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INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4
8 O PLANEJAMENTO ................................................................................. 28
9 PLANEJAR X IMPROVISAR..................................................................... 30
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13.3 O que ensinar?................................................................................ 36
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20.7 Diferença entre a teoria e o discurso .............................................. 62
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 64
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INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
Bons estudos!
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1 O PÚBLICO DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Fonte: www.ceasc.com.br
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No público que efetivamente frequenta os programas de educação de jovens e
adultos, é cada vez mais reduzido o número daqueles que não tiveram nenhuma
passagem anterior pela escola. É também cada vez mais dominante a presença de
adolescentes e jovens recém-saídos do ensino regular, por onde tiveram passagens
acidentadas. Em levantamento realizado no programa de educação básica de jovens
e adultos do município de São Paulo, em 1992, apurou-se que 26% do alunado tinha
até dezoito anos de idade e 36% tinha entre dezenove e 26.
Na cidade do Recife, apurou-se que, dos alunos de programas para jovens e
adultos das redes municipal e estadual, 48% tinha de treze a dezoito anos de idade e
26%, de dezoito a 24 anos. A presença dos adolescentes tem sido tão marcante que
se começa a pensar em programas ou turmas especialmente destinadas a essa faixa
etária.
A quase totalidade dos alunos desses programas, incluídos os adolescentes,
são trabalhadores. Com sacrifício, acumulando responsabilidades profissionais e
domésticas ou reduzindo seu pouco tempo de lazer, dispõem-se a frequentar cursos
noturnos, na expectativa de melhorar suas condições de vida. A maioria nutre a
esperança de continuar os estudos: concluir o 1º grau, ter acesso a outros graus de
ensino e a habilitações profissionais.
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Fonte: www.sistemafibra.org.br
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Nas zonas urbanas, alunos de programas de educação de jovens e adultos
normalmente são empregados com baixa qualificação no setor industrial, comercial e
de serviços, e uma grande parte atua no mercado informal.
Nas zonas rurais, são pequenos produtores ou empregados de empresas
agrícolas. Nessas funções, eles têm poucas oportunidades de utilizar-se da leitura e
escrita e escassas oportunidades de aperfeiçoamento, acabando por limitar-se a
conhecimentos específicos do ofício, em muitos casos transmitidos oralmente por
familiares ou companheiros mais experientes.
No aspecto econômico, o Brasil tem de enfrentar ainda uma somatória de
problemas antigos e modernos: produzir mais para suprir as carências materiais de
grandes parcelas da população, distribuir a riqueza mais equitativamente e cuidar para
que uma exploração predatória não esgote os recursos naturais de que dispomos.
Parece haver um razoável consenso de que para se atingir essas metas é preciso
elevar o nível de educação de toda a população.
Reforçando argumentos nesse sentido, tem sido muito apontado o exemplo de
países asiáticos que conseguiram um importante desenvolvimento econômico
baseado num investimento maciço em educação. Trabalhadores com uma formação
mais ampla, com mais iniciativa e mais capacidade de resolver problemas e aprender
continuamente têm mais condições de trabalhar com eficiência e negociar sua
participação na distribuição das riquezas produzidas.
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Fonte: www.ceale.fae.ufmg.br
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nas grandes cidades ou de uma localidade para outra, para tirar os documentos ou
para cumprir um sem número de procedimentos burocráticos, para mover-se no
mercado de consumo e, finalmente, para poder usufruir de muitas modalidades de
lazer e cultura.
Até no âmbito do convívio familiar, surgem cada vez mais exigências
educacionais. Para educar crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo
com tão rápidas transformações, os pais precisam constantemente se atualizar,
precisam ter condições para apoiar os filhos em seu percurso escolar, cuidar de sua
saúde etc. Até para planejar a família, para que se possa ter quantos filhos se deseje
e se possa criá-los é preciso ter acesso à informação, referenciar-se a valores e
assumir atitudes para as quais a educação pode contribuir.
Vemos assim que promover a educação fundamental de jovens e para educar
crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo com tão rápidas
transformações, os pais precisam constantemente se atualizar adultos que não
tiveram a oportunidade de cumpri-la na infância é importante para responder aos
imperativos do presente e também para garantir melhores condições educativas para
as próximas gerações. Melhorar o nível educacional de um país é um desafio grande
e complexo, que exige esforços em todos os níveis.
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Fonte: www.vrnews.com.br
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possibilidade que nossa cultura oferece de estudar uma ciência ou ler literatura, de
ser médico ou operário especializado.
Vemos, portanto, que, apesar de as pessoas pouco letradas possuírem muitos
conhecimentos válidos e úteis, elas estão excluídas de outras muitas possibilidades
que a nossa cultura oferece. Muitas vezes elas interpretam essa desvantagem como
incapacidade, a ponto de não reconhecerem como tal aquilo que sabem ser
conhecimento útil e válido. A exclusão do conhecimento que se adquire na escola
marca essas pessoas profundamente pela imagem que fazem de si e pelo estigma
que a sociedade lhes impõe. É por isso que muitas delas, mesmo tendo outras
responsabilidades no trabalho e em casa, decidem estudar.
2.1 Expectativas
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2.2 Conquistas Cognitivas
Mas o que, de fato, a educação escolar pode trazer de novo para esses jovens
e adultos que já são cidadãos e trabalhadores, que já estão integrados de um modo
ou de outro em nossa sociedade? Podemos enumerar algumas conquistas bem
evidentes, como o domínio da leitura e da escrita, das operações matemáticas básicas
e de alguns conhecimentos sobre a natureza e a sociedade que compõem as
disciplinas curriculares. Mas os produtos possíveis da educação escolar não se
resumem a esses mais evidentes. Muitos estudiosos e pesquisadores da cognição
humana trataram de estudar as diferenças cognitivas, ou diferenças nas formas de
pensamento, entre pessoas que dominam a escrita e que passaram por vários anos
de escolarização e pessoas que não o fizeram.
Muitos desses estudos concluem que pessoas com mais tempo de
escolaridade têm mais facilidade para realizar operações mentais a partir de
proposições abstratas ou hipotéticas, operando com categorias que não são as
organizadas pela experiência imediata. Esse tipo de operação cognitiva está bastante
relacionado com a escrita e com o desenvolvimento do pensamento científico. Através
da escrita nos chegam informações dos séculos passados, de outras partes do mundo
ou de mundos imaginados; ela impõe uma relação mais distanciada entre os
interlocutores. Com base na escrita também se desenvolveram as ciências modernas,
que organizam os dados da experiência em categorias e leis gerais, formulando
proposições altamente abstratas.
Outra característica importantíssima das formas de pensamento letrado e
científico diz respeito à chamada metacognição, ou seja, à capacidade de tomar
consciência das operações mentais, de pensar sobre o pensamento e, assim, poder
controlá-lo melhor. A metacognição é a marca distintiva do pensamento científico:
diferentemente de uma pessoa que resolve problemas práticos do cotidiano ou de um
oráculo que adivinha o futuro, o cientista tem de demonstrar ou justificar seus
postulados e teorias.
