação é uma operação que se aplica em praticamente todos
os níveis de estrutura linguística da palavra à frase, e sendo em geral o valor negativo o valor
marcado, as línguas dispõem de várias formas de constatar o valor positivo.

A negação sintáctica, em que o valor negativo é realizado por uma combinação de elementos
morfologicamente autónomo, isto é, por meio de uma construção negativa.

28. O chefe da turma não veio as aulas hoje.

Além da negação sintáctica, existe um sistema de negação morfológica, obtida partir de morfemas
negativos que podem ocorrer numa palavra (como nos nomes infelicidade ou desconforto, nos
adjectivos incapazes ou desleal, nos advérbios, a tipicamente ou em verbos como desconhecer ou
desobedecer).

29. Alguns alunos são desobedientes, porque não cumpre com o regulamento.

Pode ainda considerar-se que existe um sistema de negação lexical, construído pelos grupos de
elemento do léxico que exprimem conceitos complementares sem recurso a meios morfológicos,
como é o caso de dois pares do tipo bom/mau ou aceitar/rejeitar.

30. Os mais novos devem aceitar os conselhos dos mais velhos

Há construções negativas que alguns autores classificam como negação morfossintáctica, dado
que podem analisar numa perspectiva tanto lexical como sintáctica. Trata-se de construções em
29

que uma das partículas não ou sem está directamente aplicada uma unidade lexical, dando origem
a uma expressão de mesmo ou de diferente classe sintáctica. Sem mudança de classe temos pelo
menos exemplos nominais (como não violência, sem abrigo, sem-fim, sem vergonha) adjectivos
(como não nuclear, não contagiosa ou não urgente), adverbiais (como não facilmente ou não
surpreendentemente) e preposicionais (como por necessidade ou não com entusiasmo).

31. Na época chuvosa que se avizinha, as famílias que vivem nas zonas propensas a inundações
ficarão sem abrigo.

Pretendemos nesta fase do nosso estudo, que é a mais importante, perceber as implicações que a
dupla negação causa no seio dos alunos, pois como já fizemos referência no nosso trabalho esta
envolve tanto a negação oracional propriamente dita (comum de subordinação e de coordenação)
com o verbo negativo deixar.

Neste contexto, considera-se importante perceber como é que a dupla negação devem aparecer nas
frases e quais as designações que são utilizadas pelos diferentes estudiosos.

Importa ainda salientar que segundo Raposo et al (2013: 675), considera que em português, na
expressão simples da afirmação e de negação, no que diz respeito ao uso dos marcadores da
negação, refere que a negação é veiculada através de não em posição integrada no início do
sintagma verbal, por sua vez a afirmação não tem qualquer marca gramatical, em particular sim
não pode ser usada nessa posição.

Segundo Raposo op cit, negação é uma operação que se aplica em praticamente todos os níveis de
estrutura linguística da palavra a frase.

No que se concerne a negação sintáctica para muitos estudiosos como Raposo (2013:463),
consideram que:

«O valor negativo é feito por meio de uma construção negativa em que esta aparece
a anteceder o verbo, esta é a posição canónica e que apresenta um operador
negativo designada por negação pré-verbal, já no que diz respeito a negação
reforçada «é aquela em que temos a presença de um operador negativo repetido,
30

podendo esta aparecer no inicio e no final da frase, pode ainda aparecer no início
da frase. Também é importante salientar que para além de se usar um único
operador negativo que ocupa a posição pré-verbal, também é possível usar outros
operadores. Para além da negação reforçada, temos ainda a reiteração em que
temos o operador negativo repetido no início da frase e ainda a reiteração e
reforço em que temos o operador negativo repetido no início da frase em que o
mesmo volta a aparecer no final da frase.»

Esta pode ser atestada por frase do tipo: não sei, não como resposta a uma pergunta que diz:

32. Sabe que horas são?

(a) Não sei, não. [reforço]

(b) Não, não sei. [reiteração]

(c) Não, não sei, não. [reiteração e reforço]

33. Vai chover?


(a) Não vai chover nada./ Não vai nada chover./ Não vai chover coisa nenhuma. / Não vai
chover coisíssima nenhuma.

Os operadores que aqui aparecem como reforço na frase (33) não desempenham qualquer função
gramatical.

E importante referir que no que se refere a dupla negação, diferentemente dos outros estudiosos
que consideram uma situação em que temos um operador repetido na frase, isto não é consensual
visto que como diz Raposo (2013), esta possibilidade não é inteiramente livre, uma vez que esta
construção está sujeita a duas fortes restrições: por um lado, os dois operadores têm de ser
diferentes e por outro, não podem ocorrer em qualquer ordem. Ainda no que concerne a construção
de frases usando a dupla negação, este estudioso considera que só é possível usar três
possibilidades como mostram os exemplos abaixo.
31

Os seguintes exemplos são elucidativos:

34. Vou responder, não sem antes consultar um jurista.


35. Não deixa de ser curioso o que me estás a dizer.
36. O artigo foi contundente, sem deixar de tolerante.

Raposo [2013:471]

Nas frases (34, 35 e 36), temos construções de dupla negação representadas pelos operadores
negativos (não, sem e o verbo negativo deixar). Mas existe diferenças entre si na medida em que,
em (34), temos dupla negação representada pelos operadores negativos não e sem que se
encontram em sequência anulando-se, e também não ocorrem em qualquer ordem. Na frase (35),
apesar de termos um operador negativo não, que se antepõe ao verbo negativo deixar, considera-
se este um caso de dupla negação, visto que, o próprio verbo deixar é negativo, portanto, os dois
elementos estão em sequência e anulam-se a semelhança do primeiro caso, esta é uma oração
subordinada. Na frase (36), a dupla negação é representada com o operador negativo sem, que se
antepõe também ao verbo negativo deixar. A semelhança do que acontece com a segunda frase,
mas esta é uma oração coordenativa.

Relativamente a produção de frases usando a dupla negação, é importante referir que não nos
parece consensual que se considera apenas três possibilidades, onde apenas se considera os
advérbios não, sem e o verbo negativo deixar, como afirma Raposo (op. cit), também deveríamos
considerar outros operadores de negação como os quantificadores.

Tomemos como exemplos as seguintes frases:

37. Na verdade este assunto é muito delicado, só que nunca ninguém me abordou.
38. Ele odeia-me sem nunca ter falado comigo.
39. Acho que dentre nós, ninguém nunca passou vergonha na vida.
40. Ninguém deixa os seus pertences nas mãos alheias com medo de perde-las
41. Considero esta aula dada visto que, nunca nenhum aluno foi a biblioteca consultar esse
livro.
32

42. Enquanto for professor nunca deixa de variar as estratégias para ter um bom
aproveitamento.

As frases (37, á 42) são exemplos de dupla negação construídas com base nos seguintes
quantificadores negativos (nunca, ninguém, nenhuma e o verbo negativo deixar) que se
encontram em sequência anulando-se mutuamente.

2.8.2. Negação sintáctica e seus subtipos

Na esteira de Raposo et al (2013:463), consideram que embora diversa na forma, as construções


negativas, isto é, que envolvem negação sintáctica e pelo menos parte da morfossintáctica) têm em
comum a ocorrência de um operador próprio, chamado operador negativo ou operador da
negação que, em português, pode ter as formas não, nem ou sem, consoante os contextos e os
valores em causa. Na mesma perspectiva Mateus et al. (2003:771), consideram que os marcadores
negativos negam as unidades sobre que têm escopo. O português apresenta três marcadores da
negação que ocorrem em domínios estruturais diversos são eles os seguintes: não, nem e sem.

Concordamos com os dois estudiosos quando referem que nas construções negativas a língua
portuguesa é representada por três marcadores acima apresentados, embora estes não sejam os
únicos porque esta pode ser representada por advérbios, prefixos de negação considerada negação
morfossintáctica como veremos a seguir.

