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SME-SP
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DA
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Professor de Educação Infantil e


Ensino Fundamental I

EDITAL Nº 02/2022

CÓD: SL-039ST-22
7908433226444
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Concepção de linguagem verbal em seu processo de interlocução e sua relação com todas as áreas de conhecimento. 13
quanto ao domínio das capacidades de leitura e de escrita para os diferentes gêneros e práticas sociais ...............................
2. uso da variedade culta da língua escrita para a produção de texto.................................................................................................. 28
3. Leitura e compreensão de texto................................................................................................................................................. 31

Informática
1. Utilização de diferentes linguagens midiáticas para desenvolvimento das práticas educativas ................................................ 39
2. Apropriação tecnológica ............................................................................................................................................................ 39
3. Compreensão dos usos das tecnologias e da cultura digital no cotidiano escolar .................................................................... 39
4. Promoção de práticas pedagógicas, reflexivas, colaborativas e dialógicas utilizando recursos tecnológicos ............................. 40
5. Papel e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação ..................................................................................................... 40
6. Letramento digital ...................................................................................................................................................................... 40
7. Uso da tecnologia para ensinar, aprender e pesquisar .............................................................................................................. 42

Conhecimentos Específicos
Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I
1. Almeida, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2017....................................................................................................... 43
2. ARROYO, Miguel. Currículo, território em disputa. Petrópolis: vozes, 2011................................................................................. 43
3. Cavalleiro, Eliane Dos Santos Do Silêncio Do Lar Ao Silêncio Escolar: Racismo, Preconceito E Discriminação Na Educação
Infantil. São Paulo: Contexto, 1998. ............................................................................................................................................ 49
4. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. ....................... 50
5. LOURO Guacira Lopes.Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. 16ª edição. Petrópolis: Vozes,
2014. ................................................................................................ .......................................................................................... 53
6. MICHELÈ Sato e Isabel Carvalho. Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios - 1ª Edição - Penso/ Editora Artmed, 2005. ........... 55
7. MOLL, Jaqueline. Caminhos da Educação Integral no Brasil: direito a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre:
Penso, 2012. ................................................................................................................................................................................ 56
8. SILVA, Edson. Ensino e sociodiversidades indígenas: possibilidades, desafios e impasses a partir da lei 11.645/2008. Caicó,
v.15, n.35, p.21-37. Mneme – Revista de Humanidades, jul/dez. 2014. Dossiê Histórias Indígenas. .......................................... 58
9. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2008. ..................... 59
10. PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens - entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed,
1999. ................................................................................................ ......................................................................................... 60
11. VILLAS BOAS, Benigna M. F. As Dimensões do Projeto Político- -Pedagógico: novos desafios para a escola. Ilma Passos
Alencastro Veiga, Marília Fonseca (orgs.). Campinas: Papirus, 2001 - (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
..................................................................................................................................................................................................... 64
12. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações para atendimento de estudantes:
transtorno do espectro do autismo. São Paulo: SME / COPED, 2021. .......................................................................................... 64
13. São Paulo (SP) . Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Retratos da EJA em São Paulo : história e
relatos de práticas. – São Paulo : SME / COPED, 2020. ............................................................................................................... 66
14. São Paulo: SME/ COPED, 2020. São Paulo (SP). Orientação normativa nº 01: avaliação na educação infantil: aprimorando os
olhares. São Paulo: SME / DOT, 2014.......................................................................................................................................... 72
15. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Conhecer para proteger: enfrentando a
violência contra bebês, crianças e adolescentes. São Paulo: SME/COPED, 2020. ....................................................................... 66

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ÍNDICE

16. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Ansiedade e medo em tempos de pandemia:
a arte favorecendo ressignificações. São Paulo: SME/COPED, 2021. (Coleção Diálogos com o NAAPA, v.1) ............................... 67
17. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Vulnerabilidade e educação. São Paulo: SME/
COPED, 2021. (Coleção Diálogos com o NAAPA, v. 3). ................................................................................................................. 68
18. São Paulo (SP) Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Povos Migrantes: orientações didáticas. SME/
COPED, 2021................................................................................................................................................................................ 71
19. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Educação Integral: política São Paulo
educadora. – São Paulo: SME/ COPED, 2020. ............................................................................................................................. 71
20. São Paulo (SP). Orientação Normativa de registros na Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED, 2020. ............................... 73
21. São Paulo (SP). Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana. São Paulo: SME / DOT, 2016.................................. 73
22. São Paulo (SP). Currículo integrador da infância paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2015. ......................................................... 74
23. São Paulo (SP). Orientação Normativa de educação alimentar e nutricional para Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED
/ CODAE, 2020. ................................................................................................ .......................................................................... 75
24. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Avaliação no contexto escolar: vicissitudes
e desafios para (res)significação de concepções e práticas. São Paulo: SME / COPED, 2020.................................................... 75
25. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade : considerações do
Conselho Municipal de Educação de São Paulo. – São Paulo : SME / COPED, 2022 .......................................................... 76
26. BARBOSA, Maria Carmem Silveira; FARIA, Ana Lucia Goulart de; MELLO, Suely Amaral. Documentação pedagógica: teoria e
prática. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2017. ............................................................................................. 76
27. CIPPITELLI, Alejandra; DUBOVIK, Alejandra. Construção e construtividade: materiais naturais e artificiais nos jogos de
construção. São Paulo: Phorte Editora, 2018.............................................................................................................................. 77
28. FINCO, Daniela; OLIVEIRA, Fabiana de. A Sociologia da pequena infância e a diversidade de gênero e de raça nas instituições
de Educação Infantil. Cap. 3. IN: Faria Ana Lúcia Goulart de; FINCO, Daniela (Orgs.). Sociologia da Infância no Brasil. Campinas,
SP: Autores Associados, 2011 (Coleção Polêmicas do nosso tempo). ......................................................................................... 78
29. MELLO, Suely Amaral. O processo de aquisição da escrita na Educação Infantil: contribuições de Vygotsky. Cap. 2. IN: FARIA,
Ana Lúcia Goulart & MELLO, Sueli Amaral (orgs.). Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores
Associados, 2009. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo. ............................................................................................................ 78
30. BARBOSA, Maria Carmem Silveira e HORN, Maria da Graça Souza. Projetos Pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre:
Artmed, 2008................................................................................................. ............................................................................. 79
31. BARBIERI, Stela. Territórios da Invenção: Ateliê em Movimento. São Paulo: Jujuba Editora, 2021. ............................................. 80
32. PRADO, Patrícia D. . Educação Infantil: contrariando as idades. 1. ed. São Paulo: Képos (Selo Editora Laços), 2015...................... 80
33. MONÇÃO, Maria Aparecida Guedes. Gestão na Educação Infantil: cenários do cotidiano. São Paulo: Edições Loyola, 2021....... 80
34. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Caminhos pedagógicos da educação inclusiva. In: GAIO, R.; MENEGHETTI, R.G.K. (org).
Caminhos pedagógicos da Educação Especial. Petropólis: Editora Vozes, 2004. ........................................................................ 82
35. MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como Fazer? 2 ed. São Paulo: Moderna, 2006................ 82

Ciências Naturais
1. Propriedades e transformação dos materiais. Uso e conservação dos materiais. Fontes, consumo, transporte e
transformação de energia. ................................................................................................................................................. 83
2. Ambiente e seres vivos. ...................................................................................................................................................... 88
3. Luz, som e relação com objetos. ......................................................................................................................................... 94
4. Água: uso, poluição e tratamento. ...................................................................................................................................... 112
5. Recursos renováveis e não renováveis. ............................................................................................................................... 117
6. Reversibilidade e irreversibilidade. ..................................................................................................................................... 119
7. Luz e sombra; Sol e Terra e suas interações. Sistema Solar, Terra e Lua e os movimentos da Terra. Planetas do sistema
solar; Movimentos da Terra e da Lua e suas fases. Formação do planeta Terra e os movimentos no sistema solar, em
especial, os eclipses. ................................................................................................ .......................................................... 124

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ÍNDICE

8. Corpo humano: composição e funcionamento e sua relação com o ambiente. Corpo Humano: relação entre alimentação,
atividade física e saúde. Ações e as influências humanas no ambiente. Funções e características dos sistemas que
compõem o corpo humano. ................................................................................................ .............................................. 132
9. Ensino Investigativo, Alfabetização científica e contextualização........................................................................................ 160

Geografia
1. Representação cartográfica por meio do uso dos mapas. Primeiras noções de pertencimento contextualizadas cultura e
espacialmente. Primeiras noções espaciais, os primeiros conceitos, o alfabeto cartográfico e os processos de raciocínio. ....... 163
2. Os espaços livres e áreas verdes do lugar de vivência da criança. ............................................................................................... 171
3. O trabalho na família e na escola. ................................................................................................................................................ 171
4. Noções de diversidade cultural e os processos de formação do povo brasileiro: o reconhecimento da importância dos
processos migratórios na formação social e cultural da Cidade de São Paulo. ............................................................................. 172
5. Primeiras noções de ciclo hidrológico e a importância da água no cotidiano. ............................................................................. 179
6. Estudos sobre o trabalho no campo e na cidade, com enfoque nas relações de interdependência e integração, por meio da
circulação de mercadorias e matérias-primas. ............................................................................................................................ 188

História
1. A história dos brinquedos: brinquedos de outros povos e de outros ........................................................................................ 195
2. A história dos jogos e brincadeiras: nossas brincadeiras e de outras culturas e épocas............................................................... 195
3. Os espaços lúdicos na Cidade de São Paulo:os espaços de lazer e brincadeiras na Cidade de São Paulo........................................... 195
4. História das relações das sociedades com as águas e os rios............................................................................................. ........ 196
5. O modo de vida urbano no presente e no passado..................................................................................................................... 196

Língua Portuguesa
1. Aquisição do Sistema de Escrita Alfabética....................................................................................................................................... 197
2. Linguagem oral e escrita. Variedade linguística: preconceito linguístico, norma culta e norma-padrão........................................ 197
3. Língua e linguagem: conhecimentos pragmáticos, conhecimentos discursivos, conhecimentos textuais, conhecimentos 197
gramaticais e conhecimentos notacionais......................................................................................................................................
4. Capacidades, procedimentos e comportamentos de produção, leitura de textos orais e escritos...................................................... 199
5. Prática de produção de textos orais e escritos: produção para aprofundamento, produção por frequentação........................... 199
6. Contexto e Operadores da produção de texto............................................................................................................................. 199
7. Modalidades didáticas para o ensino de leitura: leitura pontual, leitura colaborativa/compartilhada, leitura programada, 200
leitura em voz alta feita pelo professor, roda de leitores, leitura programada..............................................................................
8. Modalidades didáticas para o ensino de produção de textos: reconto, reescrita com escriba, produção coletiva com escriba, 200
escrita de texto que se sabe de memória, reescrita de texto, reescrita com modificações, produção de partes dos textos que
não se conhece, texto de autoria..........................................................................................................................................
9. Prática de análise linguística: características dos textos e gêneros, coesão, coerência, segmentação, aspectos semânticos e lexicais, 201
aspectos gráficos, variação linguística......................................................................................................................................
10. Morfologia.................................................................................................................................................................................... 201
11. Sintaxe.......................................................................................................................................................................................... 207
12. Fonologia...................................................................................................................................................................................... 209
13. Ortografia..................................................................................................................................................................................... 210

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ÍNDICE
Matemática
1. Estratégias no ensino de matemática: resolução de problemas, tarefas investigativas, tecnologias digitais, etnomatemática,
modelagem e história da matemática......................................................................................................................................... 215
2. Números: pensamento numérico, funções dos números naturais: quantificar, ordenar, comparar, medir e codificar, operações
aritméticas, procedimentos de cálculo, proporcionalidade, ordem e representação.................................................................... 222
3. Geometria: noções espaciais: localização, movimentação e representação, figuras geométricas: identificação, classificação,
diferenciação e planificação......................................................................................................................................................... 228
4. Grandezas e Medidas: Unidades de medida: massa, comprimento, capacidade, tempo, perímetro e área, medida padronizadas
e não padronizadas....................................................................................................................................................................... 240
5. Sistema monetário e estimativas.................................................................................................................................................. 242
6. Probabilidade e Estatística: Ideias de acaso em situações do cotidiano, Dados: coleta, leitura, seleção, interpretação,
representação, comparação em tabelas e gráficos; comunicação de dados de pesquisa: produzir textos e solucionar problemas a
partir de dados coletados e produzidos....................................................................................................................................... 244
7. Álgebra: desenvolvimento do pensamento algébrico; padrões de regularidades numéricos ou figurais, regras de formação de
sequência numérica ou figural: ampliação, construção, identificação e descrição; proporcionalidade.............................................. 249
8. Eixos Articuladores: Jogos e Brincadeiras, matemática e educação ambiental e saúde, Estratégias e procedimentos de
resolução de problemas.............................................................................................................................................................. 254

Bibliografia - Informática Básica


1. Revista Magistério n. 10: educomunicação................................................................................................................................... 265
2. São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Uso de tecnologias em contexto de pandemia:
o que aprendemos e como prosseguir aprendendo?– São Paulo : SME / COPED, 2021............................................................. 265
3. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade : Ensino Fundamental : componente
curricular:Tecnologias para Aprendizagem. – 2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019................................................................. 265
4. Secretaria Municipal de Educação. O uso da tecnologia e da linguagem midiática na Educação Infantil. São Paulo: SME/DOT,
2015.............................................................................................................................................................................................. 265
5. Instrução Normativa SME nº 52, de 10/12/2021 - Dispõe sobre a organização dos Laboratórios de Educação Digital - LED, e
dá outras providências.................................................................................................................................................................. 265

Conhecimentos Pedagógicos
Currículos e Orientações Didáticas
1. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Educação Infantil. São Paulo: SME /
COPED, 2019; .............................................................................................................................................................................. 271
2. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade: Educação de Jovens e Adultos:
Componentes – São Paulo: SME/COPED, 2019. ........................................................................................................................ 276
3. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica Currículo da cidade: povos indígenas: orientações pedagógicas.
– São Paulo: SME / COPED, 2019 ............................................................................................................................................... 278
4. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: povos migrantes: orientações
pedagógicas. – São Paulo: SME / COPED, 2021 ........................................................................................................................ 280
5. SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade. Ensino Fundamental:
Língua Portuguesa. São Paulo: SME / COPED, 2017. .................................................................................................................. 283
6. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de Ensino Fundamental e Médio. Orientações
didáticas do currículo da Cidade: Língua Portuguesa, volume 1. São Paulo: SME/ COPED, 2018. .............................................. 288
7. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Divisão de Ensino Fundamental e Médio. Orientações
didáticas do currículo da Cidade: Língua Portuguesa, volume 2. São Paulo: SME/ COPED, 2018. .............................................. 291
8. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: Matemática. –
2.ed.– São Paulo: SME / COPED, 2019. ..................................................................................................................................... 296

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ÍNDICE
9. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática –
volume 1. – 2. ed. São Paulo: SME / COPED, 2019. .................................................................................................................... 300
10. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática –
volume 2. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. .................................................................................................................. 304
11. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente
curricular: Ciências da Natureza. – 2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019. ............................................................................... 308
12. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Ciências
Naturais. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. .................................................................................................................... 313
13. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente
curricular: História. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. .................................................................................................... 313
14. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: História. – 2.ed.
– São Paulo: SME / COPED, 2019. .............................................................................................................................................. 316
15. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente
curricular: Geografia. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. ............................................................................................... 316
16. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade : Geografia. –
2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019. ..................................................................................................................................... 317
17. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental : componente
curricular : Arte. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019. ........................................................................................................ 317
18. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade - Educação Especial: Língua Brasileira de
Sinais. São Paulo: SME / COPED, 2019. ...................................................................................................................................... 318
19. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade - Educação especial: Língua Portuguesa
para surdos. – São Paulo: SME / COPED, 2019............................................................................................................................ 319
20. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações didáticas do Currículo da Cidade: Educação
Especial – Língua Brasileira de Sinais – Língua Portuguesa para surdos. São Paulo: SME/COPED, 2021. ................................... 320
21. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações para atendimento de estudantes: altas
habilidades / superdotação. São Paulo: SME/COPED, 2021. .................................................................................................... 321
22. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientações para atendimento de estudantes: transtorno do
espectro do autismo. São Paulo: SME / COPED, 2021................................................................................................................. 321

Bibliografia - Ciências Naturais


1. Carvalho, anna maria pessoa de. O ensino de ciências e a proposição de sequências de ensino investigativas. In:carvalho,
anna maria pessoa de. (Org.). Ensino de ciências por investigação: condições para implementação em sala de aula. São paulo:
cengage learning, 2013. ............................................................................................................................................................... 325
2. Sasseron, lúcia helena. Alfabetização científica, ensino por investigação e argumentação: relações entre ciências da natureza
e escola. Revista ensaio, belo horizonte, v. 17, N. Especial, p. 49-67, Nov. 2015.......................................................................... 325

Bibliografia - Geografia
1. Castellar, Sonia; Vilhena, Jerusa. Ensino De Geografia. Coleção Ideias Em Ação- Cengage.2011. .............................................. 327
2. Straforini, Rafael. Ensinar Geografia: O Desafio Da Totalidade-Mundo Nas Séries Iniciais. São Paulo: Annablume, 2004........... 327

Bibliografia - História
1. Bittencourt, Circe. O Saber Histórico Na Sala De Aula. São Paulo: Contexto, 1998..................................................................... 329
2. Guimarães, Selva. Didática E Prática De Ensino De História. Papirus, 2009.................................................................................. 330
3. Pereira, Amilcar Araújo; Monteiro, Ana Maria (Org.). Ensino De História E Cultura Afro-Brasileiras E Indígenas. Rio De Janeiro:
Pallas, 2013................................................................................................................................................................................... 331

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ÍNDICE

Bibliografia - Língua Portuguesa


1. FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. São Paulo: Artes Médicas, 1985. (Capítulo 6- Evolução da
Escrita, p. 191- 257)................................................................................................................................................................... 333
2. FERREIRO, E. O ingresso na escrita e nas culturas do escrito: seleção de textos de pesquisa. Tradução de Rosana Malerba.
São Paulo: Cortez, 2013. (Capítulo 3- A desestabilização das Escritas silábicas: alternâncias e desordem com pertinência,
p.63-76)...................................................................................................................................................................................... 339
3. GOULART, Cecília M. A.; GONTIJO, Cláudia Maria Mendes; FERREIRA, Norma Sandra de A. (Orgs.). A alfabetização como
processo discursivo: 30 anos de A criança na fase inicial da escrita. São Paulo, Cortez, 2017. (Cap. 2- A alfabetização como
processo discursivo em perspectiva, p. 47-64). ......................................................................................................................... 340
4. LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002................................... 341
5. WEISZ, Telma. Relações entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999................................................................... 348
6. KAUFMAN, Ana Maria; GALLO, Adriana; WUTHENAU, Celina. Como avaliar aprendizagens em leitura e escrita? Um
instrumento para o primeiro ciclo da escola primária. In: Cavalcanti, Zélia (org.). 30 olhares para o futuro. São Paulo: Escola
da Vila, 2010............................................................................................................................................................................... 349
7. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. (Capítulo 5- Para compreender antes da
leitura, p. 89-113)....................................................................................................................................................................... 349
8. DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. (Cap 3- Os
gêneros escolares- das práticas de linguagem aos objetos de ensino, p. 71-94)............................................................................... 350
9. ROCHA, Gladys; VAL, Maria da Graça Costa (org). Reflexões sobre práticas escolares de produção de texto- o sujeito autor. Coleção
Linguagem e Educação- CEALE. São Paulo: Autêntica Editora, 2007. (Cap. 1- A linguagem nos processos sociais de constituição da
subjetividade, p. 15-28), Cap. 3- A formação do produtor de texto escrito na escola: uma análise das relações entre os processos
interlocutivos e os processos de ensino, p. 53- 68), (Cap. 4- O papel da revisão na apropriação de habilidades textuais pela
criança, p. 69- 84), Cap. 5- A produção de textos escritos narrativos, descritivos e argumentativos na alfabetização: evidências
do sujeito na/da linguagem, p. 85-108)..................................................................................................................................... 352
10. POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas/SP: Mercado das Letras, 1996......................................... 352

Bibliografia - Matemática
1. Panizza, m. Ensinar matemática na educação infantil e séries iniciais: análise e propostas. Porto alegre, rs: artmed, 2006.
(Cap. 3- O ensino do número e do sistema de numeração na educação infantil e na 1ª série. P. 43 - 76); (Cap. 5- Abordagens
parciais à complexidade do sistema de numeração: progressos de um estudo sobre as interpretações numéricas. P. 95- 142);(
Cap.8- Geometria nas séries iniciais do ensino fundamental: problemas de seu ensino, problemas para seu ensino. P. 169-
188). ............................................................................................................................................................................................ 355
2. Parra, c.; Saiz, c. (Org.). Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto alegre: artes médicas, 1996. (Cap. 1-
Matemática para não-matemáticos p. 11- 250; (Cap.2- A didática da matemática, p. 26-35); (Cap. 5- O sistema de numeração:
um problema didático. P.73-155). ............................................................................................................................................... 355
3. Smole, k. S., Diniz, m.I. (Org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto alegre:
artmed editora, 2001. (Cap. 1- Comunicação em matemática, p. 15-28), (Cap. 3- Ler e aprender matemática, p. 69-86), Cap. 7-
Diferentes formas de resolver problemas, p. 121-149)................................................................................................................... 356

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ÍNDICE

Material Digital:

Legislações Federais
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 - artigos 5, 37, 38, 39 ,40, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213,
214 ao 229.................................................................................................................................................................................... 5
2. Lei Federal n.º 8.069, de 13/07/1990 – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Artigos
53 a 59 e 136 a 137....................................................................................................................................................................... 21
3. Lei Federal n.º 9.394, de 20/12/1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional..................................................... 25
4. Lei Federal nº 10.436, de 24/04/2002. Dispõe sobre a língua brasileira de sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 25 abr. 2002. Seção 1, p. 23...................................................................................................................... 40
5. Lei Federal n.º 10.639, de 09/01/2003 – Altera a Lei n.º 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional,
para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá
outras providências...................................................................................................................................................................... 41
6. Lei Federal n.º 10.793, de 01/12/2003 – Altera a redação do art. 26, § 3º, e do art. 92 da Lei n.º 9.394/96, que estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional......................................................................................................................................... 41
7. Lei Federal n.º 11.645, de 10/03/2008 – Altera a Lei n.º 9.394/96, modificada pela Lei n.º 10.639/03, que estabelece as Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.............................................................................................................................................. 41
8. Lei Federal nº 11.114/05 - Altera os arts. 6º , 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394, de 20/12/96, com o objetivo de tornar obrigatório o início do
ensino fundamental aos seis anos de idade.................................................................................................................................. 42
9. Lei Federal nº 12.796, de 04/04/2013 – Altera a Lei n.º 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências.............................................................................. 42
10. Lei Federal nº 13.005/2014 - Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências....................................................... 42
11. Lei Federal nº 13.146, de 06/07/2015 – Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência). Cap IV............................................................................................................................................................... 57
12. Lei Federal 14.191/2021 inclui o capítulo V-A, na Lei 9394/96, que trata da Educação Bilingue para Surdos....................................... 58
13. Resolução CNE/CEB nº 1, de 28/05/2021 - Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos
relativos ao seu alinhamento à Política Nacional de Alfabetização (PNA) e à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e Educação
de Jovens e Adultos à Distância................................................................................................................................................... 59
14. Resolução CNE/CEB nº 4, de 13/07/2010 - Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica......................... 62
15. Resolução CNE/CEB nº 5, de 17/12/2009 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil........................................ 69
16. Resolução CNE/CEB nº 1, de 05/07/2000 - Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e
Adultos......................................................................................................................................................................................... 71
17. Resolução CNE/CEB nº 2/2001, de 11/09/2001 de setembro de 2001 -Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
na Educação Básica....................................................................................................................................................................... 74
18. Parecer CNE/CEB nº 2/2007, aprovado em 31 de janeiro de 2007 - Parecer quanto à abrangência das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana........................................................................................................................................................................................ 77
19. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008............................................................................................................................
................................. 79
20. CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE
EDUCAÇÃO - UNDIME; MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Frente de Trabalho da Base Nacional Docente. Referenciais Profissionais
Docentes para Formação Continuada. Brasília: Consed/ Undime/MEC, 2019.............................................................................. 84
21. CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE EDUCAÇÃO - CONSED; UNIÃO NACIONAL DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS DE
EDUCAÇÃO - UNDIME. Anexo Proposta de Matriz de Desenvolvimento Profissional Docente, BNC-Formação Continuada na
Prática: Implementando processos formativos orientados por referenciais profissionais. Brasília: Consed/ Undime, 2021....... 84

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ÍNDICE

Legislações Municipais, Documentos e publicações


1. Lei Municipal nº 16.271, de 17/09/2015 - Aprova o Plano Municipal de Educação de São Paulo............................................. 89
2. Decreto nº 28.302, de 21/11/1989 - Institui o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos da Cidade de São
Paulo............................................................................................................................................................................................ 97
3. Decreto nº 54.452, de 10/10/13 - Institui, na Secretaria Municipal de Educação, o Programa de Reorganização
Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São Paulo- Mais Educação São
Paulo............................................................................................................................................................................................ 97
4. Decreto nº 57.379, de 13/10/2016 - Institui, no âmbito da Secretaria Municipal de Educação, a Política Paulistana de Educação
Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva........................................................................................................................... 98
5. RESOLUÇÃO CME nº 03/2021 - Dispõe sobre procedimentos de flexibilização curricular nas Unidade escolares da Rede
Municipal de Ensino.................................................................................................................................................................... 102
6. Resolução CME nº 04/2021 - Alterações do Regimento Educacional das Unidades: EMEF, EMEFM, CIEJA e EMEBS da Rede.... 103
7. Recomendação CME nº 07/2021 - Busca Ativa Escolar................................................................................................................... 105
8. Recomendação CME nº 03/2021 - Medidas de Flexibilização para a garantia do direito à aprendizagem............................................. 109
9. Recomendação CME nº 01/2022 – Aprendizagem Híbrida: o Ensino, a Educação, os desafios e as possibilidades................... 115
10. Recomendação CME nº 02/2022 – Diretrizes Gerais para a Educação Especial na Perspectiva Inclusiva com abordagem específica
na Rede Municipal de São Paulo.................................................................................................................................................. 121
11. Portaria n° 5930/13, de 14/10/2013 - Programa de Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da
Rede Municipal de Ensino de São Paulo- Mais Educação São Paulo.................................................................................................. 130
12. Portaria nº 8.764, de 23/12/2016 - Regulamenta o Decreto nº 57.379, de 13 de outubro de 2016, “Institui no Sistema
Municipal de Ensino a Política Paulistana de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva.................................. 136
13. Portaria nº 8.824, de 30/12/2016 - Institui, no âmbito da secretaria municipal de educação o “PROJETO REDE”, integrando
os serviços de apoio para educandos e educandas, público-alvo da educação especial, nos termos do decreto nº 57.379,
de 13/10/16, e dá outras providências........................................................................................................................................ 153
14. Instrução Normativa SME nº 18, de 18/04/2022 - Dispõe sobre a alteração do regimento educacional das unidades: EMEF,
EMEFM, CIEJA E EMEBS da rede municipal de ensino................................................................................................................... 155
15. Instrução Normativa SME nº 12, de 24/02/2022 - Institui no âmbito da Secretaria Municipal de Educação o projeto Formação da
Cidade, destinado aos docentes e coordenadores pedagógicos das unidades educacionais diretas, indiretas e parceiras da rede
municipal de ensino e dá outras providências............................................................................................................................. 156
16. Instrução Normativa SME nº 20, de 26/06/2020 - Estabelece procedimentos para comunicar ao conselho tutelar, vara da
infância e juventude os casos de suspeita ou confirmação de violência aos bebês, crianças e adolescentes matriculados na
rede municipal de ensino............................................................................................................................................................. 160
17. Instrução Normativa SME nº 50, de 09/12/2021 - Institui os projetos de fortalecimento das aprendizagens e reorganiza o
projeto de apoio pedagógico – PAP............................................................................................................................................ 162
18. Instrução Normativa SME nº 51, de 10/12/2021 - Dispõe sobre a Organização das Salas de Leitura, Espaços de Leitura e Núcleos
de Leitura e dá outras providências........................................................................................................................................... 169
19. Instrução Normativa SME Nº 26, DE 10/08/2022 - Reorienta o Programa “SÃO PAULO INTEGRAL – SPI” nas escolas Municipais de
Educação Infantil- EMEIs, CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL – CEMEIs, Escolas Municipais de Ensino Fundamental
- EMEFs, Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio - EMEFMs e nos Centros Unificados - CEUs da Rede Municipal
de Ensino e dá outras providências............................................................................................................................................ 174

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LÍNGUA PORTUGUESA

• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,


fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM VERBAL EM SEU PROCESSO
DE INTERLOCUÇÃO E SUA RELAÇÃO COM TODAS AS
ÁREAS DE CONHECIMENTO. QUANTO AO DOMÍNIO
DAS CAPACIDADES DE LEITURA E DE ESCRITA PARA OS
DIFERENTES GÊNEROS E PRÁTICAS SOCIAIS .

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo palavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro. verbal com a não-verbal.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos


identificar quando um texto é baseado em outro. O nome que
damos a este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar
a uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao
subentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos
prévios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao
crescimento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma
apreciação pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido,
afetando de alguma forma o leitor.

13
LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analítica significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso
e, por fim, uma leitura interpretativa. o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
É muito importante que você: nunca extrapole a visão dele.
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade,
estado, país e mundo; IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
ortográficas, gramaticais e interpretativas; tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
polêmicos; significativo, que é o texto.
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
Dicas para interpretar um texto: o assunto que será tratado no texto.
– Leia lentamente o texto todo. Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
parágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
– Sublinhe as ideias mais importantes. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
principal e das ideias secundárias do texto. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
– Separe fatos de opiniões. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
mutável).
CACHORROS
– Retorne ao texto sempre que necessário.
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
enunciados das questões. espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
– Reescreva o conteúdo lido. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
tópicos ou esquemas. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas outro e a parceria deu certo.
são uma distração, mas também um aprendizado. Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela As informações que se relacionam com o tema chamamos de
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
do texto. ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações, conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
apresentadas na prova. capaz de identificar o tema do texto!

Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
cundarias/

14
14
LÍNGUA PORTUGUESA
IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM Ironia dramática (ou satírica)
TEXTOS VARIADOS A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia  é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia de situação NERO EM QUE SE INSCREVE
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que principal. Compreender relações semânticas é uma competência
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
morte. Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
-se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

15
LÍNGUA PORTUGUESA
Busca de sentidos tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
apreensão do conteúdo exposto. curto.
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
citadas ou apresentando novos conceitos. nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici- mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas como horas ou mesmo minutos.
entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
Importância da interpretação imagens.
A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
específicos, aprimora a escrita. que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- vencer o leitor a concordar com ele.
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de de destaque sobre algum assunto de interesse.
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen- Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es- za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató- crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para berdade para quem recebe a informação.
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. Fato
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
Diferença entre compreensão e interpretação ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do Exemplo de fato:
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- A mãe foi viajar.
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Interpretação
É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Gêneros Discursivos quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- sas, previmos suas consequências.
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- ças sejam detectáveis.
dárias.
Exemplos de interpretação:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente
tro país.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única
do que com a filha.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
encaminham-se diretamente para um desfecho.
Opinião
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a que fazemos do fato.
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O

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LÍNGUA PORTUGUESA
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe-
ríodo, e o tópico que o antecede.
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
anteriores: ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- para a clareza do texto.
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
do que com a filha. Ela foi egoísta. vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
sem coerência.
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mos expressando nosso julgamento. mais direto.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando NÍVEIS DE LINGUAGEM
analisamos um texto dissertativo.
Definição de linguagem
Exemplo: Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
com o sofrimento da filha. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e o do leitor.
e caem em desuso.
Parágrafo
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é Língua escrita e língua falada
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela-
ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre-
mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução.
conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
Embora existam diferentes formas de organização de parágra-
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís-
pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Linguagem popular e linguagem culta
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria o diálogo é usado para representar a língua falada.
prova.
Linguagem Popular ou Coloquial
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con- expressão dos esta dos emocionais etc.
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A Linguagem Culta ou Padrão Exemplo:
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que Era uma casa muito engraçada
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Não tinha teto, não tinha nada
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Ninguém podia entrar nela, não
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Porque na casa não tinha chão
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia dormir na rede
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha parede
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia fazer pipi
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Gíria Na rua dos bobos, número zero
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como (Vinícius de Moraes)
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os comportamentos, nas leis jurídicas.
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário Características principais:
de pequenos grupos ou cair em desuso. • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
“mina”, “tipo assim”. do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
Linguagem vulgar
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
Exemplo:
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
comida”.
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
Linguagem regional
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
perior para formação de oficiais.
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipo textual expositivo
Tipos e genêros textuais
A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran-
cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem
discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e
pode ser expositiva ou argumentativa.
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma
A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás-
sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou
neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
• Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
Tipo textual descritivo
• O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo
mar.
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma
• Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto,
• Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
um movimento etc.
de ponto de vista.
Características principais:
• Apresenta linguagem clara e imparcial.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
Exemplo:
caracterizadora.
O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu-
questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
meração.
pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• A noção temporal é normalmente estática.
terminado tema.
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini-
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
ção.
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo.
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún-
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.

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Tipo textual dissertativo-argumentativo GÊNEROS TEXTUAIS
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são
(leitor ou ouvinte). passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela
Características principais: que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento textuais que neles predominam.
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho Tipo Textual Gêneros Textuais
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, Predominante
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
gestão/solução). Descritivo Diário
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações Relatos (viagens, históricos,
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente etc.)
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Biografia e autobiografia
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Notícia
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Currículo
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Lista de compras
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Cardápio
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o Anúncios de classificados
desenvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se ro- Injuntivo Receita culinária
deios. Bula de remédio
Manual de instruções
Exemplo: Regulamento
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Textos prescritivos
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
administração política (tese), porque a força governamental certa- Expositivo Seminários
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Palestras
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Conferências
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Entrevistas
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Trabalhos acadêmicos
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Enciclopédia
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Verbetes de dicionários
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo- Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o argumentativo Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente). Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
prosa, não em verso. nitos e mudam de acordo com a demanda social.

Exemplo:
Solidão
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni-
rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
Nelson S. Oliveira

Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/4835684

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LÍNGUA PORTUGUESA
ARGUMENTAÇÃO se mais confiável do que os concorrentes porque existe desde a
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma chegada da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-
informação a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem nos que um banco com quase dois séculos de existência é sólido
positiva de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, e, por isso, confiável. Embora não haja relação necessária entre
ou inteligente, ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz a solidez de uma instituição bancária e sua antiguidade, esta tem
seja admitido como verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de peso argumentativo na afirmação da confiabilidade de um banco.
convencer, ou seja, tem o desejo de que o ouvinte creia no que o Portanto é provável que se creia que um banco mais antigo seja
texto diz e faça o que ele propõe. mais confiável do que outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir as pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo entender bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas auditório, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a fácil quanto mais os argumentos estiverem de acordo com suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse crenças, suas expectativas, seus valores. Não se pode convencer
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocutor um auditório pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas
a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que que ele abomina. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas
está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio da que ele considera positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem
retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recursos com frequência associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos
de linguagem. Estados Unidos, essa associação certamente não surtiria efeito,
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom porque lá o futebol não é valorizado da mesma forma que no Brasil.
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa O poder persuasivo de um argumento está vinculado ao que é
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de valorizado ou desvalorizado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e Tipos de Argumento
uma desvantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado
argumentar. Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher a fazer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um
entre duas coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse argumento. Exemplo:
caso, precisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável.
O argumento pode então ser definido como qualquer recurso que Argumento de Autoridade
torna uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
no domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber,
crer que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais para servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse
possível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. recurso produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de produtor do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o texto a garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do
enunciador está propondo. texto um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. verdadeira. Exemplo:
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das
premissas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
postulados admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há
dependem de crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas conhecimento. Nunca o inverso.
apenas do encadeamento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais
Então: C é igual a B. importante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir
a ela, o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo.
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, Se um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior
Logo, a vaca é um mamífero. número de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-
se mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais
plausível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-

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LÍNGUA PORTUGUESA
Argumento do Consenso socialmente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se texto em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz.
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de
o objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas
de que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao maneiras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais
indiscutível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que adequada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria
não desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, certa estranheza e não criaria uma imagem de competência do
as afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de médico:
que as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
Ao confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
argumentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as por bem determinar o internamento do governador pelo período
frases carentes de qualquer base científica. de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque
Argumento de Existência alguns deles são barrapesada, a gente botou o governador no
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar hospital por três dias.
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o Como dissemos antes, todo texto tem uma função
argumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na argumentativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério,
mão do que dois voando”. para ser ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais comunicação deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas pretenda ser, um texto tem sempre uma orientação argumentativa.
concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
Durante a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
exército americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
Essa afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
ser vista como propagandística. No entanto, quando documentada O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
pela comparação do número de canhões, de carros de combate, de dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos
navios, etc., ganhava credibilidade. episódios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e
não outras, etc. Veja:
Argumento quase lógico “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa trocavam abraços afetuosos.”
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios
são chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
lógicos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
entre os elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
plausíveis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
C”, “então A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade Além dos defeitos de argumentação mencionados quando
lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
amigo” não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão
provável. amplo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente contrário. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente,
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que pode ser usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras
concorrem para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir podem ter valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia)
do tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se ou vir carregadas de valor negativo (autoritarismo, degradação do
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais meio ambiente, injustiça, corrupção).
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
indevidas. um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
Argumento do Atributo o argumento.
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típicas - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do
daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais contexto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
que é mais grosseiro, etc. exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
celebridades recomendando prédios residenciais, produtos de uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
beleza, alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o outros à sua dependência política e econômica”.
consumidor tende a associar o produto anunciado com atributos
da celebridade. A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situação
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvidos
competência linguística. A utilização da variante culta e formal na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, o
da língua que o produtor do texto conhece a norma linguística assunto, etc).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno
manifestações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo em questão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na
mentir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas sociedade.
feitas (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou
evidente, afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, o método de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que
em seu texto, sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o parte do simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência
enunciador deve construir um texto que revele isso. Em outros são a mesma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a
termos, essas qualidades não se prometem, manifestam-se na ação. conclusões verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer partes, começando-se pelas proposições mais simples até alcançar,
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a por meio de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. cartesiana, é fundamental determinar o problema, dividi-lo em
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um partes, ordenar os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui seus elementos e determinar o lugar de cada um no conjunto da
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. dedução.
Argumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
para chegar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
um processo de convencimento, por meio da argumentação, no regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
qual procura-se convencer os outros, de modo a influenciar seu série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
pensamento e seu comportamento. da verdade:
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão - evidência;
válida, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia - divisão ou análise;
ou proposição, e o interlocutor pode questionar cada passo - ordem ou dedução;
do raciocínio empregado na argumentação. A persuasão não - enumeração.
válida apoia-se em argumentos subjetivos, apelos subliminares,
chantagens sentimentais, com o emprego de “apelações”, como a A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
inflexão de voz, a mímica e até o choro. e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a favor A forma de argumentação mais empregada na redação
e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresenta acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas,
dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos que contém três proposições: duas premissas, maior e menor,
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma e a conclusão. As três proposições são encadeadas de tal forma,
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na dissertação, que a conclusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A
ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse premissa maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, alguns não caracteriza a universalidade.
debate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução
a possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade (silogística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar do particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos é o silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se
fundamentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de em uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva
vista. à conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais,
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude de verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação
argumentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de de fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa
discurso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. para o efeito. Exemplo:
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas vezes, Fulano é homem (premissa menor = particular)
a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, Logo, Fulano é mortal (conclusão)
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício
para aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseiase
desenvolver as seguintes habilidades: em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse caso,
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, parte de
uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconhecidos. O
totalmente contrária; percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o ferro (particular)
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresentaria O calor dilata o bronze (particular)
contra a argumentação proposta; O calor dilata o cobre (particular)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação O ferro, o bronze, o cobre são metais
oposta. Logo, o calor dilata metais (geral, universal)

A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
argumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. fatos, pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo conclusão falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição

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inexata, uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
analogia são algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação de
má fé, intenção deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o abordagens possíveis. A síntese também é importante na escolha
sofisma não tem essas intenções propositais, costuma-se chamar dos elementos que farão parte do texto.
esse processo de argumentação de paralogismo. Encontra-se um Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou
exemplo simples de sofisma no seguinte diálogo: informal. A análise formal pode ser científica ou experimental;
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? é característica das ciências matemáticas, físico-naturais e
- Lógico, concordo. experimentais. A análise informal é racional ou total, consiste
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? em “discernir” por vários atos distintos da atenção os elementos
- Claro que não! constitutivos de um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabelece
Exemplos de sofismas: as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenômenos
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou
Indução menos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. são empregados de modo mais ou menos convencional. A
(particular) classificação, no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens,
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) gêneros e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. características comuns e diferenciadoras. A classificação dos
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral variados itens integrantes de uma lista mais ou menos caótica é
– conclusão falsa) artificial.

Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão pode Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são professores; canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Comete- sabiá, torradeira.
se erro quando se faz generalizações apressadas ou infundadas. A Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
“simples inspeção” é a ausência de análise ou análise superficial Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, baseados nos Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
sentimentos não ditados pela razão. Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não
fundamentais, que contribuem para a descoberta ou comprovação Os elementos desta lista foram classificados por ordem
da verdade: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer
existem outros métodos particulares de algumas ciências, que critérios de classificação das ideias e argumentos, pela ordem
adaptam os processos de dedução e indução à natureza de uma de importância, é uma habilidade indispensável para elaborar
realidade particular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu o desenvolvimento de uma redação. Tanto faz que a ordem seja
método próprio demonstrativo, comparativo, histórico etc. A crescente, do fato mais importante para o menos importante, ou
análise, a síntese, a classificação a definição são chamadas métodos decrescente, primeiro o menos importante e, no final, o impacto
sistemáticos, porque pela organização e ordenação das ideias visam do mais importante; é indispensável que haja uma lógica na
sistematizar a pesquisa. classificação. A elaboração do plano compreende a classificação
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; das partes e subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para obedecer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302304.)
o todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na
depende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para
a síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, expressar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém e racionalmente as posições assumidas e os argumentos que as
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu justificam. É muito importante deixar claro o campo da discussão e
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria a posição adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combinadas, os pontos de vista sobre ele.
seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, o A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da
relógio estaria reconstruído. linguagem e consiste na enumeração das qualidades próprias
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento
por meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num conforme a espécie a que pertence, demonstra: a característica que
conjunto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a o diferencia dos outros elementos dessa mesma espécie.
análise, que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
decomposição organizada, é preciso saber como dividir o todo em é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências.
partes. As operações que se realizam na análise e na síntese podem A definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às
ser assim relacionadas: palavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:

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LÍNGUA PORTUGUESA
- o termo a ser definido; indução. Admitindo-se que raciocinar é relacionar, conclui-se que
- o gênero ou espécie; o argumento é um tipo específico de relação entre as premissas e
- a diferença específica. a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
O que distingue o termo definido de outros elementos da argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
mesma espécie. Exemplo: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns
nesse tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de
maior relevância que. Empregam-se também dados estatísticos,
acompanhados de expressões: considerando os dados; conforme
Elemento especiediferença os dados apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela
a ser definidoespecífica apresentação de causas e consequências, usando-se comumente as
expressões: porque, porquanto, pois que, uma vez que, visto que,
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, por causa de, em virtude de, em vista de, por motivo de.
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é explicar
partes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
é advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpretação.
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importante Na explicitação por definição, empregamse expressões como: quer
é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, ou
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta assim, desse ponto de vista.
ou instalação”; Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes,
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, depois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; depois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição de se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar
expandida;d uma ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + mesma forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente.
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as Para estabelecer contraste, empregam-se as expressões: mais que,
diferenças). menos que, melhor que, pior que.
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
que consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma
palavra e seus significados. afirmação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. credibilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais
Sempre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira no corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao
e necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada fazer uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional na linha de raciocínio que ele considera mais adequada para
do mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma explicar ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento
fundamentação coerente e adequada. tem mais caráter confirmatório que comprobatório.
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam
clássica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o explicação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido
julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é por consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural.
clara e pode reconhecer-se facilmente seus elementos e suas Nesse caso, incluem-se
relações; outras vezes, as premissas e as conclusões organizam-se - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
de modo livre, misturando-se na estrutura do argumento. Por isso, mortal, aspira à imortalidade);
é preciso aprender a reconhecer os elementos que constituem um - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos
argumento: premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar postulados e axiomas);
se tais elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar
se o argumento está expresso corretamente; se há coerência e
adequação entre seus elementos, ou se há contradição. Para isso
é que se aprende os processos de raciocínio por dedução e por

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LÍNGUA PORTUGUESA
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se
razão desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto em argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do
não se discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda argumento básico;
que parece absurdo). - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma
sequência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de às partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados menos a seguinte:
concretos, estatísticos ou documentais.
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação Introdução
se realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: - função social da ciência e da tecnologia;
causa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - definições de ciência e tecnologia;
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opiniões
pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, Desenvolvimento
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que - apresentação de aspectos positivos e negativos do
expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na desenvolvimento tecnológico;
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- condições de vida no mundo atual;
argumentação ou refutação. São vários os processos de contra- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade
argumentação: tecnologicamente desenvolvida e a dependência tecnológica dos
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação países subdesenvolvidos;
demonstrando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
contraargumentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do
cordeiro”; passado; apontar semelhanças e diferenças;
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga urbanos;
verdadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento mais a sociedade.
à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a
universalidade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/
consiste em refutar um argumento empregando os testemunhos de consequências maléficas;
autoridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em apresentados.
desautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador
baseou-se em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de
inconsequentes. Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por redação: é um dos possíveis.
meio de dados estatísticos, que “o controle demográfico produz o
desenvolvimento”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois INTERTEXTUALIDADE
baseia-se em uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
Para contraargumentar, propõese uma relação inversa: “o entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
desenvolvimento é que gera o controle demográfico”. criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualidade
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem
ao desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em
seguida, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados que ela é inserida.
para a elaboração de um Plano de Redação. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
tecnológica a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
resposta, justificar, criando um argumento básico; textos caracterizada por um citar o outro.
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação um texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira,
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la se utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos
(rever tipos de argumentação); – a fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias ou de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias diferentes. Assim, como você constatou, uma história em
podem ser listadas livremente ou organizadas como causa e quadrinhos pode utilizar algo de um texto científico, assim como
consequência); um poema pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o opinião pode mencionar um provérbio conhecido.
argumento básico;

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Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com Pastiche é uma recorrência a um gênero.
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com
outras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
tomá-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao a recriação de um texto.
ironizá-lo ou ao compará-lo com outros.
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, “conhecimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja,
desenhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos comum ao produtor e ao receptor de textos.
expressamos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito
já foram formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
ou mesmo contradizê-los. Em outras palavras, não há textos remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
absolutamente originais, pois eles sempre – de maneira explícita ou além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
implícita – mantêm alguma relação com algo que foi visto, ouvido daquela citação ou alusão em questão.
ou lido.
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
Tipos de Intertextualidade A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
A intertextualidade acontece quando há uma referência implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme,
novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a A intertextualidade explícita:
intertextualidade. – é facilmente identificada pelos leitores;
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando – não exige que haja dedução por parte do leitor;
as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. – apenas apela à compreensão do conteúdos.

Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do A intertextualidade implícita:


texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, – não é facilmente identificada pelos leitores;
reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer – não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
com outras palavras o que já foi dito. – não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros parte dos leitores;
textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. a compreensão do conteúdo.
Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original
é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma PONTO DE VISTA
reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes
esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos
e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e de vista diferentes. É considerado o elemento da narração que
da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa compreende a perspectiva através da qual se conta a história.
arte, frequentemente os discursos de políticos são abordados Trata-se da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar
de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também de existir diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma
reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. narrativa, considera-se dois pontos de vista como fundamentais: O
narrador-observador e o narrador-personagem.
A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que Primeira pessoa
consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
relação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
“epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e o livro com a sensação de termos a visão do personagem podendo
“graphé” (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
Patrimônio Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
a.C.): “A cultura é o melhor conforto para a velhice”. vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
só descobrimos ao decorrer da história.
A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa
produção textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem Segunda pessoa
expressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação diálogo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o sinta quase como outro personagem que participa da história.
termo “citação” (citare) significa convocar.

A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros


textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Terceira pessoa
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas USO DA VARIEDADE CULTA DA LÍNGUA ESCRITA PARA A
observasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa PRODUÇÃO DE TEXTO
em primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como
alguém que estivesse apenas contando o que cada personagem
disse.
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será A Linguagem Culta ou Padrão
transmitida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências
é contada por mais de um ser fictício, a transição do ponto de em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pes-
vista de um para outro deve ser bem clara, para que quem estiver soas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela
acompanhando a leitura não fique confuso. obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada na lin-
guagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais
Coerência artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- científicas, noticiários de TV, programas culturais etc.
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem.
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem.
outra”). A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa-
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou-
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola
elementos formativos de um texto. e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma.
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo
elementos textuais. ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante variedades linguísticas.
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- Certas palavras e construções que empregamos acabam de-
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e,
imediato a coerência de um discurso. às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso
da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa-
A coerência: cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança.
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te-
tual; levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem:
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou
o aspecto global do texto; profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases. de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou
em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do-
Coesão mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes-
ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática, ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre-
tem-se a coesão lexical. gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala- participamos.
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos A norma culta é responsável por representar as práticas lin-
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- guísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos
nentes do texto. formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramati-
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge- cais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolariza-
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados ção, maior a adequação com a língua padrão.
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
A coesão: Exemplo:
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial; conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao
componentes do texto; movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças,
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases. atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem
se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte
violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun-
ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe.

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A Linguagem Popular ou Coloquial Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mos- principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também
tra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco-
vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância; mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida.
barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; ca-
cofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici-
coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A lin- cleta.
guagem popular está presente nas conversas familiares ou entre
amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e audi- “Para mim” ou “para eu”
tório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc. Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase
com um verbo, deve usar “para eu”.
Dúvidas mais comuns da norma culta Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para
eu curtir as fotos dele.
Perca ou perda
Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara “Tem” ou “têm”
que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra- Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo
ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo. “ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo
no plural.
Embaixo ou em baixo Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de
O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continua- mudança.
rei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais
são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está “Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos
embaixo da cama atrás”
Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que
Ver ou vir ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro.
A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções: Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O
Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das romance começou muito tempo atrás.
frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás,
ficar de castigo! de Raul Seixas, está incorreta.

Onde ou aonde VARIAÇÃO LINGUÍSTICA


Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está? É possível encontrar no Brasil diversas variações linguísticas,
Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi- como na linguagem regional. Elas  reúnem as variantes da língua
ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
Fica? Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó-
ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
Como escrever o dinheiro por extenso? Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al- seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se
garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100 que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-
R$ 1400,00 ou R$ 1400. mo significado dentro de um mesmo contexto.
As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
Obrigado ou obrigada festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao sintático e lexical.
agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer
obrigada. Variações Morfológicas
Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en-
Mal ou mau tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas
Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:
da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes. Qual a – uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-
diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem. -versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o
Mau é o adjetivo contrário de bom. champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal).
– a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e ad-
“Vir”, “Ver” e “Vier” jetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro
A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas indicado, as noite fria, os caso mais comum.
situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é, – o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que o
por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”. Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições; Se
Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver- eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível que
bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”. ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.
– o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o
“Ao invés de” ou “em vez de” superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem
“Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo),
para expressar oposição. uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan-
Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda. te (em vez de possantíssimo).

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– a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula- – a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir) formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
o recado, quando ele repor (repuser). gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
– a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares: Esse amigo é um carinha maior esforçado.
vareia (varia), negoceia (negocia).
Designações das Variantes Lexicais:
Variações Fônicas – Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um
Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala- bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante usa-
vra. Entre esses casos, podemos citar: va-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era supim-
– a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró- pa.
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria-
pessoas de baixa condição social. das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. A
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das na computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, prin-
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande tar.
do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira): – Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra
quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol. língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma
– deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social. linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “tenhas
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso facto
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo.
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida-
hoje frequentes na fala caipira. de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações
– a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma- básicas).
relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem – Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como
oral coloquial. a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no-
Variações Sintáticas tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, barriga.
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma va- – Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser
riante e outra. Como exemplo, podemos citar: entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida-
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar).
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com – Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro:
o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista).
dele (em vez de cuja família eu já conhecia). – Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de
– a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal,
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com arruinou-se).
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz
me irrita. Tipos de Variação
– ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che- As variações mais importantes, são as seguintes:
gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se- – Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com
mana muitos alunos; Comentou-se os episódios. certa facilidade.
– o uso de pronomes do caso reto com outra função que não – Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão características da pronúncia de uma determinada região dá-se o
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque
e ele. gaúcho etc.
– o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de – De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns-
“o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de
– a ausência da preposição adequada antes do pronome relati- falar compatível com determinada situação é incompatível com
vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: outra
de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) – Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com
eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio. o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti-
do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas.
Variações Léxicas
Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri- LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTO
zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem-
plos possíveis de citar:
– as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a abordado em tópicos anteriores.
lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil
chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por-
tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno
almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de
suéter, malha, camiseta.

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(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo
QUESTÕES poder do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre
o corpo dos supliciados.
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela
um campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é controle e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO sua organização em delinqüência.
se fundamenta em intertextualidade é:
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido 6. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR –
há muito tempo.” 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade
mete onde não é chamada.” extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar
mesmo!” sentimentos pessoais por meio de sua música.
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
tudo bem.” composições do músico na cultura ocidental.
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor
termina em uma cena de reconciliação entre os personagens.
2. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
alternativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
razão.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”. 7. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
(C) “sérios”, “potência”, “após”. padrão na seguinte sentença:
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. (A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
(E) “solidária”, “área”, “após”. (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
3. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
ADMINISTRATIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
objetivo exclusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada
com esse objetivo é a seguinte: 8. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
(A) pôr. DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
(B) ilhéu. pontuação em:
(C) sábio. (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos
(D) também. convidados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(E) lâmpada. (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu
sorrateiramente pela porta?
4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras: tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra- (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem
vermelho. muito branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, os irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
infra-assinado. (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. arrependeria. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
contrarregra.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra- 9. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está
mencionado. inteiramente correta a pontuação do seguinte período:
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
5. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003) pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de pequenas
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente providências que, tomadas por figurantes aparentemente sem
empregadas e grafadas. importância, ditam o rumo de toda a história.
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
poder de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
qualquer excesso e violência. providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser importância, ditam o rumo de toda a história.
exatamente nem juízes, nem professores, nem contramestres, (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
nem suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
tudo isso, num modo de intervenção específico. providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o sem importância, ditam o rumo de toda a história.
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento (D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revolta pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas
que ambos possam suscitar. providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
importância, ditam o rumo de toda a história.

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(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, 16. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está
providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, correta.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
10. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo 35% deles fosse despejado em aterros.
mesmo processo de formação é: (D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; (E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; de lixo.
(C) deslealdade, colunista, incrível;
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; 17. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
de concordância no texto abaixo.
11. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação lucratividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a favoráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores
palavra primitiva foi formada respectivamente é: reais, deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação Amplo (IPCA), as receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica
parassintética (en + trist + ecer); (IRPJ), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social
(en + triste + cer); (Cofins). O crescimento da massa de salários fez aumentar a
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação arrecadação do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e a receita
parassintética (en + trist + ecer); de tributação sobre a folha da previdência social. Não menos
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação relevantes foram os elevados ganhos de capital, responsáveis
prefixal (des + entristecer); pelo aumento da arrecadação do IRPF.
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintética (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
(des + entristecer). plural em “deflacionados”.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
12. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – em “Elevaram-se”.
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
formada por derivação: regras de concordância com “economia”.
(A) parassintética; (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
(B) prefixal; singular em “fez aumentar”.
(C) sufixal; (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
(D) imprópria; com “relevantes”.
(E) regressiva.
18. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
13. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamente
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é: por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(A) pronome; (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(B) adjetivo; (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(C) advérbio; (C) Pretendo viajar a Paraíba.
(D) substantivo; (D) Ele gosta de bife à cavalo.
(E) preposição.
19. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
14. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). ataque, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-
(A) Pronome demonstrativo. se a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
(B) Pronome relativo. locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
(C) Pronome possessivo. marcada com o acento, EXCETO em:
(D) Pronome pessoal. (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(E) Pronome indefinido. (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
eleitorado pelo resultado final.
15. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
na oração “A abordagem social constitui-se em um processo de (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolúvel.
trabalho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o
sublinhados classificam-se, respectivamente, em sistema.
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.

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LÍNGUA PORTUGUESA
20. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração 25. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No
e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são
um (a): classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como:
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças “Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia,
americanas, entre na fila.” mas nunca à custa de nossos filhos...”
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e (A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada
subordinadas. sindética adversativa;
(B) Período, composto por três orações. (B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética
(C) Oração, pois possui sentido completo. explicativa;
(D) Período, pois é composto por frases e orações. (C) subordinada adverbial conformativa e subordinada
adverbial concessiva;
21. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS (D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada
– 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e sindética adversativa;
não dormiu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a (E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial
segunda oração. concessiva.
(A) Oração coordenada assindética aditiva.
(B) Oração coordenada sindética aditiva. 26. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No
(C) Oração coordenada sindética adversativa. período “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve
(D) Oração coordenada sindética explicativa. um governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar
(E) Oração coordenada sindética alternativa. a história.”, a oração sublinhada é classificada como:
(A) coordenada assindética;
22. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia (B) subordinada substantiva completiva nominal;
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas (D) subordinada substantiva apositiva.
orações.
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada Leia o texto abaixo para responder a questão.
adversativa. A lama que ainda suja o Brasil
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva. Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada
aditiva. A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasileira:
consecutiva. a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de um
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio Doce,
adverbial consecutiva. o governo federal ainda não apresentou um plano de recuperação
efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tampouco a
23. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela anglo-
Analise sintaticamente a oração em destaque: australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplicação da
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de que ela
recompensados” (Machado de Assis). será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha profunda
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal. e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
(B) oração subordinada adverbial causal. coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
(D) oração coordenada sindética conclusiva. se tornou uma bomba relógio na região.”
(E) oração coordenada sindética explicativa. Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segundo
24. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
ADMINISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de barragens de mineração em todo o País apresentam condições
ser um processo de observação cristalina para assumir um discurso de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar
de políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
quase nada retratam as necessidades de populações distintas.”. Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
(A) subordinada substantiva predicativa; tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco
(B) subordinada adjetiva restritiva; regulatório da mineração, por sua vez, também concede prioridade
(C) subordinada substantiva subjetiva; à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
(D) subordinada substantiva objetiva direta; judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
(E) subordinada adjetiva explicativa. Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA
MA+QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL

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LÍNGUA PORTUGUESA
27. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo
fato. o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
gênero textual editorial. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
que se trata de uma reportagem. costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
se trata de um editorial. orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
Analise as assertivas e responda: isto uma cor poética. E dizia a agulha:
(A) Somente a I é correta. — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
(B) Somente a II é incorreta. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
(C) Somente a III é correta que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(D) A III e IV são corretas. e acima…
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
28. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
ainda suja o Brasil”: o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E
no desenvolvimento do assunto. era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
problemas no uso de conjunções e preposições. costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
de palavras e da ordem sintática. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
temática e bom uso dos recursos coesivos. dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
Analise as assertivas e responda: alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
(A) Somente a I é correta. perguntou-lhe:
(B) Somente a II é incorreta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(C) Somente a III é correta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(D) Somente a IV é correta. vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Leia o texto abaixo para responder as questões. Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça
UM APÓLOGO grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: —
Machado de Assis. Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda fico.
enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? Contei esta história a um professor de melancolia, que me
— Deixe-me, senhora. disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está a muita linha ordinária!
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
der na cabeça. 29. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Assis e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem personagens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual,
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos indique a opção em que a fala não é compatível com a associação
outros. entre os elementos dos textos:
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
pedaço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?

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LÍNGUA PORTUGUESA
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda 33. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberdades
enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a nossa
(L.02) Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. acima, na ordem dada, as expressões:
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06) (A) a que – de que;
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, (B) de que – com que;
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço (C) a cujas – de cujos;
e mando...” (L.14-15) (D) à que – em que;
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (E) em que – aos quais.
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando 34. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008)
abaixo e acima.” (L.25-26) Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela (A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. fecha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a
Onde me espetam, fico.” (L.40-41) maior taxa registrada na última década.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que
30. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a
outros valores semânticos além da noção de dimensão, como conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
afetividade, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se (C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento
afirmar que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas em que atingimos um bom superávit em conta-corrente,
“unidinha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: em que se revela queda no desemprego e até se anuncia a
(A) dimensão e pejoratividade; ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta
(B) afetividade e intensidade; de novas fontes de petróleo.
(C) afetividade e dimensão; (D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
(D) intensidade e dimensão; percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuída
(E) pejoratividade e afetividade. a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
31. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito (E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia,
comum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
alternativa cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
expressividade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa que o do Brasil.
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. 35. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
Agulha não tem cabeça.” (L.06) 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um o seguinte par de palavras:
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) (A) estrondo – ruído;
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha (B) pescador – trabalhador;
ordinária!” (L.43) (C) pista – aeroporto;
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?” (D) piloto – comissário;
(L.25) (E) aeronave – jatinho.

32. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo 36. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
presente no texto: sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação tem como antônimo:
equânime em ambientes coletivos de trabalho; (A) fortuna;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação (B) opulência;
equânime em ambientes coletivos de trabalho; (C) riqueza;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho, (D) escassez;
cada sujeito possui atribuições próprias. (E) abundância.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente coletivo
de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do sujeito. 37. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA –
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, 2019)
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto
afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício
destinado ao presidente do Congresso Nacional é
(A) Senhor Presidente.
(B) Excelentíssimo Senhor Presidente.
(C) Presidente.
(D) Excelentíssimo Presidente.
(E) Excelentíssimo Senhor.

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LÍNGUA PORTUGUESA
38. (CÂMARA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - AUXILIAR 41. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
ADMINISTRATIVO - INSTITUTO AOCP - 2019 ) Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da
Referente à aplicação de elementos de gramática à redação língua. Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que
oficial, os sinais de pontuação estão ligados à estrutura sintática fundamentem esses usos.
e têm várias finalidades. Assinale a alternativa que apresenta Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
a pontuação que pode ser utilizada em lugar da vírgula para dar 1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
ênfase ao que se quer dizer. Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
(A) Dois-pontos. 2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
(B) Ponto-e-vírgula. Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
(C) Ponto-de-interrogação. 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um
(D) Ponto-de-exclamação. relacionamento difícil com a mãe e teria discutido com ela
momentos antes de desferir os golpes.
39. (UNIR - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - ANÁLISES CLÍNICAS-
AOCP – 2018)  INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
Pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o da vírgula em cada frase.
Poder Público redige atos normativos e comunicações. Em relação ( ) Para destacar deslocamento de termos.
à redação de documentos oficiais, julgue, como VERDADEIRO ou ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
FALSO, os itens a seguir. ( ) Para indicar um aposto.
A língua tem por objetivo a comunicação. Alguns elementos A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
são necessários para a comunicação: a) emissor, b) receptor, c) (A) 1 – 2 – 3.
conteúdo, d) código, e) meio de circulação, f) situação comunicativa. (B) 2 – 1 – 3.
Com relação à redação oficial, o emissor é o Serviço Público (C) 3 – 1 – 2.
(Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção). O (D) 3 – 2 – 1.
assunto é sempre referente às atribuições do órgão que comunica.
O destinatário ou receptor dessa comunicação ou é o público, o
conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos
outros Poderes da União.
( ) Certo
( ) Errado

40. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )


Determinadas palavras são frequentes na redação oficial.
Conforme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor
em 2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras
grafadas conforme o Acordo.
I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico,
capitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei,
diretor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente.
III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-
diretor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação,
pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
Geral.
V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
Executiva, tenente-coronel.

Assinale a alternativa CORRETA:
(A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
(B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(C) As afirmações II, III e IV estão corretas.
(D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
(E) As afirmações III, IV e V estão corretas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

ANOTAÇÕES
GABARITO
______________________________________________________

1 E ______________________________________________________

2 A ______________________________________________________
3 A ______________________________________________________
4 D
______________________________________________________
5 B
6 C ______________________________________________________
7 B ______________________________________________________
8 E
______________________________________________________
9 A
______________________________________________________
10 A
11 A ______________________________________________________
12 D ______________________________________________________
13 A
______________________________________________________
14 E
15 B _____________________________________________________
16 E _____________________________________________________
17 A
______________________________________________________
18 A
______________________________________________________
19 D
20 B ______________________________________________________
21 C ______________________________________________________
22 C
______________________________________________________
23 E
24 A ______________________________________________________

25 D ______________________________________________________
26 B
______________________________________________________
27 C
______________________________________________________
28 D
29 E ______________________________________________________
30 D ______________________________________________________
31 D
______________________________________________________
32 D
33 A ______________________________________________________

34 D ______________________________________________________
35 E ______________________________________________________
36 D
______________________________________________________
37 B
38 B ______________________________________________________
39 A ______________________________________________________
40 E
______________________________________________________
41 C
______________________________________________________

36
36
LÍNGUA PORTUGUESA

ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
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38
INFORMÁTICA

e a vida virtual se tornaram as atividades mais praticadas e o “am-


UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES LINGUAGENS MIDIÁTICAS biente” mais vivido pelo homem, por que não usar isso para seu
PARA DESENVOLVIMENTO DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS próprio benefício e desenvolvimento?
A apropriação tecnológica se dá por todas as vezes que menos
favorecidos inseridos numa sociedade tecnológica, interagem com
Os meios de comunicação são ferramentas que tem o poder esses recursos em suas vidas por meio de práticas e rotinas de tra-
de oferecer ideias e experiências inovadores nos ambientes edu- balho; como por exemplo, quando um jovem de periferia consegue
cacionais, gerando um grande avanço na educação. Indispensá- comprar um celular de última geração; quando uma criança parti-
vel mencionar a importância das relações sociais no processo de cipa do grupo virtual de sua sala de aula; quando as vagas de te-
aprendizagem dos alunos independentemente da idade; e com o letrabalho que são preenchidas aos montes apesar das condições,
agravamento do uso excessivo das mídias sociais o processo de e esses fatores revelam uma apropriação da tecnologia de modo
identificação dos alunos com o grupo social que desejam perten- que recursos, informações e lazer são gerados na sociedade. Esse
cer depende totalmente do acesso à informação que é fornecida processo de apropriação decorre da propagação da cultura tecnoló-
instantaneamente e à cultura divulgada através de diferentes meios gica em diferentes meios de comunicação; inclusive a tecnologia vai
de comunicação. Desse modo, as linguagens midiáticas na educa- muito além dos meios de comunicação, é um estilo de vida, um agir
ção dependem da criação de identidades, alcançando os alunos não e conhecer do mundo moderno.
apenas de forma intelectual, mas de modo que os vincule a algo O setor que ganha muito com isso é a educação, pois os pro-
para suprir a necessidade de pertencer a grupos. fessores e mestre-educadores tem uma grande ferramenta em
Várias didáticas vêm sendo estudadas com o avanço da tec- mãos para estimular o intelecto dos alunos através de meios que
nologia, mas ainda não podem ser aplicadas devido ao acesso à eles estão familiarizados mais do que qualquer outro público. O
tecnologia que nem todos os contextos sociais usufruem. Porém a uso de computadores e tablets nas escolas propiciam experiências
maioria dos professores já adotaram metodologias que incluem uso de aprendizagem que não eram nem uma possibilidade a tempos
das linguagens midiáticas dentro da sala de aula. A propagação da atrás. Uma evidência desse novo estilo de aprendizagem é quanti-
informação vem sendo feita de modo que se encaixe no momento dade de sites de cursos online; com apenas cliques e administração
atual da tecnologia, transformando a informação em conhecimento de tempo, as pessoas se qualificam pela internet. Sendo assim a es-
no conhecimento dos alunos. Não apenas a informação propagada, timativa é que a tecnologia continue aprimorando o conhecimento
mas também o modo de avaliar os alunos está cada vez mais mo- do homem, abrindo portas e atravessando fronteiras pra um grande
derna, provas são feitas remotamente e corrigidas em questão de desenvolvimento pessoal e da sociedade.
segundos por programas desenvolvidos por essa finalidade.
O uso das linguagens midiáticas na educação vem propiciando
grandes alterações no modo de ensino e no modo de aprendiza- COMPREENSÃO DOS USOS DAS TECNOLOGIAS E DA CUL-
gem. Com o a utilização dessas linguagens nas escolas, alunos e pro- TURA DIGITAL NO COTIDIANO ESCOLAR
fessores comunicam-se de forma versátil e apesar da comodidade
e facilidade à informação, a cultura do “faça você mesmo” famosa
virtualmente nos dias atuais vem sendo adotada nas escolas por Para abordarmos esse tema, primeiro precisamos de umas
meio das atividades escolares preparadas e inseridas justamen- pinceladas a respeito da cultura digital. Falamos de algo que não
te para serem realizadas através das novas tecnologias. Com esse é palpável, mas de dados e informações armazenadas dentro de
modo de interação rápida e prática, existem também possibilidades aparelho eletrônicos, vidas profissionais que dependem totalmente
diferentes em relação ao tempo que levaria um trabalho cooperati- desse recurso, bancos e empresas consolidados por meio dessa cul-
vo no ambiente físico de uma sala de aula e de uma sala virtual; isso tura. Ela se instaurou e se consolidou como cultura a partir do sur-
potencializa o uso das linguagens midiáticas nesses trabalhos para gimento da internet em seu uso doméstico e de fácil acesso às resi-
que possam surgir novos métodos de aprendizagem. dências e espaços de trabalho no final do século XX. Então podemos
dizer que a cultura digital é responsável pelas grandes mudanças
na vida cotidiana e no comportamento humano consequentemente
APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA pelo uso de ferramentas da tecnologia digital.
Hoje nas escolas, essa cultura digital não é somente um dife-
rencial para que os alunos possam ter experiências diferenciadas
Atualmente, os dados baseados nas pesquisas revelam uma na absorção de conhecimento, mas sim uma necessidade para po-
apropriação e crescimento do uso tecnológico em diferentes âmbi- pularizar o conhecimento e facilitar o engajamento e acessibilidade
tos da sociedade. Fazemos o uso constante dos mais variados tipos dos alunos para o que está proposto a ser ensinado. Essa cultura é
de eletrônicos e recursos tecnológicos; na sociedade contemporâ- tão importante atualmente que de certa forma até força as escolas
nea, dormimos ao lado do celular e muitas vezes é a primeira ativi- emergirem nesse meio mesmo sem o planejamento devido; sen-
dade que praticamos ao acordar. Já que os apetrechos tecnológicos do que o ensino participativo e dinâmico tem sido uma ferramen-
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a solução para o seu concurso!
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ta educacional essencial para o desenvolvimento do pensamento
crítico e comunicação entre professores e alunos. Um ponto chave PAPEL E USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E CO-
da cultura digital na educação é que os alunos são instruídos dire- MUNICAÇÃO
tamente e indiretamente a desenvolver uma certa independência
e serem responsáveis de sua própria aprendizagem; além de apri-
morar e revelar diversas outras habilidades em cada aluno, como o Nos dias de hoje, a população vive uma democratização da in-
senso de liderança e responsabilidade, criatividade na elaboração formação, as gerações mais afetadas nisso são adolescentes e jo-
de projetos e entre outros. Com a cultura digital muitas ferramentas vens que possuem excesso de informações em meio ao avanço tec-
de ensino foram substituídas ou aprimoradas, os livros das pratelei- nológico. As denominadas TICs vem cumprindo um grande papel na
ras não perderam sua importância, mas os PDF’s e livros digitais de sociedade, na educação e no comércio, nas empresas e indústrias
muitos lugares do mundo ganharam espaço na rotina de estudos; e também outros ambientes profissionais através de softwares e
isso promove o acesso imediato ao material de estudo independen- chats em tempo real que proporcionam uma comunicação inter-
te da hora e local. Com esse avanço tecnológico o ensino à distância pessoal virtual assertiva nos relacionamentos humanos.
e ensino híbrido passou a ser opção viável para diversos estudantes A cada década conseguimos enxergar com mais clareza as
também, na preferência pela comodidade e praticidade esse modo transformações no modo de compartilhamento da informação e
de ensino vem ganhando força em diversos contextos. forma de comunicação do homem. O papel dessas tecnologias tem
sido de suma importância para diversas áreas da sociedade, a popu-
larização das redes sem fio proporciona o acesso à novas informa-
PROMOÇÃO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, REFLEXIVAS, ções e a forma correta de interpretá-la. Na educação no período de
COLABORATIVAS E DIALÓGICAS UTILIZANDO RECURSOS pandemia por exemplo, se não existissem as salas de aulas virtuais
TECNOLÓGICOS como o google meet e google classroom, muitos pais não saberiam
como lidar com a formação educacional e intelectual de seus filhos.
Percebemos que as TICs abriram muitas portas e sanaram várias
Os recursos tecnológicos estão cada vez mais aprimorados e brechas na educação e no trabalho, podemos ver isso de modo
fazendo com que diversos âmbitos se adaptem a seu uso. As prá- cada vez mais notável na implantação de bancos digitais e soluções
ticas usadas pelos professores com objetivo de instruir, ensinar e financeiras por meio do imediatismo vindo da tecnologia; parte do
comunicar a informação a seus alunos vem sendo moldada a partir desenvolvimento econômico se dá pela grande porcentagem da po-
de ferramentas totalmente tecnológicas; raramente veremos pro- pulação que aderiu cartões-virtuais e métodos de pagamento que
fessores que continuam usando práticas pedagógicas sem ajuda da precisam apenas de cliques e uma rede de internet estável.
internet e recursos tecnológicos atualmente, até mesmo porque es- Então presumimos que o uso dessas tecnologias traz um avan-
ses recursos elevam o nível de praticidade, mas sem tirar qualidade ço considerável para todas as esferas da sociedade que nos cercam.
do ensino proposto. As aulas estão se tornando mais interativas e Desde sites de divulgação de vagas de emprego como fóruns de
que aguçam a curiosidade e atenção dos alunos; porém muitas uni- entretenimento, todos carregam informações e de modo ou outro
versidades e instituições de ensino não estão adeptas à atualização carregam uma mensagem para o público direcionado, sendo assim
de seus sistemas tecnológicos de informação e conteúdo, como por a comunicação é mais uma vez encurtada e facilitada. E como toda
exemplo o portal de um curso EaD. E nesse quesito quem não está inovação tem seus contras que as vezes podem se esconder atrás
adepto às mudanças acabam promovendo sua própria inutilidade e dos grandes benefícios, as TICs têm seus pontos a melhorar; porém
empurrando alunos em busca de plataformas mais inovadoras que se trata muito mais de uma questão de planejamento do que de-
sejam compatíveis com seu nível de interesse e conhecimento tec- senvolvimento de melhores sistemas.
nológico.
De modo que facilite e promova as relações do aluno com a
matéria, os professores podem utilizar as redes como metodolo- LETRAMENTO DIGITAL
gia educacional e certamente em seu modo de avaliação também,
transformando a aprendizagem e correção numa tarefa dinâmica
e inclusiva. O educador que possuir essa consciência pode ser um Antes de definirmos letramento, é necessário entender que o que
agente transformador na educação e formação de muitos indivídu- é o letramento “tradicional”. O conceito de letramento não se perpe-
os, deixando de lado a formalidade e abraçando o uso dos recursos tua no tempo, ele muda de acordo com os avanços da tecnologia.
tecnológicos; o que seria de grande ajuda no desdobramento do É relevante pontuar que muitas são as definições e estudos so-
pensamento crítico e trabalho coletivo, onde o aluno poderia se bre o conceito de letramento. Kleiman, por exemplo, considera-o
sentir de fato protagonista de sua própria formação e com apenas como uma prática de leitura e escrita12.
uma “pequena” ajuda do professor. Exemplificando esse pensa- Para Magda Soares3, o conceito de letramento ultrapassa o
mento, existem professores que fazem o uso das redes sociais para ato de ler e escrever. Podemos definir hoje o letramento como um
atividades como debates sobre diversos temas e vídeos que tragam conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema
reflexão em compatibilidade com o conteúdo das aulas; isso implica simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para
em envolver o aluno em um contexto de aprendizagem em que ele objetivos específicos4
tenha familiaridade e leveza. Sendo assim os recursos tecnológicos
1 Anais do SIELP. Volume 2, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2012. ISSN
podem ser muito vantajosos para aprimorar a didática, as práticas
2237-8758, Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/
pedagógicas e comunicativas no ensino mesmo com adversidades
uploads/2014/06/volume_2_artigo_051.pdf
que possam aparecer no uso dessas ferramentas.
2 KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na
escola. In: KLEIMAN, Angela B. (Org.). Os significados do letramento. Campinas,
S.P.:Mercado de Letras, 1995. 294 p. p. 15-61
3 SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. 11 reimpr. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006, 128p.
4 KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na
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a solução para o seu concurso!
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Para Mey5, a relevância do letramento, tanto do tipo usual O que faz alguém ser letrado digital?11
quanto do digital, vai muito além de se afirmar que é uma tecnolo- Pessoas letradas “analógicas” puderam tornar-se, recentemen-
gia de informação adquirida ativa ou passivamente. Enfatiza, tam- te, letradas digitais em vários domínios. No trabalho, os e-mails e o
bém, que é muito mais do que saber ler e escrever ou navegar na envio de arquivos à distância podem ser fundamentais. Assim como
internet. na escola a Internet pode servir para a pesquisa, o acesso a docu-
Na realidade, consiste em saber utilizar esses recursos para mentos e a entidades oficiais que estão fisicamente distantes do
aplicá-los no cotidiano, em benefício do próprio usuário. Precisa-se, usuário, a leitura de jornais e de revistas, etc. O uso do computador
nesse caso, indagar o porquê de se fazer uma busca na web, ou e da Internet é tão sócio-histórico quanto os usos que se fizeram do
seja, saber qual a finalidade dessa informação para a vida a fim de livro, do jornal, da revista ou da televisão.
promover a aquisição de um (novo) conhecimento. A diferença parece estar na natureza do meio, que permite
Soares6 ressalta que o sintagma letramento digital é usado para ações antes não facilitadas pelo papel. Os textos “blocados” plane-
referir-se à questão da prática de leitura e escrita possibilitada pelo jados de maneira que cada fragmento seja ligado por articuladores
computador e pela internet. chamados links são potencializados na Internet, mas já existiam em
A necessidade de um indivíduo ser letrado digitalmente surgiu suportes impressos, que não permitiam a navegação como ela se dá
a partir da ideia de que uma fonte digital pode gerar muitas formas no ambiente digital.
de informações de texto, como imagens, sons, etc. No entanto, não é assim tão fácil falar em multidões que usam
Por isso, uma nova forma de alfabetização era necessária com computadores e a rede mundial que os conecta. Segundo dados do
o intuito de dar sentido a essas novas formas de apresentação. Se- Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, INAF, “dois terços da
gundo Bawden, outros autores, como Eshet7, pensam da mesma população brasileira maior de quinze anos não têm o nível mínimo
forma que Gilster: o letramento digital deve ser mais do que a ca- de escolarização que a Constituição garante como direito a todos:
pacidade de usar fontes digitais por ser uma nova forma de pensa- as oito séries do Ensino Fundamental”. (RIBEIRO, 2003, p. 10) Isso
mento crítico. quer dizer que o letramento digital soa como luxo para muitos ci-
Gilster, citado por Bawden8, define quatro competências essen- dadãos.
ciais da literatura digital: Os dados diretamente relacionados ao uso e ao acesso ao com-
a) pesquisas na internet; putador são enfáticos: das classes D e E, apenas 4% utilizam com-
b) hipertexto; putador, eventualmente; das classes B e C, 15%; e a classe A usa
c) navegação; montagem; computador, “ao menos eventualmente”, em 41% dos casos. É pa-
d) conhecimento e avaliação de conteúdo. tente que o fato de pertencer a uma ou a outra classe social define
o acesso à máquina e à rede.
Enfatiza ainda que, em muitas fontes de informação, alguns Letrados digitais, portanto, são mais raros nas classes menos
autores estão comparando conhecimentos técnicos de informática favorecidas. Por que razão deveríamos, então, tratar o letramento
com pensamento crítico, para que o sujeito seja considerado letra- digital como algo de alcance irrestrito? Para alguns pesquisadores,
do digitalmente. a preocupação com os usos do computador é precipitada em uma
Já as definições de letramento digital mais amplas supõem sociedade que mal conseguiu formar “leitores de papel”.
esses aspectos ao não prescindirem dos sentidos social e cultural. A escola e o professor podem ser entendidos como os mais
Entre as apresentadas por Souza9, seleciono estas: letramento di- prováveis multiplicadores do letramento digital. Mesmo que a tare-
gital se constitui como “uma complexa série de valores, práticas e fa não seja escolar, o uso do computador para fins de sobrevivência
habilidades situados social e culturalmente envolvidos em operar no trabalho ou nas relações sociais é de suma importância para as
linguisticamente dentro de um contexto de ambientes eletrônicos, comunidades.
que incluem leitura, escrita e comunicação. Nessa definição, letra- Isso sem falar nas possibilidades de atuação cidadã na rede: si-
mento digital refere-se aos contextos social e cultural para discurso tes de busca a desaparecidos, entidades de classe, discussões sobre
e comunicação, bem como aos produtos e práticas linguísticos e temas da sociedade, produção de notícias em jornais, escolha de
sociais de comunicação, e os modos pelos quais os ambientes de prioridades nas listas dos orçamentos participativos de Prefeituras,
comunicação têm se tornado partes essenciais de nosso entendi- etc.
mento cultural do que significa ser letrado.10 As universidades têm sustentado diversas discussões sobre o
letramento digital, desde aquelas que se atêm às condições técni-
cas em que isso poderia se dar até aquelas que debatem sobre con-
ceitos e a formação de professores capacitados para lidar com um
novo sistema de mídias. As escolas de ensino médio ou fundamen-
tal têm entrado na discussão, mas de forma muito tímida, ainda
receosas de admitirem as máquinas na vida intelectual de crianças
escola. In: KLEIMAN, Angela B. (Org.). Os significados do letramento.
e adolescentes (mesmo que os jovens o estejam fazendo por conta
Campinas, S.P.:Mercado de Letras, 1995. 294 p. p. 15-61
própria).
5 MEY, Jacob L. As vozes da sociedade: letramento, consciência e poder. Tradu-
É bastante comum encontrar disciplinas de informática em co-
ção de Maria da Glória de Morais. Tradução de: The voices of society: literacy,
légios bem-equipados, mas não é fácil confirmar que essas aulas
conscientiousness and power. DELTA, vol.14, n. 2, p. 331-338. 1998.
tenham mesmo impacto na formação letrada dos jovens. “Mexer”
6 SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura.
no Word só pode ser útil se ele for mesmo um aplicativo utilitário,
Educação e Sociedade: Campinas, vol.23, n.81, p.143-160, dez. 2002.
7 BAWDEN, David. Origins and concepts of digital literacy. New York: Peter
Lang, 2008. p. 17-32
8 BAWDEN, David. Origins and concepts of digital literacy. New York: Peter 11 RIBEIRO, Ana Elisa. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - CEFET-
Lang, 2008. p. 17-32 -MG, disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Ana-Elisa-Ribeiro-2/
9 SOUZA, V. V. Soares. Letramento digital e formação de professores. Revista publication/322706076_LETRAMENTO_DIGITAL_UM_TEMA_EM_GENEROS_
Língua Escrita, n. 2, p. 55-69, dez. 2007. EFEMEROS/links/60956d80a6fdccaebd15c0a9/LETRAMENTO-DIGITAL-UM-TE-
10 scielo.br/j/edur/a/N5RryXJcsTcm8wK56d3tM3t/?lang=pt MA-EM-GENEROS-EFEMEROS.pdf
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que sirva para algum uso próximo do real. Para que são empregados contribuir com a melhoria da qualidade dos processos educativos e,
os editores de texto? Para escrever, diagramar e produzir trabalhos consequentemente, da aprendizagem. Com relação a esse assunto,
de verdade. julgue o item que se segue.
Da mesma forma acontece com aplicativos como Excel, Paint É consenso que crianças e adolescentes, os denominados na-
ou outros. Jogos são muito interessantes, mas eles precisam de tivos digitais, possuem facilidade para lidar com as mais complexas
objetivos claros para que não sejam confundidos com sessões de tecnologias e, por isso, não necessitam passar por capacitação em
videogame, espécie de aulas-intervalo. letramento digital.
( ) CERTO
( ) ERRADO
USO DA TECNOLOGIA PARA ENSINAR, APRENDER E PES-
QUISAR 2. (PREFEITURA DE MARICÁ/RJ DOCENTE I - LÍNGUA ESTRAN-
GEIRA – COSEAC/2018) Pode-se dizer que é possível melhorar o en-
sino/aprendizado para alunos com deficiência intelectual por meio
Quando refletimos sobre metodologias de ensino e como são da junção de aspectos do letramento digital com o ensino de língua
formados os professores, logo pensamos no estudo e aplicação de estrangeira. Isso pode ser observado quando:
práticas pedagógicas. Porém existem as práticas tecnológicas tam- (A) é proposta a adaptação de jogos pedagógicos online para
bém no qual é um componente fundamental na educação contem- a realização de práticas de letramento descontextualizadas e
porânea, e cumpre seu papel conforme a necessidade e finalidade desinteressadas, sem a avaliação contínua do professor.
em que são usadas. O uso da tecnologia no ensino precisa enfrentar (B) é proposta a adaptação de jogos pedagógicos online para a
algumas desavenças para que sua eficácia seja compartilhada, difi- realização de práticas de letramento contextualizadas e signifi-
culdades como o avanço repentino da tecnologia que incita novos cativas, avaliadas de forma continuada pelo professor.
treinamentos para o uso das ferramen-tas tecnológicas de ensino. (C) são propostas atividades que necessitam o uso do ciberes-
Os professores não carregam mais apenas a responsabilidade de paço, ignorando as habilidades individuais dos alunos a fim de
do-minar as práticas cientificas-pedagógicas, mas tem a grande se homogeneizar as práticas em sala de aula.
necessidade de aprimorar o conhe-cimento e técnicas a respeito (D) são propostas atividades online somente para aqueles que
das ferramentas oferecidas por meio tecnologia. Isso apenas reve- apresentam algum tipo de deficiência intelectual, a fim de mar-
-la que para muitos educadores essa é uma realidade difícil quanto car bastante as diferenças existentes entre os alunos.
a ensinar os alunos usando a mesma linguagem e compactuando (E) são propostos jogos pedagógicos online para a realização de
com seu conhecimento tecnológico digital; sendo assim, uma mar- práticas de letramento, sem adaptação que inclua e respeite as
gem enorme é dada para jovens professores enquanto os professo- necessidades educacionais de todos os alunos.
res “tradicionais” vão perdendo espaço desde que não façam inte-
gração da tecnologia em seu modo de ensino. 3. (PREFEITURA DE MOREILÂNDIA/PE – PROFESSOR – AS-
Apesar das dificuldades que possam aparecer no meio desse CONPREV/2020) Sobre os diferentes conceitos de alfabetização, le-
caminho educacional, não pode-mos deixar de enfatizar a impor- tramento, letramentos, alfabetismo funcional marque a alternativa
tância dessas inovações tecnológicas e principalmente na vida dos INCORRETA:
alunos. Sabemos que com a internet qualquer distância é encurtada (A) Alfabetização representa o processo de decodificação do
e qualquer informação que exista nunca foi de tão fácil acesso para sistema da escrita, ou seja, a capacidade de ler e escrever.
obtê-la; o que nos tempos antigos era encontrado dentro de uma (B) Letramento são os usos que se faz da leitura e da escrita nas
biblioteca com muito esforço e dispor de tempo, hoje é encontrado práticas sociais.
instantane-amente em sites com artigos que jorram informações. (C) Letramentos é uma referência aos diversos letramentos que
As videoaulas, os professores que lecio-nam em cursos online nas hoje se faz na sociedade do conhecimento, da informação em
plataformas digitais são marcos na vida de um estudante contem- rede: letramento digital, computacional, fílmico.
porâ-neo; afinal, nos tempos antigos não era possível assistir uma (D) Letramento alfabético proposta metodológica em que o in-
aula de faculdade enquanto simul-taneamente absorvia outros ti- divíduo, ao mesmo tempo em que se aproprie do sistema con-
pos de informação sem ao menos precisar se locomover. As pes- vencional da escrita, adquira a competência de fazer uso dessa
-quisas foram facilitadas por meio do uso tecnológico, uma matéria leitura e escrita no seu cotidiano.
que muitas vezes não se limi-tava em apenas um livro de alto custo (E) Alfabetismo funcional equivale a capacidade de fazer uso da
financeiro, hoje ocupa um pequeno espaço no armaze-namento e leitura e da escrita e das operações matemáticas em situações
memória interna de computadores e celulares. Dessa maneira co- da vida cotidiana, em geral a avaliação é feita nas crianças de
nhecemos um pou-co como a tecnologia carimba a educação nos 6 a 14 anos.
dias atuais e como o avanço dela pode promover outras grandes
conquistas para muitas pessoas, e como os professores precisam
se atentar para não ficarem para trás nessa corrida de informações GABARITO
e técnicas.