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Fonte:www.s2.glbimg.com
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empurrada pelo passageiro que vem atrás. Na escola, ela poderá resolver, com calma,
um grande número de operações de subtração usando diferentes procedimentos
representá-las no papel, compreender o porquê do empresta um, chegar a uma
compreensão ampla sobre o funcionamento do sistema de numeração decimal.
Ela aprenderá na escola um conjunto de conceitos que não têm nenhuma
utilidade prática imediata mas que podem ajudar a organizar o sistema de conceitos
que compõem sua estrutura cognitiva. Na escola, ela exercita a realização de tarefas
segundo planos ou instruções prévias. Todas essas aprendizagens colaboraram para
desenvolver essa modalidade cognitiva que definimos como característica do
letramento.
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transformar a realidade social. A educação passou a ser entendida com um ato
político.
Renata, uma professora em Rio Claro, cidade do interior de São Paulo, é alfabetizadora de um
grupo de colonos da região de sua cidade. Influenciada pelas ideias de Paulo Freire ela, desde o
começo dos encontros com seus alunos e alunas, procurou conversar com eles sobre o que gostariam
de ler e escrever e por que isso era importante para eles. Já no primeiro encontro, os alunos contaram
que todos os meses precisam ir até a cidade para fazer as compras do mês. Iam num determinado
supermercado, que enviava um ônibus para buscá-los. Lá recebiam panfletos com produtos e preços
em ofertas. Queixavam-se de não conseguir ler os folhetos para fazer suas listas de acordo com os
preços mais baixos. A professora foi percebendo que a ida ao
supermercado era uma geradora de situações ligadas a conhecimentos
como: ler, escrever, contar, comparar preços e escolher produtos. Tudo
poderia se transformar em bons materiais para o trabalho junto aos alunos.
Na sala de aula, o grupo passou, então, a identificar os produtos, listar seus
nomes, comparar palavras em termos de quantidade, variação e
semelhança entre letras, a escrever novas palavras a partir daquelas.
Puderam, ainda, se dedicar ao cálculo de preços: produtos mais baratos,
mais caros, cálculo total a partir de uma lista dos produtos que precisavam
comprar, aumentos nos preços ocorridos de um mês para outro etc.
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Fonte: www.forumeja.org.br
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Por isso ela criou situações onde os alunos eram convidados a ler e a escrever,
mesmo não realizando estas ações de forma convencional.
Além disso, acreditava que seus alunos eram capazes de aprender e que
quanto mais os conteúdos estivessem vinculados às questões reais, maiores seriam
as chances de proporcionarem novos conhecimentos.
Outro aspecto interessante de ser notado na prática dessa professora é o fato
de olhar para seus alunos como sujeitos sociais e sujeitos do conhecimento, isto é
pessoas que tomam iniciativa e atuam sobre o que estão conhecendo. Ela os convidou
a falar, a pensar e expor suas necessidades e a construir, com seu auxílio, caminhos
de mudança.
Juntos foram construindo um corpo de saberes que, para além do
conhecimento do código ou de alguns recursos de cálculo, mudam a relação destes
homens e mulheres com a realidade com a qual lidam diariamente: tornam-se mais
poderosos, capazes de avaliar vantagens e desvantagens, de programar/planejar
suas compras; tornaram-se mais conscientes e, por isso mesmo, mais donos das
situações, com menor chance de serem enganados.
O conceito de conhecimento na escola e nas classes de EJA não deve perder
essa dimensão de tornar os alunos mais capazes de agir de forma autônoma e
independente reagindo a imposições que tira deles a escolha do que mais lhes
convêm.
A forma de agir da professora Renata e seus alunos confirmam nossa crença
de que é possível aprender a ler, escrever e calcular por caminhos os mais diversos.
Há que se optar por aqueles nos quais os alunos são sujeitos e podem trabalhar para
suprir uma necessidade real em suas vidas.
Afinal, os alunos jovens e adultos não voltam para a escola para recuperar um
tempo perdido e distante, voltam para satisfazer necessidades atuais em suas vidas.
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4 APRENDIZAGEM DE ATITUDES E VALORES
Fonte: www.3.bp.blogspot.com
É importante também ter em vista que o valor que a escola pode ter para esses
jovens e adultos transcende em muito a mera aquisição de conhecimentos ou essas
conquistas intelectuais a que nos referimos.
Ao avaliarem sua passagem por programas de educação fundamental, muitos
jovens e adultos tematizam conquistas que dizem respeito à sua autoimagem e à sua
sociabilidade: agora eu me sinto mais seguro, não tenho vergonha de falar; a escola
era o lugar onde eu podia encontrar amigos e conversar; na escola a gente aprende
a conviver com gente diferente etc.
Somados a esses aspectos, devemos lembrar também que a escola é um
espaço especialmente propício para a educação da cidadania: um espaço para se
aprender a cuidar dos bens coletivos, discutir e participar pessoal pelo bem-estar
comum.
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5 O EDUCADOR DE JOVENS E ADULTOS
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6 OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS
Fonte: www.ecrau.com
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No entanto, qualquer processo educativo, tanto com crianças quanto com
jovens e adultos, deve ter suas bases nesse saber sensível, porque é somente através
dele que o(a) aluno(a) abre-se a um conhecimento mais formal, mais reflexivo.
Os alunos jovens e adultos, pela sua experiência de vida, são plenos deste
saber sensível. A grande maioria deles é especialmente receptiva às situações de
aprendizagem: manifestam encantamento com os procedimentos, com os saberes
novos e com as vivências proporcionadas pela escola.
Essa atitude de maravilhamento com o conhecimento é extremamente positiva
e precisa ser cultivada e valorizada pelo(a) professor(a) porque representa a porta de
entrada para exercitar o raciocínio lógico, a reflexão, a análise, a abstração e, assim
construir um outro tipo de saber: o conhecimento científico.
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo
interior. Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e
colagens, jogar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotografias são
algumas atividades que favorecem o despertar desse saber sensível.
A segunda espécie de saber dos alunos jovens e adultos é o saber cotidiano.
Por sua própria natureza, ele se configura como um saber reflexivo, pois é um
saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experiência, nascido de valores e
princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fora da escola.
O saber cotidiano possui uma concretude, origina-se da produção de soluções
que foram criadas pelos seres humanos para os inúmeros desafios que enfrentam na
vida e caracterizam-se como um saber aprendido e consolidado em modos de pensar
originados do dia-a-dia.
Esse saber, fundado no cotidiano, é uma espécie de saber das ruas,
frequentemente assentado no senso comum e diferente do elaborado conhecimento
formal com que a escola lida. É também um conhecimento elaborado, mas não
sistematizado. É um saber pouco valorizado no mundo letrado, escolar e,
frequentemente, pelo próprio aluno.