2.8.3. Negação oracional

Na perspectiva de Raposo et al (2013: 646), A negação oracional envolve três grandes subtipos,
designados negação oracional simples, negação oracional de subordinação e negação oracional de
coordenação.
33

2.8.3.1.Subtipos da negação oracional

Segundo Raposo et al (2013:464), consideram que numa construção de negação oracional


simples, um dos operadores negativos não ou nem precede imediatamente o verbo (em forma finita
ou no infinitivo) de uma oração, frásica ou não, ou um pronome clítico em próclise, tornando a
negativa essa oração (e apenas ela).

Vejam-se os seguintes exemplos:

43. Não está chover.


44. O Pedro não é ribatejano.
45. Alguns estudantes não foram a festa.
46. Metade dos estudantes não tinha ainda decidido se irá a festa.
47. O Pedro resolveu não ir a festa.
48. A Ana não me disse se ia á festa.

Raposo [2013:464]

A negação com operador não pode ou não ser enfática, consoante a entoação. Porém, quando é
usado como operador nem em vez de não, o valor semântico da negação oracional é acrescido de
um valor discursivo de ênfase da negação, que pode marcar, nomeadamente, a surpresa de uma
entidade perante a situação descrita.

Vejam-se os exemplos ilustrativos:

49. A Ana foi-se embora e nem se despediu!


50. O presidente de mesa nem cumprimentou a assistência!
51. Nem queiras saber o que andam para ai a dizer de ti!
52. O Paulo ficou perturbado que nem jantou.

No âmbito da negação oracional simples, é pertinente estabelecer uma distinção entre, por um lado
negação oracional comum, que pode ser realizada por não ou nem, e por outro lado a negação
34

oracional discursiva, realizada sempre com um operador não. Esta última pode ser subdividida
em negação retórica e negação metalinguística, Raposo et al (2013:465).

Tomemos como exemplo as seguintes frases:

53. (a) Não passas o sal, por favor?

(b) Não me ajudas a arrumar estes livros?

(c) Não me entregas este livro ao Pedro?

(d) Não se importa de que eu me sente?

A negação oracional, segundo considera Raposo et al. (2013:464), restringe-se as frases


interrogativas, as quais, independentemente da negação, podem ser «perguntas retóricas», em que
o carácter interrogativo tem valor meramente discursivo. Como mostram os exemplos a cima, em
que a negação retórica consiste numa forma de negação oracional simples em que o operador de
negação é facultativo, uma vez que, tanto a pergunta de base afirmativa, como de base negativa
permitem obter exactamente a mesma informação. A diferença é fundamentalmente de carácter
discursivo, envolvendo modalidades comunicativas como cortesia ou valores similares.

A negação retórica não tem as mesmas propriedades de comum, sendo por exemplo, incompatível
com apêndices interrogativas. Por exemplo, em (53b) se acrescentar um apêndice como pois não?
a negação passa de retórica a comum:

Quanto à negação metalinguística, trata-se de negação oracional associada a um processo


discursivo em que um falante contrapõe a uma dada proposição por uma outra que contradiz
necessariamente a primeira.

Na negação oracional de subordinação, o operador negativo sem precede imediatamente uma


oração subordinada, finita ou não, conforme os exemplos abaixo:

54. (a) A Ana saiu sem que eu desse por isso.

(b) A Ana saiu sem se despedir.


35

Na negação oracional de coordenação, o operador negativo nem coordena uma oração de valor
negativo a outra igualmente de valor negativo.

55. (a) Os salários não sobem nem os preços descem.

(b) Nem os salários sobem nem os preços descem.

2.8.3.2. Negação morfossintáctica

Este é um tipo de negação em que uma das partículas não ou sem está directamente aplicada a uma
unidade lexical, dando origem a uma expressão de mesmo ou de diferente classe sintáctica, sem
que haja mudança de classe, temos pelo menos exemplos nominais (como não violência, sem
abrigo, sem -fim, sem vergonha) adjectivos (como não nuclear, não contagiosa ou não urgente),
adverbiais (como não facilmente ou não surpreendentemente) e preposicionais (como por
necessidade ou não com entusiasmo). Raposo (2013:462)

Observe-se os seguintes exemplos.

56. (a) O sarampo é uma doença não contagiosa.

(b) A PRM apelou a não-violência durante o processo de votação.

(c) No decurso da II guerra mundial usou-se material não nuclear.

(d) Ele é um indivíduo sem vergonha.

(e) Essa é uma história sem-fim.

(f) No tempo da guerra as pessoas ficam sem abrigo.

(g) O trabalho será feito, mas não facilmente.

(h) Comprei carro por necessidade.


36

No tocante a negação lexical, como já se fez referência esta é construída pelos grupos de elementos
do léxico que exprimem conceitos complementares sem recurso a meios morfológicos, como é o
caso de dois pares do tipo bom/mau ou aceitar/ rejeitar. Como se pode notar temos aqui palavras
antónimas.

2.9.Advérbios de negação

Para Cuesta & Da Luz (1971:454), os principais advérbios de negação portugueses são: não,
nunca, jamais, nem; sendo as locuções adverbiais as seguintes: também não, em tempo algum,
nunca mais, não mais, etc.

Relativamente aos advérbios de afirmação usados em português, Cuesta & Da Luz (idem)
apresentam os seguintes: sim, decerto, certamente, realmente, também, outrossim, pois.

57. Eu, realmente conheço esta mulher.

As principais locuções adverbiais são: sem dúvida, com certeza, pois sim, pois não, pois é ou é,
etc.

No que diz respeito aos advérbios de negação, diferentemente de Raposo (2013), e de Mateus et
al. (2003), Cuesta & Da Luz (1971), para além dos advérbios mencionados por aqueles acrescenta
no seu quadro pessoal os seguintes: nunca e jamais, enquanto na lista dos dois primeiros
estudiosos, os advérbios nunca e jamais não fazem parte.

2.10. As unidades negativas e os constituintes negados

Segundo Matos (2003:461), citado por Mateus (2003) defende que «as frases interrogativas
constituem a expressão de um acto ilocutório, através do qual o locutor pede ao seu alocutário
que lhe forneça verbalmente uma informação de que não dispõe».
37

Consoante o escopo ou foco da interrogação incide sobre toda a proposição ou sobre uma parte da
proposição, assim as frases interrogativas podem ser de dois tipos: (totais/globais, proposicionais
ou de sim/ não) e parciais (de constituintes, de instanciação ou interrogativas (Q)). Importa ainda
as interrogativas tags.

Nos constituintes negados, a polaridade negativa decorre da presença de certas unidades. Os


marcadores de negação e os quantificadores negados.

Temos como exemplos as seguintes frases de interrogativas totais:

58. O António telefonou.


59. Vai chover.
60. Compraste o jornal.

Mateus et al. (op. cit.), consideram que, sintacticamente, uma interrogativa total pode não
apresentar modificação em relação à declarativa correspondente, apenas se distinguindo dela por
uma curva de entoação específica, como acontece nas frases (58) - (60).

Mas pode apresentar uma ordem de palavras diferentes das frases declarativas como em (61).

61. Telefonou o António.

As interrogativas totais são formuladas com o objectivo de obterem da parte do alocutário, uma
resposta afirmativa ou negativa, uma interrogativa total pode ser sim, seguida do verbo da
pergunta; mas normalmente é apenas constituída pelo verbo.

62. (a) Sim, telefonou

(b) Telefonou.

Uma resposta negativa também pode ser constituída por não, normalmente reforçado e seguido de
verbo da pergunta.

(c) Não, não telefonou.


38

2.11. Subordinação e a negação

No presente subcapítulo do nosso trabalho pretendemos fazer uma pequena abordagem sobre a
subordinação e coordenação, pois tal como fizemos referência a longo do nosso trabalho, as
construções de dupla negação envolvem a coordenação e subordinação com o verbo negativo
deixar.

Na esteira de Brito (2003: 471), citado por Mateus (2003), consideram a subordinação como um
dos mecanismos sintácticos que assegura a formação de frases complexas.