1 ERRADO
QUESTÕES
2 B
3 E
1. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA - CESPE/CEBRAS-
PE/2018) A questão não é mais discutir a inserção ou não de tec-
nologias da informação e comunicação na educação, mas a sua
apropriação pelos sujeitos pedagógicos (alunos e professores), para

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS
LÍNGUA PORTUGUESA
ESPECÍFICOS
Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I

Na dimensão estrutural, o pensador esclarece que as institui-


ALMEIDA, SILVIO. RACISMO ESTRUTURAL. SÃO PAULO: ções somente são racistas, porque a sociedade também o é, ou seja,
PÓLEN, 2017 as estruturas que solidificam a ordem jurídica, política e econômica
validam a autopreservação entre brancos, bem como a manutenção
de privilégios, uma vez que criam condições para a prosperidade de
Silvio Almeida, um dos maiores intelectuais contemporâneos, colo- apenas um grupo. Como resultado, as instituições externam violenta-
cou uma lupa nessa temática na sua obra intitulada “O que é racismo mente o racismo de forma cotidiana.
estrutural?” da coleção Feminismos Plurais coordenado por Djamila Enquanto ideologia, o racismo constitui-se como representação
Ribeiro. Durante muito tempo o racismo ficou adstrito apenas à esfera do imaginário social sobre as identidades raciais, de maneira que o
do comportamento individual, mas o jurista e filósofo nos apresentou imperativo é manter o branco no lugar de líder nato e racional en-
outras dimensões esmiuçando o viés institucional e estrutural. quanto que o negro em condições subalternas. Denota-se, portanto,
O racismo faz parte da história moderna guardando relação com que o racismo formata as subjetividades nas relações sociais, visto
a formação do Estado. Segundo o jurista, o conceito de raça foi desen- que do ponto de vista da consciência e dos afetos, o racismo valida
volvido pelo modelo do Estado burguês para eleger o sujeito universal quem merece ser considerado sujeito.
e organizar as relações políticas, econômicas e jurídicas a partir da ca- Na cultura, o racismo é sofisticado, pois propaga o relativismo
tegorização em classes dos indivíduos com o fim de preservar o grupo cultural e o multiculturalismo como forma de domesticação de cor-
hegemônico. pos, determinando a superioridade, o valor e o significado da cultura
O racismo ganha diferentes expressões ao longo da história, desde dominante em detrimento de outros grupos dos quais a branquitude
o caráter biológico, científico e sociocultural, razão pela qual trata-se de produz a exotificação e a inferiorização desses.
um fenômeno social complexo. De todo modo, no Brasil, esse processo O autor alerta que o individuo que se apresenta como antirracis-
sempre esteve relacionado com a aparência física, capacidade de consu- ta não pode argumentar que o racismo é estrutural como desculpa
mo e de circulação social. para não rever as suas ações, vez que a responsabilização é parte do
Nesse contexto, como o Estado é responsável por formar uma uni- processo. Assim, é fundamental perceber que há uma dialética entre
dade, o nacionalismo tende a hierarquizar as multiplicidades cultural, ét- as ações individuais e a estrutura.
nica, religiosa e sexual, criminalizando, domesticando ou estigmatizando No tocante a representatividade, o autor elucida que por si só
aquele que não interessa à identidade nacional. ela não é suficiente para resolver o racismo, pois embora enxergar
Nessa perspectiva, o autor aproveita as lições de Foucault para con- negros em espaços de poder seja importante, o recrutamento de al-
ceituar o racismo como uma tecnologia de poder que opera por meio do guns negros nesses espaços serve puramente para reforçar o racis-
controle havendo, por conseguinte, a discriminação sistêmica de grupos mo, visto que visibilidade negra não é poder. Assim, não é possível
étnico-raciais subalternizados. admitir uma maquiagem ao problema, uma vez que o racismo exige
Oportuno esclarecer que não é possível confundir racismo, pre- mudanças profundas e concretas para que não seja eterniza o cená-
conceito e discriminação. Se o primeiro é um fenômeno sistêmico, o rio de desigualdade racial.
segundo externaliza-se como um julgamento prévio, enquanto que a Assim, para o filósofo, há uma segregação não oficial entre ne-
discriminação é um tratamento diferenciado. Nessa vereda, é plausível gros e brancos, já que existe uma naturalização de negros em po-
que certos indivíduos do grupo dominante digam ter sofrido preconcei- sições subalternizadas e, de outro lado, há uma supremacia branca
to ou discriminação. No entanto, como o racismo está entranhando nas politicamente constituída.
estruturas de poder, este atinge somente grupos étnico-raciais subal- O estudioso perpassa por várias dimensões do racismo: históri-
ternizados, razão pela qual não há qualquer possibilidade de sustentar ca, política, ideológica, econômica e jurídica, e como não pretende-
o argumento de racismo reverso, já que não há opressão sistêmica em mos esgotar o tema, é crucial a leitura de sua obra na integralidade, a
relação ao grupo dominante. qual sintetiza de forma incisiva, crítica, propositiva e primorosa que o
Com efeito, os negros tornam-se produto do racismo, de maneira racismo é o grande obstáculo de um projeto de nação.
que o fenótipo, a cor da pele e as praticas culturais são dispositivos ma- Fonte: https://jus.com.br/
teriais utilizados para gerar privilégios, vantagens políticas, econômicas e
afetivas em favor do grupo hegemônico.
Assim, como a tese do jurista está calcada no racismo estrutural, ele ARROYO, MIGUEL. CURRÍCULO, TERRITÓRIO EM DISPUTA.
explora as diferenças entre racismo individual, institucional e estrutural. PETRÓPOLIS: VOZES, 2011.
No racismo individual é flagrante o viés patológico, comportamental e
imoral revelado por aquele que o pratica.
No racismo institucional, o que se observa é a presença massiva Disputas pela autoria e criatividade docente
de determinado grupo étnico-racial nas instituições, o qual irá trabalhar Invento saídas, tempos, práticas, motivações... mas sou cobra-
para fortalecer e manter esse grupo determinado no poder. Nessa forma da de seguir os currículos
de racismo vimos o legislativo, o judiciário, o executivo, as reitorias das As lutas pela autonomia profissional
universidades e grandes corporações aparelhadas com pessoas do gru-
po hegemônico.
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aa solução
solução para
para oo seu
seu concurso!
concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Como essa professora, tantos(as) profissionais do conhecimento Pensemos no movimento cm defesa da gestão democrática das
vêm conquistando o direito a suas autorias, a sua criatividade para escolas, na criação de colegiados, na defesa de diretas para diretor,
garantir o direito dos educandos à educação e à formação, ao conhe- na elaboração dos projetos político-pedagógicos das Escolas e das
cimento, à cultura, a saber-se. redes2.
As lutas pela autonomia profissional avançaram nas últimas dé- No próprio território dos currículos, da pesquisa e da produção
cadas junto com o crescimento do movimento docente. Autonomia e teórica podemos destacar a sociologia crítica do currículo e a peda-
autorias que se chocam não apenas com os controles gestores, mas gogia crítico-social dos conteúdos que apontaram na direção de des-
com a rigidez do ordenamento curricular. vendar os vínculos entre currículo, poder, acumulação.
O currículo está aí com sua rigidez, se impondo sobre nossa cria- Os estudos críticos sobre o currículo coincidentes com o forta-
tividade. Os conteúdos, as avaliações, o ordenamento dos conheci- lecimento da autonomia docente, com a criatividade e a profissio-
mentos em disciplinas. nalização levaram redes, escolas e coletivos a conformarem projetos
As relações entre os docentes e os ordenamentos curriculares político-pedagógicos mais autónomos, reorientações curriculares
passaram a ser um dos campos de debates, de estudos, de encon- mais adaptadas à diversidade de infâncias e adolescências, de jovens
tros nas escolas c nos cursos de formação. Defronlamo-nos com duas e adultos. Mais criativos para repensar os currículos e a docência para
tendências que se contrapõem. De um lado os docentes da educação inventar formas diversificadas de garantir o direito dos educandos e
básica se tornaram mais autónomos como coletivos sociais, acumu- dos próprios educadores ao conhecimento.
laram níveis de formação, conquistaram tempos de estudo, de pla- Décadas de fecunda criatividade e de politização dos currículos
nejamento, dc ati vidades lutam por serem menos aulistas, menos e dos projetos pedagógicos. Da politização das lutas por autorias e
transmissores mecânicos dc conteúdos, de apostilas, do livro didáti- criatividades docentes.
co; mais criativos, mais autores c senhores dc seu trabalho individual Uma história que merece fazer parte dos conhecimentos a que
e. sobretudo, coletivo. De outro lado, as diretrizes e normas, os orde- todo educador-docente tem direito.
namentos e as lógicas curriculares continuam lieis a sua tradicional As tentativas de autonomia, de criatividade nas salas de aula,
rigidez, normalização, segmentação, sequenciação e avaliação. As re- nos projetos político-pedagógicos das escolas, a pluralidade de proje-
centes políticas de avaliação centralizada quantitativa se dão por de- tos que os docentes inventam merecem destaque em oficinas e em
sempenhos, por etapas, para quantificar progressos, sequências de dias de estudo. E importante destacar em que pontos os docentes
ensino-aprendizagem reforçarem lógicas progressivas, sequenciais reagem à rigidez e ao caráter impositivo dos ordenamentos curricu-
rígidas, aprovadoras, reprovadoras de alunos e mestres. lares e das avaliações e como fortalecem sua autoria e criatividade;
como vão conformando outro profissional.
As avaliações e o que avaliam e privilegiam passaram a ser o cur-
O movimento docente tem contribuído para a autonomia po-
rículo oficial imposto às escolas. Por sua vez o caráter centralizado
lítica da categoria. O movimento pedagógico nas salas de aula, nas
das avaliações tira dos docentes o direito a serem autores, sujeitos da
escolas e redes vem contribuindo para conformar os docentes como
avaliação do seu trabalho.
sujeitos mais criativos, mais autores e senhores de seu trabalho como
A priorização imposta de apenas determinados conteúdos para
profissionais do conhecimento.
avaliação reforça hierarquias de conhecimentos e consequentemen-
Pesquisas e estudos têm mostrado a seriedade desse movimen-
te de coletivos docentes.
to nas últimas décadas. Um acúmulo de análises a que os docentes-e-
O desencontro dessas tendências leva a tensões entre maiores
ducadores(as) têm direito nos cursos de pedagogia, de licenciatura e
controles, de um lado, e maior consciência do direito à autoria docen- de formação continuada. Direito a conhecer o acúmulo de iniciativas,
te, dc outro. Os embates estão postos nas escolas, nos encontros e no projetos, propostas nascidas nas salas de aula e nas escolas e assu-
próprio movimento docente. midas por muitas redes. Uma história de criativas autorias docentes
Tentemos levantar e explicitar alguns elementos e avançar em e escolares.
posturas críticas diante desses embates entre autorias docentes e Uma forma de garantir esse direito será mapear a pluralidade de
controles curriculares, de gestão e avaliação. iniciativas que acontecem nas salas de aula e nas diversas áreas do
Estamos sugerindo a necessidade de avançar cm duas direções conhecimento.
que se complementam: de um lado abrir novos tempos-espaços e Mapeá-las e avaliar seus significados inovadores e reveladores
práticas coletivas de autonomia e criatividade profissional; de outro, de opções político-pedagógicas profissionais. Apresentamos e co-
aprofundar no entendimento das estruturas, das concepções, dos mentamos algumas dessas iniciativas e de seus ricos significados.
mecanismos que limitam essa autonomia e criatividade; entendê-los Alguns dos significados dessas iniciativas são levar as disputas
para se contrapor e poder avançar. para a visão fechada do conhecimento curricular. Dentre as iniciati-
vas cabe destacar a abertura dos currículos de educação básica para
A conformação de um coletivo profissional mais autónomo concepções de conhecimento menos fechadas, mais abertas à dúvi-
Ao longo da história do nosso sistema de instrução-educação- da e às indagações que vêm do real, das vivências que os próprios
-ensino se manteve uma marca: o controle dos seus profissionais. É educandos e educadores carregam, além de fazer das salas de aula
um dos sistemas mais regulados e normatizados. No regime auto- laboratórios de diálogos entre conhecimentos.
ritário aumentaram os controles, e na experiência democrática das O campo do conhecimento sempre foi tenso, dinâmico, aberto
últimas décadas eles não foram superados. à dúvida, à revisão e superação de concepções e teorias contestadas
Diante desses persistentes controles impostos ao sistema, à edu- por novos conhecimentos.
cação básica de maneira particular e aos seus profissionais, estes não Os currículos escolares mantêm conhecimentos superados, fora
ficaram passivos. da validade e resistem à incorporação de indagações e conhecimen-
Durante as últimas décadas pudemos perceber manifestações tos vivos, que vêm da dinâmica social e da própria dinâmica do co-
múltiplas de resistência aos controles c de libertação desses rituais. nhecimento.
As resistências têm contribuído para a conformação de um coletivo É dever dos docentes abrir os currículos para enriquecê-los com
profissional mais autónomo, mais criativo e mais autor-senhor de seu novos conhecimentos e garantir o seu próprio direito e o dos alunos
trabalho. à rica, atualizada e diversa produção de conhecimentos e de leituras
e significados.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Por outras políticas de currículo e de avaliação E significativo que nas escolas e salas de aula onde chegam os(as)
Alguns dos significados das iniciativas docentes têm sido levar filhos(as) dos coletivos sociais, étnicos, raciais, das periferias e dos
as disputas para a visão fechada do conhecimento curricular; abrir campos tenham lugar especial as inovações criativas dos docentes-
os currículos de educação básica para concepções dc conhecimento -educadores traduzidas cm práticas e projetos; das formas indignas
menos fechadas, mais abertas à dúvida e às indagações que vêm da de viver que os educandos carregam venham indagações ao campo
própria dinâmica que está posta no campo do conhecimento. Mais do conhecimento que obriguem seus profissionais a serem criativos
ainda, abrir o conhecimento às indagações instigantes que vêm do para descartar conhecimento morto e incorporar indagações e co-
real vivido pelos próprios professores c alunos e suas comunidades; nhecimento e significados vivos, instigantes para a docência. /
fazer das salas de aula um laboratório de diálogos entre conhecimen- Os docentes dessas escolas, em convívio com os alunos popula-
tos. Por aí caminham os embates no campo do conhecimento e que res, são levados a duvidar da visão sagrada, messiânica das ciências
essas iniciativas pedagógicas trazem para o território dos currículos. e tecnologias que são obrigados a ensinar. A vida, a justiça e a digni-
Como vimos, o campo do conhecimento sempre foi tenso, dinâmico, dade negadas com que convivem lhes obrigam a duvidar do caráter
aberto à dúvida, à revisão e superação de concepções e teorias con- redentor das competências e da racionalidade científico-técnica de
testadas por novas indagações que vêm do real. Quando os currícu- que são profissionais e que os currículos impõem de forma acrítica.
los se fecham a essa dinâmica do próprio conhecimento terminam Muitos profissionais desses educandos aí encontraram as vir-
presos a conhecimentos superados, passados de data, de validade. tualidades e incentivos para duvidar e inventar ousadias criativas no
Quando se abrem às indagações, vivências postas na dinâmica social, próprio campo da docência e do currículo, para inventar outros co-
se enriquecem, revitalizam. Há tantos conhecimentos vivos pressio- nhecimentos que ajudem os educandos a entender-se e entender os
nando, disputando o território dos currículos. determinantes de seu viver.
Os coletivos docentes têm se mantido atentos a essa dinâmica Enquanto continuarem chegando crianças e adolescentes, jo-
social e do próprio campo do conhecimento para garantir aos edu- vens ou adultos populares com vidas precarizadas teremos coletivos
candos conhecimentos vivos. Entretanto, seus esforços se veem limi- de profissionais e de educandos contestando a visão sagrada, mira-
tados pela rigidez consagrada na velha estrutura entre base comum culosa dos conteúdos dos currículos e das avaliações. Teremos dispu-
nacional e parte diversificada, componentes curriculares obrigatórios tas por outros conhecimentos, outras racionalidades, outro material
e disciplinas a serem preservados. didálico e literário; por outros projetos de sociedade, de cidade ou dc
As diversas resoluções que fixam diretrizes curriculares têm avan- campo; por projetos de emancipação; por explorar as potencialida-
çado muito na incorporação de princípios, valores e concepções avança- des libertadoras do conhecimento. Mas que conhecimento liberta?
das de educação, de percursos formativos e de aprendizagem, mas têm
dificuldade de inovar nas formas de organização dos conhecimentos e Ousadias em nome do compromisso ético
da organização dos tempos e do trabalho. É o núcleo duro, resistente. Uma constatação chocante é que os gestores e a mídia conde-
Essas iniciativas e aberturas exigem resistência, contestando o nam os docentes de antiéticos, descomprometidos, irresponsáveis.
caráter sagrado, hegemónico, inevitável que se impõe sobre os edu- Entretanto, nas últimas décadas, se observa um crescimento docente
candos e as escolas sobre o currículo e as avaliações e, sobretudo, das lutas por inovação em nome da ética, do compromisso ético com
sobre a criatividade e autoria docente. os educandos, com seus direitos e com outro projeto de sociedade. A
ética como luta pela dignidade dos educandos.
Que conhecimento em que projetos de sociedade A ética como luta por autoria e liberdade e criatividade respon-
E preciso manter com profissionalismo e ética os embates nesses sável dos profissionais do conhecimento.
territórios do conhecimento por novas políticas de currículo, de ava- Em realidade, quando se apela à irresponsabilidade de mestres
liação, de valorização, atreladas a outros projetos de sociedade, de e alunos, estamos diante de um confronto de éticas. Da ética da li-
ser humano, de vida, de justiça e dignidade humana. berdade, criatividade, verdade, dignidade que vinha crescendo em
Em toda disputa por conhecimentos estão em jogo disputas por confronto com a “ética” do cumprimento fiel da norma, das diretri-
projetos de sociedade. Deve-se questionar os conhecimentos tidos zes, dos tempos, dos núcleos duros, das exigências de reprovação
como necessários, inevitáveis, sagrados, confrontando-os com outras e de segregação na escola dos sempre segregados do crescimento
opções por outros mundos mais justos e igualitários, mais humanos, económico. As disputas no território do currículo e da docência são
menos segregadores dos coletivos que chegam às escolas públicas, disputas éticas.
sobretudo. Também é preciso repor nos currículos o embate político É ético que os profissionais e educandos lutem por devolver-lhes
no campo do conhecimento assumido não como um campo fechado, o que vem sendo subtraído, o direito a pensar, criar, escolher o que
mas aberto à disputa de saberes, dc modos de pensar diferentes. ensinar e como, o que aprender, que conhecimentos garantem o di-
É necessário e urgente um movimento dc reação ao caráter con- reito a entender suas vivências, a entender-se. Nessa luta ética pela
trolador, padronizador que as políticas de avaliação impõem sobre os liberdade e a autoria, pelo direito a um conhecimento que liberte, o
docentes c educandos, sobre o que ensinar-aprender. As diretrizes currículo aparece como o território de disputa. E ético questionar por
curriculares perderam sentido inovador soterradas no caráter impo-
que o currículo passou a ser o território onde o conhecimento acu-
sitivo das políticas nacionais e estaduais de avaliação.
mulado se afirma como único, legítimo, onde a racionalidade científi-
Hoje grupos técnicos desconhecidos impõem a todas as escolas
ca se legitima como a única racionalidade.
e a seus profissionais o que decidem como prioritário ou descartável
É ético garantir o direito à diversidade de conhecimentos c de
na garantia do direito ao conhecimento.
formas de pensar o real.
E ético resistir a rituais e processos que julgam, condenam c
Ousadia em nome do direito à vida digna
segregam milhões de crianças, adolescentes, jovens ou adultos po-
Sobre as escolas e sobre os seus coletivos dc mestres e educan-
pulares por não apreenderem a única racionalidade e o único saber
dos onde vinham acontecendo as ousadias mais criativas pela ga-
legítimos, no tempo e nos rituais legítimos.
rantia do direito ao conhecimento recaem os controles maiores nos
Aprendemos como profissionais do conhecimento que quando
currículos e nas avaliações.
um conhecimento, uma racionalidade se impõe como únicos, hege-
Porque nessas escolas chegam vidas precarizadas que contras-
mónicos, outros conhecimentos e outros modos de pensar são sa-
tam e contestam o culto à missão salvadora que as ciências e tecno-
crificados, segregados, como irracionais, do senso comum, do povo
logias dos currículos prometem superar e extinguir.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
comum. Já ouvimos que o conhecimento curricular não é o conheci- Repolitizar as disputas no território dos currículos
mento nem a racionalidade do senso comum, do povo comum, da Nesses intentos tínhamos aprendido que as disputas no terreno
vida comum. Mas é o território do conhecimento e da ciência, da controlado e gradeado dos currículos e das disciplinas seriam ten-
racionalidade e da cultura nobres; da normal culta. sas. Profanar templos, quebrar grades sempre mereceu castigos. A
Resistir a esses cânones únicos segregadores tem feito parte da reação conservadora está aí, endurecendo diretrizes, normas, ofe-
ética docente, c assim formar os educandos para valorizar suas lin- recendo reorientações curriculares prontas, controlando avaliações,
guagens e seus saberes e colocá-los em diálogo com a diversidade de privilegiando competências em áreas já privilegiadas, retomando a
saberes e linguagens. reprovação-retenção. Legitimando material didático apesar de sexis-
ta e racista. Sobretudo, controlando os agentes desses rituais sagra-
Reconhecimento da diversidade dos, os mestres.
A disputa foi se instalando ao chegarem os coletivos tidos como E sintomático que todo esse acúmulo de normas, diretrizes, reo-
povo comum sem racionalidade, dominados por saberes do senso rientações prontas de material e apostilas bem diretivas chegam às
comum. Os coletivos docentes cada vez mais identificados com esses escolas para ajudar os docentes sempre vistos como incapazes de
educandos em saberes, cultura, classe, raça, campo ou periferia pas- criar, perdidos à procura de auxiliares.
saram a ter de articular direitos tensos: o direito à “herança” intelec- Tensas histórias de embates por autonomias profissionais. Nun-
tual, cultural, estética, ética com o direito a suas heranças dc saberes, ca como agora nessa década caíram sobre mestres e alunos tantos
valores, estéticas, conhecimentos, linguagens, formas de pensar o “auxílios” e tantos controles e tantas avaliações, punições c ameaças.
real e de pensar-se. Toda profanação será castigada.
Odireitoaautoimagens positivas tem levado os(as)docentes-edu- Toda ousadia de democratizar o conhecimento, a ciência, a racio-
cadores(as) a adotar uma postura crítica, vigilante diante do material nalidade, de reconhecer conhecimento, racionalidade no senso co-
didático, até da literatura que chega às escolas e reproduz estereóti- mum, no povo comum será castigada, controlada. Era de se esperar
pos sexistas, racistas, inferiorizantes dos povos indígenas, quilombo- essa reação conservadora, freando as ousadias criativas das redes e
las, do campo, negros, pobres. escolas e dos docentes e de seus movimentos.
Os coletivos vistos e tratados como inferiores em nossa história Agora nos obrigam a debater-nos contra a asfixia controladora
intelectual e cultural vêm.afirmando suas memórias e culturas, seus que vem da mídia, de gestores c das avaliações, dos currículos por
saberes, valores, afirmando sua presença positiva na produção inte- competências, do controle repressor dos docentes e de suas orga-
nizações profissionais, da imposição do currículo único, do material
lectual, cultural, artística e literaria.
didático único, do padrão mínimo, único de qualidade.
Essa riqueza afirmativa vem entrando nas salas de aula através,
sobretudo, da criatividade e das ousadias dos(das) educadores(as)
As autorias docentes repolitizadas
docentes que têm avançado em reconhecer a diversidade. Assim, são
Na realidade, não é tanto o currículo que está em disputa, mas a
contrapostos e expostos os sexismos, racismos, inferiorizações ainda
docência, o trabalho, a liberdade criativa dos trabalhadores na educa-
presentes em alguns dos materiais didáticos e literários que chegam
ção. Está cm disputa o conhecimento, a cultura e sua rica diversidade.
às escolas. O campo do material didático e literário passou a ser um
O movimento docente reaquece suas resistências c suas lutas. E
território de disputa nas salas de aula. Disputa política que extrapola
significativo que as reações e ate greves mais recentes sejam contra
até a mídia e a outras instituições da sociedade e do Estado. essa pluralidade de controles sobre suas autorias, sobre seu traba-
Os embates políticos sobre o que se ensina, se lê e aprende so- lho. Reações dos trabalhadores na educação a serem julgados, con-
bre os valores e contravalores que as escolas reproduzem viraram denados e classificados em avaliações pelos resultados dos alunos e
objeto de tensas disputas em todos os níveis da sociedade; um in- a serem submetidos a provações, a perder direitos conquistados em
dicador de que os profissionais da educação básica cresceram em décadas de lutas. E significativa a percepção do movimento docente
autonomia ameaçando o papel de reprodutores fiéis dos valores e sobre as estreitas relações entre as avaliações e políticas curricula-
das representações inferiorizantes que pesam sobre eles e sobre os res conservadoras c a perda de seus direitos, de autoria e autonomia
setores populares com os quais trabalham. profissional.
As tensões vividas nas últimas décadas no território do currículo Currículo, ordenamento, avaliação se mostram determinantes
e da docência vêm dessa diversidade de culturas, saberes, racionali- da organização do trabalho, da valorização-desvalorização do magis-
dades, concepções de sociedade, de identidades que explodem nas tério, da manutenção ou perda dos direitos conquistados. Diante das
escolas públicas e vão chegando às escolas privadas. autorias negadas a reação do movimento docente repolitiza a disputa
Não se trata de negar o direito à produção intelectual, cultural, no território do currículo. Reafirmando o direito à autoria e à criati-
ética, estética, mas de incorporar outras leituras de mundo, outros vidade docente.
saberes de si mesmos. As reações vêm também dos movimentos sociais cm sua diver-
Reconhecer outras produções positivas de autoimagens cultua- sidade. Reações a currículos que os ignoram, ao material didático e
das, acumuladas nos coletivos segregados que as carregam para as literário que continua reproduzindo representações sociais, sexistas,
escolas e disputam seu reconhecimento nos currículos, no material racistas, inferiorizantes que ainda chegam com o aval oficial às esco-
didático e literário. Essa tensão posta nas escolas populares nas úl- las públicas, do campo, das periferias, dos povos indígenas e quilom-
timas décadas pressiona contra a imposição de um conhecimento bolas.
único, de uma racionalidade única, de uma leitura e cultura únicas, Era de se esperar que cm tempos em que o movimento docente
de uns processos-tempos de apreender únicos. Pressiona por repre- e o conjunto dos movimentos sociais dinamizam e repolitizam a so-
sentações sociais mais positivas dos diferentes. Pressiona por uma ciedade, o território das escolas, dos currículos e do material didático
dessa cralização dos currículos e das diretrizes c desenhos curricula- c literário seja repolitizado.
res: dessacralização que vinha sendo feita nas escolas, nas redes e, Como reação, a criatividade profissional passa também a ser rea-
sobretudo, nos coletivos de educadores e educandos, em responsá- firmada e repolitizada.
veis e ousados projetos coletivos de respeito e de reconhecimento Ou como profissionais do conhecimento controlamos os currícu-
da diversidade. los ou seremos controlados em nossas autorias.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Os limites às autorias docentes Nada fácil aos docentes das escolas ter uma postura crítica e ten-
As crenças nas ciências são ião fones ou mais do que nas reli- tar desconstruir, desordenar os conteúdos de sua matéria nem em
giões. função das aprendizagens dos educandos. Os ordenamentos curricu-
Pablo Casanova lares carregam um caráter de necessidade e inevitabilidade que nem
se cogita desconstruir e recriar esse conhecimento sacralizado. Dos
Não reconhecidos autores porque inferiorizados docentes se exige que preparem suas aulas com esmero, seguindo
Comecemos por uma constatação: entre as representações so- o ordenamento e a sequenciação de cada conhecimento, a ponto de
ciais, persiste arraigada uma visão inferiorizada dos profissionais e do reprovar, reter o aluno que deixar aprendizados para trás.
próprio campo da educação básica, que são vistos como inferiores A sequenciação do conhecimento é tão intocável que se um
no conjunto dos corpos docentes porque são desqualificados, ou mal número até significativo de crianças, de adolescentes ou jovens não
qualificados. Essa justificativa persiste ao longo de décadas. Os repe- aprender na sequenciação prevista e deixarem aprendizados para
titivos apelos à necessidade de aumentar os seus níveis de qualifica- trás, esses alunos obrigatoriamente terão de repetir o ano. O docen-
ção revelam e reforçam a visão inferiorizada dos docentes, porque te não tem autonomia para decidir sobre outras soluções mais éticas.
são supostamente desqualificados. O ordenamento curricular se rodeou da condição de um ritual
Nessa visão inferiorizante se pretende justificar o controle de sagrado.
suas autonomias e a necessidade de mecanismos de tutorias por Tornar-se necessária uma visão crítica dessa ritualização sc pre-
parte dos órgãos centrais, ou por parte de coletivos técnico-gesto- tendemos avançar no direito à autonomia profissional. Como ope-
res refugiados em delegacias, coordenadorias, secretarias e conse- ram e se impõem os rituais sagrados?
lhos. Como é humilhante e segregador ver e tratar os profissionais Os rituais sagrados não podem ser quebrados. Será uma profa-
de educação básica como eternos infantes demandando o cuidado nação; que alunos passem sem dominar os conteúdos previstos no
atento e a tutoria cuidadosa do auxílio e proteção técnico-gestora e tempo previsto, na lógica e na sequência previstas. Não é o professor
normalizadora. Frente a essas inferiorizantes formas de tratá-los vêm que reprova e retém, é essa lógica que o obriga. Quanta criativida-
reagindo esses profissionais nas últimas décadas, seja no movimento de para acompanhar para frente aprendizados ainda não dominados
docente ou na pluralidade de ações afirmativas de autorias. Por que tem sido condenada.
tantas resistências gestoras a esse reconhecimento de suas respon- Quando o currículo, os conteúdos, a sua transmissão e aprendi-
sáveis autorias? Por que não se reconhece que a visão de tutelados zagem viram um território e um ritual sagrado, tudo fica intocável e
ficou na saudade e cresceram como profissionais que dispensam ser inevitável. Até para os docentes. Não é possível a crítica, a descons-
tutelados? A essa visão inferiorizada, carregada de sexismo c machis- trução, o reordenamento. Os docentes são levados a incorporar uma
mo se soma a visão inferiorizada do campo ou nível em que traba- postura de defensores intransigentes dos conteúdos e dos rituais de
lham a educação básica. A visão hierárquica do sistema educacional sua transmissão-apreensão, ainda que sua criatividade seja cerceada
confere status diferente ao nível superior do que ao médio, funda- e ainda que milhões de percursos escolares sejam truncados.
mental, elementar, primário. Os próprios nomes refletem hierarquias Para os gestores, ser docente competente é ser fiel a essa visão
inferiorizantes para a educação básica, o que legitima as visões infe- sagrada dos conteúdos, de sua disciplina, levá-los a sério, ser exigen-
riorizantes dos profissionais que trabalham nesses níveis tidos como te, cumprir com fidelidade todos os processos e rituais. Inclusive o
primários, elementares. A rigidez e controle na educação básica con- ritual de avaliação-aprovação reprovação, sacrificando a diversidade
trastam com a liberdade da pesquisa, da produção e do ensino defen- de culturas, de vivências, de processos de aprendizagem, quebrando
dida para a educação superior e para seus pesquisadores-docentes. identidades em uma fase tão delicada de sua formação, a infância-a-
Há uma tradição histórica que reconhece a autonomia universitária dolescência.
como uma exigência da dinâmica do campo da produção do conheci- Esse caráter sagrado de cada disciplina é introjetado nos cursos
mento. Campo aberto, livre a debates de ideias e concepções, o que de formação.
exige autonomia docente. Em debates com os professores é frequente ouvir: “sou exigente,
Nos cursos de licenciatura, os licenciados acompanharam o dina- reprovo porque sou sério, trato os conteúdos de minha matéria com
mismo intelectual de suas áreas e aprenderam a prestigiá-las. Entre- toda seriedade”.
tanto, como professores de ensino fundamental ou médio, tiveram A cultura do intocável pesa sobre a cultura docente como um
de aprender que os conteúdos sistematizados nos currículos e nas mecanismo de controle dos próprios docentes.
disciplinas perdem esse caráter dinâmico inerente a sua produção Sempre que a mídia ou gestores acusam os professores de ir-
e passam a ser sistematizados, ordenados e sequenciados em uma responsáveis, de não levarem a sério a docência, provoca-me uma
transposição que exige uma ordem estática, rígida a ser seguida, res- reação: há muita seriedade e profissionalismo nos docentes, tanto
peitada com uma fidelidade sagrada, ritualizada. que são extremamente fiéis aos rituais da docência, viraram escravos
A função dos conselhos, dos inspetores e dos regimentos, ou de uma fidelidade e de tratos sagrados, ritual izados dos conteúdos
das diretrizes e normas será obrigar os docentes a respeitarem car- curriculares e de seus ordenamentos.
gas horárias, hierarquias, sequenciações, linearidades. A autonomia E esperançador que tantas escolas c coletivos se soltem dessas
reconhecida do pesquisador-docente da educação superior contrasta amarras, tentem ser criativos para dar conta dos complexos e irregu-
com a rigidez e os controles que negam qualquer autonomia e auto- láveis processos de ensinar-aprender, de ser profissionais do campo
ria aos pesquisadores-docentes da educação básica. tão dinâmicos do conhecimento e da formação humana.
Destes professores se espera que cultuem o conhecimento cur-
ricular como sagrado e indiscutível. Podemos ver nesse culto um me- Perpetuar as crenças redentoras da ciência
canismo de controle das autorias docentes? Continuemos indagando o que justifica a rigidez dos ordena-
mentos curriculares e dos controles sobre os docentes para melhor
Culto fiel aos conteúdos sequenciados reagir. A cultura ritualizada, sagrada dos conteúdos c da docência não
Chegamos a outro mecanismo, a outra crença que limita as auto- foi incorporada apenas nos cursos de formação. Faz parte do ideal de
rias e criatividades docentes. progresso e de cientificidade que cultua o conhecimento e a ciência
Como não ser fiel a conteúdos que aprendemos a cultuar como como propulsores do progresso das sociedades e da ascensão dos in-
sagrados? divíduos: o conhecimento e a ciência são cultuados até como sendo a
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
força transformadora dos povos e, sobretudo, libertadora do atraso, A essa relação política é submetida a produção, acumulação e
do tradicionalismo, da irracionalidade primitiva dos coletivos tidos apropriação, transmissão e aprendizado desse conhecimento.
como os mais atrasados de nossa e de todas as sociedades. A sacralização dos rituais de passagem tão seletivos e segrega-
O culto e a crença na ciência, na tecnologia, na racionalida- dores são impostos à escola e à docência pela persistência de rituais
de científica como salvadora e libertadora, sobretudo dos pobres e relações segregadoras na sociedade. O campo do conhecimento foi
são aprendidas nos centros de formação, das ciências naturais, de submetido aos padrões segregadores. Perdeu autonomia. Conheci-
maneira especial quando se pensam como garantia do progresso e mento sacralizado vira elitizado, Kgregadore controlador.
do bem-estar universal. Um licenciado bem formado não é apenas Quanto maior a perda da autonomia do próprio campo do co-
aquele que domina os conhecimentos de sua disciplina, mas aquele nhecimento maior a perda da autonomia dos seus profissionais, os
que introjetou essa cultura, esse culto a essas crenças redentoras, docentes. Lutar pelas nossas autorias sem criticar a submissão do
messiânicas, sagradas da ciência e do conhecimento. conhecimento ao mercado ou sem lutar pela autonomia do conheci-
Os controles das autorias e a criatividade docentes têm raízes mento será uma luta perdida.
profundas em crenças e cultos arraigados. Aí tem de centrar-sc os Sem avançarmos nessa maior autonomia do conhecimento fica
embates docentes, em desconstruir essas crenças redentoras e as difícil aos mestres, seus profissionais, garantir o direito dos educan-
funções de controle social a que se prestam. dos ao conhecimento.
Na cultura social, política, económica, assim como na mídia, no
trabalho e na administração, essas crenças são hegemónicas. Elas se
A ressacralização conservadora dos conteúdos
fortalecem quanto mais avança a chamada revolução científica. Des-
Em que quadro atual nos movemos? Em um quadro de refinados
ses campos sociais vêm pressões para que as escolas e seus profissio-
controles. A política nacional de avaliação faz parte de uma ressacrali-
nais sejam guardiões fiéis e competentes desses tratos sagrados de
zação conservadora dos conteúdos, sobretudo daqueles reduzíveis a
conteúdos sacralizados.
O destaque que a mídia dá aos resultados do ritual sagrado de competências c habilidades mensuráveis, condicionantes do progres-
avaliação nacional é uma comprovação do arraigado dessas crenças. so da nação. Uma ressacralização controladora dos docentes, de suas
Os sistemas, as escolas e os professores são classificados em bem-su- competências e de suas condutas como profissionais.
cedidos ou malsucedidos. Agora, não apenas os discentes, mas também os docentes ava-
De um lado, os merecedores de destaque, louvor, pelos êxitos liados, provados e reprovados como incompetentes ou irresponsá-
na transmissão e nas aprendizagens de competências que irarão o veis nos seus deveres sagrados de tratar com qualidade conteúdos
progresso e o futuro da nação. De outro lado, os merecedores de tão necessários para o progresso, para saída do atraso.
reprovação, vergonha por não terem tratado com profissionalismo O clima de nação grande entre as economias está elevando as
conteúdos e rituais sagrados do bem ensinar e bem aprender com- competências no domínio das ciências e tecnologias a um patamar
petências necessárias ao progresso. novo, de necessidade inevitável, de precondição; visão e pressão um
Lutar contra essas avaliações, reprovações docentes sem des- tanto relaxadas em nossa tradição de país subdesenvolvido, carre-
mistificar o caráter sacralizado dos ordenamentos curriculares será gando uma herança de coletivos tradicionais, irracionais, pré-moder-
inútil. O avanço da miséria, da fome, das doenças, da concentração nos. desescolarizados.
da renda... desmente essas repetidas crenças no avanço das ciências A retomada conservadora dos controles do trabalho e da auto-
e do conhecimento. Difícil para os(as) filhos(as) dos setores popula- nomia docente exige uma reação crítica dos próprios docentes. Exige
res, alunos ou professores, vítimas de séculos de segregações serem tentar entender por onde passam esses controles a sua função de
convertidos a crenças que sua história longa desmente. Por aí passam profissionais do conhecimento e a que estreitezas vai sendo reduzido
tensões nos processos de ensinar-aprender. o tão proclamado direito de todo cidadão ao conhecimento.
A visão tardia da necessidade sagrada dc investir com urgência
Cultuar o ritual seletivo de passagem em capital humano invade a mídia c as análises e aumenta as pres-
Esse caráter necessário, inevitável, inquestionável das compe- sões sobre o sistema escolar, sobre a educação de qualidade. Emba-
tências curriculares, escolares para o bem-cstar da nação e de cada te posto na escola pública, seus currículos c sua docência. A política
um é uma crença que limita autorias e criatividades porque pesa nacional dc avaliação passou a ser o ritual sagrado de medida dessa
sobe as escolas, sobre os professores e gestores e sobre os alunos e passagem da nação para o Primeiro Mundo. Onde incide com maior
as famílias. Sobretudo, pesa sobre os coletivos pobres, seus jovens, pressão essa necessidade de capacitação para o novo país, a nova
adolescentes e até crianças. Sc fizer um percurso exitoso de apren- economia competitiva é sobre os currículos. Currículos baseados em
dizagem dos conteúdos na sequência prevista, passando nas avalia- competências. Incide sobre os docentes, sua qualificação e seus com-
ções oficiais seu futuro estará garantido. “Se fracassares nesse per- promissos.
curso teu destino está marcado a continuar no atraso, na pobreza, Até sua remuneração pelos resultados dos seus alunos nas pro-
no desemprego, no trabalho informal de teus coletivos de origem”. vas, ou por frequência, assiduidade, organização, relatórios.
Promessas que ouvimos quando alunos, e que ainda são repetidas Os enfrentamentos se concentram na avaliação dos conteúdos e
às crianças-adolescentes pobres das escolas públicas e aos jovens c da docência, formas sofisticadas de controle da criatividade c autoria
adultos da EJA.
docentes. O aumento dos controles docentes não é um capricho dc
Há alguma crença, algum mandamento ou algum ritual de pas-
um gestor de plantão, tem raízes políticas mais profundas. É um ritual
sagem mais sagrado do que essa visão de salvação ou condenação do
de controle dos próprios conhecimentos.
ritual do percurso escolar? O curioso é que a visão sagrada, messiâ-
nica, salvadora persiste na visão do sistema escolar e do currículo de-
fendidos em nome da visão republicana e democrática, secularizada, Nem todo conhecimento merece ser avaliado.
laica, da educação. Reconheçamos que pouco avançamos nessa em- O novo tempo marcado por uma opção de crescimento econó-
preitada de conformar um sistema de educação laico, secularizado. mico sacralizando a ciência, a tecnologia e o domínio de competên-
republicano e democrático. cias termina pressionando por um novo currículo, nova docência e
Estamos cm um jogo político, económico em que o conheci- novos rituais dc controle, de qualida de, de avaliação-aprovação-re-
mento, a ciência e a tecnologia hegemónicos foram apropriados e provação de alunos c mestres. Os governos mais afinados com essa
colocados a serviço da acumulação e da manutenção das relações de opção como necessária, inevitável tendem a controles mais refinados
dominação/subordinação. dos currículos, da docência, da qualidade, do trabalho profissional
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
e das avaliações. Nessa necessidade e inevitabilidade se nivelam as forma de anular a capacidade de autoria profissional é um direito a
diferenças partidárias dos gestores. Impressiona a rapidez com que ser mantido e disputado. Um direito que foi cultivado com serieda-
se conseguem consensos onde havia diferenças ideológicas sobre as de profissional por muitos coletivos e muitas escolas e redes. Direito
opções. perseguido pelo movimento docente nas últimas décadas. As dispu-
tas no território dos currículos e da docência estão postas com nova
Os controles dos docentes repolitizados radicalidade. Passam pelas disputas das últimas décadas do direito à
As políticas, diretrizes e normas coincidem na priorização de cur- autoria, à criatividade, à própria capacidade de criticar o que contra-
rículos baseados em competências, nas avaliações de resultados, na diz opções políticas, éticas.
pressão sobre os docentes, seus compromissos c responsabilidades. Se esse direito profissional a intervir e criar no próprio campo
Coincidem na sua exposição ao massacre na mídia das escolas, dos da docência e do currículo cultivado com tanto esmero nas últimas
mestres, coletivos e alunos com baixos desempenhos. Os currículos, décadas está ameaçado pela repolitização conservadora que tenta
as avaliações e a criatividade docente que se tornaram nas últimas impor aos docentes o que é sagrado ensinar para avaliar esse quadro
décadas espaços de disputa, de renovação e criatividade de coletivos repõe novas resistências e novas disputas políticas no território da
foram fechados e cercados para serem tratados como territórios de docência e dos currículos.
controle, não mais de disputa. Territórios sagrados a serem cultuados.
Logo, controlados com novos rituais. O próprio campo do conheci- Fonte: www.files.zeadistancia.webnode.com
mento objeto de disputa político-libertadora passa a ser objeto de
controle.
CAVALLEIRO, ELIANE DOS SANTOS DO SILÊNCIO DO LAR
Ter consciência desses embates é fundamental. Os trabalhadores
AO SILÊNCIO ESCOLAR: RACISMO, PRECONCEITO E DISCRI-
em educação estão no meio, são alvo do fogo cruzado que tenta des-
MINAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. SÃO PAULO: CONTEX-
construir não apenas o progressismo político-pedagógico das últimas
TO, 1998.
décadas, mas também tenta destruir, controlar o crescimento político
dos coletivos c do movimento docente. Tenta desconstruir o conheci-
mento como espaço político. Esta obra é fruto da pesquisa de mestrado da autora Eliane dos
Nada se torna mais impositivo do que aquilo cultuado como ne- Santos Cavalleiro, apresentada a banca de defesa da Universidade de
cessário, intocável, sagrado. Benjamim via o capitalismo como reli- São Paulo no ano de 1998.
gião; aí não cabem mais ousadias criativas. Elas devem ser coitadas, No segundo semestre de 1995, Eliane Cavalleiro ingressa no Nú-
deslegitimadas. Estamos em tempos de recuo nas ousadias criativas cleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro, da
na docência, nas reorientações curriculares, na proliferação de proje- Universidade de São Paulo (NEINB-USP) somado a sua experiência
tos. propostas e didáticas. profissional em uma escola de educação infantil por mais de quatro
Um currículo onde apenas o necessário está previsto, sistema- anos, onde conviveu diariamente com crianças de quatro a seis anos.
tizado, inquestionável, a ser ensinado e aprendido como um ritual- Essa experiência permitiu que a autora identificasse que nessa faixa
-percurso-passagem sagrados para uma economia-nação fortes será etária, as crianças negras já apresentam uma identidade negativa em
um currículo e uma docência sem liberdade, sem possibilidade de relação ao grupo étnico ao qual pertencem e a partir dessas expe-
ousadias criativas. As vítimas em foco sao os coletivos docentes c ges- riências foi que surgiu a ideia da pesquisa.
tores que, nas últimas décadas, ousaram a liberdade de criação no Este trabalho procura compreender a socialização, no que tange
campo do currículo, do conhecimento e do seu trabalho. As tentativas às relações étnicas estabelecidas no espaço da pré-escola e no espa-
dc frear essa criatividade passam por convencer os docentes de que ço familiar. Supondo que a criança negra, desde a educação infantil,
quanto mais cultuados os conteúdos maior sua valorização como pro- está sendo socializada para o silêncio e para a submissão. Para tanto,
fissionais dos conteúdos. O que observamos é aumento do controle. retoma, teórica e brevemente, os conceitos de educação, processo de
socialização, racismo, preconceito e discriminação étnicos. A fim de
Novas disputas políticas no território da docência desenvolver a análise desejada, foi realizada uma pesquisa de campo
Nas últimas décadas os coletivos docentes de educação básica de maneira a, através da observação sistemática do cotidiano escolar,
vêm se defrontando com estudos e debates em torno de questões apreender a relação professor/ aluno, aluno/professor e aluno/alu-
como as expostas a seguir: no, no que diz respeito à expressão verbal, prática não-verbal e práti-
Só resta controlar a criatividade docente e se submeter ao ritua- ca pedagógica. Além disso, foram realizadas entrevistas com o corpo
lizado? Ou cabem ainda disputas no território do conhecimento, dos docente, com as crianças e seus familiares, buscando compreender
currículos e na profissão docente? Esses profissionais se conformarão como percebem, entendem e elaboram a formação multi-étnica da
em ser meros executores dos rituais previstos, das competências le- sociedade brasileira. Os dados colhidos na escola indicam uma distri-
gitimadas, das avaliações impostas? Renunciarão a seu direito profis- buição desigual do contato físico entre as professoras e seus alunos
sional de criar, selecionar, incluir outros conhecimentos não hegemó- negros e brancos, bem como formas diferentes de avaliá-los em suas
nicos, outras didáticas, outro material pedagógico? Renunciarão ao atividades escolares
seu direito a avaliar-se e avaliar os processos de ensinoaprendizagem? A obra trata a necessidade da discussão das relações étnicas
Deixarão o trabalho de sua autoria por conta de agências e “especia- para a promoção de uma educação igualitária e compromissada com
o desenvolvimento do futuro cidadão. Sendo que a falta dessas dis-
listas” em avaliação, sentenciação? Seguirão fiéis às apostilas que a
cussões, pode ocasionar a existência de preconceito e discriminação
indústria do ensino vende c que gestores públicos compram c impõem
étnica, dentro da escola, o que confere a criança negra a incerteza
para elevar a média no Ideb?
de ser aceita por parte dos professores e alunos. Mostrando assim, o
silenciamento que existe, por parte da família, que com o intuito de
As respostas têm reorientado novas éticas profissionais. proteger a criança, adia o contato com o racismo da sociedade e as
Ser docente-educador não é ser fiel a rituais preestabelecidos, dores dele decorrente e também por parte da escola, através do seu
mas se guiar pela sensibilidade para o real, a vida real, sua e dos edu- corpo docente, que além de cometer práticas racistas, na maioria dos
candos e criar, inventar, transgredir em função de opções políticas, éti- casos, nada fazem quando são informados sobre tais práticas. O que
cas. Aprender a dizer não também exige seriedade e profissionalismo, resta para a criança somente o seu silenciamento.
tanto mais do que para dizer um sim incondicionado. Resistir a toda Fonte: https://periodicos.ufac.br/
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES gnosiológico: o momento em que se ensina e se aprende o conheci-
NECESSÁRIOS À PRÁTICA EDUCATIVA. SÃO PAULO: PAZ E mento já existente, e o momento em que se trabalha a produção do
TERRA, 2004. conhecimento ainda não existente.
É a prática da “do-discência”: docência - discência e pesquisa.

CAPÍTULO 1 - NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA 2. ENSINAR EXIGE PESQUISA Não há ensino sem pesquisa, nem
A reflexão crítica da prática é uma exigência da relação teoria/ pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando, reprocu-
prática, sem a qual a teoria irá virando apenas palavras, e a prática, rando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
ativismo. indago. Educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
Há um processo a ser considerado na experiência permanente conheço e para comunicar o novo.
do educador. No dia-a-dia ele recebe os conhecimentos – conteúdos
3. ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES DO EDUCANDO A es-
acumulados pelo sujeito, o aluno, que sabe e lhe transmite.
cola deve respeitar os saberes socialmente construídos pelos alunos
Neste sentido, ensinar não é transferir conhecimentos, conteú-
na prática comunitária. Discutir com eles a razão de ser de alguns
dos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, alma
saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Discutir os problemas
a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, por eles vividos. Estabelecer uma intimidade entre os saberes curri-
as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças, não se culares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm
reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende como indivíduos. Discutir as implicações políticas e ideológicas, e a
ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. ética de classe relacionada a descasos.
Ensinar é mais que verbo-transitivo relativo, pede um objeto di-
reto: quem ensina, ensina alguma coisa; pede um objeto indireto: 4. ENSINAR EXIGE CRITICIDADE Entre o saber feito de pura expe-
à alguém, mas também ensinar inexiste sem aprender e aprender riência e o resultante dos procedimentos metodicamente rigorosos,
inexiste sem ensinar. não há uma ruptura, mas uma superação que se dá na medida em
Só existe ensino quando este resulta num aprendizado em que que a curiosidade ingênua, associada ao saber do senso comum, vai
o aprendiz se tornou capaz de recriar ou refazer o ensinado, ou seja, sendo substituída pela curiosidade crítica ou epistemológica que se
em que o que foi ensinado foi realmente aprendido pelo aprendiz. rigoriza metodicamente.
Esta é a vivência autêntica exigida pela prática de ensinar-apren-
der. É uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológi- 5. ENSINAR EXIGE ESTÉTICA E ÉTICA Somos seres históricos – so-
ca, pedagógica, estética e ética. ciais, capazes de comparar, valorizar, intervir, escolher, decidir, rom-
Nós somos “seres programados, mas, para aprender” (François per e por isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos
Jacob). O processo de aprender pode deflagrar no aprendiz uma sendo. Transformar a experiência educativa em puro treinamento
técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no
curiosidade crescente que pode torná-lo mais e mais criador, ou em
exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza
outras palavras: quanto mais criticamente se exerça a capacidade de
do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à for-
aprender tanto mais se constrói e desenvolve a “curiosidade epis- mação moral do educando. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a
temológica”, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado.
objeto. Pensar certo demanda profundidade na compreensão e inter-
pretação dos fatos. Não é possível mudar e fazer de conta que não
1. ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE METODOLÓGICA mudou. Coerência entre o pensar certo e o agir certo. Não há pensar
O educador democrático, crítico, em sua prática docente deve certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e
forçar a capacidade de crítica do educando, sua curiosidade, sua um direito, cabe a quem muda, assumir a mudança operada
insubmissão. Trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica
com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, é uma de 6. ENSINAR EXIGE A CORPOREIFICAÇÃO DA PALAVRA PELO
suas tarefas primordiais. Para isso, ele precisa ser um educador cria- EXEMPLO
dor, instigador, inquieto, rigorosamente curioso, humilde e persisten- O professor que ensina certo não aceita o “faça o que eu mando
te. Deve ser claro para os educandos que o educador já teve e conti- e não o que eu faço”. Ele sabe que as palavras às quais falta corporei-
nua tendo experiência de produção de certos saberes e que estes não dade do exemplo quase nada valem. É preciso uma prática testemu-
podem ser simplesmente transferidos a eles. nhal que confirme o que se diz em lugar de desdizê-lo.
Educador e educandos, lado a lado, vão se transformando em
7. ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO NOVO E REJEIÇÃO A
reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber. É impossí-
QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO - O novo não pode ser nega-
vel tornar-se um professor crítico, aquele que é mecanicamente um
do ou acolhido só porque é novo, nem o velho recusado, apenas por
memorizador, um repetidor de frases e ideias inertes, e não um desa- ser velho. O velho que preserva sua validade continua novo.
fiador. Pensa mecanicamente. Pensa errado. A verdadeira leitura me A prática preconceituosa de raça, classe, gênero ofende a subs-
compromete com o texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja tantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.
compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Ensinar a pensar certo é algo que se faz e que se vive enquanto
Só pode ensinar certo quem pensa certo, mesmo que às vezes, dele se fala com a força do testemunho; exige entendimento co-par-
pense errado. E uma das condições necessárias a pensar certo é não ticipado. É tarefa do educador desafiar o educando com quem se co-
estarmos demasiados certos de nossas certezas. O professor que munica e a quem comunica, produzindo nele compreensão do que
pensa certo deixa transparecer aos educandos a beleza de estarmos vem sendo comunicado. O pensar certo é intercomunicação dialógica
no mundo e com o mundo, como seres históricos, intervindo no mun- e não polêmica.
do e conhecendo-o .Contudo, nosso conhecimento do mundo tem
historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro 8. ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA - Envol-
que antes foi novo e se fez velho, e se “dispõe” a ser ultrapassado por ve o movimento dinâmico, dialético en.tre o fazer e o pensar sobre
outro amanhã. o fazer. É fundamental que o aprendiz da prática docente saiba que