O saber cotidiano não é necessariamente um saber utilitário, desenvolvido para
atender a uma necessidade imediata da pessoa. Pelo contrário, pode também se
configurar em uma espécie de conhecimento que requer um afastamento, uma
transcendência com relação ao seu objeto.
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Fonte: www.rotadosertao.com
Uma cozinheira, por exemplo, pode executar uma simples receita mas pode,
também, recriá-la, estabelecendo hipóteses a respeito de um novo ingrediente que
poderia ser acrescentado para melhorar o sabor do prato em questão.
Os conhecimentos que os alunos e alunas trazem estão diretamente
relacionados às suas práticas sociais. Essas práticas norteiam não somente os
saberes do dia-a-dia, como também os saberes aprendidos na escola.
7 A MARCA DO TRABALHO
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Nas regiões rurais, a participação no mundo do trabalho começa ainda mais
cedo: cuidar da terra, das plantações ou da criação de animais; auxiliar nos serviços
caseiros. Muitas vezes, acompanhando os pais e irmãos mais velhos, é comum
encontrar um grande número de crianças e jovens já mergulhados no trabalho.
Nessas regiões, os horários, os períodos de colheita, de chuva e de seca marcam a
vida cotidiana das pessoas e isto, aliado às grandes distâncias, configura condição
bastante precária para a escolarização.
Se cada região de nosso país tem suas particularidades em relação às demais,
todas as salas de EJA se unificam em torno deste fato: a grande maioria dos alunos
são trabalhadores que chegam para as aulas após um dia intenso de trabalho. É claro,
que estas mesmas salas apresentam um número significativo de desempregados e
de trabalhadores temporários ou informais.
Mas, sempre que pensamos em EJA temos que considerar que nossa atividade
conta com mulheres e homens trabalhadores. Vale notar, ainda, que em todas as
regiões do país, o trabalho é apontado pelos alunos de EJA tanto como motivo para
terem deixado a escola, como razão para voltarem a ela.
Sem dúvida alguma, o tema TRABALHO tem um lugar especial na EJA e deve
importar ao trabalho dos professores, das professoras e da escola.
Entretanto é preciso lembrar que o trabalho experimentado pelas alunas e
alunos não passa nem de longe pelo trabalho como atividade fundamental pela qual
o ser humano se humaniza e se aperfeiçoa. O trabalho que conhecem é na maior
parte das vezes repetitivo, cansativo e pouco engrandecedor.
Apesar de tudo, vale pensar, por exemplo, na quantidade de saberes que cada
destes alunos-trabalhadores possui em função das atividades que realizam ou
realizaram. Saberes, certamente, não-escolares, mas saberes. Saberes a partir dos
quais novos conhecimentos poderão ser construídos.
Uma tarefa fundamental para o(a) professor(a) é conhecer que saberes e
habilidades os alunos e alunas desenvolveram em função do seu trabalho.
Procure fazer um quadro sobre os saberes de seus alunos. Como pode ser
visto no exemplo acima, muito do que pretendemos ensinar na escola tem relação
direta com o que fazem nossos alunos e alunas em seu cotidiano. É importante
estabelecermos estas relações.
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Fonte: www.alfabetizacaocidada.wordpress.com
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O que queremos pensar é justamente nas formas da escola potencializar essa
competência que os jovens e adultos já desenvolvem em sua vida cotidiana de
administrar suas finanças e sua sobrevivência.
Comunicar-se de forma competente com clareza, ordenação de ideias,
argumentação; conhecer as diferentes formas de trabalho da nossa sociedade nos
dias atuais, o trabalho formal e o informal, por exemplo; dominar os caminhos
possíveis para a obtenção de empregos, a procura por agências, a preparação de
currículos; ver na construção de uma pequena fábrica, na abertura de um comércio
em sua região um possível canal de trabalho; conhecer, em sua região ou
comunidade, os espaços gratuitos de formação técnica cursos de eletricidade,
pintura, computação, confecção e outros são saberes passíveis de serem aprendidos
na escola. Ela funcionaria, assim, como espaço de conhecimentos ligados ao mundo
do trabalho.
8 O PLANEJAMENTO
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Fonte: www.bemparana.com.br
Isto significa, que tanto podemos traçar planos para a noite de hoje como para
a compra de uma casa, no futuro. Além disso, o planejamento nos leva a prever
situações, organizar atividades, dividir tarefas para facilitar o trabalho e até avaliar o
que já foi feito.
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A organização racional das empresas chegou à análise das relações entre os
trabalhadores. Mais uma vez, o planejamento entrou em cena. Com a industrialização
surgiu, também, o planejamento das vendas.
No começo do século XX, o planejamento atingiu todos os setores da
sociedade causando grande impacto.
Como vimos, o planejamento é uma arte que se desenvolveu para melhorar a
capacidade de intervenção das pessoas na sua realidade.
Na educação não é diferente. Nela o planejamento busca a intervenção mais
eficiente do(a) professor(a), organizando melhor os recursos disponíveis: o tempo
do(a) professor(a) e dos alunos, o espaço físico, os materiais pedagógicos
disponíveis, a experiência dos alunos etc.
Hoje em dia, a palavra PLANEJAMENTO faz parte do nosso vocabulário diário
e ocupa um lugar de destaque nos meios de comunicação.
9 PLANEJAR X IMPROVISAR
Podemos dizer que uma ação planejada é uma ação que não foi improvisada.
Mesmo assim, sabemos que os improvisos não ficam totalmente afastados porque
fazem parte da vida e são esperados em qualquer planejamento.
Entretanto, deixamos de improvisar, ou improvisamos menos, quando temos
um objetivo em vista e queremos que ele se realize.
Quando não sabemos bem aonde queremos chegar, acabamos nos limitando
ao momento presente e nos deixamos levar pela improvisação.
Mas existem situações onde as improvisações se tornam mais raras. São
situações onde:
Há várias pessoas participando da ação, todas elas comprometidas com
os objetivos comuns e
Os recursos para a realização dos objetivos são pequenos. Nessas
situações usamos os meios disponíveis da forma mais eficiente possível.
Isso exige saber o que é fundamental e que não pode ficar para depois.
No relato que segue, a professora Rita de Cássia descreve uma situação de
improvisação que, no final, ela considerou como acertada.
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Provavelmente, isso só foi possível porque Rita não se afastou de seu principal
objetivo que era tornar os alunos alfabetizados.
Ontem foi o dia do improviso. Mas o resultado foi muito bom. Será que foi só
improviso? Nem tanto, por que foi uma oportunidade de usar muitos dos nossos
conhecimentos e tentar chegar a outros. Estava começando a aula, quando Seu
Antoninho foi até a janela e chamou a minha atenção para umas placas grandes que
haviam fincado num terreno, bem na frente da nossa sala. Foi a conta. Todos queriam
saber o que as placas diziam. Cada um imaginava que era uma coisa diferente.
Pediam que eu lesse para eles. Tive, então, uma ideia. Saímos do prédio para juntos
ler as placas. Cada um foi destacando o que conseguia ler, no meio de tanto escrito.