Bizzaro & Figueirredo (2012‫׃‬147), defendem que a subordinação é a relação de uma oração
autónoma com uma oração principal e acrescentam que uma oração subordinada é introduzida por
pronomes, advérbios, conjunções ou locuções conjuncionais.

Costa et al. (2012‫׃‬244), defendem que nas orações ligadas por subordinação existe uma estrutura
de encaixe, ou seja, a oração subordinada é um constituinte da oração subordinante.

Na esteira de Perreira & Figueirredo (2005‫׃‬222), referem que são subordinativas as que ligam duas
orações, uma das quais completa ou determina o sentido da outra.

Em relação a definições apresentadas por estes estudiosos sobre a subordinação, concordamos com
todos, mas neste caso, consideramos a definição de Bizzaro & Figueirredo (2012:147), porque na
sua definição faz menção aos elementos que são usados para a construção da frase subordinada,
como os advérbios pois estes são usados para a construção de frases que tem dupla negação.

2.12.Coordenação

Cuesta & Da Luz (1971:378), definem coordenação como um princípio sintáctico por meio da qual
se podem exprimir diversas conexões entre estados de coisas.
39

Bizzaro & Figueirredo (2012‫׃‬146), a coordenação põe em relação duas orações que se apresentam
no mesmo nível sem que uma esteja dependente da outra.

Para Perreira & Figuerreido (2005‫׃‬222), consideram que são coordenativas, as que ligam orações
da mesma natureza, ou palavras que, na oração desempenham funções iguais.

Relativamente as definições apresentadas por estes estudiosos sobre a coordenação, importa


salientar que concordamos com eles quando referem que as orações coordenadas não estabelecem
nenhum laço de dependência, apesar de não nos apresentam nenhum elemento que é usado para a
construção de orações coordenadas envolvendo a dupla negação, mas olhando para as frases que
são apresentados no nosso trabalho podemos perceber que temos alguns elementos que são usados
na construção de frases coordenadas envolvendo a dupla negação são os casos da conjunção
copulativa nem e o verbo negativo deixar e, durante a nossa investigação conseguimos perceber
que o nem pode ser parafraseado por e não e, neste caso o e para além de ser um dos elementos
usado para parafrasear passa ter o valor de a dicção e deste modo temos uma oração coordenada
copulativa envolvendo a dupla negação.

A título de exemplo, temos a seguinte frase que consta do nosso questionário:

63. O patrão não pagou salário nem deixou ninguém entrar.

2.13. Situação linguística do Português em Moçambique

Segundo Chimbutane et al. (2012:5), Moçambique tem cerca de (27 909 798)1 vinte e sete milhões
e novecentos e nove mil e setecentos e noventa e oito milhões de habitantes, dos quais mais de 85,
2% tem uma língua da família bantu como sua língua materna. Consideram ainda que para além
das línguas bantu outros consideram o Português como sua língua materna o que corresponde a
10.7 %, isto mostra o quão é importante o conhecimento da língua portuguesa, pois segundo estes

1
Estes dados carrecem de uma actualização.
40

autores, a percentagem dos que tem a língua portuguesa como língua materna tem vindo a subir o
que prova que mais da metade da população moçambicana fala Português.

Importa referir que devido ao contacto constante do português com as línguas do grupo bantu faz
com que haja diferenças entre o português moçambicano (PM) e o Português Europeu (PE).

Podemos a partir destes dados afirmar que em Moçambique, embora a língua portuguesa tenha
estatuto de língua oficial, é língua primeira (L1) para uns e língua segunda (L2) para outros, mas
mesmo assim, existe ainda um longo caminho a percorrer porque existem determinadas regras
relacionadas com as estruturas linguísticas que não fazem parte da gramática dos jovens estudantes
como acontece com a estrutura de frases que envolvem a dupla negação.

Deste modo, concordamos com Gonçalves (1998:2), quando afirma que a situação linguística em
que se encontra o Português com as línguas do grupo bantu é um factor de relevo no processo de
variação e mudança desta língua.
Capítulo III: Metodologia de investigação

3.1. Descrição da população

Para o alcance dos objectivos que traçamos no nosso trabalho usamos certos caminhos e estratégias
que melhor conduziram a nossa pesquisa. Neste contexto, segundo Gil (2002:162), considera que
é através da metodologia que se descreve os procedimentos, a serem seguidos na realização da
pesquisa onde a sua organização varia de acordo com as peculiaridades de cada pesquisa.

Ainda na mesma perspectiva, Carvalho (2009:127) define a metodologia “como caminhos e passos
para se atingir um determinado objectivo, o processo racional que se emprega na investigação”.
Este estudioso ao dar a definição apresenta-nos os seguintes tipos de metodologias: o indutivo, o
dedutivo e hipotético dedutivo e acrescenta que estes métodos partem de proposições dadas para
se estabelecerem as conclusões, sem precisar de recorrer a outros elementos que não seja os dados
iniciais.

A nossa pesquisa sendo um trabalho científico não fugiu a regra, seleccionou a população alvo
onde fez a respectiva selecção de amostra, para a respectiva observação.

No nosso trabalho assentamos a nossa atenção no método indutivo, onde trabalhamos com um
total de 60 estudantes do I ciclo da 10ª classe de duas escolas secundárias divididas ao meio sendo
uma da cidade de Maputo, e uma da cidade da Matola para de seguida buscar aquilo que constitui
a veracidade dos factos.

De acordo com o instrumento de pesquisa aplicado, estes alunos foram avaliados em momentos
diferentes. O primeiro grupo a ser submetido ao teste foi o da Escola Secundária Francisco
Manyanga, e de seguida passamos para Escola Secundaria da Machava Bedene, estes alunos são
de ambos os sexos e tinham idades compreendidas entre 15- 19 anos de idade.
42

Importa salientar que estes estudantes foram submetidos a uma mesma avaliação e como já fizemos
referencia anteriormente, o objectivo era perceber até que ponto os alunos tem conhecimento sobre
as regras do funcionamento da língua, mais concretamente a dupla negação.

A opção por este método, prende-se essencialmente no facto de ser um dos métodos de
investigação que está voltada para a qualidade do trabalho, no qual se procura compreender o
significado que os acontecimentos e interacções têm para as pessoas comuns, em situações
particulares.

No que se concerne a escolha deste grupo de alunos, tem a ver com o facto de maior parte destes
alunos ser residente dos locais por nos escolhidos, ou melhor, são das cidades de Maputo e Matola,
pois como é sabido, é nesta província que vive maior parte de pessoas que são tomados como
modelo na fala.

3.2. Método de procedimento

Segundo Gil (2008:37), o método monográfico, parte do princípio de que o estudo de um caso em
profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos
semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades, etc.

Este método facilitar-nos-á compreender os problemas através de consultas de obras relacionadas


com o assunto em causa, bem como de outras que auxiliarão na realização do trabalho.

3.3. Técnicas de recolha de dados

Na esteira de Lakatos e Marconi (2003:107), «as técnicas são um conjunto de processos de que se
serve uma ciência na obtenção dos seus propósitos e correspondem as práticas de colecta de
dados.»

No trabalho optaremos pela documentação directa e indirecta. A documentação indirecta consistirá


na revisão da literatura onde vamos procurar informação sobre o tema que pretendemos estudar.
43

Embora tenhamos alguns dados sobre o assunto achamos que não são suficientes e precisamos de
recolher mais dados porque tal como temos vindo a fazer referência ao longo do nosso trabalho,
este tema quase que não é tratado e para podermos abraçar tivemos que consultar a alguns
docentes. A recolha dos dados decorreu na Escola Secundária da Machava Bedene e na Escola
Secundaria Francisco Manyanga no período compreendido entre o mês de Novembro.

3.4. Local da pesquisa

A Escola Secundária da Machava Bedene situa-se na zona sub-urbana de Maputo província entre
os bairros Bunhiça e São Damaso, é uma escola do ensino secundário geral, onde temos turmas do
(I) primeiro e (II) segundo ciclo funcionando nos cursos diurno e nocturno. De salientar que esta
Escola é Comunitária, e anualmente recebe graduados da sétima classe, mas com obrigação de
fazerem matricula o que significa que tem regulamento próprio. Quanto ao programa de ensino é
o mesmo que o do Ensino Secundário Geral, concebido para oitava, nona e décima classes do SNE.