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
deve superar o pensar ingênuo, assumindo o pensar certo produzi- A consciência do mundo e de si como ser inacabado inscrevem o
do por ele próprio, juntamente com o professor formador. Por outro ser num permanente movimento de busca. E nisto se fundamenta a
lado, ele deve reconhecer o valor das emoções, da sensibilidade, da educação como processo permanente.
afetividade, da intuição. Na experiência educativa aberta à procura, educador e alunos
Através da reflexão crítica sobre a prática de hoje ou de ontem curiosos, “programados, mas para aprender”, exercitarão tanto me-
é que se pode melhorar a próxima prática. E, ainda, quanto mais me lhor sua capacidade de aprender e ensinar, quanto mais se façam su-
assumo como estou sendo e percebo a razão de ser como estou sen- jeitos e não puros objetos do processo.
do, mais me torno capaz de mudar, de promover-me do estado da
curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. Decido, 3. ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA DO SER DO EDU-
rompo, opto e me assumo. CANDO
... à sua dignidade e identidade. Isto é um imperativo ético e
9. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA qualquer desvio nesse sentido é uma transgressão. O professor au-
IDENTIDADE CULTURAL - Uma das tarefas mais importantes da práti- toritário e o licencioso são transgressores da eticidade. Ensinar, por-
ca educativo-crítica é propiciar condições para que os educandos em tanto, exige respeito à curiosidade e ao gosto estético do educando, à
suas relações sejam levados à experiências de assumir-se. Como ser sua inquietude, linguagem, às suas diferenças. O professor não pode
social e histórico, ser pensante, transformador, criador, capaz de ter eximir-se de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, nem
raiva porque capaz de amar. de ensiná-lo. Deve estar respeitosamente presente à sua experiência
A questão da identidade cultural não pode ser desprezada. Ela formadora.
está relacionada com a assunção do indivíduo por ele mesmo e se dá,
através do conflito entre forças que obstaculizam essa busca de si e 4. ENSINAR EXIGE BOM SENSO - Quanto mais pomos em prática
as que favorecem essa assunção. de forma metódica nossa capacidade de indagar, aferir e duvidar, tanto
Isto é incompatível com o treinamento pragmático, com os que mais crítico se faz nosso bom senso. Esse exercício vai superando o que
se julgam donos da verdade e que se preocupam quase exclusiva- há de instintivo na avaliação que fazemos de fatos e acontecimentos. O
mente com os conteúdos. bom senso tem papel importante na nossa tomada de posição em face
Um simples gesto do professor pode impulsionar o educando em do que devemos ou não fazer, e a ele não pode faltar a ética.
sua formação e auto-formação. A experiência informal de formação
ou deformação que se vive na escola, não pode ser negligênciada e 5. ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA
exige reflexão. Experiências vividas nas ruas, praças, trabalho, salas DOS DIREITOS DOS EDUCADORES - A luta dos professores em defesa
de aula, pátios e recreios são cheias de significação. de seus direitos e dignidade, deve ser entendida como um momento
importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Em conse-
CAPÍTULO 2 - ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO quência do desprezo a que é relegada a prática pedagógica, não posso
... mas, criar possibilidades ao aluno para sua própria constru- desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem. Necessito cultivar
ção. Este é o primeiro saber necessário à formação do docente, numa a humildade e a tolerância, afim de manter meu respeito de professor
perspectiva progressista. É uma postura difícil a assumir diante dos ao educando. É na competência de profissionais idôneos que se orga-
outros e com os outros, face ao mundo e aos fatos, ante nós mesmos. niza politicamente a maior força dos educadores. É preciso priorizar o
Fora disso, meu testemunho perde eficácia. empenho de formação permanente dos quadros do magistério como
tarefa altamente política, e repensar a eficácia das greves.
1. ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INACABAMENTO - Como Não é parar de lutar, mas reinventar a forma histórica de lutar.
professor crítico sou predisposto à mudança, à aceitação do diferen-
te. Nada em minha experiência docente deve necessariamente re- 6. ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE - Preciso conhe-
petir-se. A inconclusão é própria da experiência vital. Quanto mais cer as diferentes dimensões da prática educativa, tornando-me mais
cultural o ser, maior o suporte ou espaço ao qual o ser se prende seguro em meu desempenho. O homem é um ser consciente que
“afetivamente” em seu desenvolvimento. O suporte vai se amplian- usa sua capacidade de aprender não apenas para se adaptar, mas
do, vira mundo e a vida, existência na medida em que ele se torna sobretudo para transformar a realidade.
consciente, apreendedor, transformador, criador de beleza e não de A memorização mecânica não é aprendizado verdadeiro do con-
teúdo. Somos os únicos seres que social e historicamente, nos torna-
“espaço” vazio a ser preenchido por conteúdos.
mos capazes de apreender. Para nós, aprender é aventura criadora,
A existência envolve linguagem, cultura, comunicação em níveis
é construir, reconstruir, constatar para mudar, e isto não se faz sem
profundos e complexos; a “espiritualização”, possibilidade de em-
abertura ao risco.
belezar ou enfear o mundo faz dos homens seres éticos, portanto
O papel fundamental do professor progressista é contribuir
capazes de intervir no mundo, de comparar, ajuizar, decidir, romper,
positivamente para que o educando seja artífice de sua formação,
escolher. Seres capazes de grandes ações, mas também de grandes
e ajudá-lo nesse empenho. Deve estar atento à difícil passagem da
baixezas. Não é possível existir sem assumir o direito e o dever de
heteronomia para a autonomia para não perturbar a busca e investi-
optar, decidir, lutar, fazer política.
gações dos educandos
Daí a imperiosidade da prática formadora eminentemente éti-
ca. Posso ter esperança, sei que é possível intervir para melhorar o
7. ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA - Esperança de que
mundo. Meu “destino” não é predeterminado, ele precisa ser feito e professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se,
dessa responsabilidade não posso me eximir. A História em que me produzir e também resistir aos obstáculos à alegria. O homem é um
faço com os outros e dela tomo parte é um tempo de possibilidades, ser naturalmente esperançoso. A esperança crítica é indispensável à
de problematização do futuro e não de inexorabilidade. experiência histórica que só acontece onde há problematização do
futuro. Um futuro não determinado, mas que pode ser mudado.
2. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO DE SER CONDICIONADO
É o saber da nossa inconclusão assumida. Sei que sou inacabado, 8. ENSINAR EXIGE A COVICÇÃO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL
porém consciente disto, sei que posso ir mais além, através da tensão É o saber da História como possibilidade e não como determinação.
entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e his- O mundo não é, está sendo. Meu papel histórico não é só o de cons-
toricamente. Lutando deixo de ser apenas objeto, para ser também tatar o que ocorre, mas também o de intervir como sujeito de ocor-
sujeito da História. rências. Constato não para me adaptar, mas para mudar a realidade.
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A partir desse saber é que vamos programar nossa ação político- ensino dos conteúdos, pois meu testemunho ético ao ensiná-los é
-pedagógica, seja qual for o projeto a que estamos comprometidos. igualmente importante. É o respeito ao saber de “experiência feito”
Desafiando os grupos populares para que percebam criticamente a dos alunos, o qual busco superar com eles. É coerência entre o que
violência e a injustiça de sua situação concreta; e que também per- digo, o que escrevo e o que faço.
cebam que essa situação, ainda que difícil, pode ser mudada. Como
educador preciso considerar o saber de “experiência feito” pelos gru- 4. ENSINAR EXIGE LIBERDADE E AUTORIDADE - A autonomia vai
pos populares, sua explicação do mundo e a compreensão de sua se constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões que vão
própria presença nele. Tudo isso vem explicitado na “leitura do mun- sendo tomadas. Vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autono-
do” que precede a “leitura da palavra”. mia, enquanto amadurecimento do ser por si, é processo; é vir a ser.
Contudo, não posso impor a esses grupos meu saber como o ver- Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca porque há
dadeiro. Mas, posso dialogar com eles, desafiando-os a pensar sua sempre alguém decidindo por mim.
história social e a perceber a necessidade de superarem certos sabe- Quanto mais criticamente assumo a liberdade, tanto mais auto-
res que se revelam inconsistentes para explicar os fatos.
ridade ela tem para continuar lutando em seu nome.
9. ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE - Procedimentos autoritários
5. ENSINAR EXIGE TOMADA CONSCIENTE DE DECISÕES - A edu-
ou paternalistas impedem o exercício da curiosidade do educando e
do próprio educador. O bom clima pedagógico-democrático levará o cação, especificidade humana é um ato de intervenção no mundo.
educando a assumir eticamente limites, percebendo que sua curio- Tanto intervenções que aspiram mudanças radicais na sociedade, no
sidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro, nem ex- campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do di-
pô-la aos demais. Como professor devo saber que sem a curiosidade reito ao trabalho, à terra, à educação, etc. quanto as que pelo contrá-
que me move, não aprendo nem ensino. É fundamental que alunos rio, pretendem imobilizar a História e manter a ordem injusta.
e professor se assumam epistemologicamente curiosos. Saibam que A educação não vira política por causa da decisão deste ou da-
sua postura é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, quele educador. Ela é política e sua raiz se acha na própria educabi-
enquanto fala ou ouve. lidade do ser humano, que se funde na sua natureza inacabada e da
O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais qual se tornou consciente. O ser humano, assim se tornou um ser
metodicamente “perseguidora” do seu objetivo. Quanto mais a ético, um ser de opção, de decisão.
curiosidade espontânea se intensifica e se “rigoriza”, tanto mais epis- Diante da impossibilidade da neutralidade da educação, é impor-
temologicamente vai se tornando. Um dos saberes fundamentais à tante que o educador saiba que se a educação não pode tudo, algu-
prática educativo-crítica é o que adverte da necessária promoção da ma coisa fundamental ela pode. O educador crítico pode demonstrar
curiosidade espontânea para curiosidade epistemológica. que é possível mudar o país. E isto reforça nele a importância de sua
tarefa político-pedagógica. Ele sabe o valor que tem para a modifica-
CAPÍTULO 3 - ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE HUMANA ção da realidade, a maneira consistente com que vive sua presença
no mundo. Sabe que sua experiência na escola é um momento im-
1. ENSINAR EXIGE SEGURANÇA, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL portante que precisa ser autenticamente vivido.
E GENEROSIDADE - A Segurança é fundamentada na competência
profissional, portanto a incompetência profissional desqualifica a 6. ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR - Aprendemos a escutar es-
autoridade do professor. A autoridade deve fazer-se generosa e não cutando. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala
arrogante. Deve reconhecer a eticidade. O educando que exercita sua com ele, e sem precisar se impor. No processo da fala e escuta, a
liberdade vai se tornando tão mais livre quanto mais eticamente vá disciplina do silêncio a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que
assumindo as responsabilidades de suas ações. Testemunho da au- falam e escutam é um “sine qua” da comunicação dialógica. É preciso
toridade democrática deixa claro que o fundamental é a construção,
que quem tem o que dizer saiba, que sem escutar o que quem escuta
pelo indivíduo, da responsabilidade da liberdade que ele assume. É o
tem igualmente a dizer, termina por esgotar sua capacidade de dizer.
aprendizado da autonomia.
Quem tem o que dizer deve assim, desafiar quem escuta, no sentido
2. ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO - A maneira como os de que, quem escuta diga, fale, responda.
alunos me percebem tem grande importância para o meu desempe- O espaço do educador democrático, que aprende a falar escu-
nho. Não há como sendo professor não revelar minha maneira de ser, tando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem falando, cala
de pensar politicamente, diante de meus alunos. Assim, devo preocu- para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala.
par-me em aproximar cada vez mais o que digo do que faço e o que Não há inteligência da realidade sem a possibilidade de ser
pareço ser do que realmente estou sendo. comunicada. O professor autoritário que recusa escutar os alunos,
Minha presença é uma presença em si política, e assim sendo, impede a afirmação do educando como sujeito de conhecimento.
não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar Como arquiteto de sua própria prática cognoscitiva.
aos alunos, minha capacidade de analisar, comparar, avaliar; de fazer
justiça, de não falhar à verdade. Meu testemunho tem que ser ético. 7. ENSINAR EXIGE RECONHECER QUE A EDUCAÇÃO É IDEOLÓGICA
O espaço pedagógico neutro prepara os alunos para práticas apolíti- Ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade
cas. A maneira humana de se estar no mundo não é, nem pode ser dos fatos, com o uso da linguagem para opalizar a realidade, ao mes-
neutra. mo tempo que nos torna “míopes”. Sabemos que há algo no meio da
penumbra, mas não o divisamos bem. Outra possibilidade que temos
3. ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A EDUCAÇÃO É UMA é a de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na
FORMA DE INTERVENÇÃO NO MUNDO - Implica tanto o esforço de verdade é, e não a verdade distorcida.
reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento. Por exemplo, o discurso da globalização que fala da ética, escon-
Como professor minha prática exige de mim uma definição. Decisão. de porém, que a sua ética é a do mercado e não a ética universal do
Ruptura. Como professor sou a favor da luta contra qualquer forma ser humano, pela qual devemos lutar se optamos, na verdade, por
de discriminação, contra a dominância econômica dos indivíduos um mundo de gente.
ou das classes sociais, etc. Sou a favor da esperança que me anima A teoria da transformação político-social do mundo, deve fazer
apesar de tudo. Não posso reduzir minha prática docente ao puro parte de uma compreensão do homem enquanto ser fazedor da His-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tória, e por ela feito, ser da decisão, da ruptura, da opção. Seres éticos. xões e teorizações, exuberante e fértil, polêmico e disputado, não só
Os avanços científicos e tecnológicos devem ser colocados a ser- no campo do feminismo e dos estudos de gênero, como também no
viço dos seres humanos. Para superar a crise em que nos achamos, campo dos estudos da sexualidade. A frase foi alargada, é claro, pas-
impõe-se o caminho ético. sando a ser compreendida também no masculino. Sim, decididamen-
Como professor, devo estar advertido do poder do discurso ideo- te, fazer de alguém um homem requer, de igual modo, investimentos
lógico. Ele nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir a curio- continuados.
sidade, de distorcer a percepção dos fatos, das coisas. No exercício Nada há de puramente .natural. e .dado. em tudo isso: ser ho-
crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou ge- mem e ser mulher constituem-se em processos que acontecem no
rando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável à âmbito da cultura.
minha prática docente. Me predisponho a uma atitude sempre aber- Ainda que teóricas e intelectuais disputem quanto aos modos
ta aos demais, aos dados da realidade, por um lado; e por outro, a de compreender e atribuir sentido a esses processos, elas e eles
uma desconfiança metódica que me defende de tornar-me absoluta- costumam concordar que não é o momento do nascimento e da no-
mente certo de certezas. meação de um corpo como macho ou como fêmea que faz deste um
sujeito masculino ou feminino. A construção do gênero e da sexuali-
8. ENSINAR EXIGE DISPONIBILIDADE PARA O DIÁLOGO Como dade dá-se ao longo de toda a vida, continuamente, infindavelmente.
professor devo testemunhar aos alunos a segurança com que me Quem tem a primazia nesse processo? Que instâncias e espaços
comporto ao discutir um tema, analisar um fato. Aberto ao mundo sociais têm o poder de decidir e inscrever em nossos corpos as mar-
e aos outros, estabeleço a relação dialógica em que se confirma a cas e as normas que devem ser seguidas? Qualquer resposta cabal e
inconclusão no permanente movimento na História. Postura crítica definitiva a tais questões será ingênua e inadequada. A construção
diante dos meios de comunicação não pode faltar. Impossível a neu- dos gêneros e das sexualidades dá-se através de inúmeras aprendiza-
tralidade nos processos de comunicação. Não podemos desconhecer gens e práticas, insinua-se nas mais distintas situações, é empreendi-
a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la. da de modo explícito ou dissimulado por um conjunto inesgotável de
instâncias sociais e culturais.
9. ENSINAR EXIGE QUERER BEM AOS EDUCANDOS Querer bem É um processo minucioso, sutil, sempre inacabado. Família, es-
aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Essa cola, igreja, instituições legais e médicas mantêm-se, por certo, como
abertura significa que a afetividade não me assusta, que não tenho instâncias importantes nesse processo constitutivo. Por muito tem-
medo de expressá-la. po, suas orientações e ensinamentos pareceram absolutos, quase
Seriedade docente e afetividade não são incompatíveis. Aber- soberanos.
to ao querer bem significa minha disponibilidade à alegria de viver. Mas como esquecer, especialmente na contemporaneidade, a
Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e sedução e o impacto da mídia, das novelas e da publicidade, das re-
minha docência, tanto mais alegre e esperançoso me sinto. vistas e da internet, dos sites de relacionamento e dos blogs? Como
esquecer o cinema e a televisão, os shopping centers ou a música po-
Fonte: http://paraosprofessores.blogspot.com.br/2013/09/ re- pular? Como esquecer as pesquisas de opinião e as de consumo? E,
sumo-do-livro-paulo-freire-pedagogia.html ainda, como escapar das câmeras e monitores de vídeo e das inúme-
ras máquinas que nos vigiam e nos .atendem. nos bancos, nos super-
mercados e nos postos de gasolina? Vivemos mergulhados em seus
LOURO GUACIRA LOPES.GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCA- conselhos e ordens, somos controlados por seus mecanismos, sofre-
ÇÃO: UMA PERSPECTIVA PÓS-ESTRUTURALISTA. 16ª EDI- mos suas censuras. As proposições e os contornos delineados por
ÇÃO. PETRÓPOLIS: VOZES, 2014. essas múltiplas instâncias nem sempre são coerentes ou igualmente
autorizados, mas estão, inegavelmente, espalhados por toda a parte
e acabam por constituir-se como potentes pedagogias culturais.
Gênero e sexualidade são construídos através de inúmeras .Especialistas. das mais diversas áreas dizem-nos o que vestir,
aprendizagens e práticas, empreendidas por um conjunto inesgotá- como andar, o que comer (como e quando e quanto comer), o que
vel de instâncias sociais e culturais, de modo explícito ou dissimulado, fazer para conquistar (e para manter) um parceiro ou parceira amo-
num processo sempre inacabado. Na contemporaneidade, essas ins- roso/a, como se apresentar para conseguir um emprego (ou para ir a
tâncias multiplicaram-se e seus ditames são, muitas vezes, distintos. uma festa), como .ficar de bem com a vida., como se mostrar sensual,
Nesse embate cultural, torna-se necessário observar os modos como como aparentar sucesso, como... ser.
se constrói e se reconstrói a posição da normalidade e a posição da Dieta S.O.S. Barriga chapada. Montamos um cardápio para você
diferença, e os significados que lhes são atribuídos. desfilar no verão com abdômen sequinho. Confira e comece já.
Há mais de cinqüenta anos, Simone de Beauvoir sacudiu a poeira Mude o visual e ganhe atitude.
dos meios intelectuais com a frase Ninguém nasce mulher: torna-se Como conquistar a gata dos seus sonhos. Ensinamos passo-apas-
mulher. A expressão causou impacto e ganhou o mundo. Mulheres so as técnicas de aproximação e de conquista.
das mais diferentes posições, militantes e estudiosas passaram a re- Sabia que você pode substituir a flacidez por músculos? Discipli-
peti-la para indicar que seu modo de ser e de estar no mundo não ne-se, adquira novos hábitos.
resultava de um ato único, inaugural, mas que, em vez disso, consti- Na festa mais .descolada. da temporada, aprenda com aqueles
tuía-se numa construção. Fazer-se mulher dependia das marcas, dos que já sabem tudo o que vai rolar na nova estação.
gestos, dos comportamentos, das preferências e dos desgostos que Conselhos e palavras de ordem interpelam-nos constantemente,
lhes eram ensinados e reiterados, cotidianamente, conforme normas ensinam-nos sobre saúde, comportamento, religião, amor, dizem-nos
e valores de uma dada cultura. o que preferir e o que recusar, ajudam-nos a produzir nossos corpos e
Muita coisa mudou desde o final dos anos 1940 (quando Beau- estilos, nossos modos de ser e de viver. Algumas orientações provêm
voir publicou o seu Segundo sexo) e o fazer-se mulher transformou- de campos consagrados e tradicionalmente reconhecidos por sua au-
-se, pluralizou-se, de um modo tal que talvez nem mesmo a filósofa toridade, como o da medicina ou da ciência, da família, da justiça ou
ousasse imaginar. Mas a frase ficou. De certa forma, pode ser tomada da religião. Outras parecem .surgir. dos novos espaços ou ali ecoar.
como uma espécie de gatilho provocador de um conjunto de refle- Não há uniformidade em suas diretrizes. Ainda que normas culturais
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de há muito assentadas sejam reiteradas por várias instâncias, é in- submetidos, apropriar-se dessas instâncias culturais e aí inscrever sua
dispensável observar que, hoje, multiplicaram-se os modos de com- própria representação e sua história, pôr em evidência as questões
preender, de dar sentido e de viver os gêneros e a sexualidade. de seu interesse.
Transformações são inerentes à história e à cultura, mas, nos A luta no terreno cultural mostrava-se (e se mostra), fundamen-
últimos tempos, elas parecem ter se tornado mais visíveis ou ter talmente, como uma luta em torno da atribuição de significados . sig-
se acelerado. Proliferaram vozes e verdades. Novos saberes, novas nificados produzidos em meio a relações de poder.
técnicas, novos comportamentos, novas formas de relacionamento Esse embate, como qualquer outro embate cultural, é comple-
e novos estilos de vida foram postos em ação e tornaram evidente xo exatamente porque está em contínua transformação. No terreno
uma diversidade cultural que não parecia existir. Cada vez mais per- dos gêneros e da sexualidade, o grande desafio, hoje, parece não ser
turbadoras, essas transformações passaram a intervir em setores que apenas aceitar que as posições se tenham multiplicado, então, que é
haviam sido, por muito tempo, considerados imutáveis, trans-histó- impossível lidar com elas a partir de esquemas binários (masculino/
ricos e universais. feminino, heterossexual/homossexual). O desafio maior talvez seja
Em poucos anos, tornaram-se possíveis novas tecnologias repro- admitir que as fronteiras sexuais e de gênero vêm sendo constante-
dutivas, a transgressão de categorias e de fronteiras sexuais e de gê- mente atravessadas e . o que é ainda mais complicado . admitir que o
nero, além de instigantes articulações corpo-máquina. Desestabiliza- lugar social no qual alguns sujeitos vivem é exatamente a fronteira. A
ram-se antigas e sólidas certezas, subverteram-se as formas de gerar, posição de ambigüidade entre as identidades de gênero e/ou sexuais
de nascer, de crescer, de amar ou de morrer. é o lugar que alguns escolheram para viver (Louro, 2004).
Informações e pessoas até então inatingíveis tornaram-se aces- A visibilidade que todos esses .novos. grupos adquiriram pode
síveis por um simples toque de computador. Relações afetivas e amo- ser, eventualmente, interpretada como um atestado de sua progres-
rosas passaram a ser vividas virtualmente; relações que desprezam siva aceitação. Contudo, nem mesmo a exuberância das paradas da
dimensões de espaço, de tempo, de gênero, de sexualidade, de clas- diversidade sexual, das feiras mix, dos festivais de filmes .alternati-
se ou de raça; relações nas quais o anonimato e a troca de identida- vos. permite ignorar a longa história de marginalização e de repres-
de são parte do jogo. Impossível desprezar os efeitos de todas essas são que esses grupos enfrentaram e ainda enfrentam.
transformações: elas constituem novas formas de existência para Não podemos tomar de modo ingênuo essa visibilidade. Se, por
todos, mesmo para aqueles que, num primeiro momento, não as ex- um lado, alguns setores sociais passam a demonstrar uma crescente
perimentam de modo direto. aceitação da pluralidade sexual e, até mesmo, passam a consumir al-
Como parte de tudo isso, vem se afirmando uma nova política guns de seus produtos culturais, por outro lado, setores tradicionais
cultural, a política de identidades. Muito especialmente a partir dos renovam (e recrudescem) seus ataques, realizando desde campanhas
anos 1960, jovens, estudantes, negros, mulheres, as chamadas .mi- de retomada dos valores tradicionais da família até manifestações de
norias. sexuais e étnicas passaram a falar mais alto, denunciando sua extrema agressão e violência física.
inconformidade e seu desencanto, questionando teorias e conceitos, Hoje, tal como antes, a sexualidade permanece como alvo pri-
derrubando fórmulas, criando novas linguagens e construindo novas vilegiado da vigilância e do controle das sociedades. Ampliam-se e
práticas sociais. Uma série de lutas ou uma luta plural, protagonizada diversificam-se suas formas de regulação, multiplicam-se as instân-
por grupos sociais tradicionalmente subordinados, passava a privile- cias e as instituições que se autorizam a ditar-lhe normas. Foucault
giar a cultura como palco do embate. Seu propósito consistia, pelo certamente diria que proliferam cada vez mais os discursos sobre o
menos inicialmente, em tornar visíveis .outros. modos de viver, os sexo e que as sociedades continuam produzindo, avidamente, um
seus próprios modos: suas estéticas, suas éticas, suas histórias, suas .saber sobre o prazer., ao mesmo tempo que experimentam o .prazer
experiências e suas questões. Desencadeava-se uma luta que, mes- de saber. (Foucault, 1988).
mo com distintas caras e expressões, poderia ser sintetizada como a A sutileza do embate cultural requer um olhar igualmente sutil.
luta pelo direito de falar por si e de falar de si. Há que perceber os modos como se constrói e se reconstrói a posi-
Esses diferentes grupos, historicamente colocados em segundo ção da normalidade e a posição da diferença, porque, afinal, é disso
plano pelos grupos dominantes, estavam e estão empenhados, fun- que se trata. Em outras palavras, é preciso saber quem é reconhecido
damentalmente, em se autorepresentar. como sujeito normal, adequado, sadio e quem se diferencia desse
A cultura., diz Stuart Hall .é agora um dos elementos mais dinâ- sujeito. As noções de norma e de diferença tornaram-se particular-
micos . e mais imprevisíveis . da mudança histórica do novo milênio.. mente relevantes na contemporaneidade. É preciso refletir sobre
Daí porque não deve nos surpreender que .as lutas pelo poder sejam, seus possíveis significados.
crescentemente, simbólicas e discursivas, ao invés de tomar, simples- A norma, ensina-nos Foucault, está inscrita entre as .artes de jul-
mente uma forma física e compulsiva, e que as próprias políticas as- gar., ela é um princípio de comparação. Sabemos que tem relação
sumam progressivamente a feição de uma .política cultural..... (Hall, com o poder, mas sua relação não se dá pelo uso da força, e sim por
1997, p. 20). meio de uma espécie de lógica que se poderia quase dizer que é invi-
Esse tipo de luta requer .armas. peculiares. Supõe estratégias sível, insidiosa (Ewald, 1993). A norma não emana de um único lugar,
mais sutis e engenhosas. Talvez por isso a alguns escape a força dos não é enunciada por um soberano, mas, em vez disso, está em toda
embates culturais. Mas os movimentos sociais organizados (dentre parte. Expressa-se por meio de recomendações repetidas e observa-
eles o movimento feminista e os das .minorias. sexuais) compreen- das cotidianamente, que servem de referência a todos. Daí por que a
deram, desde logo, que o acesso e o controle dos espaços culturais, norma se faz penetrante, daí por que ela é capaz de se .naturalizar..
como a mídia, o cinema, a televisão, os jornais, os currículos das Quanto à diferença, é possível dizer que ela seja um atributo que
escolas e universidades, eram fundamentais. A voz que ali se fizera só faz sentido ou só pode se constituir em uma relação. A diferença
ouvir, até então, havia sido a do homem branco heterossexual. Ao não pré-existe nos corpos dos indivíduos para ser simplesmente re-
longo da história, essa voz falara de um modo quase incontestável. conhecida; em vez disso, ela é atribuída a um sujeito (ou a um corpo,
Construíra representações sociais que tiveram importantes efeitos uma prática, ou seja lá o que for) quando relacionamos esse sujeito
de verdade sobre todos os demais. Passamos, assim, a tomar como (ou esse corpo ou essa prática) a um outro que é tomado como re-
verdade que as mulheres se constituíam no .segundo sexo. ou que ferência. Portanto, se a posição do homem branco heterossexual de
gays, lésbicas, bissexuais eram sujeitos de sexualidades .desviantes.. classe média urbana foi construída, historicamente, como a posição-
Por tudo isso, colocava-se, como uma meta urgente para os grupos -de-sujeito ou a identidade referência, segue-se que serão .diferen-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tes. todas as identidades que não correspondam a esta ou que desta Assim, debater nossos desafios pode também significar nossa cami-
se afastem. A posição .normal. é, de algum modo, onipresente, sem- nhada, talvez de avanços e também de recuos, para as descobertas e
pre presumida, e isso a torna, paradoxalmente, invisível. Não é pre- o olhar crítico necessário a qualquer pensamento.
ciso mencioná-la. Marcadas serão as identidades que dela diferirem. Acreditamos, todavia, que qualquer avaliação ainda reserva as
Continuamente, as marcas da diferença são inscritas e reinscritas suas limitações. Portanto, reconhecemos que não temos a pretensão
pelas políticas e pelos saberes legitimados, reiteradas por variadas de apresentar uma idéia finalizada, queremos somente abrir um diá-
práticas sociais e pedagogias culturais. Se, hoje, as classificações bi- logo epistemológico, para poder gerar um mal estar. A crise gerada
nárias dos gêneros e da sexualidade não mais dão conta das possibi- implica em superação, é ela que constrói o indivíduo, destruindo-lhes
lidades de práticas e de identidades, isso não significa que os sujeitos todas as finitudes e gerando nele o senso de possibilidades. As pos-
transitem livremente entre esses territórios, isso não significa que sibilidades podem ser terríveis como agradáveis, desdobrando-se de
eles e elas sejam igualmente considerados. um modo infinito de existência. Portanto, sublinhar as dificuldades, o
Portanto, antes de simplesmente assumir noções .dadas. de nor- lado obscuro das personalidades individuais que desenham o todo é
malidade e de diferença, parece produtivo refletir sobre os processos uma transição essencial para a eterna reinvenção da EA.
de inscrição dessas marcas. Não se trata de negar a materialidade dos Avaliar a EA, assim, pode ser arriscado e desmotivador, ainda
corpos, mas sim de assumir que é no interior da cultura e de uma cul- mais num cenário político de desmontes observado através dos cam-
tura específica que características materiais adquirem significados. pos discursivos sobre as políticas neoliberais, hoje fortemente presen-
Como isso tudo aconteceu e acontece? Através de que mecanismos? tes no Governo Federal, que podem desviar os rumos da avaliação,
Se em tudo isso estão implicadas hierarquias e relações de poder, por levando à má compreensão deste processo. Não estamos tratando
onde passam tais relações? Como se manifestam? Não, a diferença de “autorização, reconhecimento, credenciamento ou supervisão”
não é natural, mas sim naturalizada. A diferença é produzida através da EA, expressos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de processos discursivos e culturais. A diferença é .ensinada.. (Brasil, 1996), como é o caso do “Provão”, por exemplo. Apontar as
Aprendemos a viver o gênero e a sexualidade na cultura, através dificuldades da EA é ultrapassar as formas tradicionais do olhar re-
dos discursos repetidos da mídia, da igreja, da ciência e das leis e tam- provativo, de notas ou na busca de culpados. Insere-se na condição
bém, contemporaneamente, através dos discursos dos movimentos de sair dos extremos “confinamento-ufania” ou do “otimismo-pessi-
sociais e dos múltiplos dispositivos tecnológicos. As muitas formas mismo” e abrir novos horizontes onde é possível enxergar as estrelas.
de experimentar prazeres e desejos, de dar e de receber afeto, de A avaliação, neste contexto, não é somente a tradicional metodo-
amar e de ser amada/o são ensaiadas e ensinadas na cultura, são di- logia de apontar “culpad@s1 ou inocentes”, mas fundamentalmente,
ferentes de uma cultura para outra, de uma época ou de uma geração é uma verificação dos processos desenvolvidos com seus resultados,
para outra. E hoje, mais do que nunca, essas formas são múltiplas. As na qual permite novas orientações das ações para superação dos li-
possibilidades de viver os gêneros e as sexualidades ampliaram-se. As mites visando a manutenção das potencialidades.
certezas acabaram. A avaliação é a tentativa de romper com a partição binária do
Tudo isso pode ser fascinante, rico e também desestabilizador. pensamento cartesiano (certo ou errado; encontros ou despedidas),
Mas não há como escapar a esse desafio. O único modo de lidar com é a estratégia de perceber nossos passos, que muitas vezes desviam-
a contemporaneidade é, precisamente, não se recusar a vivê-la. -se do destino, escondem-se nas matas ou quando perdemos o sorri-
so (Sato & Tamaio, 2000). Mas é também um renovar de esperanças,
Fonte: https://www.scielo.br/ buscando novas auroras a cada dia, cuidando do broto para que a
vida nos dê flores e frutos2. Assim, uma avaliação sobre os desafios
da EA conclama diversos aspectos além do que abordaremos a seguir,
MICHELÈ SATO E ISABEL CARVALHO. EDUCAÇÃO AMBIEN- mas em função da limitação do tempo e do espaço, limitaremos nos-
TAL: PESQUISA E DESAFIOS - 1ª EDIÇÃO - PENSO/ EDITORA sas reflexões somente em algumas questões, referentes às lacunas
ARTMED, 2005. estabelecidas em:
Representações da EA: os diversos campos representativos da
sua dimensão – ora compreendida como processo pedagógico em
Esta obra reúne o que melhor se faz no Brasil, México, Canadá, detrimento da natureza; ora estabelecida como gestão de recursos
Espanha e França em termos de pesquisa para viabilizar uma educa- sem enfoque educacional;
ção ambiental efetiva. (Des)Envolvimento Humano: a luta contra a homogeneização do
Debatermos os desafios da EA inscreve-se na avaliação de sua termo “desenvolvimento sustentável” e do alto valor economicista
trajetória. Ao arriscarmos uma avaliação da EA, entretanto, adentra- nele explícito, principalmente no intenso momento de globalização,
mo-nos num campo minado de incertezas e subjetividade múltipla. onde o aparato tecnológico mascara as pluralidades regionais e robo-
Mas não temos a pretensão de dar “receitas” de superação, nem te- tiza os seres humanos;
mos em vista suprimir as diferenças para que a realidade seja mais Uno ao Múltiplo: a dificuldade em sair dos nossos enclausu-
palatável. Queremos apenas apontar alguns obstáculos, que discuti- ramentos teóricos na busca de diálogos entre as diversas áreas do
dos epistemologicamente, podem auxiliar nas nossas trajetórias. conhecimento, reconhecendo que não existe, hoje, uma única área
A “trajetória”, aqui explicitada, encerra a demarcação de um mo- capaz de responder, sozinha, à dimensão da EA;
vimento tensivo entre pólos diferenciados. Ter a coragem de mostrar Currículo fenomenológico: a necessidade de se criar espaços
as dificuldades da EA, ao invés de considerá-la como a única opção democráticos para o desenho curricular, em espaços abertos de ava-
possível, é também circunscrevê-la em um caminho aberto relacio- liação e na aceitação da educação não-neutra e não homogênea,
nado com o caráter entrelaçado do ser humano com a natureza – ca- em detrimento da imposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais
ráter este imprevisível e dramático, porque se trata de um processo (PCN);
que emerge no intento da busca de caminhos. A trajetória traçada Educação inicial e continuada: a carência da introdução da EA
para a EA deve mirar adiante, desafiar, estabelecer um horizonte de nos currículos de graduação, pós-graduação e cursos de formação
referência, sempre palpitante, e que pelo próprio andar, se desloca continuada, além de outros programas educacionais que versem so-
à frente, abrindo dimensões ainda não vistas, ampliando horizontes bre a formação de profissionais; e
e emprestando significação ao próprio andar (Passos & Sato, 2001).
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Reflexão e ação: o abandono da insuficiência de refletirmos do movimento que atravessa o país em direção à ampliação não só
sobre nossas ações, através das ações pontuais e intervenções pas- dos tempos de e na escola, mas dos espaços entendidos como signi-
sageiras, para um estudo investigativo que permita a construção da ficativamente educativos.
pesquisa em EA. Portanto, mais do que mais um livro sobre o tema da Educação
Integral, Caminhos da Educação Integral no Brasil reúne textos que
A obra apresenta o seguinte itinerários da educação ambiental: reafirmam o direito a outros tempos e espaços educativos, que só
1. uma cartografia das correntes em educação ambiental pode ser assegurado mediante um projeto de educação que consi-
2. o conceito de holismo em ética ambiental e educação ambiental dere a integralidade do ser humano e a responsabilidade social, por-
3. a invenção do sujeito ecológico: identidade e subjetividade na tanto, coletiva, por esse projeto, o que demanda, certamente, novos
formação dos educadores ambientais pactos entre educadores, sociedade e governo.
4. relação com a natureza e educação ambiental O livro vem somar-se a outros, e, como em espiral, mergulha na
5. “escritura” do mundo em octavio paz: uma alternativa peda- história da educação brasileira e revisita autores consagrados e ofe-
gógica em educação ambiental rece subsídios para os debates e a reflexão sobre as práticas que vêm
6. insurgência do grupo pesquisador na educação ambiental so- caracterizando o crescente movimento nacional em direção à Edu-
ciopoética cação Integral a partir da escola, buscando inspiração nos processos
7. interdisiciplinaridade e educação ambiental: explorando no- históricos que oferecem, a cada tempo, pelo protagonismo de pen-
vos territórios epistêmicos sadores, novas ideias e conceitos. No prefácio, Lia Faria aponta a con-
8. a pesquisa em história oral e a produção de conhecimento em tribuição do livro enquanto referencial teórico para pesquisas, para a
educação ambiental compreensão das marcas/marcos que, historicamente, permearam
9. a catástrofe do prestige: leituras para a educação ambiental a luta pelo direito à educação no Brasil e para a visibilidade de ex-
na sociedade global periências que revelam a possibilidade de repensar a escola pública
10. por uma formação dos profissionais ambientalistas baseada brasileira em seus limites históricos e pedagógicos.
em competências de ação Mesmo que segmentado em três partes, cada uma delas com
11. de asas de jacarés e rabos de borboletas à construção feno- um conjunto de artigos que se aproximam quanto à abordagem do
menológica de uma canoa. tema, o livro se organiza de modo a garantir a articulação e a comple-
mentaridade das reflexões apresentadas. Essa organização poderia
Fonte: https://www.partes.com.br/ estar a sugerir a não superação da dicotomia teoria-prática, uma vez
que os artigos iniciais debruçam-se em considerações mais amplas
e teóricas sobre a Educação Integral nos contextos históricos e po-
MOLL, JAQUELINE. CAMINHOS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL líticos, enquanto que, na sequência, seguem-se artigos que estabe-
NO BRASIL: DIREITO A OUTROS TEMPOS E ESPAÇOS EDU- lecem uma relação mais estreita entre teoria e prática, enfocando
CATIVOS. PORTO ALEGRE: PENSO, 2012. desafios do cotidiano da escola, até chegar-se, na terceira e última
parte, à concretude de experiências resultantes de projetos educati-
vos reais em curso no Brasil ou de sua história.
O que se vê, no entanto, é uma importante contribuição a educa-
O livro Caminhos da Educação Integral no Brasil insere-se num
dores que circulam nas escolas, nas universidades, na gestão pública
conjunto de obras que vêm oportunizando reflexões acerca da edu-
e na sociedade civil, para a construção de projetos na direção da Edu-
cação como formação integral, não como uma retórica, mas como cação Integral, oferecendo referências teóricas e práticas. Ou seja, o
um projeto coletivo viável, concretizado em práticas que possibilitam livro, pela sua forma de organização, pode subsidiar a elaboração de
reinventar a escola, ressignificando não só seu lugar, central num projetos educativos em termos de fundamentos, contextos e possi-
projeto educativo, mas, sobretudo, como articuladora de ações, de bilidades, ajudando a problematizar questões como o que se quer, o
educadores, agentes e instituições. que se tem à disposição e o que se pode fazer acontecer ou, simples-
A organização desse livro muito se assemelha ao processo que mente, a relação entre História e utopias, necessidades e recursos,
instituiu, a partir de 2007, sob a coordenação do Ministério da Edu- ações e realizações.
cação, amplo debate no território nacional sobre Educação Integral, Miguel Arroyo, autor que vem inspirando iniciativas pedagógi-
alavancado pelo documento Educação Integral: texto-referência para cas por todo o Brasil sob a perspectiva de novos tempos na escola,
o debate nacional (BRASIL, Ministério da Educação, 2009), por sua abre a primeira parte do livro, intitulada Compondo matrizes para o
vez fruto de tra balho conjunto de representantes de diversas ins- debate e composta por oito artigos, discorrendo, no texto O direito
tâncias e esferas, além de pesquisadores, professores e educadores a tempos-espaços de um justo viver, sobre políticas públicas e pro-
de várias regiões do país. A professora Jaqueline Moll, também res- gramas governamentais e a necessidade de serem superadas visões
ponsável pela organização desse livro, vem, desde então, assumindo negativas sobre as infâncias-adolescências populares e de reforçar
a gestão do processo que busca identificar e dar visibilidade a expe- seu protagonismo e suas presenças afirmativas. Carlos R. Brandão,
riências já em curso, por meio de estudos realizados com o auxílio de no artigo O outro ao meu lado, reflete sobre tempos remotos e atuais
pesquisadores de Universidades públicas, e incentivar e acompanhar para pensar a partilha do saber e a educação de hoje, apontando
tantas outras construídas e construindo-se, principalmente pela ade- para a importância de uma educação voltada à formação de pessoas
são ao Programa Mais Educação, indutor da política de Estado para a capazes de criar um novo mundo humanizado.
Educação Integral. Ainda nessa primeira parte do livro, três artigos debruçam-se so-
A importância desse registro deve-se ao fato de que a referida bre pressupostos conceituais e históricos acerca da Educação Integral
professora conseguiu organizar o livro através também de um amplo a partir de educadores fundamentais para o debate contemporâneo:
e democrático processo, em que escolhas e decisões foram sendo Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire. O direito à educação e a
tomadas, uma a uma, no diálogo com e entre os autores e seus pon- (re)humanização da educação continuam sendo referenciais para a
tos de vista, ou a partir da vista de seus pontos, diversos, diferentes problematização da qualidade social da educação pública, segundo
e complementares. Entusiasta de iniciativas que propiciam a reinven- Marcos Antonio M. das Chagas, Rosemaria J. V. Silva e Silvio Claudio
ção da escola, orquestrou uma obra coletiva, polifônica e reveladora Souza no texto Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro; também para Celso
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Ilgo Henz em Paulo Freire e a Educação Integral e Jaime Giolo em Até esse momento do livro é possível observar o diálogo entre
Educação de tempo integral. Fechando esse momento do livro, Ubi- teoria e prática, num crescendo, em que elementos teórico-práticos
ratan D’Ambrosio, com o artigo Formação de valores: um enfoque vão sendo oferecidos para que se possa pensar em possibilidades e
transdisciplinar, adverte que a Educação Integral implica na constru- desafios decorrentes de políticas, programas e ações, observados
ção de conhecimento e na vivência de sistemas de valores subordi- pelos diferentes autores, a partir dos lugares que ocupam no deba-
nados à ética maior de respeito, solidariedade e cooperação; Marta te sobre Educação Integral na atualidade. Na terceira e última parte
K. O. Rabelo, com Educação Integral como política pública: a sensível do livro, Vivências e itinerários em políticas públicas, o Brasil da di-
arte de (re) significar os tempos e os espaços educativos, destaca o versidade ganha corpo nas significativas experiências de estados e
Programa Mais Educação para discutir a concepção de Educação In- municípios, dando visibilidade a histórias bem sucedidas de gestão
tegral como política pública. E Jaqueline Moll discorre sobre os com- pública na direção da Educação Integral, em que os autores refletem
promissos para a consolidação da Educação Integral como política sobre concepções teórico-metodológicas dos projetos propostos e os
pública e as contribuições do Programa Mais Educação no artigo A impactos não só nos processos educativos da escola, mas também da
agenda da Educação Integral. comunidade e da cidade.
Na segunda parte, denominada Possíveis configurações da esco- Abrindo essa parte, Gesuína Leclerc aborda a organicidade do
la, os projetos educativos e o currículo podem ser vistos como ele- Programa Mais Educação enquanto uma estratégia indutora da
mentos centrais das reflexões em que diferentes pesquisadores abor- Educação Integral, no artigo Programa Mais Educação e práticas
dam tanto relações de ensino e de aprendizagem e práticas de gestão de Educação Integral. Experiências estaduais de Educação Integral
quanto a formação de educadores e interfaces com agências forma- são apresentadas por Adriana Sperandio e Janine M. P. de Castro,
doras, saberes e conhecimentos, aproximando pressupostos teóricos em Mais tempo na escola: desafios compartilhados entre gestores,
e cotidiano da escola e desvelando novas relações que surgem a par- educadores e comunidade escolar da rede estadual de ensino do Es-
tir de um novo paradigma de Educação Integral. O texto de Suzana M. pírito Santo (ES); também por Claudia Cristina P. Santos e Roberto
Pacheco e Maria Beatriz P. Titton, Educação Integral: a construção de Carlos Vieira, em Reflexão sobre o Programa Mais Educação na rede
novas relações no cotidiano, e Os jovens educa dores em um contexto estadual de ensino da Bahia (BA); por Jaime Ricardo Ferreira e Seila
de Educação Integral, de Juarez Dayrell, Levindo D. Carvalho e Saulo Maria V. de Araújo, em Ampliação de tempos e de oportunidades no
Geber, debatem a presença de novos atores no interior da escola, contexto escolar da Secretaria de Educação de Goiás (GO), e por Rosa
em especial os jovens educadores, cujas características, estéticas e Luzardo, em A experiência nas escolas de Cuiabá (MT), numa iniciati-
saberes nem sempre são reconhecidos, sendo percebidos estranha- va do governo estadual.
mentos nas relações com outros educadores. Experiências municipais, oferecendo subsídios em termos de
Oferecendo contribuições importantes para a revisão de currí- diretrizes conceituais e metodológicas, são apresentadas por Danilo
culos, outro conjunto de artigos debate temas como sustentabilida- de M. Souza, em A experiência em Palmas (TO); Cláudio Aparecido
de, intertransculturalidade, educação para a paz e direitos humanos: da Silva, em O arranjo educativo local: a experiência de Apucarana
Rachel Trajber discute políticas públicas para os desafios da contem- (PR); Maria Antônia G. da Silva, em Diretrizes conceituais e metodo-
poraneidade em Educação Integral em escolas sustentáveis; Roberto lógicas do Programa Bairro-Escola de Nova Iguaçu (RJ); Neuza Maria
Padilha defende a necessidade de articular saberes a partir de ações S. Macedo, Macaé Maria Evaristo, Madalena F. Godoy e Tadeu Rodri-
e parcerias intergeracionais, interterritoriais, intersetoriais e intercul- go Ribeiro, em A experiência da escola integrada em Belo Horizonte
turais, princípios caros para a operacionalização de quaisquer proje- (MG); Lúcia Helena Couto, Ana Lúcia Sanches e Sonia Tatiane Ramos,
tos de Educação Integral, em Educação Integral e currículo intertrans- em Com mais, a criança faz muito: experiência da rede municipal de
cultural; João Roberto de Araújo, em Ensinar a paz: proposta para um Diadema (SP), e Lucineide Pinheiro e Rosa Luciana P. Rodrigues, em A
currículo de Educação Integral, analisa a relação entre agressividade, experiência da rede municipal de ensino de Santarém (PA).
educação e violência; Paulo César Carbonari, em Direitos humanos e Os textos finais do livro contemplam, sobremaneira, as interfa-
Educação Integral: interfaces e desafios retoma a ideia de educação ces entre a escola, a sociedade civil e o Estado, dois deles revisitando
enquanto formação de sujeitos de direitos. os CIEP (Centros Integrados de Educação Pública) e seus pressupos-
Temas como alfabetismos e letramentos e sua relação com o tos, em A construção dos centros integrados em Americana e Santa
Programa Mais Educação são debatidos por Ivany S. Ávila, no texto Bárbara D’Oeste (SP), por Herb Carlini, e em Das escolas do Ama-
Por entre olhares, danças, andanças, os alfabetismos, letramentos nhã ao ginásio carioca: a Trajetória da Educação Integral na cidade
na perspectiva da Educação Integral, assim como o da aprendiza- do Rio de Janeiro (RJ), por Heloísa Messias Mesquita, e os demais
gem significativa é objeto de reflexão de Alexsandro dos S. Macha- abordando a participação das organizações não governamentais no
do, em Ampliação de tempo escolar e aprendizagens significativas: debate nacional: Comunidades educativas: por uma educação para o
os diversos tempos da Educação Integral. A questão da formação de desenvolvimento integral, de Natacha G. da Costa; A contribuição das
professores, tanto do ponto de vista de política pública quanto do de organizações não governamentais para o debate da Educação Inte-
interfaces com a universidade, é tratada por Verônica Branco, em A gral, de Maria Júlia A. Gouveia, Lucia Helena Nilson e Stela Ferreira, e
política de formação continuada de professores, e Inês Mamede, em Conexão Felipe Camarão: experiência de educação, cultura e tradição
A integração da universidade para a formação. oral, de Vera Santana.
Encerrando essa segunda parte do livro, Carmen Teresa Gabriel É possível perceber, no conjunto de textos, a convergência de
e Ana Maria Cavaliere, em Educação Integral e currículo integrado: ideias dos diferentes autores ao problematizarem a escola pública
quando dois conceitos se articulam em um programa, buscam iden- e acenarem para as reais possibilidades de sua reinvenção, sendo a
tificar os conceitos de Educação Integral e currículo integrado à luz promoção da Educação Integral, aqui claramente compreendida em
de diferentes tendências e perspectivas teórico-metodológicas, em sua plenitude de formação humana, não só uma escolha metodológi-
documentos referenciais do Programa Mais Educação. E Simone Val- ca, mas principalmente uma ação política, social e filosófica. O volu-
dete dos Santos, em Educação Integral e educação profissional, dis- me da obra justifica-se pela consistência das reflexões nela contidas,
cute as interfaces possíveis entre educação profissional e Educação oferecendo material substancial para a continuidade do debate sobre
Integral com destaque ao PROEJA (Programa Nacional de Educação Educação Integral.
Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos), instituinte de
práticas pedagógicas na perspectiva da Educação Integral. Fonte: www.scielo.br
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
indígena e enquanto docente com atuação na Educação Básica, no
SILVA, EDSON. ENSINO E SOCIODIVERSIDADES INDÍGE- âmbito da formação de professores, bem como no ensino nos níveis
NAS: POSSIBILIDADES, DESAFIOS E IMPASSES A PARTIR DA da graduação e pós-graduação em História em cursos no Nordeste
LEI 11.645/2008. CAICÓ, V.15, N.35, P.21-37. MNEME – RE- brasileiro.
VISTA DE HUMANIDADES, JUL/DEZ. 2014. DOSSIÊ HISTÓ-
RIAS INDÍGENAS. Definições importantes e necessárias
São muito importantes e necessárias definições sobre o que
seja a Educação Indígena, Indígena, Educação Escolar Indígena e o
ensino da temática indígena, pois infelizmente, com frequência pre-
A Lei 11.645/2008: uma conquista dos movimentos sociais senciamos que existem muitas confusões não somente nas falas de
A Lei 11.645, promulgada em marços/2008, que determinou a pessoas que estão à frente de órgãos públicos na área de Educação,
inclusão nos currículos escolares da Educação Básica pública e pri- como também são encontradas em documentos administrativos es-
vada o ensino da História e Culturas Afro-brasileiras e Indígenas, faz tatais atribuições equivocadas no que se refere aos significados dos
parte de um conjunto de mudanças provocadas pelas mobilizações referidos termos. Tais equívocos e confusões resultam, sobretudo, do
da chamada sociedade civil, os movimentos sociais. São conquistas desconhecimento, desinformações, pré-conceitos, equívocos e gene-
ralizações que comumente ocorrem sobre a temática indígena.
pelo reconhecimento legal de direitos específicos e diferenciados em
A Educação Indígena/EI são os processos educativos não formais
anos recentes, quando observamos a organização sociopolítica no
que se constituem a partir das relações socioculturais históricas vi-
Brasil. Nas ultimas décadas, portanto, em diversos cenários políticos,
venciadas de geração em geração entre grupos e indivíduos indíge-
os movimentos sociais com diferentes atores conquistaram e ocupa- nas. (BRAND, 2012; BERGAMASHI, 2010). Nesse caso, quando nos
ram seus espaços, reivindicando o reconhecimento e o respeito às referirmos a Educação Indígena/EI é muito importante ter presente
sociodiversidades. que quem vivencia e pratica a EI são os índios e somente os índios
Todavia, se faz necessário ter presente que o reconhecimento cotidianamente, em suas aldeias e locais de moradias. Portanto, a
dessa nova configuração das sociodiversidades no Brasil, não ocor- Educação Indígena é bem mais ampla do que acorre na escola.A EI,
re sem muitas tensões e conflitos a exemplo dos acalorados debates pensada enquanto expressões socioculturais dos povos indígenas
sobre as cotas para negros nas universidades. Porém, durante muito tem sido objeto de estudos acadêmicos e mais precisamente em pes-
tempo no Brasil vigorou e sem restrições a chamada “Lei do Boi”. Tra- quisas no âmbito antropológico, assim como da Educação.
tava-se da Lei 5.465 de 03/07/1968 que assim ficou conhecida por A Educação Escolar Indígena/EEI é compreendida a partir dos
beneficiar filhos de fazendeiros e criadores de gado que ingressavam documentos oficiais como a LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da
sem vestibular nas universidades públicas inicialmente nos cursos de Educação Nacional de 1996), as DCEEI (Diretrizes Curriculares para
Agronomia e Veterinária. Na verdade a Lei passou a valer para todos a Educação Escolar Indígena de 1999), dentre outros, e de estudos
os cursos! E só foi revogada em dezembro de 1985! Ou seja, durante relacionados a esse assunto (NASCIMENTO, 2005). Trata-se de uma
modalidade de ensino específica, diferenciada, bilíngue ou multilín-
muitos anos em nosso país existiu, e sem contestações, cotas para ri-
gue em alguns casos, como também intercultural. Constituindo-se
cos nas universidades públicas, pois a citada Lei não beneficiava filhos
como espaços de organização dos processos educativos formais im-
de trabalhadores pobres no campo. (SILVA, 2012b). plementados nas escolas indígenas. Em outras palavras, a Educação
Entretanto, na atual conjuntura sociopolítica em que o país se Escolar Indígena/EEI são os processos de escolarização vivenciados
reconhece pluriétnico e são questionadas as desigualdades sociais pelos povos indígenas.
herdadas do regime escravocrata, como forma de repará-las vem As escolas indígenas nas aldeias são na maioria de 1º a 5º ano
sendo favorecidas oportunidades de ingresso das pessoas negras e e uma ou outra de Ensino Médio. Embora existam escolas indígenas
indígenas nos cursos de Ensino Superior. Tal medida é motivo de acir- em áreas urbanas, a exemplo de aldeias em bairros de Dourados/MS
rados debates e campanhas contrárias, com a defesa da meritocracia e Crateús/CE, geralmente após a conclusão da 5º ano (antiga 4ª sé-
acadêmica. Contudo, quem defende essa perspectiva não questiona rie) do Ensino Fundamental I, os in dígenas vão continuar os estudos
as condições favoráveis em que foram construídos tais méritos, em nas escolas não indígenas fora do território indígena, localizadas, nas
detrimento da falta de oportunidades historicamente vivenciadas áreas urbanas das cidades.
por determinados grupos sociais, especificamente negros e indíge- Existem vários estudos e reflexões sobre como são vivenciadas
nas, ainda que outros não sejam lembrados a exemplo dos povos ci- nas escolas indígenas. Como os indígenas se apropriaram dessa ins-
ganos que vivem em nosso país. tituição escolar colonial e colonizadora e da Educação formal, que é
Foi nesse contexto de acaloradas discussões polêmicas, que a uma ideia ocidental, a partir dos seus pontos de vistas. Nessa pers-
pectiva a EEI tem sido ser objeto de estudos acadêmicos pedagógicos
implementação da implementação da Lei 11.645/2008 veio somar-se
e também os antropológicos. Podendo a EEI ser incluída como uma
aos debates sobre o reconhecimento e respeito às sociodiversidades
cadeira específica nos cursos de formação de professores/as, parti-
no Brasil contemporâneo (SILVA, 2012a). E exigindo, portanto, um re- cularmente nos cursos de Pedagogia, como o estudo de uma moda-
pensar sobre a História do país, discussões sobre a chamada “forma- lidade do ensino, embora desconheçamos alguma experiência desse
ção” da sociedade brasileira e da “identidade nacional”. A respeito da tipo.
existência de uma suposta “cultura brasileira”, “nordestina”, “amazô- Por fim, o ensino da temática indígena são reflexões sobre os po-
nica” “catarinense”, etc. A problematização das ideias e concepções a vos indígenas, atendendo as exigências da Lei 11.645/2008, tratando
respeito da “mestiçagem”, do lugar dos índios, negros e outras mino- do assunto nas escolas não indígenas nas áreas urbanas ou rurais.
rias que formam a maioria da chamada população brasileira. Ou seja, tratar a respeito da temática indígena no ensino, significa
Após sete anos da promulgação da Lei 11.645/2008, observamos conhecer sobre os povos indígenas: sua História, as diversidades so-
além de possibilidades, alguns desafios e impasses para a sua execu- cioculturais, as formas de ser e de viverem diferentes entre si e da
ção, propondo uma avaliação crítica das ações para a efetivação da sociedade não indígena.
Lei nas perspectivas das reflexões a seguir. A nossa avaliação ocorre a
partir de nossas experiências de pesquisas e ensino sobre a temática
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Em razão da citada Lei, indiretamente tornou-se obrigatório o duzirão resultados enganosos; 4) ter noção clara de que a prática ava-
conteúdo a temática indígena na formação de professores, motivo liativa, no caso da aprendizagem, só faz sentido, ao mesmo tempo,
pelo qual a necessidade de constar no currículo das universidades e de acompanhamento (processo) e de certificação (testemunho final
instituições de formação de professores/as. Dessa forma, suscitando da aprendizagem satisfatória do educando) (LUCKESI, 2011, p. 177).
a formulação de políticas de formação continuada para professores/ Assim sendo, a avaliação da aprendizagem precisa estar com-
as em exercício docente nas redes de ensino público estadual, muni- prometida com os objetivos do educador, o qual através deste, terá
cipal e privado. Como também para os/as demais profissionais que claro onde deseja chegar onde com essa ação, com o empenho ao
atuam na Educação. executar a ação, e ainda com a avaliação diagnóstica, com o desejo
O que vem ocorrendo nos cursos de licenciaturas, principal- de alcançar o melhor resultado, e enfim, a avaliação da aprendizagem
mente Pedagogia e nas formações de professores/ as é que erro- poderá cumprir seu verdadeiro papel. Ao se referir à função da ava-
neamente vem sendo incluída uma cadeira nomeada por Educação liação, Luckesi declara:
Indígena. Quando na verdade ao se buscar atender as exigências da […] A avaliação deverá ser assumida como um instrumento de
Lei 11.645/2008 para formação do professorado, o correto seria uma compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o alu-
cadeira sobre o ensino da temática indígena. no, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que
possa avançar no seu processo de aprendizagem. Se é importante
Veja o conteúdo na íntegra acessando o link indicado no tópico. aprender aquilo que se ensina na escola, a função da avaliação será
Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/ possibilitar ao educador condições de compreensão do estágio em
view/7485. que o aluno se encontra, tendo em vista trabalhar com ele para que
saia do estágio defasado em que se encontra e possa avançar em
termos dos conhecimentos necessários.
Para o autor “a avaliação pode ser caracterizada como uma for-
LUCKESI, CIPRIANO CARLOS. AVALIAÇÃO DA APRENDIZA- ma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliado, fator que im-
GEM: COMPONENTE DO ATO PEDAGÓGICO. SÃO PAULO: plica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo
CORTEZ, 2008. ou para transformá-lo”. Possui uma função de garantia do sucesso,
a obtenção do melhor resultado. Em outras palavras, a avaliação é
um juízo de qualidade do objeto, que neste caso é a aprendizagem
Aos que se preparam para atuar profissionalmente como edu- do aluno. Enfatiza que o ato de avaliar, uma vez que está a serviço da
cadores nas instituições escolares de nosso país e do exterior, assim obtenção do melhor resultado possível, implica em uma disposição
como aos que já trabalham como educadores, o presente livro ofere- de acolher a realidade como ela é, seja satisfatória ou insatisfatória,
ce subsídios para melhor compreender o ato de avaliar a aprendiza- agradável ou desagradável. A disposição para acolher é, pois, o ponto
gem dos nossos educados e, dessa forma, orientar uma prática mais de partida para qualquer prática de avaliação.
adequada às suas finalidades. No decorrer de suas páginas há um Como destaca o autor, no final dos anos 70 fomos movidos por
movimento constante entre a denúncia de uma situação inadequa- uma pedagogia do exame, utilizando o termo “avaliação” e pratican-
da e o anúncio de novas possibilidades, uma dialética entre a des- do o “exame” para avaliar a aprendizagem dos alunos e afirma que
construção e a reconstrução de conceitos e modos de agir. O desejo essa prática ainda transita nas escolas nos dias atuais, trazendo um
implícito, presente neste texto, é de que nós, educadores e futuros engano por parte de quem avalia na prática. Por isso, Luckesi (2011)
educadores, nos aproximemos cada vez mais da possibilidade de fa- traz uma crítica da prática dos educadores com relação à avaliação
zer da avaliação nossa aliada na busca do sucesso na arte de ensinar praticada de forma incorreta nas escolas.
e de aprender. Necessitamos dela nessa condição. A característica que de imediato se evidencia na nossa prática
Luckesi afirma que a avaliação da aprendizagem “é um ato de educativa é de que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço
investigar a qualidade do seu objeto de estudo e, se necessário, in- tão amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa esco-
tervir no processo da aprendizagem, tendo como suporte o ensino, lar passou a ser direcionada por uma pedagogia do exame.
na perspectiva de construir os resultados desejados” (p. 150). Ela vai Portanto, entende-se que essas características se tornam mais
subsidiar a obtenção de resultados satisfatórios da aprendizagem do presentes no final do ensino médio, onde alunos e professores estão
aluno. Segundo o autor, para que a aprendizagem seja efetiva, a ava- centrados a resolver 19 provas para serem aprovados no vestibular, e
liação deverá ser dinâmica e construtiva, dando suporte ao educador. o que predomina é a nota. Não somente pais e alunos, como também
Tendo presente que o ato de investigar é papel do educador, é ele o sistema de ensino estão mais preocupados com a nota do que com
quem vai avaliar a aprendizagem e para tanto, precisará: a aprendizagem dos alunos, fazendo com que os professores utilizem
1) conscientizar-se de que sua atividade tem por objetivo “ilumi- as provas como forma de ameaça contra os estudantes ocasionando
nar” a realidade da aprendizagem do educando (…); o medo que os leva estudar para a obtenção de uma nota. Entre-
2) estar comprometido com uma visão pedagógica (uma teoria) tanto, as provas e exames não auxiliam na aprendizagem do aluno,
que considere que o ser humano sempre pode aprender e desenvol- somente classifica-o.
ver-se e, em consonância com ela, ter um plano de ensino consisten-
te e efetiva disposição de investir no educando para que aprenda; Fonte: www.ded.unir.br
3) ter ciência de que o conhecimento estabelecido com sua ativi-
dade de investigador dependerá:
• de suas abordagens teóricas (o que significa que não poderá
olhar esse objeto sob todas as óticas possíveis, mas sim sob a ótica da
teoria pedagógica assumida);
• das variáveis levadas em consideração (variáveis restritas ou
inadequadas produzirão conhecimentos restritos ou inadequados);
• dos instrumentos utilizados para a coleta de dados (instrumen-
tos adequados e satisfatórios produzirão resultados adequados e
satisfatórios; instrumentos inadequados e insatisfatórios porém, pro-
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
da estão aí, e bem vivas, em inúmeros sistemas escolares. Embora
PERRENOUD, PHILIPPE. AVALIAÇÃO: DA EXCELÊNCIA À RE- a denúncia da indiferença às diferenças (Bourdieu, 1966) ocorra há
GULAÇÃO DAS APRENDIZAGENS - ENTRE DUAS LÓGICAS. décadas e seja acompanhada de vibrantes defesas da educação sob
PORTO ALEGRE: ARTMED, 1999. medida e das pedagogias diferenciadas, as crianças de mesma idade
continuam obrigadas a seguir o mesmo programa. Uma visão pessi-
mista da escola poderia enfatizar o imobilismo.
A avaliação não é uma tortura medieval. É uma invenção mais No entanto, lentamente a escola muda. A maioria dos sistemas
tardia, nascida com os colégios por volta do século XVII e tornada in- declara agora querer favorecer uma pedagogia diferenciada e uma
dissociável do ensino de massa que conhecemos desde o século XIX, maior individualização das trajetórias de formação. Também a ava-
com a escolaridade obrigatória. liação evolui. As notas desaparecem em certos graus, em certos ti-
Algum dia teria havido, na história da escola, consenso sobre a pos de escolas... Falar de avaliação formativa não é mais apanágio de
maneira de avaliar ou sobre os níveis de exigência? A avaliação infla- alguns marcianos. Talvez passemos - muito lentamente - da medida
ma necessariamente as paixões, já que estigmatiza a ignorância de obsessiva da excelência a uma observação formativa a serviço da re-
alguns para melhor celebrar a excelência de outros. Quando resga- gulação das aprendizagens. Todavia, nada está pronto!
tam suas lembranças de escola, certos adultos associam a avaliação a (Tentamos discutir) a complexidade do problema, que se deve
uma experiência gratificante, construtiva; para outros, ela evoca, ao à diversidade das lógicas em questão, a seus antagonismos, ao fato
contrário, uma seqüência de humilhações. Tomando-se pais, os anti- de que a avaliação está no âmago das contradições do sistema edu-
gos alunos têm a esperança ou o temor de reviver as mesmas emo- cativo, constantemente na articulação da seleção e da formação, do
ções através de seus filhos. As questões que envolvem a avaliação reconhecimento e da negação das desigualdades.
escolar, no registro narcíseo, tanto naquele das relações sociais quan- O leitor não encontrará aqui um modelo ideal de avaliação for-
to no que diz respeito às suas conseqüências (orientação, seleção, mativa, menos ainda uma reflexão sobre a medida de avaliação. A
certificação), são demasiado abrangentes para que algum sistema de abordagem sociológica não ignora as contribuições da docimologia,
notação ou de exame alcance unanimidade duradoura. Há sempre da psicometria, da psicopedagogia, da didática. Meu propósito não
alguém para denunciar a severidade ou o laxismo, a arbitrariedade, é reforçar a crítica racionalista das práticas, em nome de uma con-
a incoerência ou a falta de transparência dos procedimentos ou dos cepção mais coerente e mais científica da avaliação, nem acrescentar
critérios de avaliação. Essas críticas levantam invariavelmente uma algo aos modelos prescritivos. O olhar é mais descritivo, a questão
defesa das classificações, apesar de sua imperfeição, em nome do, é primeiramente mostrar que “tudo se mantém”, que não se pode
realismo, da formação das elites, do mérito, da fatalidade das desi- melhorar a avaliação sem tocar no conjunto do sistema didático e do
gualdades... sistema escolar.
Avaliar é - cedo ou tarde - criar hierarquias de excelência, em fun- Isso não quer dizer que esta obra adote o ponto de vista de Si-
ção das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção rius. Poder-se-ia imaginar uma sociologia da avaliação totalmente de-
no início do secundário, a orientação para diversos tipos de estudos, sengajada, limitando-se a dar conta da diversidade e da evolução das
a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, freqüente- práticas e dos modelos. Não pretendo tal distanciamento. A avaliação
mente, a contratação. Avaliar é também privilegiar um modo de estar formativa é uma peça essencial dentro de um dispositivo de pedago-
em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelência, definir gia diferenciada. Quem não aceita o fracasso escolar e a desigualda-
um aluno modelo, aplicado e dócil para uns, imaginativo e autôno- de na escola se pergunta necessariamente: como fazer da regulação
mo para outros... Como, dentro dessa problemática, sonhar com um contínua das aprendizagens a lógica prioritária da escola?
consenso sobre a forma ou o conteúdo dos exames ou da avaliação Esse compromisso com as pedagogias diferenciadas (Perrenoud,
contínua praticada em aula? 1996b, 1997e) não deveria se desviar da análise lúcida das práticas e
Os debates atuais relacionam-se, além disso, a uma nova crise dos sistemas. Ao contrário! Não há exemplo de mudança significativa
dos valores, da cultura, do sentido da escola (Develay, 1996). Entre- que não se tenha ancorado em uma visão bastante realista das restri-
tanto, seria errôneo, acreditar que sucedem à idade de ouro de uma ções e das contradições do sistema educativo.
avaliação triunfante e inconteste. Em torno da norma e das hierar- Descrever a avaliação como oscilando entre duas lógicas ape-
quias de excelência, nenhuma sociedade vive na serenidade e no nas é evidentemente simplificador. Na realidade, há muitas outras,
consenso. A questão é saber, antes, se cada época reinventa, à sua ainda mais pragmáticas. Bem antes de regular as aprendizagens, a
maneira e em sua linguagem, as figuras impostas de um eterno de- avaliação regula o trabalho, as atividades, as relações de autoridade
bate, ou se hoje acontece algo de novo. Envolvidos pelo presente, e a cooperação em aula e, de uma certa forma, as relações entre a
queremos sempre acreditar que a história se transforma diante de família e a escola ou entre profissionais da educação. Um olhar so-
nossos olhos. Os historiadores nos ensinam, ao contrário, que nos ciológico tenta constantemente considerar as lógicas do sistema que
debatemos em disputas quase rituais, retomadas década após déca- dizem respeito ao tratamento das diferenças e das desigualdades e,
da, em uma linguagem inovadora apenas o suficiente para dissimular ao mesmo tempo, as lógicas dos agentes, que envolvem questões
a perenidade das posições e das oposições. Que a avaliação possa mais cotidianas, de coexistência, de controle, de poder.
auxiliar o aluno a aprender não é uma idéia nova. Desde que a escola Portanto, estabelecerei rapidamente as duas principais lógicas
existe, pedagogos se revoltam contra as notas e querem colocar a do sistema, uma tradicional, outra emergente, lembrando o leitor
avaliação mais a serviço do aluno do que do sistema. Essas evidências de não esquecer que elas não esgotam a realidade e o sentido das
são incessantemente redescobertas, e cada geração crê que “nada práticas.
mais será como antes”. O que não impede a seguinte de seguir o mes-
mo caminho e de sofrer as mesmas desilusões. Uma avaliação a serviço da seleção?
Isso significa que nada se transforma de um dia para outro no A avaliação é tradicionalmente associada, na escola, à criação de
mundo escolar, que a inércia é por demais forte, nas estruturas, nos hierarquias de excelência. Os alunos são comparados e depois classi-
textos e sobretudo nas mentes, para que uma nova idéia possa se im- ficados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto
por rapidamente. O século que está terminando demonstrou a força ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos. Na maioria das
de inércia do sistema, para além dos discursos reformistas. Embora vezes, essas duas referências se misturam, com uma dominante: na
muitos pedagogos tenham acreditado condenar as notas, elas ain- elaboração das tabelas, enquanto alguns professores falam de exi-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
gências preestabelecidas, outros constroem sua tabela a posteriori, ver seleção, a orientação para esta ou aquela habilitação. De modo
em função da distribuição dos resultados, sem todavia chegar a dar mais global, ao longo de todo o curso, elas regem o que se chama de
sistematicamente a melhor nota possível ao trabalho “menos ruim”. êxito ou fracasso escolares. Estabelecida de acordo com uma escala
No decorrer do ano letivo, os trabalhos, as provas de rotina, as muito diferenciada -às vezes, apenas um décimo de ponto de dife-
provas orais, a notação de trabalhos pessoais e de dossiês criam “pe- rença - uma hierarquia de excelência se transforma facilmente, com
quenas” hierarquias de excelência, sendo que nenhuma delas é deci- efeito, em dicotomia: basta introduzir um ponto de ruptura para criar
siva, mas cuja adição e acúmulo prefiguram a hierarquia final: conjuntos considerados homogêneos; por um lado, aqueles que são
seja porque se fundamenta amplamente nos resultados obtidos reprovados são relegados às habilitações pré-profissionais ou entram
ao longo do ano, quando a avaliação contínua não é acompanhada no mercado de trabalho aos 15-16 anos; por outro, os que avançam
por provas padronizadas ou exames; no curso e se orientam para os estudos aprofundados.
seja porque a avaliação durante o ano funciona como um treina- A outra função tradicional da avaliação é certificar aquisições
mento para o exame (Merle, 1996). em relação a terceiros. Um diploma garante aos empregadores em
potencial que seu portador recebeu uma formação, o que permite
Essa antecipação desempenha um papel maior no contrato didá- contratá-lo sem fazer com que preste novos exames. Uma forma de
tico celebrado entre o professor e seus alunos, assim como nas rela- certificação análoga funciona também no interior de cada sistema
ções entre a família e a escola. Conforme mostrou Chevallard (1986a) escolar, de um ciclo de estudos ao seguinte, até mesmo entre anos
no que tange aos professores de matemática do secundário, as notas escolares. Isso é menos visível, pois não existe o equivalente em um
fazem parte de uma negociação entre o professor e seus alunos ou, mercado de trabalho; o mercado da orientação permanece controla-
pelo menos, de um arranjo. Elas lhe permitem fazê-los trabalhar, con- do pelo sistema educativo.
seguir sua aplicação, seu silêncio, sua concentração, sua docilidade Uma certificação fornece poucos detalhes dos saberes e das
em vista do objetivo supremo: passar de ano. A nota é uma mensa- competências adquiridos e do nível de domínio precisamente atin-
gem que não diz de início ao aluno o que ele sabe, mas o que pode gido em cada campo abrangido. Ela garante sobretudo que um alu-
lhe acontecer “se continuar assim até o final do ano”. Mensagem no sabe globalmente “o que é necessário saber” para passar para a
tranqüilizadora para uns, inquietante para outros, que visa também série seguinte no curso, ser admitido em uma habilitação ou come-
aos pais, com a demanda implícita ou explícita de intervir “antes que çar uma profissão. Entre professores dos graus ou ciclos de estudos
seja tarde demais”. A avaliação tem a função, quando se dirige à famí- sucessivos, entre a escola e os empregadores, o nível e o conteú-
lia, de prevenir, no duplo sentido de impedir e de advertir. Ela alerta do dos exames ou da avaliação são, é claro, questões recorrentes.
contra o fracasso que se anuncia ou, ao contrário, tranqüiliza, acres- Todavia, no âmbito do funcionamento regular do sistema, “age-se
centando “desde que continue assim!”. Quando o jogo está quase como se” aqueles que avaliam soubessem o que devem fazer e a
pronto, prepara os espíritos para o pior; uma decisão de reprovação eles é concedida uma certa confiança. A vantagem de uma certifica-
ou de não-admissão em uma habilitação exigente apenas confirma, ção instituída é justamente a de não precisar ser controlada ponto
em geral, os prognósticos desfavoráveis comunicados, bem antes, ao por ponto, de servir de passaporte para o emprego ou para uma
aluno e à sua família. formação posterior.
Assim como os pequenos mananciais formam grandes rios, as Dentro do sistema escolar, a certificação é sobretudo um modo
pequenas hierarquias se combinam para formar hierarquias globais, de regulação da divisão vertical do trabalho pedagógico. O que se
em cada disciplina escolar, depois sobre o conjunto do programa, certifica ao professor que recebe os alunos oriundos do nível ou do
para um trimestre, para um ano letivo e, enfim, para o conjunto de ciclo anterior é que ele poderá trabalhar como de hábito. O que isso
um ciclo de estudos. Referindo-se a formas e normas de excelência recobre não é totalmente independente do programa e das aquisi-
bem diversas, essas hierarquias têm em comum mais informar sobre ções mínimas. Isso pode variar muito de um estabelecimento a outro,
a posição de um aluno em um grupo ou sobre sua distância relativa à em função do nível efetivo dos alunos e da atitude do corpo docente.
norma de excelência do que sobre o conteúdo de seus conhecimen- Em todos os casos, a avaliação não é um fim em si. É uma engre-
tos e competências. Elas dizem sobretudo se o aluno é “melhor ou nagem no funcionamento didático e, mais globalmente, na seleção e
pior” do que seus colegas. A própria existência de uma escala a ser na orientação escolares. Ela serve para controlar o trabalho dos alu-
utilizada cria hierarquia, as vezes a partir de pontos pouco significa- nos e, simultaneamente, para gerir os fluxos.
tivos. Amigues e Zerbato-Poudou (1996) lembram esta experiência Ou a serviço das aprendizagens?
simples: dá-se um lote de trabalhos heterogêneos a serem corrigi- A escola conformou-se com as desigualdades de êxito por tanto
do por um conjunto de professores, cada um estabelece uma distri- tempo quanto elas pareciam “na ordem das coisas”. É verdade que
buição em forma de sino, aproximação da famosa curva de Gauss. era importante que o ensino fosse corretamente distribuído e que
Retiram-se então todos os trabalhos situados na parte mediana da os alunos trabalhassem, mas a pedagogia não pretendia nenhum
distribuição e dão-se os restantes a outros corretores Poder-se-ia lo- milagre, ela não podia senão “revelar” a desigualdade das aptidões
gicamente esperar uma distribuição bimodal. Isso não acontece, cada (Bourdieu, 1966). Dentro dessa perspectiva, uma avaliação formativa
avaliador recria uma distribuição “normal”. Obtém-se o mesmo resul- não tinha muito sentido: a escola ensinava e, se tivessem vontade
tado quando se conserva apenas a metade inferior ou superior de um e meios intelectuais, os alunos aprendiam. A escola não se sentia
primeiro lote. Os examinadores criam variações que se referem mais responsável pelas aprendizagens, limitava-se a oferecer a todos a
à escala e ao princípio da classificação do que às variações significa- oportunidade de aprender: cabia a cada um aproveitá-la! A noção
tivas entre os conhecimentos ou as competências de uns e outros. de desigualdade das oportunidades não significou, até um período
Uma hierarquia de excelência jamais é o puro e simples reflexo recente, nada além disto: que cada um tenha acesso ao ensino, sem
da “realidade” das variações. Elas existem realmente, mas a avalia- entraves geográficos ou financeiros, sem inquietação com seu sexo
ção escolhe, em um momento definido, segundo critérios definidos, ou sua condição de origem.
dar-Ihe uma imagem pública; as mesmas variações podem ser, dra- Quando Bloom, nos anos 60, defendeu uma pedagogia do do-
matizadas ou banalizadas conforme a lógica de ação em andamento, mínio (1972, 1976, 1979, 1988), introduziu um postulado totalmente
pois não se avalia por avaliar, mas para fundamentar uma decisão. Ao diferente. Pelo menos no nível da escola obrigatória, ele dizia, “todo
final do ano letivo ou do ciclo de estudos, as hierarquias de excelência mundo pode aprender”: 80% dos alunos podem dominar 80% dos
escolar comandam o prosseguimento normal do curso ou, se hou- conhecimentos e das competências inscritos no programa, com a
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
condição de organizar o ensino de maneira a individualizar o conteú- escolares. As pedagogias diferenciadas estão doravante na ordem do
do, o ritmo e as modalidades de aprendizagem em função de objeti- dia e a avaliação formativa não é mais uma quimera, já que propiciou
vos claramente definidos. De imediato, a avaliação se tornava o ins- inúmeros ensaios em diversos sistemas.
trumento privilegiado de uma regulação contínua das intervenções e No entanto, é inútil esconder que ela se choca com todo tipo de
das situações didáticas. Seu papel, na perspectiva de uma pedagogia obstáculos, nas mentes e nas práticas. Primeiramente, porque exige a
de domínio (Huberman, 1988), não era mais criar hierarquias, mas adesão a uma visão mais igualitarista da escola e ao princípio de edu-
delimitar as aquisições e os modos de raciocínio de cada aluno o su- cabilidade. Para trabalhar com prioridade na regulação das aprendi-
ficiente para auxiliá-lo a progredir no sentido dos objetivos. Assim zagens, deve-se antes de tudo acreditar que elas são possíveis para
nasceu, se não a própria idéia de avaliação formativa, desenvolvida o maior número. Essa concepção está longe de alcançar unanimi-
originalmente por Scriven (1967) em relação aos programas, pelo dade. Não partilhamos mais da ideologia do dom triunfante, todos
menos sua transposição à pedagogia e às aprendizagens dos alunos. ou quase todos estão hoje conscientes do peso do meio cultural no
O que há de novo nessa idéia? Não se servem todos os profes- êxito escolar. As pedagogias de apoio desenvolveram-se um pouco
sores da avaliação durante o ano para ajustar o ritmo e o nível global em todos os lugares e a idéia de que uma diferenciação mais sistemá-
de seu ensino? Não se conhecem muitos professores que utilizam tica do ensino poderia atenuar o fracasso escolar não é mais muito
a avaliação de modo mais individualizado, para melhor delimitar as original. Contudo, a democratização do ensino permanece um tema
dificuldades de certos alunos e tentar remediá-las? pouco mobilizador para uma fração significativa dos professores ou
Toda ação pedagógica repousa sobre uma parcela intuitiva de dos estabelecimentos, a prioridade que lhe dão os sistemas educa-
avaliação formativa, no sentido de que, inevitavelmente, há um mí- tivos é muito flutuante. Mesmo quando a política da educação e as
nimo de regulação em função das aprendizagens ou, ao menos, dos aspirações dos agentes vão nesse sentido, o esforço não se faz ipso
funcionamentos observáveis dos alunos. Para se tornar uma prática facto em nível da sala de aula, da diferenciação do ensino e da indivi-
realmente nova, seria necessário, entretanto, que a avaliação forma- dualização dos percursos de formação. Uma boa parte das energias
tiva fosse a regra e se integrasse a um dispositivo de pedagogia dife- permanece comprometida com os aspectos financeiros, geográficos
renciada. É esse caráter metódico, instrumentado e constante que a e estruturais do acesso aos estudos.
distancia das práticas comuns. Portanto, não se poderia, sob risco de A avaliação formativa assume todo seu sentido no âmbito de
especulação, afirmar que todo professor faz constantemente avalia- uma estratégia pedagógica de luta contra o fracasso e as desigualda-
ção formativa, ao menos não no pleno sentido do termo. des, que está longe de ser sempre executada com coerência e con-
Se a avaliação formativa nada mais é do que uma maneira de re- tinuidade (Perrenoud, 1996j, 1997e). Devido a políticas indecisas e
gular a ação pedagógica, por que não é uma prática corrente? Quan- também por outras razões, a avaliação formativa e a pedagogia di-
do um artesão modela um objeto, não deixa preciso for, “corrigir o ferenciada da qual participa chocam-se com obstáculos materiais e
alvo”, expressão comum que designa uma faculdade humana univer- institucionais numerosos: o efetivo das turmas, a sobrecarga dos pro-
sal: a arte de conduzir ação pelo olhar, em função de seus resulta- gramas e a concepção dos meios de ensino e das didáticas, que quase
dos provisórios e dos obstáculos encontrados. Cada professor dispõe não privilegiam a diferenciação. O horário escolar, a divisão do curso
dela, como todo mundo. Ele se dirige, porém, a um grupo e regula em graus, a ordenação dos espaços são restrições dissuasivas para
sua ação em função de sua dinâmica de conjunto, do nível global e quem não sente, visceralmente, a paixão pela igualdade.
da distribuição dos resultados, mais do que das trajetórias de cada Outro obstáculo: a insuficiência ou a excessiva complexida-
aluno. A avaliação formativa introduz uma ruptura porque propõe de dos modelos de avaliação formativa propostos aos professores.
deslocar essa regulação ao nível das aprendizagens e individualizá-la. Atualmente, a pesquisa privilegia um caminho intermediário entre
Nenhum médico se preocupa em classificar seus pacientes, do a intuição e a instrumentação (Allal, 1983) e reabilita a subjetividade
menos doente ao mais gravemente atingido. Nem mesmo pensa em (Weiss, 1986). Trabalha-se em uma ampliação da avaliação formati-
lhes administrar um tratamento coletivo. Esforça-se para determinar, va, mais compatível com as novas didáticas (Allal, 1988b, 1991) e as
para cada um deles, um diagnóstico individualizado, estabelecendo abordagens construtivistas (Craha}; 1986; Rieben, 1988). Consagra-
uma ação terapêutica sob medida. Mutatis mutandis, a avaliação for- -se a descrever as práticas atuais antes de prescrever outras (De Ke-
mativa deveria ter a mesma função em uma pedagogia diferencia- tele, 1986), recoloca-se a avaliação no quadro de uma problemática
da. Com essa finalidade, as provas escolares tradicionais se revelam mais ampla, a do trabalho escolar (Perrenoud, 1995a, 1996a) ou da
de pouca utilidade, porque são essencialmente concebidas em vista didática das disciplinas (Bain, 1988a e b; Bain e Schneuwly, 1993; Al-
mais do desconto do que da análise dos erros, mais para a classifica- lal, Bain e Perrenoud, 1993). Esses trabalhos estão longe de esgotar
ção dos alunos do que para a identificação do nível de domínio de o assunto. Resta muito a fazer para dar a um grande número de pro-
cada um. “Seu erro me interessa”, diria um professor que leu Astolfi fessores a vontade e os meios de praticar uma avaliação formativa.
(1997) .Uma prova escolar clássica suscita erros deliberadamente, já A formação dos professores trata pouco de avaliação e menos
que de nada serviria se todos os alunos resolvessem todos os proble- ainda de avaliação formativa. Mais globalmente, uma pedagogia dife-
mas. Ela cria a famosa curva de Gauss, o que permite dar boas e más renciada supõe uma qualificação crescente dos professores, tanto no
notas, criando, portanto, uma hierarquia. Uma prova desse gênero domínio dos conhecimentos matemáticos ou lingüísticos, por exem-
não informa muito como se operam a aprendizagem e a construção plo, quanto no domínio didático (Gather Thurler e Perrenoud, 1988).
dos conhecimentos na mente de cada aluno, ela sanciona seus erros Enfim, a avaliação formativa se choca com a avaliação instalada,
sem buscar os meios para compreendê-los e para trabalhá-los. A ava- com a avaliação tradicional, às vezes chamada de normativa. Mesmo
liação formativa deve, pois, forjar seus próprios instrumentos, que quando as questões tradicionais da avaliação se fazem menos evi-
vão do teste criterioso, descrevendo de modo analítico um nível de dentes, a avaliação formativa não dispensa os professores de dar no-
aquisição ou de domínio, à observação in loco dos métodos de traba- tas ou de redigir apreciações, cuja função é informar os pais ou a ad-
lho, dos procedimentos, dos processos intelectuais no aluno. ministração escolar sobre as aquisições dos alunos, fundamentando
O diagnóstico é inútil se não der lugar a uma ação apropriada. a seguir decisões de seleção ou de orientação. A avaliação formativa,
Uma verdadeira avaliação formativa é necessariamente acompanha- portanto, parece sempre uma tarefa suplementar, que obrigaria os
da de uma intervenção diferenciada, com o que isso supõe em ter- professores a gerir um duplo sistema de avaliação, o que não é muito
mos de meios de ensino, de organização dos horários, de organização animador!
do grupo-aula, até mesmo de transformações radicais das estruturas O que acontece hoje em dia...
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
As pesquisas e as experiências se multiplicam. A avaliação for- lisados pela crise econômica, pela fragilidade das maiorias no poder,
mativa é um dos “cavalos de batalha” da Associação Européia para pelas contradições internas das burocracias escolares, pelos con-
o Desenvolvimento das Metodologias de Avaliação em Educação servadorismos de todo tipo e por tudo que mantém uma distância
(ADMEE) e de sua irmã mais velha quebequense. Ela está no âmago entre os ideais declarados e a realidade dos sistemas educativos.
das tentativas de pedagogia diferenciada e de individualização dos O fato de a avaliação estar ainda entre duas lógicas decepciona
percursos de formação. Há uma preocupação um pouco maior com a ou escandaliza aqueles que lutam contra o fracasso escolar e so-
avaliação no que diz respeito às renovações de programas e ao qua- nham com uma avaliação puramente formativa. Com um pouco de
dro das didáticas das disciplinas. A formação contínua se desenvol- recuo histórico, pode-se sustentar que a própria existência de nova
ve; a formação inicial se amplia lentamente. Essa evolução poderia lógica, mais formativa, é uma conquista extraordinária. Quase to-
alimentar a ilusão de que a escola aderiu à idéia de uma avaliação dos os sistemas educativos modernos declaram avançar para uma
formativa e de que se encaminha a passos largos para isso. A rea- avaliação menos seletiva, menos precoce, mais formativa, mais in-
lidade porém, é mais complexa. Nas aulas, as práticas de avaliação tegrada à ação pedagógica cotidiana. Pode-se julgá-los pelo distan-
ciamento entre essas intenções e a realidade das práticas. Pode-se
evoluem globalmente para uma severidade menor. Serão elas mais
igualmente salientar que tais intenções são recentes, que datam de
formativas? Duvida-se muito. Desenvolve-se o apoio pedagógico ex-
meados dos anos 1970-80. Portanto, o período de transição está
terno, trabalha-se mais com pequenos grupos. Seria uma pedagogia
apenas começando.
diferenciada digna desse nome? Isso é apenas o começo!
Incontestavelmente, a lógica formativa ganhou importância.
Nos sistemas educativos, há uma distância significativa entre o
Pouco a pouco, denunciam-se os limites que lhe impõem as lógicas
discurso modernista, entremeado de ciências da educação e de no- de seleção. Esquece-se que elas reinaram, sozinhas, durante déca-
vas pedagogias, e as preocupações prioritárias da maioria dos pro- das. A democratização do ensino e a busca de uma pedagogia mais
fessores e dos responsáveis escolares. Raros são os que se opõem diferenciada fizeram emergir, e depois se difundir, a lógica formati-
resoluta e abertamente a uma pedagogia diferenciada ou a uma ava- va, de modo que hoje em dia as forças e a legitimidade de ambas
liação formativa. Todavia, só há adesão com a condição de que essas estão mais equilibradas. De que lado o futuro fará pender a balan-
sejam efetivadas “acima do mercado”, sem comprometer nenhuma ça? Ninguém sabe. O momento não é de concluir, e sim de trabalhar
das funções tradicionais da avaliação, sem tocar na estrutura escolar, para que coexistam e se articulem duas lógicas de avaliação.
sem transtornar os hábitos dos pais, sem exigir novas qualificações A questão não é somente retardar e atenuar a seleção. A ava-
dos professores. Ora, se a avaliação formativa não exigir, em si mes- liação tradicional, não satisfeita em criar fracasso, empobrece as
ma, nenhuma revolução, não poderá se desenvolver plenamente a aprendizagens e induz, nos professores, didáticas conservadoras e,
não ser no quadro de uma pedagogia diferenciada, fundada sobre nos alunos, estratégias utilitaristas. A avaliação formativa participa
uma política perseverante de democratização do ensino. da renovação global da pedagogia, da centralização sobre o apren-
Mais dia, menos dia, os sistemas educativos estarão encurrala- diz, da mutação da profissão de professor: outrora dispensador de
dos: ou continuarão presos ao passado, fazendo um discurso de van- aulas e de lições, o professor se torna o criador de situações de
guarda; ou transporão o obstáculo e orientar-se-ão para um futuro aprendizagem “portadoras de sentido e de regulação”. As resistên-
em que as hierarquias de excelência serão menos importantes do cias não atingem, portanto, unicamente a salvaguarda das elites.
que as competências reais de maior número. Elas se situam cada vez mais no registro das práticas pedagógicas,
Vivemos um período de transição. Por muito tempo, as socie- do ofício de professor e do ofício de aluno!
dades européias acreditaram não necessitar de muitas pessoas ins- Fonte: https://extensao.cecierj.edu.br/
truídas e se serviram da seleção, portanto da avaliação, para excluir
a maior parte dos indivíduos dos estudos aprofundados. No início
do século, 4% dos adolescentes franceses freqüentavam as escolas VILLAS BOAS, BENIGNA M. F. AS DIMENSÕES DO PROJETO
e podiam pretender chegar ao final dos estudos secundários. Agora, POLÍTICO- -PEDAGÓGICO: NOVOS DESAFIOS PARA A ESCO-
a França pretende formar 80% dos jovens no secundário sem dimi- LA. ILMA PASSOS ALENCASTRO VEIGA, MARÍLIA FONSECA
nuir o nível de formação. Não é mais uma utopia, nem uma idéia (ORGS.). CAMPINAS: PAPIRUS, 2001 - (COLEÇÃO MAGIS-
de esquerda. Todavia, a crise dos valores e dos meios, a defesa dos TÉRIO: FORMAÇÃO E TRABALHO PEDAGÓGICO).
privilégios, a rigidez da instituição escolar autorizam a que se duvide
de uma progressão contínua para a pedagogia diferenciada. Certa-
mente, a democratização do ensino, no sentido amplo, progrediu de Esse livro procura dar conta não só de algumas dimensões do
modo espetacular, a julgar pelos índices de escolarização aos 18 ou projeto político-pedagógico, mas também de questões teóricas e
20 anos, ou pela extensão média dos estudos. Entre as meninas e os práticas que orientam a reflexão sobre a escola, tomando como
meninos, as chances de êxito e de acesso aos estudos aprofundados base as atuais políticas públicas.
aproximaram-se muito. Em contrapartida, o distanciamento entre as Nesse sentido, sua estrutura metodológica considerou as se-
classes sociais se mantém e até mesmo tende a se agravar entre as guintes dimensões:
camadas menos favorecidas e a classe média e alta, principais benefi- a) o projeto político-pedagógico no contexto das políticas edu-
ciárias da explosão escolar (Hutmacher, 1993). Em escala planetária, cacionais;
o desenvolvimento da escolarização avança pouco e as desigualda- b) os territórios de intervenção da comunidade, da família e
des continuam gritantes. da escola;
Portanto, seria arriscado anunciar um futuro promissor. Entre as c) os desafios dos paradigmas curriculares e avaliativos; e
necessidades de formação, inesgotáveis, e as políticas da educação, d) a construção das identidades dos sujeitos do processo edu-
nem sempre há coerência. Delors (1996) e sua comissão afirmam: cativo.
“A educação guarda um tesouro em seu interior”. Ninguém terá a
audácia de contradizê-los abertamente. Contudo, os governos e os
profissionais da educação permanecem, com muita freqüência, para-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
No momento em que conceitos como gestão eficiente, produ- • Discussão do caso orientada por eixos teóricos amplamente
tividade, eficácia, qualidade total, entre outros - provenientes de enfatizados no “Currículo da Cidade” (o brincar e a fantasia; o corpo e
orientações gerencialistas e estratégicas -, são profusamente in- a imagem corporal; a fala e a posição na linguagem; as manifestações
troduzidos no campo educacional, reconfigurando ideias e valores, diante das normas e a posição frente à lei e às regras) e que consti-
nossa escola necessita ser repensada por seus próprios atores - pro- tuem referências para as observações dos professores e da escola no
fessores, dirigentes, técnicos administrativos, alunos, família -, levan- trabalho com estudantes com TEA.
do em conta sua função social e sua própria história. • Construção de estratégias de trabalho escolar a partir desse
Os textos que compõem esse livro procuram dar conta não só de olhar atento que se debruçou sobre as questões/entraves debatidos
algumas dimensões do projeto político-pedagógico, mas também de pelos professores.
questões teóricas e práticas que orientam a reflexão sobre a escola, A Portaria nº 8.764, de 23 de dezembro de 2016, que regulamen-
tomando como base as atuais políticas públicas. ta o Decreto nº 57.379, de 13 de outubro de 2016, que institui no
Nesse sentido, a estrutura metodológica do livro considerou as Sistema Municipal de Ensino a “Política Paulistana de Educação Espe-
seguintes dimensões: o projeto político-pedagógico no contexto das cial, na Perspectiva da Educação Inclusiva” caracteriza em seu “Anexo
políticas educacionais; os territórios de intervenção da comunida- I” que os educandos com Transtornos Globais do Desenvolvimento
de, da família e da escola; os desafios dos paradigmas curriculares são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações
e avaliativos; a construção das identidades dos sujeitos do processo sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e
educativo. atividades restrito, estereotipado e repetitivo. E indica que devem ser
incluídos nesse grupo estudantes com Autismo, Síndrome de Rett,
Síndrome de Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância.
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Em relação ao TEA, a Portaria nº 8.764 define que:
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES PARA Autismo: prejuízo no desenvolvimento da interação social e da
ATENDIMENTO DE ESTUDANTES: TRANSTORNO DO ESPEC- comunicação; pode haver atraso ou ausência do desenvolvimento da
TRO DO AUTISMO. SÃO PAULO: SME / COPED, 2021 linguagem; naqueles que a possuem, pode haver uso estereotipado
e repetitivo ou uma linguagem idiossincrática; repertório restrito de
interesses e atividades; interesse por rotinas e rituais não funcionais.
Sobre as Orientações para atendimento de estudantes : trans- Manifesta-se antes dos 3 anos de idade. Prejuízo no funcionamento
torno do espectro do autismo ou atraso em pelo menos uma das três áreas: interação social; lin-
Esse Caderno Orientador foi elaborado a partir das contribuições guagem para comunicação social; jogos simbólicos ou imaginativos.
das equipes dos CEFAIs, compostas por Coordenadores de CEFAI, Pro- (SÃO PAULO, 2016).
fessores de Apoio e Acompanhamento à Inclusão – PAAIs e Professo- O TEA entra para a classe dos transtornos do neurodesenvol-
res de Atendimento Educacional Especializado – PAEEs; dos Gestores vimento, ou seja, um grupo de condições com início no período do
Escolares (Diretores e Assistentes de Direção); dos Coordenadores desenvolvimento, que em geral se apresenta antes mesmo da en-
Pedagógicos; dos Supervisores Escolares e das famílias de estudantes trada da criança na escola, tendo como características déficits no
com Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, matriculados nas 13 desenvolvimento que podem acarretar prejuízos no funcionamento
Diretorias Regionais de Ensino – DREs, buscando garantir a represen- pessoal, social, acadêmico ou profissional. Até mesmo em bebês, em
tatividade de todos os territórios10. seus primeiros meses de vida, são identificados sinais e sintomas que
As contribuições foram elaboradas dentro do escopo de uma são incomuns a demais crianças da mesma faixa etária, como falta de
ação formativa intitulada: Ação Formativa para o Atendimento de contato visual com a mãe, dificuldade para sentar e locomover-se,
Estudantes com Transtornos Globais do Desenvolvimento – TGD ma- passar um grande período de tempo quieto e não estranhar o colo ou
triculados na Rede Municipal de Ensino, sob a coordenação da Prof. contato de estranhos.
a Dr. a Marise Bartolozzi Bastos e organizada pela equipe da Divisão Segundo o Manual Diagnóstico Estático de Transtornos Mentais
de Educação Especial – SME/COPED/DIEE, de novembro/2019 a ou- – DSM 5, o Transtorno do Espectro do Autismo – TEA caracteriza-se
tubro/2020, no formato de Grupos de Estudo, como espaço crítico- por déficits persistentes na comunicação social e na interação social
-reflexivo para alinhamento de questões conceituais sobre o tema e em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social,
sua interface com a legislação vigente, a partir da discussão de Estu- com comportamentos não verbais de comunicação usados para inte-
dos de Caso com o objetivo de levantar os contrapontos no trabalho ração social e em habilidades para desenvolver, manter e compreen-
com esses estudantes, tendo em vista a elaboração coletiva de um der relacionamentos.
Caderno Orientador para subsidiar a ação educativa e a construção Além das questões em relação à comunicação social, o diagnós-
de práticas pedagógicas que possibilitem o acesso, a permanência e a tico do Transtorno do Espectro Autista requer também a presença
qualidade dos processos de escolarização e o pleno desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
das aprendizagens desses estudantes. atividades. Mesmo considerando que cada indivíduo é único, algu-
Os temas estudados e discutidos na Ação Formativa foram pau- mas pessoas com autismo podem apresentar seletividade alimentar,
tados na “Metodologia do Estudo de Caso da Escola” (KUPFER; PAT- dificuldade em permanecer em ambientes que tenham muitos estí-
TO; VOLTOLINI, 2017), e os estudantes trazidos nas discussões foram mulos visuais e auditivos, dificuldade na leitura do contexto social e
escolhidos pelas equipes dos CEFAIs, a partir da consigna de serem até mesmo da leitura gestual de outra pessoa durante uma comuni-
estudantes que estariam mobilizando as equipes no intuito de busca- cação.
rem um melhor atendimento a eles nas Unidades Educacionais. Para o diagnóstico do TEA não existe um exame específico que
A proposta foi pautada em três eixos norteadores: venha a identificar o transtorno, o diagnóstico é realizado a partir da
• Metodologia do Estudo de Caso da Escola como proposta de observação de características clínicas individuais por meio da avalia-
um olhar detido sobre o estudante com TEA que está dando sinais de ção médica, e também conta com os relatos dos pais e ou responsá-
dificuldade/sofrimento psíquico e precisa ser acolhido no ambiente veis pela criança.
escolar para que as ofertas pedagógicas possam ser implementadas.