Ali tem o número 2, aqueles parecem número de telefone, olha, lá está escrito RUA,
porque eu li'. Quem sabia mais e eu fomos ajudando até que lemos tudo. A placa
anunciava a construção de dois prédios de três andares, com apartamentos de 2
dormitórios. Dizia que a obra ia levar 18 meses para ficar pronta e que as vendas já
haviam começado. Voltamos para a sala contentes porque Seu Antoninho disse que
a construção ia ser uma coisa boa, ia dar emprego para pedreiros e ajudantes e a sala
está cheia de alunos com parentes procurando serviço. Mas, disse também, que o
apartamento ia ser coisa cara e que nenhum deles nunca ia ter dinheiro para comprar
um. O assunto da moradia foi tema de muitos comentários. Com a questão da
moradia, ainda na cabeça, decidimos que cada um escreveria o seu endereço, bem
completo: rua, bairro ou vila, cidade. Fiquei a disposição para ajudar nessa escrita.”
Rita de Cássia Almeida
A aula contada por Rita nos confirma que quando a professora tem clareza em
relação a seus objetivos consegue superar as deficiências da improvisação.
A professora conseguiu criar uma situação de leitura e de escrita bem diferente
naquela noite de aula. E, o mais interessante: envolveu os alunos.
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10 PLANEJAMENTO - O QUE DIZ ESTA PALAVRA?
Fonte: www.1.bp.blogspot.com
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11 PLANEJAMENTO CURRICULAR
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Fonte: www.cdn.revistabula.com
Com registros em cadernos, fichas, ou qualquer outra folha de papel, boa parte
dos professores planeja o que pretende desenvolver na sala de aula.
Mesmo assim, há professores que dizem que o planejamento é dispensável.
Muitas delas afirmam que não sentem, como necessário, fazer o planejamento por
escrito, uma vez que já tem tudo pronto na cabeça.
Para outros professores, o planejamento é o cumprimento de uma exigência
Provavelmente, um planejamento feito com esse espírito não tem função no
dia-a-dia porque não corresponde a nenhuma necessidade apontada pela avaliação
da realidade onde o trabalho acontecerá.
Infelizmente, existem professores que trabalham na base do improviso: Na hora
eu decido o que vou fazer com os alunos.
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Outros, transformam o livro didático em plano de trabalho. Dizem: É mais
prático, não tenho tempo para ficar criando novidades.
Ainda outros, repetem todos os anos o mesmo plano: Afinal, para que mudar?.
Para o(a) professor(a) comprometido(a) com seu trabalho, o planejamento faz
parte do processo de tomada de decisão sobre a sua forma de agir, no dia-a-dia da
sua prática pedagógica. Nele estão envolvidas ações e situações que se dão de forma
continuada entre professor(a) e alunos e alunos entre si.
Esta pergunta nos leva a considerar onde esperamos chegar com o nosso
trabalho educativo. Isto significa dizer quais os resultados que buscamos atingir.
Mas, só temos condições de estabelecer esses objetivos depois de analisar o
grupo de alunos, com as suas características, seus limites, suas histórias de vida e
suas facilidades.
Sem estas considerações corremos o risco de tornar o nosso planejamento um
instrumento sem função, inútil por não corresponder às verdadeiras necessidades dos
envolvidos.
Esse processo de definição dos objetivos se torna muito mais eficiente quando
envolve os alunos. Afinal, esse processo é tão importante para o(a) professor(a)
quanto para eles.
Alguns cuidados são importantes na definição dos objetivos que buscamos com
o nosso trabalho.
É preciso que os objetivos escolhidos sejam:
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Fonte: www.guiadoestudante.abril.com.br
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humanidade acumulou durante sua história - informações, dados, fatos, princípios e
conceitos - quanto atitudes e comportamentos.
Na hora de escolher os conteúdos, alguns critérios devem ser levados em
conta.
Apontando alguns deles, podemos dizer que os conteúdos devem:
Ter validade - devem ser os mais importantes e significativos para a
realidade e a época em que se vive;
Ter significado - devem estar relacionados com os alunos, suas histórias
de vida, suas experiências e motivações;
Possibilitar a reflexão - devem levar o aluno a associar, comparar,
compreender, selecionar, organizar, criticar e avaliar os próprios conteúdos;
Ser flexível - devem estar sujeitos a modificações, adaptações, renovações
e enriquecimentos;
Ter utilidade - deverão considerar as exigências e as características do
Contexto socioeconômico e cultural dos alunos;
Ser viável - os conteúdos deverão ser possíveis de aprendizagem dentro
das limitações de tempo e dos recursos que temos.
A razão de ser desses critérios é apontar para aspectos que facilitam o trabalho
pedagógico.
Mas, não podemos esquecer que os conteúdos mais válidos são sempre
aqueles que melhor levam os alunos a responder as suas necessidades, fazendo-os
aprender o que é mais útil para a vida deles.
Na educação de jovens e adultos, os conteúdos devem permitir aos alunos o
exercício pleno da cidadania, o saber indispensável às suas ações que vão desde
desempenhar uma profissão até participar de sua comunidade.
A organização dos conteúdos
Precisamos lembrar que planejar não é apenas relacionar atividades a serem
desenvolvidas.
É um processo de:
Conhecer a realidade sobre a qual se vai trabalhar;
Propor ações para influir nela e desenvolver as ações propostas avaliando
sempre seus resultados para a continuidade do mesmo processo: avaliação,
planejamento, execução e avaliação, e assim por diante.
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Fonte: www.faculdadeapoena.com.br
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Não podemos esquecer que todo projeto educativo tem como base uma
concepção de educação, acontece num determinado contexto socioeconômico e
cultural e envolve pessoas de uma classe social bem definida na sociedade.
Desta forma, a opção que o(a) professor(a) faz por um método, uma técnica e
pela forma de orientar as atividades didáticas não pode se dar por acaso. Sua opção
precisa ser coerente com seu projeto político-pedagógico.
É comum confundir método e técnica de ensino.
Um método é o modo sistemático e organizado pelo qual o(a) professor(a)
desenvolve suas atividades, tendo em vista à aprendizagem dos alunos.
Para utilizar um método, o(a) professor(a) se vale de técnicas. Assim, técnica
é um conjunto de procedimentos didáticos que a professora utiliza para
operacionalizar o método.
Por exemplo, o texto é um recurso que o(a) professor(a) pode utilizar para que
os alunos aprendam um assunto. O estudo através da leitura de textos constitui uma
técnica de ensino.
Todas as técnicas e todos os métodos têm vantagens e limitações.
As técnicas variam segundo:
Os objetivos a alcançar - por exemplo, se queremos desenvolver nos
alunos a capacidade de análise, devemos utilizar as técnicas de estudo
dirigido ou de trabalho de grupo;
A experiência didática do(a) professor(a) - qualquer técnica só tem êxito
quando utilizada com espontaneidade e segurança. Para isso o(a)
professor(a) precisa saber o que está fazendo;
As características dos alunos - interesses, motivações, necessidades,
idade etc.;
O tempo disponível para realizá-las - não é boa coisa deixar o trabalho
incompleto.