É de salientar que, diferentemente das outras escolas secundárias que quando se trata de uniforme
os alunos mandam cozer ao seu gosto ou compram na respectiva Escola caso esteja a venda, desde
que seja aquele que foi acordado, nesta escola os alunos usam roupa decente, isto é, é obrigatório
as raparigas apresentarem-se de saia verde que vai até aos tornozelos e uma camisa branca.

Por sua vez, a Escola Secundária Francisco Manyanga está situada na cidade de Maputo, mais
concretamente no Bairro do Alto Mãe ao lado das bombas e da Escola Primária que ostenta o
mesmo nome, leccionando turmas do (I) primeiro e (II) segundo ciclo que também funcionam nos
cursos diurno e nocturno.

3.5. População e Amostra

Segundo Lakatos e Marconi (2003:108), «população vai ser o conjunto de seres animados ou
inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum.» A delimitação de
universo consiste em explicar que pessoas ou coisas, fenómenos, etc., serão pesquisados.
44

Neste contexto, constitui universo ou população para a presente pesquisa (60) alunos da Escola
Secundária Francisco Manyanga (ESFM) e Machava - Bedene (ESMB) do Iº Ciclo do ESG, mais
concretamente da 10ª Classe de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 15 e os 19
anos. Olhando para os instrumentos de pesquisa que foram utilizados, este grupo foi avaliado no
mesmo dia e tivemos que levar os inquéritos para as respectivas escolas para os nossos inquiridos
poderem preencher e no fim recolhemos.

De salientar que dos sessenta (60) alunos avaliados nas duas escolas dividimos os inquéritos pela
metade onde em cada escola levamos 30 inquéritos para os nossos inquiridos.

Na Escola Secundaria Francisco Manyanga tivemos maior número de raparigas porque


trabalhamos com dezassete (17) raparigas contra treze (13) rapazes, enquanto na Escola
Secundária da Machava Bedene trabalhamos com dezasseis (16) raparigas e catorze (14) rapazes.
Como pode-se notar o número de raparigas avaliadas é maior que o dos rapazes dado que temos
um total de (33) contra (27) rapazes.

No que diz respeito a escolha das Escolas, importa referir que para a Escola Secundaria da
Machava Bedene, a escolha deveu-se tanto da facilidade que tivemos, pois estávamos com um
colega da turma membro do grupo que é professor naquele estabelecimento de ensino que terá
facilitado o nosso trabalho de recolha dos referidos dados, enquanto para a Escola Francisco
Manyanga, foi pelo facto de termos feito o trabalho de Estágio Pedagógico naquela instituição de
ensino.

3.6. Instrumentos de pesquisa

No presente trabalho foi concebido como instrumento de pesquisa um (1) teste escrito para todos
os alunos com quatro grupos de perguntas em que cada grupo era composto por (6) seis frases
contendo vários tipos de negação, sendo no total (24) vinte e quatro frases, das quais uma é que
estava correcta em cada grupo e os nossos inquiridos deviam colocar (x) na alternativa por si
julgada correcta consoante o enunciado da pergunta. Importa salientar que dentro destas frases
nalguns grupos tinha pelo menos uma frase agramatical e isto foi feito propositadamente para
45

podermos perceber se os nossos inquiridos possuem algum conhecimento sobre o assunto. Para a
realização deste teste, os nossos inquiridos tiveram meia hora cedidos pelas direcções das
respectivas escolas.

Para uma melhor colaboração dos nossos inquiridos, antes da realização do teste os alunos foram
informados de que o mesmo não tinha nenhum carácter avaliativo, somente visava colher alguns
dados sobre a estrutura da frase negativa, sobretudo a dupla negação, pelo que não deviam se
preocupar no caso de a resposta escolhida não estiver correcta.

O primeiro grupo a ser submetido ao teste foi o da Escola Secundária Francisco Manyanga e de
seguida passamos para Escola Secundária Machava Bedene.

Relativamente as frases do inquérito, importa salientar que estes foram elaborados com base na
ajuda da gramática e da obra da escritora Paulina Chiziane com o título Nicketze para as frases
que apresentam negação reforçada e reiteração e reforço, de modo a permitir que sejam bem
elaborados, pois das leituras feitas em algumas obras não nos foi fácil encontrar frases em que se
usa a dupla negação.
Capítulo IV. Apresentação e análise de dados da pesquisa recolhidos – a dupla negação

4.1. Análise e discussão dos resultados

No que se refere aos aspectos que apresentamos no início do nosso trabalho, sobretudo na parte
correspondente ao problema que nos propusemos investigar e nas hipóteses, realizou-se o trabalho
de campo cujo objectivo central era de analisar o nosso objecto de abordagem: estratégias usadas
na aula de língua portuguesa com principal enfoque na área do funcionamento da língua. Tal como
sugere o capítulo, primeiro apresentamos os dados da pesquisa e de seguida procedemos à
respectiva análise.

Assim sendo, no presente capítulo do nosso trabalho, assentamos o nosso estudo apenas nos alunos
da Iº ciclo do Ensino Secundário Geral, onde num total de sessenta (60) inquiridos, como nossa
população de amostra, fazem parte deste número trinta e três (33) raparigas e vinte e sete (27)
rapazes.

De um modo geral, todos os informantes foram submetidos a um questionário previamente


elaborado com o objectivo de explorar o conhecimento que os mesmos têm sobre as frases que
apresentam a dupla negação.

A escolha deste grupo de alunos tem a ver com o facto, de maior parte dos nossos inquiridos ou
quase na sua totalidade serem residentes dos locais por nós escolhidos, embora alguns dos que
estudam na cidade de Maputo, sejam residentes da Matola, mas os mesmos se encontram em menor
escala.

O nosso inquérito tinha quatro grupos de questões e cada um destes grupos tinha seis (6) frases
todas negativas e como forma de avaliar o nível de conhecimento que os alunos têm sobre o
fenómeno da dupla negação, deviam escolher apenas uma frase em cada grupo colocando (x), na
frase correcta consoante o que o enunciado pedia.
47

4.2. Análise de dados

Na análise de dados vamos prestar atenção na quantidade da informação sobre a dupla negação
para de seguida fazermos a comparação da informação recolhida nas duas escolas através da
sistematização dos dados colhidos visando atestar as hipóteses que norteiam a realização do
presente trabalho, confrontando os dados que colhemos com a informação teórica recolhida
durante a fase da nossa pesquisa bibliográfica.

Esta parte da análise e a discussão de dados se procede em três fases diferentes, sendo a primeira
aquela em que se analisam e discutem os resultados do teste aplicado na ESFM, e a segunda fase
em que se analisam e discutem os resultados do teste aplicado na ESMB, e por fim na terceira fase,
faz uma análise comparativa dos resultados obtidos, procurando destacar os assuntos mais
relevantes.

Para permitir uma boa compreensão dos resultados comparativos, os dados são apresentados em
valores de natureza percentual tendo em consideração os seguintes critérios:

Para que uma frase seja analisada e os seus resultados considerados como fiáveis é necessário que
metade dos inquiridos, ou mais tenha respondido.

4.2.1. Análise dos dados do inquérito aplicado aos alunos da ESFM

Como já fizemos referência ao longo do nosso trabalho, na presente investigação usamos um único
teste para as duas escolas e que o mesmo consistia na escolha da frase correcta em cada grupo
onde no primeiro grupo o aluno devia escolher apenas a frase que tivesse a negação reforçada,
no segundo a reiteração, no terceiro tínhamos a reiteração e reforço e no último grupo devia
escolher a frase que tivesse a dupla negação colocando (x) na frase por si julgada correcta
conforme a indicação do enunciado.