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Ainda não se sabe ao certo quais são as causas para o TEA. Mes- ao realizar brincadeiras. Estas são situações de vida autênticas, pois
mo tendo grandes indícios de questões genéticas envolvidas, ainda não prescindem das relações e dos vínculos entre as pessoas, de con-
se estudam as causas ambientais o uso de medicamentos durante a textos e de repertórios de práticas. A aprendizagem está presente na
gestação e o ambiente em que o indivíduo está inserido. realização de todas as práticas da vida cotidiana (LAVE, 2015 apud
Apesar de não termos cura para o Transtorno do Espectro do Au- SÃO PAULO, 2019). Por esse motivo, os documentos curriculares
tismo, existem diversas terapias, tratamentos e proposições de ajus- apontam apenas as possibilidades educativas, mas os processos de
tes ambientais, que podem auxiliar na funcionalidade do indivíduo, educação e as aprendizagens são decididos no dia a dia pelos sujei-
trazendo mais qualidade de vida para as pessoas com TEA. tos. (SÃO PAULO, 2019).
Algumas características que podemos encontrar em estudantes *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
que estejam dentro do Espectro do Autismo: documento completo em: https://acervodigital.sme. prefeitura.sp.
• ausência ou falta de necessidade de interação visual; gov.br/wp-content/uploads/2021/09/caderno_ EE_TEA-web.pdf.
• falta de resposta quando chamado pelo nome, aparentando
não escutar;
• desenvolvimento tardio das habilidades de fala ou até mesmo SÃO PAULO (SP) . SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.
perda da comunicação verbal em tenra idade; COORDENADORIA PEDAGÓGICA. RETRATOS DA EJA EM
• repetição de palavras ou frases de forma descontextualizada; SÃO PAULO : HISTÓRIA E RELATOS DE PRÁTICAS. – SÃO
• dificuldade em fazer antecipações e leitura de contexto; PAULO : SME / COPED, 2020.
• comportamentos restritos, repetitivos ou incomuns;
• ausência ou baixa percepção para os sentimentos dos outros;
• dificuldade em expressar os seus próprios sentimentos; Sobre Retratos da EJA em São Paulo : história e relatos de prá-
• dificuldade com abstração; ticas
• sensibilidade sensorial de diferentes ordens; O documento Retratos da Educação de Jovens e Adultos nasce
• preferência acentuada por alguém ou alguma coisa; do desejo de muitos educadores em dar visibilidade a uma modali-
• dificuldade no campo simbólico e consequentemente de re- dade do ensino fundamental destinada aos estudantes que não con-
presentação; seguiram estudar no tempo certo - vale ressaltar que a EJA faz parte
• padrões ritualizados de comportamento. do ensino fundamental que compõe a educação básica deste país,
Considerando essas possíveis dificuldades, alguns aspectos pe- voltada aos estudantes com mais de 15 anos que não puderam com-
dagógicos poderiam ser mais bem explorados, durante o processo pletar seus estudos na idade apropriada11
de escolarização, a fim de auxiliar na inclusão destes estudantes. Tais 11 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordena-
como: doria Pedagógica. Retratos da EJA em São Paulo : história e relatos de
• trazer sempre que possível a atenção do estudante ao conteú- práticas. – São Paulo : SME / COPED, 2020. .
do trabalhado, chamando seu nome durante as atividades e manten- São jovens, adultos e idosos que buscam na escola a continuida-
do contato visual; de de seus estudos e a busca da garantia de seus direitos. Procuram
• antecipar o conteúdo e a metodologia, por meio de rotina es- conhecimento educacional para terem o reconhecimento social. São
truturada de trabalho, o que só é possível partindo do plano de ação sujeitos que já sofreram a exclusão e o fracasso escolar e tentam,
do professor; mais uma vez, por meio da escola, seu lugar nessa sociedade tão de-
• criar diferentes formatos de rotinas, à medida que o estudante sigual.
for progredindo em sua comunicação com o professor e a turma; Um segundo desejo é o de transformar esse documento em lei-
• trabalhar com conteúdos atitudinais, que tragam ao estudante tura reflexiva nos horários coletivos em nossas unidades educacio-
noção, percepção e ampliação das interações sociais relativas ao âm- nais, apoiando os profissionais envolvidos e valorizando o trabalho da
bito educacional; Educação de Jovens e Adultos, considerando os desafios encontrados
• propiciar momentos de trabalho em grupo ou duplas em que o como a superdiversidade do perfil dos nossos estudantes e o pouco
estudante possa contribuir com aquilo que consegue fazer; de conhecimento sobre o trabalho pedagógico com jovens e adultos.
• enriquecer o ambiente escolar com diferentes portadores lin- Em busca de promover maior organização didática dos temas
guísticos; que serão apresentados, o documento está dividido em quatro par-
• propor situações de trabalho escolar em que o simbólico e a tes: A história da Educação de Jovens e Adultos; Modalidades de
representação façam parte do tema gerador; Atendimento; Relatos dos profissionais envolvidos e Desafios da Edu-
• considerar o uso pedagógico de formas diversas de registros, cação de Jovens e Adultos. Um panorama apresentado pelo olhar dos
tanto para processos avaliativos, bem como para respostas dos estu- profissionais que estão envolvidos diretamente na modalidade.
dantes às atividades do cotidiano escolar. Professores e gestores que estão no chão da sala de aula, tra-
A escola poderá promover o desenvolvimento desses estudantes balhando cotidianamente na busca assertiva das respostas dos mais
planejando estratégias de trabalho educacional que possam ser im- diversos desafios, sempre de maneira dialógica e democrática.
plementadas no coletivo da sala de aula com todos. O Capítulo I, intitulado “A história da Educação de Jovens e Adul-
Os bebês e as crianças nascem em seus grupos familiares, e essa tos” busca orientar o leitor sobre o contexto da EJA, sua história, suas
é a primeira instituição a lhes oferecer um modo de viver e de realizar lutas e conquistas. Tomamos como marco inicial os anos de 1930 com
tarefas do cotidiano como comer, brincar, vestir-se, isto é, aprender os movimentos anarco-sindicalistas e o apoio da Igreja Católica até
ao estar ativamente se socializando. Vindos de diferentes experiên- os dias atuais. Um panorama político social e educacional repleto de
cias em espaços privados, os bebês e as crianças encontram-se na lutas que, em grande parte, foram organizadas pelos movimentos
escola (o termo “escola” neste documento será tomado como insti- sociais.
tuição de vivências de infâncias, de interações sociais e culturais, de O Capítulo II nomeado “Modalidades de Atendimento” apre-
aprendizagens e senta as formas de atendimento da Educação de Jovens e Adultos
desenvolvimento) e iniciam as suas jornadas na Educação Infan- oferecidas pela Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, con-
til ampliando e pluralizando as suas experiências humanas. Os bebês siderando suas especificidades de organização.
e as crianças aprendem especialmente ao estabelecer interações e
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O Capítulo III “Relatos dos profissionais envolvidos” nos presen- idade, para que estejam atentos e prevenidos em relação a perigos
teia com as histórias de profissionais de diferentes lugares de atuação potenciais; que desenvolva respeito ao outro; que oriente os sujei-
(professores, coordenadores, diretores e supervisores), que percebe- tos para que saibam reconhecer e se proteger das várias formas de
ram que o trabalho com a Educação de Jovens e Adultos exige uma violência.
postura diferenciada, amorosa e afetivamente mais aproximada, em O documento pressupõe a conexão entre os aspectos cogniti-
que gestores, professores e estudantes aprendem juntos e desvelam vos, educativos, comportamentais, sociais e emocionais do bebê, da
a riqueza da curiosidade epistemológica, tão em falta nos tempos criança e do adolescente, além de parcerias institucionais da escola
atuais. com os demais serviços da rede de proteção social à infância e à ado-
O Capítulo IV “Os desafios da Educação de Jovens e Adultos” nos lescência. As conexões e ações conjuntas são importantes para efeti-
encanta na medida em que, em meio a tantas incertezas e dúvidas, var o que está previsto nas leis, convenções, tratados e declarações:
profissionais que acreditam na mudança, propõem práticas inovado- • direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da so-
ras e exitosas a fim de atender a heterogeneidade encontrada na EJA. ciedade.
Esperamos que o documento possa auxiliar os profissionais que • medidas administrativas, sociais e educativas adequadas à pro-
atuam na Educação de Jovens e Adultos a fim de reconhecer as espe- teção da criança contra todas as formas de violência.
cificidades dessa modalidade e as possibilidades existentes, para que • garantia dos direitos fundamentais e de não ser exposto à ne-
a EJA deixe de ser o “a extensão do Ensino Fundamental Regular” da gligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
escola e passe a ter seu lugar reconhecido por todos, um lugar de • direito à educação sexual esclarecedora (adequada à idade,
defesa de direitos daqueles que já foram excluídos de alguma forma cientificamente acurada, culturalmente idônea, baseada nos direitos
e que carregam nas costas um fracasso que, um dia, foi do sistema. humanos, na equidade de gêneros e numa abordagem positiva quan-
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse to à sexualidade e ao prazer).
documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov. • direito à educação integral em sexualidade 5 (baseada em um
br/wp-content/uploads/2020/10/WEB_Retratos_EJA_2020.pdf. currículo sobre aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais da
sexualidade; com o objetivo de construir co nhecimentos, habilida-
des, atitudes e valores que promovam saúde, bem-estar e dignidade,
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. relacionamentos sexuais de respeito, considerando como suas esco-
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. CONHECER PARA PROTE- lhas afetam o bem-estar próprio e o de outras pessoas).
GER: ENFRENTANDO A VIOLÊNCIA CONTRA BEBÊS, CRIAN- Diante dos desafios postos na contemporaneidade no que tan-
ÇAS E ADOLESCENTES. SÃO PAULO: SME/COPED, 2020. ge às dificuldades de aprendizagem e aos fatores que impactam no
desenvolvimento de cada estudante, inclusive ao que se refere aos
diversos tipos de violência, a Secretaria Municipal de Educação de
Sobre o Conhecer para proteger: enfrentando a violência contra São Paulo cria, em 2014, o Núcleo de Apoio e Acompanhamento para
bebês, crianças e adolescentes a Aprendizagem - NAAPA, que dentre suas funções apoia a Unidade
Tendo em vista as necessidades de orientações apontadas pelos Educacional na articulação com os demais serviços da rede de prote-
profissionais da Rede Municipal de Ensino - RME acerca dos procedi- ção social às infâncias, com a finalidade de possibilitar que a escola
mentos a serem adotados nas situações de suspeita ou constatação e o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente se-
de violências praticadas contra bebê, criança e adolescente matricula- jam corresponsáveis pela proteção, cuidado e acompanhamento do
dos nas Unidades Edu cacionais - UEs da RME, a Secretaria Municipal bebê, da criança e do adolescente exposto à situação de violências.
de Educação apresenta este documento, elaborado, dialogicamente, Conforme a LDB, a educação tem por finalidade o pleno desen-
pelas equipes do NAAPA e Supervisores Escolares, que buscaram ex- volvimento do sujeito para o exercício da cidadania e qualificação
pressar as indagações das equipes educacionais, bem como revelar para o trabalho. Nesse aspecto, a potencialidade da escola no en-
as práticas já existentes, que visam à garantia da dignidade de bebês, frentamento às violências está em promover, por meio do currículo
crianças e adolescentes12. escolar, a prevenção, os encaminhamentos e os cuidados adequados
Condizente com o Currículo da Cidade, o presente documento que se iniciam nas situações de violência e permanecem pelo tem-
reafirma os conceitos orientadores de educação inclusiva, equitativa po que se fizer necessário, contando, inclusive, com ajuda de outros
e integral alinhado com o compromisso de aprendizagem humaniza- parceiros.
do e sustentável. O enfrentamento às violências deve estar presente no cotidiano
A violência contra a criança é um fenômeno com múltiplas faces escolar, de forma transversal, interdisciplinar em todos os ciclos, pois
e com raízes culturais muito presentes, reflexo de como a sociedade é por meio da mobilização da escola que a história das vítimas pode
vê as infâncias e a adolescência, de como constrói relações de em- mudar. Para isso, todos os membros da Unidade Educacional devem
patia e de poder entre as gerações e de como lida com os tabus. Na estar atentos aos sinais de suspeita, acolhendo (quando a violência
maioria das vezes, a violência contra a criança atrapalha o desenvol- for revelada) na escuta, na ação com a vítima, no encaminhamento e
vimento e dificulta o processo de aprendizagem, impedindo que a acompanhamento do caso notificado.
escola cumpra sua função social. Devido a isso, o envolvimento da A escuta que cabe às instituições de educação é diferente da es-
escola é imprescindível na promoção de uma gradativa mudança cuta especializada e do depoimento especial, que são realizados por
cultural que considere bebês, crianças e adolescentes como sujeitos autoridade policial ou judicial, que são os responsáveis por coletar
de direitos, que saibam reconhecer as situações de violência, pedir provas.
ajuda, proteger-se e compartilhar conhecimentos de autoproteção, Este documento tipifica cada uma das violências contra bebê,
exercendo, assim, sua cidadania. criança e adolescente para ajudar a apurar o olhar sobre o fenôme-
A mudança cultural se faz na construção permanente do com- no, que deve ser compreendido de forma ampla, dentro de contextos
promisso com a existência digna dos estudantes e efetiva-se na prá- complexos, nos quais, geralmente, mais de um tipo de violência ocor-
tica do currículo escolar, que promove o conhecimento necessário, re simultaneamente.
para que os sujeitos possam compreender o mundo e a si mesmos. Ressaltamos que o mesmo sinal pode indicar a presença de di-
Defendemos um currículo que cuide dos sujeitos de modo a garan- ferentes formas de violência, sendo necessária a atenção quanto à
tir dignidade para todos; que construa conhecimento apropriado à frequência e à intensidade dessas manifestações, considerando que
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
a maior parte das violências contra bebê, criança e adolescente acon- A apreensão parecia ser o sentimento que circulava nos cole-
tece em ambiente doméstico e são cometidas por pessoas da família tivos, e dela derivaram perguntas que pareciam ecoar em todos os
ou por pessoas de confiança da família6 . Isso exige sensibilidade, cui- espaços educativos, tais como: terei recursos tecnológicos suficien-
dado e grande atenção da escola para reparar nas alterações de com- tes para desenvolver meu trabalho? Terei um espaço físico adequado
portamento e na queda de rendimento do estudante, que costumam para isso?
ser recorrentes em todos os tipos de violência, evitando, assim, ro- Como farei para dividir o meu tempo entre o trabalho doméstico
tular a situação como “indisciplina” ou “desinteresse” pelos estudos. e o de educador(a)? Conseguirei dar atenção para os meus familia-
É imprescindível compreender que, comumente, a vítima man- res? Conseguirei auxiliar meus filhos em suas dúvidas na escola nessa
tém vínculos com quem pratica a violência, o que facilita a continui- nova configuração? E os alunos que não têm acesso às tecnologias,
dade da situação abusiva, mas dificulta a denúncia e a busca por aju- como poderemos auxiliá-los em seu processo de ensino-aprendiza-
da e proteção, de maneira que questionar a vítima ou culpá-la por gem? Todas essas perguntas pareciam ter em sua essência a mesma
manter esse afeto só piora a situação e interfere na relação de con- dúvida: é possível dar conta do processo de ensino-aprendizagem em
fiança estabelecida com quem ela decidiu revelar a violência. tempos de distanciamento social?
Outro ponto a se considerar é a necessidade de diferenciar a vio- Diante de mudanças tão grandes e do ritmo vertiginoso em que
lência estrutural da violência negligencial, uma vez que a violência elas precisaram ser implantadas, as falas que já eram conhecidas nos
estrutural se caracteriza pela restrição do acesso aos direitos básicos, espaços de acolhimento e escuta mediadas por psicólogos, e que re-
decorrente da estrutura dos sistemas econômico, social e político velavam o sofrimento de ter que viver em um ritmo de vida acelera-
que atinge todo o grupo familiar, já na violência negligencial, pais e do, também se intensificaram, e, somadas as questões relacionadas
responsáveis com condições de prover as necessidades do bebê, da ao desenvolvimento do trabalho, foram ganhando voz as pessoas
criança e do adolescente reiteradamente não exercem tais obriga- que expressavam seu esgotamento, tais como: trabalho 24 horas e
ções. não dou conta de todas as tarefas! Às vezes, acho que vou explodir!
Destacamos, ainda, que a afetividade e os vínculos construídos Sinto-me em constante pressão e que estou sempre devendo algo
na escola entre bebês, crianças e adolescentes e educadores são de para alguém, inclusive para mim mesma(o)! Sinto-me frustrada(o)!
fundamental importância no movimento preventivo e protetivo, pois Sinto-me cansada(o) física e mentalmente o tempo todo! Mas o que
um ambiente afetivo e respeitoso contribuirá com a caminhada de essas dúvidas e falas revelam? Sintomas de ansiedade. Mas o que é
enfrentamento à violência, promovendo condições de desenvolvi- essa tal de ansiedade, afinal?
mento e aprendizagem humana. A ansiedade se origina no conflito entre o que é demandado
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse externamente e os recursos que o sujeito tem desenvolvidos para
documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov. atender as exigências. Envolve, a um só tempo, pensamento e emo-
br/wp-content/uploads/2021/02/Conhecer-para-Proteger-WEB.pdf. ção, mente e corpo, e impacta positiva ou negativamente nas pos-
sibilidades de ação. Ao sentir-se ansioso, o sujeito projeta-se para o
futuro, tentando antecipar os resultados daquilo que pretende de-
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. sempenhar.
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. ANSIEDADE E MEDO EM No aspecto positivo, sentir-se ansioso pode levar, por exemplo,
TEMPOS DE PANDEMIA: A ARTE FAVORECENDO RESSIG- uma pessoa a ser mais cautelosa no preparo das tarefas que realizará
NIFICAÇÕES. SÃO PAULO: SME/COPED, 2021. (COLEÇÃO no futuro. Qual professor não prepara suas aulas? Qual coordenador
DIÁLOGOS COM O NAAPA, V.1) não prepara suas formações separando textos, vídeos e outros
recursos, intentando criar um espaço dialógico e potente para as
discussões das temáticas que dizem respeito ao cotidiano escolar?
Sobre Ansiedade e medo em tempos de pandemia: a arte favo- Então, essas são ações impulsionadas pela sensação de ansiedade.
recendo ressignificações A ansiedade, no seu aspecto negativo, ao contrário do que foi
No dia 18 de março, tivemos oficialmente decretado, pelo mu- apresentado anteriormente, paralisa a ação. A projeção dos resulta-
nicípio, o afastamento social e a substituição das aulas presenciais dos da ação que precisa ser desempenhada no futuro assume aspec-
pelo ensino remoto. Como se pode imaginar, a alteração dos modos tos sombrios e negativos. O sujeito passa a acreditar que tudo que
de viver e de trabalhar, que ocorreram literalmente de um dia para fizer terá, inevitavelmente, um resultado desastroso. Entra-se em um
o outro, transportando as atividades que eram realizadas na escola, círculo vicioso de imaginar o que pode ser feito e antecipar o seu in-
presencial, interacional e dialogicamente para as telas dos smartpho- sucesso, incapacitando o sujeito para a ação (BRASIL, 2011).
nes e dos computadores se apresentaram como um grande desafio *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
aos profissionais da educação. O trabalho remoto, da perspectiva dos documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.
professores, “mudou e aumentou, com destaque para as atividades br/wp-content/uploads/2021/03/Di%C3%A1logos_NAAPA_Vol-1_
que envolvem interface e/ou interação digital”, demandando um es- WEB.pdf.
forço muito maior do que o trabalho presencial (BÔAS; UNBEHAUM,
2020, p. 2)13.
O isolamento social ocasionado pela pandemia do coronavírus SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.
Sars-Cov-2, causador da Covid-19, sem precedentes na história re- COORDENADORIA PEDAGÓGICA. VULNERABILIDADE E
cente da humanidade, fez com que a sensação de incerteza quanto EDUCAÇÃO. SÃO PAULO: SME/ COPED, 2021. (COLEÇÃO
ao presente e ao futuro aumentasse exponencialmente (BÔAS; UN- DIÁLOGOS COM O NAAPA, V. 3).
BEHAUM, 2020). A escola conhecida e vivida cotidianamente, com
seus espaços, cheiros, sons e pessoas deixou de ser o local de traba-
lho de Professores, Auxiliares Técnicos da Educação, Diretores, Assis- Sobre Vulnerabilidade e educação
tentes de Direção e Coordenadores Pedagógicos, assim como deixou Diante dos múltiplos desafios aos quais educadores da Rede Mu-
de ser o lugar de promoção de aprendizagem dos(as) estudantes. O nicipal de Ensino de São Paulo estão expostos neste tempo histórico
chão da escola precisou ser reinventado e simulado nos espaços vir- marcado pelas repercussões da COVID-19, consideramos relevante
tuais. promover a reflexão acerca das diferentes formas de como cada gru-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
po social ou cada indivíduo tem experenciado as consequências das tores que fragilizam os sujeitos na fruição de sua cidadania, sendo
necessidades do isolamento social. É fato que todos temos nossa rota aprendizagem e desenvolvimento importantes dimensões a serem
de existência alterada pela presença do vírus e pelos riscos de conta- consideradas quando fazemos referência à infância e à adolescência.
minação, mas é preciso compreender que um incontável número de Entendemos, ainda, que é necessário destacar diferentes pers-
fatores determinará as marcas deixadas por essas experiências em pectivas da vulnerabilidade que podem se dar no âmbito individual,
nossa vida emocional e social14. quando marcada pelas ações e experiências do indivíduo, no social,
Nós, das equipes do NAAPA, temos nos disponibilizado a refletir quando traduz a forma como a sociedade se estrutura e como as re-
sobre os aspectos psicossociais que hoje atravessam a vida de todos lações são produzidas em diferentes grupos e contextos, e na institu-
aqueles que compõem a comunidade escolar, buscando potencializar cional, que deriva da forma como o Estado responde às necessidades
práticas coletivas que auxiliem profissionais da educação, familiares, específicas dos indivíduos ou dos grupos sociais no que se refere à
responsáveis e estudantes, para que, por meio do conhecimento teó- garantia dos direitos humanos fundamentais e de cidadania.
rico, das dinâmicas afetivas e da educação, possam se reconhecer
como indivíduos potentes e merecedores de uma vida digna e sus- Vulnerabilidade Educacional
tentada por direitos humanos universais. Ainda na busca de elucidar os múltiplos sentidos do termo vul-
Assim, neste texto dialogaremos sobre uma expressão que, em- nerabilidade, realizamos um exercício etimológico na tentativa de
bora seja frequentemente utilizada nas situações em que abordamos ampliar a compreensão do leitor no que concerne às relações entre a
as questões referentes às desigualdades sociais presentes na vida vulnerabilidade individual, social e estrutural em sua interface com os
de estudantes da RME, é pouco aprofundada e acaba por se perder, processos de ensino e aprendizagem no tempo presente. Em latim,
quer seja pelo fato de carregar ideias cristalizadas ou até mesmo por as palavras que dão origem ao termo vulnerabilidade são: vulnerare
se tratar de terminologia tomada por importante dispersão semânti- ( com os significados de ferir, lesar, prejudicar) e bilis (suscetível à).
ca. Trata-se do termo vulnerabilidade. Aqui, o conceito de vulnerabilidade poderia ser interpretado
como condição inerente ao ser humano, naturalmente necessitado
Aprendendo Sobre Vulnerabilidade de ajuda, uma vez que o texto expressa um estado de ser ou estar
O termo vulnerabilidade começou a ser largamente utilizado nos em perigo ou ainda exposto à potenciais danos em razão de uma fra-
anos 1980 pelos profissionais de saúde pública que enfrentavam o rá- gilidade atrelada à existência individual, diante disso, é importante
pido crescimento de uma síndrome até então desconhecida, mas que ressaltar que essa interpretação isolada se mostra eivada de contra-
deixava marcas impiedosas nas populações mais jovens. Em diversos dições.
países a Aids imprimiu seus registros, fazendo com que os pesqui- A literatura sobre o tema demonstra que saúde e assistência so-
sadores buscassem compreender quais eram os grupos sociais mais cial comungam da concepção de que o indivíduo vulnerável pode ser
expostos ou sujeitos aos riscos de contaminação, assim, com o passar descrito como aquele que se encontra mais suscetível a sofrer danos
do tempo, os termos “riscos” e “população de risco” foram, gradati- em razão de sua cidadania fragilizada, não se tratando assim, de con-
vamente, substituídos pelo termo vulnerabilidade, de maneira que dição intrínseca ao sujeito, de maneira que é possível afirmar que,
se procurava relacionar uma série de variáveis socioeconômicas e os ao ser apoiado, este indivíduo encontra condições e capacidades de
grupos sociais ou indivíduos que poderiam estar mais ou menos vul- alterar sua conjuntura, reforçando a tese de que a vulnerabilidade
neráveis à epidemia. está amplamente associada aos modos de vida coletiva.
Assim, tratar as questões da Aids sob a perspectiva da vulnera- Tal ideia pode também ser sustentada quando tratamos da crian-
bilidade possibilitou a compreensão de que além de se considerar o ça e do adolescente com aproveitamento escolar abaixo do desejável
comportamento do sujeito, era necessário compreendê-lo na inte- ou do adequado para sua idade/ano, pois a aprendizagem e o de-
ração de múltiplos fatores sociais, eco nômicos, políticos e culturais, senvolvimento se concretizam em um espaço/tempo permeado por
engendrando, assim, a ideia de que as condições e possibilidades de oportunidades que ofereçam aos estudantes condições materiais,
proteção de uma pessoa não se reduzem à sua simples vontade indi- ambientais, metodológicas e psicossociais adequadas às necessida-
vidual, sendo necessário reconhecer a complexidade da doença e dos des do bebê, da criança e do adolescente, disponibilizando práticas
recursos necessários para sua prevenção. pedagógicas que contemplem as múltiplas dimensões envolvidas nos
Conforme Adorno: processos de aprendizagem. Vigostky apresenta essa ideia ao afirmar
O termo vulnerabilidade carrega em si a ideia de procurar com- que todas as funções psicológicas superiores, atenção, memória, lin-
preender primeiramente todo um conjunto de elementos que carac- guagem, autorregulação, são formas internalizadas de relações so-
terizam as condições de vida e as possibilidades de uma pessoa ou de ciais.
um grupo – a rede de serviços disponíveis, como escolas e unidades Ressaltamos ainda que quando oferecemos aos sujeitos condi-
de saúde, os programas de cultura, lazer e de formação profissional, ções objetivas e materiais, eles conseguem alterar suas realidades, e
ou seja, as ações do Estado que promovem justiça e cidadania entre esse fato reforça a ideia de que as situações de desigualdades produ-
eles – e avaliar em que medida essas pessoas têm acesso a tudo isso. zem como efeito o distanciamento entre o indivíduo e o gozo de seus
Ele representa, portanto, não apenas uma nova forma de expressar direitos, por isso, não podemos usar o conceito de resiliência para
um velho problema, mas principalmente uma busca para acabar negar os impactos de estruturas do poder público na proteção social
com velhos preconceitos e permitir a construção de uma nova men- de estudantes, pois a repetição dos ciclos de precarização da vida fra-
talidade, uma nova maneira de perceber e tratar os grupos sociais e giliza e dificulta os processos de desenvolvimento e aprendizagem.
avaliar suas condições de vida, de proteção social e de segurança. É Destacamos, ainda, o fato de que, embora a vulnerabilidade es-
uma busca por mudança no modo de encarar as populações-alvo dos teja mais presente nas populações empobrecidas em razão da injusta
programas sociais (ADORNO, 2001, p.12). distribuição de renda e das precárias políticas públicas voltadas para
O excerto acima nos apoia na compreensão de que embora a a equiparação de oportunidades, pois nas sociedades capitalistas
vulnerabiidade seja um termo amplamente cunhado pelas políticas de nosso tempo observamos modos de vida complexos, nos quais
públicas de saúde e assistência social, é preciso considerar seus im- as questões de cunho econômico não são as únicas determinantes
pactos diretos nos modos de aprendizagem de estudantes, uma vez para que uma criança ou um adolescente seja visto como vulnerável,
que seu uso nos ajuda a ampliar a compreensão dos múltiplos fa- as violências praticadas contra crianças e adolescentes são variáveis
sociais que expõem esses indivíduos à extrema vulnerabilidade, fato
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
que nos convoca para um esforço coletivo de reconhecimento e com- Assim, sustentados no desafio de promover práticas educacio-
bate a essas práticas. Não há dificuldades em se admitir os danos nais centradas para as múltiplas infâncias, destacamos o pensamento
causados pelas violências física ou sexual sobre o corpo físico e emo- de Miguel Arroyo:
cional de uma criança, mas ainda há grandes desafios quando se bus- Essa nova realidade trazida pelas infâncias-adolescências que
ca estabelecer relações entre a violência psicológica ou institucional chegam às escolas públicas nos obrigam a novos valores, outra éti-
e o baixo desempenho acadêmico de um estudante, uma vez que ca profissional: a capacidade de entender e trabalhar as indagações
tendemos a atribuir tal questão às características biológicas e intrín- intelectuais e éticas , que revelam seus corpos precarizados, é muito
secas aos sujeitos, negando o papel do meio e das relações sociais mais exigente e maior do que a capaci dade profissional de acompa-
perversas nos processos de vulnerabilização da aprendizagem. nhar seu letramento, seu brincar, desenhar, contar...Somos obrigados
Embora a literatura apresente poucos estudos que se utilizem do a entender mais sobre a dor, o sofrimento, a angustia, à agressão e as
termo vulnerabilidade educacional, sentimo-nos encorajados a rea- violências sofridas pelas crianças em suas vidas e seus corpos precari-
lizar com vocês essa reflexão, uma vez que partimos da compreen- zados do que sobre o futuro e as promessas de felicidade. Na medida
são de que a vulnerabilidade se dá em diferentes esferas da vida de em que essa nova ética profissional avançar, a escola e a docência
uma pessoa, impactando em seu bem estar físico, emocional, social serão mais humanas. Serão reeducadas no convívio pedagógico com
e também acadêmico, então, ao cunhar essa expressão desejamos esses corpos infantis e adolescentes tão agredidos. Somos obrigados
abordar as várias faces que revelam os desafios de oferecer a todos a deixar-nos interrogar e até reeducar os valores e também a com-
uma educação pública, democrática, laica, inclusiva e de qualidade. preensão teórica com que pensamos a infância (ARROYO, 2012, p.
Deste modo, convidamos você a reconhecer o conceito da vul- 30-31).
nerabilidade educacional concebendo-a como um conjunto de si- Até aqui caminhamos em um esforço de descortinar o lugar se-
tuações que fragilizam, interferem ou impedem as aprendizagens de guro no qual temos sustentado nossas concepções sobre a vulnera-
bebês, crianças e adolescentes em razão do não atendimento de suas bilidade, fomos todos convidados a avançar em nossas percepções
necessidades educacionais, fazendo com que estes sujeitos não te- e quem sabe reconhecer que os espaços educacionais também
nham seu direito de desenvolvimento contemplado de forma digna e negam direitos, silenciam, negligenciam, invisibilizam, produzindo
plena, uma vez que a educação é direito humano público, subjetivo, vulnerabilidades. Por outro lado, reconhecemos que nem sempre
inalienável e universal. conseguimos enxergar as infâncias que ocupam os espaços escolares,
Nesta jornada em direção à descrição da vulnerabilidade educa- pois nem sempre sabemos ouvir suas vozes, entretanto, a beleza da
cional, partimos da tese de que há estruturas básicas que compõem existência humana e da natureza criativa e flexível dos educadores é
o trabalho educacional: a física (estrutura das salas de aula, espaços capaz de ressignificar as nossas práticas.
para brincar, mobiliário, salas de leitura, quadras, parques, banhei- Você sabia que:
ros, refeitórios, lactários, pátios etc), a profissional (professores, di- • Há relação direta entre a distorção idade-ano e os índices de
retores, coordenadores pedagógicos, especialistas, equipes de apoio, evasão escolar;
profissionais de limpeza e manutenção etc) e a pedagógica (o currí- • Um ambiente escolar aversivo e violento está entre as princi-
culo, metodologias, material de apoio pedagógico, teorias, conheci- pais causas de desistência do estudante;
mentos, competências, formação docente etc). • Estudantes discriminados em razão de gênero, etnia, nacio-
Quanto mais nos dedicamos a compreensão da vulnerabilidade nalidade, religião, condição socioeconômica, moradia, constituição
educacional, mais nos afastamos das armadilhas de concepções me- ou organização familiar tem maiores possibilidades de abandonar a
dicalizantes e patologizantes da não aprendizagem, pois ela passa a escola;
ser considerada em um imbricado sistema, em que os aspectos físi- • Limitações físicas causadas por doenças graves, crônicas ou de
cos, metodológicos, pedagógicos, afetivos e sociais possibilitam re- longa duração interferem drasticamente na continuidade da vida es-
conhecer que bebês, crianças e adolescentes são sujeitos ativos que colar de crianças e adolescentes;
impactam e são impactados pelas relações estabelecidas entre as di- • A ausência do apoio pedagógico é devastador para a vida esco-
mensões estruturais, profissionais e pedagógicas, que desenham de lar de estudantes com doenças crônicas;
forma única o espaço social de uma Unidade Educacional. • Estima-se que 18% das meninas que engravidam na adolescên-
Pensar o conceito de vulnerabilidade educacional nos remete, cia param de estudar;
ainda, à reflexão de como consideramos as infâncias em nosso tem- • Quanto mais exposto um adolescente está ao uso de drogas
po e nos indaga a olhar e observar seus corpos, suas emoções, suas menor é sua frequência escolar
histórias, culturas, afecções, desejos, convocando-nos a ouvir suas • O trabalho infantil ou na adolescência levam ao abandono pre-
vozes e retirá-las da invisibilidade. Pode parecer antagônica a ideia de coce da vida escolar;
que os sujeitos a quem se dedica a ação educativa sejam esquecidos, • Uma escola que atua nas situações em que haja suspeita ou
ignorados e negligenciados, mas é fato que muitas praticas pedagó- confirmação de violência contra a criança e o adolescente amplia as
gicas negam a presença das infâncias reais, marcadas pelas desigual- possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento do estudante;
dades ou ainda infâncias que se manifestam em diversas expressões • As instâncias de participação democrática como grêmio estu-
culturais, econômicas, sociais, religiosas, étnicas, de gênero, de na- dantil, conselho de escola e assembleias diminuem as situações de
cionalidades, de comportamentos atípicos...E a cada vez que são ne- conflitono espaço escolar;
gadas e silenciadas são também ocultadas em suas vulnerabilidades • Estudantes com boa autoestima tendem a ter melhor aprovei-
e possibilidades educacionais. tamento escolar;
Permitir que as infâncias ocupem a centralidade da prática edu- • A aprendizagem escolar promove bem estar emocional;
cativa é assumir um posicionamento ético-político de enfrentamen- • O espaço escolar promove saúde mental quando amplia as
to às diferentes manifestações da vulnerabilidade e em especial a possibilidades de aprendizagens de todos;
educacional, trata-se de enfrentar as incômodas, inquietantes, mas • Relações de respeito entre os adultos e os estudantes dimi-
potentes indagações que poderão nos mobilizar em direção a uma nuem as situações de indisciplina;
educação transformadora e emancipatória. • O professor, ao fazer uso de estratégias pedagógicas variadas,
contribui com a aprendizagem e afeta positivamente o estudante;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
• A criança e o adolescente precisam de apoio e participação do É recorrente pensarmos no Brasil como um país onde diferentes
adulto para desenvolver autonomia; culturas se encontram e essa diversidade é celebrada. Aprendemos
• A forma como o espaço escolar está organizado interfere nos que nosso país é formado por diversos povos, inclusive pelos que
processos de ensino e aprendizagem; chegaram aqui vindos de outros lugares do mundo.
• O bebê, a criança e o adolescente aprendem a partir das rela- Não podemos esquecer, no entanto, que a chegada de pessoas
ções que estabelecem com os elementos da cultura; ao Brasil nem sempre foi pacífica. O sequestro humano a que foram
• É responsabilidade dos adultos da escola interferir nas situa- submetidos povos de diversas partes de África e sua escravização em
ções em que um estudante é humilhado, perseguido ou constrangido território brasileiro, assim como as políticas migratórias seletivas, que
por outro colega; subsidiavam a chegada de europeus baseadas em uma política de
• Oferecer ao estudante possibilidades de reparar um dano cau- branqueamento da população, são marcas violentas da história de
sado a um colega é mais eficiente do que punir; nosso país.
• A autorregulação é aprendida, não é uma habilidade humana Sob a perspectiva contemporânea, ao observar a chegada de no-
natural. vas pessoas ao Brasil, de diferentes partes do mundo, devemos nos
• Ensinar é uma ação humana transformadora; questionar se, de fato, todas as culturas são bem acolhidas por aqui.
• Não se pode negar o direito à aprendizagem a quem já teve A partir desse questionamento, o documento “Orientações Pe-
tantos outros direitos negligenciados; dagógicas - Povos Migrantes” nos convida a refletir sobre as nossas
• Negar a diversidade e as diferenças que existem em uma sala práticas enquanto educadoras e educadores que cotidianamente se
de aula é uma forma de exclusão; deparam com as migrações em sala de aula, seja em razão da pre-
• A exclusão fragiliza os vínculos sociais; sença de estudantes de diversas origens ou pela percepção da mo-
• A estigmatização da pobreza gera exclusão; bilidade humana como um fato da realidade ao longo da história da
• Possibilitar que todos se apropriem do conhecimento é a me- humanidade. A proposta é apresentar as migrações internacionais
lhor contribuição que a escola pode dar para o processo de emanci- sob a perspectiva que reconhece a pessoa migrante como sujeito de
pação individual para a transformação social; direitos e nos afastar de estereótipos e preconceitos.
• A educação é um ato civilizatório; Daremos especial atenção ao direito à educação da população
• O direito à educação torna possível o exercício de outros direi- migrante. Direito este que trilhou uma longa trajetória, marcada pela
tos humanos fundamentais e, em consequência, da cidadania; mobilização e luta de diversos setores da sociedade, até o seu pleno
• Ninguém é livre sem acesso ao conhecimento; reconhecimento em diferentes documentos legais. Este documento
• Valorizar os conhecimentos prévios do estudante não significa parte de um direito estabelecido e nos convida a olhar particular-
negar-lhe novos conhecimentos; mente para a forma como o direito à educação se consolida no dia a
• Ensinar não pode ser um ato de opressão; dia das escolas e é exercido por estudantes migrantes. É fundamental
• Aprender nos confere a condição de sujeitos; construir uma estrutura adequada para a permanência desses estu-
• Ninguém merece ser reduzido a sua condição socioeconômica; dantes nas escolas, acolhendo suas especificidades e valorizando as
• Crescer é uma difícil tarefa, mas que ganha forças com o co- culturas e línguas de origem.
nhecimento; Como educadoras e educadores, temos um papel importantíssi-
• Pensar no estudante e em sua integralidade pressupõe investir mo na promoção de direitos à população migrante e, nesse sentido,
em suas múltiplas dimensões; devemos buscar metodologias de aprendizagem que consigam in-
Crianças pobres aprendem, crianças que sofreram violência cluir toda a riqueza que nos é apresentada pela presença de pessoas
aprendem, crianças que vivem em famílias pouco potentes para o de diferentes origens em nossas escolas.
cuidado e proteção aprendem, crianças que vivem em serviços de Ao longo do documento “Orientações Pedagógicas - Povos Mi-
acolhimento institucional aprendem, crianças imigrantes aprendem, grantes” será possível observar que os sujeitos que migram são múl-
crianças com deficiência aprendem quando são colocadas à sua dis- tiplos e diversos. Ao ter contato com tantas histórias em movimento,
posição as condições materiais concretas para a efetivação de suas nos aproximamos de seus sonhos, seus desejos, suas trajetórias, as
aprendizagens. experiências que carregam consigo, os desafios que enfrentam para
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse sair e ao chegar e permanecer, as formas como se entendem na so-
documento completo em: http://www.mpsp.mp.br/ portal/page/ ciedade receptora e como compreendem a realidade onde se inse-
portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_ rem.
produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Vulnera- Na primeira parte, serão apresentados os principais conceitos
bilidade-e-educacao.pdf. que envolvem o tema, com o intuito de oferecer subsídios concei-
tuais para a reflexão sobre as migrações. Nosso ponto de partida é o
entendimento de que somos todas e todos, sem exceções, titulares
SÃO PAULO (SP) SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. de direitos humanos, dentre os quais o direito à educação.
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. POVOS MIGRANTES: Na segunda parte, entraremos pelos portões da escola. Serão
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS. SME/ COPED, 2021. apresentados dados da migração na cidade de São Paulo e na Rede
Municipal de Ensino e, a partir deles, refletiremos sobre uma das pri-
meiras barreiras que parece se impor, a linguística, e sobre o momen-
Sobre Povos Migrantes: orientações didáticas to da matrícula, processo que inaugura o contato e a relação da esco-
Gostaríamos de dar-lhes as boas-vindas à nossa caminhada em la com as e os estudantes migrantes e seus familiares e responsáveis.
meio a conceitos, línguas, culturas e experiências relacionadas às mi- Na terceira parte, passaremos a olhar para a sala de aula. Abor-
grações internacionais. Este documento “Orientações Pedagógicas daremos a necessidade das escolas adotarem uma postura compro-
- Povos Migrantes” nos aproximará das principais discussões sobre metida com uma educação antirracista e não xenofóbica e promove-
a presença, acolhida, convivência e valorização de migrantes interna- rem práticas pedagógicas inclusivas e que valorizem a diversidade.
cionais nas escolas de nossa cidade15. A apresentação de experiências de Unidades Educacionais da Rede
nos serve de inspiração e trazem caminhos possíveis para garantir o
acesso pleno à educação da população migrante em nossa cidade.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Na quarta parte, trataremos das redes de apoio que podem auxi- ricos, apresenta-se a trajetória deste conceito no Município de São
liar as escolas no processo de se reinventar. As parcerias nos mostram Paulo. Em seguida o documento propõe, potencializa e redimensiona
que não estamos sozinhos e que podemos contar com o apoio de diretrizes para o fortalecimento da implementação desta concepção
diferentes atores nesta caminhada. (ou concepções) bem como da Política São Paulo Educadora. O últi-
Cada parte do documento “Orientações Pedagógicas - Povos Mi- mo capítulo tratará da Avaliação da e na Educação Integral.
grantes” é finalizada com propostas de reflexão sobre o campo mi- Deste modo, as publicações produzidas neste contexto, possibili-
gratório. A ideia é que o movimento de pessoas pelo mundo mobilize tarão um diálogo mais direto sobre os avanços, os desafios e as ações
em nós a vontade de nos aproximar e aprender com novas formas que se realizam para que a Educação Integral, independentemente da
de viver e que nos estimule ao movimento. Teremos sempre um tes- jornada expandida ou regular, aconteça nas Unidades Educacionais
temunho na seção Tantas formas de viver e sugestões de atividades do Município (CEIs, CEMEIs, EMEBS, EMEIs, EMEFs, EMEFMs, CIEJAs
chamadas e CECIs). Com relação, especificamente, ao Programa São Paulo Inte-
Para praticar o movimento. Ao final, na seção Para aprofundar-se gral, vigente na Rede Municipal de Ensino desde 2015, é importante
sobre os temas, indicamos sugestões de leituras complementares e destacar que este é parte da Política São Paulo Educadora, Meta 14,
sites interessantes. Projeto 25, a constar no Plano de Metas do Município (2017-20).
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse Assim, “Fomentar a intersetorialidade consolidando, nos territó-
documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov. rios, o diálogo permanente e ações conjuntas com as Secretarias de
br/wp-content/uploads/2021/06/Curr%C3%ADculo-da-Cidade-Po- Cultura, Esporte, Assistência Social, Saúde, Verde e Meio Ambiente,
vos-Migrantes-WEB.pdf, Direitos Humanos e Cidadania, Mobilidade e Transportes, Urbanismo
e Licenciamento, Segurança Urbana, entre outras, assim como com
as organizações da sociedade civil”1 é parte das ações para que seja
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. atingido o Ideb de 6,5 nos anos iniciais do Ensino Fundamental e de
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. EDUCAÇÃO INTEGRAL: 5,8 nos anos finais do Ensino Fundamental.
POLÍTICA SÃO PAULO EDUCADORA. – SÃO PAULO: SME/ Todavia, a implementação e a compreensão da concepção de
COPED, 2020. Educação Integral em uma rede de ensino implica, diretamente, em
uma nova maneira de se pensar o currículo desde sua formulação
até o trabalho pedagógico em sala de aula. Trata-se de uma proposta
bastante desafiadora, pois possibilita aos educadores e a toda a co-
Sobre Educação Integral: política São Paulo educadora munidade escolar repensar sobre como o trabalho pedagógico pode
Ao longo do processo de elaboração do documento, partiu-se de dialogar
conceituações contemporâneas da Educação Integral e de suas diver- com os diferentes contextos sociais, políticos, econômicos e cul-
sas formas de atendimento16. turais dos diferentes territórios da cidade.
A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo tem como É preciso reconhecer a potencialidade dos territórios enquanto
premissa a Educação Integral. O Currículo da Cidade, em todas as espaços educativos e construir aprendizagens significativas, em que
suas etapas, modalidades e formas de atendimento, orienta-se pela os estudantes sejam, de fato, reconhecidos como sujeitos da própria
Educação Integral entendida como aquela que promove o desenvol- aprendizagem. Por reconhecer o quão é complexa a concepção e im-
vimento dos estudantes em todas as suas dimensões (intelectual, fí- plementação da Educação Integral é imprescindível o amplo diálogo,
sica, social, emocional e cultural) como parte indissociável do proces- a escuta e a participação dos educadores, a comunidade escolar e
so de aprendizagem ao longo da vida e sua formação como sujeitos equipes da Secretaria Municipal de Educação.
de direitos e deveres, comprometida com o exercício da cidadania. Todas as concepções e práticas pedagógicas dos territórios edu-
Trata-se não de uma modalidade, mas uma concepção política, um cativos, as publicações, o resgate histórico, entre outros, referencia-
paradigma urgente, necessário e possível para a qualidade social em dos neste documento devem inspirar e provocar, os sujeitos históri-
educação na nossa cidade. Uma abordagem pedagógica voltada ao cos do processo de aprendizagem, instigando-os, de fato, para uma
desenvolvimento dos bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos transformação na forma de pensar e agir de todos os atores partici-
na perspectiva da Cidade Educadora. pantes da educação. É imprescindível o estudo e o debate constante
Essa concepção, no entanto, não se confunde com Educação em entre todos de maneira a se observar os problemas e os avanços ao
tempo integral e pode ser incorporada tanto pelas Unidades Educa- longo do processo na perspectiva da Educação Integral.
cionais de período regular de cinco horas, quanto pelas de período A política pública de Educação Integral na Cidade de São Paulo é
ampliado de sete horas. Ela não se define pelo tempo de permanên- fruto de uma longa história que vem se construindo.
cia, mas pela qualidade da proposta curricular, que supera a frag- Nas três últimas décadas, o debate acadêmico sobre Educação
mentação e o foco único em conteúdos abstratos. Na perspectiva da Integral tem envolvido sociólogos, filósofos, historiadores e pedago-
multidimensionalidade, as propostas pedagógicas devem se organi- gos, entre outros estudiosos preocupados em compreender os pro-
zar organicamente de maneira a reconhecer e valorizar as singulari- blemas e apontar possíveis soluções para melhorar a qualidade edu-
dades, a diversidade social, cultural, de gênero, religiosa, territorial, cacional e formativa do conhecimento construído na escola do Brasil.
socioeconômica e linguística. Propôs-se que, a partir desta, algumas Nestes quase 30 anos, a agenda da Educação Integral seguiu re-
publicações fossem referenciadas de modo a se recuperar, historica- sistindo nas ações e fazeres pedagógicos em muitas Unidades Educa-
mente, como foi se constituindo a concepção de Educação Integral cionais, pautando e materializando-se em Programas da Secretaria
no contexto brasileiro e no Município de São Paulo. Municipal de Educação, indutores de projetos integrados entre Uni-
Assim, serão apresentadas, além das concepções e conceitos dade Educacional, comunidade e território para o pleno desenvolvi-
da Educação Integral do Currículo da Cidade de São Paulo, as com- mento dos bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos, indepen-
preensões históricas deste processo no Brasil, das bases legais que dentemente do tempo expandido da jornada escolar.
amparam políticas públicas de Educação Integral e da importância Este documento é, sobretudo, um convite aos profissionais da
da formação integral das crianças no século XXI, de modo a integrar Rede Municipal de Ensino de São Paulo para seguirem um processo
saberes e educar para transformar. Após toda a contextualização con- de reflexão coletiva no que se refere aos melhores caminhos para
temporânea e o resgate histórico com seus diversos referenciais teó- planejar, avaliar e articular um trabalho integrado e integrador.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse Por isso, consideramos que a Orientação Normativa Nº 01/2013
documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov. – Avaliação na Educação Infantil: aprimorando os olhares é um im-
br/wp-content/uploads/2021/02/Educacao_Integral.pdf. portante objeto de estudo e reflexão para as educadoras e os educa-
dores da Rede Municipal de Ensino com foco na construção do tra-
balho pedagógico de maneira a respeitar e considerar a pluralidade
SÃO PAULO (SP). ORIENTAÇÃO NORMATIVA Nº 01: das comunidades e as singularidades dos contextos educacionais dos
AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: APRIMORANDO OS quais os bebês, as crianças, suas famílias e os profissionais das unida-
OLHARES. SÃO PAULO: SME / DOT, 2014. des são os autores da construção desse projeto educacional em um
movimento de interlocução entre esses atores sociais.
As proposituras apresentadas nesse documento são fundamen-
Sobre Orientação normativa nº 01: avaliação na educação in- tais e enriquecedoras para transformação do trabalho pedagógico
fantil: aprimorando os olhares. para e com a infância na cidade de São Paulo. Como marco na his-
A Rede Municipal de Ensino de São Paulo – RMESP, com a im- tória desta etapa da educação básica na rede, inaugura um tempo
plantação do Programa Mais Educação São Paulo - Reorganização de fortalecimento e consolidação de concepções que consideram as
Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede crianças o centro do Projeto Político Pedagógico.
Municipal de Ensino, ao estabelecer os princípios da Reorganização *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
da Educação Infantil Paulistana, apresenta significativos avanços com documento completo em: https://www.sinesp.org.br/ images/1_-_
relação às concepções de criança, infância e educação infantil, in- ORIENTACAO_NORMATIVA_01_2013_AVALIACAO_ NA_EDUCACAO_
cluindo a avaliação no bojo dessa outra forma de “olhar” as crianças INFANTIL_APRIMORANDO_OS_OLHARES.pdf
no cotidiano das Unidades Educacionais de Educação Infantil17.
Tal “olhar” vem sendo aprimorado de maneira democrática, co-
legiada e dialógica na interlocução entre SME DOT/ Educação Infantil
e representantes das equipes das Diretorias de Orientação Técnico- SÃO PAULO (SP). ORIENTAÇÃO NORMATIVA DE REGISTROS
-Pedagógicas – DOT-P das Diretorias Regionais de Educação – DRE e NA EDUCAÇÃO INFANTIL. SÃO PAULO: SME / COPED, 2020.
representantes da Super visão para a construção de uma pedagogia
da e com a infância e de um currículo integrador para a educação
infantil paulistana ao longo dos encontros formativos - “Diálogos para Sobre Orientação Normativa de registros na Educação Infantil
a construção do currículo da infância paulistana”. Esta publicação cumpre com dois papéis, complementares e in-
Como parte da beleza desse diálogo, no ano de 2013 foi consti- terligados, o primeiro de dar publicidade à Normativa de Registro, o
tuído o Grupo de Trabalho Avaliação na educação infantil – GT Avalia- segundo de indicar possibilidades que algumas Unidades Educacio-
ção, para a elaboração da Orientação Normativa Nº 01/2013 – Avalia- nais foram realizando ao longo destes anos18.
ção na Educação Infantil: aprimorando os olhares, que tem o objetivo Reconhecemos que a meta final de todo registro da Educação In-
de apoiar o trabalho das Unidades Educacionais de Educação Infantil fantil seja transformar ou subsidiar uma Documentação Pedagógica,
da rede no contínuo aprimoramento das concepções que fundamen- porém não são todas as Unidades que possuem no seu cotidiano a
tam suas práticas pedagógicas. estratégia de produzir registros. A Normativa assume a responsabi-
O documento elaborado pelo GT apresenta reflexões sobre Con- lidade de indicar caminhos, ao longo dela será possível ver trechos
cepção de Educação Infantil, de Criança e Infância, de Currículo, Perfil e fotos de como algumas de nossas Unidades materializaram seus
do Educador(a) da Infância, Participação da Família, Projeto Político percursos.
Pedagógico, Contextualizando a Avaliação na Educação Infantil, Ava- Deixamos dois alertas, o primeiro: não existe certo ou errado
liando o Processo de Aprendizagem e Desenvolvimento da criança, quando estamos falando de uma construção coletiva de registros, o
Avaliação Institucional, Articulação da Educação Infantil com o Ensino que precisa existir é o desejo de coletivamente alcançarmos as me-
Fundamental, Registrando o Processo de Avaliação e Expedindo Do- lhores estratégias, e que esta seja significativa para o corpo docente,
cumentação Educacional. Cada um desses itens defende a ideia de gestores, para os bebês e crianças e seus responsáveis/familiares. O
criança potente, criativa, inventiva, sujeito de direitos que se consti- segundo: não é possível alcançar a excelência no fazer docente sem
tui no tempo e no espaço social, e que a partir de seu modo próprio ter registros sistematizados. Quanto mais sistematizado e coletiva-
de ver e compreender o mundo produz as culturas infantis. mente forem construídos os registros, maiores serão as possibilida-
Além de tratar sobre a avaliação na educação infantil, a Orien- des de haver uma transformação intencional do fazer docente.
tação Normativa Nº 01/2013 – Avaliação na Educação Infantil: apri- Por fim, todo registro merece uma curadoria e uma devolutiva.
morando os olhares traz subsídios para a construção de um currículo Ao realizar estes atos, iremos ao encontro da documentação pedagó-
integrador que rompa com a cisão entre: o CEI e a EMEI, a EMEI e gica, não há sentido em pedir um registro docente sem a gestão efe-
a EMEF, o brincar e o aprender, o corpo e a mente, a Unidade Edu- tivar uma devolutiva. O mesmo se espera para as produções infantis
cacional e a Família, o Currículo e o Projeto Político Pedagógico, a e para as comunicações aos responsáveis.
prática pedagógica e a avaliação, os adultos e as crianças, a cidade e Destacamos, ao longo da Normativa, trechos do Currículo da Ci-
as infâncias. Esse caráter integrador do currículo para a infância traz dade: Educação Infantil, pois os princípios que emanam deste docu-
a avaliação como parte fundamental do trabalho político pedagógico. mento perpassam toda a Normativa.
Reafirma a relevância de considerar que a infância não se encer- Recomendamos que façam muitas leituras coletivas deste mate-
ra aos cinco anos e onze meses de idade, e que a criança continua rial, construam coletivamente respostas e proposições aos itens indi-
potente e criativa ao ingressar no ensino fundamental. cados e, acima de tudo, assumam uma forma de registrar os fazeres
Tal documento configura a educação infantil como território pri- docentes, gestores, infantis e comunitários, em busca de uma inten-
vilegiado dessa infância e, o(a) educador(a) como responsável pela cionalidade que respeite e reflita acerca do que seja melhor para os
construção do cenário para a criação infantil e, por possibilitar às bebês e crianças da Cidade de São Paulo.
crianças múltiplas experiências sobre o mundo e sobre as coisas sem Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
deixar de serem crianças. documento completo em: https://educacao.sme. prefeitura.sp.gov.
br/wp-content/uploads/2020/12/ON-Registros-Digital.pdf.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Este documento representa, como nos aponta Bondioli (2003), a
SÃO PAULO (SP). INDICADORES DE QUALIDADE DA compreensão de que a Qualidade não é um valor absoluto, não é um
EDUCAÇÃO INFANTIL PAULISTANA. SÃO PAULO: SME / produto, não é um dado, mas sim se constrói, através da consciência,
DOT, 2016. da troca de saberes, do confronto construtivo de pontos de vista, do
hábito de pactuar e examinar a realidade, da capacidade de cooperar
para aspectos da “transformação para melhor”.
Os INDICADORES DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL PAU-
Sobre Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana LISTANA inauguram uma nova maneira na compreensão e na prática
É com muita alegria que apresentamos o documento INDICA- da avaliação e precisam estar constantemente presentes no fazer pe-
DORES DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL PAULISTANA, que dagógico.
dialoga com os demais documentos publicados pela Secretaria Mu- *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
nicipal de Educação - SME, em especial com a Orientação Normativa documento completo em: https://www.sinesp.org.br/ images/9_-_
nº 01/2013 Avaliação na Educação Infantil: aprimorando os olhares INDICADORES_DE_QUALIDADE_NA_EDUCACAO_ INFANTIL_PAULIS-
e a Orientação Normativa nº 01/2015 Padrões Básicos de Qualidade TANA.pdf.
na Educação Infantil Paulistana, todos na perspectiva da construção
de uma política pública de Educação Infantil que busca a garantia dos
direitos dos bebês e crianças19.
O presente documento é fruto de um diálogo intenso e da escuta SÃO PAULO (SP). CURRÍCULO INTEGRADOR DA INFÂNCIA
da Rede Municipal de Ensino em parceria com o Grupo de Trabalho PAULISTANA. SÃO PAULO: SME/DOT, 2015.
- GT de escrita composto por representantes das 13 Diretorias Re-
gionais de Educação - DREs, Equipes da DOT-P das DREs, Diretores
de Escola, Professores, Coordenadores Pedagógicos, Assistentes de Sobre Currículo integrador da infância paulistana
Diretor, Supervisores Escolares que acompanham as ações da Edu- A DOT – Educação Infantil e Ensino Fundamental e Médio vêm
cação Infantil. trabalhando na construção de uma pedagogia que oriente a Rede
Municipal de Ensino de São Paulo quanto às concepções que emba-
A articulação do GT de escrita, o diálogo com a Rede por meio sam a implantação do Currículo Integrador da Infância Paulistana20.
dos Seminários (2013, 2014, 2015) e a devolutiva das Unidades Edu- Esta proposta está anunciada em vários documentos já publi-
cacionais – UEs após a utilização do instrumento de autoavaliação no cados pela Secretaria Municipal de Educação (SME), dentre eles as
ano de 2015 tiveram como objetivo a elaboração conjunta dos Indica- Diretrizes contidas no Programa de Reorganização Curricular “Mais
dores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana, que se propõem Educação São Paulo” – Reorganização Curricular e Administrativa,
a auxiliar as Unidades de Educação Infantil no cuidadoso olhar sobre Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal de Ensino de São
suas práticas. Paulo e a Orientação Normativa nº 01/13 – Avaliação na Educação
Esse processo se constituiu em diferentes momentos, ora in- Infantil: aprimorando os olhares.
cluindo todas as Unidades de Educação Infantil da Rede Municipal de O presente documento é fruto de ampla discussão e construção
Ensino, ora nas discussões com o GT de escrita. coletiva. Num primeiro momento com as equipes das Diretorias de
Todos eles podem ser considerados como momentos de forma- Orientação Técnica das Diretorias Regionais de Educação (DREs) e,
ção que permitiram reflexão e diálogo sobre as concepções, práticas posteriormente, com as equipes das Unidades Educacionais (UEs),
e contextos em que elas se dão, sempre na perspectiva da busca da quando foram realizados treze Seminários Regionais, um em cada
Qualidade Social da Educação Infantil. DRE.
Nesse momento em que a Educação Infantil na Cidade de São Os Seminários tinham como objetivo proporcionar momentos
Paulo completa 80 anos de trajetória, o documento Indicadores de de reflexões, discussões e debates sobre as cisões históricas entre o
Qualidade da Educação Infantil Paulistana representa um grande ga- Centro de Educação Infantil (CEI) e a Escola Municipal de Educação In-
nho para a Rede Municipal de Ensino ao propor a construção de uma fantil (EMEI) e destes com o Ensino Fundamental, rupturas estas que
cultura de Autoavaliação Institucional Participativa que contempla o distanciam e, por vezes, antagonizam as propostas pedagógicas da
envolvimento de todos os atores que integram as práticas educati- Educação Infantil e do Ensino Fundamental, tais como a cisão entre
vas nas Unidades de Educação Infantil: bebês, crianças, suas famílias o corpo e a mente, a razão e a fantasia, as concepções e as práticas
e responsáveis, docentes, gestoras e gestores, demais educadoras e pedagógicas, o brincar e o aprender, o tempo/ ritmo das crianças e o
educadores e a própria Secretaria Municipal de Educação. tempo institucional.
A prática de uma Autoavaliação Institucional Participativa cola- Apresentamos o documento “Currículo Integrador da Infância
bora para o fortalecimento da gestão democrática intensificando os Paulistana” como subsídio para os momentos de estudo coletivo dos
diálogos entre as Unidades Educacionais, famílias/responsáveis, co- educadores e educadoras de ambas as etapas da Educação Básica,
munidade e destas com as DREs e SME. com o intuito de promover reflexões sobre as práticas pedagógicas
Acreditamos que a prática da Autoavaliação Institucional Partici- com vistas a um processo de transição
pativa, por meio do uso dos Indicadores de Qualidade da Educação da Educação Infantil para o Ensino Fundamental que articule os
Infantil Paulistana, provoca a busca de transformações para garantir trabalhos desenvolvidos nas duas etapas.
o direito à Educação Infantil pública de Qualidade Social a todos os Integrar, nesse caso, não significa desconsiderar diferenças en-
bebês e crianças que vivem suas infâncias nas Unidades de Educação tre os objetivos e direitos de aprendizagem de cada etapa/segmento,
Infantil da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, que se configura mas sim, garantir que as concepções, ações e registros considerem
hoje umas das maiores Redes de Educação Pública da América Latina. bebês e crianças reais em sua inteireza e potencialidade tanto na
Agradecemos a colaboração de todas as Unidades de Educação Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental.
Infantil que enviaram suas contribuições e de todos os atores que
integram a Rede Municipal de Ensino, que direta ou indiretamente
colaboraram com essa construção.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Afirmar que crianças e bebês são o eixo do trabalho pedagógico A sua “indissociabilidade” é o que inspira e justifica a escrita
significa valorizar e compreender as especificidades e diversidades deste documento, que reforça a importância dos momentos que
dos conceitos de infância e de criança, assim como a importância de envolvem a alimentação dos bebês e das crianças no cotidiano das
que os direitos de bebês e crianças balizem seu percurso nas institui- unidades de educação infantil. Defende-se, assim, que os momentos
ções educacionais da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. de alimentação são também pedagógicos quando as crianças apren-
Esperamos que o conteúdo deste documento provoque ações dem, interagem e expressam-se.
que transformem desde o currículo, compreendido como um ins- Dessa maneira, constituiu-se, em abril de 2019, um Grupo de
trumento vivo, até a criação de espaços adequados tanto nas salas, Trabalho composto por diferentes segmentos presentes nas UEs e
quanto nas áreas externas, além de práticas que valorizem as intera- Divisões Pedagógicas (DIPEDs) das Diretorias Regionais de Educação
ções entre bebês e crianças, facilitando a criação das culturas infantis. (DREs), equipe da DIEI e equipe/ nutricionistas da CODAE, conforme
A criança tem direito de prosseguir seus estudos, aprofundando Portaria 4.928/2019, DOC 11/06/19, p.14, com o intuito de abordar
seu acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, sem aban- vários temas referentes à alimentação dos bebês e crianças pequenas
donar suas infâncias. Esses podem ser dois dos principais ganhos des- na Educação Infantil.
sa integração. As considerações e proposições sobre a alimentação, descritas
Sendo um processo de reflexão e construção, o currículo integra- no presente material, têm origem na experiência da Rede Munici-
dor para a infância paulistana está em construção como obra coletiva, pal de Ensino de São Paulo (RME-SP) por diferentes atores: bebês e
aberta à participação e à autoria dos educadores e das educadoras crianças, professoras(es), coordenadoras(es), diretoras(es), equipe
da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, dos bebês, crianças, de apoio, supervisoras(es) e nutricionistas dos Centros de Educação
de suas famílias/responsáveis e comunidade. Configura-se como um Infantil (CEIs) Diretos e Parceiros, Escolas Municipais de Educação
movimento de reorientação curricular que considera a integralidade Infantil (EMEIs), Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) e
dos sujeitos e do processo educativo, o lugar da cultura e o papel da Escolas Municipais de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS), assim
educação escolar no processo de formação da pessoa, o protagonis- como nas especificidades dos Centros de Educação e Culturas Indíge-
mo e a autoria de bebês e crianças, o reconhecimento das diversida- nas – Centros de Educação Infantil Indígena (CECIs/CEIIs) e Centro de
des, a valorização das diferenças e o compromisso com a igualdade. Recuperação e Educação Nutricional (CREN).
Desejamos a todos e todas um excelente trabalho na construção Entre abril e outubro de 2019, foram realizadas visitas em várias
de um Currículo Integrador da Infância Paulistana em que bebês e unidades de Educação Infantil da rede direta e parceira com a finali-
crianças possam viver suas infâncias na plenitude. dade de conhecer como as equipes estavam lidando com os momen-
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse tos de alimentação, no que se refere aos espaços, tempos, materiali-
documento completo em: https://www.sinesp.org.br/ images/28_-_ dades e interações, em consonância com as concepções e princípios
CURRICULO_INTEGRADOR_DA_INFANCIA_PAULISTANA.pdf que embasam o Currículo da Cidade da Educação Infantil (2019). As
informações colhidas sobre as práticas de alimentação durante as vi-
sitas, por serem potentes, corroboraram com a inclusão de relatos de
SÃO PAULO (SP). ORIENTAÇÃO NORMATIVA DE EDUCAÇÃO práticas neste documento.
ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL. Em setembro de 2019, foi compartilhada a primeira versão des-
SÃO PAULO: SME / COPED / CODAE, 2020. te documento para a apreciação e contribuições de DREs: DIPEDs e
Supervisores Escolares; Nutricionistas da CODAE; Divisão da COPED:
Educação Integral e Educação Especial (DIEE); membros do Conse-
Sobre Orientação Normativa de educação alimentar e nutricio- lho de Alimentação Escolar (CAE). As assessoras da SME/COPED/DIEI
nal para Educação Infantil Profª. Msa. Maria Helena Pelizon e Profª. Drª. Eliana Bhering contri-
A Secretaria Municipal de Educação (SME) apresenta a Orienta- buíram com aporte teórico e revisão do documento. Em dezembro de
ção Normativa de Educação Alimentar e Nutricional para Educação 2019, o presente documento foi submetido à apreciação do Conselho
Infantil como resultado do trabalho coletivo que envolve a concep- Municipal de Educação.
ção, escrita e publicação de duas Coordenadorias: a Coordenadoria Esta Orientação Normativa estabelece as diretrizes para alimen-
Pedagógica – Divisão da Educação Infantil (COPED-DIEI), e a Coorde- tação na Educação Infantil e determina o que precisa ser assegurado
nadoria de Alimentação Escolar (CODAE)21. para que tempos, espaços, materialidades, interações, escuta, obser-
A Alimentação Escolar na cidade de São Paulo é considerada vação e registros sejam considerados e revisitados nos momentos de
uma política social de relevância para a saúde pública, sendo dever alimentação enquanto prática social.
do Estado fornecê-la com qualidade para atender ao Direito Huma- Espera-se que a alimentação nas UEs, para além de oferecer os
no à Alimentação Adequada (DHAA)1 de todos os bebês, crianças e alimentos e nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvi-
jovens matriculados na educação básica da rede pública. Perceber e mento saudável dos bebês e das crianças, ofereça conforto, cuidado
respeitar que os bebês e as crianças da Cidade de São Paulo são sujei- e afeto, oportunize experiências positivas e a sociabilidade, desper-
tos de direito é trazer os momentos de refeição também para os ho- te o interesse em sua própria alimentação e proporcione, acima de
rários sociais e envolve refletir sobre os processos e procedimentos tudo, prazer aos bebês, crianças e adultos.
que vêm embasando os nossos fazeres nas Unidades Educacionais Desejamos excelente leitura a todas(os) e que este documento
(UEs) ao longo dos anos. seja inspirador durante as discussões e na materialização de práticas
A alimentação nos espaços educacionais enquanto prática social efetivas e adequadas de educação alimentar e nutricional nas UEs.
pressupõe o reconhecimento de hábitos alimentares e princípios in- *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar esse
trínsecos à educação alimentar e nutricional, como: autonomia, pra- documento completo em: https://www.sinesp.org.br/ 179-saiu-no-
zer, saúde, cultura, diversidade, sustentabilidade. -doc/10269-orientacao-normativa-de-educacao-alimentar-e-nutri-
Além disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação cional-para-educacao-infantil-18-07-2020.
Infantil de 2009, reiterando os direitos das crianças, explicita que o
cuidar e o educar é um binômio indissociável.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
*Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. esse documento completo em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. AVALIAÇÃO NO CON- gov.br/wp-content/uploads/2020/04/Livro_Avaliacao_no_contex-
TEXTO ESCOLAR: VICISSITUDES E DESAFIOS PARA (RES) to_2020.pdf.
SIGNIFICAÇÃO DE CONCEPÇÕES E PRÁTICAS. SÃO PAULO:
SME / COPED, 2020.
SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.
COORDENADORIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE:
Sobre Avaliação no contexto escolar: vicissitudes e desafios CONSIDERAÇÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCA-
para (res)significação de concepções e práticas ÇÃO DE SÃO PAULO. – SÃO PAULO : SME / COPED, 2022
O presente documento, resultado do trabalho de especialistas
em Avaliação Escolar ao longo dos anos de 2018 e 2019, objetiva res-
significar o olhar dos profissionais da Rede Municipal de Ensino de Sobre Currículo da cidade : considerações do Conselho Munici-
São Paulo (RME/SP) sobre a avaliação educacional em suas diferentes pal de Educação de São Paulo
vertentes – avaliação da aprendizagem, avaliação externa e em larga Trata o presente de manifestação deste Conselho, a partir de so-
escala e avaliação institucional – igualmente responsáveis pela pro- licitação da Secretaria Municipal de Educação, por meio do processo
moção do trabalho escolar22. SEI 6016.2020/0071275-5, de apreciação do Currículo da Cidade.
Processo contínuo para a obtenção de informações, análises e in- Este documento destaca dimensões que embasam a elaboração
terpretações da ação educativa, a Secretaria Municipal de Educação do Currículo da Cidade e, na visão dos Conselheiros, constituem um
de São Paulo (SME/SP) tem dedicado especial cuidado ao tema desde currículo integrador, emancipatório e inovador, que tem como foco
o início dos anos 90, quando é implantado o Regimento Comum das promover a formação que zela pelo direito às aprendizagens e ao
Escolas Municipais de São Paulo e, a partir deste documento, o con- desenvolvimento dos bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos
ceito de avaliação passa a ser entendido como atividade subsidiária matriculados nas Unidades Educacionais do Município.
ao planejamento e gestão, abarcando também aspectos administra- As dimensões destacadas do Currículo foram representadas por
tivos e pedagógicos. Desse modo, o novo conceito visa à ampliação textos e mapas conceituais/imagéticos, que se apresentam de forma
da ideia ora vigente na medida em que propõe, à ação avaliativa, o articulada visando compartilhar as estratégias de análise dos Con-
fornecimento de elementos para análise, replanejamento e aprimo- selheiros e contribuir com os educadores para a construção de seus
ramento nas unidades educacionais. percursos de estudo e aprofundamento sobre o Currículo da Cidade.
E, ainda ao final da mesma década, é pautado debate sobre O processo de atualização curricular, com início em março de
avaliação institucional, com o intuito de promover a educação, criar 2017, ocorreu, na Secretaria Municipal de Educação, de modo conco-
um canal de atuação participativa e conseguir observar as múltiplas mitante à discussão, em nosso país, da Base Nacional Comum Curri-
dimensões do trabalho escolar. No ano de 2013, é formalizada a im- cular – BNCC, que define as aprendizagens essenciais a que todos os
plantação da avaliação institucional nas unidades de Ensino Infantil educandos têm direito ao longo da Educação Básica.
da cidade de São Paulo, culminando, em 2016, com a elaboração dos O Currículo da Cidade, resultado desse processo, envolvendo
Indicadores de Qualidade da Educação Infantil Paulistana, instrumen- diferentes segmentos da comunidade educativa, incluindo, além da
to de autoavaliação institucional participativa. Para os Ensinos Funda- equipe educacional, estudantes e responsáveis, técnicos e pesquisa-
mental e Médio, recomenda-se que este tipo de avaliação seja feita dores da área, é o foco deste estudo do Conselho.
com a participação da comunidade educativa e dos sujeitos do seu *Candidato(a). Caso tenha o interesse, você pode encontrar
território, levando em consideração, além de outras fontes, o docu- esse documento completo em: https://acervodigital.sme. prefeitura.
mento Indicadores de Qualidade na Educação da RME/SP. sp.gov.br/wp-content/uploads/2022/06/Parecer-Curriculo-da-Cida-
Instituído no ano de 2005, o Sistema de Avaliação do Aproveita- de-_CME.pdf.
mento Escolar dos Alunos da Rede Municipal de Ensino de São Paulo
fez com que as avaliações externas em larga escala passassem a in-
tegrar as normativizações da avaliação educacional em nossa rede. BARBOSA, MARIA CARMEM SILVEIRA; FARIA, ANA LUCIA
Em diferentes componentes curriculares, o instrumento objetivava GOULART DE; MELLO, SUELY AMARAL. DOCUMENTAÇÃO
não somente avaliar o desempenho dos estudantes do Ensino Fun- PEDAGÓGICA: TEORIA E PRÁTICA. SÃO CARLOS, SP: PEDRO
damental, mas também reconduzir políticas educacionais – apoiando & JOÃO EDITORES, 2017.
equipes técnico-pedagógicas das Coordenadorias de Ensino e profis-
sionais atuantes nas escolas – a fim de que fossem estabelecidas me-
tas para o Projeto Político Pedagógico de cada unidade e atividades O conceito de documentação pedagógica emerge em nosso ce-
complementares aos estudantes que apresentassem dificuldade de nário especialmente a partir da divulgação da experiência italiana
aprendizagem. para a Educação Infantil, notadamente aquela desenvolvida na ci-
Portanto, passadas três décadas, preocupação e cuidado com as dade de Reggio Emilia, coordenada pelo pedagogo Loris Malaguzzi.
avaliações educacionais se mantêm nesta Rede de Ensino. Buscando Tem como foco a ideia de sistematização de percursos, elaboração da
contínuo aprimoramento por meio do diagnóstico da situação e das experiência e comunicação. Relatos de situações, fotografias, produ-
condições de aprendizagem dos estudantes, debates sobre concep- ções das crianças constituem material para a documentação, que im-
ções e práticas avaliativas, reflexões sobre sucesso e fracasso dos es- plica seleção, organização e elaboração de registros. Destaque para a
tudantes e da escola, em face ao que tangenciam essas práticas, acre- existência de diferentes modalidades de documentação, a depender
dita-se que este trabalho será de enorme valia na medida em que de objetos, objetivos e destinatários: a documentação pode incidir
mobilizará os conhecimentos e visões que os profissionais da RME/ mais diretamente sobre a criança em seu processo de pensamento,
SP já têm e fomentará análises sobre as mesmas, motivando a cons- ou sobre o projeto pedagógico da escola; pode-se documentar para
trução de propostas, repensando práticas avaliativas e buscando no- as crianças (e com elas), para as famílias, ou para os próprios profes-
vas intervenções para uma educação democrática, inclusiva e cidadã. sores (BRESCI et al, 2007).

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Em síntese: o registro que o educador faz sobre o seu trabalho transformar hábitos de pensamento e ação, tão arraigados na escola,
pode ser um instrumento da documentação, entendida como um que incidem na exclusão das crianças (dentro ou fora da escola) ou na
processo mais amplo de sistematização e construção de memória sua medicalização e na transformação da docência numa profissão
sobre o trabalho pedagógico, sobre o processo de desenvolvimen- da repetição, da cópia, do fazer sempre o mesmo e não da invenção
to da criança, sobre a trajetória de um grupo ou de uma escola. A e da criação.
documentação pode estar a serviço do educador (na reflexão sobre E a segunda questão é a da abordagem da didática. O século
a prática, na avaliação do processo de aprendizagem das crianças, vinte construiu uma didática sequencial, linear, onde cada um dos
no planejamento, contribuindo para seu processo de formação e de- elementos tem seu lugar na estrutura da organização do trabalho pe-
senvolvimento profissional e melhoria da ação), das crianças (quando dagógico. Começamos qualquer trabalho pedagógico com o planeja-
elaboram seu portfólio de aprendizagem, selecionando produções, mento estabelecendo objetivos, definindo os conteúdos, estratégias,
imagens, textos que irão compor o documento, construindo, junto avaliando o produto final, na década de 70, foi introduzido o fee-
com o educador, a memória de seu percurso de formação), e dos pais dback para mostrar certo movimento de retorno. Retornamos para
(como instrumento de acesso ao trabalho pedagógico desenvolvido começar na mesma ordem. Há uma sequência e independência entre
pela escola e à trajetória da criança naquele grupo). os elementos que compõe a didática assim como o poder do plane-
À luz da bibliografa italiana, a documentação enquanto área de jamento e da decisão está centrada, especificamente, no/a docente.
conhecimento pode ser entendida como uma atividade de elabo- A documentação pedagógica cumpre o papel de uma outra for-
ração, comunicação, pesquisa e difusão de documentos (BISOGNO, ma de organização do trabalho pedagógico. Menos formal, não li-
1980). A documentação implica as ações de organização e circulação near, mais interativa. A Documentação Pedagógica não é apenas uma
de informações (BIONDI, 1998), com vistas à socialização de saberes “novidade” na pedagogia. Ela pode ser incluída no longo percurso
(DI PASQUALE, 2001). Pasquale (2002) caracteriza a documentação histórico das pedagogias progressistas constituindo uma ruptura no
como recuperação, escuta e reelaboração da experiência por meio modo como se realiza a didática hegemônica. A documentação peda-
da narração de um percurso e da explicitação de pressupostos das gógica é um processo que inclui:
escolhas realizadas. • Vários atores e não apenas o/a professor/a no processo de re-
A documentação pode ser considerada práxis reflexiva sobre o flexão, planejamento e decisão sobre os rumos educativo, portanto
projeto e sobre a vivência, processo ligado à programação e à ava- incita a mudança em algumas regras relativas aos lugares do poder ao
liação, à experiência, mas dotado de especificidades: a documenta- propor o diálogo com as famílias e a comunidade;
ção não é o projeto, nem a experiência; é algo além, a elaboração da • Inclui a permanente escuta, observação, registro e comparti-
experiência que faz emergir o sentido do vivido, o conhecimento do lhamento do acontecido exigindo, permanente, a reflexão participa-
processo e o referencial teórico-metodológico da ação. Documenta- tiva;
ção não apenas como narração, mas como explicitação de conceitos- • O valor dado aos processos é tão grande quanto aquele desti-
-chave, escolhas metodológicas, em síntese, um processo de reflexão nado ao produto final. Se é que o produto final será, efetivamente,
sobre a prática e de formação contínua. avaliado como tal;
Não apenas os educadores produzem documentação, mas tam- • O processo a ser realizado é continuamente planejado, exe-
bém as crianças o fazem como forma de construir memória de suas cutado e replanejado de acordo com sua significância. As trajetórias
experiências e apropriar-se de seu processo de aprendizagem. A do- podem mudar e a singularidade de cada um tem lugar num processo
cumentação produzida pelo corpo docente, por sua vez, pode ser coletivo;
endereçada às famílias (como forma de conferir publicidade e visi- • O sentido das ações realizadas na escola é fundamental; todas
bilidade ao trabalho pedagógico), a outros educadores, ou à própria as aprendizagens precisam ser contextualizadas e significativas;
equipe, enquanto instrumento de planejamento e avaliação da ação. • Há um compromisso social, histórico e singular com a seleção
Temos, portanto, neste livro, uma polifonia de vozes que não do trabalho pedagógico, o tempo das crianças e dos/ as professores/
apenas são investigativas em seus modos de compreender as crian- as tem muito valor.
ças, a pedagogia e a escola, como também são muito propositivas. • Os processos pedagógicos formam as crianças como sujeitos e
Este é um livro com caráter de iniciação a um mundo da pedagogia estudantes bem como os professores e as professoras como sujeitos
que muito nos orgulha, pois trata, com muito respeito, da escolha e profissionais;
profissional que fizemos e nos convida a seguir trabalhando, investi- • A experiência educacional constrói história pessoal e social,
gando nossa atividade profissional, uma profissão ainda nova e pou- memória e possibilita a escolha de percursos de vida individual e em
co valorizada no mundo da educação. O texto fala de uma pedagogia comum.
do dia a dia, que se constrói a partir das ações e das práticas cotidia- Constituir no campo da didática uma virada, que desloque o eixo
nas , do seu registro, da análise e da reflexão que se faz a partir deste por onde se constitui toda a pedagogia escolar parece ser um gran-
cotidiano que transborda vitalidade, alegria e memória. de desafio para o qual nos aponta a Documentação Pedagógica. Um
Uma outra pedagogia, uma pedagogia que cria vida, onde teo- convite. Um convite para repensar aprendizagem, pratica docente,
ria e prática não se separam, assim como o saber e a experiência, o função social da escola e muitos outros temas que fazem parte de
pensar e o fazer, o viver e o narrar. Esperamos que gostem tanto dele nosso dia a dia educacional.
quanto nós e que suas indicações possam contribuir para a constitui- Por Amanda Cristina Teagno Lopes Marques
ção de pedagogias democráticas, participativas e contextualizadas.
Além disto, cremos que o livro também toca em duas importantes
temáticas educativas, uma delas é da formação continuada dos pro-
fessores e professoras. É certo que na formação inicial de professo-
res/as sempre ficam lacunas, aprender junto aos colegas, organizar
grupos de estudos, fazer pesquisa na escola é o modo mais adequado
de construir novas pedagogias.
As universidades, centros de pesquisa, secretarias de educação
são pontos de apoio, mas sem professores/ as desejosos/as de apren-
der, de investigar, de criar novas abordagens educativas não há como
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ção do volume apresenta diálogo intergeracional e de múltiplas expe-
CIPPITELLI, ALEJANDRA; DUBOVIK, ALEJANDRA. CONS- riências: autoras e autor partem de particularidades de cada trajeto
TRUÇÃO E CONSTRUTIVIDADE: MATERIAIS NATURAIS E acadêmico e apresentam a diversidade de saberes que envolvem a
ARTIFICIAIS NOS JOGOS DE CONSTRUÇÃO. SÃO PAULO: temática. Identificam e pautam o campo da Sociologia da Infância
PHORTE EDITORA, 2018 (SI), apontando para as Ciências Sociais a premência da devida aten-
ção às crianças pequenas, a suas produções, a suas formas de ver,
entender e relacionar-se no mundo como legítimas expressões do
Nesta obra, como ponto de partida, fizemos uma análise exaus- pensamento, da cultura e da ação humana.
tiva do porquê dos Jogos de Construção e dos propósitos que os es- A obra é caracterizada pelo rompimento com as perspectivas tra-
paços de construção têm para oferecer às crianças, considerando-os dicionais de compreender a infância ou as crianças. Não se constitui
como linguagem de expressão e de comunicação. num manual de SI ou em palavra final ao debate: prevê a necessi-
Levando em consideração essa linguagem da Construção, de- dade de um novo paradigma, no que se refere à construção social
senvolvemos, num segundo momento, os três temas centrais desta da infância. Convida-nos, como fará também, no capítulo 1, Anete
experiência, o espaço como contexto de aprendizagem, como um Abramowicz, à invenção.
meio de construir relações, um espaço contextualmente preparado Transgressão é o desafio colocado logo na introdução pelas orga-
como estratégia de aprendizagem, um espaço construído pelos ma- nizadoras da obra. Se o pressuposto é que as crianças pensam e ima-
teriais. Nesse ponto, compartilhamos alguns critérios utilizados para ginam, é porque são seres com agência1 desde seu ingresso no mun-
a seleção desses em duas grandes divisões que utilizamos: materiais do. Suas perspectivas, criações, interpretações, enfim, o exercício de
naturais e artificiais. constituir-se como “criadores e criaturas” fazem parte do universo da
Os chamados Jogos de Construção constituem o foco desta obra; pesquisa sociológica brasileira, a começar com Florestan Fernandes2.
todavia, busca-se aqui um aprofundamento na abordagem dessa prá- A proposta do livro é apresentar o que pode ser entendido como
tica pedagógica tão utilizada com as crianças no contexto escolar, en- mais um ramo da Sociologia, que considera as crianças pequenas
carando-a como mais uma importante linguagem na qual a criança como sujeitos. Elas não se organizam em movimento, mas são social-
precisa ser alfabetizada: a da construtividade. mente discriminadas. Como fica a resposta da Sociologia? Pensar a SI,
O livro traz o relato de experiências que colocam as crianças aportada em pesquisas que revelem cotidiano, experiências, saberes
como protagonistas na criação dos espaços construtivos e que evi- e vozes das crianças diante da diversidade, rompe com o autoritaris-
denciam algumas das aprendizagens que ocorrem quando a elas são mo do mundo adulto e pode, nas Ciências Sociais, transgredir o pacto
propostos jogos de construir em um contexto que atende a uma in- já acordado, no que se refere à pesquisa, olhando o mundo de outra
tencionalidade pedagógica. É nesse tipo de contexto que as crianças perspectiva, “com olhos de criança”.
desenvolvem os aspectos cognitivos, afetivos, simbólicos, imaginati- O capítulo 3, “A sociologia da pequena infância e a diversidade
vos, expressivos e que provocam interações sociais capazes de esti- de gênero e de raça nas instituições de educação infantil”, de Daniela
mular nelas o espírito de colaboração, a troca de saberes, o esforço Finco e Fabiana de Oliveira, traz, como expressão principal, a diversi-
individual e coletivo nas experiências construtivas. Trata-se de uma dade. Unindo a pesquisa de doutorado da primeira e o mestrado da
obra provocativa e inspiradora, que busca cumprir um duplo papel: segunda, o texto desvela preconceitos envolvendo, respectivamente,
levar os professores de crianças, em particular os de educação infan- gênero e raça em instituições de Educação Infantil.
til, a melhorar suas práticas pedagógicas, e levar as crianças a extrair As autoras relacionam os estudos de gênero e raça, consideran-
dos espaços de construção tudo o que eles podem oferecer como do-os como características constitutivas de experiências cotidianas
linguagem de expressão e de comunicação de crianças pequenas, responsáveis por marcas identitárias. Obser-
Fonte: https://www.phorte.com.br/ vam que, no caso do gênero, há comportamentos esperados pelos
adultos, no que se refere a meninas e meninos, e que são reforçados
nas práticas e na organização do trabalho na instituição. Sobre raça, a
FINCO, DANIELA; OLIVEIRA, FABIANA DE. A SOCIOLOGIA situação não é diferente e apresenta-se envolta num pacto de silên-
DA PEQUENA INFÂNCIA E A DIVERSIDADE DE GÊNERO E cio. É nos gestos do adulto, nos carinhos ou na ausência destes, nas
DE RAÇA NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL. CAP. palavras, que se revelam preconceitos que marcam e diferenciam a
3. IN: FARIA ANA LÚCIA GOULART DE; FINCO, DANIELA criança negra da não negra. Essa relação, implicitamente, informa às
(ORGS.). SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA NO BRASIL. CAMPI- crianças modelos ideais de beleza e jeitos de ser menina ou menino,
NAS, SP: AUTORES ASSOCIADOS, 2011 (COLEÇÃO POLÊ- reforçando os estereótipos sociais.
MICAS DO NOSSO TEMPO). Finco e Oliveira ouvem as crianças e os educadores. Registram
atitudes. Concordam que muito cedo há, por parte dos adultos, mes-
mo inconscientemente, uma “educação” para constranger os corpos
Transgressão. Invenção. Reconhecimento. Diversidade. Constru- das crianças. Por exemplo, às meninas são atribuídas tarefas que exi-
ção alternativa. Identidade. gem delicadeza; aos meninos, as que dependem de força. Professo-
Expressões que as autoras e o autor da obra Sociologia da Infân- ras preocupam-se quando meninos preferem ficar mais tempo com
cia no Brasil destacam em seus textos para dimensionar os estudos as meninas, identificando-os como “afeminados”, “sossegados”. As
da infância como campo de pesquisa e área de conhecimento. Em meninas que preferem brincadeiras ditas “de menino” são “abruta-
cinco capítulos, o livro, lançado no segundo semestre de 2011, pro- lhadas”. O bebê negro é repreendido quando escolhe uma bolsa rosa
voca inquietações nos seus leitores, à medida que explicita que o ator para brincar, no dizer da professora: “Negão com essa bolsa rosa é
social criança, constantemente excluído e silenciado, ganha espaço e meio estranho, não dá certo” (p. 69). As pesquisas convergem na evi-
visibilidade nas Ciências Sociais, abandonando a condição de passivo dência de que o espaço destinado à educação da infância acaba por
no trato e na relação com a cultura e a sociedade. ser espaço da “educação do corpo”, civilizando-o e discriminando-o.
Os objetivos da obra destacam duas temáticas principais: a opo- As autoras inferem que as crianças transgridem tais normativas
sição firme ao conceito de criança assentado no adultocentrismo sociais. Pelo brincar, descobrem outros significados que comparti-
pautado na visão europeia de criança e infância; e a explicitação das lham e têm a oportunidade de criar e recriar. Ao romper essas fron-
especificidades e das diversidades das crianças brasileiras. A constru- teiras nas instituições de Educação Infantil, as crianças podem sofrer
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
micropenalidades, a começar pelo “acabou a brincadeira”. Para que a de linguagem que leva à linguagem escrita: desenho e faz-de-conta
Educação Infantil possa ser “um espaço coletivo de educação para o compõem uma linha única de desenvolvimento que leva às formas
respeito e a valorização das diferenças, de uma educação que favore- superiores de expressão representada pela linguagem escrita.
ça a diversidade” (p. 78), é urgente romper com os processos de ho- Nessa nova perspectiva de compreensão da escrita, o desenho e
mogeneização, que silenciam as crianças e embasam preconceitos. o faz-de-conta passam a gozar de um novo status na escola da infân-
cia e a merecer uma atenção especial da professora e do professor.
Fonte: https://www.scielo.br/j/pp/a/T7bdqdD9V3tKHZndy9DgX- Deixam de ser atividades de segunda categoria e assumem o lugar
PB/?lang=pt de atividades essenciais no processo de desenvolvimento das formas
superiores de expressão que levam à aquisição da linguagem escri-
ta. Assim, o desejo de que as crianças se apropriem efetivamente
MELLO, SUELY AMARAL. O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA da escrita – não de forma mecânica, mas como uma linguagem de
ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES DE VY- expressão e de conhecimento do mundo –, deve estimular o faz-de-
GOTSKY. CAP. 2. IN: FARIA, ANA LÚCIA GOULART & MELLO, -conta e o desenho livre, como formas de expressar o que aprende e
SUELI AMARAL (ORGS.). LINGUAGENS INFANTIS: OUTRAS os sentidos que atribui ao que vai conhecendo no mundo da cultura
FORMAS DE LEITURA. CAMPINAS, SP: AUTORES ASSOCIA- e da natureza.
DOS, 2009. COLEÇÃO POLÊMICAS DO NOSSO TEMPO. Percebido do ponto de vista histórico-cultural, parece claro que o
lugar da aprendizagem do aspecto técnico da escrita – do como se es-
creve e se lê – não é a educação infantil. A educação infantil provoca a
criança para conhecer o mundo e para expressar esse conhecimento
A Conforme Vygotsky (1995), escrever exige dominar um sistema nas múltiplas linguagens por meio das quais é capaz de se expressar
simbólico complexo que, por um lado, cria um conjunto de neofor- em sua relação lúdica com o mundo: a fala, o desenho, o faz-de-con-
mações no cérebro que possibilitam um salto qualitativo nos refle- ta, a pintura, a modelagem, a dança, a música, o teatro.
xos psíquicos e, por outro lado, permite o acesso ao conhecimento Ao longo da educação infantil, podemos formar uma criança
elaborado pertencente à esfera mais complexa da atividade huma- curiosa que tenha uma larga convivência com as práticas de leitura
na. Nessa esfera, a esfera da atividade não cotidiana (Heller, 1977), e escrita, uma densa experiência com a cultura escrita. Para isso, a
encontram-se a filosofia, a ciência, a política, a arte. Por ser um sis- convivência com pessoas que leem para as crianças e para si mesmas
tema complexo, sua apropriação é igualmente complexa. É preciso, e que escrevem e registram para si e para as crianças aquilo que elas
por isso, entender tanto os aspectos linguísticos como os psicológi- querem registrar sob a forma de texto escrito é condição necessária.
cos envolvidos em sua apropriação. A compreensão das exigências Essa convivência com a cultura escrita permite que a criança atribua
do processo de aprendizagem e das especificidades do objeto a ser à escrita um sentido adequado à sua função na sociedade e, assim,
apropriado permite planejar formas adequadas à sua apresentação saiba para que se lê e se escreve. Para além disso, quanto mais ex-
às crianças de modo a melhor promover sua formação como leitoras periências significativas tiver, mais terá o que expressar por meio de
e produtoras de textos (Mello, 2006). diferentes linguagens. Dessa maneira, formamos uma criança que, ao
A escrita é um simbolismo de segundo ordem, uma vez que “se final da educação infantil, esteja ávida por aprender a ler e a escrever
forma por um sistema de signos que identificam convencionalmen- e não cansada de treinos de escrita. Este pode ser um indicador de
te os sons e palavras da linguagem oral que são, por sua vez, signos sucesso da atividade docente com as crianças pequenas.
de objetos e relações reais” (Vygostki, 1995:184). No entanto, ainda Isso, no entanto, é o inverso do que sucede em muitas escolas in-
segundo este autor, para que sua aquisição se dê de forma efetiva, é fantis e agora, também, no ensino fundamental com crianças de seis
preciso que, para o sujeito que lê ou escreve, o nexo intermediário anos nas salas de primeiro ano. São comuns as notícias na mídia so-
representado pela linguagem oral desapareça e a escrita se transfor- bre crianças estressadas, desinteressadas, indisciplinadas e medicali-
me em um sistema de signos que simbolizam diretamente os objetos zadas ao final da idade pré-escolar e início da idade escolar2. Crianças
e as situações designadas. Pode-se compreender, a partir daí, que, que não gostam da escola ou que resistem a continuar frequentando
para formar leitores e produtores de texto, o ensino da leitura deve a escola na idade escolar são indicadores de que algo de errado se
focar a mensagem expressa pelo texto lido e não os sons expressos está fazendo com a educação das crianças (Mello, 2007).
pelas letras aí grafadas. Da mesma forma, o sujeito que escreve deve
ter como foco seu desejo de expressão e não sons que serão grafados Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttex-
sob a forma de letras. t&pid=S1519-549X2010000200011#:~:text=Para%20Vygotsky%20
Provoca-se na criança essa atitude de buscar o sentido do texto (1995)%2C%20a,e%20chega%20%C3%A0%20linguagem%20escrita.
lido quando a escrita é apresentada por meio de sua utilização so-
cial, ou seja, quando a criança é inserida no mundo da cultura escrita
muito tempo antes de se chamar sua atenção para o aspecto técnico, BARBOSA, MARIA CARMEM SILVEIRA E HORN, MARIA DA
para o mecanismo da escrita que exige a relação som/letra e que, GRAÇA SOUZA. PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO
vale destacar, será necessário no que poderíamos chamar de segun- INFANTIL. PORTO ALEGRE: ARTMED, 2008.
do passo no processo de aquisição da escrita.
Para Vygotsky (1995), a história da aquisição da escrita pela crian-
ça é a própria história do desejo de expressão da criança – que come- A luta por uma educação infantil de qualidade e humanizadora é
ça com o gesto, considerado pelo autor como escrita no ar, se mani- um dos destaques feitos pelas autoras.
festa pelo desenho, pela fala, pelo faz-de-conta e chega à linguagem Outro ponto ressaltado é a defesa da indissocialidade entre o
escrita. cuidar e o educar, orientando que as ações escolares precisam se vol-
Assim, a criança, ao longo da idade pré-escolar, com a ajuda do tar para esta proposta de ensino.
gesto, da fala, do desenho e do faz-de-conta, vai tornando mais ela-
borada a forma como utiliza as diversas formas de representação de
sua expressão. Com isso, entende-se que a representação simbóli-
ca no faz-de-conta e no desenho é uma etapa anterior e uma forma
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A partir dessas considerações segue a proposta de discussão das educação infantil. Para tanto é importante que os profissionais que
autoras, quanto aos aspectos que julgam ser essenciais e que devem trabalham com as crianças ofereçam um ambiente rico em estímu-
ser considerados e revistos para que as ações educativas na educação los e também desafiem as crianças com atividades que envolvam o
infantil sejam sistematizadas e garantam um processo emancipatório brincar.
para as crianças.
Nas ações escolares entre crianças de 0 à 5 anos de idade como O trabalho com projetos
destacam-se três aspectos: I) A rotina do cotidiano das práticas edu- Reconhecido como um modo de organizar as práticas representa
cativas; II) A organização dos espaços e III) A presença do brincar uma ação intencional, planejada e com alto valor educativo. Neste
como eixo do trabalho educativo-pedagógico. sentido, os projetos envolvem estudo, pesquisa, busca de informa-
As autoras falam da importância deste trabalho estar orientado ções, exercício de crítica, dúvida, argumentação, reflexão coletiva,
por projetos, pois eles interferem positivamente sobre o desenvolvi- devendo ser elaborados e executados com as crianças e não para as
mento infantil. crianças.
Veremos agora os temas abordados na estruturação feita pelas Barbosa e Horn (2008) indicam algumas dimensões que fazem
autoras. parte do trabalho com projetos: aqueles organizados pela escola
Rotina – deve ser modificada e revista constantemente para para serem realizados com as famílias, as crianças e os professores;
tomar as ações cotidianas, ou seja, pensar numa organização da o Projeto Político Pedagógico da escola; aqueles organizados pelos
rotina que contemple este objetivo significa pensar em estratégias professores para serem trabalhados com as crianças e as famílias e,
diferenciadas para se planejar o momento de recepção e de saída principalmente aqueles propostos pelas próprias crianças.
das crianças, os diversos momentos de refeição e higiene pessoal, a Neste sentido é importante estar atento para as necessidades e
organização dos espaços físicos, os momentos de parque e de sono, interesses do grupo e assim, propor temas e pesquisas que envolvam
assim como em todas as outras atividades que de uma forma ou de o interesse das crianças e com isso motivem nas a participar ativa-
outra acabam se sedimentando na educação infantil, prevalecendo a mente das atividades. O professor pode, ele mesmo, a partir de uma
ideia de que é natural ocorrerem da mesma forma sempre. necessidade identificada no grupo com o qual trabalha, apresentar
Significa que, devemos possibilitar novas situações que desesta- um projeto a ser trabalhado e explorado pelo grupo. Além disso, os
bilizem as crianças, levando-as a refletir sobre suas ações, de modo professores precisam também levar em conta os interesses declara-
que a rotina proposta esteja vinculada com todos os objetivos pe- dos pelo grupo, as dúvidas apontadas sobre determinado assunto, os
dagógicos e seja constantemente avaliada e reestruturada quando questionamentos, o que indica o nível de curiosidade das crianças e
houver necessidade. assim o tema que pode ser trabalhado em um projeto.
A rotina deve ser propiciadora de ações que permitam às crian- Os projetos não tem uma durabilidade fixa, podendo durar dias,
ças serem ativas e questionadoras diante de diferentes práticas pro- meses ou até um ano. Tudo vai depender do plano de trabalho orga-
postas pela instituição escolar a fim de desenvolver variadas habili- nizado, o que poderá demandar mais ou menos tempo de envolvi-
dades. mento do grupo.
Deverá ser desafiadora, contudo ela representa também uma De acordo com Barbosa e Horn (2008) são três os momentos
segurança em termos de acontecimentos. A previsibilidade tranqui- decisivos na elaboração e concretização de um projeto pedagógico
liza os pequenos ao mesmo tempo em que os encaminha para as na educação infantil, sempre a partir de um trabalho conjunto dos
atividades cotidianas. Isto não quer dizer que tudo deva acontecer da professores com as crianças. Inicialmente a definição do problema,
mesma forma todos os dias ou na mesma sequência, e sim, que uma seja a partir de uma fato inusitado e instigante, de um relato de um
certa organização para s práticas permite um melhor aproveitamento colega ou de uma curiosidade manifestada por uma criança ou pelo
das atividades propostas. grupo de crianças. Definindo-se o problema parte-se para o segundo
Espaço físico – Pensar nos espaço para crianças de 0 a 5 anos é passo, que envolve o planejamento do trabalho e a concretização do
preciso levar em conta toda a gama de necessidades e peculiaridades projeto. Neste momento acontece o levantamento de propostas de
que envolvam o trabalho com crianças pequenas. Neste sentido, ele trabalho – indicadas pelas crianças e também propostas pelo profes-
deve ser acolhedor, desafiador, criativo, instigante e, ao mesmo tem- sor e a divisão de tarefas – O que precisa ser feito? Como o trabalho
po, seguro. pode ser desenvolvido? Como obter o material necessário? Feito isso
A importância do brincar - A relação entre o brincar e desenvol- se inicia a coleta, organização e registro das informações. Professores
vimento infantil, dada sua importância, já foi amplamente indicada e e crianças buscam informações em diferentes fontes previamente de-
discutida por uma série de teóricos, tanto da área da psicologia como finidas e acordadas: conversas, entrevistas, passeios, visitas, obser-
da pedagogia. vações, exploração de materiais, experiências concretas, pesquisas
Pelo brincar, nos primeiros anos de vida, a criança estabelece re- bibliográficas, uso dos diferentes espaços da instituição. Como último
lações com o mundo e com as pessoas que a cercam. Ao brincar, tem passo, no trabalho com projetos, de acordo com as autoras, tem-se
a possibilidade de representar o mundo real e se apropriar dele, in- a avaliação e a comunicação, que envolvem a sistematização e a re-
teragindo com outras crianças e adultos, construindo hipóteses, res- flexão sobre as informações coletadas e produzidas como também a
peitando regras e, dessa forma, construindo-se enquanto sujeito. Há documentação e exposição dos “achados”.
de se considerar que as crianças de diferentes classes sociais estabe- A partir deste percurso percebemos o quanto é importante tra-
lecem relações diferenciadas com o brincar, ou seja, as brincadeiras balhar com projetos na educação infantil, uma vez que ao desenvol-
variam de acordo com a classe social, o contexto, a cultura, os objetos vê-los professores e crianças encontram-se envolvidos pela temática
e os espaços disponíveis. e podem aprender muito com o encaminhamento das atividades e
Na instituição de educação infantil torna-se necessário que os sua consecução.
espaços e as atividades estejam direcionados para a valorização do Assim é necessário que se planeje previamente as atividades que
brincar, pois quanto mais ricas forem as experiências oferecidas mais serão desenvolvidas, para que não se perca de vista os objetivos a se-
interessante e enriquecido será o brincar. (CARNEIRO, 2010). rem alcançados, de modo que a prática pedagógica tenha sequencia
Ao exercitar a criatividade, a imaginação e promover a sociali- e permita que a criança atinja determinadas metas e, então desen-
zação, as brincadeiras são um excelente recurso de aprendizagem volva mais habilidades linguísticas, motoras e emocionais.
e desenvolvimento e devem fazer parte da rotina nas atividades da
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Desse modo, praticar a elaboração de projetos é um modo de sua problematização, assim como, apresento os sujeitos e o campo
se garantir a participação dos alunos, uma vez que o projeto parte educativo pesquisado, as possibilidades metodologias e os procedi-
sempre de uma problemática surgida no contexto escolar e/ou social. mentos de pesquisa utilizados.
(Texto adaptado de LIRA, A.C.M.;SAITO,H.T.I) No segundo capitulo: Temporarias Idades, busco construir um
Fonte: www.lubarrach.blogspot.com.br dialogo entre os dados coletados, com diferentes perspectivas teóri-
cas, fontes convencionais e não convencionais de Pesquisa, na busca
por compreender a temporalidade e a espacialidade da infância, a
BARBIERI, STELA. TERRITÓRIOS DA INVENÇÃO: ATELIÊ EM partir das incapacidades a ela atribuída em contraponto às inventi-
MOVIMENTO. SÃO PAULO: JUJUBA EDITORA, 2021. vidades e festividades das crianças, na tentativa de construir a idade
como categoria de analise.
No terceiro capitulo: contrarias idades, mergulho no universo
Um livro que traz experiências, vivências, trocas, fazeres e afetos. das crianças e a partir delas busco compreender as diversidades, as
Tudo isso regado à teoria que embasa o trabalho da artista plástica e conformidades, as contrariedades e as sociabilidades que se estabe-
educadora Stela Barbieri. lecem nas relações entre crianças menores e maiores juntas e sepa-
Com experiência no chão da escola, na coordenação de profes- radamente.
sores e em educativos da Bienal de Artes de São Paulo e do Instituto No quarto capitulo: Arbitrarias idades, discuto as entrevistas,
do Tomie Ohtake, Stela tem um olhar amplo pelo fazer artístico em os encontros e documentos sobre os agrupamentos multietários na
sala de aula, e com generosidade ímpar o compartilha com seus lei- educação infantil, do ponto de vista de suas arbitrariedades e opor-
tores. Essa edição é uma parceria entre a Jujuba e o Binah Espaço de tunidades para se compreender as infâncias, as relações etárias e o
Artes. contexto educativo. Neste espaço, a alteridade da infância revela-se
A experiência estética acontece ao longo da vida e nos marca. É através das relações entre professoras e crianças e entre as próprias
uma bagagem que carregamos, uma experiência corporificada que crianças, numa tentativa inicial de compreender esses grupos de ida-
nos traz deslocamentos e/ou perplexidades. Todos temos experiên- des, ou grupos etários a partir de uma perspectiva geracional e das
cias estéticas, esse manancial do vivido que carregamos conosco. relações inter e intrageracionais.
O educador, como todo ser humano, carrega no corpo suas expe- Concluo em: Fim das idades, e defendo, a partir dos conheci-
riências, que são indissociáveis da pratica cotidiana. mentos produzidos pelas crianças, a tese de que elas não somente
Este livro é um trabalho cartográfico, um trabalho de localização reproduzem, mas também contrariam os preconceitos e o que lhes
no processo em relação ao que está sendo vivido. Acompanhamos o é imposto em relação à idade, principalmente quando estão entre
processo aprendendo com ele, gerando novas perguntas, novos ca- idades diferentes, lançando possibilidades para a construção de uma
minhos de investigação, nos quais estamos constantemente criando Pedagogia da Educação Infantil anti-idadista e interetária, no sentido
desequilíbrios, reequilíbrios e movimentos. da não priorização de uma determinada idade em função de outras
Qual a qualidade das materialidades que traremos? O que fica e de permitir, nesta educação etária, composições múltiplas entre as
perto do que, uma vez que as aproximações espaciais também geram crianças de 0 a 6 anos, em que pese a pergunta inicial e ainda em
certos movimentos? Como podemos colocar os materiais para criar questão: qual a finalidade das idades da infância?
o movimento dos corpos? Que perguntas vamos propor que gerem Fonte: https://pt.slideshare.net/
questões imponderáveis para nós e para as crianças? Que gerem
movimentos nos quais as crianças possam se envolver e brincar, se
afetando? Que questões vamos gerar no espaço? Sera que o esvazia- MONÇÃO, MARIA APARECIDA GUEDES. GESTÃO NA EDU-
mos? Colocamos um objeto no cantinho? Será que criamos espaços CAÇÃO INFANTIL: CENÁRIOS DO COTIDIANO. SÃO PAULO:
contíguos, próximos, para que cada um possa fazer suas escolhas? EDIÇÕES LOYOLA, 2021.
Que convites fazemos? Isso tudo depende do nosso envolvimento
com o contexto. O contexto de aprendizagem é um feixe de questões
especializadas. O livro Gestão na Educação Infantil: cenários do cotidiano é fruto
Essas é outras reflexões são trazidas por esta obra, na intenção de sua pesquisa de doutoramento, defendida no Programa de Pós-
de criar um ambiente estetica favoravel para o aprendizado e à cria- -Graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP), no ano
ção. de 2013, sob orientação do Professor Doutor Vitor Henrique Paro,
que prefacia a obra.
Na introdução do livro a autora aponta que são poucas as pes-
PRADO, PATRÍCIA D. . EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRARIAN- quisas na área da educação que discutem especificamente a gestão
DO AS IDADES. 1. ED. SÃO PAULO: KÉPOS (SELO EDITORA na Educação Infantil, destacando os trabalhos das seguintes autoras:
LAÇOS), 2015. Bianca Cristina Corrêa (2001, 2006), Mirian Tronolonne (2003), Eva
Cristina Mendes (2007) e Cinthia Magda Fernandes Ariosi (2010).
Diante dessa constatação, assinalamos a relevância acadêmica e so-
A obra tem como objetivo investigar e compreender a condição cial do livro ora resenhado.
infantil através das relações de idade e da produção das culturas in- Monção entende a Educação Infantil como espaço de socializa-
fantis entre crianças pequenas em contexto educativo, buscando tra- ção da criança pequena, direito delas e de suas famílias, o qual deve
zer para o debate novas questões de um tema ainda incipiente que ser convertido em uma política pública. Busca, assim, compreender
começa a ser pensado. em que medida pode se efetivar uma gestão democrática que pos-
No primeiro capitulo: Imagino Idades, introduzo e contextuali- sibilite a relação cuidar/educar entre professores e familiares das
zo a temática da pesquisa e o lugar de onde falo, apresentando o crianças.
processo de construção do objeto de pesquisa, as questões a ele
colocadas, a justificativa e relevância social e teórica, no sentido de

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O objetivo geral é analisar a interação entre a família e o CEI, tivos e não prioriza a voz dos responsáveis pelas crianças. Tal fato se
visando identificar a especificidade da administração educacional deve à falta de participação dos pais na escola e de reflexões junto
nesse segmento. A autora defende que o compartilhamento da edu- com eles a respeito do desenvolvimento infantil e do porquê de de-
cação da criança entre família e instituição tem de ser garantida pela terminadas propostas pedagógicas.
gestão escolar. Diante do exposto, Monção aponta que a visão assistencialista
A pesquisa baseou-se no aspecto qualitativo do tipo etnográfico, dos profissionais impede uma reflexão acerca da melhoria do traba-
e os instrumentos de coleta de dados foram a observação participan- lho coletivo, tais como: relatórios que depreciam as crianças, marca-
te e entrevistas semiabertas com roteiro pré-estabelecido com gesto- dos por preconceitos em relação à população pobre; cotidiano im-
res, professores e familiares das crianças. provisado, com muitas faltas de professores; reuniões pedagógicas
Além da introdução e das considerações finais, o livro está di- sem articulação com discussões de momentos precedentes; predo-
vidido em seis capítulos, a saber: O cenário da Educação Infantil no mínio de práticas de controle das crianças, como castigos e punições;
Brasil, no qual Monção discute os direitos fundamentais das crian- pouca participação das famílias nos conselhos do CEI; dificuldade de
ças enquanto norteadores das políticas públicas e práticas cotidianas comunicação entre professores e familiares.
na Educação infantil; Gestão democrática na Educação Infantil, cuja As denúncias apresentadas por Maria Aparecida Guedes Mon-
análise está pautada na especificidade da gestão educacional e sua ção, infelizmente, revelam uma escola da primeira infância que des-
relação com a democracia e a singularidade da gestão na EI; Centro respeita os direitos fundamentais da criança.
de Educação Infantil Anália Franco, no qual a autora apresenta a ins- Segundo a autora, o conteúdo do livro não pode restringir-se a
tituição em que foi realizada a pesquisa empírica, sua organização e denúncia e indignação, com o risco de tornar-se mais um dos traba-
o quadro de profissionais. lhos que, ao descrever o “chão da escola”, pode servir de munição
Além desses há os capítulos Cenas do cotidiano no CEI Anália para aqueles que não são comprometidos com a educação pública
Franco: em foco as relações entre adultos e crianças; Relações entre e denigrem sua imagem por meio da defesa do sistema de ensino
os adultos no CEI Anália Franco: tensões e contradições; Relação en- privado, considerado símbolo de eficiência e sucesso, reforçando
tre educadoras e famílias, em que Monção analisa os dados referen- os interesses de mercado e a proliferação dos ideais neoliberais. Ao
tes às relações entre esses personagens. Vale lembrar que o nome da contrário, a proposta é que o conteúdo deste trabalho sirva como
instituição é fictício. estímulo para defendermos com mais coragem a importância da edu-
Durante a leitura fui me impactando com os resultados apresen- cação pública infantil e da primeira infância, para garantir os direitos
tados, denunciados pela autora no decorrer da obra e em suas consi- das crianças e de suas famílias (p. 264).
derações finais. No que se refere à categoria relações entre adultos e Os dados sinalizam o quanto os formadores de professores nos
crianças, Monção sinaliza a rotina da instituição: momentos de entra- cursos de Pedagogia têm papel crucial ao apontar que as relações
da e saída das crianças; troca de turnos das professoras; momentos entre crianças e profissionais; professoras e gestoras; docentes e
de alimentação, higiene e descanso nos quais deve haver a integra- famílias devem estar pautadas na escuta, no diálogo e no respeito,
ção entre cuidado e educação; “atividades” pedagógicas, e o papel principalmente em instituições que atendem crianças de 0 a 3 anos,
das emoções. demonstrada na pesquisa apresentada.
O cuidado não é entendido como algo necessário à aprendiza- Trata-se de uma obra que merece ser lida por todos aqueles e
gem, mas um assistencialismo. Foram notadas práticas pedagógicas aquelas que buscam atuar na Educação Infantil. A perspectiva crítica
díspares no mesmo ambiente escolar por parte das professoras, da autora causa sobressaltos, uma vez que ela apresenta uma reali-
umas atentas às crianças, outras nem tanto. dade que (in)visibiliza a criança e suas famílias, além de apontar os
Verificam-se, de maneira geral, práticas autoritárias, com uso graves problemas da educação brasileira.
de contenção dos corpos, castigos e punições, formas de educar as Os resultados apresentados na presente obra convocam profis-
crianças, sem muita atenção às demandas infantis, portanto ampa- sionais engajados, que cursaram e cursam pós-graduação lato e stric-
radas em concepções tradicionais, que não mais se sustentam nesse to sensu, a disseminar as pesquisas que apontam o “outro lado da
segmento, revelando ações humanas pouco democráticas e afetuo- moeda”. Espera-se que tais profissionais ressignifiquem suas práticas
sas. Os profissionais da Educação Infantil precisam ter em mente que e se coloquem sempre em busca de uma Educação Infantil pública de
a criança necessita ser acolhida e respeitada para que se sinta segura qualidade. Docentes e gestores, preocupados com as crianças, suas
e pertencente ao espaço escolar. famílias e com a própria profissionalização também devem compro-
Nas relações interpessoais entre adultos, Monção verificou de meter-se com a causa da primeira infância.
que modo elas ocorrem entre gestoras e professoras e entre direção
e coordenação e de que maneira essas ações reverberam nas famí- Fonte: https://periodicos.uninove.br/
lias. A autora aponta o quanto a gestão fica impactada diante de cer-
tas atitudes dos professores em relação às crianças, impossibilitando
um trabalho coletivo de qualidade.
Nota-se a importância de discussões e reflexões em horários de MANTOAN, MARIA TERESA EGLÉR. CAMINHOS PEDAGÓGI-
formação para que as docentes possam avançar norteando suas prá- COS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. IN: GAIO, R.; MENEGHET-
ticas por teorias que as sustentem, abandonando o senso comum. TI, R.G.K. (ORG). CAMINHOS PEDAGÓGICOS DA EDUCA-
Uma gestão que se diz democrática pode deixar de incorporar ÇÃO ESPECIAL. PETROPÓLIS: EDITORA VOZES, 2004.
às formações os Auxiliares Técnicos de Educação (ATE’s), que estão
em constante contato com as crianças; nem mesmo os agentes es-
colares, os auxiliares de cozinha e limpeza e demais atores, conforme A obra traz uma reflexão sobre as possibilidades do ser humano,
menciona Monção. para além das possíveis deficiências que seu corpo possa abrigar, e
A participação das famílias na escola é contraditória, muitas acei- no diálogo com as diferenças contidas nas várias áreas de conheci-
tam de forma incondicional o que é proposto pelas profissionais, ou- mento. O livro mostra o sentido da diferença e o modo de lidar com
tras protestam, mas, de forma geral, não é dada a oportunidade, por ela em sala de aula, a partir da ampliação do conceito de igualdade.
parte das professoras, para que os pais expressem seus sentimentos.
As reuniões de pais e professores é prescritiva, com informes repeti-
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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distor- razões pelas quais ela tem sido proposta e quem são seus beneficiá-
cido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes seg- rios? Como fazê-la acontecer nas salas de aula de todos os níveis de
mentos educacionais e sociais. No entanto, inserir alunos com déficits ensino?
de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos Baseando-se na legislação mundial e brasileira, a autora analisa
severos no ensino regular nada mais é do que garantir o direito de em profundidade o caminho percorrido até aqui. Segundo ela, incluir
todos à educação - e assim diz a Constituição! é não deixar ninguém de fora da escola comum, ensinando todas as
Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As crianças, indistintamente. A pedagoga propõe um deslocamento da
grandes inovações estão, muitas vezes na concretização do óbvio, do visão educacional que se sente ameaçada pela inclusão para uma
simples, do que é possível fazer, mas que precisa ser desvelado, para perspectiva que se abre para outras formas de ensinar e avaliar a
que possa ser compreendido por todos e aceito sem outras resistên- aprendizagem. Conhecendo o potencial teórico da educação inclu-
cias, senão aquelas que dão brilho e vigora o debate das novidades. siva e sua implicação no campo da mobilização social, Maria Teresa
O objetivo de nossa participação neste evento é clarear o sentido da mostra a importância da análise do contexto escolar, para entender
inclusão, como inovação, tornando-o compreensível, aos que se in- as dificuldades de atender a estudantes com deficiência e outros e
teressam pela educação como um direito de todos, que precisa ser apontar o propósito da inclusão como objetivo primordial dos siste-
respeitado. Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da in- mas de ensino.
clusão pela transformação geral das escolas, visando a atender aos “A escola inclusiva brasileira tem sólidas fundações, na lei, no
princípios deste novo paradigma educacional. Para descrever o nosso vanguardismo dos que se dispuseram expandi-la, verdadeiramente
caminho na direção das escolas inclusivas vamos focalizar nossas ex- imbuídos do compromisso de transformá-la, para se adequar ao nos-
periências, no cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos so tempo. Eles estão se multiplicando e surpreendendo, demonstran-
desafios provocados por essa inovação, o das ações no sentido de do a força desta ideia poderosa – que depende de uma expansão
efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o trabalho de formação de rápida dos projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de
professores e, finalmente o das perspectivas que se abrem à educa- transformar a escola comum para se adequar aos novos tempos”,
ção escolar , a partir de sua implementação. afirma a pedagoga.
UMA EDUCAÇÃO PARA TODOS Dividido em três capítulos, o livro reúne as ideias da autora sobre
O princípio democrático da educação para todos só se evidencia o ensinar e o aprender. Nele, ela compartilha o que viveu em sua
nos sistemas educacionais que se especializam em todos os alunos, caminhada educacional, dialogando com o leitor sobre problemas,
não apenas em alguns deles, os alunos com deficiência. A inclusão, questões e dúvidas que carrega no dia a dia de trabalho. “As trans-
como consequência de um ensino de qualidade para todos os alunos formações da escola dependem de um compromisso coletivo de pro-
provoca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e é um fessores, gestores, pais e da sociedade em geral. É difícil o dia a dia
motivo a mais para que o ensino se modernize e para que os pro- da sala de aula. Esse desafio que enfrentamos tem limite – o da crise
fessores aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica educacional que vivemos, tanto pessoal como coletivamente, deste
num esforço de atualização e reestruturação das condições atuais da ofício que exercemos”, complementa.
maioria de nossas escolas de nível básico. O motivo que sustenta a Para a autora, é preciso ressignificar o papel da escola e insta-
luta pela inclusão como uma nova perspectiva para as pessoas com lar, no seu cotidiano, formas mais solidárias e plurais de convivência.
deficiência é, sem dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas “São as escolas que têm de mudar e não os alunos, para que estes
e privadas, de modo que se tornem aptas para responder às neces- tenham assegurado o direito de aprender, de estudar nelas. O direi-
sidades de cada um de seus alunos, de acordo com suas especifici- to à educação é indisponível e natural, não admitindo barganhas”,
dades, sem cair nas teias da educação especial e suas modalidades conclui.
de exclusão. O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na
escola regular decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir Fonte: www.unicamp.br
progressos significativos desses alunos na escolaridade, por meio da
adequação das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E
só se consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assu-
me que as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas
resultam em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a
aprendizagem é concebida e avaliada. Pois não apenas as deficientes
são excluídas, mas também as que são pobres, as que não vão às
aulas porque trabalham, as que pertencem a grupos discriminados,
as que de tanto repetir desistiram de estudar.