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14 A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DO CONHECIMENTO
Fonte: www.prosaber.org.br
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Os seres humanos são um caso específico que merece uma explicação
especial. Neles, a constituição neurológica altamente sofisticada desenvolveu uma
capacidade única que lhes permite ir além da realidade presente: não se restringem
só a ela.
Os seres humanos são capazes de representar simbolicamente a realidade e
trabalhar mentalmente com esta representação. Isto significou um passo gigantesco
que provavelmente explique a sua condição hegemônica entre os seres vivos.
Não precisam restringir-se ao que está acontecendo no momento. Podem
registrar simbolicamente o momento e operar com esta representação quando lhes
for conveniente. Podem com isto trabalhar com o passado e planejar o futuro. Mais do
que isto, esta capacidade de simbolizar lhes permite construir mentalmente realidades
não existentes e trabalhar com elas.
Em outras palavras, podem fazer literatura, artes plásticas, música, podem
filosofar e fazer ciência. Podem sonhar.
No bonito texto abaixo, Marx ressalta a ideia de que ser capaz de construir
projeto é a marca diferenciadora dos seres humanos.
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15 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES MENTAIS
Fonte: www.educacaopublica.cederj.edu.br
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Abrangerá igualmente todas as relações que forem estabelecidas neste
processo de construção da representação. É fácil perceber que os aspectos possíveis
de fazerem parte desta representação mental de uma simples caneta são infinitos.
Além disso, é preciso considerar que está representação não é estática. Pode
crescer ou alterar-se não apenas quando existir um contato físico entre a pessoa e a
caneta, mas também quando a pessoa lembrar-se dela ou mesmo conversar sobre
canetas. Quando isto acontecer, esta representação mental que é o conhecimento de
caneta de uma certa pessoa, se comunicará com o conhecimento de caneta da outra
e as possibilidades de crescimento e alteração do conhecimento sobre canetas
poderá se multiplicar.
Este exemplo simples nos ajuda a perceber porque se pode afirmar que as
possibilidades de crescimento do conhecimento são infinitas.
Também nos faz compreender porque se diz que sábios são aqueles que
percebem que quanto mais aprendem mais podem aprender.
O que dissemos sobre o conhecimento hipotético de uma caneta pode ser dito
também sobre todo e qualquer objeto de conhecimento, inclusive objetos abstratos
tratados pelas ciências ou filosofias.
O conhecimento faz parte integrante da nossa vida. É com ele que percebemos
o mundo que nos cerca e encontramos as maneiras de superar as dificuldades e os
obstáculos decorrentes do viver neste mundo. Com ele somos capazes de utilizar os
recursos disponíveis para construir nossa felicidade. Não há como viver sem
conhecer.
Nós e as outras pessoas estamos sempre nos relacionando. Relacionamo-nos
entre nós mesmos e com o mundo em que vivemos. Esta relação faz que nós nos
tornemos diferentes, ao mesmo tempo em que vamos tornando o mundo diferente.
Quando plantamos, por exemplo, uma roça de café, vamos mudando o mundo criando
uma paisagem diferente (a roça de café onde antes havia pasto ou mato), mas
também vamos nos tornando diferentes: mudamos nossos hábitos, o ritmo e a forma
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de trabalhar, o medo da geada, o assunto da nossa conversa, nossas preocupações
e interesses.
Neste mesmo exemplo, poderemos dizer que nossa relação com outros
plantadores, consumidores e comerciantes de café modificam nossas representações
sobre o cultivo e comercialização desse produto. Seguramente modifica também as
representações deles sobre o mesmo tema.
É verdade que a intensidade e profundidade destas mudanças são variáveis e
dependem de uma série de fatores que incluem oportunidade, necessidade,
curiosidade, interesse e da infinidade de fatores que constituem a complexa natureza
humana.
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Fonte: www.polemicaparaiba.com.br
Mas, se as coisas não estão do jeito que queremos, o estímulo para mudar
torna-se grande. Aparece a necessidade de aprender novas coisas para enfrentar a
situação e mudar o mundo que não está nos satisfazendo.
A existência de necessidades a serem satisfeitas desempenha papel
fundamental para que se produza conhecimento. Mas não basta que elas existem. É
preciso disposição e empenho em satisfazê-las. Quando isto ocorre, as pessoas usam
todos os seus recursos pessoais para atender estas necessidades, inclusive o de
pensar.
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Percebe-se, portanto, que é agindo e pensando que os seres humanos
constroem o seu conhecimento. Não é só agindo e não é só pensando, mas fazendo
os dois. Nem sempre nos damos conta disto porque se trata de um movimento natural,
quase instintivo, em que o agir-pensar-agir se dá quase que simultaneamente.
Foi agindo e pensando que os seres humanos construíram toda sua cultura e
é agindo-pensando que todos nós continuamos a construir e a modificar o mundo e a
nós mesmos.
O Homem é, entre outras coisas, um ser de necessidade: O que observamos, historicamente,
é que o hominídeo não desenvolvia uma ação qualquer, mas uma ação carregada de sentido, visto
corresponder a uma carência. Assim, foi construindo representações vez a vez mais elaboradas da
realidade, que se tornavam cada dia mais importantes a fim de poupar esforço desnecessário, diminuir
o sofrimento e poder garantir a sobrevivência da espécie: a alimentação, a defesa contra os animais e
intempéries, a defesa frente a outros bandos, a habitação, etc. O conhecimento, pois, sempre esteve
ligado a necessidades, interesses, sendo que a partir deles o homem se empenhava no enfrentamento
da realidade, vindo a construir cada vez mais representações mentais, (...) Portanto, a necessidade faz
surgir o conhecimento e, com o tempo, o próprio conhecimento torna-se uma necessidade, como
mediação para satisfazer outras necessidades. Celso Vasconcellos.
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Fonte: www.cdn.massanews.com
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algo que nada tem a ver com o que estamos fazendo. Muitos atropelamentos já
ocorreram porque o pedestre estava com a cabeça na lua enquanto atravessava uma
avenida.
Muitos de nós usam continuamente a capacidade de pensar separadamente
do que fazem, como uma defesa contra a monotonia das tarefas repetitivas. A dona
de casa que liga o rádio enquanto cozinha ou arruma a casa, normalmente está
fazendo isso. Outros, procuram atividades repetitivas como bordar, tricotar ou lavar o
próprio carro como forma de descansar a cabeça. Enquanto o fazem, acham que não
precisam ficar pensando, na verdade ficam pensando em outra coisa.
Separar a ação do pensamento é muito menos frequente do que possa parecer.