Para uma melhor compreensão do nosso trabalho tivemos que explorar toda a informação sobre
frase negativa onde de seguida tivemos que organizar as mesmas em (4) quatro grupos e cada
48

grupo estava composto por (6) seis frases. Em relação a forma como as frases estavam arrumados,
importa referir que não se observou nenhum critério, tendo sido feito de forma aleatória, na medida
em que não tivemos nenhuma orientação bibliográfica para o fazer.

Conforme já se disse ao longo do nosso trabalho, este estava virado para as frases contém a dupla
negação, mas para podermos fazer da uma melhor forma a confrontação dos dados tivemos que
trabalhar com outras frases negativas.

No trabalho, não estão apresentados todos os dados percentuais das frases de cada grupo, mas
apenas trouxemos aquilo que são os dados da frase que pretendemos que os nossos inquiridos
seleccionem em cada grupo, pois achamos que essa informação é suficiente para aquilo que
pretendemos.

A seguir, passamos à uma reflexão sobre as frases negativas, a fim de verificarmos quais são as
frases considerações agramaticais em relação ao que era solicitado, mas com mais enfoque na
dupla negação que é o nosso tema de investigação.

Importa referir que ao longo do nosso trabalho conseguimos notar que os nossos inquiridos da
ESFM apresentaram respostas diferentes, conforme mostram os dados que a seguir apresentamos.

Em relação ao I grupo em que os inquiridos deviam escolher apenas a frase que tivesse a negação
reforçada tínhamos as seguintes frases:

64. a) Não sei, não.

b) No mundo não existe coisa sem sombra.

c) Não tenho registo no mapa da vida nem tenho nome.

d) Não houve nada.

e) Ele não estudou nem fez o teste.

f) Ele nem esta em casa.


49

De acordo com a norma do português padrão a frase (64.a) está correcta; porque como considera
Raposo (2013:463), a negação reforçada é aquela em que temos a presença de um operador
negativo repetido podendo esta aparecer no início e no final da frase, mas pode ainda aparecer no
início da frase. Relativamente aos (30) trinta alunos avaliados nesta escola, apenas (11) onze
inquiridos consideraram esta frase correcta, o que corresponde a 36,7% dos quais (5) cinco são
raparigas e 6 são rapazes.

Na frase (64.b) encontramos dois operadores negativos, o não que antecede o verbo existir e o
segundo elemento da negação é o sem que neste caso desempenha o papel de preposição de sentido
negativo.

A frase (64.c) apesar de apresentar dois operadores negativos, este não se considera como um caso
de negação reforçada, pois para os devidos efeitos, para que se considera negação reforçada existe
regras. O primeiro operador da negação que encontramos nesta frase é o não que se antepõe ao
verbo ter, e o segundo é o nem que neste caso desempenha duas funções as de conjunção e de
marcador da negação onde o mesmo pode ser parafraseado por e não.

O seguinte exemplo é consensual

65. Não tenho registo no mapa da vida e não tenho nome.

Olhando para a frase (64.d) considera-se também um caso de negação reforçada, a única diferença
é que neste caso usou-se o advérbio nada o que para nós nos parece consensual porque em
consonância com Raposo (2013:463), considera que a negação reforçada, para além de se
representar com único operador negativo, é possível usar outros operadores, e neste caso usou-se
um quantificador nada.

Por sua vez a frase (64.e) está representada por dois operadores negativos, a semelhança da frase
(c) sendo que o primeiro elemento da negação é o não que aparece na posição pré-verbal e o
segundo aparece também a anteceder o verbo, desempenhando duas funções a de conjunção e de
marcador da negação, e como considera Mateus et al (2003:769), quando isto acontece o nem pode
ser parafraseado por e não, isto quando coordena frases.
50

Na frase (64.f) a negação é representada por nem, e esta é uma negação simples, onde o mesmo
pode ser substituída por não porque a semelhança do que acontece com o não que nas frases
negativas precede o verbo, nem também precede imediatamente o verbo.

No que diz respeito a este primeiro grupo em que os inquiridos deviam escolher apenas a frase que
tivesse a negação reforçada, acreditamos que os nossos inquiridos, embora a percentagem não seja
tão elevada, não tiveram nenhum problema na medida em que estiveram mais virados para o
próprio significado da expressão, pois esta expressão faz parte da gramática deles, ou melhor, tanto
no PM, assim como no PE, esta expressão dá ideia de repetição.

No que se concerne ao segundo grupo que era referente a reiteração, tínhamos as seguintes frases:

66. a) Alguns estudantes não fizeram o teste.

b) Não, não fizeram todos.

c) Graças a Deus não precisou de chás nem dietas.

d) Não foi nada contigo.


e) O pai não ofereceu nenhum brinquedo aos filhos.
f) Eles fizeram não bem o teste.

A reiteração existe quando numa frase temos um operador repetido no início da frase, a seguir
vejamos o tratamento que foi dado a cada uma das frases.

Na frase (66.a) temos a negação simples que é representado por não que é o marcador, mais
generalizado da negação que antecede o verbo fazer, este tipo de negação não fazia parte dos
grupos, apenas tivemos que colocar porque para podermos ter outros tipos de negação temos que
ter primeiro a negação simples.

De acordo com norma do PE, a segunda frase, que neste caso é (66.b) é que tem a negação
reiterada, na medida em que corroborando com Raposo (2013:463), defende que temos reiteração
quando temos o operador repetido no início da frase. Representando de forma percentual, dos 30
alunos avaliados somente 9 alunos consideraram a frase certa, o que corresponde a 30%, dos quais
51

(6) são raparigas o que corresponde á 66.7% e (3) são rapazes e a percentagem se situa na ordem
dos 33.3%.`

Apesar de este tipo de negação fazer parte da gramática do aluno, mas porque esta matéria não é
tratada formalmente na sala de aulas, poucos alunos conseguiram acertar.

Na frase (66.c) a negação é representada pelos seguintes operadores, não que antecede o verbo
precisar e o segundo é o nem que neste caso desempenha a função de conjunção coordenativa
podendo ser parafraseado embora este elemento da negação não esteja a anteceder nenhum verbo,
acreditamos que está aqui subjacente a ideia deste operador estar a anteceder o mesmo verbo
precisar, podendo neste caso também ser parafraseado por e não.

Daqui podemos afirmar que, os alunos, pouco sabem deste assunto, pois a semelhança dos outros
tipos de negação, esta quase que não faz parte da gramática do aluno.

A quarta frase que está identificada pela letra (66.d) é representada por dois operadores negativos
sendo o primeiro elemento o não que antecede o verbo ser e o segundo advérbio é a expressão
nada que desempenha a função de reforço funcionando sozinho, pois como é sabido, neste caso o
verbo haver significa, acontecer, ou existir.

A frase (66.e) é representada pelos seguintes operadores negativos: O primeiro operador é o não
que antecede o verbo oferecer e o segundo é representado pelo pronome indefinido nenhum
designado por quantificador universal pois, na perspectiva de Costa (2012:210), considera que este
quantificador estabelece uma relação entre o grupo nominal e todos os elementos do grupo a que
pertence e neste caso particular, foi combinado com o [SN presente dos filhos] para formar uma
expressão negativa.

No que diz respeito frase (66.f) do nosso inquérito, apesar de ter um operador negativo, é
agramatical, porque os dados não se encontram nos seus devidos lugares, ou melhor, não obedece
a estrutura SVO, importa referir que, uma frase que se apresenta na forma negativa o operador
negativo não, regra geral precede o verbo.

Em relação a este grupo os nossos inquiridos não tiveram muitas dificuldades na escolha da frase
certa, apesar de este tipo de expressões não fazer parte da sua gramática, ou melhor, estes alunos
52

embora não estejam habituados a falar da negação reiterada, alguns inquiridos conseguiram
efectuar a escolha certa.

A fase que se segue neste momento é do grupo inerente a frase que contém a negação reiterada
e reforçada como foi dito no capítulo concernente aos pressupostos teóricos, considera-se que
existe reiteração e reforço num caso em que temos um operador repetido no início da frase e que
o mesmo operador volta aparecer no final da frase.