Fonte: https://pt.scribd.com/

MANTOAN, MARIA TEREZA EGLÉR. INCLUSÃO ESCOLAR: O


QUE É? POR QUÊ? COMO FAZER? 2 ED. SÃO PAULO: MO-
DERNA, 2006.

A ideia de educação inclusiva impulsionou, nas últimas décadas,


mudanças significativas na educação e orientou a transformação nos
sistemas de ensino no Brasil. Porém, os problemas históricos quan-
to à garantia do direito à educação aos estudantes com deficiência
ainda não foram resolvidos. O que é inclusão escolar? Quais são as

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS

PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÃO DOS MATERIAIS.


USO E CONSERVAÇÃO DOS MATERIAIS. FONTES, CONSU-
MO, TRANSPORTE E TRANSFORMAÇÃO DE ENERGIA

Substância e Mistura
Analisando a matéria qualitativamente (qualidade) chamamos
a matéria desubstância.
Substância– possui uma composição característica, determina-
da e um conjunto definido de propriedades.
Pode ser simples (formada por só um elemento químico) ou
composta (formada por vários elementos químicos).
Exemplos de substância simples: ouro, mercúrio, ferro, zinco.
Exemplos de substância composta: água, açúcar (sacarose), sal
de cozinha (cloreto de sódio).
Mistura– são duas ou mais substâncias agrupadas, onde a
composição é variável e suas propriedades também.
Exemplo de misturas: sangue, leite, ar, madeira, granito, água Química– é a ciência que estuda os fenômenos químicos. Es-
com açúcar. tuda as diferentes substâncias, suas transformações e como elas
interagem e a energia envolvida.
Corpo e Objeto Fenômenos Físicos- é a transformação da matéria sem altera-
Analisando a matéria quantitativamente chamamos a matéria ção da sua composição.
deCorpo. Exemplos: reflexão da luz, solidificação da água, ebulição do
Corpo- São quantidades limitadas de matéria. Como por exem- álcool etílico.
plo: um bloco de gelo, uma barra de ouro. Física– é a ciência que estuda os fenômenos físicos. Estuda as
Os corpos trabalhados e com certo uso são chamados de ob- propriedades da matéria e da energia, sem que haja alteração quí-
jetos. Uma barra de ouro (corpo) pode ser transformada em anel, mica.
brinco (objeto).

Fenômenos Químicos e Físicos


Fenômenoé uma transformação da matéria. Pode ser química
ou física.
Fenômeno Químicoé uma transformação da matéria com alte-
ração da sua composição.
Exemplos: combustão de um gás, da madeira, formação da fer-
rugem, eletrólise da água.

Propriedades da matéria
O que define a matéria são suas propriedades.Existem as pro-
priedades gerais e as propriedades específicas.As propriedades
gerais são comuns para todo tipo de matéria e não permitem dife-
renciar uma da outra. São elas: massa, peso, inércia, elasticidade,
compressibilidade, extensão, divisibilidade, impenetrabilidade.
Massa– medida da quantidade de matéria de um corpo. Deter-
mina a inércia e o peso.
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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Inércia– resistência que um corpo oferece a qualquer tentativa As propriedades químicas são as responsáveis pelos tipos de
de variação do seu estado de movimento ou de repouso. O corpo transformação que cada substância é capaz de sofrer. Estes proces-
que está em repouso, tende a ficar em repouso e o que está em sos são asreações químicas.
movimento tende a ficar em movimento, com velocidade e direção
constantes. Mistura e Substância
Peso– é a força gravitacional entre o corpo e a Terra. Mistura– é formada por duas ou mais substâncias puras. As mistu-
Elasticidade– propriedade onde a matéria tem de retornar ao ras têm composição química variável, não expressa por uma fórmula.
seu volume inicial após cessar a força que causa a compressão. Algumas misturas são tão importantes que têm nome próprio.
Compressibilidade– propriedade onde a matéria tem de redu- São exemplos:
zir seu volume quando submetida a certas pressões. - gasolina – mistura de hidrocarbonetos, que são substâncias
Extensão– propriedade onde a matéria tem de ocupar lugar formadas por hidrogênio e carbono.
no espaço. - ar atmosférico – mistura de 78% de nitrogênio, 21% de oxigê-
Divisibilidade– a matéria pode ser dividida em porções cada nio, 1% de argônio e mais outros gases, como o gás carbônico.
vez menores. A menor porção da matéria é a molécula, que ainda - álcool hidratado – mistura de 96% de álcool etílico mais 4%
conserva as suas propriedades. de água.
Impenetrabilidade– dois corpos não podem ocupar o mesmo Substância– é cada uma das espécies de matéria que constitui
espaço ao mesmo tempo. o universo. Pode ser simples ou composta.
As propriedades específicas são próprias para cada tipo de ma-
téria, diferenciando-as umas das outras. Podem ser classificadas em Sistema e Fases
organolépticas, físicas e químicas. Sistema– é uma parte do universo que se deseja observar, ana-
As propriedades organolépticas podem ser percebidas pelos lisar. Por exemplo: um tubo de ensaio com água, um pedaço de fer-
órgãos dos sentidos (olhos, nariz, língua). São elas: cor, brilho, odor ro, uma mistura de água e gasolina, etc.
e sabor. Fases– é o aspecto visual uniforme.
As propriedades físicas são: ponto de fusão e ponto de ebuli- As misturas podem conter uma ou mais fases.
ção, solidificação, liquefação, calor específico, densidade absoluta,
Mistura Homogênea– é formada por apenas uma fase. Não se
propriedades magnéticas, maleabilidade, ductibilidade, dureza e
consegue diferencias a substância.
tenacidade.
Ponto de fusão e ebulição– são as temperaturas onde a maté-
Exemplos:
ria passa da fase sólida para a fase líquida e da fase líquida para a
- água + sal
fase sólida, respectivamente.
- água + álcool etílico
Ponto de ebulição e de liquefação– são as temperaturas onde
- água + acetona
a matéria passa da fase líquida para a fase gasosa e da fase gasosa
para a líquida, respectivamente. - água + açúcar
Calor específico– é a quantidade de calor necessária para au-
mentar em 1 grau Celsius (ºC) a temperatura de 1grama de massa
de qualquer substância. Pode ser medida em calorias.
Densidade absoluta– relação entre massa e volume de um cor-
po.
d=m:V

Propriedade magnética– capacidade que uma substância tem


de atrair pedaços de ferro (Fe) e níquel (Ni).
Maleabilidade– é a propriedade que permite à matéria ser
transformada em lâmina. Característica dos metais. - água + sais minerais
Ductibilidade– capacidade que a substância tem de ser trans-
formada em fios. Característica dos metais.
Dureza– é determinada pela resistência que a superfície do Mistura Heterogênea– é formada por duas ou mais fases. As
material oferece ao risco por outro material. O diamante é o mate- substâncias podem ser diferenciadas a olho nu ou pelo microscópio.
rial que apresenta maior grau de dureza na natureza. Exemplos:
- água + óleo
- granito
- água + enxofre
- água + areia + óleo

Tenacidade– é a resistência que os materiais oferecem ao cho-


que mecânico, ou seja, ao impacto. Resiste ao forte impacto sem
se quebrar.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Os sistemas monofásicos são as misturas homogêneas. - SEPARAÇÃO MAGNÉTICA – usado quando um dos componen-
Os sistemas polifásicos são as misturas heterogêneas.Os siste- tes da mistura é um material magnético.
mas homogêneos, quando formados por duas ou mais substâncias Com um ímã ou eletroímã, o material é retirado.
miscíveis (que se misturam) umas nas outras chamamos desolu- Exemplo: limalha de ferro + enxofre; areia + ferro
ções.
São exemplos de soluções: água salgada, vinagre, álcool hidra-
tado.
Os sistemas heterogêneos podem ser formados por uma única
substância, porém em várias fases de agregação (estados físicos)
.Exemplo: Água líquida,sólida (gelo),vapor

Separação de mistura
Os componentes das misturas podem ser separados. Há algu-
mas técnicas para realizar a separação de misturas. O tipo de sepa-
ração depende do tipo de mistura.
Alguns dos métodos de separação de mistura são: catação, le-
vigação, dissolução ou flotação, peneiração, separação magnética,
dissolução fracionada, decantação e sedimentação, centrifugação,
filtração, evaporação, destilação simples e fracionada e fusão fra- - VENTILAÇÃO – usado para separar dois componentes sólidos
cionada. com densidades diferentes. É aplicado um jato de ar sobre a mis-
tura.
Separação de Sólidos Exemplo: separar o amendoim torrado da sua casca já solta;
Para separar sólidos podemos utilizar o método da catação, le- arroz + palha.
vigação, flotação ou dissolução, peneiração, separação magnética,
ventilação e dissolução fracionada. - DISSOLUÇÃO FRACIONADA - consiste em separar dois compo-
- CATAÇÃO – consiste basicamente em recolher com as mãos nentes sólidos utilizando um líquido que dissolva apenas um deles.
ou uma pinça um dos componentes da mistura. Exemplo: sal + areia
Exemplo: separar feijão das impurezas antes de cozinhá-los. Dissolve-se o sal em água. A areia não se dissolve na água. Po-
de-se filtrar a mistura separando a areia, que fica retida no filtro da
- LEVIGAÇÃO – separa substâncias mais densas das menos den- água salgada. Pode-se evaporar a água, separando a água do sal
sas usando água corrente.
Exemplo: processo usado por garimpeiros para separar ouro Separação de Sólidos e Líquidos
(mais denso) da areia (menos densa). Para separar misturas de sólidos e líquidos podemos utilizar o
método da decantação e sedimentação, centrifugação, filtração e
- DISSOLUÇÃO OU FLOCULAÇÃO – consiste em dissolver a mis- evaporação.
tura em solvente com densidade intermediária entre as densidades
dos componentes das misturas. - SEDIMENTAÇÃO – consiste em deixar a mistura em repouso
Exemplo: serragem + areia até o sólido se depositar no fundo do recipiente.
Adiciona-se água na mistura. A areia fica no fundo e a serragem Exemplo: água + areia
flutua na água.

- PENEIRAÇÃO – separa sólidos maiores de sólidos menores ou


ainda sólidos em suspensão em líquidos.
Exemplo: os pedreiros usam esta técnica para separar a areia
mais fina de pedrinhas; para separar a polpa de uma fruta das suas
sementes, como o maracujá.
Este processo também é chamado detamização.

- DECANTAÇÃO – é a remoção da parte líquida, virando cuida-


dosamente o recipiente. Pode-se utilizar um funil de decantação
para remover um dos componentes da mistura.
Exemplo: água + óleo; água + areia

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CIÊNCIAS NATURAIS

O papel-filtro dobrado é usado quando o produto que mais in-


teressa é o líquido. A filtração é mais lenta.
- CENTRIFUGAÇÃO – é o processo de aceleração da sedimen- O papel-filtro pregueado produz uma filtração mais rápida e é
tação. Utiliza-se um aparelho chamadocentrífugaoucentrifugador, utilizada quando a parte que mais interessa é a sólida.
que pode ser elétrico ou manual. Exemplo: água + areia

Exemplo: Para separar a água com barro.

- EVAPORAÇÃO – consiste em evaporar o líquido que está mis-


turado com um sólido.
Exemplo: água + sal de cozinha (cloreto de sódio).

Nas salinas, obtém-se o sal de cozinha por este processo. Na rea-


lidade, as evaporações resultam em sal grosso, que se for purificado
torna-se o sal refinado (sal de cozinha), que é uma mistura de cloreto
de sódio e outras substâncias que são adicionadas pela indústria.

- FILTRAÇÃO – processo mecânico que serve para separar mis-


tura sólida dispersa com um líquido ou gás. Utiliza-se uma super-
fície porosa (filtro) para reter o sólido e deixar passar o líquido. O
filtro usado é um papel-filtro.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Separação de Misturas Homogêneas
Para separar os componentes das substâncias de misturas homogêneas usamos os métodos chamados defracionamento, que se ba-
seiam na constância da temperatura nas mudanças de estados físicos. São eles: destilação e fusão.
- DESTILAÇÃO – consiste em separar líquidos e sólidos com pontos de ebulição diferentes. Os líquidos devem ser miscíveis entre si.
Exemplo: água + álcool etílico; água + sal de cozinha

O ponto de ebulição da água é 100°C e o ponto de ebulição do álcool etílico é 78°C. Se aquecermos esta mistura, o álcool ferve pri-
meiro. No condensador, o vapor do álcool é resfriado e transformado em álcool líquido, passando para outro recipiente, que pode ser um
frasco coletor, um erlenmeyer ou um copo de béquer. E a água permanece no recipiente anterior, separando-se assim do álcool.
Para essa técnica, usa-se o aparelho chamado destilador, que é um conjunto de vidrarias do laboratório químico. Utiliza-se: termôme-
tro, balão de destilação, haste metálica ou suporte, bico de Bunsen, condensador, mangueiras, agarradores e frasco coletor.
Este método é a chamada Destilação Simples.
Nas indústrias, principalmente de petróleo, usa-se a destilação fracionada para separar misturas de dois ou mais líquidos. As torres de
separação de petróleo fazem a sua divisão produzindo gasolina, óleo diesel, gás natural, querosene, piche.
As substâncias devem conter pontos de ebulição diferentes, mas com valores próximos uns aos outros.

Fonte: http://www.infoescola.com/Modules/Articles/Images/destilacao-simples.gif

FUSÃO FRACIONADA – separa componentes de misturas homogêneas de vários sólidos. Derrete-se a substância sólida até o seu ponto
de fusão, separando-se das demais substâncias.
Exemplo: mistura sólida entre estanho e chumbo.
O estanho funde-se a 231°C e o chumbo, a 327°C. Então, funde-se primeiramente o estanho.

Energia
Energia é algo um pouco mais complicado de definir do que foi a matéria. Esta, ao contrário da matéria, não tem peso, e somente
é possível medir quando for transformada, ou ao ser liberada ou absorvida. Ela não possui unidades físicas próprias, sendo expressa em
termos das unidades de trabalho que realiza. Com isso, podemos ter uma definição mais simples: energia nada mais é do que a capaci-
dade de realizar trabalho. De acordo com a lei da conservação da energia, esta não pode ser criada nem destruída, portanto somente se
transformará.
É a partir da energia, ainda, que é possível modificar a matéria, anular ou provocar movimentos e causar deformações. Existem algu-
mas formas de energia. De acordo com a lei da conservação da energia, esta não pode ser criada nem destruída.

Formas de energia
Energia cinética: associada ao movimento. Esta depende da massa e da velocidade de um corpo.
Energia potencial: encontra-se armazenada em um sistema e pode ser usada a qualquer momento. São elas a energia potencial gravi-
tacional – relacionada a altura de um corpo em relação a um determinado nível de referência – e a energia potencial elástica, relacionada
a uma mola ou a um corpo elástico.
Energia mecânica total: a energia mecânica total e dada pela soma das energias cinética e potencial.

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CIÊNCIAS NATURAIS

AMBIENTE E SERES VIVOS

A Vida na Terra terá surgido á cerca de 3400 M.a., como o pa-


recem demonstrar os fósseis de procariontes encontrados na África
do Sul.
As células eucarióticas terão surgido há cerca de 2000 a 1400
M.a., seguidas dos organismos multicelulares há cerca de 700 M.a.
Neste espaço de tempo os fósseis são abundantes, indicando um
processo evolutivo rápido.
Até ao século XIX considerava-se que todos os seres vivos exis-
tentes se apresentavam como sempre tinham sido. Toda a Vida era
obra de uma entidade toda poderosa, fato que servia para masca-
rar a não existência de conhecimentos suficientes para se criar uma
explicação racional.
Esta teoria, o Criacionismo, no entanto, já no tempo da Grécia
antiga não era satisfatória. De modo a contornar a necessidade de
intervenção divina na criação das espécies, surgem várias teorias
alternativas, baseadas na observação de fenômenos naturais, tanto
quanto os conhecimentos da época o permitiam.
Aristóteles elaborou uma dessas teorias, cuja aceitação se
manteve durante séculos, com a ajuda da Igreja Católica, que a ado-
tou. Esta teoria considerava que a Vida era o resultado da ação de
um princípio ativo sobre a matéria inanimada, a qual se tornava,
então, animada. Deste modo, não haveria intervenção sobrenatu-
ral no surgimento dos organismos vivos, apenas um fenômeno na-
tural, a geração espontânea.
Estas ideias perduraram até á era moderna, pois Van Helmont
(1577 – 1644) ainda considerava que os “cheiros dos pântanos ge-
ravam rãs e que a roupa suja gerava ratos, adultos e completamen-
te formados”. Também era considerado correto pelos naturalistas
que os intestinos produzissem espontaneamente vermes e que a
carne putrefata gerasse moscas. Todas estas teorias consideravam
possível o surgimento de Vida a partir de matéria inanimada, fosse
qual fosse o agente catalisador dessa transformação, daí o estarem
englobadas na designação geral de Abiogênese. Em poucos dias verificou que os frascos abertos estavam cheios
No século XVII Francisco Redi, naturalista e poeta, pôs-se con- de moscas e de outros vermes, enquanto que os frascos selados se
trário as ideias de Aristóteles, negando a existência do princípio ati- encontravam livres de contaminação.
vo e defendendo que todos os organismos vivos surgiam a partir Esta experiência parecia negar, inequivocamente a abiogênese
de inseminação por ovos e nunca por geração espontânea. de organismos macroscópicos, tendo sido aceito pelos naturalistas
Para demonstrar a veracidade de sua teoria, Redi realizou uma da época.
experiência que se tornou célebre pelo fato de ser a primeira, re- No entanto, a descoberta do microscópio veio levantar a ques-
gistrada, a utilizar um controle em suas experiências. Colocou car- tão novamente. A teoria da abiogênese foi parcialmente reabilita-
ne em 8 frascos. Selou 4 deles e deixou os restantes 4 abertos, em da, pois parecia a única capaz de explicar o desenvolvimento de
contato com o ar. microrganismos visíveis apenas ao microscópio.
Esta situação manteve-se até ao final do século XVIII, quando
o assunto foi novamente debatido por dois famosos cientistas da
época, Needham e Spallanzani.
Needham utilizou várias infusões, que colocou em frascos. Es-
ses frascos foram aquecidos e deixados ao ar durante alguns dias.
Observou que as infusões rapidamente eram invadidas por uma
multitude de microrganismos. Interpretou estes resultados pela ge-
ração espontânea de microrganismos, por ação do princípio ativo
de Aristóteles.
Spallanzani usou nas suas experiências 16 frascos. Ferveu du-
rante uma hora diversas infusões e colocou-as em frascos. Dos 16
frascos, 4 foram selados, 4 fortemente rolhados, 4 tapados com al-
godão e 4 deixados abertos ao ar. Verificou que a proliferação de
microrganismos era proporcional ao contato com o ar. Interpretou
estes resultados com o fato de o ar conter ovos desses organismos,
logo toda a Vida proviria de outra, preexistente.

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CIÊNCIAS NATURAIS
No entanto, Needham não aceitou estes resultados, alegando que a excessiva fervura teria destruído o principio ativo presente nas
infusões.
A polêmica manteve-se até 1862, quando o francês Louis Pasteur, pôs definitivamente termo à ideia de geração espontânea com uma
série de experiências conservadas para a posteridade pelos museus franceses. Pasteur colocou diversas infusões em balões de vidro, em
contato com o ar. Alongou os pescoços dos balões á chama, de modo a que fizessem várias curvas. Ferveu os líquidos até que o vapor saísse
livremente das extremidades estreitas dos balões. Verificou que, após o arrefecimento dos líquidos, estes permaneciam inalterados, tanto
em odor como em sabor. No entanto, não se apresentavam contaminados por microrganismos.

Para eliminar o argumento de Needham, quebrou alguns pescoços de balões, verificando que imediatamente os líquidos ficavam
infestados de organismos. Concluiu, assim, que todos os microrganismos se formavam a partir de qualquer tipo de partícula sólida, trans-
portada pelo ar. Nos balões intactos, a entrada lenta do ar pelos pescoços estreitos e encurvados provocava a deposição dessas partículas,
impedindo a contaminação das infusões.
Ficou definitivamente provado que, nas condições atuais, a vida surge sempre de outra vida, preexistente.

Como surgiu a vida pela primeira vez?


No final do século XIX vários cientistas alemães, nomeadamente Liebig, Richter e Helmholtz, tentaram explicar o aparecimento da vida
na Terra com a hipótese de que esta tivesse sido trazida de outro ponto do universo sob a forma de esporos resistentes, nos meteoritos –
teoria Cosmozóica.
A presença de matéria orgânica em meteoritos encontrados na Terra tem sido usada como argumento a favor desta teoria, o que não
invalida a possibilidade de contaminação terrestre, após a queda do meteorito.
Atualmente já foi comprovada a existência de moléculas orgânicas no espaço, como o formaldeído, álcool etílico e alguns aminoáci-
dos. No entanto, estas moléculas parecem formar-se espontaneamente, sem intervenção biológica.
O físico sueco Arrhenius propôs uma teoria semelhante, segundo a qual a vida se teria originado em esporos impelidos por energia lu-
minosa, vindos numa “onda” do espaço exterior. Chamou a esta teoria Panspermia (sementes por todo o lado). Atualmente estas ideias ca-
íram em descrédito, pois é difícil aceitar que qualquer esporo resista á radiação do espaço, ao aquecimento da entrada na atmosfera, etc.
Apesar disso, na década de 80 deste século, Crick (um dos descobridores da estrutura do DNA) e Orgel sugeriram uma teoria de Pans-
permia dirigida, em que o agente inicial da vida na Terra passaria a ser colônias de microrganismos, transportadas numa nave espacial não
tripulada, lançada por uma qualquer civilização muito avançada. A vida na Terra teria surgido a partir da multiplicação desses organismos
no oceano primitivo.
Apesar de toda a boa vontade envolvida, nenhuma destas teorias avança verdadeiramente no esclarecimento do problema pois ape-
nas desloca a questão para outro local, não respondendo à questão fundamental: Como surgiu a vida?
No entanto, um avanço fundamental ocorreu com o as teorias de Pasteur e de Darwin, permitindo abordar o problema sob uma
perspectiva diferente.
Dados obtidos a partir de diversos campos da ciência permitiram em 1936 que o russo Alexander Oparin formula-se uma teoria re-
volucionária, que tentava explicar a origem da vida na Terra, sem recorrer a fenômenos sobrenaturais ou extraterrestres. Sua hipótese se
resume nos seguintes fatos:

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CIÊNCIAS NATURAIS
Inclui a taxonomia (ciência da descoberta, descrição e classi-
ficação das espécies e grupo de espécies, com suas normas e prin-
cípios) e também a filogenia (relações evolutivas entre os organis-
mos). Em geral, diz-se que compreende a classificação dos diversos
organismos vivos. Em biologia, os sistematas são os cientistas que
classificam as espécies em outros táxons a fim de definir o modo
como eles se relacionam evolutivamente.
O objetivo da classificação dos seres vivos, chamada taxono-
mia, foi inicialmente o de organizar as plantas e animais conhecidos
em categorias que pudessem ser referidas. Posteriormente a classi-
ficação passou a respeitar as relações evolutivas entre organismos,
organização mais natural do que a baseada apenas em caracterís-
ticas externas.
Para isso se utilizam também características ecológicas, fisioló-
gicas, e todas as outras que estiverem disponíveis para os táxons
em questão. é a esse conjunto de investigações a respeito dos tá-
xons que se dá o nome de Sistemática. Nos últimos anos têm sido
Na atmosfera primitiva do nosso planeta, existiriam metano, tentadas classificações baseadas na semelhança entre genomas,
amônia, hidrogênio e vapor de água. Sob altas temperaturas, em com grandes avanços em algumas áreas, especialmente quando se
presença de centelhas elétricas e raios ultravioletas, tais gases te- juntam a essas informações aquelas oriundas dos outros campos
riam se combinado, originando aminoácidos, que ficavam flutuan- da Biologia.
do na atmosfera. Com a saturação de umidade da atmosfera, come- A classificação dos seres vivos é parte da sistemática, ciência
çaram a ocorrer as chuvas. Os aminoácidos eram arrastados para o que estuda as relações entre organismos, e que inclui a coleta,
solo. Submetidos a aquecimento prolongado, os aminoácidos com- preservação e estudo de espécimes, e a análise dos dados vindos
binavam-se uns com os outros, formando proteínas. de várias áreas de pesquisa biológica.
As chuvas lavavam as rochas e conduziam as proteínas para os O primeiro sistema de classificação foi o de Aristóteles no sécu-
mares. Surgia uma “sopa de proteínas” nas águas mornas dos ma- lo IV a.C., que ordenou os animais pelo tipo de reprodução e por te-
res primitivos. As proteínas dissolvidas em água formavam coloides. rem ou não sangue vermelho. O seu discípulo Teofrasto classificou
Os coloides se interpenetravam e originavam os coacervados. Os as plantas por seu uso e forma de cultivo.
coacervados englobavam moléculas de nucleoproteínas. Depois, Nos séculos XVII e XVIII os botânicos e zoólogos começaram a
organizavam-se em gotículas delimitadas por membrana lipoprotéi- delinear o atual sistema de categorias, ainda baseados em carac-
ca. Surgiam as primeiras células. Essas células pioneiras eram mui- terísticas anatômicas superficiais. No entanto, como a ancestrali-
to simples e ainda não dispunham de um equipamento enzimático dade comum pode ser a causa de tais semelhanças, este sistema
capaz de realizar a fotossíntese. Eram, portanto, heterótrofas. Só demonstrou aproximar-se da natureza, e continua sendo a base da
mais tarde, surgiram as células autótrofas, mais evoluídas. E isso classificação atual. Lineu fez o primeiro trabalho extenso de catego-
permitiu o aparecimento dos seres de respiração aeróbia. rização, em 1758, criando a hierarquia atual.
Atualmente, se discute a composição química da atmosfera pri- A partir de Darwin a evolução passou a ser considerada como
mitiva do nosso planeta, preferindo alguns admitir que, em vez de paradigma central da Biologia, e com isso evidências da paleonto-
metano, amônia, hidrogênio e vapor de água, existissem monóxido logia sobre formas ancestrais, e da embriologia sobre semelhanças
de carbono, dióxido de carbono, nitrogênio molecular e vapor de nos primeiros estágios de vida. No século XX, a genética e a fisiolo-
água. gia tornaram-se importantes na classificação, como o uso recente
Oparin não teve condições de provar sua hipótese. Mas, em da genética molecular na comparação de códigos genéticos. Progra-
1953, Stanley Miller, na Universidade de Chicago, realizou em la- mas de computador específicos são usados na análise matemática
boratório uma experiência. Colocou num balão de vidro: metano, dos dados.
amônia, hidrogênio e vapor de água. Submeteu-os a aquecimento Em fevereiro de 2005 Edward Osborne Wilson, professor apo-
prolongado. Uma centelha elétrica de alta tensão cortava continua- sentado da Universidade de Harvard, onde cunhou o termo biodi-
mente o ambiente onde estavam contidos os gases. Ao fim de certo versidade e participou da fundação da sociobiologia, ao defender
tempo, Miller comprovou o aparecimento de moléculas de ami- um “projeto genoma” da biodiversidade da Terra, propôs a criação
noácido no interior do balão, que se acumulavam no tubo em U. de uma base de dados digital com fotos detalhadas de todas a es-
Pouco tempo depois, em 1957, Sidney Fox submeteu uma mis- pécies vivas e a finalização do projeto Árvore da vida. Em contra-
tura de aminoácidos secos a aquecimento prolongado e demons- posição a uma sistemática baseada na biologia celular e molecular,
trou que eles reagiam entre si, formando cadeias peptídicas, com o Wilson vê a necessidade da sistemática descritiva para preservar a
aparecimento de moléculas protéicas pequenas. biodiversidade.
As experiências de Miller e Fox comprovaram a veracidade da Do ponto de vista econômico, defendem Wilson, Peter Raven e
hipótese de Oparin. Dan Brooks, a sistemática pode trazer conhecimentos úteis na bio-
tecnologia, e na contenção de doenças emergentes. Mais da me-
SERES VIVOS tade das espécies do planeta é parasita, e a maioria delas ainda é
desconhecida.
Classificação dos Seres Vivos
A sistemática é a ciência dedicada a inventariar e descrever a
biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os or-
ganismos.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
De acordo com a classificação vigente as espécies descritas são agrupadas em gêneros. Os gêneros são reunidos, se tiverem algumas
características em comum, formando uma família. Famílias, por sua vez, são agrupadas em uma ordem. Ordens são reunidas em uma
classe. Classes de seres vivos são reunidas em filos. E os filos são, finalmente, componentes de alguns dos cinco reinos (Monera, Protista,
Fungi, Plantae e Animalia).

Nomenclatura Científica
Nomenclatura é a atribuição de nomes (nome científico) a organismos e às categorias nas quais são classificados.
O nome científico é aceito em todas as línguas, e cada nome aplica-se apenas a uma espécie.
Há duas organizações internacionais que determinam as regras de nomenclatura, uma para zoologia e outra para botânica. Segundo
as regras, o primeiro nome publicado (a partir do trabalho de Lineu) é o correto, a menos que a espécie seja reclassificada, por exemplo,
em outro gênero. A reclassificação tem ocorrido com certa frequência desde o século XX.
O Código Internacional de Nomenclatura Zoológica preconiza que neste caso mantém-se a referência a quem primeiro descreveu a es-
pécie, com o ano da decisão, entre parênteses, e não inclui o nome de quem reclassificou. Esta norma internacional decorre, entre outras
coisas, do fato de ser ainda nova a abordagem genética da taxonomia, sujeita a revisão devido a novas pesquisas científicas, ou simples-
mente a definição de novos parâmetros para a delimitação de um táxon, que podem ser morfológicos, ecológicos, comportamentais etc.
O sistema atual identifica cada espécie por dois nomes em latim: o primeiro, em maiúscula, é o gênero, o segundo, em minúscula, é o
epíteto específico. Os dois nomes juntos formam o nome da espécie. Os nomes científicos podem vir do nome do cientista que descreveu
a espécie, de um nome popular desta, de uma característica que apresente, do lugar onde ocorre, e outros. Por convenção internacional, o
nome do gênero e da espécie é impresso em itálico, grifado ou em negrito, o dos outros táxons não. Subespécies têm um nome composto
por três palavras.
Ex.: Canis familiares, Canis lupus, Felis catus.

Nomenclatura popular
A nomeação dos seres vivos que compõe a biodiversidade constitui uma etapa do trabalho de classificação. Muitos seres são “batiza-
dos” pela população com nomes denominados populares ou vulgares, pela comunidade científica.
Esses nomes podem designar um conjunto muito amplo de organismos, incluindo, algumas vezes, até grupos não aparentados.
O mesmo nome popular pode ser atribuído a diferentes espécies, como neste exemplo:

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CIÊNCIAS NATURAIS

Ananas comosus Outros nomes populares: canguçu, onça-canguçu, jaguar-can-


guçu

Um outro exemplo é a planta Manihot esculenta, cuja raiz é


muito apreciada como alimento. Dependendo da região do Brasil,
ela é conhecida por vários nomes: aipim, macaxeira ou mandioca.
Considerando os exemplo apresentados, podemos perceber
que a nomenclatura popular varia bastante, mesmo num país como
o Brasil, em que a população fala um mesmo idioma, excetuando-
-se os idiomas indígenas. Imagine se considerarmos o mundo todo,
com tantos, com tantos idiomas e dialetos diferentes, a grande
quantidade de nomes de um mesmo ser vivo pode receber. Desse
modo podemos entender a necessidade de existir uma nomencla-
tura padrão, adotada internacionalmente, para facilitar a comuni-
cação de diversos profissionais, como os médicos, os zoólogos, os
botânicos e todos aqueles que estudam os seres vivos.

A Filogênese dos Seres Vivos


Ananas ananassoides Quais foram os ancestrais dos répteis (lagartos, cobras) que vi-
vem na Terra atual?
Estas duas espécies do gênero ananas são chamadas pelo mes- Essas e outras perguntas relativas à origem dos grandes grupos
mo nome popular Abacaxi. de seres vivos eram difíceis de serem respondidas até surgir, em
Outro exemplo é o crustáceo de praia Emerita brasiliensis, que 1859, a Teoria da evolução Biológica por Seleção Natural, proposta
no Rio de Janeiro é denominado tatuí, e nos estados de São Paulo e por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace. Com a compreensão de
Paraná é chamado de tatuíra. “como” a evolução biológica ocorre, os biólogos passaram a sugerir
hipóteses para explicar a possível relação de parentesco entre os
diversos grupos de seres vivos.
Diagramas em forma de árvore - elaborados com dados de ana-
tomia e embriologia comparadas, além de informações derivadas
do estudo de fósseis - mostraram a hipotética origem de grupos
a partir de supostos ancestrais. Essas supostas “árvores genealó-
gicas” ou “filogenéticas” (do grego, phylon = raça, tribo + génesis =
fonte, origem, início) simbolizavam a história evolutiva dos grupos
que eram comparados, além de sugerir uma provável época de ori-
gem para cada um deles. Como exemplo veja a figura abaixo.

Em contra partida, animais de uma mesma espécie podem re-


ceber vários nomes, como ocorre com a onça-pintada, cujo nome
científico é Panthera onca.

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CIÊNCIAS NATURAIS

O esquema representa uma provável “história evolutiva” dos vertebrados. Note que estão representados os grupos atuais - no topo
do esquema - bem como os prováveis ancestrais. Perceba que o grupo das lampreias (considerados “peixes” sem mandíbula) é bem antigo
(mais de 500 milhões de anos). Já cerca de 150 milhões de anos, provavelmente a partir de um grupo de dinossauros ancestrais. Note,
ainda, que o parentesco existe entre aves e répteis é maior do que existe entre mamífero e répteis, e que os três grupos foram originados
de um ancestral comum.
Atualmente com um maior número de informações sobre os grupos taxonômicos passaram-se a utilizar computadores para se gerar
as árvores filogenéticas e os cladogramas para estabelecer as inúmeras relações entre os seres vivos.

Estabelecendo Filogenias com os Cladogramas


Ao dispor de um grande número de características comparativas, mais confiáveis - anatômicas, embriológicas, funcionais, genéticas,
comportamentais etc. - os biólogos interessados na classificação dos seres vivos puderam elaborar hipóteses mais consistentes a respeito
da evolução dos grandes grupos.
Influenciados pelo trabalho de Wili Hennig - um cientista alemão, especialista em insetos - passaram a apresentar as características
em cladogramas.
Neste tipo de diagrama, utiliza-se uma linha, cujo ponto de origem - a raiz- simboliza um provável grupo (ou espécie) ancestral. De
cada nó surge um ramo, que conduz a um ou a vários grupos terminais. Com os cladogramas pode-se estabelecer uma comparação entre
as características primitivas - que existiam em grupos ancestrais - e as derivadas - compartilhadas por grupos que os sucederam.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS

LUZ, SOM E RELAÇÃO COM OBJETOS

Óptica é o ramo da física que estuda os fenômenos relacionados à luz. Devido ao fato do sentido da visão ser o que mais contribui
para a aquisição do conhecimento, a óptica é uma ciência bastante antiga, surgindo a partir do momento em que as pessoas começaram
a fazer questionamentos sobre o funcionamento da visão e sua relação com os fenômenos ópticos.
Os princípios fundamentais da óptica são:
1º - Princípio da Propagação Retilínea: a luz sempre se propaga em linha reta;
2º - Princípio da Independência de raios de luz: os raios de luz são independentes, podendo até mesmo se cruzarem, não ocasionan-
do nenhuma mudança em relação à direção dos mesmos;
3º - Princípio da Reversibilidade da Luz: a luz é reversível. Por exemplo, se vemos alguém através de um espelho, certamente essa
pessoa também nos verá. Assim, os raios de luz sempre são capazes de fazer o caminho na direção inversa.

A luz pode ser propagada em três diferentes tipos de meios.


Os meios transparentes permitem a passagem ordenada dos raios de luz, dando a possibilidade de ver os corpos com nitidez. Exem-
plos: vidro polido, ar atmosférico, etc.
Nos meios translúcidos a luz também se propaga, porém de maneira desordenada, fazendo com que os corpos sejam vistos sem niti-
dez. Exemplos: vidro fosco, plásticos, etc.
Os meios opacos são aqueles que impedem completamente a passagem de luz, não permitindo a visão de corpos através dos mes-
mos. Exemplos: portas de madeira, paredes de cimento, pessoas, etc.
Quando os raios de luz incidem em uma superfície, eles podem ser refletidos regular ou difusamente, refratados ou absorvidos pelo
meio em que incidem. A reflexão regular ocorre quando um raio de luz incide sobre uma superfície e é refletido de forma cilíndrica, dife-
rentemente da reflexão difusa, onde os feixes de luz são refletidos em todas as direções.
A refração da luz ocorre quando os feixes de luz mudam de velocidade e de direção quando passam de um meio para outro. A absor-
ção é o fenômeno onde as superfícies absorvem parte ou toda a quantidade de luz que é incidida.
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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
FUNDAMENTOS • Cônico divergente: os raios de luz divergem a partir de um
ponto;
Luz - Comportamento e princípios
A luz, ou luz visível como é fisicamente caracterizada, é uma
forma de energia radiante. É o agente físico que, atuando nos ór-
gãos visuais, produz a sensação da visão.
Para saber mais...
Energia radiante é aquela que se propaga na forma de ondas
eletromagnéticas, dentre as quais se pode destacar as ondas de rá-
dio, TV, micro-ondas, raios X, raios gama, radar, raios infravermelho,
radiação ultravioleta e luz visível. • Cilíndrico paralelo: os raios de luz são paralelos entre si.
Uma das características das ondas eletromagnéticas é a sua ve-
locidade de propagação, que no vácuo tem o valor de aproximada-
mente 300 mil quilômetros por segundo, ou seja:

Podendo ter este valor reduzido em meios diferentes do vácuo,


sendo a menor velocidade até hoje medida para tais ondas quando Fontes de luz
atravessam um composto chamado condensado de Bose-Einstein, Tudo o que pode ser detectado por nossos olhos, e por outros
comprovada em uma experiência recente. instrumentos de fixação de imagens como câmeras fotográficas, é a
luz de corpos luminosos que é refletida de forma difusa pelos cor-
A luz que percebemos tem como característica sua frequência pos que nos cercam.
que vai da faixa de (vermelho) até (violeta).
Esta faixa é a de maior emissão do Sol, por isso os órgãos visuais de Fonte de luz são todos os corpos dos quais se podem receber
todos os seres vivos estão adaptados a ela, e não podem ver além luz, podendo ser fontes primárias ou secundárias.
desta, como por exemplo, a radiação ultravioleta e infravermelha. • Fontes primárias: Também chamadas de corpos lumino-
sos, são corpos que emitem luz própria, como por exemplo, o Sol,
Divisões da Óptica as estrelas, a chama de uma vela, uma lâmpada acesa,...
Óptica Física: estuda os fenômenos ópticos que exigem uma • Fontes secundárias: Também chamadas de corpos ilumi-
teoria sobre a natureza das ondas eletromagnéticas. nados, são os corpos que enviam a luz que recebem de outras fon-
tes, como por exemplo, a Lua, os planetas, as nuvens, os objetos
Óptica Geométrica: estuda os fenômenos ópticos em que apre- visíveis que não têm luz própria,...
sentam interesse as trajetórias seguidas pela luz.Fundamenta-se na Quanto às suas dimensões, uma fonte pode ser classificada
noção de raio de luz e nas leis que regulamentam seu comporta- como:
mento. O estudo em nível de Ensino Médio restringe-se apenas a • Pontual ou puntiforme: uma fonte sem dimensões consi-
esta parte da óptica. deráveis que emite infinitos raios de luz.

Conceitos básicos

Raios de luz
São a representação geométrica da trajetória da luz, indicando
sua direção e o sentido da sua propagação. Por exemplo, em uma
fonte puntiforme são emitidos infinitos raios de luz, embora apenas
alguns deles cheguem a um observador.
Representa-se um raio de luz por um segmento de reta orienta-
do no sentido da propagação.

• Extensa: uma fonte com dimensões consideráveis em re-


Feixe de luz lação ao ambiente.
É um conjunto de infinitos raios de luz; um feixe luminoso pode
ser:
• Cônico convergente: os raios de luz convergem para um
ponto;

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Meios de propagação da luz • Ampliação angular — Para instrumentos ópticos com uma
Os diferentes meios materiais comportam-se de forma diferen- lente ocular, a dimensão linear da imagem vista na lente (imagem
te ao serem atravessados pelos raios de luz, por isso são classifica- virtual em distância infinita) não pode ser dada, então tamanho
dos em: significa o ângulo subtendido pelo objeto no ponto focal (tamanho
angular). Estritamente falando, um poderia usar a tangente daquele
- Meio transparente ângulo (na prática, isso só faz diferença se o ângulo é maior que
É um meio óptico que permite a propagação regular da luz, ou poucos graus). Então, ampliação angular é dada por:
seja, o observador vê um objeto com nitidez através do meio. Exem-
plos: ar, vidro comum, papel celofane, etc...

- Meio translúcido
É um meio óptico que permite apenas uma propagação irregu-
lar da luz, ou seja, o observador vê o objeto através do meio, mas
sem nitidez. Onde é o ângulo subtendido pelo objeto no ponto focal da
frente da lente objetiva e é o ângulo subtendido pela imagem pelo
ponto focal «de trás» da lente ocular.
• Exemplo: o tamanho angular da lua cheia é 0.5°. Em binó-
culos com ampliação de 10x o ângulo subtendido parece ser de 5°.

Por convenção, para lupas e microscópios ópticos, onde o ta-


manho do objeto é uma dimensão linear e o tamanho aparente é
um ângulo, a ampliação é a razão entre o tamanho aparente visto
pela lente ocular e o tamanho angular do objeto visto quando posto
a distância convencional do observador de 25 cm do olho.
Ampliação óptica é geralmente referido como “poder” (por
- Meio opaco exemplo “poder de 10x”), no entanto isso pode gerar confusão com
É um meio óptico que não permite que a luz se propague, ou poder óptico.
seja, não é possivel ver um objeto através do meio.
Princípio da independência dos raios de luz
• Fenômenos ópticos Quando os raios de luz se cruzam, estes seguem independente-
Ao incidir sobre uma superfície que separa dois meios de pro- mente, cada um a sua trajetória.
pagação, a luz sofre algum, ou mais do que um, dos fenômenos a
seguir:

Reflexão regular
A luz que incide na superfície e retorna ao mesmo meio, re-
gularmente, ou seja, os raios incidentes e refletidos são paralelos.
Ocorre em superfícies metálicas bem polidas, como espelhos.
Reflexão difusa
A luz que incide sobre a superfície volta ao mesmo meio, de
forma irregular, ou seja, os raios incidentes são paralelos, mas os
refletidos são irregulares. Ocorre em superfícies rugosas, e é res-
ponsável pela visibilidade dos objetos. Princípio da propagação retilínea da luz

Refração Todo o raio de luz percorre trajetórias retilíneas em meios


A luz incide e atravessa a superfície, continuando a se propagar transparentes e homogêneos.
no outro meio. Ambos os raios (incidentes e refratados) são parale-
los, no entanto, os raios refratados seguem uma trajetória inclinada Para saber mais...
em relação aos incididos. Ocorre quando a superfície separa dois Um meio homogêneo é aquele que apresenta as mesmas ca-
meios transparentes. racterísticas em todos os elementos de volume.
Um meio isótropo, ou isotrópico, é aquele em que a velocidade
Absorção de propagação da luz e as demais propriedades ópticas indepen-
A luz incide na superfície, no entanto não é refletida e nem dem da direção em que é realizada a medida.
refratada, sendo absorvida pelo corpo, e aquecendo-o. Ocorre em Um meio ordinário é aquele que é, ao mesmo tempo, transpa-
corpos de superfície escura. rente, homogêneo e isótropo, como por exemplo, o vácuo.

Ampliação A dispersão óptica (chamada também de dispersão cromáti-


Ampliação óptica é a razão entre o tamanho aparente de um ca por causa das diferentes cores associadas aos comprimentos de
objeto (ou seu tamanho em uma imagem) e seu tamanho verdadei- onda) é um resultado direto da refração e importantíssimo para o
ro, então é um número adimensional nosso cotidiano.
• Linear — Para imagens reais, como as projetadas em uma
tela, tamanho significa uma dimensão linear (medida, por exemplo,
em milimetros ou polegadas

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Esse fenômeno é, de certa forma, famoso por conta do arco-
-íris, que é o exemplo mais comum da dispersão cromática. Como
visto na figura ao lado, um feixe de luz branca (formado por todas
ou quase todas as cores) é separado em feixes de cores diferentes
por causa da dispersão. O índice de refração é uma propriedade
que muda de um meio para outro; logo, a dispersão cromática é
mais acentuada em alguns materiais do que outros.

Difração e interferencia
A Óptica Física (interferência e difração) estuda os comprimen-
tos de onda luz (como onda) comparáveis às dimensões dos objetos Desta forma, a partir de uma semelhança geométrica pode-se
estudados. expressar a seguinte equação:
A difração é o espalhamento da onda.
Quando uma onda encontra um obstáculo que possui uma
abertura de dimensões comparáveis ao comprimento de onda, par-
te da onda que passa pela abertura se espalha – é difratada – na
região que fica do outro lado do obstáculo. Esta é conhecida como a equação da câmara escura.
Interferência é um fenômeno descrito pelo cientista inglês Tho-
mas Young, sendo que este fenômeno representa a superposição Polarização da Luz
de duas ou mais ondas num mesmo ponto.Esta superposição pode As ondas polarizadas podem ser produzidas a partir de ondas
ter um caráter de aniquilação, quando as fases não são as mesmas não polarizadas através de fenômenos como: absorção, espalha-
(interferência destrutiva) ou pode ter um caráter de reforço quando mento, reflexão e birrefringência.
estão em fase (interferência construtiva). Existem diversas substâncias, materiais que ao serem atingidos
pelos feixes de luz deixam passar apenas uma parte da onda lu-
Sombra e penumbra minosa, esse acontecimento é denominado como polarização da
Quando um corpo opaco é colocado entre uma fonte de luz e luz. A luz que antes estava perturbada, se propagando em diversos
um anteparo, é possível delimitar regiões de sombra e penumbra. planos e passa a propagar em apenas um único plano.
A sombra é a região do espaço que não recebe luz direta da
fonte. Penumbra é a região do espaço que recebe apenas parte da
luz direta da fonte, sendo encontrada apenas quando o corpo opa-
co é posto sob influência de uma fonte extensa. Ou seja:

• Fonte de luz puntiforme

• Fonte de luz extensa Exemplo de filtros de polarização posicionados sobre uma


página de revista, com ângulo não perpendicular.

Os filtros polarizadores trabalham como uma fenda, onde a luz


normal que incide ao atravessar passe em somente um plano. Caso
sejam utilizados dois polarizadores como na figura 1 e seja feito o
alinhamento dos mesmos em ângulo não perpendicular, ou seja,
que os ângulos não estejam defasados de 90°, a luz que passar pelo
primeiro e atinge o segundo filtro, poderemos ver o texto um pou-
co mais escuro, devido a polarização, mas em todo caso é possível
Câmara escura de orifício observar o texto.
Uma câmara escura de orifício consiste em um equipamento
formado por uma caixa de paredes totalmente opacas, sendo que Tipos de reflexão e refração
no meio de uma das faces existe um pequeno orifício. Reflexão é o fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a se
Ao colocar-se um objeto, de tamanho o, de frente para o orifí- propagar no meio de origem, após incidir sobre uma superfície de
cio, a uma distância p, nota-se que uma imagem refletida, de tama- separação entre dois meios.
nho i, aparece na face oposta da caixa, a uma distância p’, mas de Refração é o fenômeno que consiste no fato de a luz passar de
foma invertida. Conforme ilustra a figura: um meio para outro diferente.
Durante uma reflexão são conservadas a frequência e a veloci-
dade de propagação, enquanto durante a refração, apenas a frequ-
ência é mantida constante.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Reflexão e refração regular
Acontece quando, por exemplo, um feixe cilíndrico de luz atin-
ge uma superfície totalmente lisa, ou tranquila, desta forma, os fei-
xes refletidos e refratados também serão cilíndricos, logo os raios
de luz serão paralelos entre si.

Reflexão e refração difusa


Acontece quando, por exemplo, um feixe cilíndrico de luz atinge
uma superfície rugosa, ou agitada, fazendo com que os raios de luz
refletidos e refratados tenham direção aleatória por todo o espaço.

Reflexão e refração seletiva


A luz branca que recebemos do sol, ou de lâmpadas fluorescen-
tes, por exemplo, é policromática, ou seja, é formada por mais de No grupo dos sistemas ópticos refratores encontram-se os
uma luz monocromática, no caso do sol, as sete do arco-íris: verme- dioptros, que são peças constituídas de dois meios transparentes
lho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta. separados por uma superfície regular. Quando associados de for-
Sendo assim, um objeto ao ser iluminado por luz branca “sele- ma conveniente os dioptros funcionam como utensílios ópticos de
ciona” no espectro solar as cores que vemos, e as refletem de forma grande utilidade como lentes e prismas.
difusa, sendo assim, vistas por nós.
Se um corpo é visto branco, é porque ele reflete todas as cores
do espectro solar.
Se um corpo é visto vermelho, por exemplo, ele absorve todas
as outras cores do espectro, refletindo apenas o vermelho.
Se um corpo é “visto” negro, é por que ele absorve todas as
cores do espectro solar.

Chama-se filtro de luz a peça, normalmente acrílica, que deixa


passar apenas um das cores do espectro solar, ou seja, um filtro
vermelho, faz com que a única cor refratada de forma seletiva seja
a vermelha.
Para saber mais... Sistemas ópticos estigmáticos, aplanéticos e ortoscópicos
É muito comum o uso de filtros de luz na astronomia para ob- • Um sistema óptico é estigmático quando cada ponto obje-
servar estrelas, já que estas apresentam diferentes cores, conforme to conjuga apenas um ponto imagem.
sua temperatura e distância da Terra, principalmente. • Um sistema óptico é aplanético quando um objeto plano
e frontal também conjuga uma imagem plana e frontal.
Ponto imagem e ponto objeto • Um sistema óptico é ortoscópico quando uma imagem é
Chama-se ponto objeto, relativamente a um sistema óptico, o conjugada semelhante a um objeto.
vértice do feixe de luz que incide sobre um objeto ou uma superfí- O único sistema óptico estigmático, aplanético e ortoscópico
cie, sendo dividido em três tipos principais: para qualquer posição do objeto é o espelho plano.
• Ponto objeto real (POR): é o vértice de um feixe de luz di-
vergente, sendo formado pelo cruzamento efetivo dos raios de luz. REFLEXÃO DA LUZ
• Ponto objeto virtual (POV): é o vértice de um feixe de luz Reflexão é o fenômeno que consiste no fato de a luz voltar a
convergente, sendo formado pelo cruzamento imaginário do pro- se propagar no meio de origem, após incidir sobre um objeto ou
longamente dos raios de luz. superfície.
• Ponto objeto impróprio (POI): é o vértice de um feixe de É possível esquematizar a reflexão de um raio de luz, ao atingir
luz cilíndrico, ou seja, se situa no infinito. uma superfície polida, da seguinte forma:

Chama-se ponto imagem, relativamente a um sistema óptico,


o vértice de um feixe de luz emergente, ou seja, após ser incidido.
• Ponto imagem real (PIR): é o vértice de um feixe de luz
emergente convergente, sendo formado pelo cruzamento efeitivo
dos raios de luz.
• Ponto imagem virtual (PIV): é o vértice de um feixe de luz
emergente divergente, sendo formado pelo cruzamento imaginário
do prolongamento dos raios de luz.
• Ponto imagem impróprio (PII): é o vértice de um feixe de
luz emergente cilíndrico, ou seja, se situa no infinito.

Sistemas ópticos
Há dois principais tipos de sistemas ópticos: os refletores e os
refratores.
O grupo dos sistemas ópticos refletores consiste principalmen- AB = raio de luz incidente
te nos espelhos, que são superfícies de um corpo opaco, altamente BC = raio de luz refletido
polidas e com alto poder de reflexão. N = reta normal à superfície no ponto B
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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
T = reta tangente à superfície no ponto B Translação de um espelho plano
i = ângulo de incidência, formado entre o raio incidente e a reta Considerando a figura:
normal.
r = ângulo refletido, formado entre o raio refletido e a reta nor-
mal.

Leis da reflexão
Os fenômenos em que acontecem reflexão, tanto regular quan-
to difusa e seletiva, obedecem a duas leis fundamentais que são:

1ª lei da reflexão
O raio de luz refletido e o raio de luz incidente, assim como a
reta normal à superfície, pertencem ao mesmo plano, ou seja, são
coplanares.

2ª Lei da reflexão A parte superior do desenho mostra uma pessoa a uma dis-
O ângulo de reflexão (r) é sempre igual ao ângulo de incidência tância do espelho, logo a imagem aparece a uma distância em
(i). relação ao espelho.
Espelho Plano Na parte inferior da figura, o espelho é transladado para a
Um espelho plano é aquele em que a superfície de reflexão é direita, fazendo com que o observador esteja a uma distância do
totalmente plana. espelho, fazendo com que a imagem seja deslocada x para a direita.
Os espelhos planos têm utilidades bastante diversificadas, Pelo desenho podemos ver que:
desde as domésticas até como componentes de sofisticados instru-
mentos ópticos.
Representa-se um espelho plano por:

Que pode ser reescrito como:

Mas pela figura, podemos ver que:

Logo:

Assim pode-se concluir que sempre que um espelho é transla-


dado paralelamente a si mesmo, a imagem de um objeto fixo sofre
translação no mesmo sentido do espelho, mas com comprimento
equivalente ao dobro do comprimento da translação do espelho.
As principais propriedades de um espelho plano são a simetria Se utilizarmos esta equação, e medirmos a sua taxa de varia-
entre os pontos objeto e imagem e que a maior parte da reflexão ção em um intervalo de tempo, podemos escrever a velocidade de
que acontece é regular. translação do espelho e da imagem da seguinte forma:

Para saber mais...


Os espelhos geralmente são feitos de uma superfície metálica
bem polida. É comum usar-se uma placa de vidro, onde se deposi-
ta uma fina camada de prata ou alumínio em uma das faces, tor-
nando a outra um espelho.

Construção das imagens em um espelho plano Ou seja, a velocidade de deslocamento da imagem é igual ao
Para se determinar a imagem em um espelho plano, basta ima- dobro da velocidade de deslocamento do espelho.
ginarmos que o observador vê um objeto que parece estar atrás Quando o observador também se desloca, a velocidade ao ser
do espelho. Isto ocorre porque o prolongamento do raio refletido considerada é a a velocidade relativa entre o observador e o espe-
passa por um ponto imagem virtual (PIV), “atrás” do espelho. lho, ao invés da velocidade de translação do espelho, ou seja:

Nos espelhos planos, o objeto e a respectiva imagem têm sem-


pre naturezas opostas, ou seja, quando um é real o outro deve ser
virtual. Portanto, para se obter geometricamente a imagem de um Associação de dois espelhos planos
objeto pontual, basta traçar por ele, através do espelho, uma reta e Dois espelhos planos podem ser associados, com as superfícies
marcar simétricamente o ponto imagem. refletoras se defrontando e formando um ângulo entre si, com
valores entre 0° e 180°.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Por razões de simetria, o ponto objeto e os pontos imagem fi- Reflexão da luz em espelhos esféricos
cam situados sobre uma circunferência. Assim como para espelhos planos, as duas leis da reflexão tam-
Para se calcular o número de imagens que serão vistas na asso- bém são obedecidas nos espelhos esféricos, ou seja, os ângulos de
ciação usa-se a fórmula: incidência e reflexão são iguais, e os raios incididos, refletidos e a
reta normal ao ponto incidido.

Sendo o ângulo formado entre os espelhos.


Por exemplo, quando os espelhos encontra-se perpendicular-
mente, ou seja =90°:

Portanto, nesta configuração são vistas 3 pontos imagem.

Espelhos esféricos
Chamamos espelho esférico qualquer calota esférica que seja
polida e possua alto poder de reflexão. Aspectos geométricos dos espelhos esféricos
Para o estudo dos espelhos esféricos é útil o conhecimento dos
elementos que os compõe, esquematizados na figura abaixo:

É fácil observar-se que a esfera da qual a calota acima faz parte


tem duas faces, uma interna e outra externa. Quando a superfície
refletiva considerada for a interna, o espelho é chamado côncavo.
Já nos casos onde a face refletiva é a externa, o espelho é chamado
convexo.
• C é o centro da esfera;
• V é o vértice da calota;
• O eixo que passa pelo centro e pelo vértice da calota é
chamado eixo principal.
• As demais retas que cruzam o centro da esfera são chama-
das eixos secundários.
• O ângulo , que mede a distância angular entre os dois ei-
xos secundários que cruzam os dois pontos mais externos da calota,
é a abertura do espelho.
• O raio da esfera R que origina a calota é chamado raios de
curvatura do espelho.

Um sistema óptico que consegue conjugar a um ponto obje-


to, um único ponto como imagem é dito estigmático. Os espelhos
esféricos normalmente não são estigmáticos, nem aplanéticos ou
ortoscópicos, como os espelhos planos.
No entanto, espelhos esféricos só são estigmáticos para os
raios que incidem próximos do seu vértice V e com uma pequena
inclinação em relação ao eixo principal. Um espelho com essas pro-
priedades é conhecido como espelho de Gauss.
Um espelho que não satisfaz as condições de Gauss (incidência
próxima do vértice e pequena inclinação em relação ao eixo princi-
pal) é dito astigmático. Um espelho astigmático conjuga a um ponto
uma imagem parecendo uma mancha.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Focos dos espelhos esféricos Equação fundamental dos espelhos esféricos
Para os espelhos côncavos de Gauss, pode-se verificar que to-
dos os raios luminosos que incidirem ao longo de uma direção para-
lela ao eixo secundário passam por (ou convergem para) um mesmo
ponto F - o foco principal do espelho.

Dadas a distância focal e posição do objeto, é possível deter-


minar analiticamente a posição da imagem através da equação de
Gauss, que é expressa por:

No caso dos espelhos convexos, a continuação do raio refletido


é que passa pelo foco. Tudo se passa como se os raios refletidos se
originassem do foco. Equação dos pontos conjugados
No estudo das características dos espelhos esféricos vimos
que é possível construir graficamente a imagem conjugada por um
dado espelho esférico. Nesse momento, vamos determinar algebri-
camente a imagem formada em um espelho esférico côncavo, sua
posição e altura. Para isso, basta conhecer a posição e a altura do
objeto.

Um sistema de coordenadas conveniente é o chamado referen-


cial de Gauss, um referencial cartesiano que se faz coincidir com o
esquema de espelho, de forma que:
► O eixo das abscissas coincide com o eixo principal do espelho
► O eixo das ordenadas coincide com o espelho
► A origem coincide com o vértice do espelho

O eixo das abscissas é orientado em sentido contrário ao da luz


incidente, de modo que os elementos reais tenham abscissas posi-
tivas, e os elementos virtuais tenham abscissas negativas. Na figura
Determinação de imagens abaixo, para um espelho côncavo de Gauss (cuja parte refletora é a
Analisando objetos diante de um espelho esférico, em posição interna, indicando por p a abscissa do objeto e por p’ a abscissa da
perpendicular ao eixo principal do espelho podemos chegara algu- imagem), temos:
mas conclusões importantes.
Um objeto pode ser real ou virtual. No caso dos espelhos, dize-
mos que o objeto é virtual se ele se encontra “atrás” do espelho. No
caso de espelhos esféricos a imagem de um objeto pode ser maior,
menor ou igual ao tamanho do objeto. A imagem pode ainda apa-
recer invertida em relação ao objeto. Se não houver sua inversão
dizemos que ela é direita.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Objeto real: p > 0; objeto virtual: p < 0; imagem real: p’ > 0; imagem virtual: p’ < 0.

Com as convenções adotadas, o foco principal tem abscissa positiva se o espelho é côncavo – foco real; e negativa para os espelhos
convexos – foco virtual.
♦ Espelho côncavo: f > 0
♦ Espelho convexo: f < 0

A equação que relaciona as abscissas do objeto (p), da imagem (p’) e do foco (f) é chamada de equação de Gauss ou equação dos
pontos conjugados:

Para a demonstração da equação de Gauss, vamos considerar um objeto e sua correspondente imagem conjugada por
um espelho esférico côncavo, conforme a figura abaixo.

Objeto AB e sua correspondente imagem A’B’ em um espelho esférico.

Os triângulos ABV e A’B’V são semelhantes:

mas VB’ = p’ e VB = p. Portanto,

Os triângulos FDV e FA’B’ também são semelhantes. Mas DV = AB, FB’ = p’- f e FV = f. Logo,

Das equações (I) e (II),

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CIÊNCIAS NATURAIS
Dividindo ambos os membros por pp’f, temos:

Portanto,

REFRAÇÃO DA LUZ
Refração da luz é o fenômeno em que ela é transmitida de um meio para outro diferente. Nesta mudança de meios a frequência da
onda luminosa não é alterada, embora sua velocidade e o seu comprimento de onda sejam. Com a alteração da velocidade de propagação
ocorre um desvio da direção original.

Cor e frequência
No intervalo do espectro eletromagnético que corresponde à luz visível, cada frequência equivale à sensação de uma cor.
Conforme a frequência aumenta, diminui o comprimento de onda, assim como mostra a tabela e o trecho do espectroeletromagné-
tico abaixo.

Quando recebemos raios de luz de diferentes frequências podemos perceber cores diferentes destas, como combinações. A luz branca
que percebemos vinda do Sol, por exemplo, é a combinação de todas as sete cores do espectro visível.
Luz mono e policromática
De acordo com sua cor, a luz pode ser classificada como monocromática ou policromática.
Chama-se luz monocromática aquela composta de apenas uma cor, como por exemplo a luz amarela emitida por lâmpadas de sódio.
Chama-se luz policromática aquela composta por uma combinação de duas ou mais cores monocromáticas, como por exemplo a luz
branca emitida pelo sol ou por lâmpadas comuns.
Usando-se um prisma, é possível decompor a luz policromática nas luzes monocromáticas que a formam, o que não é possível para as
cores monocromáticas, como o vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Um exemplo da composição das cores monocromáticas que formam a luz branca é o disco de Newton, que é uma experiência com-
posta de um disco com as sete cores do espectro visível, que ao girar em alta velocidade, “recompõe” as cores monocromáticas, formando
a cor policromática branca.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS

Cor de um corpo
Ao nosso redor é possível distinguir várias cores, mesmo quando estamos sob a luz do Sol, que é branca.
Esse fenômeno acontece pois quando é incidida luz branca sobre um corpo de cor verde, por exemplo, este absorve todas as outras
cores do espectro visível, refletido de forma difusa apenas o verde, o que torna possível distinguir sua cor.
Por isso, um corpo de cor branca é aquele que reflete todas as cores, sem absorver nenhuma, enquanto um corpo de cor preta absorve
todas as cores sobre ele incididas, sem refletir nenhuma, o que causa aquecimento.

Luz - Velocidade
Há muito tempo sabe-se que a luz faz parte de um grupo de ondas, chamado de ondas eletromagnéticas, sendo uma das característi-
cas que reune este grupo a sua velocidade de propagação.
A velocidade da luz no vácuo, mas que na verdade se aplica a diversos outros fenômenos eletromagnéticos como raios-x, raios gama,
ondas de rádio e tv, é caracterizada pela letra c, e tem um valor aproximado de 300 mil quilômetros por segundo, ou seja:

No entanto, nos meios materiais, a luz se comporta de forma diferente, já que interage com a matéria existente no meio. Em qualquer
um destes meios a velocidade da luz v é menor que c.
Em meios diferentes do vácuo também diminui a velocidade conforme aumenta a frequência. Assim a velocidade da luz vermelha é
maior que a velocidade da luz violeta, por exemplo.

Índice de refração absoluto


Para o entendimento completo da refração convém a introdução de uma nova grandeza que relacione a velocidade da radiação mono-
cromática no vácuo e em meios materiais, esta grandeza é o índice de refração da luz monocromática no meio apresentado, e é expressa
por:

Onde n é o índice de refração absoluto no meio, sendo uma grandeza adimensional.

É importante observar que o índice de refração absoluto nunca pode ser menor do que 1, já que a maior velocidade possível em um
meio é c, se o meio considerado for o próprio vácuo.
Para todos os outros meios materiais n é sempre maior que 1.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Alguns índices de refração usuais:

Índice de refração relativo entre dois meios


Chama-se índice de refração relativo entre dois meios, a relação entre os índices de refração absolutos de cada um dos meios, de
modo que:

Mas como visto:

Então podemos escrever:

Ou seja:

Observe que o índice de refração relativo entre dois meios pode ter qualquer valor positivo, inclusive menores ou iguais a 1.

Refringência
Dizemos que um meio é mais refringente que outro quando seu índice de refração é maior que do outro. Ou seja, o etanol é mais
refringente que a água.
De outra maneira, podemos dizer que um meio é mais refringente que outro quando a luz se propaga por ele com velocidade menor
que no outro.

Leis da Refração da Luz


Chamamos de refração da luz o fenômeno em que ela é transmitida de um meio para outro diferente.
Nesta mudança de meios a frequência da onda luminosa não é alterada, embora sua velocidade e o seu comprimento de onda sejam.
Com a alteração da velocidade de propagação ocorre um desvio da direção original.
Para se entender melhor este fenômeno, imagine um raio de luz que passa de um meio para outro de superfície plana, conforme
mostra a figura abaixo:

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Reflexão total da luz
A reflexão total da luz é um fenômeno óptico que ocorre quan-
do a luz incide sobre uma superfície com o ângulo-limite L e é com-
pletamente refletida.
Quando a luz incide sobre uma superfície de separação entre
dois meios, uma parte dela sofre refração e a outra, reflexão, con-
forme mostra a figura a seguir:

Onde:
• Raio 1 é o raio incidente, com velocidade e comprimento
de onda característico;
• Raio 2 é o raio refratado, com velocidade e comprimento
de onda característico;
• A reta tracejada é a linha normal à superfície;
• O ângulo formado entre o raio 1 e a reta normal é o ângulo
de incidência;
• O ângulo formado entre o raio 2 e a reta normal é o ângulo
de refração;
• A fronteira entre os dois meios é um dioptro plano.
Diagrama demonstrando o comportamento da luz ao incidir
Conhecendo os elementos de uma refração podemos entender sobre a superfície entredois meios de índices de refração diferentes
o fenômeno através das duas leis que o regem. A figura mostra a reflexão e a refração quando a luz passa de
um meio menos refringente para um meio mais refringente, por
1ª Lei da Refração exemplo, passa do ar para a água.
A 1ª lei da refração diz que o raio incidente (raio 1), o raio refra- Veja agora o que acontece quando a luz passa do meio mais re-
tado (raio 2) e a reta normal ao ponto de incidência (reta tracejada) fringente para outro menos refringente. Podemos considerar como
estão contidos no mesmo plano, que no caso do desenho acima é exemplo a luz passando da água para o ar. Observe o que acontece
o plano da tela. na figura, em que a fonte de luz é colocada embaixo de um aquário
com água:
2ª Lei da Refração - Lei de Snell
A 2ª lei da refração é utilizada para calcular o desvio dos raios
de luz ao mudarem de meio, e é expressa por:

No entanto, sabemos que:

Além de que:
A partir do ponto P, a luz é totalmente refletida

Observe que todos os raios de luz que atravessam o aquário,


nos pontos à esquerda do ponto P, têm uma parte refletida e outra
Ao agruparmos estas informações, chegamos a uma forma refratada. Mas quando o ângulo entre os raios de luz incidentes e a
completa da Lei de Snell: reta normal à superfície do aquário é igual a L, o ângulo-limite, não
ocorre mais a refração, e sim a reflexão total da luz.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Veja agora um diagrama representando a reflexão total da luz: Dioptro
É todo o sistema formado por dois meios homogêneos e trans-
parentes.
Quando esta separação acontece em um meio plano, chama-
mos então, dioptro plano.
A figura abaixo representa um dioptro plano, na separação en-
tre a água e o ar, que são dois meios homogêneos e transparentes.

A figura mostra que, quando o ângulo de incidência é igual a


L, o ângulo de reflexão é 90º
Formação de imagens através de um dioptro
O ângulo-limite é definido como o “menor ângulo de incidência Considere um pescador que vê um peixe em um lago. O peixe
da luz em uma superfície de separação entre dois meios a partir dos encontra-se a uma profundidade H da superfície da água. O pesca-
quais ela é totalmente refletida”. Ele pode ser calculado a partir da dor o vê a uma profundidade h. Conforme mostra a figura abaixo:
lei de Snell-Descartes:
n1 . Sen i = n2 . Sen r

Sendo:
n1 – índice de refração do meio 1;
n2 – índice de refração do meio 2;
i – ângulo de incidência
r – ângulo de reflexão.
No caso da reflexão total da luz, sabemos que n1 > n2, uma vez
que esse fenômeno ocorre apenas quando a luz passa de um meio
mais refringente para outro menos refringente. Além disso, o ângu-
lo de incidência i é o ângulo-limite L, e o ângulo de reflexão é 90º:
i = L e r = 90
A fórmula que determina estas distância é:
Substituindo esses dados na Lei de Snell-Descartes, teremos:
n1 . Sen L = n2 . Sen 90º

Sen 90º = 1, portanto:


n1 . Sen L = n2 . 1 Prisma
Sen L = n2 Um prisma é um sólido geométrico formado por uma face su-
n1 perior e uma face inferior paralelas e congruentes (também cha-
madas de bases) ligadas por arestas. As laterais de um prisma são
Uma consequência da reflexão total da luz é a impressão que paralelogramos.
temos de que a superfície do asfalto está molhada em dias quentes, No entanto, para o contexto da óptica, é chamado prisma o
fato que caracteriza um tipo de miragem. A luz proveniente do Sol elemento óptico transparente com superfícies retas e polidas que
atravessa várias camadas de ar com temperaturas diferentes. O ar é capaz de refratar a luz nele incidida. O formato mais usual de um
que está perto do asfalto é mais quente e, acima dele, existe outra prisma óptico é o de pirâmide com base quadrangular e lados trian-
camada de ar com temperatura um pouco menor. Essa diferença gulares.
de temperatura faz com que o ar tenha densidades diferentes e,
consequentemente, as duas camadas terão índices de refração di-
ferentes.
Os raios de luz incidem na camada de ar mais quente, passan-
do primeiro pela camada mais fria e com maior índice de refração.
Dependendo do ângulo de visão do observador, a luz refletirá na su-
perfície de separação entre essas duas camadas a imagem do céu,
dando a impressão de que o asfalto está molhado.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Tipos de lentes
Dentre as lentes esféricas que são utilizadas, seis delas são de
maior importância no estudo de óptica, sendo elas:

- Lente biconvexa

A aplicação usual dos prismas ópticos é seu uso para separar a


luz branca policromática nas sete cores monocromáticas do espec- É convexa em ambas as faces e tem a periferia mais fina que a
tro visível, além de que, em algumas situações poder refletir tais região central, seus elementos são:
luzes.

Funcionamento do prisma
Quando a luz branca incide sobre a superfície do prisma, sua
velocidade é alterada, no entanto, cada cor da luz branca tem um
índice de refração diferente, e logo ângulos de refração diferentes,
chegando à outra extremidade do prisma separadas.

Tipos de prismas
o Prismas dispersivos são usados para separar a luz em suas
cores de espectro.
o Prismas refletivos são usados para refletir a luz.
o Prismas polarizados podem dividir o feixe de luz em com-
ponentes de variadas polaridades.

LENTES ESFÉRICAS
Chamamos lente esférica o sistema óptico constituído de três - Lente plano-convexa
meios homogêneos e transparentes, sendo que as fronteiras entre
cada par sejam duas superfícies esféricas ou uma superfície esféri-
ca e uma superfície plana, as quais chamamos faces da lente.
Dentre todas as aplicações da óptica geométrica, a que mais se
destaca pelo seu uso no cotidiano é o estudo das lentes esféricas,
seja em sofisticados equipamentos de pesquisa astronômica, ou em
câmeras digitais comuns, seja em lentes de óculos ou lupas.
Chamamos lente esférica o sistema óptico constituído de três
meios homogêneos e transparentes, sendo que as fronteiras entre
cada par sejam duas superfícies esféricas ou uma superfície esférica
e uma superfície plana, as quais chamamos faces da lente.
Para um estudo simples consideraremos que o segundo meio
é a lente propriamente dita, e que o primeiro e terceiro meios são
exatamente iguais, normalmente a lente de vidro imersa em ar.

É plana em uma das faces e convexa em outra, tem a perferia


mais fina que a região central, seus elementos são:

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CIÊNCIAS NATURAIS

- Lente côncavo-convexa

Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem menor


índice de refração que o meio. Nesse caso, um exemplo de lente
com comportamento convergente é o de uma lente bicôncava (com
bordas espessas):

Tem uma de suas faces côncava e outra convexa, tem a perife-


ria mais fina que a região central. Seus elementos são:

Lentes esféricas divergentes


Em uma lente esférica com comportamento divergente, a luz
que incide paralelamente entre si é refratada, tomando direções
que divergem a partir de um único ponto.
Tanto lentes de bordas espessas como de bordas finas podem
ser divergentes, dependendo do seu índice de refração em relação
ao do meio externo.
Quando a espessura da lente é muito menor do que o raio de O caso mais comum é o que a lente tem índice de refração
suas faces, ela é denominada lente delgada. Nesse tipo de lente, os maior que o índice de refração do meio externo. Nesse caso, um
vértices V1 e V2 estão praticamente no mesmo ponto sobre o eixo exemplo de lente com comportamento divergente é o de uma lente
principal e passam a ser chamados de centro óptico. bicôncava (com bordas espessas):

Lentes convergentes
Em uma lente esférica com comportamento convergente, a luz
que incide paralelamente entre si é refratada, tomando direções
que convergem a um único ponto.
Tanto lentes de bordas finas como de bordas espessas podem
ser convergentes, dependendo do seu índice de refração em rela-
ção ao do meio externo.
O caso mais comum é o que a lente tem índice de refração
maior que o índice de refração do meio externo. Nesse caso, um
exemplo de lente com comportamento convergente é o de uma len-
te biconvexa (com bordas finas):

Já o caso menos comum ocorre quando a lente tem menor


índice de refração que o meio. Nesse caso, um exempo de lente
com comportamento divergente é o de uma lente biconvexa (com
bordas finas):

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CIÊNCIAS NATURAIS
Quando a lente é convergente usa-se distância focal positiva
(f>0) e para uma lente divergente se usa distância focal negativa
(f<0).
Por exemplo:

1) Considere uma lente convergente de distância focal 25cm =


0,25m.

Neste caso, é possível dizer que a lente tem vergência de +4di


ou que ela tem convergência de 4di.

2) Considere uma lente divergente de distância focal 50cm =


Vergência 0,5m.

Focos de uma lente

- Focos principais
Uma lente possui um par de focos principais: foco principal ob-
jeto (F) e foco principal imagem (F’). Ambos localizam-se a sobre o Neste caso, é possível dizer que a lente tem vergência de -2di
eixo principal e são simétricos em relação à lente, ou seja, a distân- ou que ela tem divergência de 2di.
cia OF é igual a distância OF’.
Associação de lentes
- Foco imagem (F’) Duas lentes podem ser colocadas de forma que funcionem
É o ponto ocupado pelo foco imagem, podendo ser real ou vir- como uma só, desde que sejam postas coaxialmente, isto é, com
tual. eixos principais coincidentes. Neste caso, elas serão chamadas de
justapostas, se estiverem encostadas, ou separadas, caso haja uma
- Foco objeto (F) distância d separando-as.
É o ponto ocupado pelo foco objeto, podendo ser real ou vir- Estas associações são importantes para o entendimento dos
tual. instrumentos ópticos.
Quando duas lentes são associadas é possível obter uma len-
Distância focal te equivalente. Esta terá a mesma característica da associação das
É a medida da distância entre um dos focos principais e o cen- duas primeiras.
tro óptico, esta medida é caracterizada pela letra f. Lembrando que se a lente equivalente tiver vergência positiva
será convergente e se tiver vergência negativa será divergente.
Pontos antiprincipais
São pontos localizados a uma distância igual a 2f do centro óp- Associação de lentes justapostas
tico (O), ou seja, a uma distância f de um dos focos princiapais (F ou Quando duas lentes são associadas de forma justaposta, utili-
F’). Esta medida é caracterizada por A (para o ponto antiprincipal za-se o teorema das vergências para definir uma lente equivalente.
objeto) e A’ (para o ponto antiprincipal imagem). Como exemplo de associação justaposta temos:

Vergência
Dada uma lente esférica em determinado meio, chamamos
vergência da lente (V) a unidade caracterizada como o inverso da
distância focal, ou seja:

A unidade utilizada para caracterizar a vergência no Sistema In-


ternacional de Medidas é a dioptria, simbolozado por di.
Um dioptria equivale ao inverso de um metro, ou seja:
Este teorema diz que a vergência da lente equivalente à asso-
ciação é igual à soma algébrica das vergências das lentes compo-
nentes. Ou seja:
Uma unidade equivalente a dioptria, muito conhecida por
quem usa óculos, é o “Grau”.
1di = 1grau

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CIÊNCIAS NATURAIS
Que também pode ser escrita como: Os instrumentos ópticos são utilizados no nosso cotidiano e
baseiam-se nos princípios da óptica para permitir, facilitar ou aper-
feiçoar a visualização de determinados objetos, que vão desde se-
res minúsculos, como alguns tipos de bactérias, até enormes plane-
tas e estrelas.

Associação de lentes separadas Existe uma infinidade de instrumentos ópticos, podemos ci-
Quando duas lentes são associadas de forma separada, utiliza- tar: microscópio, telescópio, projetores, lupa, câmera fotográfica,
-se uma generalização do teorema das vergências para definir uma óculos, lentes etc. Veja a seguir como ocorre o funcionamento de
lente equivalente. alguns dos instrumentos ópticos que são utilizados no nosso coti-
Um exemplo de associação separada é: diano.

O olho humano
É formado basicamente por três partes:
Cristalino: funciona como uma lente biconvexa. Ele está situa-
do na região anterior do globo ocular;
Retina: localizada no “fundo” do globo ocular e funciona como
um anteparo sensível à luz;
Nervo óptico: parte que recebe as sensações luminosas rece-
bidas pela retina.

Quando olhamos para um objeto, a imagem é percebida pelo


A generalização do teorema diz que a vergência da lente equi- cristalino, que forma uma imagem real e invertida, ou seja, de “ca-
valente à tal associação é igual a soma algébrica das vergências dos beça para baixo”. Essa imagem deve ser focalizada exatamente
componentes menos o produto dessas vergências pela distância sobre a retina para que seja enxergada nitidamente. A imagem é
que separa as lentes. Desta forma: “enviada” para o cérebro através do nervo óptico. O cérebro, ao
receber a imagem, processa sua inversão, de forma que possamos
observar o objeto em sua posição real.

Que também pode ser escrito como:

Instrumentos ópticos
Os instrumentos ópticos baseiam-se em princípios da óptica e
têm a finalidade de facilitar a visualização de determinados objetos.

As principais partes do olho humano

Se a imagem recebida pelo cristalino não se formar exatamente


sobre a retina, então a pessoa não enxergará nitidamente os obje-
tos, o que caracteriza um defeito da visão. De acordo com a posição
onde a imagem é formada, podemos classificar três tipos de defei-
tos da visão. São eles:

Miopia: a imagem do objeto forma-se antes da retina, pois o


globo ocular das pessoas que apresentam esse defeito é mais alon-
gado. Nesse caso, a pessoa enxerga os objetos sem nitidez. Para
corrigir o problema, é necessário utilizar óculos com lentes diver-
gentes.

Hipermetropia: As pessoas com esse problema na visão apre-


O microscópio é um instrumento óptico que tem como finali- sentam o globo ocular mais curto que o normal, o que faz com que
dade a ampliação de objetos a imagem se forme atrás da retina. Esse defeito é corrigido com o
uso de óculos com lentes convergentes.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Presbiopia: Chamado popularmente de “vista cansada”, é um Cerca de 1,8% da água doce do planeta é encontrado em es-
problema que ocorre em virtude do envelhecimento natural do tado sólido, formando grandes massas de gelo nas regiões próxi-
nosso organismo, quando o cristalino fica mais rígido e não acomo- mas dos pólos e no topo de montanhas muito elevadas. As águas
da imagens de objetos próximos. Nesse caso, a imagem forma-se subterrâneas correspondem á 0,96% da água doce, o restante está
atrás da retina. Esse problema também pode ser corrigido por len- disponível em rios e lagos.
tes convergentes.
A presença de água nos seres vivos
Máquina fotográfica Um dos fatores que possibilitaram o surgimento e a manuten-
É um instrumento óptico que projeta e armazena uma imagem ção da vida na Terra é a existência da água. Ela é um dos principais
sobre um anteparo e funciona de forma semelhante ao olho hu- componentes da biosfera e cobre a maior parte da superfície do
mano. Possui um sistema de lentes, denominado objetiva, que se planeta.
comporta como uma lente convergente e forma uma imagem real Na Biosfera, existem diversos ecossistemas, ou seja, diversos
e invertida do material fotografado. Para que a imagem fique nítida ambientes na Terra que são habitados por seres vivos das mais va-
sobre o filme fotográfico, a câmera possui uma série de sistemas riadas formas e tamanhos. Às vezes, nos esquecemos que todos es-
que aproximam ou afastam a objetiva, focalizando a imagem. ses seres vivos têm em comum a água presente na sua composição.
Se essa focalização não for bem feita, a imagem não se forma Veja alguns exemplos.
sobre o filme e, portanto, não fica nítida. Quando se aciona o bo-
tão para a foto, o diafragma da câmera é aberto, permitindo que a
luz proveniente do objeto incida sobre o filme. Como o filme foto-
gráfico é fabricado com um material sensível à luz, ele “gravará” a
imagem recebida.

A lupa
É o instrumento óptico mais simples, sendo constituída por
uma lente convergente que produz uma imagem virtual e ampliada
de um objeto.

Para que a imagem formada pela lupa seja nítida, é necessário


que o objeto seja colocado entre o foco F e o centro óptico. Caso
contrário, a imagem forma-se desfocada.

Água-viva Melancia

A imagem formada pela lupa é maior que o objeto A água-viva chega a ter 95% de água na composição do seu
corpo. A melancia e o pepino chegam a ter 96% de água na sua
composição.
ÁGUA: USO, POLUIÇÃO E TRATAMENTO Portanto a água não está presente apenas nas plantas; ela
também faz parte do corpo de muitos animais.
É fácil comprovar que o nosso corpo, por exemplo, contém
A água no planeta água. Bebemos água várias vezes ao dia, ingerimos muitos alimen-
Cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por água em es- tos que contém água e expelimos do nosso corpo vários tipos de
tado líquido. Do total desse volume, 97,4% aproximadamente, está líquidos que possuem água, por exemplo, suor, urina, lágrimas, etc.
nos oceanos, em estado líquido.
A água dos oceanos é salgada: contém muito cloreto de sódio, O que é a água?
além de outros sais minerais. A água é uma das substâncias mais comuns em nosso planeta.
Mas a água em estado líquido também aparece nos rios, nos Toda a matéria (ou a substância) na natureza é feita por partículas
lagos e nas represas, infiltrada nos espaços do solo e das rochas, muito pequenas, invisíveis a olho nu, os átomos.
nas nuvens e nos seres vivos. Nesses casos ela apresenta uma con- Cada tipo de átomo pertence a um determinado elemento
centração de sais geralmente inferior a água do mar. É chamada de químico. Os átomos de oxigênio, hidrogênio, carbono e cloro são
água doce e corresponde a apenas cerca de 2,6% do total de água alguns exemplos de elementos químicos que formam as mais diver-
do planeta. sas substâncias, como a água, o gás carbônico, etc.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Os grupos de átomos unidos entre si formam moléculas. Cada molécula de água, por exemplo, é formada por dois átomos de hidrogê-
nio e um de oxigênio. A molécula de água é representada pela fórmula química H2O. Em cada 1 g de água há cerca de 30 000 000 000 000
000 000 000 (leia: “trinta sextilhões”) de moléculas de água.