Na verdade, muitas ações humanas dispensam totalmente o pensamento. Ao
encostar a mão em uma panela muito quente ou numa ponta de cigarro, qualquer
pessoa saudável retirará imediatamente a mão. O aparecimento inesperado de um
rato, barata ou cobra fará muitos correrem sem se dar ao trabalho de pensar se este
deveria ser o melhor comportamento. Estas ações, chamadas de reflexas ou
instintivas, dispensam totalmente o uso do pensamento para ocorrerem.
Mas, não é todo fazer que dispensa o pensar. O pedestre distraído não andará
com a cabeça nas nuvens em um bairro tido como perigoso altas horas da noite. A
dona de casa não ouvirá o rádio quando estiver experimentando pela primeira vez
uma receita nova e complicada para um jantar de cerimônia. Igualmente, ninguém
imagina que irá descansar a cabeça procurando consertar os erros que a amiga fez
na blusa que estava tecendo para o namorado.
As pessoas não farão isto porque sabem que, para responder aos desafios que
estão enfrentando, precisam concentrar-se no que estão fazendo. Suas cabeças
estarão pensando, ocupada em identificar as informações pertinentes e relacionar
estas informações com os conhecimentos que já dispõem. Imaginam hipóteses e
alternativas para responder ao desafio. Fazem isso manipulando suas ideias da forma
mais disciplinada possível para obter os resultados pretendidos. Estão refletindo. Por
isso não desviam seus pensamentos para outras coisas. Concentram-se nos objetivos
e com isso, aumentam seus conhecimentos.
Saberão o que não sabiam e portanto serão capazes de fazer e o que não
faziam.
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19.1 As diferentes formas de pensar
Não é preciso ser um especialista para perceber que existem diversas formas
de pensar. O pedestre de que falamos certamente está pensando enquanto atravessa
a rua. A dona de casa ouvinte de rádio também. Isto porque é praticamente impossível
deixar de pensar.
Mas, não existe apenas uma única forma de pensar. O apaixonado que
rememora o encontro com a namorada está pensando. O pedestre desatento, está
pensando. Igualmente, o operário regulando a máquina, o pedreiro acertando o prumo
da parede, a professora montando a estratégia para que seus alunos aprendam
determinado conteúdo estão pensando.
Nestes exemplos é possível identificar pelo menos dois tipos básicos de
pensamento. O pensamento sem nenhum compromisso com a busca de soluções e
o pensamento destinado a resolver problemas. O primeiro é normalmente prazeroso,
já o segundo, em razão da necessidade de obter resultados, costuma dar menos
prazer e consome trabalho.
Os antigos filósofos chamavam de devaneio o primeiro tipo de pensar e
costumavam condená-lo como um vício que apenas consumia tempo sem nenhum
outro resultado além de dar prazer ao pensador.
Mesmo considerando que dar prazer a quem pensa não é um vício mas, uma
virtude, temos que concordar que a busca de prazer não é a única razão pela qual os
seres humanos são dotados da capacidade de pensar.
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Comentar o que está sendo aprendido, tomar posição diante de um fato
ocorrido e contribuir na sua própria avaliação são situações que certamente
contribuirão para o crescimento desses alunos.
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19.4 Ninguém aprende sozinho
Fonte: www.conteudo.imguol.com.br
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Como se comunicam, as ações e as descobertas de cada um se confrontam, se
complementam. Fazem parte do Mundo com o qual todos lidamos.
Podemos perceber assim, que o processo de conhecer se faz na relação com
os outros. O conhecimento dos outros repercute nos meus e os meus repercutem no
dos outros, mesmo quando não nos damos conta disto.
Este maravilhoso processo humano de conhecer, que combina o esforço
pessoal com a interdependência entre as pessoas, levou Paulo Freire a afirmar que
ninguém ensina ninguém, mas ninguém aprende sozinho.
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entre si e com o que já é sabido; em construir explicações para este objeto; julgá-las.
Aceitando ou rejeitando-as; concluir os resultados desejáveis e assim por diante.
Como se pode ver, isto tudo não se faz sem trabalho.
É possível perceber que este esforço envolve também as ações necessárias à
produção do conhecimento: a ação de fazer, de experimentar, de refazer, de tornar a
experimentar e assim sucessivamente até que o conhecimento atingido seja
considerado satisfatório. Como vimos, as possibilidades de conhecimento de qualquer
objeto são infinitas e portanto é necessário que estabeleçamos um limite para nossa
busca. Isso não significará que saibamos tudo sobre o objeto, mas apenas que
conhecemos o suficiente para as nossas necessidades do momento.
Em cada uma destas ações o pensamento direcionado a buscar o
conhecimento estará presente consumindo esforço e trabalho.
Este esforço só será feito se as pessoas quiserem fazê-lo. E as pessoas
raramente querem fazer esforço se não perceberem alguma compensação
proporcional a ele. No caso do conhecimento, a compensação costuma ser a de ajudar
a resolver algum problema que esteja preocupando ou responder a alguma
necessidade. Conhecer por conhecer, embora muito elogiado, é tão raro que apenas
confirma a regra geral de que o conhecimento costuma ser pragmático.
Felizmente para nós que trabalhamos na educação, existe nos seres humanos
uma necessidade universal: a de satisfazer a própria curiosidade. Responder à
curiosidade tem sido um aliado considerável na construção do conhecimento da
humanidade. Mas, é preciso lembrar também que somos muito mais curiosos sobre
as coisas que nos afetam pessoalmente.
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No plano pessoal ocorre o mesmo fenômeno. As pessoas não passam a
conhecer as coisas de uma vez só. Vão aprendendo por aproximações sucessivas
aquilo que pretendem conhecer. Começam percebendo que ele existe, depois vão se
aproximando dele, admirando-o, identificando suas características, construindo
relações, ampliando a quantidade e qualidade delas e incorporando-as ao universo
das relações já construídas.
Neste processo, cada conhecimento novo supera um conhecimento anterior
menos completo e serve de base para a construção de um novo mais elaborado. Note
que não estamos estabelecendo nenhum juízo de valor.
Quando dizemos que o conhecimento é mais elaborado ou complexo não
estamos dizendo que ele seja necessariamente melhor. Melhor ou pior são avaliações
subjetivas. Quem estiver preocupado com a forma física pode preferir ir de bicicleta
ao trabalho do que de moto ou automóvel, embora estes últimos sejam muito mais
complexos e sofisticados que a primeira. Saber tocar violão em uma roda de amigos
é muito mais realizador do que saber tocar órgão, embora aprender órgão seja mais
sofisticado. Conhecimento melhor é aquele que serve melhor a quem o tem.
Assim como na história da humanidade, as pessoas não passaram do “não
saber” ao saber, de uma vez só, mas foram construindo o seu conhecimento
gradativamente.
Também, como na história da humanidade, não existem limites para o
conhecimento. Sempre será possível saber o que não se sabe e sempre será possível
saber melhor o que já se sabe.
Cada novo aprendizado só se torna possível graças aos conhecimentos
anteriores. Cada conhecimento obtido torna possível avançar para novos
conhecimentos. Podemos dizer que o conhecimento que se tem é sempre fruto de
conhecimentos anteriores e semente de novos conhecimentos.