Neste grupo tínhamos as seguintes frases correspondente a negação reiterada:

67. a) A menina, embora triste, não deixou de ouvir o que o professor dizia.

b) Não, não existe homem que vive sem mulher não.

c) Os colegas não podem não ter lido esse livro nos últimos dias.

d) É sim uma situação complicada, nem água vai nem água vem.

e) O patrão não pagou salário nem deixou ninguém entrar na fábrica.

f) Gosto não, não muito da aula de português.

Quanto à frase (67.a) deste grupo temos a dupla negação representada pelo marcador protótipo da
negação que é o não e o segundo elemento é o verbo negativo deixar. Conforme considera Raposo
(2013), na dupla negação os dois operadores devem estar em sequência anulando-se mutuamente.

No que diz respeito a frase (67.b) esta é uma frase que apresenta a negação reiterada e reforçada
que é representada pelo operador negativo não que se encontra repetido no inicio da frase e o
mesmo volta aparecer no final da frase, mas para além deste elemento, aparece ainda o sem que
neste caso desempenha a função de preposição. Contudo os estudantes não foram para além dos
26.7 %, o que significa que dos 30 inquiridos avaliados apenas (8) oito conseguiram dar respostas
correctas e deste número, (5) são raparigas o que corresponde a 62.5% e (3) são rapazes o que
corresponde a 37.5%. Com os dados que temos podemos com muita facilidade perceber que estes
alunos, quase na sua maioria não conhecem a negação reiterada e reforçada, ou seja, as construções
da negação reiterada e reforçada não fazem parte da gramática destes estudantes.
53

Na frase (67.c) a negação esta representada por não que se encontra repetido, onde o primeiro
elemento da negação se encontra associado ao verbo modal poder, e o mesmo volta aparecer
negando a possibilidade de os colegas não terem lido determinado livro.

Por seu turno, a negação da frase (67.d) está representada pelo operador nem, que se encontra
repetido no meio da frase, este operador é marcador da negação utilizado na coordenação, mas
neste caso desempenha a função de locução coordenativa disjuntiva.

Olhando para a frase (67.e) diferentemente das outras frases, a negação está representada por
quatro operadores, o primeiro é o não que aparece na posição pré-verbal, o segundo operador e o
nem que acumula as funções de conjunção e de marcador da negação podendo neste caso ser
parafraseado por e não, o terceiro operador da negação é verbo negativo deixar e por fim o quarto
elemento está representado pelo quantificador ninguém.

A última frase deste grupo, que é representada pela letra (67.f) embora apresenta um operador não
que se encontra repetido, esta frase é agramatical, pois não apresenta a ordem de construção de
frases, ou seja não seguem a estrutura SVO.

Por último tínhamos o quarto grupo, que é da dupla negação que estava constituído pelas
seguintes frases:

68. a) Nem a Isa, nem a Maria estão na escola.

b) Não, não gostamos de tirar negativas nas avaliações.


c) Colocada a questão, o aluno respondeu não sem titubear.
d) O professor não gosta nada de alunos mimados.
e) Ninguém não gosta de ter dinheiro.
f) Não gosta ninguém de estudar.

A frase (68.a) está representada pelo operador nem que está repetido, este funciona como uma
locução coordenativa disjuntiva a semelhança da frase (d) do III grupo. Importa salientar que
nenhum dos nossos inquiridos optou por esta frase, o que nos faz acreditar que este tipo de
construções faz parte da gramática do aluno, pois este é um assunto que é muito tratado no ESG.
54

No que se concerne a frase «68.b» aparece representada pelo operador não que se encontra repetido
no início da frase. Logo esta é uma negação reforçada. Contudo são pouco os estudantes que
escolheram esta frase. Pensamos que, o facto de termos tido poucos estudantes a escolherem esta
frase foi devido ao facto de os mesmos já terem percebido o que se pretendia no enunciado.

Relativamente a frase (68.c) do nosso inquérito esta é que contém a dupla negação, e o mesmo
está representado pelo operador não que é o marcador mais generalizado da negação e o segundo
operador é o sem que é uma preposição de sentido negativo.

Na esteira de Mateus et al. (3003:769), considera que para além de ser preposição de sentido
negativo, também funciona como complementador quando ocorre antes de qualquer outro
elemento da frase subordinada que introduz.

No que diz respeito a esta frase, importa referir que os nossos inquiridos consideraram-na
agramatical se calhar pelo facto de não estarem habituados a lidar com este tipo de construções,
ou melhor, este tipo de negação não faz parte da gramática do aluno e também porque esta matéria
não é tratada nas escolas. Dos (30) alunos avaliados 6 responderam positivamente o que
corresponde a 20%, deste número (4) quatro são raparigas e (2) são rapazes. As respostas das
raparigas situam-se nos 66.7% contra 33.3% dos rapazes.

A frase (68.d) a semelhança da outra frase (d) que faz parte do grupo número (2) que é da reiteração
está representada por dois operadores negativos sendo o primeiro elemento o não que antecede o
verbo ser, e o segundo advérbio é a expressão nada que desempenha a função de reforço a
semelhança dos outros casos que funciona sozinho.

Na frase (68.e) do nosso inquérito temos a dupla negação, lembrar que este tipo de operadores que
aqui aparecem não faz parte do grupo das frases que Raposo et al (2013: 462), consideram fazerem
parte da negação dupla, mas segundo nossas investigações, constatamos que é possível construir
frases com dupla negação usando um quantificador negativo e um operador negativo. Nesta frase
a dupla negação está representada pelo quantificador ninguém e o segundo elemento da negação é
o não, recordar ainda que estes operadores se encontram em sequência e em simultâneo anulando-
se.
55

Já no que diz respeito a frase (68.f) que é a última frase deste grupo, embora tenha um operador
negativo, esta frase é agramatical e nenhum dos nossos inquiridos considerou correcta. A
creditamos que os nossos inquiridos não escolheram porque conhecem a estrutura da frase
gramatical.

Durante o nosso trabalho conseguimos notar que os estudantes da ESFM, demonstraram ter maior
domínio da negação reforçada apesar da percentagem não ser muito alta, na medida em que neste
tipo de negação tivemos uma maior percentagem, onde dos (30) trinta inquiridos 11 estudantes
deram respostas correctas o que corresponde a 36.7 % contra 19 que deram respostas incorrectas,
dos quais (6) seis são rapazes e (5) são raparigas.

No segundo grupo que era para escolher a frase que tivesse a negação reiterada, dos 30 alunos
avaliados, 9 deram respostas correctas contra 21 que deram respostas erradas, o que corresponde
a 30% dos quais (3) três são rapazes e 6 são raparigas.

Já no terceiro grupo, que é correspondente a reiteração e reforço, a percentagem situou-se nos


26%, o que mostra claramente que dos 30 alunos avaliados somente 8 deram respostas desejadas
e deste número (5) cinco são rapazes e (3) três são raparigas.

No que se concerne ao último grupo que é o da dupla negação que é o nosso tema de investigação,
notamos que os estudantes apresentaram muitas dificuldades sobre o assunto na medida em que a
percentagem foi de 20%, onde dos 30 alunos avaliados só (6)seis alunos apresentaram respostas
certas, deste número (2) dois são rapazes e (4) quatro são raparigas.

Podemos a partir dos dados afirmar que os alunos do I ciclo da 10˚ classe, não têm nenhuma noção
sobre a estrutura da frase envolvendo a dupla negação, assim como sobre a negaça oracional
comum de subordinação e coordenação envolvendo o verbo negativo deixar.

Contudo, como os dados que obtivemos nesta escola, não se foram suficientemente esclarecedores
sobre a questão relacionada com a frase envolvendo a dupla negação, tivemos que usar o mesmo
teste para podermos ter uma ideia geral sobre o assunto.
56

4.2.2. Análise dos dados do inquérito aplicado aos alunos da ESMB

Na presente fase do nosso estudo, vamos apresentar os dados de forma sumária sem trazer detalhes
de todas as frases, de modo a evitar a repetição das informações, na medida em que essa análise
foi feita a quando da apresentação e análise dos dados da ESFM.