Estados físicos da matéria


Quando nos referimos à água, a ideia que nos vem de imediato à mente é a de um líquido fresco e incolor. Quando nos referimos ao
ferro, imaginamos um sólido duro. Já o ar nos remete à ideia de matéria no estado gasoso.
Toda matéria que existe na natureza se apresenta em uma dessas formas - sólida, líquida ou gasosa. É o que chamamos de estados
físicos da matéria.
No estado sólido, as moléculas de água estão bem “presas” umas às outras e se movem muito pouco: elas ficam “balançando”, vi-
brando, mas sem se afastarem muito umas das outras. Não é fácil variar a forma e o volume de um objeto sólido, como a madeira de uma
porta ou o plástico de que é feito uma caneta, por exemplo.
O estado líquido é intermediário entre o sólido e o gasoso. Nele, as moléculas estão mais soltas e se movimentam mais que no estado
sólido. Os corpos no estado líquido não mantém uma forma definida, mas adotam a forma do recipiente que os contém, pois as moléculas
deslizam umas sobre as outras. Na superfície plana e horizontal, a matéria, quando em estado líquido, também se mantém na forma plana
e horizontal.
No estado gasoso a matéria está muito expandida e, muitas vezes, não podemos percebê-la visualmente. Os corpos no estado gasoso
não possuem volume nem forma próprios e também adotam a forma do recipiente que os contém. No estado gasoso, as moléculas se mo-
vem mais livremente que no estado líquido, estão muito mais distantes umas das outras que no estado sólido ou líquido, e se movimentam
em todas as direções. Frequentemente há colisões entre elas, que se chocam também com a parede do recipiente em que estão. É como
se fossem abelhas presas em uma caixa, e voando em todas as direções.

Em resumo: no estado sólido as moléculas de água vibram em posições fixas. No estado líquido, as moléculas vibram mais do que no
estado sólido, mas dependente da temperatura do líquido (quanto mais quente, maior a vibração, até se desprenderem, passando para
o estado gasoso, em um fenômeno conhecido como ebulição). Consequentemente, no estado gasoso (vapor) as moléculas vibram forte-
mente e de forma desordenada.

Propriedades da água
A água é um solvente
No ambiente é muito difícil encontrar água pura, em razão da facilidade com que as outras substâncias se misturam a ela. Mesmo a
água da chuva, por exemplo, ao cair, traz impurezas do ar nela dissolvidas.
Uma das importantes propriedades da água é a capacidade de dissolver outras substâncias. A água é considerada solvente universal,
porque é muito abundante na Terra e é capaz de dissolver grande parte das substancias conhecidas.
Se percebermos na água cor, cheiro ou sabor, isso se deve a substâncias (líquidos, sólidos ou gases) nela presentes, dissolvidas ou não.
As substâncias que se dissolvem em outras (por exemplo: o sal) recebem a denominação de soluto. A substância que é capaz de dis-
solver outras, como a água, é chamada de solvente. A associação do soluto com o solvente é uma solução.
A propriedade que a água tem de atuar como solvente é fundamental para a vida. No sangue, por exemplo, várias substâncias - como
sais minerais, vitaminas, açucares, entre outras - são transportadas dissolvidas na água.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Na água podemos erguer uma pessoa fazendo pouco esforço,
enquanto fora da água não conseguiríamos nem movê-la do chão.
Isso acontece porque a água empurra o corpo de uma pessoa para
cima. A força que a água exerce nos corpos mergulhados de baixo
para cima (como um “empurrão”), é denominada empuxo.
A quantidade de água deslocada pelos corpos é um importante
fator para a flutuação ou afundamento dos objetos. O prego, por ter
pouco volume, desloca um mínimo de água quando mergulhado. Já
o navio por ser muito volumoso, desloca uma grande quantidade de
água. Então seu “peso” fica equilibrado pela força com que a água o
“empurra”, ou seja, pelo empuxo.

Porcentagem de água em alguns órgãos do corpo humano.

Nas plantas, os sais minerais dissolvidos na água são levados


das raízes às folhas, assim como o alimento da planta (açúcar) tam-
bém é transportado dissolvido em água para todas as partes desse Quando o empuxo (E) é igual ao peso (P) o objeto flutua,
organismo. porém quando o peso é maior que o empuxo o objeto afunda. O
No interior dos organismos vivos, ocorrem inúmeras reações submarino quando quer afundar aumenta seu peso enchendo seus
químicas indispensáveis a vida, como as que acontecem na diges- tanques de água do mar.
tão. A maioria dessas reações químicas no organismo só acontece
se as substâncias químicas estiverem dissolvidas em água. A água exerce pressão
Você já tentou segurar com o dedo o jato de água que sai de
A água como regulador térmico uma mangueira? O que aconteceu? A água impedida pelo dedo de
A água tem a capacidade de absorver e conservar calor. Du- fluir, exerce pressão e sai com mais força.
rante o dia, a água absorve parte do calor do Sol e o conserva até a Todos os líquidos em geral exercem pressões. Uma maneira de
noite. Quando o Sol está iluminando o outro lado do planeta, essa demonstrar a pressão exercida por uma coluna de “líquido” é efetu-
água já começa a devolver o calor absorvido ao ambiente. ar orifícios numa garrafa plástica de 2 litros (destas de refrigerante)
Ela funciona, assim, como reguladora térmica. Por isso, em ci- e enchê-la de água.
dades próximas ao litoral, é pequena a diferença entre a tempera- • A experiência ilustrada abaixo indica que a pressão exercida
tura durante o dia e à noite. Já em cidades distantes do litoral, essa por um líquido aumenta com a profundidade, pois a vazão do pri-
diferença de temperatura é bem maior. meiro furo é menor que a vazão dos outros dois. Pode-se verificar
É essa propriedade da água que torna a sudorese (eliminação que quanto maior a profundidade ou altura de líquido, o filete de
do suor) um mecanismo importante na manutenção da temperatu- água atinge uma maior distância. Diz-se que a pressão é maior e
ra corporal de alguns animais. depende da profundidade do orifício considerado.
Quando o dia está muito quente, suamos mais. Pela evapora-
ção do suor eliminado, liberamos o calor excedente no corpo. Isso
também ocorre quando corremos, dançamos ou praticamos outros
exercícios físicos.

Flutuar ou afundar?
Você já se perguntou por que alguns objetos afundam na água?
Porque um prego afunda e um navio flutua na água? O que faz com
que a água sustente alguns objetos, de forma que eles consigam
flutuar nela?
Entender porque alguns objetos afundam na água enquanto
outros flutuam é muito importante na construção de navios, sub-
marinos etc. Se na água um prego afunda e um navio flutua, está
claro que isso não tem nada a ver com o fato de o objeto ser leve
ou pesado, já que um prego tem algumas gramas e um navio pesa Pressão e mergulho
toneladas. Quando uma pessoa mergulha, pode sentir dor na parte inter-
na da orelha. Você sabe por que isso acontece? Novamente, a expli-
cação está relacionada à pressão que a água exerce.
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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Quando mergulhamos, à medida que nos deslocamos para o A água do solo é absorvida pelas raízes das plantas. Por meio
fundo, aumenta a altura da coluna líquida acima de nós. Quanto da transpiração, as plantas eliminam água no estado de vapor para
maior a altura dessa coluna, maior será a pressão exercida pelo lí- o ambiente, principalmente pelas folhas. E na cadeia alimentar, as
quido sobre nós. Por essa razão, nas profundezas dos oceanos a plantas, pelos frutos, raízes, sementes e folhas, transferem água
pressão da água é grande e o homem não consegue chegar até lá para os seus consumidores.
sem equipamentos de proteção contra a pressão. Além do que é ingerido pela alimentação, os animais obtêm
água bebendo-a diretamente. Devolvem a água para o ambiente
Tensão superficial pela transpiração, pela respiração e pela eliminação de urina e fe-
Uma outra característica da água no estado líquido é a tensão zes. Essa água evapora e retorna à atmosfera. No nosso planeta, o
que ela representa em sua superfície. Isso acontece porque as mo- ciclo de água é permanente.
léculas da água se atraem, mantendo-se coesas (juntas), como se
formassem uma finíssima membrana da superfície. Olhe a figura Ciclo da água
abaixo.

O princípio de Pascal
Pascal foi um cientista frânces que viveu de 1623 a 1662. Entre
muitas colaborações para a ciência, formulou o seguinte princípio:
“A pressão exercida sobre um líquido é transmitida integralmente
para todos os pontos do líquido”. Observe a figura a baixo:

A qualidade da água
A vida humana, assim como a de todos os seres vivos depen-
de da água.
Mas a nossa dependência da água vai além das necessida-
Quando empurramos fortemente uma rolha para dentro de des biológicas: precisamos dela para limpar as nossas casas, lavar
uma garrafa que contém líquido, essa pressão é transmitida inte- as nossas roupas e o nosso corpo. E mais: para limpar máquinas
gralmente ao líquido existente no recipiente. A pressão da água e equipamentos, irrigar plantações, dissolver produtos químicos,
dentro da garrafa aumenta e empurra a outra rolha para fora. criar novas substâncias, gerar energia.
É aí que está o perigo: a atividade humana muitas vezes com-
O ciclo da água prometa a qualidade da água. Casas e indústrias podem despejar
A água no estado líquido ocupa os oceanos, lagos, rios, açu- em rios e mares substâncias que prejudicam a nossa saúde. Por
des etc. De modo contínuo e lentamente, à temperatura ambiente, isso, escolher bem a água que bebemos e proteger rios, lagos e ma-
acontece a evaporação, isto é, a água passa do estado líquido para res são cuidados essenciais à vida no planeta.
o gasoso.
Quanto maior for a superfície de exposição da água (por exem- Água potável
plo, um oceano ou nas folhas de árvores de uma floresta), maior A água potável é aquela popularmente chamada água pura.
será o nível de evaporação. Quando o vapor de água entra em con- Para ser bebida por nós, a água deve ser incolor, insípida (sem sa-
tato com as camadas mais frias da atmosfera, a água volta ao esta- bor) e inodora (sem cheiro). Ela deve estar livre de materiais tóxicos
do líquido, isto é, gotículas de água ou até minúsculos cristais de e microorganismos, como bactérias, protozoários etc., que são pre-
gelo se concentram formando nuvens. judiciais, mas deve conter sais minerais em quantidade necessária
à nossa saúde.
O vapor de água, quando resfriado, pode também formar a A água potável é encontrada em pequena quantidade no nos-
neblina (nevoeiro), ou seja, aquela “nuvem” que se forma perto so planeta e não está disponível infinitamente. Por ser um recurso
do solo. limitado, o seu consumo deve ser planejado.
Ao se formar nas nuvens um acúmulo de água muito grande,
as gotas tornam-se cada vez maiores, e a água se precipita, isto é, Água destilada
começa a chover. Em regiões muito frias da atmosfera, a água passa A água potável deve ter certa quantidade de alguns sais mine-
do estado gasoso para o estado líquido e, rapidamente, para o sóli- rais dissolvidos, que são importantes para a nossa saúde. A água
do, formando a neve ou os granizos (pedacinhos de gelo). sem qualquer outra substância dissolvida é chamada de água des-
A água da chuva e da neve derretida se infiltra no solo, for- tilada. Veja como se consegue água destilada.
mando ou renovando os lençóis freáticos. As águas subterrâneas Para retirar sais minerais e outros produtos dissolvidos na água,
emergem para a superfície da terra, formando as nascentes dos utiliza-se um processo chamado destilação. O produto dessa desti-
rios. Assim o nível de água dos lagos, açudes, rios etc. é mantido. lação, a água destilada, é usado em baterias de carros e na fabrica-
ção de remédios e outros produtos. Não serve para beber, já que
não possui os sais minerais necessários ao nosso organismo.

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Veja como funciona o aparelho que produz água destilada, o A mineração, a extração e o transporte de petróleo
destilador: Atividades econômicas importantes têm causado inúmeros aci-
dentes ecológicos graves. O petróleo extraído dos mares e os me-
tais ditos pesados usados na mineração (por exemplo, o mercúrio,
no Pantanal), lançados na água por acidente, ou negligência, têm
provocado a poluição das águas com prejuízos ambientais, muitas
vezes irreversíveis.

A poluição causada pelas indústrias


Mesmo havendo leis que proíbam, muitas indústrias, continu-
am a lançar resíduos tóxicos em grande quantidade nos rios.
Na superfície da água, é comum formar-se uma pequena espu-
ma ácida, que, dependendo da fonte de poluição, pode ser compos-
ta principalmente de chumbo e mercúrio. Essa espuma pode cau-
sar a mortandade da flora e da fauna desses rios. E esses agentes
poluidores contaminam também o organismo de quem consome
peixes ou quaisquer outros produtos dessas águas.

As estações de tratamento da água


Observe que a água ferve (1) com ajuda do (2) Bico de Bunsen Muitas casas das grandes cidades recebem água encanada,
(chama que aquece a água), transformando-se em vapor (3), e de- vinda de rios ou represas. Essa água é submetida a tratamentos es-
pois se condensa (4), voltando ao estado líquido. Os sais minerais peciais para eliminar as impurezas e os micróbios que prejudicam
não vaporizam, mas ficam dentro do vidro onde a água foi fervida a saúde.
(chamado balão de destilação). Primeiramente, a água do rio ou da represa é levada através de
canos grossos, chamados adutoras, para estações de tratamento de
Água mineral água. Depois de purificada, a água é levada para grandes reservató-
A água do mar é salgada porque tem muito cloreto de sódio, rios e daí é distribuída para as casas.
que é o sal comum usado na cozinha. Justamente por ter tanto sal, Na estação de tratamento, a água passa por tanques de cimen-
não é potável. Se bebermos água do mar, o excesso de sal nos fará to e recebe produtos como o sulfato de alumínio e o hidróxido de
eliminar mais água na urina do que deveríamos, e começamos en- cálcio (cal hidratada). Essas substâncias fazem as partículas finas de
tão a ficar desidratados. areia e de argila presentes na água se juntarem, formando partícu-
Já a água doce, dos rios, lagos e fontes, tem menos sal que a las maiores, os flocos. Esse processo é chamado floculação. Como
água do mar e pode ser bebida - desde que esteja sem micróbios essas partículas são maiores e mais pesadas, elas vão se depositan-
e produtos tóxicos ou que tenha sido tratada para eliminar essas do aos poucos no fundo de outro tanque, o tanque de decantação.
impurezas. Desse modo, algumas impurezas sólidas da água ficam retidas.
Após algumas horas no tanque de decantação, a água que fica
A chamada água mineral é água que brota de fontes do subso- por cima das impurezas, e que está mais limpa, passa por um fil-
lo. Ela costuma ter alguns sais minerais em quantidade um pouco tro formado por várias camadas de pequenas pedras (cascalho) e
maior que a água utilizada nas residências e, às vezes outros sais. areias. À medida que a água vai passando pelo filtro, as partículas
A água mineral é, em geral potável e pode ser bebida na fonte de areia ou de argila que não se depositaram vão ficando presas nos
ou engarrafada - desde que a fonte esteja preservada da poluição espaços entre os grãos de areia. Parte dos micróbios também fica
e da contaminação ambiental e que o processo de engarrafamento presa nos filtros. É a etapa conhecida como filtração.
seja feito com higiene. Mas nem todos os micróbios que podem causar doenças se
depositam no fundo do tanque ou são retidos pelo filtro. Por isso,
O mar pode “morrer”? a água recebe produtos contendo o elemento cloro, que mata os
Na Ásia, há o famoso mar Morto, que é um exemplo de que micróbios (cloração), e o flúor, um mineral importante para a for-
um mar pode “morrer”. O mar “morre” e os lagos também quando mação dos dentes.
o nível de salinidade, isto é, a concentração de sais da sua água, é A água é então levada através de encanamentos subterrâneos
tão alto que não permite que os peixes, a flora e outros seres vivam para as casas ou os edifícios.
nele. Esse fenômeno ocorre por vários fatores, entre eles: pouca Mesmo quem recebe água da estação de tratamento deve fil-
chuva aliada à evaporação intensa (clima quente e seco) e corte ou trá-la para o consumo. Isso porque pode haver contaminação nas
diminuição do regime de escoamento de rios. caixas d’água dos edifícios ou das casas ou infiltrações nos canos. As
A consequência da falta de tratamento de esgoto caixas-d’água devem ficar sempre bem tampadas e ser limpas pelo
O grande número de dejetos dos populosos núcleos residen- menos a cada seis meses. Além disso, em certas épocas, quando
ciais, descarregado em córregos, rios e mares provoca a poluição e o risco de doenças transmitidas pela água aumenta, é necessário
a contaminação das águas. Febre tifoide, hepatite, cólera e muitas tomar cuidados adicionais.
verminoses são doenças transmitidas por essas águas.
Há rios como o Tietê e o Guaíba - em cujas margens surgiram a
cidade de São Paulo e Porto Alegre - que já estão comprometidos.
Além desses, há vários rios expostos à degradação ambiental.

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Doenças transmitidas pela água Eles são usados na alimentação, produção de matéria-prima,
A falta de água potável e de esgoto tratado facilita a transmis- geração de energia e inúmeras outras atividades presentes em nos-
são de doenças que, calcula-se, provocam cerca de 30 mil mortes so cotidiano que garantem nossa sobrevivência e conforto.
diariamente no mundo. A maioria delas acontece entre crianças,
principalmente as de classes mais pobres, que morrem desidrata- A Energia solar, as florestas, o solo, os animais, vegetais e até
das, vítimas de diarreia causadas por micróbios. No Brasil, infeliz- mesmo a força dos ventos são recursos naturais, uma vez que são
mente mais de 3 milhões de famílias não recebem água tratada e explorados na economia e para o benefício do homem.
um número de casas duas vezes e meia maior que esse não tem
esgoto. Isso é muito grave. A exploração dos recursos naturais
Estima-se que o acesso à água limpa e ao esgoto reduziria em O ser humano integra o meio natural desde os primórdios do
pelo menos um quinto a mortalidade infantil. nosso planeta e sua sobrevivência sempre dependeu do uso dos
Para evitar doenças transmitidas pela água devemos tomar os insumos oferecidos pela Terra, como a água, os alimentos e o fogo.
seguintes cuidados:
• Proteger açudes e poços utilizados para o abastecimento; No princípio, as relações estabelecidas entre os seres humanos
• tratar a água eliminando micróbios e impurezas nocivas a e a natureza eram equilibradas, pois nossa espécie carecia de mé-
saúde humana; todos ou tecnologias para exploração dos recursos em larga escala.
• filtrar e ferver a água;
• não lavar alimentos que serão consumidos crus com água não Os primeiros humanos eram nômades e sobreviviam apenas da
tratada como verduras, frutas e hortaliças. caça, pesca e dos alimentos que conseguiam coletar, por isso sendo
classificados como caçadores-coletores.
As principais doenças transmitidas pela água são:
• Diarreia infecciosa Mas, com o desenvolvimento das técnicas de plantio, o modo
• Cólera de vida e a forma como a raça humana passou a interagir com o
• Leptospirose planeta sofreram grandes alterações.
• Hepatite
• Esquistossomose Com o início da agricultura, a cerca de 12 mil anos atrás, o ho-
mem pôde acumular alimentos e se estabelecer em uma mesma
Água, mosquitos e doenças região, o que levou ao surgimento das primeiras civilizações.
Muitos mosquitos põem ovos na água parada. Dos ovos saem
larvas, que depois se tornam mosquitos adultos. A partir do refinamento das técnicas utilizadas, com o tempo
Uma forma de combater as doenças transmitidas por mos- a exploração dos recursos naturais tomou uma proporção cada vez
quitos é justamente evitar o acúmulo de água parada em vasos de maior.
plantas, latas vazias, pneus velhos, garrafas, etc. Caixas-d’água, tan-
ques e outros reservatórios devem ficar sempre tampados. Mas foi somente após a primeira Revolução Industrial, no sécu-
Veja a seguir algumas doenças transmitidas por mosquitos. lo XVIII, que a exploração dos recursos do planeta realmente tomou
• Dengue grandes proporções e começou a impactar os processos naturais.
• Febre amarela
• Malária Por sua vez, o capitalismo, hoje, retira da natureza cada vez
mais esses recursos com a sua visão de lucro desenfreada.

RECURSOS RENOVÁVEIS E NÃO RENOVÁVEIS As mudanças climáticas e os desastres naturais vividos atual-
mente são os primeiros resultados dessa exploração inconsequente
que, caso não seja repensada e equilibrada, pode levar à extinção
da nossa espécie no futuro.
Recursos naturais são todos os elementos disponíveis na natu-
reza que podem ser consumidos ou utilizados para a realização de
Importante lembrar que, no mundo, não existe uma distribui-
outras atividades humanas, como a geração de energia. Eles podem
ser renováveis ou não renováveis e são divididos em biológicos, mi- ção igualitária dos recursos naturais, gerando uma procura enorme
nerais, hídricos e energéticos. por esses bens e sua consequente valorização, sendo questões que
integram pautas geopolíticas mundiais.
Indispensáveis para a manutenção da vida, os recursos naturais
são responsáveis por suprir grande parte das necessidades do ser Alguns dos elementos mais importantes para a nossa socieda-
humano. Por isso, muito se debate sobre a preservação dessas fon- de, chamados de recursos naturais estratégicos, são motivos de dis-
tes com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável. puta internacional, como é o caso do petróleo, por exemplo.

Mas, afinal, no que consistem os recursos naturais? Saiba tudo Nesse aspecto, o Brasil é um dos países mais importantes do
aqui mundo, pois seu vasto território apresenta uma exuberante riqueza
natural e concentra grandes reservas de recursos.
O que são recursos naturais?
Utilizados em diversas atividades realizadas pela sociedade, os Classificação dos recursos naturais
recursos naturais são elementos retirados da natureza, sendo fun- Os recursos naturais são classificados de acordo com a sua ca-
damentais para abastecer as demandas do homem. pacidade e/ou tempo que levam para se recompor, divididos entre
renováveis e não renováveis.

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Saiba mais sobre cada um deles. O que são e exemplos de recursos naturais não renováveis
O que são e exemplos de recursos naturais renováveis Os recursos naturais não renováveis, por sua vez, são aqueles
Os recursos naturais renováveis são aqueles que não se aca- com uma reserva finita em nosso planeta ou que possuem proces-
bam ou que conseguem se recompor dentro de uma escala de tem- sos de renovação muito lentos, podendo levar milhares de anos.
po humana, seja de forma natural ou pela ação do homem.
Um exemplo comum é o petróleo, que se formou durante um
Dentre os exemplos de recursos naturais renováveis inesgotá- longo período geológico e, agora, é rapidamente extraído. Um ou-
veis estão a energia solar e a eólica, que estão sempre disponíveis tro exemplo de recursos não renováveis são os minérios.
em abundância na natureza.
Isso significa que, quanto mais esses elementos são extraídos,
Já entre os recursos com capacidade de renovação, um exem- mais escassas se tornam as suas reservas.
plo é a água potável, que se renova naturalmente com as chuvas, e
os vegetais cultivados pelo homem na agricultura. Portanto, medidas de consumo consciente se fazem cada vez
mais necessárias para garantir alguns tipos de recursos naturais não
No entanto, é importante destacar que, mesmo com a capaci- renováveis no futuro.
dade de renovação desses recursos, eles não são necessariamente
ilimitados. Exemplos de recursos não renováveis são:

Os impactos causados pela ação humana inconsciente podem Petróleo


interferir no processo de recomposição desses recursos e ameaçar É uma das substâncias mais utilizadas no mundo, servindo
a sua disponibilidade no futuro. como matéria-prima para a fabricação de diversos materiais e bens
de consumo, como o plástico e os combustíveis (gasolina, diesel,
Portanto, é de extrema importância adotarmos hábitos susten- querosene).
táveis e respeitar o ciclo de cada recurso, principalmente para a ge-
ração futura, pois o esgotamento desses elementos coloca em risco Gás natural
a sobrevivência humana. Resultado da decomposição da matéria orgânica acumulada
no subsolo, o gás natural é frequentemente encontrado junto às
Sob uma perspectiva ecológica, certos recursos renováveis, reservas de petróleo e pode ser utilizado na geração elétrica ou em
como a luz solar, nascem e se renovam independente da maneira aplicações domésticas.
que são utilizados.
Carvão mineral
É essencial pensar que, apesar dos recursos renováveis terem O carvão é um minério que se formou pela decomposição de
a capacidade de regeneração, eles podem, sim, se tornar cada vez plantas e árvores ao longo das eras geológicas. A queima do carvão
mais escassos com o uso desequilibrado. ainda é o processo de geração elétrica mais utilizado em todo o
mundo e o maior responsável pela emissão de gases de efeito estu-
A água potável é um exemplo disso. Mesmo se renovando, ela fa no setor elétrico mundial.
pode um dia se tornar escassa devido à poluição dos rios e ao aque-
cimento global, que interfere na produção de chuvas, como já vem Tipos de recursos naturais
ocorrendo com cada vez mais frequência no Brasil. A natureza, com sua diversidade, carrega uma grande varie-
dade de elementos. Dessa forma, os recursos naturais podem ser
Outro exemplo de um recurso potencialmente renovável são os oriundos de diferentes fontes. Confira a seguir os seus principais
solos, que podem ficar inférteis se não preservados. tipos:

Alguns exemplos de recursos renováveis são: Recursos biológicos


Os recursos naturais biológicos são aqueles obtidos por meio
Energia solar de componentes bióticos dos ecossistemas, ou seja, dos vegetais e
A luz e o calor do sol são duas fontes de energia que se reno- dos seres vivos.
vam a cada instante e estão disponíveis a cada novo dia, podendo
ser aproveitadas pelos sistemas de aquecimento ou pelos painéis Com esses recursos, é possível realizar atividades, como a agro-
fotovoltaicos para produção de energia elétrica. pecuária, a agricultura e a extração de madeira das florestas. Assim,
é muito usado na alimentação, medicina, construção, dentre outros
Energia eólica campos.
Os ventos, que se formam pelo deslocamento de massas de ar,
se renovam a todo o momento e podem ser captados para a gera- Os recursos biológicos podem ser caracterizados como poten-
ção de energia mecânica ou elétrica. cialmente renováveis, pois possuem a capacidade de se recompor
naturalmente desde que consumidos de forma consciente.
Plantas e animais
São todas as espécies que podem ser utilizadas como alimento Um exemplo são as árvores das florestas, que devem ser re-
ou matéria-prima, e que se renovam pelo ciclo da vida na natureza plantadas de forma assertiva para garantir a sua disponibilidade no
ou com a ajuda do homem. futuro.

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Recursos hídricos No entanto, a inevitável escassez desses recursos energéticos
O conjunto de todos os corpos e quedas d’água presentes no não renováveis, e sobretudo a poluição que eles causam, levam os
planeta correspondem aos recursos hídricos, que podem ser utiliza- principais países do mundo a apostarem cada vez mais em recursos
dos para diversas finalidades. energéticos renováveis, principalmente a energia solar e eólica.

A parcela de água doce acessível à humanidade, que pode ser Os aerogeradores, que produzem energia por meio da força
superficial (rios e lagos) ou subterrânea (aquíferos), é amplamente dos ventos, são utilizados nos grandes parques eólicos encontrados
utilizada para o consumo humano, irrigação, processos industriais e em terra ou sobre a superfície de oceanos.
outras aplicações.
Por sua vez, os painéis fotovoltaicos conseguem transformar a
Aproximadamente 2/3 da superfície da Terra é composta por luz do sol diretamente em energia elétrica e são utilizados tanto em
água, mas 97% dela está presente nos mares e oceanos como água grandes usinas como nos projetos de micro e minigeração distri-
salgada imprópria para o consumo humano. buída, que são as instalações residenciais e comerciais de sistemas
fotovoltaicos.
Dos 3% de água doce, quase 70% está presa em geleiras e calo-
tas polares, e 29% como águas subterrâneas, que podem não estar Recursos naturais no Brasil
acessíveis por conta da profundidade em que se encontram. O Brasil, com sua vasta extensão territorial e grande diversida-
de de biomas, concentra importantes reservas de recursos naturais
Assim sendo, apenas 1% da água doce acessível para consumo que o tornam um dos países mais importantes do mundo.
está nos rios, lagos e solo.
O território brasileiro tem destaque em todos os tipos de re-
Os cursos e quedas d’água também são muito utilizados para cursos naturais, sendo as florestas (biológicos), água doce (hídrico),
a geração de energia por meio das hidrelétricas, como no caso do minérios (minerais) e petróleo (energéticos).
Brasil, que possui mais de 60% da sua matriz elétrica atendida pela
fonte hídrica. Com 59% do seu território coberto por florestas, o Brasil possui
a segunda maior área florestal do mundo, além de contar com 12%
A água não possui uma distribuição igualitária na superfície, da água doce disponível para consumo em todo o planeta.
tendo áreas em que a quantidade é baixa e outras em que é abun-
dante. Os recursos minerais do Brasil também são abundantes em es-
tados como Minas Gerais, Pará e Mato Grosso do Sul, com destaque
É mais do que importante investir no crescimento da eficiência para o ferro, manganês e bauxita.
na utilização de água, para que a sustentabilidade dos recursos hí-
dricos seja garantida. Além do petróleo, o Brasil possui grande capacidade de outros
recursos energéticos, como a energia solar e eólica, que são cada
Recursos minerais vez mais utilizadas por produzirem energia limpa.
Os recursos minerais são todos os minérios, rochas e pedras
preciosas, sendo caracterizados como materiais inorgânicos pre- Por fim, as boas condições do solo no Brasil impulsionam o seu
sentes na crosta terrestre e associados a grande valor econômico. agronegócio e fazem dele um dos maiores exportadores de alguns
importantes recursos naturais biológicos, como a soja e a cana-de-
A exploração desses minérios, como o ferro e o cobre, serve -açúcar.
para fabricação de uma extensa gama de bens, incluindo eletrodo-
mésticos, jóias, carros e, até mesmo, aviões. No entanto, esse alto potencial de recursos naturais torna o
Brasil um alvo da exploração irresponsável, seja por empresas na-
Os recursos minerais metálicos com maior volume são o alumí- cionais ou estrangeiras, tornando urgente a adoção de políticas que
nio, ferro, zinco, cobre, chumbo, prata, platina e ouro, por exemplo. visem o uso consciente desses recursos e ajudem a preservar nos-
sas riquezas naturais.
Já, entre os não metálicos, encontram-se areias, argilas, calcá- Fonte: https://www.portalsolar.com.br/recursos-naturais-o-
rio, basalto, granito, mármore e rochas. -que-sao-tipos-e-exemplos

A extração de minerais é realizada em minas (abertas, subter-


râneas ou em pedreiras), o que pode causar impacto ao meio am-
biente. REVERSIBILIDADE E IRREVERSIBILIDADE

Os recursos minerais são classificados como não renováveis,


pois levam milhares de anos para se recompor em seu processo Termodinâmica
natural, e por isso devem ser explorados de forma consciente para A Termodinâmica é a parte da Física que estuda principalmente
evitar o seu rápido esgotamento. a transformação de energia térmica em trabalho.
A utilização direta desses princípios em motores de combustão
Recursos energéticos interna ou externa, faz dela uma importante teoria para os moto-
Os recursos energéticos são quaisquer recursos naturais ca- res de carros, caminhões e tratores, nas turbinas com aplicação em
pazes de fornecer energia, por exemplo, os elementos radioativos aviões, etc.
utilizados nas usinas nucleares e os combustíveis fósseis – como o
petróleo, gás natural e o carvão.

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Energia Interna Trabalho
As partículas de um sistema têm vários tipos de energia, e a
soma de todas elas é o que chamamos Energia interna de um sis- Trabalho de um gás
tema. Considere um gás de massa m contido em um cilindro com área
Para que este somatório seja calculado, são consideradas as de base A, provido de um êmbolo.
energias cinéticas de agitação , potencial de agregação, de ligação e Ao ser fornecida uma quantidade de calor Q ao sistema, este
nuclear entre as partículas. sofrerá uma expansão, sob pressão constante, como é garantido
Nem todas estas energias consideradas são térmicas. Ao ser pela Lei de Gay-Lussac, e o êmbolo será deslocado.
fornecida a um corpo energia térmica, provoca-se uma variação na
energia interna deste corpo. Esta variação é no que se baseiam os
princípios da termodinâmica.
Se o sistema em que a energia interna está sofrendo variação
for um gás perfeito, a energia interna será resumida na energia de
translação de suas partículas, sendo calculada através da Lei de Jou-
le:

Onde:
U: energia interna do gás;
n: número de mol do gás;
R: constante universal dos gases perfeitos;
T: temperatura absoluta (kelvin).

Como, para determinada massa de gás, n e R são constantes, a


variação da energia interna dependerá da variação da temperatura
absoluta do gás, ou seja, Assim como para os sistemas mecânicos, o trabalho do sistema
• Quando houver aumento da temperatura absoluta ocor- será dado pelo produto da força aplicada no êmbolo com o desloca-
rerá uma variação positiva da energia interna . mento do êmbolo no cilindro:

• Quando houver diminuição da temperatura absoluta, há


uma variação negativa de energia interna .

• E quando não houver variação na temperatura do gás, a


variação da energia interna será igual a zero .

Conhecendo a equação de Clepeyron, é possível compará-la a


equação descrita na Lei de Joule, e assim obteremos:

Assim, o trabalho realizado por um sistema, em uma tranfor-


mação com pressão constante, é dado pelo produto entre a pressão
e a variação do volume do gás.

Quando:
• o volume aumenta no sistema, o trabalho é positivo, ou
seja, é realizado sobre o meio em que se encontra (como por exem-
plo empurrando o êmbolo contra seu próprio peso);

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• o volume diminui no sistema, o trabalho é negativo, ou seja, é necessário que o sistema receba um trabalho do meio externo;
• o volume não é alterado, não há realização de trabalho pelo sistema.

Exemplo:
(1) Um gás ideal de volume 12m³ sofre uma transformação, permenescendo sob pressão constante igual a 250Pa. Qual é o volume do
gás quando o trabalho realizado por ele for 2kJ?

Diagrama p x V
É possível representar a tranformação isobárica de um gás através de um diagrama pressão por volume:

Comparando o diagrama à expressão do cálculo do trabalho realizado por um gás , é possível verificar que o trabalho rea-
lizado é numericamente igual à area sob a curva do gráfico (em azul na figura).
Com esta verificação é possível encontrar o trabalho realizado por um gás com pressão variável durante sua tranformação, que é cal-
culado usando esta conclusão, através de um método de nível acadêmico de cálculo integral, que consiste em uma aproximação dividindo
toda a área sob o gráfico em pequenos retângulos e trapézios.

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1ª Lei da Termodinâmica
Chamamos de 1ª Lei da Termodinâmica o princípio da conservação de energia aplicada à termodinâmica, o que torna possível prever
o comportamento de um sistema gasoso ao sofrer uma transformação termodinâmica.

Analisando o princípio da conservação de energia ao contexto da termodinâmica:


Um sistema não pode criar ou consumir energia, mas apenas armazená-la ou transferi-la ao meio onde se encontra, como trabalho,
ou ambas as situações simultaneamente, então, ao receber uma quantidade Q de calor, esta poderá realizar um trabalho e aumentar a
energia interna do sistema ΔU, ou seja, expressando matematicamente:

Sendo todas as unidades medidas em Joule (J).

Conhecendo esta lei, podemos observar seu comportamento para cada uma das grandezas apresentadas:

Exemplo:
(1) Ao receber uma quantidade de calor Q=50J, um gás realiza um trabalho igual a 12J, sabendo que a Energia interna do sistema antes
de receber calor era U=100J, qual será esta energia após o recebimento?

2ª Lei da Termodinâmica
Dentre as duas leis da termodinâmica, a segunda é a que tem maior aplicação na construção de máquinas e utilização na indústria,
pois trata diretamente do rendimento das máquinas térmicas.
Dois enunciados, aparentemente diferentes ilustram a 2ª Lei da Termodinâmica, os enunciados de Clausius e Kelvin-Planck:

• Enunciado de Clausius:
O calor não pode fluir, de forma espontânea, de um corpo de temperatura menor, para um outro corpo de temperatura mais alta.
Tendo como consequência que o sentido natural do fluxo de calor é da temperatura mais alta para a mais baixa, e que para que o fluxo
seja inverso é necessário que um agente externo realize um trabalho sobre este sistema.

• Enunciado de Kelvin-Planck:
É impossível a construção de uma máquina que, operando em um ciclo termodinâmico, converta toda a quantidade de calor recebido
em trabalho.
Este enunciado implica que, não é possível que um dispositivo térmico tenha um rendimento de 100%, ou seja, por menor que seja,
sempre há uma quantidade de calor que não se transforma em trabalho efetivo.
Maquinas térmicas
As máquinas térmicas foram os primeiros dispositivos mecânicos a serem utilizados em larga escala na indústria, por volta do século
XVIII. Na forma mais primitiva, era usado o aquecimento para transformar água em vapor, capaz de movimentar um pistão, que por sua
vez, movimentava um eixo que tornava a energia mecânica utilizável para as indústrias da época.
Chamamos máquina térmica o dispositivo que, utilizando duas fontes térmicas, faz com que a energia térmica se converta em energia
mecânica (trabalho).

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CIÊNCIAS NATURAIS
Mas como constatado:

logo, podemos expressar o rendimento como:

O valor mínimo para o rendimento é 0 se a máquina não rea-


lizar nenhum trabalho, e o máximo 1, se fosse possível que a má-
A fonte térmica fornece uma quantidade de calor que no quina transformasse todo o calor recebido em trabalho, mas como
dispositivo transforma-se em trabalho mais uma quantidade de visto, isto não é possível. Para sabermos este rendimento em per-
calor que não é capaz de ser utilizado como trabalho . centual, multiplica-se o resultado obtido por 100%.

Assim é válido que: Exemplo:


Um motor à vapor realiza um trabalho de 12kJ quando lhe é for-
necido uma quantidade de calor igual a 23kJ. Qual a capacidade per-
centual que o motor tem de transformar energia térmica em trabalho?

Utiliza-se o valor absolutos das quantidade de calor pois, em


uma máquina que tem como objetivo o resfriamento, por exemplo,
estes valores serão negativos.
Neste caso, o fluxo de calor acontece da temperatura menor
para o a maior. Mas conforme a 2ª Lei da Termodinâmica, este flu-
xo não acontece espontaneamente, logo é necessário que haja um
trabalho externo, assim:

Ciclo de Carnot
Até meados do século XIX, acreditava-se ser possível a construção
de uma máquina térmica ideal, que seria capaz de transformar toda a
energia fornecida em trabalho, obtendo um rendimento total (100%).
Para demonstrar que não seria possível, o engenheiro francês
Nicolas Carnot (1796-1832) propôs uma máquina térmica teórica
que se comportava como uma máquina de rendimento total, esta-
belecendo um ciclo de rendimento máximo, que mais tarde passou
a ser chamado Ciclo de Carnot.
Este ciclo seria composto de quatro processos, independente
da substância:

Rendimento das máquinas térmicas


Podemos chamar de rendimento de uma máquina a relação
entre a energia utilizada como forma de trabalho e a energia for-
necida:
Considerando:

=rendimento;

= trabalho convertido através da energia térmica fornecida;

=quantidade de calor fornecida pela fonte de aquecimento;

=quantidade de calor não transformada em trabalho.

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• Uma expansão isotérmica reversível. O sistema recebe De uma forma geral, o Universo é formado porgaláxias, estre-
uma quantidade de calor da fonte de aquecimento (L-M) las, nebulosas, planetas, satélites,cometas,asteroidese radiações –
• Uma expansão adiabática reversível. O sistema não troca e outras coisas mais que ainda não descobrimos. Amatéria negra,
calor com as fontes térmicas (M-N) por exemplo, é uma forma de matéria que não se comporta como
• Uma compressão isotérmica reversível. O sistema cede a matéria comum, mas existe. Faz parte dele com toda a sua parti-
calor para a fonte de resfriamento (N-O) cularidade.
• Uma compressão adiabática reversível. O sistema não tro-
ca calor com as fontes térmicas (O-L) Modelos de Universo
Vários cientistas, comoAlbert Einstein, dedicaram grande parte
Numa máquina de Carnot, a quantidade de calor que é forneci- de suas vidas para tentar decifrar o Universo. Desses estudos saí-
da pela fonte de aquecimento e a quantidade cedida à fonte de res- ram quatro modelos:
friamento são proporcionais às suas temperaturas absolutas, assim:
Modelo Estático
Este modelo aborda o chamado Princípio Cosmológico, que diz
que o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer observador. A
única coisa que difere são suas características locais. Este modelo
admite, também, que o Universo sempre teve a mesma conforma-
Assim, o rendimento de uma máquina de Carnot é: ção, sem nunca mudar ou evoluir. Logo, esse modelo caiu em desu-
so por conta de pesquisas posteriores que mostraram justamente
o contrário.

e Modelo Estacionário
Após observações mostrarem que o Universo está em expan-
Logo: são, o modelo estático acabou sendo totalmente descartado. As-
sim, foi desenvolvido o Princípio Cosmológico Perfeito, que diz que
o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer observador em
qualquer instante do tempo. Ou seja, o Universo é o que sempre foi
e a matéria teria surgido de forma espontânea.
Sendo:
Modelo Expansivo
= temperatura absoluta da fonte de resfriamento O modelo expansivo foi desenvolvido após a observação das
diferenças de cores de luzes que as galáxias emitem e que acabam
= temperatura absoluta da fonte de aquecimento chegando até nós. Através dessa observação, constatou-se que as
galáxias estão se afastando, consequência da expansão do Univer-
Com isto se conclui que para que haja 100% de rendimento, so. A Lei de Hubble, formulada pelo astrônomo Edwin Hubble, diz
todo o calor vindo da fonte de aquecimento deverá ser transforma- que quanto mais longe uma galáxia se encontra de nós, mais rapi-
do em trabalho, pois a temperatura absoluta da fonte de resfria- damente ela se afasta de nós.
mento deverá ser 0K.
Partindo daí conclui-se que o zero absoluto não é possível para Modelo Cíclico
um sistema físico. O modelo cíclico fala sobre uma possível contração do Univer-
so. Diz que, caso a massa do Universo seja maior do que um certo
Exemplo: valor crítico, a gravidade será o suficientemente grande para frear,
Qual o rendimento máximo teórico de uma máquina à vapor, de forma gradativa, a sua expansão. Assim, entrará em modo de
cujo fluido entra a 560ºC e abandona o ciclo a 200ºC? contração.

O que há mais no Universo


LUZ E SOMBRA; SOL E TERRA E SUAS INTERAÇÕES. SIS- • Estrelas: esferas de gás, compostas principalmente de gás
TEMA SOLAR, TERRA E LUA E OS MOVIMENTOS DA TER- hidrogênio e hélio, se encontram a uma temperatura altíssima;
RA. PLANETAS DO SISTEMA SOLAR; MOVIMENTOS DA • Aglomerados: sistemas com muitas estrelas que podem
TERRA E DA LUA E SUAS FASES. FORMAÇÃO DO PLANE- ser abetos (ou galácticos) e os globulares;
TA TERRA E OS MOVIMENTOS NO SISTEMA SOLAR, • Nebulosas: regiões entre as estrelas e aglomerados for-
EM ESPECIAL, OS EC LIPSES mada por gases e muito densas;
• Galáxias: é o conjunto em que estamos. Galáxias são con-
juntos de estrelas, planetas aglomerados, nebulosas, poeiras e ga-
ses confinados em um pedaço do espaço sideral.
O cosmo é tudo o que existe, sempre existiu e sempre existirá,
segundoCarl Sagan. De longe, essa é a melhor forma de dizer o que As galáxias
é oUniverso. De uma forma mais crua, o Universo é tudo o que Galáxia é um termo que se origina da palavragala, que significa
influenciou o passado, o presente e influenciará o futuro seja com “leite”, em grego. Inicialmente, era a denominação da nossa galáxia,
matéria, planetas, estrelas, luas, gravidade, tudo. Entretanto, essa aVia Láctea, e, depois, se generalizou como denominação de todas
lógica sugere que, caso exista outro Universo, ele não poderá ser as demais.
encontrado pois o nosso não o influenciou. Caso exista ou não ou- As galáxias são compostas pornuvens de gáse poeira, um gran-
tro, o nosso já é bastante bonito e intrigante, além de ser bastante de número deestrelas,planetas,cometaseasteroidese diversos cor-
complexo. pos celestes unidos pela ação daforça gravitacional.
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CIÊNCIAS NATURAIS
Numa noite estrelada, podemos ver uma faixa esbranquiçada que corta o céu. Essa “faixa” de astros é apenas uma parte da galáxia
onde está localizado o planeta Terra. Os antigos a denominaramVia Láctea, cujo significado em latim é “caminho de leite”.
A Via Láctea pertence a um conjunto, ou seja, uma aglomerado de diversas galáxias. OUniversocontém mais de200 bilhões de galá-
xiasde tamanho e formas variadas. Há galáxias de forma elíptica, outras são espirais e muitas são as galáxias irregulares, ou seja, que não
tem forma específica.

Representação da galáxia de Andrômeda

Representação da Via Láctea vista de perfil (acima) e vista de cima (abaixo)

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CIÊNCIAS NATURAIS
O Sistema Solar
O sistema solar é um conjunto deplanetas,asteroidesecometasque giram ao redor do sol. Cada um se mantém em sua respectiva órbi-
ta em virtude da intensa força gravitacional exercida pelo astro, que possui massa muito maior que a de qualquer outro planeta.
Os corpos mais importantes do sistema solar são osoito planetasque giram ao redor do sol, descrevendo órbitas elípticas, isto é, órbi-
tas semelhantes a circunferências ligeiramente excêntricas.

Os planetas que compõem o sistema solar


O sol não está exatamente no centro dessas órbitas, como pode-se ver na figura abaixo, razão pela qual os planetas podem encontrar-
-se, às vezes, mais próximos ou mais distantes do astro.

Órbitas elípticas dos planetas do Sistema Solar

Origem do Sistema Solar


O sol e o Sistema Solar tiveram origem há4,5 bilhões de anosa partir de uma nuvem de gás e poeira que girava ao redor de si mesma.
Sob a ação de seu próprio peso, essa nuvem se achatou, transformando-se num disco, em cujo centro formou-se o sol. Dentro desse disco,
iniciou-se um processo de aglomeração de materiais sólidos, que, ao sofrer colisões entre si, deram lugar a corpos cada vez maiores, os
outros planetas.
A composição de tais aglomerados relacionava-se com a distância que havia entre eles e o sol. Longe do astro, onde a temperatura
era muito baixa, os planetas possuem muito mais matéria gasosa do que sólida, é o caso de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Os planetas
perto dele, ao contrário, o gelo evaporou, restando apenas rochas e metais, é o caso de Mercúrio, Vênus, Terra e Marte.

Os componentes do Sistema Solar

O sol
O Sol é afonte de energia que domina o sistema solar. Sua força gravitacional mantém os planetas em órbita e sua luz e calor tornam
possível a vida na Terra. A Terra dista, em média, aproximadamente 150 milhões de quilômetros do Sol, distância percorrida pela luz em 8
minutos. Todas as demais estrelas estão localizadas em pontos muito mais distantes.
As observações científicas realizadas indicam que o Sol é uma estrela de luminosidade e tamanho médios, e que no céu existem in-
contáveis estrelas maiores e mais brilhantes, mas para nossa sorte, a luminosidade, tamanho e distância foram exatos para que o nosso
planeta desenvolvesse formas de vida como a nossa.
O Sol possui 99,9% da matéria de todo o Sistema Solar. Isso significa que todos os demais astros do Sistema juntos somam apenas
0,1%.

Composição do Sol
O Sol é uma enorme esfera de gás incandescente composta essencialmente de hidrogênio e hélio, com um diâmetro de 1,4 milhões
de quilômetros.
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CIÊNCIAS NATURAIS

O volume do Sol é tão grande que em seu interior caberiam mais de 1 milhão de planetas do tamanho do nosso. Para igualar seu
diâmetro, seria necessário colocar 109 planetas como a Terra um ao lado do outro. No centro da estrela encontra-se o núcleo, cuja tempe-
ratura alcança os 15 milhões de graus centígrados e onde ocorre o processo de fusão nuclear por meio do qual o hidrogênio se transforma
em hélio. Já na superfície a temperatura do Sol é de cerca de 6.000 graus Celsius.

Os planetas
Os planetas não produzem luz, apenas refletem a luz do Sol, que é a estrela do Sistema Solar.
Teorias afirmam que os planetas também foram formados a a partir de porções de massa muito quente e que todos estão de resfrian-
do. Alguns, entre eles a Terra, já se resfriaram o suficiente para apresentar a superfície sólida.
Um corpo celeste é considerado um planeta quando, além de não ter luz própria, gira ao redor de uma estrela.
Os planetas têm forma aproximadamente esférica. Os seus movimentos principais são o derotaçãoe o detranslação. Cada planeta
possui um eixo de rotação em relação a Sol, o mais inclinado deles é oplaneta-anãoPlutão, pois seu eixo de rotação em relação ao Sol é
de 120º, olhe a figura.

Solstício e equinócio são fenômenos astronômicos relacionados ao movimento aparente do Sol (incidência de raios solares nos hemis-
férios) e ao início das estações do ano.

O solstício ocorre em dois momentos do ano, marcando o início do inverno e do verão. O verão inicia-se em junho no Hemisfério Norte
e em dezembro no Hemisfério Sul. Já o inverno tem início em dezembro no Hemisfério Norte e em junho no Hemisfério Sul.

O equinócio ocorre também em dois momentos do ano, marcando o início da primavera e do outono. A primavera inicia-se em março
no Hemisfério Norte e em setembro no Hemisfério Sul. Já o outono tem início em setembro no Hemisfério Norte e em março no Hemisfério
Sul.
Diferença entre solstício e equinócio
O solstício representa o momento em que o Sol, ao longo de seu movimento aparente, atinge maior declinação em latitude em relação
à linha do Equador. Isso faz com que um dos hemisférios receba maior incidência de raios solares. Quando a intensidade solar é maior em
um dos hemisférios, caracteriza-se o solstício de verão. Em contrapartida, quando a intensidade solar é menor, caracteriza-se o solstício
de inverno.

Assim, quando é solstício de verão no Hemisfério Norte, o Sol incide perpendicularmente sobre o Trópico de Câncer. Quando é solstí-
cio de verão no Hemisfério Sul, o Sol incide perpendicularmente sobre o Trópico de Capricórnio.

No solstício de verão, os dias são mais longos que as noites. Já no solstício de inverno, as noites são mais longas que os dias.
Equinócio representa o momento em que nenhum dos polos está inclinado em relação ao Sol, o qual incide diretamente sobre a linha
do Equador. Isso significa que os raios solares incidem com a mesma intensidade no dois hemisférios, consequentemente, os dias e as
noites têm a mesma duração.

O equinócio ocorre em dois momentos do ano. Em março, marca o início da primavera no Hemisfério Norte e do outono no Hemisfério
Sul. Já em setembro, o equinócio marca o início do outono no Hemisfério Norte e da primavera no Hemisfério Sul.

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Datas dos solstícios e equinócios

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Solstício, equinócio e estações do ano
O movimento de translação, em que a Terra gira ao redor do Sol, leva cerca de 365 dias e, em decorrência da inclinação da Terra em
relação ao seu plano orbital, faz com que a incidência solar seja diferente nos hemisférios. Sendo assim, esse movimento é responsável
pela existência das estações do ano, que são determinadas pela posição do hemisfério em relação aos raios solares. As estações do ano
não ocorrem de maneira uniforme e simultânea nos dois hemisférios.
Os solstícios e os equinócios, fenômenos astronômicos relacionados ao movimento aparente do Sol, dão início às estações do ano. A
incidência dos raios solares de maneira desigual nos hemisférios marca o solstício de verão em um hemisfério e o solstício de inverno em
outro. A incidência dos raios solares perpendicularmente sobre a linha do Equador faz com que os dois hemisférios recebem igualmente a
radiação solar. Dessa forma, marca-se o início da primavera em um dos hemisférios e o início do outono no outro.

Estações do ano no Hemisfério Sul – 2019

As estações do ano são os períodos em que o ano é dividido de acordo com suas características climáticas.

Existem quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Elas ocorrem ao longo do período de um ano.

Em algumas regiões, não é possível distinguir as estações do ano, e a primavera e o outono podem não ser bem definidos.

Os países localizados na faixa tropical do planeta não possuem as quatro estações bem definidas, sendo predominante o verão e
inverno.
Como surgem as estações do ano?
As estações variam conforme a exposição aos raios solares, ou seja, de acordo com o movimento orbital da Terra em relação ao Sol.
Por esse motivo, os hemisférios Sul e Norte sempre estarão com as estações opostas.

Outono: O outono sucede o verão e antecede o inverno. Ele se caracteriza pela temperatura amena, tempo mais fresco e queda das
folhas das árvores. Inicialmente, os dias e noites possuem a mesma duração.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Porém, com o tempo, os dias vão se tornando mais curtos em relação à noite. Além disso, a temperatura também vai caindo, marcan-
do a chegada do inverno.

No Brasil, o outono inicia em 20 de março e termina em 21 de junho.

Inverno: O inverno é a época mais fria do ano, quando as temperaturas são baixas e com presença de neve em algumas localidades.
Ela antecede a primavera e sucede o outono.

Nesse período, as noites são mais longas do que os dias e os animais ficam mais ociosos, alguns chegam até a hibernar.

No Brasil, o inverno inicia em 21 de junho e termina em 23 de setembro.

Primavera: A primavera sucede o inverno e antecede o verão. Nesse período, as temperaturas voltam a ficar amenas, as flores flores-
cem e os dias e noites têm a mesma duração.
Aos poucos, os dias vão se tornando mais longos e as temperaturas aumentam, indicando a chegada do verão.

No Brasil, a primavera inicia em 23 de setembro e termina em 22 de dezembro.

Verão: O verão sucede a primavera e antecede o outono, é um período marcado pelas altas temperaturas e dias mais longos.

O calor resulta em uma evaporação mais rápida da água acumulada nos solos, resultando em chuvas constantes.

No Brasil, o verão começa em 21 de dezembro e termina em 20 de março.

Estações do ano no Hemisfério Norte


No hemisfério Norte estão localizados os Estados Unidos da América e a Europa, por exemplo. Lá, as estações do ano ocorrem em
épocas diferentes:

Primavera: de 20 de março a 21 de junho.


Verão: de 21 de junho a 23 de setembro.
Outono: de 22 ou 23 de setembro a 22 de dezembro.
Inverno: de 22 de dezembro a 20 de março.

Curiosidades sobre as estações do ano


Estações do ano na China
Embora localizada no Hemisfério Norte, na China são cinco as estações do ano: Primavera, Verão, Estio (períodos quentes), Outono e
Inverno (períodos frios).

Estações do ano na Índia


Na Índia, o ano é dividido em três estações: quente, frio e chuvoso.

Estações do ano nos Polos


As regiões polares, polo Norte e polo Sul, possuem apenas duas estações no ano: o inverno e o verão.

Onde já nevou no Brasil?


No Brasil, a neve não é muito comum. Porém, em diversas cidades já nevaram. Na região Sul, é mais comum e frequente a presença
de neve no inverno. No Sudeste, no estado de São Paulo e Rio de Janeiro, também já ocorreu neve.
fonte: https://www.todamateria.com.br/as-estacoes-do-ano/

Movimento de Rotação
No movimento de rotação, os planetas giram em torno do seu próprio eixo, uma linha imaginária que passa pelo seu centro. O ob-
servador terrestre tem dificuldade de perceber o movimento de rotação da Terra. Para isso deve-se notar que o Sol, do amanhecer ao
anoitecer, parece se mover da região leste em sentido oeste. O mesmo acontece, à noite, com a Lua, as estrelas e demais astros que vemos
no céu.
O movimento de rotação da Terra dura, aproximadamente 24 horas - o que corresponde a um dia. A Terra, por ser esférica, não é
iluminada toda de uma vez só. Conforme a Terra gira em torno do seu eixo, os raios de luz solar incidem sobre uma parte do planeta e a
outra fica à sombra.
Ociclo do dia e da noite ocorrem graças a rotação. Enquanto o planeta está girando sobre seu próprio eixo é dia nas regiões que estão
iluminadas pelo Sol (período claro) e, simultaneamente, é noite nas regiões não iluminadas (período escuro).

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CIÊNCIAS NATURAIS

Movimento de Translação
O movimento de translação é executado pelos planetas ao redor do Sol, e o tempo que levam para dar uma volta completa é deno-
minadoperíodo orbital. No caso da Terra esse período leva cerca de 365 dias e aproximadamente 6 horas para se completar. A Terra, no
seu movimento de translação, forma uma elipse pouco alongada (bem próxima a circular). Já o planeta Netuno traça a sua órbita elíptica
de forma bastante alongada.
Em razão do movimento de translação e da posição de inclinação do eixo da Terra, cada hemisfério fica, alternadamente, mais exposto
aos raios solares durante um período do ano. Isso resulta nas quatro estações do ano: verão, outono, inverno e primavera. Nos meses de
dezembro a março, o Hemisfério Sul - localizado ao sul da linha do Equador - fica mais exposto ao Sol. É quando os raios solares incidem
perpendicularmente sobre pelo menos alguns pontos do Hemisfério Sul. é verão nesse hemisfério.
Depois de seis meses, nos meses de junho a setembro, a Terra já percorreu metade da sua órbita. O Hemisfério Norte - localizado ao
norte da linha do Equador - fica mais exposto ao Sol e, assim, os raios solares incidem perpendicularmente sobre pelo menos alguns pontos
do Hemisfério Norte. é verão no Hemisfério Norte.

Enquanto é verão no Hemisfério Norte com os dias mais longos e as noites mais curtos, é inverno no Hemisfério Sul, onde os dias
tornam-se mais curtos e as noites mais longas. E vice-e-versa.
Em dois períodos do ano (de março a junho e de setembro a dezembro) ha posições da Terra, na sua órbita, em que os dois hemisfé-
rios são iluminados igualmente. é quando ocorrem, de forma alternada nos dois hemisférios, as estações climáticas primavera e outono.
As estações do ano são invertidas entre os hemisférios Sul e Norte. Por isso é possível, numa mesma época do ano, por exemplo,
pessoas aproveitarem o verão numa praia no Hemisfério Sul, enquanto outras se agasalharem por causa de uma nevasca de inverno no
Hemisfério Norte.
Nas regiões perto da linha do Equador, tanto em um hemisfério quanto no outro, ocorre constantemente a incidência dos raios do Sol,
faz calor durante todo o ano. Há apenas a estação das chuvas e a estação da seca.
Em virtude da “curvatura da Terra” e da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao seu plano de órbita, os pólos recebem
raios de Sol bastante inclinados.
Por um longo período do ano, os raios solares não chegam aos pólos; por isso essas são regiões muito frias.
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CIÊNCIAS NATURAIS
Para os moradores dessas regiões, só há duas estações climá- Principais sistemas estudados em Anatomia Humana
ticas: Normalmente, ao estudar anatomia humana no Ensino Fun-
• Uma que chamam inverno, ou seja, o longo período em damental e Médio, o foco maior é dado à anatomia sistêmica. Os
que os raios solares não atingem o pólo; sistemas estudados normalmente são o tegumentar, esquelético,
• outra chamada verão, quando não acontece o pôr-do-sol muscular, nervoso, cardiovascular, respiratório, digestório, urinário,
durante meses. endócrino e reprodutor.
Veja um pouco mais sobre eles a seguir.

CORPO HUMANO: COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO Corpo Humano e seus sistemas


E SUA RELAÇÃO COM O AMBIENTE. CORPO HUMANO: O corpo humano é composto por vários sistemas que coope-
RELAÇÃO ENTRE ALIMENTAÇÃO, ATIVIDADE FÍSICA E ram entre si, a fim de manter a saúde, proteger contra doenças e
SAÚDE. AÇÕES E AS INFLUÊNCIAS HUMANAS NO AM- permitir a reprodução da espécie.
BIENTE. FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS DOS SISTE- Para termos uma ideia, vamos considerar como dois sistemas
MAS QUE COMPÕEM O CORPO HUMANO do corpo cooperam entre si: o sistema tegumentar e esquelético.
O sistema tegumentar é formado pela pele, pelos e unhas, sendo o
responsável pela proteção de todos os sistemas do corpo, incluindo
o sistema ósseo, por meio da barreira entre o ambiente externo e
CORPO HUMANO - ÓRGÃOS E SISTEMAS. os tecidos e os órgãos internos. Por sua vez, o sistema esquelético
fornece sustentação para o sistema tegumentar.
A - PARTE GERAL
A anatomia humana é o campo da Biologia responsável por es- TECIDOS E PELE - CLASSIFICAÇÃO DOS TECIDOS. PELE E
tudar a forma e a estrutura do organismo humano, bem como as ANEXOS
suas partes. O nome anatomia origina-se do grego ana, que signifi-
ca parte, e tomnei, que significa cortar, ou seja, é a parte da Biologia Sistema Tegumentar
que se preocupa com o isolamento de estruturas e seu estudo. - Formado pela pele humana (epiderme, derme e hipoderme).
A anatomia utiliza principalmente a técnica conhecida como - Principais funções: proteção do corpo, trocas entre o meio
dissecação, que se baseia na realização de cortes que permitem externo e interno do organismo e manutenção da temperatura do
uma melhor visualização das estruturas do organismo. Essa práti- corpo.
ca é muito realizada atualmente nos cursos da área da saúde, tais
como medicina, odontologia e fisioterapia. O sistema tegumentar é composto pela pele e anexos (glân-
dulas, unhas, cabelos, pelos e receptores sensoriais) e tem impor-
A história da Anatomia Humana tantes funções, sendo a principal agir como barreira, protegendo o
Acredita-se que as primeiras dissecações em seres humanos corpo da invasão de microrganismos e evitando o ressecamento e
tenham acontecido no século II a.C. por intermédio de Herófilo e perda de água para o meio externo.
Erasístrato em Alexandria. Posteriormente, a área ficou praticamen- Entre os vertebrados, o tegumento é composto por camadas: a
te estagnada, principalmente em decorrência da pressão da Igreja, mais externa, a epiderme é formada por tecido epitelial, a camada
que não aceitava esse tipo de pesquisa. subjacente de tecido conjuntivo é a derme, seguida por um tecido
Os estudos na área retornaram com maior força durante o perí- subcutâneo, também conhecida como hipoderme. Há também uma
odo do Renascimento, destacando-se as obras de Leonardo da Vinci cobertura impermeável, a cutícula. Há uma variedade de anexos,
e Andreas Vesalius. tais como pelos, escamas, chifres, garras e penas.
Leonardo da Vinci destacou-se na anatomia por seus espetacu-
lares desenhos a respeito do corpo humano, os quais preparou por
cerca de 15 anos. Para a realização de desenhos, esse importante
artista fez vários estudos, participando, inclusive, de dissecações.
O primeiro livro de atlas de anatomia, o “De Humani Corporis
Fabrica”, foi produzido em 1543 por Vesalius, atualmente conside-
rado o pai da anatomia moderna. Seu livro quebrou falsos conceitos
e contribuiu para um aprofundamento maior na área, marcando,
assim, a fase de estudos modernos sobre a anatomia.

Divisões da Anatomia
Essa área foi e é, sem dúvidas, extremamente importante para
a compreensão do funcionamento do corpo humano. Atualmente,
podemos dividi-la em várias partes, mas duas merecem destaque:
Anatomia Sistêmica: Essa parte da anatomia estuda os siste-
mas do corpo humano, tais como o sistema digestório e o circulató-
rio. Ela não se preocupa com o todo, realizando uma descrição mais
aprofundada das partes que compõem um sistema.
Anatomia Regional ou Topográfica: Essa parte da anatomia es-
tuda o corpo humano por regiões, e não por sistemas. Esse estudo
facilita a orientação correta ao analisar um corpo.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Funções do Tegumento Derme
• Envolve e protege os tecidos e órgãos do corpo; Observe na figura a seguir um corte transversal da pele visto ao
• Protege contra a entrada de agentes infecciosos; microscópio. A parte superior (mais escura) é a epiderme e a parte
• Evita que o organismo desidrate; mais clara representa a derme, com as papilas dérmicas em contato
• Controla a temperatura corporal, protegendo contra mudan- com as reentrâncias epidérmicas.
ças bruscas de temperatura;
• Participa da eliminação de resíduos, agindo como sistema ex-
cretor também;
• Atua na relação do corpo com o meio externo através dos
sentidos, trabalhando em conjunto com o sistema nervoso;
• Armazena água e gordura nas suas células.

Anatomia da Pele

Epiderme

A derme é constituída de tecido conjuntivo fibroso, vasos san-


guíneos e linfáticos, terminações nervosas e fibras musculares li-
sas. É uma camada de espessura variável que une a epiderme ao
tecido subcutâneo, ou hipoderme. Sua superfície é irregular com
saliências, as papilas dérmicas, que acompanham as reentrâncias
da epiderme.

Apêndices da Pele

Unhas, Cabelos e Pelos


As unhas são placas de queratina localizadas nas pontas dos
dedos que ajudam a agarrar os objetos.​Os pelos estão espalhados
pelo corpo todo, com exceção das palmas das mãos, das solas dos
pés e de certas áreas da região genital. Eles são formados de que-
ratina e restos de células epidérmicas mortas compactadas e se for-
mam dentro do folículo piloso. Os cabelos, espalhados pela cabeça
crescem graças às células mortas queratinizadas produzidas no fun-
do do folículo; elas produzem queratina, morrem e são achatadas
formando o cabelo. A cor dos pelos e cabelos é determinada pela
quantidade de melanina produzida, quanto mais pigmento houver
A epiderme é constituída de tecido epitelial, cujas células apre- mais escuro será o cabelo.
sentam diferentes formatos e funções. Elas são originadas na ca-
mada basal, e se movem para cima, tornando-se mais achatadas Receptores Sensoriais
à medida que sobem. Quando chegam na camada mais superficial São ramificações de fibras nervosas, algumas se encontram
(camada córnea) as células estão mortas (e sem núcleo) e são com- encapsuladas formando corpúsculos, outras estão soltas como as
postas em grande parte por queratina. Entre a camada basal (mais que se enrolam em torno do folículo piloso. Possuem função sen-
interna) e a córnea (mais externa), há a camada granulosa, onde as sorial, sendo capazes de receber estímulos mecânicos, de pressão,
células estão repletas de grânulos de queratina e a espinhosa, na de temperatura ou de dor. São eles: Corpúsculos de Ruffini, Corpús-
qual as células possuem prolongamentos que as mantêm juntas, culos de Paccini, Bulbos de Krause, Corpúsculos de Meissner, Discos
dando-lhe esse aspecto. de Merkel, Terminais do Folículo Piloso e Terminações Nervosas Li-
Nos vertebrados terrestres, as células da camada córnea são vres. Veja a figura a seguir:
eliminadas periodicamente, tal como em répteis que trocam a pele,
ou continuamente em placas ou escamas, como acontece nos ma-
míferos assim como nos humanos.

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CIÊNCIAS NATURAIS
As principais funções do sistema esquelético são:
• Sustentar o organismo;
• Proteger os órgãos vitais;
• Armazenar os sais, principalmente o cálcio e o fósforo, que
são fundamentais para o funcionamento das células e devem es-
tar presentes no sangue. Uma vez que o nível de cálcio diminui no
sangue, os sais de cálcio são levados para os ossos para suprir a sua
ausência;
• Ajudar no movimento do corpo;
• Hematopoiética;
• Alguns ossos possuem medula amarela, mais conhecida
como tutano. Essa medula é constituída, em sua maioria, por cé-
lulas adiposas, que acumulam gorduras como material de reserva;
• No interior de alguns ossos, como o crânio, a coluna, a bacia,
o esterno, as costelas e as cabeças dos ossos do braço e da coxa,
existem cavidades que são preenchidas por um tecido macio, cha-
mado de medula óssea vermelha, onde são produzidas as células
do sangue: hemácias, leucócitos e plaquetas.
Glândulas
São exócrinas já que liberam suas secreções para fora do corpo.
As glândulas sebáceas são bolsas que secretam o sebo (substância
oleosa) junto aos folículos pilosos para lubrifica-los. Já as glândulas
sudoríparas têm forma tubular enovelada e secretam o suor (fluido
corporal constituído de água e íons de sódio, potássio e cloreto, en-
tre outros elementos) através de poros na superfície da pele.

O suor ajuda a controlar a temperatura corporal.

SISTEMA ESQUELÉTICO - Esqueleto Axial.ESQUELETO APEN-


DICULAR. ARTICULAÇÕES
- Formado pelos ossos do corpo.
- Principais funções: sustentação, proteção e movimentação do
corpo humano.

O sistema esquelético tem como função proteger, produzir


células sanguíneas, armazenar os minerais, sustentar e locomover.
Ele também é conhecido pelo nome de sistema ósseo e é formado
por duzentos e seis ossos e estão assim divididos: ossos da cabe-
ça, ossos do pescoço, ossos do ouvido, ossos do tórax, ossos do
abdômen, ossos dos membros inferiores e ossos dos membros su-
periores.
A ciência que estuda os ossos é a osteologia. O crânio e a co-
luna vertebral são estruturas ósseas complexas e extremamente
importantes, que ajudam e evoluem ao ponto em que o homem se
desenvolve. A coluna vertebral tem como objetivo dar maior flexi-
bilidade ao corpo humano.
Os ossos do corpo humano são ligados através das articula-
ções. E eles são os responsáveis por darem um apoio para o siste-
ma muscular, fazendo com que o homem possa executar diversos
movimentos.

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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
Quais são as principais partes do esqueleto?
O sistema esquelético possui duas partes que podem ser con-
sideradas principais: o esqueleto apendicular e o esqueleto axial.
O esqueleto apendicular é formado:
Cintura torácica ou escapular, que é uma estrutura também
conhecida como cintura superior. É formada pelas escápulas e cla-
vículas;
• Cintura pélvica ou inferior, também chamada de bacia, tem
na sua constituição o sacro, um par de ossos ilíacos e pelo cóccix.

O esqueleto dos membros também é composto pelas juntas,


ou seja, uma ligação existente entre dois ou mais ossos. Outras es-
truturas que fazem parte do esqueleto são as articulações. E essas,
possuem os ligamentos, que são os responsáveis por tornar os os-
sos conectados a uma articulação.

Os ossos começam a se formar desde o segundo mês de vida


intrauterina. Quando nasce, a criança já apresenta um esqueleto
bastante ossificado, mas as extremidades de diversos ossos ainda
possuem regiões cartilaginosas que permitem o crescimento.
Entre os 18 e 20 anos, essas regiões cartilaginosas se ossificam
e deixam de crescer. Os músculos não estriados apresentam contração lenta e in-
Já o esqueleto axial é formado pela: voluntária, ou seja, são responsáveis por aqueles movimentos que
• Pela caixa craniana, que possui diversos ossos importantes ocorrem independentemente da nossa vontade, como os movi-
do crânio; mentos peristálticos.
• Pela coluna vertebral, que são pequenos ossos sobrepostos Os músculos estriados esqueléticos são aqueles que se fixam
que dão sustentação ao corpo, e onde existe um canal que se co- nos ossos através dos tendões (cordões fibrosos), caracterizam-se
necta à medula nervosa ou espinhal. A sua principal função é a mo- por contrações fortes e voluntárias. Isso quer dizer que são respon-
vimentação; sáveis pelas ações conscientes do nosso corpo, como andar e fazer
• Pela caixa torácica, que é formada pelo osso esterno e as cos- exercícios.
telas. É ela a responsável por proteger os pulmões e o coração. O músculo estriado cardíaco, como o próprio nome diz, é o
músculo do coração. É ele o responsável pelos batimentos cardía-
SISTEMA MUSCULAR - Estrutura dosMúsculos Esqueléticos cos, suas contrações são fortes e involuntárias.
- Formado pelos músculos do corpo humano. A principal característica do sistema muscular é a capacidade
- Principais funções: atua na sustentação do corpo, movimenta- de se contrair e relaxar. Aliás, é o equilíbrio entre esses dois estados
ção e equilíbrio da temperatura corporal. o responsável pelo movimento do corpo como um todo. Durante
a respiração, por exemplo, o diafragma precisa contrair e relaxar
O conjunto de músculos do nosso corpo forma o sistema mus- para receber o oxigênio nos pulmões e expelir em seguida o gás
cular. O corpo humano tem aproximadamente 600 músculos dife- carbônico.
rentes, isso significa que os músculos somam cerca de 50% do peso
total de uma pessoa. SISTEMA NERVOSO - Encéfalo e Nervos Cranianos. Medula Es-
Os músculos, aliados aos ossos e articulações, são as estrutu- pinhal e Nervos Espinhais
ras responsáveis por todos os movimentos corporais. Andar, correr, - Composto pelo cérebro, medula espinal e diversos nervos.
pular, comer, piscar e até mesmo respirar seriam atividades impos- - Principais funções: processamento de informações do am-
síveis sem a ação do sistema muscular. biente (cérebro) e transmissão de impulsos nervosos pelo corpo. O
Os músculos são classificados em 3 categorias: cérebro, principal órgão do sistema nervoso, também possui a ca-
• Músculo não estriado (músculo liso) pacidade de armazenar informações, elaborar pensamentos e pro-
• Músculo estriado esquelético duzir conhecimentos a partir das informações obtidas. O cérebro
• Músculo estriado cardíaco também é muito importante no controle de diversas funções vitais
do corpo e no processo da fala.
O sistema nervoso é um dos mais importantes do corpo hu-
mano. Ele é o responsável por controlar diversos processos vitais,
como as atividades dos músculos, o movimento dos órgãos, os estí-
mulos e os sentidos humanos.
Este sistema é formado por estruturas essenciais, como os
neurônios e os nervos, dois elementos responsáveis pela coordena-
ção motora dos seres humanos. Graças ao sistema nervoso, somos
capazes de perceber estímulos externos.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Características do sistema nervoso - Principais funções: processo de respiração (obtenção de oxi-
O principal órgão do sistema nervoso é o cérebro, responsável gênio e retirada de gás carbônico).
por controlar todas as funções, atividades, movimentos, memórias
e pensamentos dos seres humanos. O cérebro é a chave do sistema O sistema respiratório dos seres humanos é responsável por
nervoso e atua para controlar a maioria das funções do organismo. fornecer oxigênio ao nosso corpo. Ele também atua para retirar o
Já o neurônio é considerado a unidade funcional do sistema gás carbônico do organismo.
nervoso. Os neurônios se comunicam por meio de sinapses e pro- Os principais órgãos do sistema respiratório são os pulmões,
pagam impulsos nervosos. que desempenham papel estratégico no processo de respiração.
Como é possível perceber, o sistema nervoso é uma grande Este sistema também é composto por cavidades nasais, boca,
rede de comunicações, movimentos e sensações. Este sistema está faringe, laringe, traqueia, brônquios e bronquíolos.
dividido em duas partes: o sistema nervoso central e o sistema ner-
voso periférico. Características do sistema respiratório
Sistema Nervoso Central – Formado por encéfalo e medula O processo de respiração controlado pelo sistema respiratório
espinhal. começa pelas narinas. As cavidades nasais recebem o ar e filtram as
Sistema Nervoso Periférico – Formado por nervos e gânglios partículas sólidas e as bactérias. Essas mesmas cavidades também
nervosos. são as responsáveis pela percepção dos odores.
Conheça melhor os órgãos e estruturas do sistema nervoso: Depois de passar pelas cavidades nasais, o ar segue para a fa-
Cérebro – Órgão volumoso, dividido em duas partes simétri- ringe. Em seguida, vai para a laringe, traqueia, brônquios, bronquí-
cas, chamadas de hemisfério direito e hemisfério esquerdo. É o olos e pulmões.
órgão de maior importância no corpo humano. Outro elemento fundamental no processo de respiração é o
Cerebelo – Responsável por coordenar os movimentos do cor- diafragma, um músculo que fica localizado logo abaixo do pulmão
po e o equilíbrio. e que desempenha papel relevante nos movimentos da respiração.
Tronco Encefálico – Conduz impulsos nervosos entre o cére-
bro e a medula espinhal. A importância dos pulmões
Os pulmões são órgãos com perfil esponjoso. Eles são revesti-
Medula Espinhal – Cordão de tecido nervoso que fica localiza- dos por uma membrana dupla, que recebe o nome de pleura. Os
do na coluna vertebral. É responsável por conduzir impulsos nervo- seres humanos possuem dois pulmões, separados pelo mediastino,
sos do corpo para o cérebro. região onde está o coração e outros órgãos e estruturas do orga-
As estruturas do sistema nervoso são essenciais para uma vida nismo.
saudável. Por isso, é recomendável manter uma rotina equilibrada Os pulmões contribuem de forma significativa para a troca de
e passar por consultas regulares com especialistas. gases do organismo com o meio externo por meio da respiração.
Eles também ajudam a controlar o nível de oxigênio no sangue.
SISTEMA CIRCULATÓRIO - Sangue. Anatomia do Coração e Estes órgãos medem cerca de 25 cm e têm um peso aproxima-
dos Vasos Sangüíneos do de 700 gramas. O ar que passa pelos pulmões é renovado a todo
- Formado por coração, veias e artérias. momento, em um processo denominado ventilação pulmonar.
- Principais funções: circulação do sangue pelo corpo humano. É fundamental que as pessoas cuidem da saúde dos pulmões
Neste processo, os nutrientes e o oxigênio são transportados para para que possam ter uma respiração adequada e para prevenir do-
as células. enças como o câncer de pulmão. Para cuidar bem desses órgãos, os
médicos recomendam que os pacientes evitem ou deixem o vício
O sistema circulatório humano é formado pelo coração, pelo do cigarro e de outras drogas, como maconha e charutos; e evitem
sangue e os vasos sanguíneos. Também conhecido como sistema se expor à poluição externa intensa e à condição de fumante pas-
cardiovascular, essa rede de circulação do corpo é extremamente sivo. Além disso, é recomendado respirar profundamente, praticar
importante para o funcionamento dos órgãos e para a distribuição exercícios aeróbicos, ter uma dieta saudável, beber bastante água e
de nutrientes, hormônios e oxigênio pelo organismo. fazer a limpeza regular do nariz para prevenir alergias.
O principal órgão do sistema circulatório é o coração, responsá-
vel por bombear o sangue para o corpo. O coração está localizado Sobre o mediastino veremos mais detalhadamente mais adian-
na cavidade torácica e pesa cerca de 300 gramas. O órgão é forma- te.
do por átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo direito e ventrículo OUTROS SISTEMAS - Anatomia do Sistema Digestivo. Anato-
esquerdo; e apresenta três camadas fundamentais: o pericárdio, o mia do Sistema Urinário. Anatomia do Sistema Reprodutor.
endocárdio e o miocárdio.
Em relação aos vasos, o sistema circulatório tem basicamente Sistema Digestivo
três tipos: as artérias, as veias e os capilares. As artérias são consi- - Composto por boca, faringe, esôfago, estômago, intestinos
deradas vasos de paredes que ajudam a transportar o sangue do (grosso e delgado). Há também outros órgãos que atuam de forma
coração para os tecidos do corpo. auxiliar no processo de digestão dos alimentos: glândulas salivares,
As veias são vasos de paredes que transportam sangue dos te- dentes, fígado e pâncreas.
cidos para o coração. Já os capilares arteriais e capilares venosos - Principal função: processo de digestão dos alimentos.
são ramificações que colaboram com o transporte do sangue pelo
organismo. Nós, seres humanos, nos alimentamos diariamente para ob-
termos energia para realizarmos nossas funções vitais e atividades
SISTEMA RESPIRATÓRIO - Parede Torácica e Pulmões. Me- cotidianas. Nesse processo de captação de energia e nutrientes um
diastino sistema faz toda a diferença: estamos falando do sistema digestivo,
- Composto por dois pulmões, duas cavidades nasais, faringe, ou sistema digestório, como é chamado atualmente.
laringe, traqueia e brônquios pulmonares.

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CIÊNCIAS NATURAIS
O sistema digestivo é responsável por conduzir processos quí- - Principais funções: filtração das impurezas. Para tanto, ocorre
micos e mecânicos que retiram os nutrientes dos alimentos para a produção da urina, armazenamento e sua eliminação, pelo apare-
serem usados em nosso corpo. A estrutura do sistema digestório é lho urinário. Junto com a urina, são eliminadas as impurezas, que
bastante complexa, formada por diversos órgãos importantes para foram filtradas (retiradas do sangue) pelos rins.
a nutrição do nosso organismo. Estes órgãos transformam os ali-
mentos que ingerimos. O sistema urinário é responsável por manter nosso organismo
livre de toxinas. Isso é possível porque é composto por um conjunto
Características do sistema digestivo de órgãos responsáveis por filtrar, armazenar e eliminar as substân-
O sistema digestório é formado pelo tubo digestório e por seus cias nocivas ou desnecessárias ao nosso corpo.
órgãos anexos. Os órgãos constitutivos do sistema urinário são divididos em
As principais estruturas presentes neste sistema são: boca, fa- dois grupos, os secretores (responsáveis por produzir a urina) e os
ringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, glân- excretores (responsáveis por eliminar a urina). Esses órgãos são os
dulas salivares, dentes, língua, pâncreas, fígado e vesícula biliar. rins, que produzem a urina, os ureteres, que transportam a urina
Todo processo de digestão começa pela boca, que recebe os dos rins à bexiga, e a uretra, por onde é excretada a urina.
alimentos no tubo digestivo. Nossa mastigação é um processo de As substancias mais comumente encontradas na urina são: áci-
digestão mecânica. Em seguida, o alimento já mastigado segue pela do úrico, ureia, sódio, potássio e bicarbonato. Quando o corpo sofre
faringe até chegar ao esôfago. alguma disfunção, a urina pode revelar a raiz do problema, por isso
O próximo destino do alimento é o estômago, órgão responsá- é tão comum que médicos peçam um exame de urina antes de diag-
vel pela digestão das proteínas. Depois de processado, o alimento nosticar o paciente.
se transforma em quimo e vai para o intestino delgado. Os rins são órgãos principais do sistema urinário, além de pro-
O caminho final das sobras de alimentos sem valor nutricional duzir a urina eles são responsáveis pela regulação da composição
passa pelo intestino grosso e segue até a eliminação dos resíduos iônica do sangue, pela manutenção da osmolaridade, o equilíbrio
digestivos por meio do bolo fecal. da pressão arterial, o ph sanguíneo e a liberação de hormônios.

Outras estruturas importantes são as glândulas supra renais,


que ficam localizadas entre os rins e o diafragma. Cada glândula é
envolvida por fibras e gordura, são elas as responsáveis pela produ-
ção dos hormônios essenciais ao organismo.

Excreção da Urina

Enzimas Digestivas Os rins funcionam como um filtro que retém as impurezas do


O processo de digestão é facilitado pelas enzimas digestivas, sangue e o deixa em condições de circular pelo organismo.
como as amilases, que agem sobre o amido; as proteases, que atu- Eles participam do controle das concentrações plásmicas de
am sobre as proteínas; e as lípases, que trabalham nos lipídios. íons, como sódio, potássio, bicarbonato, cálcio e cloretos.
De acordo com as concentrações no sangue, esses íons podem
Digestão Saudável ser eliminados em maior ou menor quantidade na urina, através do
Para o funcionamento correto do sistema digestivo é preciso sistema urinário. As principais substâncias que formam a urina são
que as pessoas mantenham uma alimentação saudável, rica prin- uréia, ácido úrico e amônia.
cipalmente em fibras e água. Isso ajuda a evitar problemas como o
velho conhecido intestino preso, por exemplo. Sistema Reprodutor
- Formado por:
Sistema Urinário - Sistema reprodutor masculino: dois testículos, epidídimos, ca-
- Formado por dois rins e vias urinárias (bexiga urinária, uretra nais deferentes, vesículas seminais, próstata, uretra e pênis.
e dois ureteres). - Sistema reprodutor feminino: trompas de Falópio, dois ová-
rios, útero, cérvice (colo do útero) e vagina.
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CIÊNCIAS NATURAIS
- Principais funções: responsável pelo processo reprodutivo A fossa média, também chamada de andar médio da base do
dos seres humanos. crânio, é formada anteriormente pelas asas menores do esfenói-
de, posteriormente pela porção petrosa do osso temporal e late-
Também chamado de sistema genital, o sistema reprodutor hu- ralmente pelas escamas do temporal, osso parietal e asa maior do
mano é constituído por um conjunto de órgãos que formam tanto esfenóide.
o aparelho genital masculino, quanto o aparelho genital feminino. A fossa posterior, também chamada de andar inferior, é consti-
tuída pelo dorso da sela e clivo do esfenóide, pelo occipital e parte
O sistema reprodutor masculino é formado por 6 órgãos: petrosa e mastóidea do temporal. Essa é a maior fossa do crânio e
Pênis - funciona como órgão reprodutor e excretor. A uretra é também abriga o maior forame do crânio, o forame magno.
o canal responsável por eliminar a urina e também transportar o Os ossos que compõe a face são: Mandíbula, Vômer, Hióde (ím-
sêmen. Por ser extremamente vascularizado, esse órgão tende à pares), Maxilar, Palatino, Zigomática, Concha nasal inferior, Lacrimal
ereção quando estimulado. e Nasal (pares).
Testículos - são as glândulas que produzem os gametas mas-
culinos (espermatozoides) e sintetizam a testosterona (hormônio *Ossos ímpares são ossos situados na linha média e que não
sexual). possuem outro semelhante no corpo. Ossos pares são ossos situa-
Bolsa escrotal - é responsável por manter a temperatura e dos lateralmente e que possuem outro semelhante do lado oposto.
proteger os testículos de agentes externos.
Epidídimo - é um ducto formado por um canal, ele recebe os
espermatozoides e os reserva até a maturidade.
Canal deferente - responsável por transportar os espermato-
zoides do epidídimo até o complexo de glândulas anexas.
Glândulas anexas - próstata, vesículas seminais e glândulas
bulbo uretrais. São responsáveis pela produção da secreção que
forma o sêmen, trata-se de um fluido que nutri e permite um meio
de sobrevivência aos espermatozoides, por exemplo, neutralizan-
do o pH levemente ácido da uretra.
O sistema reprodutor feminino também é formado por 6 ór-
gãos:
Lábios vaginais - dobras de tecido adiposo, responsável por
proteger o interior da vagina.
Clitóris - órgão relacionado ao prazer sexual.
Vagina - também funciona como órgão reprodutor e excretor.
A cavidade vaginal recebe o pênis durante o ato sexual e a uretra
elimina a urina.
Útero - é o órgão receptor do óvulo, onde o embrião irá se
desenvolver durante os 9 meses de gestação.
Trompas de falópio - são os órgãos responsáveis pelo trans-
porte dos óvulos do ovário até o útero.
Ovários - glândulas que formam os óvulos de acordo com o
ciclo menstrual, também produz os hormônios sexuais: estrógeno
e progesterona.

B - PARTE ESPECIAL
Crânio – vista anterior
CABEÇA E PESCOÇO - CAVIDADE CRANIANA. FACE E COU-
RO CABELUDO. ÓRBITA E OLHOS. ESTRUTURA DO PESCOÇO. Crânio – vista anterior
CAVIDADE NASAL. CAVIDADE ORAL. LARINGE E FARINGE.

Cavidade Craniana

O Crânio
Dividi-se, para estudo, em ossos da face e ossos do crânio pro-
priamente dito. Ele pode ser dividido em calota craniana ou calvária
e base do crânio. A calvária é a parte superior do crânio e é formada
pelos ossos: Frontal, Occipital, e Parietais. A base do crânio forma
o assoalho da cavidade craniana e pode ser dividida em três fossas
ou andares:
Os ossos que o compõe são: Frontal, Occipital, Esfenóide, Et-
móide (ímpares)*, Parietal e Temporal (pares)*.
A fossa anterior, também chamada de andar superior da base
do crânio, é formada pelas lâminas orbitais do frontal, pela lâmina
crivosa do etmóide e pelas asas menores e parte anterior do esfe-
nóide.

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CIÊNCIAS NATURAIS

Crânio–vista lateral esquerda

* Em antropologia são empregados como pontos de mensu-


ração.
Calvária – vista superior

* Em antropologia são empregados como pontos de mensu-


ração.

Crânio – vista posterior

* Em antropologia são empregados como pontos de mensura-


ção. Obs: nem todos os indivíduos possuem os ossos suturais.

Calvária – vista inferior ou interna.

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CIÊNCIAS NATURAIS

Crânio – corte sagital


* Em antropologia são empregados
como pontos de mensuração

Base do crânio, face interna – vista superior

Calvária de recém-nascido – vista superior.

OSSOS DO CRÂNIO

- Frontal
É um osso pneumático, ímpar, que constitui o limite anterior
da calota craniana e o assoalho do andar superior da base do crâ-
nio.

Posição anatômica:
Anteriormente: borda supra-orbitária
Inferiormente: espinha nasal
Base do crânio, sem a mandíbula – vista inferior.

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CIÊNCIAS NATURAIS
- Occipital
É um osso ímpar que constitui o limite posterior e dorsocaudal
do crânio. Tem uma forma trapezóide e conformação de uma taça.
Possui uma grande abertura, o forame magno, que se continua com
o canal vertebral.
Posição anatômica:
Dorsalmente: protuberância occipital externa
Inferiormente: forame magno

Frontal – vista anterior.

Frontal – vista inferior


* Fossa da glândula lacrimal, onde está situada a glândula lacri-
mal.
- Parietal
É um osso par. Os dois ossos parietais formam os lados e teto
da calota craniana. É aplanado, quadrangular e apresenta uma su-
perfície externa convexa e uma interna côncava.

Posição anatômica:
Anteriormente: borda frontal
Inferiormente e lateralmente: borda escamosa

Occipital – vista inferior Occipital – vista superior

- Esfenóide
É um osso ímpar que se encontra no andar médio da base do
crânio. Assemelha-se a um morcego de asas abertas.
Posição anatômica:
Anteriormente: face orbitária
Lateralmente: asa maior

Parietal direito – vista lateralParietal direito, face interna –


vista medial
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CIÊNCIAS NATURAIS

Esfenóide – vista anterior

Esfenóide – vista posterior

- Temporal
É um osso par situado entre o occipital e o esfenóide, formando a base do crânio e sua parede lateral.
Posição anatômica:
Lateralmente, dorsalmente e inferiormente: processo mastóide

Superiormente: porção escamosa

Temporal direito – vista lateral

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CIÊNCIAS NATURAIS

Temporal direito, face interna – vista medial

Temporal direito – vista inferior

- Etmóide
É um osso ímpar, pneumático, excessivamente leve e esponjoso que forma parte do assoalho do andar superior da base do crânio.
Situa-se entre as duas órbitas, forma a maior parte da parede superior da cavidade nasal e constitui parte do septo nasal.