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20 A TEORIA E A PRÁTICA
Fonte: www.static.coto.me
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mas eu tenho a prática ou Na prática a teoria é outra ou mesmo; Detesto o ensino
teórico, prefiro o ensino prático. Estas três afirmações são absurdas fora da
concepção tradicional.
A teoria nasce de fenômenos percebidos, provocados ou não, onde as pessoas
envolvidas conseguem estabelecer algum tipo de relação. A mais comum é a relação
de causa e efeito. A Lenda do Café ilustra bem como isso ocorre. Segundo a lenda,
pastores do oriente viram que as suas cabras ficavam agitadas quando comiam os
frutos de um arbusto (prática) e concluíram que provavelmente, o fruto deste arbusto
tinha efeitos estimulantes (teoria). Resolveram experimentar (prática) e concluíram
que realmente isso acontecia (teoria). Passaram a usá-los quando precisavam ficar
acordados vigiando o rebanho (prática).
A teoria é um conjunto de ideias, relacionadas entre si, que permitem explicar
ou prever eventos reais e, com isto, construir ou identificar alternativas de intervenção
adequada nesta realidade. Isto que foi dito, embora simples, representa o essencial
em toda e qualquer teoria. Seja a da descoberta do café ou a da Relatividade de
Einstein. É lógico que é possível e algumas vezes até necessário classificar estas
teorias segundo a sua abrangência ou forma de construção: pode ser científica se
construída usando-se o método científico. Filosófica quando sustentada por uma
lógica filosófica. Teológica ou religiosas se construída a partir de elementos de
revelação religiosa. Ou então qualquer outra categoria de classificação.
As teorias podem ter maior ou menor prestígio social. Na essência, porém,
todas as teorias partem de eventos, reais ou imaginários, em que se consegue
estabelecer relações para explicá-los, prever seus desdobramentos e identificar
alternativas de ação perante eles.
Fazer teoria não é privilégio dos teóricos: é necessidade dos seres humanos.
Dentro desta visão de teoria, mais ampla do que o senso comum costuma considerar,
é fácil perceber que ela está mais presente em nossa vida do que costumamos
imaginar. Mais do que isto, podemos perceber que sem ela estaríamos condenados à
imobilidade.
Vejamos um exemplo corriqueiro e imaginário para ilustrar isto. Peçam aos
seus alunos para desenhar um BULIPAN. Isto mesmo, um bulipan! Vocês verão que
eles ficarão estáticos sem saber o que fazer. Nunca ouviram falar disso e não fazem
a menor ideia do que isto seja. Não têm a mínima ideia sobre isso. Nunca viram ou
ouviram contar de nenhum evento com este nome. Não podem, assim, estabelecer
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relações que lhes permitam explicar ou compreender o que seja. Estão sem nenhum
elemento que ajude a prever algo ou identificar alternativas para desenhar o bulipan.
Em outras palavras, não possuem nenhuma teoria, por simples que seja, sobre
bulipan. Estão condenados a não realizar a tarefa até ter uma teoria a respeito. Caso
interesse aos alunos fazer o que foi pedido na esperança de agradar ou ter melhor
avaliação, procurarão suprir a deficiência. Instintivamente, procurarão recolher outras
informações de você para montar uma teoria que lhes permita agir.
É provável que tentem conferir o seu entendimento. Talvez, você tenha pedido
outra coisa sobre a qual já tenham alguma teoria. Tentarão obter informações
adicionais desde a forma direta do tipo: O que é isso? ou indireta como Parece com
que? ou É uma peça de automóvel? Instintivamente sabem que só poderão fazer o
que foi pedido se conseguirem obter uma teoria mesmo que simples e pouco
abrangente, mas que possibilite a ação.
Estamos tentando convencer você de que, para exercer qualquer ação que não
seja apenas reflexa é preciso estar sustentado por uma teoria.
Não existe prática sem teoria. A função da teoria é exatamente esta: sustentar
a prática.
20.1 Extensão
A teoria que sustenta nossa prática é muito mais ampla do que qualquer
discurso que pretenda formulá-la. O discurso ou texto é sempre uma codificação e o
mesmo ocorre com o discurso teórico. O leitor ou ouvinte terá sempre que decodificá-
lo para compreendê-lo. Ao codificar uma teoria será necessário, portanto, reduzi-la ao
formato necessário a qualquer discurso. Nesta formatação, muitos elementos são
excluídos e outros são acrescentados e modificados pelos leitores ou ouvintes.
Assim, a extensão do discurso nunca será capaz de cobrir toda a extensão da
teoria.
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De uma certa forma, na prática que desenvolvemos somos escravos da teoria
que temos sobre as questões relativas a esta prática. Isto é, somos escravos do
conjunto de representações mentais que constituem a nossa teoria. Percebam que
falo em representações mentais e não apenas ideias. Porque, diferentemente das
teorias que costumamos ver formuladas, a teoria que sustenta a nossa prática
também é composta de emoções, sentimentos, recordações e eventuais ligações,
experiências e raciocínios que vamos construindo durante a nossa vida. Nem todas
estas representações mentais estão codificadas em palavras e nem por isto deixam
de ser importantes na condução da nossa prática.
As recordações que temos, por exemplo, da forma como a nossa professora
alfabetizadora trabalhou conosco e da nossa reação frente a este trabalho fazem parte
das representações mentais que constituem a nossa teoria sobre a prática de
alfabetizar. É possível que estas representações mentais repercutam mais na nossa
ação alfabetizadora do que as leituras que fizemos sobre as pesquisas da
Psicogênese da Língua Escrita, das professoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
Gostaríamos que ficasse claro que estamos chamando de prática as ações que
fazemos de forma organizada e destinadas a conseguir atingir os objetivos que
pretendemos. Não nos referimos às ações instintivas, reflexas ou mecânicas que
também fazem parte da nossa vida ativa mas que obedecem a outros fatores. Feito
este esclarecimento, gostaríamos de salientar que um equívoco muito comum,
cometido por quem está tentando aprimorar a sua prática pelo estudo, é o de tentar
pôr em prática as teorias que está estudando. Quando estuda as teorias de Piaget,
por exemplo, pensa que deve tentar pôr em prática as teorias formuladas por Piaget,
ou Frenet, ou Paulo Freire e assim por diante.
Nada mais equivocado. Teorias não são formuladas para serem postas em
prática. Podem ser testadas, rejeitadas ou aprimoradas. Podem inspirar novas teorias,
ajudar na compreensão e previsão de fenômenos mas não são construídas para
serem postas em prática. Isto por várias razões e algumas delas tentaremos explicar
aqui.
Como vimos acima os discursos ou textos teóricos são codificações que em
razão das regras de comunicação não incluem todos os aspectos que compõem a
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teoria. Portanto, ao tentar pôr em prática um texto ou discurso teórico estaríamos
tentando pôr em prática uma teoria incompleta o que certamente redundaria em
fracasso.