Conforme já fizemos referência, no momento da análise de dados da ESFM, o nosso teste estava
constituído de 24 propostas divididos em (4) quatro grupos, contendo vários tipos de negação onde
os nossos inquiridos deviam escolher apenas (1) uma frase conforme a indicação do nosso
enunciado.

Importa ainda salientar que, nos dados da ESMB, tivemos uma ligeira descida em todos os grupos,
isto em termos percentuais quando comparado com os dados da ESFM, mas no geral em termos
do conhecimento das estruturas linguísticas envolvendo a frase negativa, estes alunos
demonstraram ter o mesmo nível de conhecimento, porque tanto na ESFM assim como na ESMB,
tivemos uma maior percentagem na frase que apresenta a negação reforçada, mas no que se
concerne a frase que apresenta a dupla negação, que é o nosso objecto de estudo a percentagem
esteve reduzida principalmente na ESMB.

A razão de termos tido uma percentagem baixa na ESMB em relação a ESMF, achamos que está
relacionado com o facto de a escola estar situada na zona sub-urbana onde maior parte das pessoas
usam uma ou mesmo as duas línguas nas suas comunicações, a outra razão está relacionada com
o facto de estes alunos não usarem frequentemente a língua portuguesa em diversas situações da
vida social e em certas circunstâncias o que faz com que não tenham um domínio pleno das regras
do funcionamento desta língua, pois como é sabido, a gramática do português possui um sistema
de conhecimento bem estruturado.

Em relação as respostas que colhemos nesta escola, conseguimos notar que os nossos inquiridos
da ESMB, a semelhança da ESFM apresentaram respostas divergentes, como confirmam os dados
que a seguir passamos a apresentar.

Passamos de seguida a apresentação dos dados em grupos conforme a forma como as frases
aparecem no questionário.
57

No I grupo em que a escolha tinha recair na frase que tivesse a negação reforçada, tínhamos as
seguintes frases:

69. a) Não sei não.

b) No mundo não existe coisa sem sombra.


c) Não tenho registo no mapa da vida nem tenho nome.
d) Não houve nada.
e) Ele não estudou nem fez o teste.
f) Ele nem esta em casa.

Já se fez referência no capítulo concernente aos pressupostos teóricos, que uma frase apresenta
negação reforçada quando temos a presença de um operador negativo repetido podendo esta
aparecer no início e no final da frase, mas também pode ainda aparecer no início da frase. Deste
modo, a frase (69 a) é que apresenta a negação reforçada, porque temos um operador não repetido
e que aparece primeiro na posição pré-verbal e o mesmo aparece no final da frase. Entretanto dos
(30) trinta alunos avaliados nesta escola, (10) dez inquiridos consideraram esta frase correcta, o
que corresponde a 33%, dos quis (6) seis são raparigas e (4) quatro são rapazes. Como se pode ver
em relação a este primeiro grupo se comparado com os dados da ESFM, tivemos uma pequena
subida em termos percentuais.

No II grupo do nosso inquérito, tínhamos as seguintes frases para a negação reforçada.

70. a) Alguns estudantes não fizeram o teste.

b) Não, não fizeram todos.

c) Graças a Deus não precisou de chás nem dietas.

d) Não foi nada contigo.

e) O pai não ofereceu nenhum brinquedo aos filhos.

f) Eles fizeram não bem o teste.


58

Neste grupo os inquiridos deviam seleccionar a frase que tivesse a negação reiterada, e como já
ficou esclarecido, uma frase que contém a negação reiterada é aquela em que o operador aparece
repetido no início da frase. Assim, a frase (70.b) apresenta esta organização na medida em que
temos um operador que aparece repetido no início da frase. No entanto dos (30) trinta alunos
avaliados apenas (8) deram respostas positivas o que corresponde a 26%, fazem parte deste número
(3) raparigas e (5) cinco rapazes. Conforme mostram os dados, quando comparados com os dados
da ESFM, houve uma pequena redução.

O III grupo do nosso questionário era da negação reiterada e reforçada e neste grupo tínhamos
as seguintes frases:

71. a) A menina, embora triste, não deixou de ouvir o que o professor dizia.

b) Não, não existe homem que vive sem mulher não.

c) Os colegas não podem não ter lido esse livro nos últimos dias.

d) É sim uma situação complicada, nem água vai nem água vem.

e) O patrão não pagou salário nem deixou ninguém entrar na fábrica.

f) Gosto não, não muito da aula de português.

A semelhança do que vem sendo feito ao longo do trabalho, neste grupo, os nossos inquiridos
deviam escolher somente a frase que tivesse a negação reforçada e reiterada e como já fizemos
referência, considera-se que existe a reiteração e reforço numa situação em que temos o operador
repetido no início da frase e o mesmo volta aparecer no final. Deste modo a frase (71.b) reúne
estes requisitos.

Em termos percentuais, dos (30) inquiridos avaliados neste grupo só (5) cinco estudantes
consideraram esta frase correcta, o que corresponde a 16.7%, dos quais (2) dois são raparigas e (3)
três são rapazes.

No que diz respeito ao IV grupo e o último que é dupla negação, faziam parte as seguintes frases:
59

72. a) Nem a Isa, nem a Maria estão na escola.

b) Não, não gostamos de tirar negativas nas avaliações.

c) Colocada a questão, o aluno respondeu não sem titubear.

d) O professor não gosta nada de alunos mimados.

e) Ninguém não gosta de ter dinheiro.

f) Não gosta ninguém de estudar.

Neste grupo os nossos inquiridos tinham que escolher a frase que tivesse a dupla negação, para
nós ficou claro mais uma vez, que os alunos não estão familiarizados com as estruturas linguísticas
envolvendo a dupla negação, ou melhor, esta matéria não faz parte da gramática do aluno, na
medida em que tanto na ESFM, assim com na ESMB, a percentagem foi muito baixa. Na ESMB
dos (30) trinta alunos avaliados (3) três consideraram a frase «72.c» como correcta o que
corresponde a 10%, dos quais (2) duas são raparigas e (1) um e rapaz.

A seguir veja-se o quadro ilustrativo das respostas do questionário

Respostas Respostas Número total de

de erradas correctas frases


Tipo
negação/resposta
No % No % No %

Negação reforçada 39 65 21 35 60 100

Negação reiterada 43 71.7 17 28.3 60 100

Reiteração e reforço 47 78.3 13 21.7 60 100

Dupla negação 51 85 9 15 60 100


60

Representação das respostas por sexo

Respostas correctas Respostas erradas Número total de


frases
Tipo de
negação/resposta
H M H M H M

No % No % No % No % No % No %

Negação 10 16.7 11 18.3 50 83.3 49 81.7 60 100 60 100


reforçada

Negação 8 13.3 9 15 52 86.6 51 85 60 100 60 100


reiterada

Reiteração e 6 10 7 11.7 54 90 53 88.3 60 100 60 100


reforço

Dupla negação 3 5 6 10 57 95 54 90 60 100 60 100

Podemos a partir destes dados, afirmar, que os alunos do I˚ ciclo da 10˚ classe, não conhecem as
estruturas frásicas que contêm a dupla negação, ou seja, para estes alunos uma frase que contém a
dupla negação é aquela que se constrói usando apenas um operador repetido. Podendo esta estar
no início e no fim da frase quando se trata de negação reforçada, ou mesmo os dois estarem no
início quando se trata de negação reiterada, se calhar porque o programa não prevê o estudo deste
tipo de frases e os professores pouco interesse dedicam a esta matéria.
61

Conclusão e recomendações

Conclusão

Chegados a esta fase do nosso estudo que tinha como objectivo reflectir sobre as implicações que
a dupla negação causa no Português de Maputo, mais concretamente no seio dos alunos da 10ª
classe da Escola Secundária Francisco Manyanga e da Escola Secundária Machava Bedene,
podemos considerar como válidas as hipóteses segundo as quais as construções de dupla negação
que envolvem tanto a negação oracional propriamente dita (comum de subordinação e de
coordenação) com o verbo negativo deixar, não são tratadas formalmente nas escolas secundárias.