Posição anatômica:
Anteriormente: processos alares
Superiormente: crista gali

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CIÊNCIAS NATURAIS

Etmóide – vista postero-superior (esquerda) e vista lateral (direita)

Músculos da cabeça - da face ou da mímica facial


Os músculos da face (músculos da expressão facial) estão na tela subcutânea da parte anterior e posterior do couro cabeludo, face e
pescoço.
Eles movimentam a pele e modificam as expressões faciais para exprimir humor.
A maioria dos músculos se fixam ao osso ou fáscia e atuam mediante tração da pele.

Importante lembrar que todos os músculos faciais são inervados pelo VII par craniano, o nervo facial, via ramos:
- Auricular posterior;
- Ramos temporais;
- Zigomático;
- Bucal;
- Marginal da mandíbula;
- E cervical do plexo parotídeo.

MOORE: Keith L. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

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CIÊNCIAS NATURAIS
COURO CABELUDO O último osso que contribui para as paredes ântero-lateral in-
terna e externa da cavidade orbitária é o zigoma, ou a porção facial
Galea aponeurótica do osso zigomático.
A galea aponeurótica (aponeurose epicraniana) cobre a parte
superior do crânio. Parede medial
Em sua região posterior junta-se entre o intervalo de sua união A parede medial interna continua posteriormente e superior-
com os músculos occipitais, especificamente na protuberância oc- mente da maxila, subindo até o osso frontal, e consiste primeira-
cipital externa e nas linhas mais altas do osso occipital do pescoço. mente do osso lacrimal e logo atrás dele, da placa vertical do osso
Na fronte, ele forma uma extensão curta e pequena entre a etmoide.
união com o músculo frontal.
A margem posterior da placa do etmoide se articula com as
asas maior e menor do osso esfenóide, como também faz a maxila
inferiormente (mas somente com a asa maior).

Parede posterior
O osso esfenóide forma a totalidade da parede posterior da ca-
vidade orbitária. Uma pequena projeção da placa vertical do osso
palatino, conhecida como processo orbital, pode ser vista entre a
maxila, o osso etmoide e o osso esfenoide.

Articulações da órbita
Dentro da órbita as articulações não são nomeadas, e não se
espera isso como conhecimento comum de estudantes de medicina
em um teste. Por agora, apenas as principais suturas que são men-
cionadas nos livros de anatomia serão listadas aqui. Como mencio-
nado anteriormente, a ordem será o sentido horário utilizando a
órbita direita como referência.
• A sutura frontomaxilar articula o osso frontal e a maxila na
margem superior e anterior da borda da órbita.
Imagem: Niel Asher Healthcare • A sutura zigomaticomaxilar pode ser vista logo lateralmente
ao forame infraorbital, e possui uma orientação diagonal. Ela liga a
Órbita e olhos maxila à porção facial do osso zigomático.
A cavidade orbitária é a cavidade esquelética que é constituída • Finalmente, a sutura frontozigomática une o aspecto mais
por várias estruturas cranianas e cerca o tecido mole que compõe o superior do zigoma ao osso frontal na margem superior lateral da
olho. Sua função é fornecer um ambiente estável e protegido para abertura orbitária anterior.
o globo ocular e suas estruturas adjacentes, bem como proteger
uma grande parte do olho que não é utilizada diretamente na visão. Marcos anatômicos e fissuras
Primeiro, iremos discutir os ossos individuais que formam a Os marcos anatômicos da órbita consistem de três aberturas
órbita, bem como as articulações entre eles. Em segundo lugar, externas e seis internas, com a abertura do olho não sendo incluída
iremos descrever em detalhe os marcos anatómicos e fissuras dos devido ao seu tamanho.
ossos, incluindo os que se devem às suas articulações, dando espe-
cial atenção àquelas em que passam estruturas. Por último, iremos Aberturas externas
mencionar a patologia mais importante relacionada com este tema. Os três marcos externos são forames (buracos):
Apesar de parecer uma cavidade esférica, a cavidade orbitá- • o forame (buraco) supraorbital, na margem superior do anel
ria na verdade é mais como um canal piramidal, com uma grande orbitário no osso frontal;
abertura anteriormente, na parte superior da face, de onde uma • o forame (buraco) infraorbital, na margem inferior do anel
parte do olho que é diretamente utilizada na visão emerge, e mais orbitário na maxila;
duas fissuras e um canal menores posteriormente, que conectam a • e o forame (buraco) zigomaticofacial, levemente lateral ao fo-
parte interna do crânio à sua parte externa, e permitem que várias rame infraorbital, na porção facial do osso zigomático.
estruturas anatômicas passem de dentro para fora.
Esses forames (buracos) contêm os nervos orbitais superior e
Ossos e articulações inferior e vasos, e o nervo zigomaticofacial e vasos, respectivamen-
te.
Parede anterior
No sentido horário (utilizando a órbita direita, que está à es- Aberturas internas
querda do leitor), os ossos que contribuem para a margem ante- As seis aberturas internas estão situadas nas paredes poste-
rior e as paredes anteriores da cavidade orbitária incluem o osso rior e medial da órbita. As aberturas posteriores são limitadas pelas
frontal, que fornece a borda anterior e superior da órbita e a maior asas maior e menor do osso esfenóide e pelo osso etmoide. A fis-
parte do teto da cavidade orbitária. sura orbital inferior é uma exceção, e possui somente a asa maior
Em seguida é a maxila, que contribui com as suas porções fron- do osso esfenóide e a maxila definindo suas margens, e não o osso
tal e nasal para a margem ântero-medial e a margem ântero-infe- etmoide. As fissuras orbitais superior e inferior e o canal óptico são
rior medial da borda orbitária, bem como para a maioria do assoa- marcos que atualmente estão sendo revisados.
lho da cavidade orbitária. O canal óptico é muito menor que os outros dois marcos, e é
considerado o mais superior dos três. Ele contém:
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a solução para o seu concurso!
CIÊNCIAS NATURAIS
• o nervo óptico;
• e a artéria oftálmica.
O próximo abaixo é a fissura orbital superior, que é a segunda
maior das fissuras, entretanto a que possui mais conteúdo, incluin-
do:
• os ramos oftálmicos do nervo trigêmeo (nasociliar, frontal e
lacrimal),
• o nervo oculomotor,
• o nervo troclear,
• o nervo abducente,
• e as veias oftálmicas superior e inferior.

Finalmente, a fissura orbital inferior, que é a maior e mais in- Músculos infra-hióideos
ferior estrutura na parede posterior da cavidade orbitária, contém:
• o ramo maxilar do nervo trigêmeo,
• o nervo zigomático,
• e os vasos infraorbitais.

Os marcos da parede medial incluem o canal e a fossa naso-


lacrimais, que podem ser vistos no aspecto mais anterior do osso
lacrimal, em sua fronteira com a maxila. Ele contém o saco lacrimal,
que se continua com o canal nasolacrimal.
As estruturas finais são os forames (buracos) etmoidais ante-
rior e posterior, que se encontram na sutura entre o osso etmoide
e o osso frontal, e contém os nervos etmoidais anterior e posterior Músculos supra-hióideos
e os respectivos vasos.

Estrutura do pescoço

Anatomia do pescoço
Se você pensa que as estruturas anteriores eram complexas,
aguarde até você ver o pescoço. Esta estrutura é suficientemente
forte para suportar a cabeça, mas também móvel o suficiente para
girar em várias direções. Por fora, o pescoço é dividido em triângu-
los, cada um contendo músculos específicos, vasos e nervos. Por
outro lado, o pescoço também possui uma divisão interna na forma
de compartimentos, que são delimitados por várias camadas da fás- Osso hioide
cia cervical.
O ponto de ancoragem do pescoço é o osso hioide, que situa-se O pescoço abriga ainda quatro grandes estruturas profundas;
no nível do ‘pomo de Adão’ (maçã da Adão ou proeminência larín- dois órgãos e dois tubos ou passagens. Eles são nomeados assim:
gea), nos homens. A maioria dos músculos do pescoço se insere no • Glândula tireoide
hioide, separando-os em dois grupos: os músculos supra-hióideos • Glândulas parótidas
e os músculos infra-hióideos. Entretanto, outros músculos também • Faringe
fazem parte do pescoço. • Laringe

As duas glândulas são responsáveis pela homeostase endócri-


na normal do corpo.
A faringe é uma passagem muscular para alimentos e ar, co-
nectando as cavidades nasais e oral com o esôfago e a laringe. A
última é mais comumente conhecida como caixa vocal, e consiste
em várias cartilagens, membranas, ligamentos e músculos. Ela é
responsável pela fala.
As quatro principais artérias que cursam através do pescoço e/
ou o suprem são as artérias carótida comum, carótida externa, caró-
tida interna e facial, juntamente com o tronco tireocervical. O plexo
cervical é a principal estrutura nervosa que cursa e inerva o pesco-
ço.Por fim, responda ao teste global em baixo, criado para testar os
Músculos da parte anterior do pescoço seus conhecimentos sobre a anatomia da cabeça e do pescoço. Este
teste centra-se especificamente nos ossos, músculos (incluindo as
suas origens, inserções, inervação e função), artérias, veias e nervos
da mão, de forma a consolidar os temas abordados anteriormente
nesta página sobre a anatomia da cabeça e do pescoço.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Cavidade nasal e cavidade oral

Porção lateral externa do nariz e terço


anterior da cavidade nasal: linfonodos
submaxilares
Cavidade nasal Dois terços posteriores da cavidade nasal e
seios etmoidais: linfonodos retrofaríngeos
e parcialmente para os linfonodos cervicais
profundos superiores
Linfonodos regionais: parotídeos, bucais,
submandibulares, submentonianos, cervicais
Cavidade oral superficiais
Linfonodos cervicais profundos:
jugulodigástrico, júgulo-omo-hióideo

A cavidade nasal na realidade são duas cavidades paralelas que


se estendem das narinas até à faringe e estão separadas uma da
outra por uma parede cartilaginosa. Em seu interior existem dobras
chamadas conchas nasais, que têm a função de fazer o ar rotacio-
nar. No teto das fossas nasais existem células sensoriais, responsá-
veis pelo sentido do olfato.

Normalmente, estas cavidades são preenchidas de ar. Quando


você tem um resfriado ou sinusite a cavidade óssea pode ser pre-
enchida de muco e pus, muitas vezes ficando obstruídas e causando
sintomas.
A cavidade nasal e os seios paranasais têm várias funções:
- Ajudar a filtrar o ar que respiramos
- Aquecer e umidificar o ar que chegará aos pulmões.
Os seios paranasais são cavidades ou túneis pequenos. Eles são - Dar ressonância à voz.
denominados paranasais, porque estão localizados em torno ou - Aliviar o peso do crânio.
próximos do nariz. A cavidade nasal se abre para uma rede de seios: - Fornecer a estrutura óssea para o rosto e os olhos.
- Seios maxilares que estão na área de face, abaixo dos olhos e
de cada lado do nariz. A cavidade nasal e os seios paranasais são revestidos por uma
- Seios frontais localizados acima da parte interna da cavidade camada de muco denominada mucosa. A mucosa tem vários tipos
ocular e a área das sobrancelhas. de células:
- Seios esfenoidais situados atrás do nariz e entre os olhos. - Células epiteliais escamosas, células achatadas que revestem
- Seios etmoidais compostos por muitos seios similares a uma os seios e formam a maior parte da mucosa.
peneira formados de ossos finos e mucosa - Células glandulares, similares às células das glândulas saliva-
- Estão localizados acima do nariz, entre os olhos. res, que produzem muco e outras secreções.
- Células nervosas, que são responsáveis pelo olfato.
- Células que combatem as infecções, que são parte do sistema
imunológico.
- Células do sistema vascular.
- Células de suporte.

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- Células da cavidade nasal e seios paranasais, incluindo osso e células cartilaginosas, que também podem se tornar cancerosas.

A cavidade oral se estende, superiormente, dos lábios à junção do palato duro e mole e, inferiormente, dos lábios à linha das papi-
las circunvaladas. É revestida por mucosa malpighiana, havendo pequenas variações histológicas de acordo com a topografia. A mucosa
oral apresenta cinco tipos histológicos diferentes:
- Semimucosa (zona de Klein - vermelhão dos lábios): o epitélio é delgado com uma camada bem fina queratinizada, o córion bem
vascularizado, desprovido de anexos dérmicos, que pode ter poucas glândulas sebáceas.
- Mucosa livre (zona interna inferior dos lábios, região vestibular, véu, pilares, assoalho, região ventral da língua e mucosa jugal).
- Mucosa aderente ou mastigatória (gengiva e palato duro): epitélio pouco queratinizado com um córion provido de glândulas saliva-
res acessórias, fixado pelo periósteo ao plano ósseo subjacente.
- Gengiva marginal ou borda livre gengival (parte da gengiva que suporta os dentes e papilas interdentárias), epitélio não queratinizado
com fibras colágenas em continuidade com o ligamento alveolar dentário, que une o cimento que recobre a raiz dentária ao osso alveolar.
- Mucosa lingual (face dorsal, lateral e grande parte da face inferior da língua); mucosa do dorso lingual contém as papilas gustatórias,
o córion é fibroso, inserindo-se diretamente sobre o plano muscular.

Jugal: compartimento parotídeo e jugular superior.


Palato: linfonodos jugulares profundos, faríngeos laterais, submandibulares, região de fusão dos processos palatinos da maxila.
Língua: linfonodos jugulodigástricos superiores e retrofaríngeos laterais, Trígono retromolar: jugulodigástricos.
Lábios: pré-auriculares, infraparotídeos, submandibulares e submentoneanos.
Orofaringe: base de língua, palato mole, área tonsilar (fossa amigdaliana, pilares anterior e posterior e amígdala) e parede faríngea
posterior.
Limita-se, superiormente pelo palato duro, inferiormente pelo osso hioide, anteriormente pelo “v” lingual, posteriormente pela pa-
rede faríngea posterior e lateralmente pelas amígdalas palatinas e pilares amigdalianos posteriores. A parede posterior é composta por
mucosa, submucosa, fáscia faringobasilar, músculo constritor superior, fibras superiores do músculo constritor médio da faringe e fáscia
bucofaríngea.

Laringe e Faringe
A faringe é um órgão que faz parte tanto do sistema respiratório quanto do sistema digestório. É um canal muscular membranoso, que
se comunica com o nariz e a boca, ligando-os à laringe e ao esôfago.

Anatomia da Faringe

Representação das regiões nasofaríngea, orofaríngea e laringofaríngea e outras estruturas

A faringe é um tubo, cujas paredes são musculosas e revestidas de mucosa. Ela está localizada na altura da garganta, à frente de vér-
tebras cervicais, fixada na base do crânio. Pode ser dividida em três regiões: orofaringe, nasofaringe e laringofaringe.

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Nasofaringe
A parte superior da faringe se comunica com as cavidades do nariz, através das coanas, e com as orelhas médias, pela tuba auditiva
de cada lado.

Orofaringe
A região orofaríngea é intermediária entre as outras regiões. Comunica-se com a abertura da boca através de uma região denominada
istmo das fauces.

Laringofaringe
Mais inferior é a região laringofaríngea, que se comunica com a entrada da laringe (no sistema respiratório) e mais abaixo com a
abertura do esôfago (no sistema digestório).

Função
A faringe tem a função de fazer a passagem do ar inalado e dos alimentos ingeridos até os outros órgãos dos sistemas respiratório e
digestório, respectivamente. Durante o percurso, o ar e o alimento nunca se encontram, devido a mecanismos que bloqueiam a entrada
de cada um nas vias erradas.

Esquema mostra como ocorre a deglutição sem mistura de ar e alimento

Para impedir que o alimento vá para as vias respiratórias, durante a deglutição, a epiglote fecha o orifício de comunicação com a
laringe. Juntamente com isso, o palato mole bloqueia a parte superior da faringe evitando também a entrada do alimento.
Durante o processo de digestão o alimento segue para a faringe depois de ser mastigado e engolido. O bolo alimentar formado per-
corre toda a faringe através de contrações voluntárias e é levado em seguida para o esôfago.
A faringe recebe o ar vindo das cavidades nasais por meio das cóanas e passa pela laringe, até atingir a traqueia.

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Laringe
A laringe é um órgão do sistema respiratório, também responsável pela fala (fonação). Permite a passagem do ar entre a faringe e a
traqueia, mas impede que alimentos entrem nas vias aéreas.

Diferença entre a laringe saudável e inflamada

É composta por cartilagens, membranas, músculos e ligamentos que atuam em conjunto na fonação. O consumo excessivo de subs-
tâncias irritantes (fumo e álcool) e o uso inadequado da voz pode levar à inflamação da laringe, cujo principal sintoma é a rouquidão.

Anatomia da Laringe
A laringe é um tubo cartilaginoso irregular que une a faringe à traqueia. Sua estrutura permite o fluxo constante de ar, que está rela-
cionado com suas funções de respiração e fonação.
Possui diversos músculos que juntamente com as cartilagens são capazes de produzir diferentes sons. A forma da laringe muda nos
homens e nas mulheres e por isso possuem diferentes tons de voz.

Anatomia da laringe e cordas vocais

As cartilagens que constituem a laringe são:


• Cartilagem Tireóidea: é a maior das cartilagens que constitui a laringe. Nela há uma proeminência popularmente chamada de po-
mo-de-adão. Protege as cordas vocais.
• Cartilagem Cricoidea: é um anel formado de cartilagem hialina que fica na parte inferior da laringe, ligando-a à traqueia.
• Cartilagens Aritenoideas: são pequenas cartilagens onde se fixam as cordas vocais.
• Epiglote: é uma fina estrutura cartilaginosa, que fecha a comunicação da laringe com a traqueia durante a deglutição, impedindo
que o alimento entre nas vias aéreas.
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As cartilagens estão ligadas por tecido conjuntivo fibroso entre si por ligamentos e articulações, desse modo as cartilagens podem
deslizar, uma sobre a outra, realizando movimentos comandados pelos músculos da laringe.
Os músculos do laringe são de três tipos:
• Adutores - são os crico-aritenoideos e aritenoideo transverso e oblíquo, eles aproximam as cordas vocais, ou seja, fazem com que
ela feche. São também chamados de constritores da glote (esse é o nome da abertura entre as pregas) e atuam principalmente na fona-
ção.
• Abdutores - são os crico-aritenoideos posteriores, que afastam as cordas vocais, abrindo-a. Também são conhecidos como dilata-
dores da glote e participam da respiração.
• Tensores - são os tireo-aritenoideos e os crico-tireóideos, que fazem a distensão das cordas vocais, sendo atuantes na fonação.

Funções da Laringe

A epiglote bloqueia a laringe para impedir a entrada de alimentos

A laringe participa do sistema respiratório e além disso é o principal órgão responsável pela fonação. Na respiração, a laringe recebe
o ar vindo da faringe (também participa do sistema digestório, portanto transporta ar e alimentos) e evita que alimentos passem para a
traqueia, por meio da epiglote, que se fecha durante a deglutição.

Fonação

As pregas vocais abrem e fecham para a respiração e fonação, respectivamente

A emissão de sons é uma característica de diversos animais que possuem respiração pulmonar. No ser humano, a fala é produzida
através da modulação do fluxo de ar vindo dos pulmões. Esse ar encontra as pregas vocais, fazendo-as vibrar e assim produzindo pulsos
sonoros.
O som é amplificado pelos espaços que existem na faringe e nas cavidades nasal e oral, pois sem isso, esse som não seria percebido.
Além disso, os diferentes movimentos realizados pelos músculos permitem que diferentes sons sejam produzidos.

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Laringite 3. Órgãos
A laringite é uma inflamação da laringe, que pode ser causada - Timo: trata-se de um aglomerado de tecido linfoide, que ten-
por vírus, bactérias, fungos ou por agentes químicos e físicos. Pode de a regredir na adolescência.
se apresentar na forma aguda, de curta duração, ou crônica, ge- - Pulmões: estruturas responsáveis pelas trocas gasosas. Loca-
ralmente caracterizada por um período mais longo de rouquidão, lizados nas cavidades pleurais.
além dos outros sintomas.
A laringite aguda pode ser provocada por vírus, bactérias ou Os pulmões são revestidos por uma fina membrana chamada
fungos. A causa mais comum da laringite crônica é o consumo ex- pleura visceral, que passa de cada pulmão na sua raiz (i.e. onde pe-
cessivo de cigarro e bebidas alcoólicas ou exposição a substâncias netram as principais passagens aéreas e vasos sanguíneos) para as
irritantes (poluição, substâncias alergênicas). faces mais internas da parede torácica, onde ela é chamada pleura
Os sintomas são: rouquidão, dificuldade para engolir ou respi- parietal.
rar, tosse seca, falta de ar, dor e/ou coceira na garganta e febre. O Desta maneira são formados dois sacos membranáceos cha-
tratamento inclui repouso, hidratação e ingestão de medicamentos mados cavidades pleurais; uma de cada lado do tórax, entre os pul-
para controlar os sintomas. mões e as paredes torácicas.
O pulmão direito, localizado no hemitórax direito, possui três
TÓRAX - Cavidades Pleurais. Pulmões. Traquéia. Brônquios. lobos (o lobo superior direito, o lobo médio direito e o lobo inferior
Coração. Vasos Sangüíneos. direito).
O pulmão esquerdo divide-se em lobo superior, que inclui a
Mediastino Anterior, Médio e Posterior₢ língula, o lobo homólogo do lobo médio direito, e o lobo inferior
O tórax é um conjunto de músculos, órgãos, articulações, ossos esquerdo.
e diversas outras estruturas, localizadas entre o pescoço e o dia- Os pulmões direito e esquerdo são recobertos pela pleura vis-
fragma. Trata-se de uma região de grande importância, pois abriga ceral, enquanto a pleura parietal recobre a parede de cada hemitó-
órgãos vitais. rax, o diafragma e o mediastino.
A interface destas duas pleuras permite o deslizamento suave
Limites anatômicos do pulmão à medida que se expande dentro do tórax, produzindo
Detalhadamente, consideram-se como limites anatômicos do um espaço em potencial.
tórax as seguintes estruturas: O ar pode penetrar entre as pleuras, visceral e parietal, seja
- Superiormente: primeira costela e osso esterno. por trauma, cirurgia, ou ruptura de um grupo de alvéolos criando
- Inferiormente: músculo diafragma. um pneumotórax.
Como os pulmões direito e esquerdos e suas pleuras são sepa-
O que compõe: rados, um pneumotórax envolverá apenas o hemitórax direito ou
É essencial conhecer detalhadamente os principais componen- esquerdo.
tes do tórax, para então, reconhecer sua importância e as doenças
associadas. Traqueias
É composta de músculo liso com anéis cartilaginosos em forma
1. Estruturas ósseas de C a intervalos regulares. Os anéis cartilaginosos são incompletos
Têm como função a formação da “caixa torácica”, para garantir na superfície posterior e proporcionam firmeza para a parede da
proteção aos órgãos internos. traqueia, impedindo que ela se colabe. A traqueia serve como pas-
- Costelas: são 12 pares, que podem ser divididas em típicas/ sagem entre a laringe e os brônquios.
verdadeiras (se articulam com o esterno) e atípicas/falsas (não se A traqueia bifurca-se em dois brônquios principais, que entram
articulam com o esterno). Pode-se dizer que estas estruturas “con- nos pulmões, e são subdivididos em fissuras, formando divisões in-
tornam” o tórax. completas.
- Vértebras: em número de 12 também, elas fixam através da
fóvea as costelas. Epitélio da traqueia e brônquios
- Esterno: já descrito anteriormente, trata-se de um osso divi-
dido em 3 porções (manúbrio, corpo e apêndice xifoide), localizado Árvore Brônquica
anteriormente. O sistema traqueobronquial (também denominado de árvore
traqueobronquial) consiste de todas as vias aéreas a partir da tra-
2. Músculos queia.
O tecido muscular envolve o tórax, e, seus principais represen- O ar flui para os pulmões por meio das traqueias e vias aéreas.
tantes são: À medida que as vias aéreas se dividem e penetram mais profunda-
- Peitorais maior e menor. mente nos pulmões, tornam-se mais estreitas, curtas e numerosas.
- Intercostal: resulta da junção de 3 outros músculos (intercos- A traqueia divide-se na Carina (assim denominada devido ao
tal interno, externo e íntimo). seu aspecto parecido com uma quilha de barco) em brônquios prin-
- Subcostais. cipais direito e esquerdo, e estes se dividem em brônquios lobares,
- Levantadores das costelas. que formam os brônquios segmentares.
- Serrátil anterior. As vias aéreas continuam a se dividir segundo um padrão de
- Transverso do tórax. divisão assimétrico ou dicotômico, até formarem os bronquíolos
- Diafragma. terminais, que se caracterizam por serem as menores vias aéreas
sem alvéolos.
O segmento broncopulmonar, a região do pulmão suprida por
um brônquio segmentar, constitui a unidade anatomofuncional do
pulmão.

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CIÊNCIAS NATURAIS
Os brônquios são os condutores de ar entre o meio externo e
os sítios mais distais, onde se processa a troca de gases. A quan-
tidade de cartilagem diminui na medida em que as vias aéreas se
tornam cada vez menores, e desaparecem por completo nas vias
aéreas com diâmetro aproximado de um mm.
As vias aéreas da traqueia até os bronquíolos terminais não
contêm alvéolos, e desta forma, não participa na troca de gases. Es-
tas vias aéreas formam o espaço morto anatômico, que nos adultos
têm o volume de 150 ml.
Os bronquíolos têm menos de 1 mm de diâmetro, não pos-
suem cartilagem, e apresentam um epitélio cuboidal simples. Os
bronquíolos estão embebidos em uma rede de tecido conjuntivo
pulmonar e desta forma o seu diâmetro aumenta e diminui confor-
me o volume pulmonar.
Os bronquíolos se dividem ainda, dependendo de sua função.
Os bronquíolos não respiratórios compreendem os bronquíolos
terminais, que servem como condutores das correntes de gás, en-
quanto os bronquíolos respiratórios contêm alvéolos que funcio-
nam como locais de troca de gases.
A aérea entre o bronquíolo terminal e os alvéolos é ocasional-
mente denominada de lóbulos ou ácino secundário. A característica
anatômica mais impressionante é a questão da região anatômica
que tem apenas 5 mm de comprimento, porém o volume total dos
ácinos compreende o maior volume pulmonar isolado, cerca de
2500ml. Mediastino – Vista Lateral Esquerda
- Coração: localiza-se no mediastino, e está ligeiramente locali-
zado após a linha média, com predomínio no lado esquerdo. O Mediastino Superior é o espaço interpleural que localiza-se
- Esôfago: estrutura integrante do sistema digestório. entre o manúbrio do esterno e as vértebras torácicas superiores.
É limitado inferiormente por um plano oblíquo que passa da jun-
4. Pleuras ção munibrio-esternal até a borda inferior do corpo da 4º vértebra
São duas membranas extremamente finas que revestem os torácica, e lateralmente pelas pleuras. Contém a crossa da aorta,
pulmões: tronco braquiocefálico, a porção torácica da artéria carótida co-
- Pleura visceral: está em íntimo contato com os pulmões. mum esquerda e artéria subclávia esquerda, a veia braquiocefálica
- Pleura parietal: mais externa. e a metade superior da veia cava superior, o nervo vago, nervo frê-
Entre elas, há líquido pleural, com a função de lubrificar e per- nico e os nervos laríngeos recorrentes, a traquéia, esôfago, ducto
mitir o deslizamento de uma sobre a outra, durante a expansão e torácico, o remanescente do Timo e alguns linfonodos.
retração pulmonar.
Cavidade pleural é uma cavidade virtual existente entre as O Mediastino Anterior existe apenas do lado esquerdo, onde
pleuras visceral e parietal, que contém apenas uma pequena quan- a pleura esquerda diverge da Lina média. É limitado anteriormente
tidade de líquido lubrificante. A pressão negativa existente na cavi- pelo esterno, lateralmente pela pleura e posteriormente pelo peri-
dade pleural é um fator importante na mecânica respiratória. cárdio. É estreito na sua parte superior mas expande-se um pouco
inferiormente. Sua parede anterior é formada pela 5º, 6º e 7º carti-
5. Mediastino lagens costais. Contém uma pequena quantidade de tecido areolar
É uma das três cavidades do tórax (além das duas cavidades frouxo, alguns linfáticos que ascendem da superfície convexa dão
pleurais), e abriga diversas estruturas, sendo a mais importante, o fígado, 2 ou 3 linfonodos mediastinais e pequenos ramos mediasti-
coração. nais da artéria mamária interna.
O mediastino está situado entre a pleura pulmonar esquerda e
direita, na linha média do plano sagital no tórax. Estende-se ante- O Mediastino Médio é a maior porção do espaço interpleural.
riormente do esterno à coluna vertebral, posteriormente. Contém Contém o coração envolvido por sua serosa, a aorta ascendente, a
todas as estruturas do tórax, exceto os pulmões e também é conhe- metade inferior da veia cava superior com a veia ázigos se unindo à
cido com espaço interpleural Pode ser dividido para fins descritivos ela, a bifurcação da traquéia e os dois brônquios, a artéria pulmo-
em duas partes: uma porção superior, acima do limite superior do nar e os seus dois ramos, as veias pulmonares direita e esquerda, os
pericárdio, chamada de mediastino superior; e a porção inferior, nervos frênicos e alguns linfonodos brônquicos.
abaixo do limite superior do pericárdio. Esta porção inferior sub-
divide-se em outras três partes, uma parte anterior ao pericárdio,
o mediastino anterior; a porção que contém o pericárdio e suas as
estruturas, o mediastino médio; e a porção posterior ao pericárdio,
o mediastino posterior.

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O Mediastino Posterior é um espaço triangular irregular que corre paralelo a coluna vertebral. Está limitado anteriormente pelo pe-
ricárdio, pelo diafragma inferiormente, posteriormente pela coluna vertebral desde a 4º à 12º vértebra torácica de cada lado pela pleura
pulmonar. Contém a porção torácica da aorta descendente, a veias ázigos e as duas hemiazigos, os nervos vagos e esplâncnicos, o esôfago,
ducto torácico e alguns linfonodos.

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Mediastino

Mediastino – Vista lateral esquerda.

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Mediastino – Vista anterior após remoção do coração

6. Vasos sanguíneos
Esta região abriga importantes estruturas vasculares, como:
- Veias braquiocefálicas
- Veia cava superior
- Arco da aorta
- Tronco braquicefáclico.

7. Nervos e vasos linfáticos


Também participam da composição do tórax e possuem estrita relação com as funções.

Funções principais
Como se trata de uma série de estruturas, resumem-se as funções em:
- Caixa torácica possui a finalidade de proteger e sustentar todos os componentes internos.
- Coração possui a função de distribuir o sangue por todo o organismo.
- Pulmões permitem a troca gasosa.
- Diafragma realiza a passagem de estruturas para o abdome, através do hiato esofágico.
- Esôfago transporta o alimento até o estômago.

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Curiosidade:
As pneumonias podem complicar para o derrame pleural, que seria o acúmulo de material infeccioso (principalmente líquido) entre
as pleuras.
O paciente sentirá dores e falta de ar, e precisará drenar o líquido tanto para fins diagnósticos, como também para o alívio dos sin-
tomas.

ABDOME - Cavidade Abdominal. Estômago e Intestinos. Fígado. Pâncreas. Baço. Rins. Adrenal eRetroperitônio. Vísceras Pélvicas.
Períne
A cavidade abdominal é uma grande cavidade encontrada no torso de mamíferos entre a cavidade torácica, da qual é separada pelo
diafragma torácico, e a cavidade pélvica. Uma camada protetora que é chamada de peritônio, que desempenha um papel na imunidade,
órgãos de suporte e armazenamento de gordura e reveste a cavidade abdominal. Como mostrado no diagrama abaixo à esquerda, a ca-
vidade abdominal foi dividida em nove áreas diferentes, onde cada órgão não necessariamente ocupa apenas um dos quadrantes. Esta
divisão ajuda no diagnóstico de doenças com base no local onde a pessoa está sentindo dor abdominal.

Regiões do Quadrante Abdominal

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Órgãos da cavidade abdominal
Nosso abdômen contém órgãos digestivos, reprodutivos e ex- Intestino grosso
creção. Você pode encontrar alguns deles no diagrama a seguir. Te- O intestino grosso é o órgão para o qual o material não digerido
nha em mente que o reto é considerado parte da cavidade pélvica. é enviado. É em forma de U e é composto de ceco, cólon, reto, canal
anal e apêndice. Absorção de água e eletrólitos e a formação de
fezes, todos ocorrem aqui.
Rins
Os dois rins são encontrados em ambos os lados do abdômen.
Eles desempenham papéis essenciais no corpo, como a desintoxi-
cação do sangue, a criação de urina e a manutenção do equilíbrio
da água e do ácido no corpo. Anexados a cada rim estão os tubos,
chamados de ureteres, que os conectam à bexiga urinária. Além
das funções dos rins, as glândulas supra renais encontradas nos rins
produzem hormônios importantes, como a noradrenalina e o ADH.

Adrenal
As adrenais fazem parte do sistema endócrino e dividem-se em
duas partes: córtex (camada externa, de cor amarelada devido à
presença de colesterol) e medula (parte central).
As adrenais, também conhecidas como suprarrenais, são duas
glândulas endócrinas situadas na cavidade abdominal, acima de
ambos os rins. A adrenal direita tem formato triangular, enquan-
to a esquerda assemelha-se a uma meia-lua (na foto, as partes em
amarelo).
São envolvidas por uma cápsula fibrosa e têm cerca de 5 cm.
Estômago Fazem parte do sistema endócrino e dividem-se em duas partes:
Órgão digestivo de paredes espessas encontrado no lado es- córtex (camada externa, de cor amarelada devido à presença de co-
querdo do abdome que é dividido em quatro regiões: cárdia, fundo, lesterol) e medula (parte central).
corpo e piloro. É contínuo com o esôfago acima dele, que transpor-
ta comida da boca e passa através do diafragma e no estômago, Função
e é seguido pela primeira porção do intestino delgado, chamada As glândulas adrenais secretam hormônios extremamente im-
duodeno. O estômago é o segundo local de digestão em seres hu- portantes para o bom funcionamento do organismo, a saber:
manos após a boca, e serve para movimentar a comida dentro de
si, misturá-lo com sucos gástricos e iniciar a digestão de proteínas. 1. Córtex
O córtex é dividido em três zonas funcionais que produzem
Fígado hormônios diferentes:
Este é o maior órgão do abdômen. Encontra-se no lado supe- • Zona glomerulosa: libera aldosterona, que regula o o balanço
rior direito, logo abaixo do diafragma. Tem dois lóbulos separados entre o sódio e o potássio;
por um ligamento. O fígado desempenha um papel crucial em nos- • Zona fasciculada: sintetiza o cortisol, hormônio corticosteroi-
sos corpos, pois mantém níveis normais de glicose no sangue, pro- de envolvido na resposta ao estresse e que regula o metabolismo
duz bile e desintoxica o sangue. da glicose e da gordura, entre outras funções;
• Zona reticulada: excreta hormônios sexuais, em especial a
Vesícula biliar testosterona.
A vesícula biliar encontra-se abaixo do fígado e está conectada
a ela. Ele armazena e concentra a bile que é enviada para o duode- 2. Medula
no quando necessário para digestão e absorção de gordura. Sintetiza e secreta catecolaminas, especialmente a adrenalina
e a noradrenalina. Esses hormônios regulam o sistema nervoso au-
Baço tônomo, que controla importantes funções do corpo humano como
O baço faz parte do sistema imunológico. Suas funções incluem frequência cardíaca, respiração, digestão, entre outras.
a participação na produção de glóbulos brancos, o armazenamento
de plaquetas e a destruição de glóbulos vermelhos mortos e subs- Peritônio e Retroperitônio
tâncias nocivas. O peritônio é uma extensa membrana serosa, formada essen-
cialmente por tecido conjuntivo, que reveste o interior das pare-
Pâncreas des da cavidade abdominal e expande-se para cobrir a maior parte
Parte do sistema digestório, o pâncreas produz importantes en- dos órgãos que contém. Deste modo, considera-se que, embora a
zimas digestivas, assim como insulina e glucagon, que são cruciais membrana seja ininterrupta, é composta por duas camadas ou fo-
para o metabolismo dos carboidratos em nossos corpos. lhas - o peritônio parietal e o peritônio visceral. O peritônio parietal
é a folha que cobre totalmente por dentro as paredes anteriores e
Intestino delgado laterais do abdómen, enquanto que na parte posterior é formado
O intestino delgado é encontrado entre o estômago e o intesti- um limite por trás do denominado espaço retroperitoneal, onde fi-
no grosso e é composto de três partes: o duodeno, o jejuno e o íleo. cam situados parte do pâncreas e do duodeno, os rins e grandes
É um longo órgão digestivo em forma de tubo onde ocorre a vasos como a artéria aorta e a veia cava inferior.
digestão e a maior absorção de nutrientes

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O peritônio visceral é a folha que cobre completamente a su- Superiormente a cada válvula est á um a depressão, chamada
perfície externa da maior parte das vísceras contidas no abdómen, seio anal. As válvulas anais formam a linha pectínea que é a locali-
exceto as que estão situadas no já referido espaço retroperitoneal. zação da antiga membrana anococcígea.
Entre as duas camadas do peritônio fica acomodado um espaço de- - A p arte inferior a linha pectínea é chamada de pécten anal
nominado espaço ou cavidade peritoneal. Na realidade, trata-se de que termina na linha anocutanea ou linha branca onde o revesti-
um espaço virtual, uma vez que apenas contém uma fina película de mento mucoso se torna pele verdadeira com pelos.
um líquido lubrificante composto por água, algumas células e subs-
tâncias minerais, cuja função primordial é permitir a deslocação das - Sistema Urinário
folhas sem que se produzam fricções entre ambas e, indiretamen- Formado pelas partes terminais dos ureteres, pela bexiga e
te, entre os órgãos abdominais e a parede abdominal. Este líquido parte proximal da uretra.
peritoneal é constantemente segregado para o interior do espaço
peritoneal e paralelamente reabsorvido na mesma proporção, de Ureteres
tal modo que, em condições normais, não tem mais do que 200 ml Penetram na cavidade pélvica anteriormente a bifurcação da
dentro do espaço peritoneal. artéria ilíaca comum e então continuam ao longo da parede e do
assoalho pélvico até unirem -se a base da bexiga.
Vísceras pélvicas e períneo
Na anatomia humana, o períneo é a região do corpo humano Bexiga
que começa, para as mulheres na parte de baixo da vulva e esten- É a víscera mais anterior da parede pélvica. Quando vazia lo-
de-se até o ânus. No homem, localiza-se entre o saco escrotal e o caliza-se inteiramente na cavidade pélvica, porém quando tugida
ânus. expande-se para o abdome. A bexiga vazia tem forma de um te-
O períneo compreende um conjunto de músculos e aponeu- traedro ou de uma pirâmide tombada. Possui um ápice dirigido
roses que encerram o estreito inferior da escavação pélvica, sendo anteriormente, uma base posteriormente e duas superfícies ínfero
atravessada pelo reto, atrás, e pela uretra e órgãos genitais adiante. -laterais. O ápice se dirige para o topo da sínfise púbica, então o
ligamento umbilical mediano (resquício fetal) continua a partir daí,
Vísceras pélvicas ascendendo até o abdome até a cicatriz umbilical. A base recepcio-
Incluem parte do sistema gastrointestinal, do sistema urinário na os dois ureteres em seus dois lados superiores e possui a ure-
e do sistema reprodutor. tra inferiormente que drena a urina, apresenta ainda o chamado
trígono, formado pela entrada dos dois ureteres e pela uretra, onde
- Sistema Gastrointestinal apresenta uma mucosa lisa diferente de todo o resto rugoso da be-
Consistem principalmente no reto e no canal anal, porém a xiga. As superfícies ínfero-laterais ficam entre o s músculos levan-
parte final do colo sigmoide também s e encontra na pelve. tadores do anus e o s músculos obturadores internos adjacentes,
a superfície superior apresenta uma cúpula quando a bexiga está
Reto vazia e um abaulamento quando a mesma está cheia.
O reto é continuo acima com o colo sigmoide, ao nível da vér-
tebra S3, e abaixo com o canal anal. Se localiza imediatamente an- Colo Vesical
terior ao sacro e segue a sua curvatura, sendo o elemento m ais O colo vesical, ou da bexiga, cerca a origem da uretra. É a parte
posterior da cavidade. mais inferior da bexiga e também a mais fixa. Está ancorado por
A junção anorretal é puxada para frente pelo músculo pubor- duas faixas de ligamentos rígidos que conectam o colo e a parte
retal (componente do levantador do anus) formando a flexura pe- pélvica da uretra a cada osso púbico:
rineal, de m odo que o canal anal se dirige na direção posterior - Nas mulheres chamam-se ligamentos pubovesicais, que, jun-
conforme entra no assoalho pélvico. tamente com a membrana perineal profunda, os músculos levan-
Além de apresentar a curvatura que segue o sacro, o reto apre- tadores do anus e os ossos púbicos , ajudam a sustentar a bexiga.
senta três curvaturas laterais: as curvaturas superior e inferior di- - Nos homens chamam-se ligamentos puboprostáticos, porque
rigidas para a direita e a curvatura média dirigida para a esquerda. se misturam com a cápsula fibrosa da próstata, ou seja, cercam a
A parte final do reto expande-se e forma a ampola retal. O reto próstata junto à uretra.
não apresenta tênias, apêndices omentais e saculações (haustra-
ções). No nascimento a bexiga se encontra na região abdominal e
a uretra se localiza na margem superior da sínfise púbica. Com a
Canal Anal idade a bexiga desce e na puberdade já se encontra na cavidade
Começa na extremidade inferior da ampola reta l no assoalho pélvica.
pélvico e termina com o anus depois de atravessar o períneo. De-
pois de atravessar o assoalho pélvico, é cercado pelos esfíncteres Uretra
interno (intrínseco – músculo liso) e externo do anus ( extrínseco Começa no colo vesical e termina na abertura externa no perí-
– M . íleococcígeo e M. puborretal) , que mantém fechado o canal. neo, difere entra mulheres e homens.
Apresenta características que indicam a posição da membrana MULHERES – é curta e apresenta um trajeto mais curvo ao
anococcígea no feto (fecha o canal anal para não haver defecação). passar por baixo do assoalho pélvico e penetrar no períneo, onde
- A parte superior do canal anal é revestida por uma mucosa atravessa a membrana perineal e a região perineal profunda antes
que apresenta algum as pregas, chamadas colunas anais, que se de se abrir no vestíbulo localizado entre os pequenos lábios da ge-
unem inferiormente formando as válvulas anais. nitália externa. A parte inferior da uretra está ligada a superfície
anterior da vagina. Apresenta duas glândulas mucosas parauretrais
(paralelas a ela), as glândulas de Skene, que associam-se na porção
inferior da uretra.

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CIÊNCIAS NATURAIS
HOMENS - é longa e faz duas curvas em seu trajeto. Inicia no Um exemplo prático disso são questões e observações que
colo vesical e passa pela próstata, atravessa a região perineal pro- impulsionam o aluno a observar a disciplina de acordo com seu
funda e a membrana perineal e entra na extremidade proximal do contexto sociocultural e que incentivem pesquisas por meio de
pênis. Faz a primeira curva para frente ao sair da membrana peri- jornais, visitas em bibliotecas, entrevistas e etc.
neal e adentrar ao pênis e então faz a segunda curva para baixo
quando o pênis está flácido (quando há ereção a segunda curva de- Com extrema relação ao tópico anterior, a alfabetização
saparece). Nos homens a uretra divide-se em: científica baseia-se na ideia do desenvolvimento pessoal utilizando
Pré-prostática – tem cerca de 1 cm e estende-se do colo vesical ciência e tecnologia que tem o poder de capacitar o indivíduo
até a próstata, onde apresenta o esfíncter interno da uretra, que a ter um olhar crítico ao mundo que o envolve, incitando a
composto por músculo liso impede a ida de sêmen para a bexiga mudança de atitude que é construída primeiramente de maneira
durante a ejaculação. lógica. O conceito da alfabetização científica ainda é muito vago
Prostática - é a parte cercada pela próstata, apresenta de 3 - 4 para que seja definido ou colocado dentro de um padrão; mas
cm de comprimento. A luz da uretra é marcada por uma prega na segundo autores literários, é basicamente uma ferramenta que
linha média, chamada crista uretral. A depressão a cada lado da viabiliza o homem a enxergar o cotidiano e a desenvolver-se em
crista é o seio uretral, onde os ductos prostáticos desembocam. Na diversos setores da sociedade de acordo com seus conhecimentos
parte medial da crista uretral forma-se uma elevação, o colículo se- científicos e tecnológicos; algo praticado desde a formação do
minal, que apresenta uma pequena bolsa de fundo cego chamado educador adepto a esse pensamento até o que o método usado
utrículo prostático (acredita-se ser análogo ao útero feminino). A em sala de aula no ensino básico e superior do país.
cada lado do utrículo prostático, mais inferiormente, localizam-se
os ductos ejaculatórios do sistema reprodutor masculino. Os tratos Hoje no Brasil, tanto a educação investigativa e alfabetização
urinario e reprodutor masculino encontram-se na parte prostática científica estão presentes no dia a dia das escolas; não apenas redes
da uretra. de educação particulares, mas em escolas públicas e estaduais
Membranácea – é estreita e localiza-se posterior a próstata, também apesar da infraestrutura de muitas escolas e ambientes
atravessa a membrana perineal profunda. educacionais públicos. Porém mais do que nunca os professores
Durante este trajeto, tanto em homens quanto em mulheres, é já estão aptos e dispostos a desenvolver o pensamento crítico em
envolvida pelo esfíncter externo da uretra. seus alunos; numa geração ultra familiarizada com a tecnologia,
Uretra esponjosa – é cercada por um tecido erétil (corpo es- todos os meios de comunicação são de grande utilidade para
ponjoso) do pênis. Aumenta de volume na base do pênis e forma esse método de ensino, tanto que podcasts, vídeos disruptivos
um bulbo, o mesmo acontece na extremidade (cabeça) do pênis nas plataformas mais usadas e sites de notícias com informações
onde forma a fossa navicular. As duas glândulas bulbouretrais loca- instantâneas vem roubando o lugar dos livros que ainda assim
lizam-se na região perineal profunda e abrem-se no bulbo da uretra não perderam seu valor nas pesquisas e reflexões. Sendo assim,
esponjosa na base do pênis. a criança cresce com grande impulso ao pensamento lógico e
crítico, o adolescente desenvolve uma capacidade maior de
Fonte: desenvolvimento com base na percepção de seu contexto e o
www.todabiologia.com/www.portaleducacao.com.br/www. adulto sadio trabalha para que isso continue crescendo cada vez
anatomiaonline.com/www.oncoguia.org.br/www.portaleduca- mais na sociedade.
cao.com.br/www.todamateria.com.br/www.kenhub.com//www.
anatomiaonline.com/www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/www.
pt.wikipedia.org/www.passeidireto.com/www.anatomia-papel-e-
-caneta.com/www.planetabiologia.com/ www.drauziovarella.uol. QUESTÕES
com.br

1. (ENEM) Os personagens da figura estão representando situ-


ação hipotética de cadeia alimentar.
ENSINO INVESTIGATIVO, ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E
CONTEXTUALIZAÇÃO

Sabemos que o método convencional de ensino tem seu valor,


mas não é suficiente para a eficácia no estimulo da aprendizagem.
Sendo assim é necessário elaborar medidas para que os alunos
possam emergir e interagir com o conteúdo de um jeito que os
façam questionar, pesquisar e de forma que atenda à demanda
conflitos intelectuais com cada matéria. O ensino investigativo
é uma engrenagem para rodar o sistema de ensino fazendo que
os alunos realizem experimentações e pesquisas, elaborando
e problematizando os temas abordados nas matérias; é um
método que ajuda no estímulo do pensamento crítico do aluno e
o capacita para ser um cidadão que exerce seu pensamento além
do senso comum, que não se contenta com informações rasas e
encara a vida visando o questionamento como critério essencial,
assim como a característica principal do ensino investigativo.

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CIÊNCIAS NATURAIS
A figura representa um exemplo de cadeia alimentar IV. ( ) Nas gimnospermas, o óvulo situa-se em folhas carpelares
Suponha que, em cena anterior à apresentada, o homem tenha abertas.
se alimentado de frutas e grãos que conseguiu coletar. Na hipótese V. ( ) As briófitas possuem o esporófito haploide e o gametófito
de, nas próximas cenas, o tigre ser bem-sucedido e, posteriormen- diploide.
te, servir de alimento aos abutres, tigre e abutres ocuparão, respec- VI. ( ) As espermatófitas (traqueófitas mais evoluídas) incluem
tivamente, os níveis tróficos de: dois grandes grupos: as gimnospermas, sem frutos, e as angiosper-
(A) produtor e consumidor primário. mas, com frutos protegendo as sementes.
(B) consumidor primário e consumidor secundário. VII. ( ) As briófitas são conhecidas como atraqueófitas.
(C) consumidor secundário e consumidor terciário. VIII. ( ) Um aspecto marcante e exclusivo das gimnospermas é
(D) consumidor terciário e produtor. a chamada dupla fecundação, a partir da qual são produzidos dois
(E) consumidor secundário e consumidor primário. núcleos diploides.
A sequência correta é
2. (ENEM) A figura representa um dos modelos de um sistema (A) V, V, V, V, F, V, V, F.
de interações entre seres vivos. Ela apresenta duas propriedades, (B) F, F, V, F, V, V, F, F.
P1 e P2, que interagem em I, para afetar uma terceira propriedade, (C) V, F, V, V, F, V, V, F.
P3, quando o sistema é alimentado por uma fonte de energia, E. (D) V, F, V, F, F, V, V, V.
Essa figura pode simular um sistema de campo em que P1 repre- (E) F, F, V, V, F, V, F, V.
senta as plantas verdes; P2 um animal herbívoro e P3, um animal
onívoro. 5. (ENEM) O despejo de dejetos de esgotos domésticos e in-
dustriais vem causando sérios problemas aos rios brasileiros. Esses
poluentes são ricos em substâncias que contribuem para a eutrofi-
zação de ecossistemas, que é um enriquecimento da água por nu-
trientes, o que provoca um grande crescimento bacteriano e, por
fim, pode promover escassez de oxigênio.
Uma maneira de evitar a diminuição da concentração de oxigê-
nio no ambiente é:
(A) Aquecer as águas dos rios para aumentar a velocidade de
decomposição dos dejetos.
(B) Retirar do esgoto os materiais ricos em nutrientes para di-
minuir a sua concentração nos rios.
(C) Adicionar bactérias anaeróbicas às águas dos rios para que
elas sobrevivam mesmo sem oxigênio.
(D) Substituir produtos não degradáveis por biodegradáveis
para que as bactérias possam utilizar os nutrientes.
(E) Aumentar a solubilidade dos dejetos no esgoto para que os
nutrientes fiquem mais acessíveis às bactérias.
Modelo de um sistema de interações entre seres vivos
6. (ENEM) A falta de água doce no planeta será, possivelmente,
A função interativa I representa a proporção de um dos mais graves problemas deste século. Prevê-se que, nos pró-
(A) herbivoria entre P1 e P2. ximos vinte anos, a quantidade de água doce disponível para cada
(B) polinização entre P1 e P2. habitante será drasticamente reduzida.
(C) P3 utilizada na alimentação de P1 e P2. Por meio de seus diferentes usos e consumos, as atividades hu-
(D) P1 ou P2 utilizada na alimentação de P3. manas interferem no ciclo da água, alterando:
(E) Energia de P1 e de P2 que saem do sistema. (A) a quantidade total, mas não a qualidade da água disponível
no planeta.
3. (INSTITUTO LEGATUS/2016 - PREFEITURA DE CANTO DO (B) a qualidade da água e sua quantidade disponível para o con-
BURITI/PI) No ambiente há diversos elementos prejudiciais à saúde sumo das populações.
de uma determinada comunidade, elementos estes, que interferem (C) a qualidade da água disponível, apenas no subsolo terres-
diretamente no processo saúde-doença. Esses elementos recebem tre.
a denominação de: (D) apenas a disponibilidade de água superficial existente nos
(A) Ecossistema rios e lagos.
(B) Atmosfera (E) o regime de chuvas, mas não a quantidade de água dispo-
(C) Ecologia nível no Planeta.
(D) Poluição
(E) Habitat

4. (IF/CE – 2017 – IF/CE) Com relação ao Reino Plantae, analise


os itens e marque a alternativa que contém a sequência correta em
relação a verdadeiros (V) ou falsos (F):
I. ( ) Nas angiospermas, o fruto é o ovário desenvolvido.
II. ( ) O báculo, o prótalo e os soros são estruturas característi-
cas das briófitas.
III. ( ) Os vegetais fanerógamos caracterizam-se pela presença
de flores e sementes.
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CIÊNCIAS NATURAIS
7. (ENEM) A imagem representa uma ilustração retirada do li-
vro De Motu Cordis, de autoria do médico inglês Willian Harvey, GABARITO
que fez importantes contribuições para o entendimento do pro-
cesso de circulação do sangue no corpo humano. No experimento
ilustrado, Harvey, após aplicar um torniquete (A) no braço de um 1 C
voluntário e esperar alguns vasos incharem, pressionava-os em um
ponto (H). Mantendo o ponto pressionado, deslocava o conteúdo 2 D
de sangue em direção ao cotovelo, percebendo que um trecho do 3 D
vaso sanguíneo permanecia vazio após esse processo (H-O).
4 C
5 B
6 B
7 B
8 C

ANOTAÇÕES

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
Observe a ilustração do experimento de Harvey. ______________________________________________________
A demonstração de Harvey permite estabelecer a relação entre
circulação sanguínea e ______________________________________________________
(A) pressão arterial.
(B) válvulas venosas. ______________________________________________________
(C) circulação linfática.
(D) contração cardíaca. ______________________________________________________
(E) transporte de gases.
______________________________________________________
8. (ENEM) A fotossíntese é importante para a vida na Terra.
______________________________________________________
Nos cloroplastos dos organismos fotossintetizantes, a energia solar
é convertida em energia química que, juntamente com água e gás ______________________________________________________
carbônico (CO2), é utilizada para a síntese de compostos orgânicos
(carboidratos). A fotossíntese é o único processo de importância ______________________________________________________
biológica capaz de realizar essa conversão. Todos os organismos,
incluindo os produtores, aproveitam a energia armazenada nos car- ______________________________________________________
boidratos para impulsionar os processos celulares, liberando CO2
para a atmosfera e água para a célula por meio da respiração celu- ______________________________________________________
lar. Além disso, grande fração dos recursos energéticos do planeta,
______________________________________________________
produzidos tanto no presente (biomassa) como em tempos remo-
tos (combustível fóssil), é resultante da atividade fotossintética. As ______________________________________________________
informações sobre obtenção e transformação dos recursos naturais
por meio dos processos vitais de fotossíntese e respiração, descritas ______________________________________________________
no texto, permitem concluir que
(A) o CO2 e a água são moléculas de alto teor energético. ______________________________________________________
(B) os carboidratos convertem energia solar em energia quími-
ca. ______________________________________________________
(C) a vida na Terra depende, em última análise, da energia pro-
veniente do Sol. ______________________________________________________
(D) o processo respiratório é responsável pela retirada de car-
______________________________________________________
bono da atmosfera.
(E) a produção de biomassa e de combustível fóssil, por si, é ______________________________________________________
responsável pelo aumento de CO2 atmosférico.
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

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GEOGRAFIA

A arte na cartografia está presente em aspectos estéticos, pois


REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA POR MEIO DO USO DOS o mapa é um documento que precisa obedecer a um padrão de or-
MAPAS. PRIMEIRAS NOÇÕES DE PERTENCIMENTO CON- ganização. Necessita de distribuição organizada de seus elementos,
TEXTUALIZADAS CULTURA E ESPACIALMENTE. PRIMEIRAS como: traços, símbolos, cores, letreiros, legendas, título, margens,
NOÇÕES ESPACIAIS, OS PRIMEIROS CONCEITOS, O etc. As cores devem apresentar harmonia e estar de acordo com sua
ALFABETO CARTOGRÁFICO E OS PROCESSOS DE especificação, exemplo, a cor azul em um mapa representa água.
RACIOCÍNIO O mapa é o principal objeto do cartógrafo, ele é uma represen-
tação convencional da superfície terrestre, e até de outros astros,
como a Lua, Marte, etc. Apresenta simbologia própria e deve ser
CARTOGRAFIA sempre objetivo, além de transmitir o máximo de precisão.
Existem vários modelos de mapas, entre eles podem ser cita-
dos: Mapa-múndi; mapas topográficos; mapas geográficos que re-
presentam grandes regiões, países ou contingentes; mapas políti-
cos; mapas urbanos; mapas econômicos; cartas náuticas e aéreas;
entre outros.
Mediante a compreensão dos principais conceitos básicos da
cartografia, podemos ter um entendimento mais facilitado do pro-
cesso de leitura e produção de mapas.

Antigo mapa da América do Sul


A cartografia é uma ciência repleta de conceitos técnicos e no-
A produção de mapas ocorre desde a pré-história, antes mes- ções basilares que permitem o seu entendimento
mo do surgimento da escrita. Sua confecção se dava em placas de A cartografia, como sabemos, é a área do conhecimento res-
argila suméria e papiros egípcios. Ao longo da história a cartogra- ponsável pela elaboração e estudo dos mapas e representações car-
fia foi evoluindo e desenvolvendo novas técnicas e, atualmente, é tográficas em geral, incluindo plantas, croquis e cartas gráficas. Essa
uma ferramenta de fundamental importância nas representações área do conhecimento é de extrema utilidade não só para os estu-
de áreas terrestres. dos em Geografia, mas também em outros campos, como a Historia
Conforme a Associação Cartográfica Internacional, a cartogra- e a Sociologia, pois, afinal, os mapas são formas de linguagem para
fia é definida como o conjunto de estudos e operações científicas, expressar uma dada realidade.
artísticas e técnicas baseado nos resultados de observações diretas Existem, dessa forma, alguns conceitos básicos de Cartografia
ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e prepa- que nos permitem entender os elementos dessa área de estudos
ração de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como com uma maior facilidade. Saber, por exemplo, noções como as
sua utilização. de escala, legenda e projeções auxilia-nos a identificar com mais
A cartografia é a junção de ciência e arte, com o objetivo de facilidade as informações de um mapa e as formas utilizadas para
representar graficamente, em mapas, as especificidades de uma elaborá-lo.
determinada área geográfica.
É ciência, pois a confecção de um mapa necessita de conhe-
cimentos específicos para a representação de aspectos naturais e
artificiais, aplicação de operações de campo e laboratório, metodo-
logia de trabalho e conhecimento técnico para a obtenção de um
trabalho eficaz.

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a solução para o seu concurso!
GEOGRAFIA
Confira, a seguir, um resumo dos principais conceitos da Car- - Curvas de Nível – é uma linha ou curva imaginária que indica
tografia: os pontos e áreas localizados sob uma mesma altitude e que possui
- Mapa – um mapa é uma representação reduzida de uma dada a sua designação altimétrica feita por números representados em
área do espaço geográfico. Um mapa temático, por sua vez, é uma metros.
representação de um espaço realizada a partir de uma determina- - Aerofotogrametria – é o registro de imagens a partir de foto-
da perspectiva ou tema, que pode variar entre indicadores sociais, grafias áreas, sendo muito utilizado para a produção de mapas.
naturais e outros. - SIG – sigla para “Sistemas de Informações Geográficas”, é o
- Plantas – representação cartográfica realizada a partir de uma conjunto de métodos e sistemas que permitem a análise, coleta,
escala muito grande, ou seja, com uma área muito pequena e um armazenamento e manipulação de informações sobre uma dada
nível de detalhamento maior. É muito utilizada para representar área do espaço geográfico. Utiliza, muitas vezes, técnicas e proce-
casas e moradias em geral, além de bairros, parques e empreen- dimentos tecnológicos, incluindo softwares, imagens de satélite e
dimentos. aparelhos eletrônicos em geral.
- Croqui – é um esboço cartográfico de uma determinada área Alguns conceitos a destacar...
ou, em outras palavras, um mapa produzido sem escala e sem os Os Mapas são desenhos que representam qualquer região do
procedimentos padrões na sua elaboração, servindo apenas para a planeta, de maneira reduzida, simplificada e em superfície plana.
obtenção de informações gerais de uma área. Os mapas são feitos por pessoas especializadas, os Cartógra-
- Escala – é a proporção entre a área real e a sua representação fos. A Ciência que estuda os mapas e cuida de sua confecção cha-
em um mapa. Geralmente, aparece designada nos próprios mapas ma-se Cartografia. Vários mapas podem ser agrupados em um livro,
na forma numérica e/ou na forma gráfica. que recebe o nome de Atlas.
- Legenda – é a utilização de símbolos em mapas para definir
algumas representações e está sempre presente em mapas temáti- Elementos cartográficos
cos. Alguns símbolos cartográficos e suas legendas são padronizados Todos os mapas possuem símbolos, que são chamados de
para todos os mapas, como o azul para designar a água e o verde para Convenções Cartográficas. Alguns são usados no mundo todo, em
indicar uma área de vegetação, entre outros. todos os países: são internacionais. Por isso, não podem ser modi-
- Orientação – é a determinação de ao menos um dos pon- ficados.
tos cardeais, importante para representar a direção da área de um Os símbolos usados são colocados junto ao mapa e constituem
mapa. Alguns instrumentos utilizados na determinação da orienta- a sua Legenda. Normalmente, a legenda aparece num dos cantos
ção cartográfica são a Rosa dos Ventos, a Bússola e o aparelho de inferiores do mapa.
GPS. As Escalas indicam quantas vezes o tamanho real do lugar re-
- Projeções Cartográficas – são o sistema de representação da presentado foi reduzido. Essa indicação pode ser feita de duas for-
Terra, que é geoide e quase arredondada, em um plano, de forma mas: por meio da escala numérica ou da gráfica. As escalas geral-
que sempre haverá distorções. No sistema de projeções cartográfi- mente aparecem num dos cantos inferiores do mapa.
cas, utiliza-se a melhor estratégia para definir quais serão as altera- Vamos analisar então mais detalhadamente esses elementos.
ções entre o real e a representação cartográfica com base no tipo Devemos considerar o mapa como um meio de comunicação,
de mapa a ser produzido. contendo objetos definidos por pontos, linhas e polígonos, permea-
- Hipsometria – também chamada de altimetria, é o sistema dos por uma linguagem composta de sinais, símbolos e significados.
de medição e representação das altitudes de um determinado am- Sendo a sua estrutura formada por uma base cartográfica, relacio-
biente e suas formas de relevo. Portanto, um mapa hipsométrico nada diretamente a objetos e fenômenos observados ou percebi-
ou altimétrico é um mapa que define por meio de cores e tons as dos no espaço geográfico.
diferenças de altitude em uma determinada região. Essa base cartográfica é composta pelos chamados elementos
- Latitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer gerais do mapa, que são pelo menos cinco componentes que con-
ponto da superfície terrestre e a Linha do Equador, que é um traça- tribuem para a leitura e interpretação do produto cartográfico. São
do imaginário que se encontra a uma igual distância entre o extre- eles: o título, a orientação, a projeção, a escala e a legenda, sen-
mo norte e o extremo sul da Terra. do que a ausência e erros em mapas, na maioria das vezes, ocorre
- Longitude – é a distância, medida em graus, entre qualquer quando um desses elementos é apresentado de forma incompleta
ponto da superfície terrestre e o Meridiano de Greenwich, outra ou distorcida, não seguindo as normas da ciência cartográfica, o
linha imaginária que é empregada para definir a separação dos he- que pode contribuir para a apreensão incorreta das representações
misférios leste e oeste. do espaço geográfico pelos leitores. Então, vamos aqui procurar en-
- Paralelos – são as linhas imaginárias traçadas horizontalmen- tender cada um deles de forma resumida:
te sobre o planeta ou perpendiculares ao eixo de rotação terres-
tre. Os principais paralelos são a Linha do Equador, os Trópicos de O Título
Câncer e Capricórnio e os Círculos Polares Ártico e Antártico. Todo O título no mapa deve ser visto como ocorre em uma apresen-
paralelo da Terra possui um valor específico de latitude, que pode tação de um texto escrito, ou seja, é a primeira apresentação do
variar de 0º a 90º para o sul ou para o norte. conteúdo do que se quer mostrar; é o menor resumo do que trata
- Meridianos – são as linhas imaginárias traçadas verticalmente um documento, neste caso, a representação cartográfica. Quando
sobre o planeta ou paralelas ao eixo de rotação terrestre. O prin- se está diante de um “mapa temático”, por exemplo, o título deve
cipal meridiano é o de Greenwich, estabelecido a partir de uma identificar o fenômeno ou fenômenos representados por ele (Figu-
convenção internacional. Todo meridiano da Terra possui um valor ra 1). Nesse sentido, o título deve conter as informações mínimas
específico de longitude, que pode variar entre 0º e 180º para o leste que respondam as seguintes perguntas a respeito da produção: “o
ou para o oeste. quê?”, “onde?” e “quando?”.
- Coordenadas Geográficas – é a combinação do sistema de
paralelos e meridianos com base nas longitudes e as latitudes para
endereçar todo e qualquer ponto da superfície terrestre.

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a solução para o seu concurso!
GEOGRAFIA
Um título deve responder a pergunta “o quê?” E ser fiel ao que se desenvolve no produto cartográfico. Pode ser escrito na parte su-
perior da carta, do mapa ou de outro produto da cartografia, isto é, deve ter um destaque para que o leitor identifique automaticamente
do que se trata esse produto cartográfico.

A Orientação

A orientação é sem dúvida um elemento fundamental, pois sem ela fica muito difícil de responder a pergunta “onde?”, considerando
que a carta, o mapa, a “planta” ou outro tipo de representação espacial, sob os preceitos da Cartografia, é uma parcela de um sistema
maior, o planeta Terra (se for esse o planeta trabalhado). E, em sendo assim, é preciso estabelecer alguma referência para se saber onde
se está localizado, na imensidão da superfície deste planeta.
A orientação deve ser utilizada, de preferencia, de forma simultânea à apresentação das às coordenadas geográficas (meridianos e
paralelos cruzados na forma de um sistema chamado de rede geográfica), no mapa, as quais também servem para se marcar a posição de
um determinado objeto ou fenômeno na superfície da Terra, de modo que a direção norte aponte sempre para a parte de cima da repre-
sentação (seguindo o sentido dos meridianos). E caso a representação não contenha coordenadas geográficas é importante dotá-la de um
norte, ou de uma convenção que dê a direção norte da representação, geralmente na forma de seta ou da conhecida “rosa dos ventos”
(presente na figura 1).

Figura 1. Exemplo de carta contendo os elementos gerais da representação. Fonte: Elaborado pelo autor.

A Projeção
A ideia de projetar algo em outro meio, no caso, a forma da Terra, deu origem a técnica que definiu os tipos de projeções cartográficas.
Para isto foi preciso conhecer as dimensões do planeta, pois os modelos propostos para representar a Terra precisaram ajustar as suas
próprias dimensões a superfície deste planeta. Inicialmente os gregos, por intuição ou por desejo entenderam que a Terra era redonda.
Embora outras ideias tenham surgido e medidas demonstrem que este planeta não é tão bem acabado, como consideravam os gregos da
antiguidade, a esfera ou globo ainda é o seu modelo mais conhecido.
Entendido como a Terra pode ser vista, é importante lembrar que para representá-la ou para escolher o seu modelo de representação
é necessário conhecer os atributos de uma projeção, tendo em vista que esses atributos são em função do uso que se quer do mapa:
dimensão, forma e posição geográfica da área ou do objeto a ser mapeado. Principalmente porque as projeções são a maneira pela qual a
superfície da Terra é representada em superfícies bidimensionais, como em uma folha de papel ou na tela de um monitor de computador.
Como na hora de representar o planeta Terra (como uma esfera, tridimensional – com um volume) se utiliza quase sempre um meio
bidimensional (um plano – com largura e altura), deve-se minimizar as distorções em área, distância e direção dos traços que irão compor
o modelo terrestre ou parte dele (carta, mapa, planta e outras). Ou seja, se faz necessário compreender como a superfície esférica do
planeta Terra – o globo, pode se tornar uma superfície plana – o mapa.
Os modos de conversão do modelo esférico para a forma plana são os mais diversos, cada qual gerando certas distorções e evitando
outras. O que significa que precisamos colocar a esfera terrestre numa folha de papel, portanto, adaptá-la à forma plana, mas para que
isso ocorra é preciso pressionar o globo terrestre para que ele se torne plano, porém, tal pressão faz com que o globo se “parta” em vários
lugares gerando uma série de deformações que precisaram ser compensadas com cálculos matemáticos que procuram resolver os “vazios”
criados com a abertura do globo (Figura 2).

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Figura 2. A Terra é dividida em segmentos ou “gomos” ao longo das linhas de longitude. Fonte: Phillipson (2010, p. 07)

A Cartografia buscou solucionar este problema com base no estudo das projeções cartográficas, e nessa busca concluiu que nenhum
tipo de projeção pode evitar as deformações em parte ou na totalidade da representação, por isso mesmo, um mapa nunca será perfeito.
Assim, a Cartografia se propôs a considerar três tipos de projeção: a azimutal ou plana, a cilíndrica e a cônica (figura 3). E para isto teve que
desenvolver processos geométricos ou analíticos para representar a superfície do planeta Terra em um plano horizontal.

Figura 3. Projeções cartográficas. Fonte: http://migre.me/aij9b

A definição dessas projeções solicitou ajustes quanto ao modelo da projeção a ser adotada: no Modelo Cilíndrico, as projeções são do
tipo: a) normais, b) transversas e c) oblíquas; no Modelo Cônico ou Policônico, as projeções são do tipo: a) normais e b) transversas; e, no
Modelo Plano, as projeções são do tipo: a) polares, b) equatoriais e c) oblíquas.
Quanto aos atributos as projeções conservam três propriedades importantes: a equidistância, quando a distância sobre um meridiano
(ou paralelo) medido no mapa é igual à distância medida no terreno; a equivalência, quando a área representada no mapa é igual à área
correspondente no terreno; a conformidade, quando a forma de uma representação do mapa é igual à forma existente. As projeções
azimutais permitem a direção azimutal no mapa igual à direção azimutal no terreno.
Essas características das projeções cartográficas garantem a elaboração de mapas para todos os tipos de uso e aplicação, porém, ne-
nhum mapa pode conter todas as propriedades: a equidistância, a equivalência e a conformidade ao mesmo tempo. Caso a representação
cartográfica não estiver submetida a nenhuma dessas propriedades, é chamada de projeção afilática.

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A Escala
Na elaboração de um produto cartográfico observamos dois problemas importantes: 1º) a necessidade de reduzir as proporções dos
acidentes existentes, a fim de tornar possível a sua representação num espaço limitado - esta ideia é a escala, concebida a partir da pro-
porção requisitada pela representação dos fenômenos e; 2º) determinados acidentes, dependendo da escala, não permitem uma redução
acentuada, pois se tornariam imperceptíveis, mas como são importantes devem ser representados nos documentos cartográficos. Por isto,
no caso de mudança de escala de trabalho, poderá acontecer uma modificação na forma de representar o objeto, ou seja, a cada momento
em que a escala for aumentando, acontecerá a aproximação do objeto, aumentando o seu tamanho, acontecendo ao contrário, na dimi-
nuição da escala, o distanciamento do objeto, o que, consequentemente, modificará sua representação (Figura 4).

Figura 4. Relação entre a mudança de escala e representação espacial dos objetos. Fonte: o autor com base em Silva (2001) e Cruz e
Menezes (2009)

A figura 4 (A) mostra a representação de um objeto em uma grande escala – destacando o bairro de Nazaré, em Belém do Pará, na
qual se pode perceber as quadras do bairro (polígonos) e seus confinantes. Numa escala menor vê-se o município (4 B), depois o estado no
território nacional (4 C) e a localização global (4 D), na qual as quadras e os limites políticos administrativos dos municípios desaparecem,
e os estados são imperceptíveis. Nessa redução drástica da escala, as quadras, os municípios brasileiros e até certos estados são represen-
tados por pontos, uma vez que não se pode perceber a área desses objetos.
E para identificar essa relação a escala pode ser definida como escala numérica, na forma de fração, cujo denominador lhe determi-
na, ou como escala gráfica, definida por um seguimento de reta fracionado e usado de acordo com a unidade de medida admitida para a
representação (metro, quilômetro ou outras).

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Figura 5. Escala numérica e gráfica. Fonte: http://migre.me/aijJK (adaptado pelo autor)

Com isto se pode entender a escala como uma relação entre grandezas e é neste caso que a relação entre as medidas dos objetos ou
áreas da região representada no espaço cartografado (numa folha de papel ou na tela de um monitor, por exemplo) e suas medidas reais
define a maior ou menor resolução espacial do objeto (visibilidade).

A Legenda e as Convenções
As representações espaciais sempre estiveram presentes, pois antes mesmo da escrita e da fala os símbolos e desenhos represen-
tavam o meio vivido. Com eles o homem delimitava e ocupava os territórios. Mas foi somente a partir do século passado que os mapas
passaram a ter o padrão normativo atual, estabelecido por leis e convenções transformadas em normas aceitas pelos estudiosos e por
todos os que usam produtos da Cartografia.
Assim, estabeleceu-se uma linguagem artificial, padronizada, associativa e universal com o objetivo de promover uma melhor compre-
ensão para quem produz e para quem lê os mapas, alcançando leitores com menor e maior nível de conhecimento. Os mapas passaram
então a fazer parte do dia-a-dia do homem em sociedade, figurando em livros, revistas, jornais, televisão, internet, e muitos outros meios
de comunicação humana. De modo que, as técnicas cartográficas modernas permitiram que as representações ganhassem mais e melhor
sentido.
Assim, para a melhor simbolização dos objetos e fenômenos que são transportados e contidos em um mapa, e demais representações
cartográficas, foi necessário se aprimorar as chamadas legendas, ou seja, a parte de uma carta ou mapa que contém o significado dos fe-
nômenos representados nela, geralmente traduzidos por símbolos, cores e traços desenhados cuidadosamente para que o leitor de mapas
entenda do que trata a representação cartográfica.
A legenda de um mapa está situada, geralmente, dentro da moldura do mesmo, com todos os símbolos, cores e outros artifícios
capazes de explicar de modo resumido a ocorrência de um determinado objeto ou fenômeno, de acordo com sua distribuição no espaço
geográfico.
Faz-se necessário atentar para uma componente muito confundida com legenda, embora faça parte de outra categoria de informação
– as convenções, que não possuem a função de explicar o fenômeno temático, mas a de definir o significado de linhas, símbolos e outras
representações, geralmente, referentes aos componentes gerais do mapa.
Assim podemos ter mapas que mostram fenômenos qualitativos e quantitativos e/ou quantitativos (Figura 8), dispostos sobre uma
base de referência, geralmente extraída dos mapas e cartas topográficas. Desse modo, os mapas e cartas geológicas, geomorfológicas,
de uso da terra e outras, constituem exemplos de representação temática em que a linguagem cartográfica privilegia a forma e a cor dos
símbolos como expressão qualitativa que surge na forma de legendas
Desse modo, podemos entender que a descrição qualitativa é aquela que mostra os atributos (qualidades), a cada uma das circuns-
tâncias ou características dos fenômenos (como os aspectos nominais do fenômeno), as quais podem ser classificadas segundo um deter-
minado padrão.
Os mapas de densidade de população, de precipitação pluviométrica, de produção agrícola, de fluxos de mercadorias, constituem
exemplos de que pontos, dimensões dos símbolos, linhas iguais (isarítmicas), áreas iguais (corópletas), figuras (diagramas) e outros recur-
sos gráficos podem ser utilizados para representar as formas de expressão qualitativa, assim como a descrição quantitativa (Figura 8), que
pode mensurar o fenômeno através de uma unidade de medida ou através de um percentual (aspecto ordinal do fenômeno) quantitativo.

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Figura 8. Mapa contendo temática quantitativa: a concentração do PIB do Brasil. Fonte: Fonte: Brasil (2006)

Assim, para finalizar essa contribuição, devemos reconhecer que os conceitos e categorias da Cartografia não podem ser desprezados
durante o uso ou a elaboração de um produto cartográfico. O uso das ferramentas mais atuais, pelos profissionais que utilizam a Cartogra-
fia, deve se dar sob o entendimento do meio que os circunda e dos elementos que compõem a ciência cartográfica.
A interpretação do espaço geográfico e dos fenômenos e objetos inerentes a ele depende sobretudo dessa linguagem empregada
pela Cartografia, básica para a leitura dos seus produtos (mapas, plantas, croquis e outros), tendo em vista que eles são usados por um
número cada vez maior de pessoas de todas as profissões e interesses, principalmente estudantes de todas partes do mundo e áreas do
conhecimento.
Desse modo, um plano de representação do espaço só se consolida se apoiado na linguagem cartográfica. As ações mecânicas que se
estabelecem com o “apertar botão”, seleção de cores e possibilidade de zoom automático, colocam uma cortina sobre os fatos importan-
tes, e encobrem a capacidade crítica do profissional sobre o objeto de estudo. A discussão não deve ser apenas sobre o ferramental, mas
também sobre conceitos, categorias e elementos da Cartografia para compreender o espaço geográfico.

Tipos de Mapa
Para compreendermos o que se passa na superfície da Terra existem diferentes tipos de mapas:
- Mapas Políticos – mostram os continentes, um país, estados e municípios, limites, capitais e cidades importantes;
- Mapas Físicos – representam um ou alguns elementos naturais. Podem ser de relevo, hidrografia, clima, vegetação, etc;
- Mapas Econômicos – apresentam as riquezas de uma região (agricultura, indústrias, etc);
- Mapas Demográficos – mostra a distribuição de pessoas que vivem em um continente, país, estado, cidade etc.

Hoje em dia, a cartografia é feita por meios modernos, como as fotografias aéreas (realizadas por aviões, drones) e o sensoriamento
remoto por satélite.
Além disso, com os recursos dos computadores, os geógrafos podem obter maior precisão nos cálculos, criando mapas que chegam
a ter precisão de até 1 metro. As fotografias aéreas são feitas de maneira que, sobrepondo-se duas imagens do mesmo lugar, obtém-se a
impressão de uma só imagem em relevo. Assim, representam-se os detalhes da superfície do solo.
Depois, o topógrafo completa o trabalho sobre o terreno, revelando os detalhes pouco visíveis nas fotografias.

Coordenadas geográficas
O planeta Terra possui uma superfície de 510 milhões de quilômetros quadrados, devido esse imenso espaço a localização se torna
mais complexa, dessa forma o homem criou linhas imaginarias para facilitar a localização, os principais são os paralelos e latitudes e me-
ridianos e as longitudes.

É através da interseção de um meridiano com um paralelo que podemos localizar cada ponto da superfície da Terra.
Os paralelos são linhas imaginarias que estão dispostas ao redor do planeta no sentido horizontal, ou seja, de leste a oeste. O paralelo
principal é chamado de Linha do Equador que está situado na parte mais larga do planeta, a partir dessa linha tem origem ao hemisfério
sul e o hemisfério norte. Existem outros paralelos secundários mais de grande importância como Trópico de Câncer, O Trópico de Capricór-
nio, o Circulo Polar Ártico e o Circulo Polar Antártico.

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Os Pontos de Orientação - Os meios que as pessoas utilizam
para orientar-se no espaço geográfico dependem do ambiente em
que elas vivem.
Para isso, foram definidos os pontos globais de referência, cha-
mados de pontos cardeais:
- Norte (N)
- Sul (S)
- Leste (L ou E)
- Oeste (O ou W)

Para ficar mais exata a orientação entre os pontos cardeais, te-


mos os pontos colaterais: noroeste (NO), nordeste (NE), sudoeste
(SO) e sudeste (SE). Além desses, temos os pontos subcolaterais:
norte-noroeste (NNO), norte-nordeste (NNE), sul-sudoeste (SSO),
sul-sudeste (SSE), leste-nordeste (ENE), leste-sudeste (ESSE), oeste-
-noroeste (ONO) e oeste-sudoeste (OSO).
Todos estes pontos formam uma figura chamada de Rosa-dos-
-Ventos ou Rosa-dos - Rumos.

As Zonas Climáticas - Os paralelos especiais exercem papel


muito importante na definição das zonas climáticas, que são de-
marcadas por eles. Tais paralelos são os seguintes:
As latitudes são medidas em graus entre os paralelos, ou qual- - Zonas polares ou glaciais norte e sul – são limitadas pelos cír-
quer ponto do planeta até a Linha do Equador, as latitudes oscilam culos polares, possuem altas altitudes. São zonas muito frias.
de 0º Linha do Equador e 90º ao norte e 90º ao sul. - Zonas temperadas – com latitude medias, estão compreen-
Meridianos correspondem a semicircunferências imaginarias didas a norte entre o circulo polar ártico e o tropico de câncer e a
que parte de um pólo até atingir o outro. O principal meridiano é o sul entre o circulo polar antártico e o tropico de capricórnio. Possui
Greenwich, esse é o único que possui um nome especifico, esse é temperaturas mais amenas que as zonas polares.
utilizado como referência para estabelecer a divisão da Terra entre - Zona tropical – compreendida entre os trópicos de câncer e
Ocidente (oeste) e Oriente (leste). capricórnio, também é chamada de zona intertropical. E a região
do planeta que recebe mais raios solares, portanto, a mais quente.