Outra razão de fracasso é ignorar que a prática oferece nuances e desafios que
nenhuma teoria tem condições, por si só, de dar conta. São infindáveis as teorias que
podem ajudar no enfrentamento das dificuldades de uma prática. Ao contrário do que
muitos acreditam, a prática é muito mais complexa que qualquer teoria tomada
individualmente. Ignorar isto é sinal de fracasso certo. É o mesmo que tentar calçar
um pé 42 num sapato 34. Não cabe!!!
Não estamos aqui, de jeito nenhum, diminuindo a importância da teoria. Ao
contrário, já afirmamos que ela é tão necessária e importante que sem ela a prática é
impossível. O que estamos tentando, apenas, é eliminar um equívoco muito comum
que é transformá-la em uma simples receita.
20.4 Só mudamos a prática que temos quando mudamos a teoria que sustenta
esta prática
Esta frase bastante cínica certamente já foi ouvida por você. Ela demonstra que
as pessoas podem falar uma coisa e fazer outra. Isto ocorre porque quando falamos
ou escrevemos estamos basicamente interessados em agradar, convencer quem nos
ouve ou lê. Estamos orientados pelas reações do nosso interlocutor. Não estamos
obrigados a dizer exatamente o que pensamos se isso for desfavorável aos nossos
objetivos. Na maior parte das vezes, tendemos a dizer o que o nosso interlocutor quer
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ouvir. Já existiram filósofos e psicanalistas que afirmaram que as palavras são feitas
para esconder o que pensamos.
O mesmo não ocorre com as teorias que temos. Salvo casos muito especiais,
tendemos a fazer o que consideramos melhor para a ação que pretendemos.
E este melhor, está balizado pelas teorias que temos ou assumimos. Nas ações
que fazemos são expressas as ideias ou teorias em que realmente acreditamos.
Estaremos mais próximos de saber o que os outros pensam ou acreditam de
verdade se observarmos o que eles fazem ao invés de ouvir o que eles dizem. Não
confunda teoria com discurso. Muitas vezes, se justifica colocar uma teoria em
palavras. É construído um discurso oral ou escrito para facilitar a sua comunicação.
Nestes casos, esta formulação segue as regras e preceitos da comunicação.
Diferentemente da teoria, que tem por objetivo sustentar as práticas e ações, o
discurso teórico visa sensibilizar o interlocutor. São coisas absolutamente distintas: a
teoria tem compromisso com a prática, já o discurso tem compromisso com quem lê
ou escuta.
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o tipo ou tamanho da vassoura a ser usada. Usando o bom senso ou qualquer outro
critério, nosso amigo escolhe uma vassoura bem pequena. Parece-lhe bastante leve
e fácil de utilizar. E lá vai ele pilotando a vassourinha com a mão direita enquanto usa
a esquerda para segurar o cigarro.
Caso complete a varredura de forma que lhe pareça satisfatória terá
enriquecido sua Teoria de Varreção com um elemento novo, o de usar uma vassoura
de tamanho pequeno. Sua teoria passaria a ser então: Varrer é pentear o chão com
um instrumento com pelos ou fibras na ponta, de preferência pequeno para juntar a
sujeira a fim de removê-la. Logicamente a prática de varrer, caso ele pense sobre ela,
poderá ajudá-lo a aprimorar a sua teoria. Por onde começar a varreção?; Trazer a lata
de lixo para perto ou transportar a sujeira até o lixo?; Molhar o chão ou varrer a seco?
são alguns exemplos de perguntas cujas respostas podem ajudar a aprimorar sua
teoria. Mas as teorias podem ser modificadas de outras maneiras. Por exemplo, no
caso que estamos acompanhando, imagine que a partir de determinado momento
comece a aparecer uma dor nas costas do nosso herói. A dor nas costas poderá
estimulá-lo a pensar sobre suas causas. Poderá perceber que a vassoura muito
pequena o está obrigando a uma posição forçada para varrer.
E ele já sabe, por experiências anteriores, que posições forçadas costumam
fazer as suas costas doerem. O surgimento de dificuldades estimulam a mudança da
teoria para resolvê-las.
Neste momento a sua Teoria de Varreção volta a mudar: Varrer é pentear o
chão com um instrumento com pelos ou fibras na ponta, de preferência com um
tamanho que não obrigue a posições forçadas, para juntar a sujeira a fim de removê-
la.
Pensar a prática pode levar os praticantes a mudar sua teoria e a mudança
teórica, quase sempre, implica em mudança da prática. Na próxima vez, nosso herói
escolherá uma vassoura com o tamanho mais adequado.
Existe uma outra maneira de provocar uma mudança teórica.
Digamos, usando este mesmo exemplo, que alguém entre na sala e veja o
nosso herói varrendo com a vassourinha. Reparando no tamanho da vassoura diga
alguma coisa do tipo: Puxa vida, se eu varresse o chão com uma vassoura deste
tamanho, morreria de dor nas costas... Pronto! Embora possa não parecer, dada a
sua simplicidade, esta afirmação inclui uma constatação teórica de quem a disse. É
genérica, nasce da prática, ajuda a fazer previsão e indica alternativas de ação.
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No momento em que uma pessoa escuta (ou lê) a comunicação da teoria de
uma outra pessoa, especialmente sobre assunto de seu interesse (neste caso estar
com as costas doendo) fica normalmente tentada a comparar a sua teoria com a teoria
comunicada. Dessa comparação podem surgir mudanças teóricas que irão refletir na
prática de quem as faz.
Aí está a chave do estudo destinado a aprender para melhorar a prática! A
leitura produtiva de qualquer estudo teórico só ocorre quando o leitor dedica-se a
comparar a sua própria teoria com a teoria exposta.
Este ovo de Colombo é ignorado por uma quantidade enorme de gente que
imagina que estudar a teoria de um autor é memorizá-la ou, o que é pior, buscar
transformar esta teoria em uma receita para enfrentar suas dificuldades. São os que
imaginam ser possível colocar em prática a teoria lida ou ouvida.
As teorias são péssimas receitas pela sua generalidade. Sofrem também da
carência de informações, decorrente da necessidade de serem codificadas para
atingir a finalidade da comunicação, que é sensibilizar ou convencer quem está sendo
informado. Quanto estudo e quanto esforço se perderam pelo desconhecimento desta
realidade tão simples.
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Portanto, quem quiser saber no que alguém acredita realmente, é preferível ver
o que ele faz do que perguntar a ele.
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BIBLIOGRAFIA
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa - Ed. Cortez, São Paulo - 1991. Ferreira, Maria
das Mercês. Projeto Político Pedagógico, Jornal GIZ, nº 12 -
64
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação.
Coleção Uma Nova EJA para São Paulo caderno 3: Traçando o perfil de educandos
e professores. São Paulo: Secretaria Municipal de Educação DOT, 2004.
WHITAKER Ferreira, Francisco - Planejamento Sim e Não, 14ª ed. Paz e Terra Rio
de Janeiro - 1979.
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