Os alunos do ESG, quando constroem frases que envolvem dupla fazem-no sem observância das
regras na medida em que a selecção de um ou de outro elemento marcador da negação é feita sem
ter e conta a variante padrão da língua portuguesa, pois o nosso estudo confirma-se pelo facto de
termos tido uma percentagem muito reduzida, isto significa que, uma frase que apresenta uma boa
estrutura linguística no PE no PM é agramatical.

Ainda sobre o fenómeno da dupla negação, foi possível perceber que, em Português existe mais
de uma forma de realizar a negação, mas estas formas diferem da posição que o operador da
negação ocupa em relação ao verbo. Merece observação também o facto de que o não como
marcador da negação as vezes funciona sozinho com estatuto de enunciado negativo, mas isto
acontece em contexto de resposta a interrogativas gerais, ou melhor em interrogativas cuja a
resposta é exactamente do tipo sim / não, também foi possível perceber que para além do não que
é o marcador protótipo da negação existe outros elementos designados quantificadores negativos,
que também são usados para realizar a negação. Já no que diz respeito ao operador não em frases
negativas este elemento pela regra aparece sempre a anteceder a parte do enunciado sobre o qual
incide a negação.

Dos dados recolhidos ficou claro que os estudantes consideram a dupla negação casos onde temos
negação reforçada e reiteração e reforço, razão pela qual nestes dois tipos de negação tivemos uma
maior percentagem em relação aos outros tipos.
62

Recomendações

Depois de fazermos o nosso estudo sobre as implicações que as frases ou orações com dupla
negação causam no seio dos alunos gostaríamos de;

I. Apelar aos panificadores do currículo de Português do ensino básico para que ao


produzirem os manuais de português, possam incluir textos contendo frases que têm dupla
negação de modo a que possam ser trabalhados nas aulas de funcionamento da língua, visto
que, isso poderá ajudar aos alunos a identificar melhor todas frases negativas, não só, como
também as frases que envolvem o verbo negativo deixar, de modo a saberem que existem
diferenças entre a negação reforçada, a reiteração, a reiteração e reforço e a dupla negação.

II. Pedir aos professores para trabalharem no sentido de variarem as estratégias de maneiras
que os alunos possam desenvolver melhor a competência comunicativa e também possam
identificar os tipos de negação, existente na língua portuguesa, de modo a que no futuro
possam produzir frases que contém a dupla negação.

III. Pedir aos gestores da educação para que nas aulas de funcionamento da língua quando
identificarem frases que contém os tipos de negação não deixem de explicar os seus alunos
de modo a que estas frases possam fazer parte da gramática dos jovens estudantes.
63

BIBLIOGRAFIA

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9. DUBOIS, J,T. Dicionário de Linguística. 9ª Edição.São Paulo, Coutrix.1993.

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16. HTTPS://WWW. HYPERLINK "https://www.normaculta.com.br/dupla-

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20. MATEUS et al. Gramática de Língua Portuguesa. 2ª Edição. Lisboa, Caminho.1989,

21. MATEUS et al. Granítica de Língua Portugues.6 ͣ Edição. Lisboa, Caminho, 2003.

22. MATTOS, J,& SILVA, Rosa. Português são dois…;novas fronteiras, velhos problemas. São

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23. NEVES, M,H. Gramática de Usos de Gramaticais de Português. São Paulo, editora

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24. PERREIRA, C,& FIGUERREIDO, Z. Compêndio de Gramática de língua Portuguesa.

Porto Editora.2005.

25. PINTO, et al. Gramática do Português Moderno. 4ª Edição. Platónico Editora, Lisboa.2003.

26. RAPOSO et al. Gramática de Português. Vol. I.2ª Edição. Lisboa, Calouste Gulbankian.

2013.
Anexos
(Anexo 1: QUESTIONÁRIO)

UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E ARTE

O presente questionário destina-se aos alunos da 10ª classe.

Colabora connosco, lendo atentamente as perguntas. O mesmo não é de caracter avaliativo, mas
destina-se a fazer recolha de informações sobre a construção de frases negativas e como é sabido
a negação é uma operação que opera modificação de uma frase.

Não precisa escrever o teu nome.

Questionário I

Responde o seguinte questionário usando o teu conhecimento.

1- Sexo:

a) Masculino____
b) Feminino____
c) Idade:____

2- Com quem vives?

a) Com os teus Pais____


b) Apenas com a tua mãe ____
c) Apenas com o teu pai____
d) Com os teus avós_____

3- Tipo de habitação:

a) Melhorada_____
b) Não melhorada____
2

4- Qual é o tipo de energia que usa em casa?

a) Da EDM_____ d)A gás____


b) Solar______ e) Petróleo ____
c) Nenhuma?

5- Quantas línguas falam em casa?

a) Uma_____
b) Duas_____
c) Ou mais_____

6- Indique - as:

a) Xirhonga______
b) Xichangana_____
c) Português_____
d) Bitonga_____
e) Outras _____
Quais?_______________________________________________

7- Qual é a língua mais usada em casa?

a) Xirhonga______
b) Xichangana_____
c) Português______
3

As seguintes frases são negativas, escolhe apenas uma colocando X no espaço entre parênteses, na
que tiver:

1- Apenas reforço.
a) Não sei não. ( )
b) No mundo não existe coisa sem sombra. ( )
c) Não tenho registo no mapa nem tenho nome. ( )
d) Não houve nada. ( )
e) Ele não estudou nem fez o teste. ( )
f) Ele nem está em casa. ( )

2- Reiteração
a) Alguns estudantes não fizeram teste. ( )
b) Não, não fizeram todos ( )
c) Graças a Deus não precisou de chás nem dietas. ( )
d) Não foi nada contigo ( )
e) O pai não ofereceu nenhum presente aos filhos. ( )
f) Eles fizeram não bem o teste. ( )

3- Reiteração e reforço
a) A menina, embora triste, não deixou de ouvir o que o professor dizia. ( )
b) Não existe homem que vive sem mulher. ( )
c) Os colegas não podem não ter lido esse livro nos últimos anos. ( )
d) É sim uma situação complicada, nem água vai nem água vem. ( )
e) O patrão não pagou salário nem deixou ninguém entrar na fábrica. ( )
f) Gosto não, não muito da aula de Português. ( )

4- Dupla negação
a) Nem a Isa nem Maria estão na sala. ( )
b) Não, não gostamos de tirar negativa nas avaliações. ( )
c) Colocada a questão, o aluno respondeu não sem titubear. ( )
4

d) O professor não gosta nada de alunos mimados. ( )


e) Ninguém não gosta de ter dinheiro. ( )
f) Não gosta ninguém de estudar. ( )
(Anexo 2: Grelha dos resultados da análise)
A grelha que a seguir apresentamos é referente aos dados da (ESFM) Escolar Secundária Francisco
Manyanga

Frase Frases correctas Total dos Inquiridos

Nº Absoluto Percentagem Nº Absoluto Percentagem

Negação reforçada 11 36,7 30 100 %

Negação reiterada 09 30 30 100 %

Reiteração e reforço 08 26,7 30 100 %

Dupla negação 06 20 30 100 %

Esta grelha é dos dados da (ESMB) Escola Secundária Machava Bedene

Frase Frases correctas Total dos Inquiridos

Nº Absoluto Percentagem Nº Absoluto Percentagem

Negação reforçada 10 33 % 30 100 %

Negação reiterada 08 26,7 % 30 100 %

Reiteração e reforço 05 16,7 % 30 100 %

Dupla negação 03 10 % 30 100 %


2

Grelha resumo dos resultados das análises das duas escolas

Frase Frases correctas Total dos Inquiridos

Nº Absoluto Percentagem Nº Absoluto Percentagem

Negação reforçada 21 36,7 % 60 100 %

Negação reiterada 17 30 % 60 100 %

Reiteração e reforço 13 26,7 % 60 100 %

Dupla negação 09 20 % 60 100 %

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