Fuso Horário
Os fusos horários, também denominados zonas horárias, foram
estabelecidos através de uma reunião composta por representan-
tes de 25 países em Washington, capital estadunidense, em 1884.
Nessa ocasião foi realizada uma divisão do mundo em 24 fusos ho-
rários distintos.
A metodologia utilizada para essa divisão partiu do princípio de
que são gastos, aproximadamente, 24 horas (23 horas, 56 minutos
e 4 segundos) para que a Terra realize o movimento de rotação,
ou seja, que gire em torno de seu próprio eixo, realizando um mo-
vimento de 360°. Portanto, em uma hora a Terra se desloca 15°.
Esse dado é obtido através da divisão da circunferência terrestre
(360°) pelo tempo gasto para que seja realizado o movimento de
rotação (24 h). O fuso referencial para a determinação das horas é o
Greenwich, cujo centro é 0°. Esse meridiano, também denominado
inicial, atravessa a Grã-Bretanha, além de cortar o extremo oeste
da Europa e da África. A hora determinada pelo fuso de Greenwich
recebe o nome de GMT. A partir disso, são estabelecidos os outros
limites de fusos horários.
As longitudes representam o intervalo entre os meridianos ou A Terra realiza seu movimento de rotação girando de oeste para
qualquer ponto do planeta com o meridiano principal. As longitu- leste em torno do seu próprio eixo, por esse motivo os fusos a leste
des podem oscilar de 0º no meridiano de Greenwich até 180º a de Greenwich (marco inicial) têm as horas adiantadas (+); já os fu-
leste e a oeste. sos situados a oeste do meridiano inicial têm as horas atrasadas (-).
Através do conhecimento da latitude e longitude de um lugar Alguns países de grande extensão territorial no sentido leste-
é possível identificar as coordenadas geográficas, que correspon- -oeste apresentam mais de um fuso horário. A Rússia, por exem-
dem a sua localização precisa ao longo da superfície terrestre. A plo, possui 11 fusos horários distintos, consequência de sua grande
partir dessas informações a definição de coordenadas geográficas área. O Brasil também apresenta mais de um fuso horário, pois o
são medidas em graus, minutos e segundos de pontos da Terra lo- país apresenta extensão territorial 4.319,4 quilômetros no sentido
calizadas pela latitude e longitude. leste-oeste, fato que proporciona a existência de quatro fusos ho-
rários distintos, no entanto, graças ao Decreto n° 11.662, publicado
no Diário Oficial de 25 de abril de 2008, o país passou a adotar so-
mente três.
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A compreensão dos fusos horários é de extrema importância, A relação escola, família e comunidade carece de melhoria,
principalmente para as pessoas que realizam viagens e têm contato pois constata-se quase que um divórcio entre elas. As escolas,
com pessoas e relações comerciais com locais de fusos distintos dos muitas vezes, não fomentam nem facilitam o intercâmbio de ex-
seus, proporcionado, portanto, o conhecimento de horários em di- periências com outras escolas e com o meio em que estão inseri-
ferentes partes do globo. das, não promovem a procura de soluções inovadoras, nem pro-
porcionam uma participação efetiva dos pais e encarregados de
educação na gestão escolar.
Escola é a principal instituição para a transmissão e aquisição
OS ESPAÇOS LIVRES E ÁREAS VERDES DO LUGAR DE de conhecimentos, valores e habilidades, por isso deve ser tida
VIVÊNCIA DA CRIANÇA como o bem mais importante de qualquer sociedade.
Escola – instituição social que tem o encargo de educar, se-
gundo planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades da
Com o aumento das áreas urbanas no modo de vida contem- sua formação, casa ou estabelecimento onde se ministra o ensino.
porâneo, a cada década as crianças ficam cada vez mais distantes Escola é uma instituição educativa fundamental onde são
dos espaços livres e áreas de fácil acesso à natureza. A rotina de organizadas, sistematicamente, atividades práticas de carácter
quem vive em meio a correria de uma grande cidade como São pedagógico.
Paulo onde os grandes edifícios de concreto e ruas com seus ôni- Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é verdadei-
bus lotados em horário de pico por exemplo, afastam o contato ramente uma instituição de último recurso, após a família, comu-
com as áreas verdes dentro e fora da cidade. E a criança não fica nidade e a igreja terem fracassado.
de fora desse cenário apresentado, ou melhor, as crianças ficam Comunidade é um conjunto de pessoas que vive num deter-
extremamente fora de um contexto adulto e agravado pela violên- minado lugar e ligado por um ideal e objetivos comuns.
cia pública; fazendo com que o número da faixa etária infantil seja Participação – de acordo com a etimologia da palavra, parti-
mínimo em espaços públicos.
cipação origina-se do latim “participatio” (pars + in + actio) que
ignifica ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter
O lugar de vivência da criança atualmente tem sido em frente
acesso ao agir e às decisões que orientam o agir. “
às telas de celulares e computadores, ainda mais em um cenário
Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, respon-
quase pós-pandêmico que afastou muitas crianças dos ambientes
livres onde é exercida a socialização e também prática de ativi- sabilidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder
dades físicas. Os espaços livres e áreas verdes ficaram escassos decidir sobre ela”
quando se diz respeito a presença da população infantil de cada A participação é «um modo de vida» que permite resolver
país. Hoje os espaços vividos pelas crianças com maior frequência favoravelmente a tensão sempre existente entre o individual e o
são salas de aula, apartamentos e shoppings-centers; a realidade coletivo, a pessoa e o grupo, na organização.
é que o contexto urbano tem responsabilidade direta sobre a re- A participação deve ser vista como um processo permanen-
dução das áreas verdes na cidade e consequentemente ao afasta- te de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a autoridade
mento da criança em relação a natureza. delegada do poder central ou local na escola; as competências
profissionais dos professores (enquanto especialistas do ensino)
É imprescindível assegurar que a criança evolua e cresça com e de outros trabalhadores não docentes; os direitos dos alunos
um vínculo direto aos ambientes que o cerca, fator fundamen- enquanto «autores» do seu próprio crescimento; e a responsabi-
tal para o desenvolvimento das crianças como indivíduos que lidade dos pais na educação dos seus filhos.
cumprem seu papel social e se conscientizem de seus deveres de Considerando que toda criança faz parte de uma família e
cidadãos quanto ao meio ambiente. Desse modo é interessante que toda família, além de possuir características próprias, está in-
repensar o uso dos espaços públicos e áreas verdes, também rein- serida em uma comunidade, hoje, ambas, família e comunidade,
ventar padrões pedagógicos para que o incentivo à vida fora das estão incumbidas, juntamente com a escola, da formação de um
paredes seja um fator primordial na educação e na mentalidade mesmo cidadão, portanto são peças fundamentais no processo
dos responsáveis. Mudar um modo de vida que vem sido cons- educativo e, porque não, na elaboração do projeto pedagógico da
truído, com intuito de resgatar a essência do lugar de vivência da escola e na gestão da mesma.
criança no passado e incentivar a infância a ser vivida do modo Quando a escola recebe os educandos, de onde eles vêm?
natural e saudável. Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade, de uma famí-
lia, e os pais e responsáveis realizam seu encaminhamento.
Não são os educandos seres viventes em um núcleo familiar
e social, onde recebem orientação moral, vivenciam experiências
O TRABALHO NA FAMÍLIA E NA ESCOLA
e reforçam seus conhecimentos? Tudo isso é educação. Para esta-
belecer uma educação moral, crítica e comprometida com o meio
social, é primordial a integração entre escola, família e sociedade.
A relação escola, comunidade e família
Pois, o ser humano é um ser social por excelência. Podemos pensar
Sendo a escola uma instituição organizada e integrada na co- na responsabilidade da escola na vida de uma pessoa. E ainda,
munidade, ela deve desempenhar uma função pró-ativa de súbita partindo desse princípio, é um equívoco desvincular a família no
importância na formação, transformação e desenvolvimento do processo da educação escolar. A escola vem reforçar os valores re-
capital social. cebidos em casa, além de transmitir conhecimentos. Age também
Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas vertentes na formação humana, salientando a autonomia, o equilíbrio e a
social, económico e pessoal. liberdade - que está condicionada a limites e respeito mútuo. Por
que não, a escola trabalhar com a família e a sociedade em prol
de um bem comum?
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A parceria entre família, sociedade e escola só tem a contri- Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como
buir para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola passa a falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos
ser um espaço que se relaciona com a vida e não uma ilha, que se alunos. Nunca se observou tantos professores cansados e muitas
isola da sociedade. Com a participação da família no meio escolar, vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de
cria-se espaços de escuta, voz e acesso às informações que dizem impotência e frustração estiveram tão marcantemente presentes
respeito a seus filhos, responsáveis tanto pela materialidade da na vida escolar.
escola, bem como pelo ambiente no qual seus filhos estão inseri- Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procu-
dos. É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos ram compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, ca-
de seus filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendi- ótico, no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez
zado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem mais frequentes. Professores debatem formas de tentar superar
sucedida não depende apenas de uma boa escola, de bons profes- todas essas dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada
sores e bons programas, mas principalmente de como o educan- for feito em breve não se conseguirá mais ensinar e educar.
do é tratado na sociedade e em casa e dos estímulos que recebe Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões
para aprender. É preciso entender que o aprender é um processo vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basica-
contínuo que não cessa quando ele está em casa. Qualquer ges- mente envolvendo direções, coordenações e grupos de professo-
to, palavra ou ação positiva de qualquer membro da sociedade res. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumin-
ou da família pode motivá-la, porém, qualquer palavra ou ação do a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito
que tenha uma conotação negativa pode gerar um bloqueio no que nela são observadas.
aprendizado. É claro que, como qualquer ser humano, ele precisa Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, muitos
de limites, e que não pode fazer tudo que quiser, porém os limites projetos são lançados e inúmeros recursos também lançados pelo
devem ser dados de maneira clara, sem o uso de palavras rudes, governo no sentido de não deixar que o aluno deixe de estudar.
que agridam ou desqualifiquem-no. Porém, observa-se que se não houver um comprometimento
Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de apren- maior dos responsáveis e das instituições escolares isso pouco
der a agredir, perde uma boa parte da motivação para aprender, adiantará.2
pois seus sentimentos em relação a si mesma e aos outros ficam
confusos, tornando-a insegura com relação às suas capacidades, e
consequentemente gerando uma baixa autoestima. Outro aspec-
to que merece ser lembrado é o que se refere à comparação com NOÇÕES DE DIVERSIDADE CULTURAL E OS PROCESSOS DE
outros irmãos que foram bem sucedidos; os pais ou responsáveis FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO: O
devem evitar a comparação, pois cada um é único e tem seu pró- RECONHECIMENTO DA IMPORTÂNCIA DOS
prio ritmo de aprendizado e sua maneira singular de ver o mundo PROCESSOS MIGRATÓRIOS NA FORMAÇÃO
e a sociedade em que esta inserido. SOCIAL E CULTURAL DA CIDADE DE SÃO PAULO
É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o aprendizado
não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas é constru-
ído pelo contato com o social, dentro da família, e no mundo ao
seu redor. Fazer do aprendizado um prazer é tarefa não só dos População Brasileira: crescimento e distribuição
professores, mas também, de pais, da sociedade e de qualquer A Geografia Humana do Brasil tem por objetivo analisar as ca-
profissional interessado no bem-estar de quem aprende.1 racterísticas da população brasileira, a diversidade étnica e cultural,
Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em os aspectos socioeconômicos, o quantitativo e a distribuição popu-
mente que a família esteja presente na vida escolar de todos os lacional, a divisão regional, entre outros temas relacionados. Para
alunos em todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação en- entendermos a atual estrutura da população brasileira, é importan-
tre escola e família. Nesse sentido, escola e família possuem uma te uma abordagem histórica da ocupação do país e a formação da
grande tarefa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos identidade nacional.
sociais de uma criança. O Brasil é considerado um dos países de maior diversidade ét-
Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica nica do mundo, sua população apresenta características dos coloni-
pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio no que zadores europeus (brancos), dos negros (africanos) e dos indígenas
diz respeito à disciplina de seus educandos. A sociedade moderna (população nativa), além de elementos dos imigrantes asiáticos. A
vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é construção da identidade brasileira levou séculos para se formar,
uma constatação que norteia os arredores dos setores educacio- sendo fruto da miscigenação (interação entre diferentes etnias) en-
nais, pois é na escola que essa crise pode aflorar mais, ficando em tre os povos que aqui vivem.
maior evidência. Além de miscigenado, o Brasil é um país populoso. De acordo
Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educa- com dados do último Censo Demográfico, realizado em 2010 pelo
ção ( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e institui a gestão Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população to-
democrática nas escolas e vai além. Dentre algumas conquistas tal do país é de 190.755.799 habitantes. Essa quantidade faz do Bra-
destacam-se: sil o quinto mais populoso do mundo, atrás da China, Índia, Estados
A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a Unidos da América (EUA) e Indonésia, respectivamente.
educação para além da educação escolar, ou seja, comprometi- Apesar de populoso, o Brasil é um país pouco povoado, pois a
mento com a formação do caráter do educando. densidade demográfica (população relativa) é de apenas 22,4 habi-
tantes por quilômetro quadrado. Outro fato que merece ser desta-
cado é a distribuição desigual da população no território nacional.
Um exemplo desse processo é a comparação entre o contingente
populacional do estado de São Paulo (41,2 milhões) com o da região
Centro-Oeste (14 milhões).
1 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes Anequim /
Valéria Cristina P.Alves Bino 2 Fonte: www.portaldoconhecimento.gov.cv
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A demografia – ou Geografia da População – é a área da ciência Cada vez mais, exige-se o ensino médio para as profissões mais
que se preocupa em estudar as dinâmicas e os processos popula- elementares, conhecimento básico de inglês e informática. Devido
cionais. Para entender, por exemplo, a lógica atual da população a desigualdade social do país, nem sempre esses requisitos serão
brasileira é necessário, primeiramente, entender alguns conceitos cumpridos durante a vida escolar.
básicos desse ramo do conhecimento. O melhor é se dedicar aos estudos, fazer um bom currículo,
População absoluta: é o índice geral da população de um de- acumular experiências de trabalho voluntário e se preparar para
terminado local, seja de um país, estado, cidade ou região. Exem- entrevistas.
plo: a população absoluta do Brasil está estimada em 180 milhões Por isso, é preciso abandonar de vez a ideia de trabalho infantil
de habitantes. e lembrar que uma criança que não estudou durante a infância será
Densidade demográfica: é a taxa que mede o número de pes- um adulto com menos chances de conseguir um bom emprego.
soas em determinado espaço, geralmente medida em habitantes Desde 2016, a taxa de desemprego tem crescido e isso só au-
por quilômetro quadrado (hab/km²). Também é chamada de popu- menta a competição para quem deseja se recolocar ou entrar no
lação relativa. mercado de trabalho.
Superpovoamento ou superpopulação: é quando o quantita-
tivo populacional é maior do que os recursos sociais e econômicos
existentes para a sua manutenção.
Qual a diferença entre um local, populoso, densamente povo-
ado e superpovoado?
Um local densamente povoado é um local com muitos habi-
tantes por metro quadrado, enquanto que um local populoso é um
local com uma população muito grande em termos absolutos e um
lugar superpovoado é caracterizado por não ter recursos suficientes
para abastecer toda a sua população.
Exemplo: o Brasil é populoso, porém não é densamente povo-
ado. O Bangladesh não é populoso, porém superpovoado. O Japão
é um país populoso, densamente povoado e não é superpovoado.
Taxa de natalidade: é o número de nascimentos que aconte-
cem em uma determinada área.
Taxa de fecundidade: é o número de nascimentos bem sucedi-
dos menos o número de óbitos em nascimentos.
Taxa de mortalidade: é o número de óbitos ocorridos em um
determinado local.
Crescimento natural ou vegetativo: é o crescimento popula-
cional de uma localidade medido a partir da diminuição da taxa de
natalidade pela taxa de mortalidade.
Crescimento migratório: é a taxa de crescimento de um local
medido a partir da diminuição da taxa de imigração (pessoas que
chegam) pela taxa de emigração (pessoas que se mudam).
Crescimento populacional ou demográfico: é a taxa de cresci-
mento populacional calculada a partir da soma entre o crescimento
natural e o crescimento migratório.
Migração pendular: aquela realizada diariamente no cotidiano
da população. Exemplo: ir ao trabalho e voltar. Taxa de desemprego no Brasil em 2017
Migração sazonal: aquela que ocorre durante um determinado
período, mas que também é temporária. Exemplo: viagem de férias. Muitas pessoas recorrem ao trabalho informal, temporário ou
Migração definitiva: quando se trata de algum tipo de migra- não, a fim de escapar da situação de desemprego.
ção ou mudança de moradia definitiva.
Êxodo rural: migração em massa da população do campo para Atual
a cidade durante um determinado período. Lembre-se que uma mi- O mercado de trabalho nunca foi tão competitivo. A economia
gração esporádica de campo para a cidade não é êxodo rural. de mercado globalizada fez com que as empresas possam contratar
Metropolização: é a migração em massa de pessoas de peque- pessoas em todos os cantos do planeta. Com o crescimento do tra-
nas e médias cidades para grandes metrópoles ou regiões metro- balho remoto esta tendência só tende a aumentar.
politanas. Igualmente, os postos oferecidos pelo mercado de trabalho
Desmetropolização: é o processo contrário, em que a popula- exigem cada vez mais tempo de estudo, autonomia e habilidades
ção migra em massa para cidades menores, sobretudo as cidades em informática.
médias. Dessa maneira, nem sempre aqueles que são considerados
como população economicamente ativa, tem suficiente formação
Mercado de Trabalho para ingressar no mercado de trabalho.
Mercado de Trabalho é um conceito utilizado para explicar a
procura e a oferta das atividades remuneradas oferecidas pelas pes- Tendências
soas ao setor público e ao privado. As principais tendências para o aperfeiçoamento do trabalha-
O mercado de trabalho acompanhou a expansão da economia dor, em 2017, segundo uma consultoria brasileira seriam:
e as taxas de desemprego chegaram a registrar somente 4% de de- - Capacidade de Negociação
socupação. - Execução de planejamento estratégico e projetos
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a solução para o seu concurso!
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- Assumir equipes de sucesso herdadas Profissões mais valorizadas
- Domínio do idioma inglês Apesar de ser apenas uma estimativa, aqui estão as profissões
que estão em alta e devem ser mais demandadas nos próximos
Mulher anos:
Embora a mulher ocupe uma fatia expressiva do mercado de - Estatística
trabalho, vários problemas persistem como a remuneração inferior - Analista de dados
ao homem e a dupla jornada de trabalho. - Médico
Mesmo possuindo a mesma formação de um homem e ocu- - Biotecnologia e Nanotecnologia
pando a mesma posição, a mulher ganhará menos. Além disso, em - Economia Agroindustrial
casa se ocupará mais tempo das tarefas domésticas do que os ho- - Administração de Empresas
mens. - Comércio Exterior
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em - Turismo
todo mundo, apenas 46% das mulheres em idade de trabalhar bus- - Geriatria
cam emprego. Na mesma faixa etária, os homens respondem por - Design com foco em inovação
76%.
Nos países desenvolvidos a mulher ocupa 51,6% dos postos de Estrutura ocupacional
trabalho frente aos 68% dos homens. No Brasil, essa diferença é de Nos últimos anos o ritmo de crescimento populacional foi al-
22 pontos percentuais, aumentando a brecha salarial. terado pelas modificações das taxas de mortalidade e fecundidade.
Nos gráficos abaixo podemos observar a participação da mu- Nonato et al (2012) analisando a força de trabalho, destacam que
lher no mercado de trabalho no Brasil:
a transição demográfica altera a quantidade da força de trabalho,
pois altera a composição relativa de peso para cada grupos da po-
pulação, principalmente em termos de números de adultos que
constituem a PIA brasileira, e assim modificando a oferta de mão de
obra do país, como será visto na seção nesta seção.
Para Camarano (2014) o Brasil estaria indo em direção à ter-
ceira fase da transição demográfica na qual a população apresen-
ta diminuição e envelhecimento. Barbosa (2014) argumenta que a
demografia brasileira nas últimas décadas vem expondo um menor
ritmo de crescimento populacional e alteração de sua estrutura etá-
ria, fato que modifica população em idade ativa (PIA), assim como,
modifica o mercado de trabalho.
Nonato et al (2012) observam a força de trabalho brasileira e
sua disposição de quantidade e qualidade. A quantidade da força de
trabalho está condicionada ao tamanho da população, número de
adultos e a disposição de empregabilidade. Enquanto a qualidade
da força de trabalho está condicionada ao nível educacional da po-
pulação. Segundo os autores as características quantitativa e qua-
litativa da força de trabalho brasileira modificaram-se nas ultimas
décadas por três razões centrais. A primeira diz respeito à transição
demográfica e alteração da estrutura etária, que altera a composi-
ção da PIA e consequentemente o número de indivíduos da força de
Divisão do mercado de trabalho entre mulheres e homens trabalho. A segunda são alterações da qualificação, especialização,
ou seja, aumentos da escolaridade que são associados a maiores ní-
Jovens veis de participação nas atividades produtivas. E a terceira refere-se
Para os jovens da chamada geração Y ou os millennials – que à população feminina e sua participação no mercado de trabalho.
nasceram após 1995 – o mercado de trabalho pode ser um desafio Barbosa (2014) ressalta que a parcela que representa a PIA
complexo. dentro do conjunto populacional de 2012, tinha um peso próximo a
Os millennials se caracterizam por ter um domínio das tecno-
69,0% do total da população brasileira. No entanto a PIA tem cresci-
logias mais recentes, redes sociais e até programação. Possuem
do a taxas relativamente menores que a população com mais de 65
bom nível de inglês e um segundo idioma, fizeram pós-graduação e
anos de idade, apresentando uma tendência de desaceleração do
quem pode, viajou para o exterior.
grupo entre 15 e 64 anos de idade desde 1999, em função da queda
Por outro lado, têm dificuldades em aceitar hierarquias e, por
conta de sua formação, desejam começar logo em postos de co- da fecundidade e com projeções para sua intensificação de queda
mando. São menos propensos a serem fiéis à empresa e preferem para as próximas décadas. 27
empreender seu próprio negócio que buscar um emprego tradicio- Camarano (2014) explica que o grupo da PIA apresentou uma
nal. taxa de crescimento de 1,4% ao ano, entre 2010 e 2015, taxa con-
A realidade dos millennials nos países subdesenvolvidos em ge- siderada relativamente alta por Camarano, mas deve apresentar
ral e no Brasil em particular esbarra sempre no acesso à educação crescimento negativo para os períodos finais da projeção até 2050,
formal. atingindo seu máximo até 2040 com um número aproximado de
177 milhões. A desaceleração do crescimento para o grupo da PIA
é projetado a partir de 2045, projeta-se também que 60,0% de sua
formação sejam de indivíduos com mais de 45 anos de idade, e de
50,0% com mais de 50 anos de idade
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a solução para o seu concurso!
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Camarano (2014) argumenta que as taxas de participação na Para Souza Júnior e Levy (2014) o nível de atividade das mulhe-
atividade econômica (PEA) de 2010 ficam constantes até a projeção res em relação ao nível de atividade do grupo dos homens é menor
de 2020, no entanto para a projeção de 2020- para todas as faixas etárias. Esta diferença se amplia se observado
2030 em decorrência da queda da fecundidade devem resultar o grupo das mulheres com mais de 45 anos de idade. Nonato et al
em um decréscimo aproximado de 380 mil na demanda por postos (2012) argumentam que apesar da diferença entre a participação
de trabalho anuais. Ressalta que para manter o nível de atividade entre homens e mulheres, existe um crescente incremento das mu-
da economia brasileira de 2010, entre 2030 e 2050, 400 mil novos lheres no mercado de trabalho formal nos últimos anos, passando
indivíduos deverão estar dispostos a ocuparem uma vaga no merca- de uma taxa de participação de 32,9% para uma taxa de 52,7% en-
do de trabalho brasileiro. A autora argumenta que esses potenciais tre o período de 1981 a 2009 e, que apesar do aumento nos últimos
demandantes por vagas no mercado de trabalho poderiam resultar anos, ainda existe uma diferença considerável, 20 pontos percentu-
do declínio de mortalidade, aumento da participação feminina ou ais em comparação a nível de participação masculina.
ainda uma postergação da saída do mercado de trabalho. Logo Nonato et al (2012) observam um potencial para o au-
Nonato et al (2012) ressalta que os efeitos de curto prazo de mento do grupo das mulheres no mercado de trabalho. Somado a
diminuição da população jovem será desdobrado no médio e longo esse potencial, uma melhora do nível de escolaridade tende a incre-
prazo em uma redução da (PIA) e inversão da pirâmide etária. E a mentar a participação dos indivíduos nas atividades econômicas as-
partir de uma perspectiva do mercado de trabalho a consequência sim como tendem a incrementar a sua produtividade. Para Barbosa
da transição demográfica resulta diretamente na composição da (2014) dentre os fatores que influenciam a entrada das mulheres no
PIA brasileira e impactando a disponibilidade de mão de obra. mercado de trabalho sem sombra de dúvidas a educação possui um
Além dos fatores que dizem respeito aos indivíduos e suas con- destaque. Nonato et al (2012) alega que toda a PIA brasileira tem
dições, existem as barreiras sociais. Uma dessas barreiras sociais é
apresentado níveis cada vez maiores de escolarização nos últimos
como absorver um contingente mais envelhecido (ou manter ele
anos e evidencia um maior peso da participação das mulheres para
em atividade) como o preconceito em relação ao trabalho das pes-
esse aumento no nível de escolaridade da PIA brasileira.
soas mais envelhecidas, embora tenham um nível maior de experi-
ência em relação aos jovens, apresentam maior absenteísmo por
condições físicas e de saúde como também maior tempo de apren- Determinantes da Participação Feminina no Mercado de Tra-
dizado de algumas funções assim como dificuldades para lidar com balho
modificações tecnológicas. Logo existe a necessidade para adequa- Nota-se o potencial que ainda pode ser explorado em relação
ção dos meios de trabalho para esse contingente da população mais às mulheres e sua inserção no mercado de trabalho, como já co-
envelhecido, assim como ampliar o número de oportunidade para mentado neste trabalho, observa-se a diferença entre a taxa de
esse grupo etário (CAMARANO; KANSO E FERNANDES, 2014). participação nas atividades econômica brasileira feminina e a inter-
A proporção de idosos com mais de 65 anos que continuam nacional, como exemplo dos países que compõe Organização para
no mercado de trabalho na maior parte do mundo é baixa, e ape- a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Estados
sar desse fato foi observado nos Estados Unidos, um incremento Unidos, mas principalmente, em relação à diferença nas taxas de
dessa parcela da população na atividade econômica, embora com atividade masculina e feminina no Brasil. A seção aborda o conceito
um quadro diferenciado, pois possuem uma condição socioeconô- de salário reserva da mulher na tomada de decisão de entrada ou
mica mais elevada em termos de saúde e escolaridade entre eles. não no mercado de trabalho, assim como trata da conciliação entre
No entanto, esse grupo etário observado também se diferencia dos trabalho e maternidade, sendo que a presença de creches aponta
outros aspectos, além da idade, pois optaram por uma maior flexi- para uma maior disposição das mulheres a exercerem atividades
bilidade em sua permanência nas atividade econômicas, trabalhan- econômicas.
do menos horas com uma remuneração menor, o que de fato pode A tomada de decisão em relação a entrar no mercado de traba-
ser uma alternativa muito viável para ser aproveitado no contexto lho está ligada a oferta de trabalho e, na teoria neoclássica a decisão
brasileiro, pois se adotadas medidas que favoreça uma maior parti- de ofertar trabalho ou não ofertar trabalho é uma decisão em rela-
cipação desse grupo etário na economia, mesmo que não integral- ção à maximização da utilidade individual em relação à quantidade
mente, pode levar a um prolongamento do tempo nas atividades de bens e lazer. Logo, a determinação quanto à oferta de trabalho
econômicas (CAMARANO; KANSO E FERNANDES, 2014). do indivíduo está associada ao chamado salário de reserva, ou seja,
quanto o indivíduo receberá de remuneração adicional para abrir
Participação das Mulheres Brasileiras na Atividade Econômi- mão de uma hora de lazer. Logo o indivíduo estará disposto a ter
ca nos Últimos Anos menos horas de lazer quando o salário de mercado exceder seu sa-
A presente seção aponta para um cenário aonde a mulher vem
lário de reserva. Barbosa (2014) nota que enquanto para os homens
incrementando sua participação no mercado de trabalho assim
a elasticidade das horas trabalhadas em relação ao salário é a prin-
como seu nível educacional nos últimos anos. E se comparado o ce-
cipal variável dos estudos sobre oferta de trabalho. No entanto não
nário entre homens e mulheres em termos de participação nas ati-
é o mesmo para entender os determinantes da oferta do trabalho
vidades econômicas do Brasil e alguns países integrantes da OCDE
e Estados Unidos, ainda existe espaço para ampliação das taxa de feminino, justamente pelo contraste da participação de ambos os
atividades da mulher no mercado de trabalho. sexos no mercado de trabalho.
O incremento da participação feminina no mercado de traba- Barbosa (2014) aponta que o salário de reserva tem um papel
lho é uma opção que pode ser explorada visto que possui espaço importante para determinar a inserção ou não da mulher no mer-
para crescer. Comparativamente aos países da Organização para a cado de trabalho, pois o mesmo indica características individuais,
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aos Estados familiares ou econômicas que afetam a disposição de seu nível de
Unidos, as taxas por faixa etária dos homens brasileiros ficam nem participação. Como exemplo, as mulheres com filhos pequenos,
níveis similares. No entanto, com relação a faixa etária entre 40 e 64 possuem uma tendência a ter um salário de reserva maior do que
anos do grupo das mulheres brasileiras, as taxas de atividade ficam as mulheres que não possuem filhos, assim como outros membros
abaixo das taxas observadas entre as mulheres da OCDE e Estados dependentes no domicílio e um número maior de adultos também
Unidos. tendem a aumentar o salário de reserva das mulheres. A autora ain-
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a solução para o seu concurso!
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da observa variáveis como a idade e o estado conjugal com grande Como visto neste capítulo, a população que compõe a PIA bra-
influencia no salário de reserva e, que podem ter o efeito positivo sileira vem apresentando menores taxas de crescimento com proje-
ou negativo quanto a participação da mulher no mercado de tra- ções de máximo de sua população em 2040, e taxa de crescimento
balho. negativas para depois desse período. Além disso, vem apresentan-
Camarano (2004) argumenta que a presença de idosos com do maior grau de envelhecimento. Segundo Camarano (2014) para
mais de 75 é uma variável dúbia, pois se o idoso pode gerar um manter os níveis de atividade de 2010 entre 2030 e 2050 a oferta
efeito negativo se necessitar de cuidados, assim como pode gerar de mão obra trabalhadora deve crescer, e indica a possibilidade de
um efeito positivo se os idosos auxiliarem no cuidado dos filhos e/ incremento da participação das mulheres e aumento da permanên-
ou da casa. cia dos trabalhadores no mercado de trabalho. Embora não elimine
Barbosa (2014) aponta que vários estudos indicam de forma a tendência de diminuição da população em idade ativa, essas duas
significativa que creches e pré-escolas aumentam a participação possibilidades retardam o processo.
das mulheres no mercado de trabalho assim como o aumento das Apesar disso, uma maior permanência nas atividades laborati-
horas trabalhadas. Barros et al (2011) observa que ao incrementar vas não é uma tarefa simples, pois conforme o trabalhador vai fican-
a oferta de creches públicas em bairros de baixa renda no Rio de do mais velho tende a apresentar mais problemas relacionados à
Janeiro, elevou consideravelmente a participação feminina no mer- sua condição de saúde. Como visto em média ambos os sexos saem
cado de trabalho nestas localidades, entre 36,0% e 46,0%. do mercado de trabalho antes da idade mínima prevista em lei para
Berlingeri e Santos (2014) argumentam que é previsto em lei aposentadoria.
o atendimento gratuito em creches e pré-escolas e que nos últi- Logo a tendência de saída do mercado de trabalho pelo traba-
mos anos está ocorrendo um aumentando na demanda nesses ser- lhador brasileiro não está em concordância com as modificações
viços. Entre 1997 e 2009 a demanda por creches municipais teve demográficas que o país está passando, ou seja, o incremento em
um aumento de quatro vezes. Segundo os autores o aumento na anos de vida que a população brasileira vem ganhando não está
demanda tem dois motivos principais. O primeiro é em relação às sendo repassada em aumentos em anos nas atividades econômicas.
conquistas da mulher no mercado de trabalho para complementa- Contudo cabe ressaltar que em conjunto de um tempo maior
de trabalho o incremento da participação das mulheres nas ativida-
ção da renda familiar, sendo que a creche aparece como uma enti-
des é outra possibilidade a ser explorada. Pois os níveis de atividade
dade que auxilia as mães trabalhadoras na conciliação do trabalho
das mulheres brasileiras são menores comparativamente ao nível
e maternidade. O segundo motivo é o benefício no ensino infantil,
de atividade dos homens brasileiros, assim como menores, quan-
desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças, ou seja,
do comparadas aos níveis de atividade das mulheres dos países da
a relevância no processo educacional.
OCDE e Estados Unidos.
Várias modificações institucionais visando o ensino infantil fo-
Barros et al (2011) observa uma relação positiva entre aumen-
ram realizadas pelos órgãos públicos tentando suprir a crescente
to de número de creches e aumento da participação feminina nas
demanda por vagas desse grupo etário como exemplo
atividades econômicas. Berlingeri e Santos (2014) argumentam que
Por meio da Lei nº 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e a demanda pelo serviço de creches tem aumentando nos últimos
bases da educação nacional (Brasil, 1996), as creches foram incor- anos, mas observa que um aumento de investimentos na ampliação
poradas ao sistema de educação e, posteriormente, ao Fundo de deste tipo de serviço pode ficar ocioso no futuro, tendo em vista
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valoriza- as alterações demográficas, como um número cada vez menor de
ção dos Profissionais da Educação (FUNDEB), recebendo recursos nascimentos para o grupo de crianças de 0 a 3 anos que utilizam
diretos do governo. Outras medidas, como a Lei nº 11.114/2005 esse serviço.
(Brasil, 2005) – que altera o Artigo 32 da LDB, determinando que Barbosa (2014) argumenta ser incerto os cenários de aumento
o ensino fundamental, gratuito e obrigatório, passa a ter início aos das mulheres na atividade econômica, e mesmo se houver este in-
6 anos de idade e estende sua duração até os 9 anos –, a Emenda cremento ainda não será o suficiente para suprir a necessidade fu-
Constitucional (EC) nº 59/2009 – que passa a incluir a pré-escola (4 tura de mão de obra no mercado de trabalho brasileiro, argumenta
a 5 anos) como etapa obrigatória do ensino básico –, e o projeto a necessidade de melhores níveis educacionais e mais políticas para
de lei (PL) que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) para vigo- permanência do trabalhador no mercado de trabalho.
rar de 2011 a 2020, buscando ampliar a oferta de educação infantil Nonato et al (2012) argumenta que para reduzir a diferença
de forma a atender a 50% da população de até 3 anos, refletem a entre mulheres e homens em termos de níveis de atividade do mer-
preocupação do governo em universalizar o atendimento escolar cado de trabalho depende de modificações culturais, econômicas e
destinado ao público infantil (BERLINGERI; SANTOS, 2014, p.449) sociais. Ressalta ainda que a participação feminina deve incremen-
O cenário de transformação demográfica da população brasi- tar-se para os próximos anos com mais mulheres ocupando cargos
leira oferece importantes informações a respeito das demandas por e postos nos quais ainda não estão muito presentes.
vagas na educação infantil de creches e pré-escolas. Como já visto,
a fecundidade nas ultimas décadas vem decrescendo cada vez mais Indicadores sócioeconômicos
no cenário brasileiro, que com o passar dos anos, foi alterando a Os indicadores sociais são dados estatísticos sobre os vários
composição etária da população, modificando principalmente os aspectos da vida de um povo que, em conjunto, retratam o estado
dois grupos extremos, as crianças e os idosos, pois o primeiro grupo social da nação e permitem conhecer o seu nível de desenvolvimen-
perde seu peso na composição da população enquanto o segundo to social.
amplia seu contingente. Logo, não é comum para os formuladores Os indicadores sociais compõem um sistema e, para que te-
de políticas atenderem esse aumento de demanda presente através nham sentido, é necessário que sejam observados uns em relação
da expansão dos serviços de educação infantil esperando que esses aos outros, como elementos de um mesmo conjunto.
investimentos não possam ficar ociosos no futuro. Assim a deman- A partir destes indicadores sociais, pode ser avaliada a renda
da por esses serviços são conflitantes, pois o número de crianças do per capita, analfabetismo (grau de instrução), condições alimenta-
grupo entre 0 e 3 anos de idade é cada vez menor, mas apesar disso, res e condições médicas-sanitárias de uma região ou país.
o número de família que buscam por esse serviço é cada vez maior
(BERLINGERI; SANTOS, 2014).
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Ilustração de gráfico para indicadores sociais

Através destes indicadores, pode-se ainda indicar os países como sendo: ricos (desenvolvidos), em desenvolvimento (economia emer-
gente) ou pobres (subdesenvolvidos). Para que isso ocorra, organismos internacionais analisam os países segundo:
• Expectativa de vida (média de anos de vida de uma pessoa em determinado país).
• Taxa de mortalidade (corresponde ao número de pessoas que morreram durante o ano).
• Taxa de mortalidade infantil (corresponde ao número de crianças que morrem antes de completar 1 ano).
• Taxa de analfabetismo (corresponde ao percentual de pessoas que não sabem ler e nem escrever).
• Renda Nacional Bruta (RNB) per capita, baseada na paridade de poder de compra dos habitantes.
• Saúde (referente à qualidade da saúde da população).
• Alimentação (referente à alimentação mínima que uma pessoa necessita, cerca de 2.500 calorias, e se essa alimentação é equilibra-
da).
• Condições médico-sanitárias (acesso a esgoto, água tratada, pavimentação, entre outros).
• Qualidade de vida e acesso ao consumo (correspondem ao número de carros, de computadores, televisores, celulares, acesso à
internet, etc).

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)


O IDH foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de medir o grau econômico e, principalmente, como as
pessoas estão vivendo nos países de todo o mundo.
O IDH avalia os países em uma escala de 0 a 1. O índice 1 não foi alcançado por nenhum país do mundo, e dificilmente será, pois tal
índice iria significar que determinado país apresenta uma realidade praticamente perfeita, com elevada renda per capita, expectativa de
vida de 90 anos e assim por diante.
Igualmente é importante ressaltar que não existe nenhum país do mundo com índice 0, pois se isso acontecesse seria o mesmo que
apresentar, por exemplo, taxas de analfabetismo de 100% e todos os outros indicadores em níveis catastróficos. Os 10 países que ocupam
o topo no quesito “muito alto desenvolvimento humano” na tabela que apresenta o ranking IDH Global de 2018 são:

Ranking IDH Global País Nota


1 Noruega 0,953
2 Suiça 0,944
3 Austrália 0,939
4 Irlanda 0,938
5 Alemanha 0,936
6 Islândia 0,935
7 Hong Kong 0,933
8 Suécia 0,933
9 Singapura 0,932
10 Holanda 0,931

De acordo com este relatório, o Brasil figura no quesito “alto desenvolvimento humano”, ocupando a posição 79º no ranking IDH
Global, com nota 0,759.

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Mapa ilustrando a visualização IDH Global

Que tipo de informação os indicadores podem dar sobre o Brasil?


A comparação entre as regiões norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste é muito importante para que tenhamos condições de
conhecer melhor uma região ou o país. Quando comparados os indicadores sociais do nordeste com os do sudeste (por exemplo, número
de pessoas que têm em casa esgoto ligado à rede geral, água tratada e coleta de lixo), fica evidente que no nordeste as famílias vivem em
piores condições de vida do que no sudeste.
Ao mesmo tempo, estes indicadores possibilitam que tenhamos condições de avaliar com mais cuidado as ações dos governos no que
se refere à administração da vida das pessoas. Um governo conseguiu melhorar os índices de educação em várias regiões, outro pode ter
incentivado a criação de novas indústrias - os números mostram o que realmente foi realizado.

Plataforma do PNUD apresenta indicadores sociais de 20 regiões metropolitanas do Brasil


Atlas do Desenvolvimento Humano das Regiões Metropolitanas Brasileiras disponibiliza informações do IDH municipal e outros 200
indicadores socioeconômicos. Objetivo é melhorar elaboração de políticas públicas para as cidades. Iniciativa é tema de apresentações na
Terceira Conferência da ONU sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável, a Habitat III.
Para disponibilizar dados sobre 20 regiões metropolitanas brasileiras — de um total de 70 espalhadas pelo país —, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) criaram uma plataforma online com
informações sobre educação, renda, trabalho, demografia, longevidade, habitação e vulnerabilidade de grupos específicos. O objetivo é
melhorar as políticas públicas para as cidades.
A iniciativa é tema de apresentações da Terceira Conferência da ONU sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável, a Habitat
III, que teve início na segunda-feira (17) e termina na próxima quinta (20).
Criado também em parceria com a Fundação João Pinheiro, o Atlas do Desenvolvimento Humano das Regiões Metropolitanas Brasi-
leiras utiliza informações do projeto Atlas Brasil, que avaliou as condições de vida em 5.565 municípios.
Além de apresentar o índice de desenvolvimento humano de cada cidade (IDHM), o portal exibe outros 200 indicadores socieconômi-
cos e sua evolução de 2000 a 2010 nas 20 regiões analisadas. Entre as regiões metropolitanas avaliadas, estão São Paulo, Distrito Federal
e Entorno, Rio de Janeiro, Manaus, Maceió, Curitiba, Porta Alegre, entre outras.
“O Atlas é um instrumento de democratização da informação que pode auxiliar na melhoria da qualidade de políticas públicas”, des-
taca a coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano no PNUD, Andréa Bolzon.
Segundo a especialista, com a plataforma “é possível perceber que a desigualdade em nível ‘intrametropolitano’ ainda persiste como
realidade tanto no Sudeste quanto no Nordeste”.
“Dentro da mesma região metropolitana, por exemplo, a diferença em termos de esperança de vida ao nascer pode chegar a mais de
dez anos entre uma Unidade de Desenvolvimento Humano (UDHs) e outra, quer estejamos em Campinas ou em Maceió”, explica Bolzon.
As UDHs — que podem ser analisadas separadamente na plataforma — são áreas menores que bairros nos territórios mais populosos
e heterogêneos, mas iguais a municípios inteiros quando estes têm população insuficiente para desagregações estatísticas.
Através do link a seguir terá acesso, sequencialmente, à plataforma online e ao atlas apontado no texto.
http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/presscenter/articles/2016/10/18/atlas-do-desenvolvimento-humano-nas-regi-es-
-metropolitanas-fornece-indicadores-para-focaliza-o-de-pol-ticas-p-blicas-/

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É aí que está o perigo: a atividade humana muitas vezes com-
PRIMEIRAS NOÇÕES DE CICLO HIDROLÓGICO E A IMPOR- prometa a qualidade da água. Casas e indústrias podem despejar
TÂNCIA DA ÁGUA NO COTIDIANO em rios e mares substâncias que prejudicam a nossa saúde. Por
isso, escolher bem a água que bebemos e proteger rios, lagos e ma-
res são cuidados essenciais à vida no planeta.
O ciclo da água
Água potável
A água no estado líquido ocupa os oceanos, lagos, rios, açu-
des etc. De modo contínuo e lentamente, à temperatura ambiente, A água potável é aquela popularmente chamada água pura.
acontece a evaporação, isto é, a água passa do estado líquido para Para ser bebida por nós, a água deve ser incolor, insípida (sem sa-
o gasoso. bor) e inodora (sem cheiro). Ela deve estar livre de materiais tóxicos
Quanto maior for a superfície de exposição da água (por exem- e microorganismos, como bactérias, protozoários etc., que são pre-
plo, um oceano ou nas folhas de árvores de uma floresta), maior judiciais, mas deve conter sais minerais em quantidade necessária
será o nível de evaporação. Quando o vapor de água entra em con- à nossa saúde.
tato com as camadas mais frias da atmosfera, a água volta ao esta- A água potável é encontrada em pequena quantidade no nos-
do líquido, isto é, gotículas de água ou até minúsculos cristais de so planeta e não está disponível infinitamente. Por ser um recurso
gelo se concentram formando nuvens. limitado, o seu consumo deve ser planejado.
Ao se formar nas nuvens um acúmulo de água muito grande,
as gotas tornam-se cada vez maiores, e a água se precipita, isto é, Água destilada
começa a chover. Em regiões muito frias da atmosfera, a água passa
do estado gasoso para o estado líquido e, rapidamente, para o sóli- A água potável deve ter certa quantidade de alguns sais mine-
do, formando a neve ou os granizos (pedacinhos de gelo). rais dissolvidos, que são importantes para a nossa saúde. A água
A água da chuva e da neve derretida se infiltra no solo, for- sem qualquer outra substância dissolvida é chamada de água desti-
mando ou renovando os lençóis freáticos. As águas subterrâneas lada. Veja como se consegue água destilada.
emergem para a superfície da terra, formando as nascentes dos Para retirar sais minerais e outros produtos dissolvidos na água,
rios. Assim o nível de água dos lagos, açudes, rios etc. é mantido. utiliza-se um processo chamado destilação. O produto dessa desti-
A água do solo é absorvida pelas raízes das plantas. Por meio lação, a água destilada, é usado em baterias de carros e na fabrica-
da transpiração, as plantas eliminam água no estado de vapor para ção de remédios e outros produtos. Não serve para beber, já que
o ambiente, principalmente pelas folhas. E na cadeia alimentar, as não possui os sais minerais necessários ao nosso organismo.
plantas, pelos frutos, raízes, sementes e folhas, transferem água Veja como funciona o aparelho que produz água destilada, o
para os seus consumidores. destilador:
Além do que é ingerido pela alimentação, os animais obtêm
água bebendo-a diretamente. Devolvem a água para o ambiente
pela transpiração, pela respiração e pela eliminação de urina e fe-
zes. Essa água evapora e retorna à atmosfera. No nosso planeta, o
ciclo de água é permanente.

Observe que a água ferve (1) com ajuda do (2) Bico de Bunsen
(chama que aquece a água), transformando-se em vapor (3), e de-
pois se condensa (4), voltando ao estado líquido. Os sais minerais
não vaporizam, mas ficam dentro do vidro onde a água foi fervida
(chamado balão de destilação).

Água mineral

A qualidade da água A água do mar é salgada porque tem muito cloreto de sódio,
que é o sal comum usado na cozinha. Justamente por ter tanto sal,
A vida humana, assim como a de todos os seres vivos depende não é potável. Se bebermos água do mar, o excesso de sal nos fará
da água. eliminar mais água na urina do que deveríamos, e começamos en-
Mas a nossa dependência da água vai além das necessida- tão a ficar desidratados.
des biológicas: precisamos dela para limpar as nossas casas, lavar Já a água doce, dos rios, lagos e fontes, tem menos sal que a
as nossas roupas e o nosso corpo. E mais: para limpar máquinas água do mar e pode ser bebida - desde que esteja sem micróbios
e equipamentos, irrigar plantações, dissolver produtos químicos, e produtos tóxicos ou que tenha sido tratada para eliminar essas
criar novas substâncias, gerar energia. impurezas.
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GEOGRAFIA
A chamada água mineral é água que brota de fontes do subso-
lo. Ela costuma ter alguns sais minerais em quantidade um pouco
maior que a água utilizada nas residências e, às vezes outros sais.
A água mineral é, em geral potável e pode ser bebida na fonte
ou engarrafada - desde que a fonte esteja preservada da poluição
e da contaminação ambiental e que o processo de engarrafamento
seja feito com higiene.

O mar pode “morrer”?

Na Ásia, há o famoso mar Morto, que é um exemplo de que


um mar pode “morrer”. O mar “morre” e os lagos também quando
o nível de salinidade, isto é, a concentração de sais da sua água, é
tão alto que não permite que os peixes, a flora e outros seres vivam
nele. Esse fenômeno ocorre por vários fatores, entre eles: pouca
chuva aliada à evaporação intensa (clima quente e seco) e corte ou Na estação de tratamento, a água passa por tanques de cimen-
diminuição do regime de escoamento de rios. to e recebe produtos como o sulfato de alumínio e o hidróxido de
Fontes de poluição da água cálcio (cal hidratada). Essas substâncias fazem as partículas finas de
areia ede argila presentes na água se juntarem, formando partícu-
A água pode conter barro, areia e outras impurezas. Um grande las maiores, os flocos. Esse processo é chamado floculação. Como
perigo de contaminação da água está, por exemplo, na presença de essas partículas são maiores e mais pesadas, elas vão se depositan-
produtos químicos tóxicos ou microorganismos que tornam a água do aos poucos no fundo de outro tanque, o tanque de decantação.
poluída. Desse modo, algumas impurezas sólidas da água ficam retidas.
Há varias fontes de poluição, como veremos a seguir. Após algumas horas no tanque de decantação, a água que fica
por cima das impurezas, e que está mais limpa, passa por um fil-
A consequência da falta de tratamento de esgoto tro formado por várias camadas de pequenas pedras (cascalho) e
areias. À medida que a água vai passando pelo filtro, as partículas
O grande número de dejetos dos populosos núcleos residen- de areia ou de argila que não se depositaram vão ficando presas nos
ciais, descarregado em córregos, rios e mares provoca a poluição e espaços entre os grãos de areia. Parte dos micróbios também fica
a contaminação das águas. Febre tifoide, hepatite, cólera e muitas presa nos filtros. É a etapa conhecida como filtração.
verminoses são doenças transmitidas por essas águas. Mas nem todos os micróbios que podem causar doenças se
Há rios como o Tietê e o Guaíba - em cujas margens surgiram a depositam no fundo do tanque ou são retidos pelo filtro. Por isso,
cidade de São Paulo e Porto Alegre - que já estão comprometidos. a água recebe produtos contendo o elemento cloro, que mata os
Além desses, há vários rios expostos à degradação ambiental. micróbios (cloração), e o flúor, um mineral importante para a for-
mação dos dentes.
A mineração, a extração e o transporte de petróleo A água é então levada através de encanamentos subterrâneos
para as casas ou os edifícios.
Atividades econômicas importantes têm causado inúmeros aci- Mesmo quem recebe água da estação de tratamento deve fil-
dentes ecológicos graves. O petróleo extraído dos mares e os me- trá-la para o consumo. Isso porque pode haver contaminação nas
tais ditos pesados usados na mineração (por exemplo, o mercúrio, caixas d’água dos edifícios ou das casas ou infiltrações nos canos. As
no Pantanal), lançados na água por acidente, ou negligência, têm caixas-d’água devem ficar sempre bem tampadas e ser limpas pelo
provocado a poluição das águas com prejuízos ambientais, muitas menos a cada seis meses. Além disso, em certas épocas, quando
vezes irreversíveis. o risco de doenças transmitidas pela água aumenta, é necessário
tomar cuidados adicionais.
A poluição causada pelas indústrias
Quando não há estação de tratamento
Mesmo havendo leis que proíbam, muitas indústrias, continu-
am a lançar resíduos tóxicos em grande quantidade nos rios. Nos locais em que não há estações de tratamento, a água é
Na superfície da água, é comum formar-se uma pequena espu- obtida diretamente de rios, lagos, nascentes, represas ou poços.
ma ácida, que, dependendo da fonte de poluição, pode ser compos- Mas, nesses casos, a água pode estar contaminada por micróbios e
ta principalmente de chumbo e mercúrio. Essa espuma pode causar poluentes e são necessários alguns cuidados.
a mortandade da flora e da fauna desses rios. E esses agentes polui-
dores contaminam também o organismo de quem consome peixes
ou quaisquer outros produtos dessas águas.

As estações de tratamento da água

Muitas casas das grandes cidades recebem água encanada, vinda


de rios ou represas. Essa água é submetida a tratamentos especiais
para eliminar as impurezas e os micróbios que prejudicam a saúde.
Primeiramente, a água do rio ou da represa é levada através de
canos grossos, chamados adutoras, para estações de tratamento de
água. Depois de purificada, a água é levada para grandes reservató-
rios e daí é distribuída para as casas.
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O poço mais comum é o poço raso, que obtém água a 20 me- O Tratamento de Esgoto
tros de profundidade, no máximo. Ele deve ser construído longe das
fontes de poluição e contaminação, ficando, por exemplo, a pelo Ao chegar à estação de tratamento, o esgoto passa por grades
menos 25 metros da fossa onde as fezes e os resíduos da casa são de metal que separam objetos (como plástico, latas, tecidos, pa-
despejados. Deve ter uma tampa impermeável (uma laje de concre- péis, vidros etc.) da matéria orgânica, da areia e de outros tipos de
to armado) e uma abertura a pelo menos 20 centímetros acima do partículas.
solo, para protegê-lo contra a entrada de águas que escorrem pela O esgoto passa, lentamente, por grandes tanques, a fim de que
superfície do solo. a areia e as outras partículas se depositem.
É preciso também que os primeiros três metros do poço sejam O lodo com a matéria orgânica pode seguir para um equipa-
impermeáveis à água da chuva que cai na superfície do terreno. A mento chamado biodigestor, onde sofre ação decompositora das
água que se infiltra a mais de três metros e que entra no poço já bactérias. Nesse processo, há desprendimento de gases, entre eles
sofreu um processo natural de filtração ao atravessar o solo. o metano, que pode ser utilizado como combustível.
É importante garantir que a água do poço ou de outras fontes A parte líquida, que ficou acima do lodo, também é atacada por
não esteja contaminada por micróbios. O ideal é que ela seja anali- bactérias, pois ainda apresenta matéria orgânica dissolvida, essa
sada periodicamente por um laboratório, para verificar seu estado parte é agitada por grandes hélices, que garantem a oxigenação da
de pureza. Se isso não for possível, a água que se bebe, bem como a água. Também podem ser utilizados para essa oxigenação bombas
que é usada para lavar pratos e talheres, deve ser filtrada e tratada. de ar ou mesmo certos tipos de algas, que produzirão o oxigênio na
A água deve ser fervida por pelos menos 15 minutos ou tratada com fotossíntese.
cloro (siga bem a instruções do fabricante, pois cloro em excesso
pode causar envenenamento). Antes de tratar a água com cloro, po-
rém, devemos filtrá-la, já que os ovos de vermes, por exemplo, não
são destruídos pelo cloro, mas podem ser removidos pela filtração.

Só depois desse tratamento, o esgoto pode ser lançado em


rios, lagos ou mares.
A água já utilizada, após o tratamento retorna ao meio ambien-
te com seu efeito poluente diminuído. Caso contrário, pode causar
Existem também poços artesianos, construídos com equipamen- grave contaminação da água e, assim, riscos à população que dela
to especial, que furam a terra e tiram a água de lençóis subterrâneos se utiliza.
mais profundos. Esses lençóis estão situados em espaços existentes A falta de tratamento de esgoto pode provocar a contaminação
entre rochas pouco permeáveis, geralmente a mais de 100 metros de do solo e da água, contribuindo para a proliferação de várias doen-
profundidade. A água dos poços artesianos costuma estar limpa, mas ças. Muitas dessas doenças podem levar a morte muitas crianças,
deve-se também mandar analisá-la em laboratório. principalmente no seu primeiro ano de vida. Assim, garantir o tra-
tamento de esgoto em todo o Brasil é uma meta a ser alcançada na
O destino da água utilizada busca de saúde e qualidade de vida da população.

Para onde vai a água depois de utilizada em lavagens de rou- Doenças transmitidas pela água
pas, banho, ou descarga de banheiros e outras atividades de uso
doméstico? A falta de água potável e de esgoto tratado facilita a transmis-
O destino da água que foi utilizada é um grande problema de são de doenças que, calcula-se, provocam cerca de 30 mil mortes
saneamento básico e que não está bem solucionado em muitas re- diariamente no mundo. A maioria delas acontece entre crianças,
giões do Brasil. principalmente as de classes mais pobres, que morrem desidrata-
Em pequenas comunidades, esse problema relativo ao trata- das, vítimas de diarreia causadas por micróbios. No Brasil, infeliz-
mento da água utilizada pode ser resolvido ou minimizado com fos- mente mais de 3 milhões de famílias não recebem água tratada e
sas sépticas e sumidouro. um número de casas duas vezes e meia maior que esse não tem
Nas regiões mais populosas, entretanto, exige-se uma solução esgoto. Isso é muito grave.
mais complexa. Isso ocorre porque, mesmo para um pequeno pré- Estima-se que o acesso à água limpa e ao esgoto reduziria em
dio com dez apartamentos, a fossa séptica e o sumidouro, em ge- pelo menos um quinto a mortalidade infantil.
ral, não são suficientes para absorver a água consumida por esses Para evitar doenças transmitidas pela água devemos tomar os
moradores. Imagine, então, uma grande cidade repleta de arranha- seguintes cuidados:
-céus. -Proteger açudes e poços utilizados para o abastecimento;
Nesses casos, utilizam-se redes de esgoto. -tratar a água eliminando micróbios e impurezas nocivas a saú-
de humana;
-filtrar e ferver a água;

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-não lavar alimentos que serão consumidos crus com água não tratada como verduras, frutas e hortaliças.

As principais doenças transmitidas pela água são:


-Diarreia infecciosa
-Cólera
-Leptospirose
-Hepatite
-Esquistossomose

Água no planeta

O planeta Terra está inundado de água, formando a hidrosfera, compreendendo os oceanos, mares e águas continentais. Aproximada-
mente 71% da superfície terrestre é coberta por água, totalizando cerca de 1,4 bilhão de km3. É considerado o único planeta que apresenta
a água em seus três estados físicos: gasoso, líquido e sólido. De toda a água disponível no planeta, 97,5% é água salgada. Apenas 2,5% da
água disponível é doce.

→ Água doce no planeta

A água doce disponível no planeta não se apresenta distribuída uniformemente, variando segundo a presença de ecossistemas nas
diferentes regiões. A água doce pode ser encontrada em geleiras, neves eternas, águas subterrâneas, solos, rios e lagos.
Os países que mais concentram água doce no mundo são Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Índia, Colômbia, República Democrá-
tica do Congo e China, correspondendo a aproximadamente 60% da água doce existente no planeta.
De acordo com dados da Agência Nacional das Águas (ANA), o continente com maior concentração de água doce é a América com
cerca de 39,6%, seguido pelo continente asiático com 31,8%. O continente com menor volume de água doce é a Oceania, concentrando
apenas 3,9% da água doce disponível. A África, por sua dimensão, é um dos continentes que sofre com a falta de água, tendo em seu ter-
ritório cerca de 9,7% da água doce do mundo.

Água no Brasil

O Brasil é um país abundante em recursos hídricos, representando cerca de 12% do total mundial. Contudo, sua distribuição não é
uniforme no território. Segundo a ANA, a água doce é distribuída nas regiões brasileiras da seguinte maneira:

Região Norte: corresponde a 68% dos recursos hídricos;


Região Centro-Oeste: corresponde a 16% dos recursos hídricos;
Região Sul: corresponde a 7% dos recursos hídricos;
Região Sudeste: corresponde a 6% dos recursos hídricos;
Região Nordeste: corresponde a 3% dos recursos hídricos

Há um contraste visível entre a distribuição de água no Brasil e a distribuição populacional. A Região Norte, que detém o maior volume
de água doce do país, é a região com menor densidade demográfica, ou seja, é uma das regiões menos povoadas, contando com apenas
7% da população. Já a Região Sudeste, a mais povoada do país com cerca de 42,63% da população, conta com apenas 6% da disponibili-
dade de recursos hídricos.
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No que tange ao desperdício de água, o Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente, desperdiça entre 20% a 60% da água desti-
nada ao consumo ao longo da distribuição. Os hábitos dos brasileiros também não favorecem a economia de água, já que boa parte dessa
substância é desperdiçada seja em uso pessoal ou atividades de limpeza.

DRENAGEM E MANEJO DAS ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS


O sistema de drenagem deve ser entendido como o conjunto da infraestrutura existente em uma cidade para realizar a coleta, o trans-
porte e o lançamento final das águas superficiais. Inclui ainda a hidrografia e os talvegues.
É constituído por uma série de medidas que visam a minimizar os riscos a que estão expostas as populações, diminuindo os prejuízos
causados pelas inundações e possibilitando o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e ambientalmente sustentável. O
sistema pode ser dividido em:

MICRODRENAGEM MACRODRENAGEM
São dispositivos responsáveis pelo escoamento fi-
São estruturas que conduzem as águas do escoa-
nal das águas pluviais provenientes do sistema de
mento superficial para as galerias ou canais urbanos.
microdrenagem urbana.
É constituída pelos principais talvegues, fundos
de vales, cursos d’água, independente da execução
É constituída pelas redes coletoras de águas pluviais,
de obras específicas e tampouco da localização de
poços de visita, sarjetas, bocas-de-lobo e meios-fios.
extensas áreas urbanizadas, por ser o escoadouro
natural das águas pluviais.

Os sistemas de drenagem urbana são sistemas preventivos de inundações, principalmente nas áreas mais baixas das comunidades
sujeitas a alagamentos ou marginais aos cursos d’água.
A enchente é um fenômeno natural do regime do rio, e todo rio tem sua área de inundação. As inundações passam a ser um problema
para o homem quando ele deixa de respeitar os limites naturais dos rios, ocupando suas áreas marginais.
As inundações urbanas podem ser:
• em áreas ribeirinhas: os rios possuem dois leitos - o leito menor em que a água escoa na maioria do tempo e o leito maior. Este
último costuma ser inundado pelo menos uma vez a cada dois anos;
• devido à urbanização: o aumento da densidade de ocupação por edificações e obras de infraestrutura viária resulta em maiores
áreas impermeáveis e, como consequência, o incremento das velocidades de escoamento superficial e a redução de recarga do lençol
freático.
A recarga do aquífero se processa através das águas de chuva ou pelas águas de um rio, quando este percorre um leito poroso. O
aquífero subterrâneo é o responsável pelo abastecimento de toda nascente d’água e a impermeabilização do solo poderá elimina-las e,
consequentemente, os rios desaparecerão. Em áreas urbanas é comum a inundação localizada devido ao estrangulamento do curso d’água
por pilares de pontes, adutoras, aterros e rodovias que reduzem a seção de escoamento do rio.
Um dos efeitos causados pela urbanização são as enchentes, - lentas ou rápidas, que se avolumam no decorrer dos dias - podendo
causar prejuízos materiais e provocar mortes.
A principal causa das enchentes deve-se à ocupação desordenada do solo, não só no território municipal como também a montante
em toda a área da bacia de contribuição, e ao sistema de drenagem urbana que transfere os escoamentos para jusante, sem qualquer pre-
ocupação com a retenção de volumes escoados. Um sistema de drenagem eficiente é o que drena os escoamentos sem produzir impactos
nem no local nem a jusante.
A estratégia utilizada para os problemas de drenagem urbana esteve, durante anos, voltada para a retificação dos rios, córregos e
o revestimento de suas calhas, com graves consequências ambientais, destacando-se: aumento das velocidades de escoamento e, con-
sequentemente, a transferência de inundação para jusante; eliminação de ecossistemas aquáticos; processos erosivos nas margens dos
cursos d’água e elevados custos para o município, sem, necessariamente, obter resultados efetivos.
Atualmente, o sistema de drenagem urbana aponta para a preservação dos cursos d’água, sua despoluição e a manutenção das várze-
as de inundação, de forma que não sejam necessárias obras estruturantes, reduzindo-se custos de implantação e problemas provocados
pelas mesmas, tirando proveito de seu potencial urbanístico como áreas verdes e parques lineares.

Sistemas de drenagem urbana: sistema unitário (ou combinado), sistema separador absoluto.
Bacias urbanas compartilhadas
Muitas cidades possuem, entretanto, bacias hidrográficas em comum com outros municípios, apresentando o seguinte cenário: um
município a montante de outro e o curso d’água dividindo-os.
Nesse caso, o controle institucional da drenagem pode ser realizado por meio de legislação municipal adequada para cada município;
legislação estadual que estabeleça os padrões a serem mantidos nos municípios de tal forma a não serem transferidos os impactos ou os
dois procedimentos. Deve-se buscar ações conjuntas com os municípios envolvidos para se obter o planejamento de toda a bacia.
Para implantar medidas de controle de inundações devem ser consideradas três situações de ocupação: sub-bacia não urbanizada,
sub-bacia parcialmente urbanizada e sub-bacia urbanizada.

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Sub-bacia não-urbanizada Sub-bacia urbanizada

Na situação de bacias urbanizadas, a ocupação das margens - e


Na situação de bacias parcialmente urbanizadas, haverá neces- mesmo da calha do rio - encontra-se consolidada e, nestes casos, a
sidade da adoção de medidas de caráter preventivo e emergencial, renaturalização e mesmo uma revalorização ecológica são limita-
uma vez que a ocupação começa a se consolidar ao longo do curso das, restando ao administrador intervir a montante do trecho, bus-
d’água. Cabe ao administrador tais medidas: cando reduzir os picos de vazão.
• estabelecer o zoneamento das áreas não ocupadas e adoção As soluções para minimizar as enchentes devem ser voltadas
de medidas para que não ocorram ocupações nas áreas de risco; à infiltração das águas superficiais para o solo. Abaixo, algumas
• preservar a faixa non aedificandi ao longo dos cursos d’água; opções:
• dotar a legislação municipal com instrumento eficaz que pro- • pequenos reservatórios em condomínios, parques, escolas;
mova retenção e a percolação no solo das águas pluviais no perí- • bacia para amortecimento de cheias;
metro urbano; tais como valos de infiltração - sistemas de drenos • não-pavimentação das ruas;
implantados paralelos às ruas, estradas, conjuntos habitacionais; • parques e áreas gramados;
• implantar bacias de percolação; • medidas de apoio à população, sistema de alerta, de evacua-
• implementar o reflorestamento para prevenir a erosão e o ção e de atendimento à comunidade atingida;
assoreamento do curso d’água; • programa de educação ambiental;
• implantar programas de educação ambiental; • implantação de interceptores de esgotos, viabilizando futuro
• implantar interceptores de esgotos viabilizando futuro tra- tratamento.
tamento.
Aproveitamento dos espaços para amortecimento de cheias
Vala de infiltração com grama por onde escoa a água da rua Aproveitamento dos espaços ocupados pelas estruturas utiliza-
das para amortecimento das cheias:
• praça de esportes utilizada durante o período seco, sendo o
espaço ocupado no período de chuva como reservatório para amor-
tecimento de cheias.

Observar a depressão, à direita da foto, que favorece a infiltra-


ção da água de chuva.

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• campo de futebol utilizado no período de chuva para amor- Áreas urbanas utilizadas como reservatórios para amorteci-
tecimento da cheia. mento de cheias:
• reservatório em parque municipal.

• pavimentos permeáveis.
• reservatório em área densamente ocupada.

• reservatório em área densamente ocupada com aproveita-


mento como área de lazer.

Redes coletoras, dispositivos de captação (bocas de lobo), con-


dutos de ligação e poços de visita
Um sistema de drenagem de águas pluviais é composto de uma
série de unidades e dispositivos hidráulicos para os quais existe
uma terminologia própria e cujos elementos mais frequentes são
conceituados a seguir.
Greide - é uma linha do perfil correspondente ao eixo longitu-
dinal da superfície livre da via pública.
Guia - também conhecida como meio-fio, é a faixa longitudinal
de separação do passeio com o leito viário, constituindo-se geral-
mente de peças de granito argamassadas.

Sarjeta - é o canal longitudinal, em geral triangular, situado en-


tre a guia e a pista de rolamento, destinado a coletar e conduzir as
águas de escoamento superficial até os pontos de coleta.

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Sarjetões - canal de seção triangular situado nos pontos baixos ou nos encontros dos leitos viários das vias públicas, destinados a
conectar sarjetas ou encaminhar efluentes destas para os pontos de coleta.

Bocas coletoras - também denominadas de bocas de lobo, são estruturas hidráulicas para captação das águas superficiais transporta-
das pelas sarjetas e sarjetões; em geral situam-se sob o passeio ou sob a sarjeta.
Galerias - são condutos destinados ao transporte das águas captadas nas bocas coletoras até os pontos de lançamento; tecnicamente
denominada de galerias tendo em vista serem construídas com diâmetro mínimo de 400mm.
Condutos de ligação - também denominados de tubulações de ligação, são destinados ao transporte da água coletada nas bocas
coletoras até às galerias pluviais.

Poços de visita - são câmaras visitáveis situadas em pontos previamente determinados, destinadas a permitir a inspeção e limpeza dos
condutos subterrâneos.

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Trecho de galeria - é a parte da galeria situada entre dois poços Tempo de concentração - é o menor tempo necessário para
de visita consecutivos. que toda a bacia de drenagem possa contribuir para a secção em
Caixas de ligação - também denominadas de caixas mortas, são estudo, durante uma precipitação torrencial.
caixas de alvenaria subterrâneas não visitáveis, com finalidade de Tempo de recorrência - intervalo de tempo onde determinada
reunir condutos de ligação ou estes à galeria. chuva de projeto é igualada ou suplantada estatisticamente; tam-
bém conhecido como período de recorrência ou de retorno.

GLOSSÁRIO
Assoreamento - elevação de uma superfície por deposição de
sedimento.
Bacias de amortecimento de cheias - pequenas barragens que são
construídas para armazenar temporariamente as águas das chuvas.
Desenvolvimento sustentável - é aquele que atende às neces-
sidades das presentes gerações sem comprometer a capacidade de
as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades.
Ecossistema - conjunto dos relacionamentos entre determina-
do ambiente e a flora, a fauna e os micro-organismos.
Erosão - desgaste do solo por água corrente, ventos.
Interceptor de esgotos - tubulação destinada ao recolhimento
das contribuições de esgotos que chegam a um curso d’água.
Jusante - sentido em que correm as águas de um rio.
Lençol freático - superfície da água subterrânea.
Mata ciliar - mata que cresce nas margens de rios, córregos e
Bacias de drenagem - é a área contribuinte para a seção em
lagoas.
estudo.
Montante - sentido contrário ao escoamento, rio acima.
Non aedificandi - áreas com proibição de construção.
Obras estruturantes - obras que modificam as condições na-
turais.
Percolação - o mesmo que infiltração.
Renaturalização - recuperação da morfologia natural dos rios.
Retificação de rios - processo pelo qual os rios são conduzidos
para canais artificiais, podendo ser revestidos ou não, de forma pre-
dominantemente retilínea.
Sistema de drenagem - totalidade das estruturas projetadas
para promover o esgotamento das águas pluviais.
Taludes - superfície inclinada do terreno, de uma margem de
rio ou do parâmetro de uma barragem.
Talvegue - linha que segue a parte mais baixa do leito de um rio,
de um canal ou de um vale.
Várzeas de inundação - regiões de baixio onde ocorrem os fe-
nômenos naturais de transbordamento dos cursos d’água.

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Medidas de controle na fonte, soluções descentralizadas, e so- As indústrias que estão nas cidades só funcionam e produzem
luções de desenvolvimento urbano de baixo impacto mercadorias de qualidade se houver colheita da matéria-prima no
O Plano Diretor de Drenagem Urbana - PDDU é o conjunto de campo; um exemplo prático disso são produtos vendidos em lojas
diretrizes que determinam a gestão do sistema de drenagem cujo nos grandes centros das metrópoles, mas que cada traço desse
objetivo é minimizar o impacto ambiental devido ao escoamento produto precisou de um procedimento diferente usando um re-
das águas pluviais. curso que vem do campo, como as camas de madeira que nos dei-
O PDDU deve priorizar as medidas não-estruturantes, incluir a tamos e os travesseiros que repousamos nossas cabeças depois
participação pública, ser definido por Sub-bacias urbanas e ser in- de um dia de trabalho na cidade.
tegrado ao plano diretor de desenvolvimento urbano. Objetiva ser
o instrumento orientador do poder executivo não só nas questões Vemos que a industrialização atende a demanda do comércio
pontuais como inundações, mas também nas medidas de macro- e gera empregos também, uma oferta maior de serviços para um
drenagem como contenções de encostas e cabeceiras. local com uma maior diversidade de pessoas. Os trabalhadores
A elaboração de plano diretor de drenagem urbana consiste que atuam no campo por muitas vezes dependeram da cidade
em: para se qualificar em seus estudos e assim exercer o trabalho que
• estudar a bacia hidrográfica como um todo, com o cadastro movimenta a vida na cidade; o morador da zona rural certamente
da macrodrenagem e inventário das ocorrências de inundações, pode depender de médicos e profissionais da saúde localizados
controle de erosão, controle de vetores causadores de doenças; nas grandes cidades do país. O trabalhador urbano quando procu-
• estabelecer normas e critérios de projeto uniformes para ra descanso em seu tempo recreativo tem diversas opções de tu-
toda a bacia hidrográfica; rismo no campo, nas áreas rurais. E embora a vida na cidade seja
• identificar áreas que possam ser preservadas ou adquiridas popularmente favorecida com o avanço da tecnologia, eventos e
pelo Poder Público; atrações; não se pode descartar a importância do campo pra que
• elaborar o zoneamento dos fundos de vale e das várzeas de tudo que existe na cidade possa continuar funcionando, como as
inundação; mercadorias carregadas dentro de caminhões por todo o país e a
• valorizar o curso d’água com sua integração na paisagem ur- exportação de produtos naturais.
bana e fonte de lazer;
• estabelecer critérios para implantação de medidas necessá-
rias de acordo com os recursos disponíveis;
• articular o plano diretor com os serviços de abastecimento QUESTÕES
de água, esgotamento sanitário, sistema viário;
• envolver a comunidade na discussão dos problemas e solu-
ções propostas;
• adotar medidas preventivas em vez de corretivas. 1. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Leia o trecho
a seguir.
Objetivos a serem alcançados: “Esquematicamente, uma rede é um sistema integrado
• reduzir o risco de danos à comunidade quanto aos aspectos de fluxos. A rede é constituída por pontos de acesso, arcos de
de doenças de veiculação hídrica e de acidentes devido a inunda- transmissão e nós ou polos de bifurcação. [...]
ções e deslizamentos de encostas; Numa rede, o valor dos lugares se define pelo grau de aces-
• reduzir o risco ao patrimônio e aos negócios públicos e priva- so que eles oferecem ao conjunto da rede.”
dos com a interrupção de transportes, fechamento do comércio e (TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, R. B. Conexões:
suas consequências, danos a veículos e bens público. estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Moder-
na, 2010. p. 18 (Adaptação)).

É incorreto afirmar que as redes vigentes no espaço mundial


ESTUDOS SOBRE O TRABALHO NO CAMPO E NA CIDADE, contemporâneo
COM ENFOQUE NAS RELAÇÕES DE INTERDEPENDÊNCIA E (A) consolidam espaços do mandar, onde se adensam as no-
INTEGRAÇÃO, POR MEIO DA CIRCULAÇÃO DE MERCADO- vas tecnologias da informação, em detrimento de espaços
RIAS E MATÉRIAS-PRIMAS do fazer, que são áreas populosas pobres e de economia
tradicional.
(B) constituem suporte para o tráfego de mercadorias e de
Sabemos que existem diferenças notáveis nas características bens concretos, como cargas e passageiros, bem como para
de vida nas zonas rurais e zonas urbanas, principalmente na esfera a transmissão de dados e informações.
do trabalho. O cotidiano é totalmente diferente se compararmos (C) distribuem-se em caráter homogêneo pela superfície do
os horários e atividades de uma rotina de um trabalhador do cam- globo, haja vista a magnitude espacial hoje alcançada pelo
po que onde seu ambiente de trabalho está vinculado de forma meio técnico-científico-informacional.
direta à matéria-prima; e a rotina de um trabalhador da cidade (D) superam limitações físicas ao conectar pessoas e trans-
que pode estar muito ligado à tecnologia, mas também a aquilo mitir informações, a exemplo da movimentação diária de
que é fruto do trabalho no campo. Podemos dizer então embora bilhões de dólares nas bolsas de valores em todo o mundo.
sejam dois extremos, um não vive sem o outro por conta de sua
relação interdependente.

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GEOGRAFIA
2. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a figura a seguir, que representa o movimento da Terra em volta do Sol

IBGE. Atlas Geográfico Escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 10. Disponível em: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/>. Acesso
em: 18 jul. 2018 (Adaptação).

A órbita terrestre é elíptica, o que aproxima a Terra do Sol em determinados momentos e a afasta em outros, variação esta
responsável pela ocorrência das estações do ano.
Considerando essas informações, o que se afirma nesse trecho está
(A) correto, uma vez que é inverno quando a Terra se distancia do Sol e, consequentemente, verão quando dele se aproxima.
(B) incorreto, uma vez que a volta completa da Terra em torno do Sol, por se fazer em seis meses, é distinta do tempo de su-
cessão das estações do ano.
(C) correto, uma vez que são quatro as posições da Terra ao se movimentar em volta do Sol, sendo cada posição correspondente
a uma das quatro estações do ano.
(D) incorreto, uma vez que as estações do ano decorrem, principalmente, da posição do eixo inclinado da Terra.

3. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Considere que foi solicitado ao Corpo de Bombeiros Militar a busca de um jovem
desaparecido após afogamento em um rio. Analise esta carta topográfica de trecho do rio onde ocorreu o referido afogamento.

O Corpo de Bombeiros Militar iniciou a busca pelo jovem desaparecido a partir do local do afogamento, estendendo-a à jusante,
em direção ao ponto
(A) X.
(B) Y.
(C) Z.
(D) W.

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GEOGRAFIA
4. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a tabela e os gráficos a seguir

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 12.
Disponível em: <http://loja.ibge.gov.br/cartas-mapas-e-cartogramas/atlas/atlas-do-censo-demografico-2010.html>. Acesso em: 7
set. 2018 (Adaptação).

Considere: nos gráficos, as colunas apresentam, para cada grande região brasileira, o número de população na seguinte sequ-
ência temporal: 1991, 2000, 2010.
Com base nessas informações, é correto afirmar que, entre 1991 e 2010,
(A) concentrou-se o maior quantitativo de habitantes no campo na região brasileira cujo traço característico de sua economia
é o agronegócio, com destaque para a soja.
(B) houve transferência de população dos centros urbanos para o meio rural, fenômeno este denominado migração pendular
pelos demógrafos.
(C) registrou-se, seja no campo ou na cidade, a mesma taxa de evolução do contingente populacional nas cinco grandes regiões
brasileiras.
(D) verificou-se o crescimento populacional dos espaços urbanos em todas as regiões do país, mantendo-se o maior número de
população naquela de economia mais dinâmica.

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GEOGRAFIA
5. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise o gráfico a seguir

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 18. Disponível em: <http://loja.ibge.gov.
br/cartas-mapas-e-cartogramas/atlas/atlas-do-censodemografico-2010.html>. Acesso em: 13 out. 2018 (Adaptação).

A evolução da população representada pela curva V é aquela verificada no Continente


(A) Africano.
(B) Americano.
(C) Asiático.
(D) Europeu.

6. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Nas últimas
décadas, a histórica desigualdade socioespacial vigente no interior das cidades brasileiras adquiriu características mais acentuadas.
Essa desigualdade socioespacial não se explica
(A) pela disseminação de condomínios residenciais de luxo, enclaves no interior da malha urbana servidos de completa infraes-
trutura de equipamentos urbanos coletivos.
(B) pela segregação espacial imposta por planos diretores municipais que destinam espaços de topografia acidentada e de mais
elevada declividade às favelas e loteamentos clandestinos e irregulares.
(C) pelo isolamento de trechos do tecido urbano mediante instalação de muros altos, portões e guaritas de vigilância privada,
com acesso exclusivo aos moradores e funcionários.
(D) pelo recrudescimento da diferença entre os padrões de moradia e de infraestrutura de bairros habitados por grupos discre-
pantes quanto a suas características socioeconômicas, notadamente o poder aquisitivo.

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GEOGRAFIA
7. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o
mapa a seguir

Disponível em: <https://www.thoughtco.com/seismic-hazard-maps-of-the-world-1441205>.


Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

No espaço sul americano retratado no mapa, a probabilidade de ocorrência de terremotos nos próximos 50 anos não
(A) atesta o papel fundamental exercido pelos limites de placas litosféricas, a exemplo daquele de colisão, na geração de ter-
remotos na América do Sul.
(B) confirma o notório caráter de estabilidade tectônica do território brasileiro, uma vez que continuarão ausentes no país as
movimentações da crosta.
(C) propõe que a geração e distribuição espacial dos terremotos será também explicada por dinâmica geológica vigente no
interior de uma placa tectônica.
(D) sugere que a sismicidade, no futuro próximo, estará condicionada à continuidade da subducção até então responsável pelo
soerguimento da cadeia andina.

8. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o


gráfico a seguir.

A distribuição atual da PEA no Brasil representada no gráfico está


(A) correta, uma vez que a elevada qualificação profissional exigida pelo Setor Terciário reduz sobremaneira o número de tra-
balhadores que nele ingressa.
(B) incorreta, uma vez que a proporcionalidade hoje registrada para os setores econômicos em que se ocupa a PEA no país é
distinta daquela expressa no gráfico.
(C) correta, uma vez que a maioria da PEA brasileira se concentra no Setor Primário, condição fundamental para a manutenção
da pauta de exportação dos produtos agropecuários.
(D) incorreta, uma vez que o setor da economia que concentra a atividade industrial nacional é aquele que absorve o maior
contingente da PEA no país.

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9. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Leia o
trecho a seguir.
“A regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo foi amplamente utilizada durante a
Guerra Fria, período em que prevaleceu a rivalidade entre duas superpotências. No começo da década de 1990, o termo Segundo
Mundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo. Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações com o
objetivo de expressar com maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo.” (BOLIGIAN, Levon; ALVES, Andressa.
Geografia: espaço e vivência (Ensino Médio). São Paulo: Atual Editora, 2007 (volume único). p. 410 (Adaptação)).
A regionalização que não expressa com “maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo” é:
(A) Países capitalistas / países socialistas (regionalização fundamentada na realidade político econômica global).
(B) Países centrais / países periféricos (regionalização fundamentada no papel exercido no sistema capitalista).
(C) Países desenvolvidos / países subdesenvolvidos (regionalização fundamentada nas desigualdades socioeconômicas e nível
de vida da população).
(D) Países ricos / países pobres (regionalização fundamentada no desenvolvimento econômico e tecnológico).

10. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise
a figura a seguir.

Disponível em: <https://br.pinterest.com>. Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

O espaço urbano representado na figura indica que


(A) a avenida principal tem seu trajeto orientado segundo os paralelos do globo, de tal modo que ela recebe maior insolação
nas primeiras horas do dia.
(B) a circulação atmosférica local é influenciada pela distribuição espacial e pela altura das construções, capazes de criar corre-
dores de deslocamento mais intenso dos ventos.
(C) a considerável extensão das superfícies impermeabilizadas aumenta a taxa de infiltração da água precipitada sobre a cidade
e garante a recarga dos aquíferos subterrâneos.
(D) a marcante proximidade das edificações comprova se tratar de tecido urbano cuja evolução espaço-temporal se fez segundo
o processo de megalopolização.

11. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOMBEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “A teoria da tectônica de placas é
recente, mas sua formulação baseia‐se em mais de 100 anos de especulações, pesquisas geológicas e debates. Com a formulação da
teoria da tectônica de placas surge uma nova explicação para um dos mais antigos e controvertidos temas da geologia – o da deriva
continental. A ideia de que os continentes não foram fixos durante toda a história da Terra e, sim, de que sofreram movimentos
relativos sobre a sua superfície só agora se torna mais compreensível e aceita com a explicação do ponto de vista da tectônica de
placas.” (
Popp, José Henrique. Geologia Geral. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010 p. 11.)

Sobre a teoria da tectônica de placas, analise.


I. Procura demonstrar que a superfície semirrígida da crosta sofre movimentos sobre uma porção inferior, quente e fluida,
denominada astenosfera.
II. A superfície semirrígida da crosta sofre movimentos; com isso, as rochas superficiais sofrem deformações, produzindo estru-
turas características, conhecidas como produtos do tectonismo.
III. O fenômeno da tectônica de placas processa‐se em escala global, mas se encontra evidenciado segundo direções preferen-
ciais ou regionais.
Estão corretas as alternativas
(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.

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GEOGRAFIA
12. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- Estão corretas as afirmativas
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Sabendo‐se que em Tóquio, (A) I, II, III e IV.
cidade localizada a aproximadamente 140° Leste do meridiano (B) I, II e IV, apenas.
de referência, Greenwich, são 17 horas, horário oficial, e des- (C) I, II e III, apenas.
prezando quaisquer ajustes de fusos entre os países, bem como (D) I, III e IV, apenas
outras adaptações, que horas (horário oficial) serão na cidade
de Porto Alegre, localizada a cerca de 51° a Oeste do meridiano
de Greenwich?
(A) 1 hora (hora legal). GABARITO
(B) 3 horas (hora legal).
(C) 4 horas (hora legal).
(D) 5 horas (hora legal).
1 C
13. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) A importância de se estudar 2 D
a atmosfera é muito grande, pelos efeitos que ela causa em 3 C
nossas vidas, sejam efeitos naturais ou causados pela atividade
humana. Essas mudanças no clima do Planeta e os transtornos, 4 D
principalmente da temperatura, promovem transformações no 5 C
padrão do tempo. Com base na importância de estudar a atmos-
6 B
fera e as mudanças no clima, pode‐se afirmar que essas trans-
formações afetam: 7 B
I. O suprimento de alimentos. 8 B
II. O regime de precipitações.
III. O recebimento de radiação solar. 9 A
IV. O aumento dos recursos naturais vitais. 10 B
Estão corretas as alternativas
(A) I, II, III e IV. 11 A
(B) II e III, apenas. 12 D
(C) I, II e IV, apenas.
13 D
(D) I, II e III, apenas.
14 A
14. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- 15 C
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “Várias características do am-
biente em que se processa o intemperismo influem diretamente
nas reações de alteração, no que diz respeito à sua natureza,
velocidade e intensidade. São os chamados fatores de controle
do intemperismo, basicamente representados pelo material pa-
rental, clima, topografia, biosfera e tempo.”
(Teixeira, W & Toledo, M.C.M de & Fairchild, T. R e Taioli, F.
Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003 p. 150.)

Dos fatores mencionados anteriormente, assinale o que,


isoladamente, mais influencia no intemperismo.
(A) Clima.
(B) Tempo.
(C) Biosfera.
(D) Topografia.

15. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-


BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Desde sua independência, o Pa-
quistão convive em uma contínua instabilidade interna e intensos
quadros de violência, levando geopolíticos a considerarem a área
como um barril de pólvora. Diante do exposto, analise.
I. A instabilidade interna é explicada pelas grandes diversi-
dades etnoculturais.
II. A radicalização religiosa, aliada à crescente influência de
grupos extremistas, tem levado o país a uma espiral sem fim de
violências.
III. O extremismo religioso se alimenta das enormes desi-
gualdades sociais e da proliferação da miséria.
IV. A renúncia do general Pervez Musharraf, que governava
o país desde 1999, e a instauração do governo civil, contribuíram
para uma estabilidade interna no país.
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a solução para o seu concurso!
HISTÓRIA

notado nas pinturas encontradas nas cavernas onde ficou o regis-


A HISTÓRIA DOS BRINQUEDOS: BRINQUEDOS DE OUTROS tro de momentos de divertimento e alegria; sendo assim notamos
POVOS E DE OUTROS TEMPOS que as brincadeiras sempre estiveram presentes nas sociedades do
mundo independente da região geográfica. No Brasil, a bagagem
histórica dos jogos e brincadeiras vem de uma junção de culturas e
Segundo relatado em arquivos históricos, os primeiros brin- povos distintos. Os indígenas já tinham suas brincadeiras de acordo
quedos existentes eram totalmente artesanais, feitos de pedra, me- com suas tribos e através dos acontecimentos históricos, brincadei-
tal e madeira. Com o desenvolvimento da humanidade e avanço ras de origem portuguesas e africanas foram instauradas em nossa
do tempo eles começaram a serem produzidos artesanalmente na cultura lúdica. Podemos associar facilmente brincadeiras e jogos à
Alemanha; muitos anos depois surgem as primeiras indústrias do brinquedos, porém as brincadeiras chegaram antes desses objetos
ramo. De acordo com fontes de pesquisas, o brinquedo mais antigo de divertimento; por exemplo a “amarelinha” que veio ao Brasil
são as bonecas que até hoje estão presentes em quase todas as cul- com influencia Francesa e se tornou uma das brincadeiras mais co-
turas além disso também eram de grande importância no contexto nhecidas no país até os dias de hoje. A ciranda também é uma brin-
religioso de cada época; a bola sem dúvida é um brinquedo que cadeira herdada de outra nação; o que antes era uma dança adulta
não podemos deixar de mencionar, existem relatos há mais de 2000 em Portugal se tornou parte da cultura brasileira no divertimento
anos o povo asiático já competia entre si em brincadeiras usando das crianças. Em outros países temos alguns exemplos de brincadei-
bolas feitas de retalhos de couro. Na Turquia a milhares de anos ras e jogos que atravessaram culturas e fronteiras, que até hoje são
atrás mesmo antes dos carros existirem, as crianças já brincavam passadas de geração em geração; como o “esconde-esconde” que
com automóveis em miniatura feitos de pedra. E no Brasil temos é uma brincadeira de origem alemã, a brincadeira de mão “jó-quei-
conhecimento dos primeiros brinquedos que eram produzidos pe- -pô” transliterado do termo japonês “jan-ken-pon” que as crianças
los indígenas, como por exemplo o arco e flecha, pião e a peteca imitavam pedra, papel e tesoura com as mãos; de origem asiática
que era feita de penas de aves e uma base mais sólida com areia ou também conhecemos e herdamos a brincadeira “cama-de-gato”
pequenas pedras. que consiste em trançar um barbante com as mãos.
Os objetos de divertimento estavam presentes em diversas civi- Ao longo do tempo existiu um período onde as brincadeiras
lizações desde os primórdios da humanidade como por exemplo os eram associadas aos jogos de azar e passaram a ter um papel im-
chineses e suas pipas, os egípcios e seus brinquedos mais voltados portante na educação infantil. Com o avanço do tempo as brinca-
para a lógica, romanos, gregos e etc. Há muito tempo atrás também deiras passaram a ser enxergadas como uma ferramenta para o
já eram notáveis aparições de brinquedos nas pinturas que foram desdobramento da inteligência e que favorecia o estudo, nisso no
descobertas nas cavernas, então vemos que esses artefatos para período Renascentista o brincar migrou para os ambientes escola-
a diversão do homem sempre estiveram presentes nas culturas da res para que a aprendizagem se tornasse mais lúdica e substituísse
humanidade; podemos perceber que esses objetos carregam muito outras formas de ensino. Até hoje as brincadeiras fazem parte do
valor desde o começo quando se fala de aprendizagem, imaginação, ensino infantil no Brasil e no mundo, o ensino lúdico-criativo é uma
educação e comunicação. forma eficaz de instigar a intelectualidade das crianças de forma
Muitos brinquedos surgiram ao longo da história também por recreativa, cumprindo um grande papel no desenvolvimento da
conta dos objetos de decoração em miniatura que eram feitos pelas criança como indivíduo e em sua cosmovisão a respeito das pesso-
mãos de artesãos do período da Reforma; isso começou a aguçar as e do mundo.
a imaginação das crianças de forma que os objetos eram cada vez
mais comuns dentro das casas. Com o consumismo e crescimento
da indústria no mundo, o crescimento e processo de desenvolvi- OS ESPAÇOS LÚDICOS NA CIDADE DE SÃO PAULO:OS ESPA-
mento desse ramo aflorou em larga escala nos lugares mais desen- ÇOS DE LAZER E BRINCADEIRAS NA CIDADE DE SÃO PAULO
volvidos do mundo; país como Alemanha, Inglaterra, Estados Uni-
dos e França foram pioneiros na industrialização dos brinquedos e
inovaram com técnicas de produção totalmente novas ao que era A cidade de São Paulo é um lugar muito inclusivo quando se
de costume nos produtos convencionais das indústrias. trata de diversidade de eventos para diferentes propósitos, gostos e
faixas etárias. Quando direcionamos o foco para crianças, podemos
considerar que existem diversos programas criados com o intuito
A HISTÓRIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS: NOSSAS BRIN- de estimular a aprendizagem, informação e ciência através de es-
CADEIRAS E DE OUTRAS CULTURAS E ÉPOCAS paços interativos; brinquedotecas, museus, bibliotecas, exposições
e parques são ambientes lúdicos voltados diretamente para o de-
senvolvimento intelectual, emocional e criativo das crianças. Esses
Para relembrar o contexto histórico dos jogos e brincadeiras, espaços não tem apenas o objetivo de entreter o público infantil,
precisamos voltar até o tempo da Pré-História onde o homem na- mas realmente tem uma capacidade enorme de formar e preparar
turalmente já elaborava brincadeiras entre seu grupo, isso pode ser
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a solução para o seu concurso!
HISTÓRIA
crianças para vivências de situações reais da vida cotidiana, brin- era uma relação harmoniosa hoje precisa de “reconciliação”, o que
cando que a criança pode aprender sobre política, leis e trânsito, privilegiava o homem em sua abundância hoje precisa de medidas
por exemplo. corretivas e planos de ação.
Na capital do estado de São Paulo, temos espaços voltados
para o lazer, brincadeiras e aprendizagem. As oficinas de arte que
propiciam experiência de “mão na massa” através da música, teatro O MODO DE VIDA URBANO NO PRESENTE E NO PASSADO
e até mesmo dança e esse momento não se baseia apenas no que é
palpável, mas também ajuda o público infantil a se expressar livre-
mente. Os lugares que proporcionam o acesso aos jogos educativos Desde os tempos antigos, quando o avanço das técnicas de tra-
como jogos de tabuleiro, de montar, os desenvolvem na concentra- balho e aumento da população nas demarcações geográficas for-
ção e raciocínio lógico; sem contar a grande aprendizagem sobre çaram a divisão de urbano e rural, o modo de vida urbano tomou
cooperação quando se diz respeito a jogos interativos. Para exem- proporções gigantescas em relação à vida no passado e em com-
plificarmos lugares que expressam esse objetivo temos o Catavento paração ao início desse processo. A evolução da civilização revela
Cultural que está localizado no Brás e recebe crianças para quelas importância social desse modo de vida para aqueles que no passa-
aprendam enquanto a diversão é garantida. Outro lugar parecido do arriscaram tudo apostando na demanda de produção e trabalho
com esse é o Museu da Imaginação localizado na zona sul de São da vida urbana, proporcionando assim condições favoráveis para o
Paulo; e tem o intuito de inteirar as crianças no mundo artístico desenvolvimento de suas condições sociais.
usando exposições participativas e com livre acesso para que sejam Nos dias de hoje o modo de vida urbano implica em lidar com
tocadas e experimentadas. Existem muitos outros lugares que se diferentes dilemas nos grandes polos da urbanização. Ao mesmo
encaixam no tema abordado e que poderíamos citar aqui, até mes- tempo que favorece o crescimento da empregabilidade, atividades
mo em shoppings é cada vez mais comum espaços destinados para culturais e lazer; sofre com a superlotação, escassez de recursos,
que as crianças fiquem brincando enquanto os pais cumprem seus aumento de moradias precárias e muitas vezes consideradas inabi-
compromissos ou atividades de lazer. Sendo assim, podemos consi- táveis. Outra característica forte da vida urbana atualmente é a for-
derar que os espaços lúdicos cumprem grande papel na sociedade ma que a população tenta se prevenir da violência urbana através
desde a economia e claro no objetivo principal, que é a educação de comportamentos e padrões de segurança, como por exemplo
e o lazer. casas protegidas por paredes de condomínio e guaritas; os vidros
escuros de insufilm dos veículos para proteção contra roubo e fur-
to; até as diversas rondas diárias feitas pelos órgãos de segurança
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES DAS SOCIEDADES COM AS pública para segurar a demanda de denúncias. Porém isso apenas
ÁGUAS E OS RIOS reflete as consequências do crescimento do território urbano devi-
do ao aumento populacional, hoje mais da metade da população
mundial habita em áreas urbanas; isso inclusive como reflexo da
Os rios e a água além de essenciais pra que exista vida e cres- modernização do campo ao longo do tempo.
cimento, sempre tiveram um papel indiscutível no âmbito social, Falando da vida urbana no passado, precisamos viajar até o
habitacional, econômico, sustentável e jurídico de um sistema orga- período neolítico onde ocorreu a mudança da vida nômade para a
nizado e amontoado de indivíduos. Desde o princípio a humanidade vida em comunidade e na necessidade de exercer o trabalho coleti-
se desenvolve às beiras dos rios, a relação do homem com a água vo. Nisso se instauraram outras atividades além da produção agríco-
basicamente sempre foi baseada na necessidade e isso gerou con- la, dando origem ao comércio, escambo e poder de compra e ven-
sequências positivas e negativas para as sociedades do mundo. Por da; e desse modo os ambientes habitados pela população em seu
um longo período da história o homem vagava por territórios sem novo modo de vida precisavam de organização. A industrialização
estabelecer um lugar fixo, quando um estilo de vida mais seden- de matérias primas e o desenvolvimento tecnológico mobilizou um
tário passou a ser adotado, o homem percebeu-se obrigado a se expressivo número de pessoas na procura de empregos e moradias;
realocar para lugares com fácil acesso à água; ou seja, margens de sendo esse o objetivo principal da vida urbana nos tempos remotos,
rios e lagos, mares e locais onde havia possibilidade de abrir poços; podemos considerar que a busca por uma qualidade de vida melhor
isso devido à necessidade de garantir a sobrevivência e saúde de é um fator atemporal no modo de vida urbano.
suas famílias. Como o ser humano tem a capacidade de reinven-
tar o mundo caracterizando aquilo que toca com as mãos, a água
contribuiu para o crescimento do trabalho agrícola, da cerâmica e
das grandes construções; o que fez o homem crescer no “poder ca-
pital” e assim cidades e centros foram se formando na passagem
do tempo.
Através da água o homem se locomove em grandes percursos
de longas distâncias, os rios geram fontes de renda para pescadores
até os dias de hoje. A água gera energia hidráulica dando vida às
usinas hidrelétricas e desse modo produzem energia elétrica para o
benefício do homem. Um contraponto nessa história é que mesmo
a água sendo o recurso natural mais importante para a vida na ter-
ra, o ser humano também tem a capacidade de degradar e segregar
àquilo que lhe apraz em troca de seu próprio bem estar; o que era
pra ser de fácil acesso todos está em escassez para a população,
os rios que antes banhavam o solo das cidades hoje precisam de
tratamentos e medidas contra a poluição e substâncias químicas
derramadas dos encanamentos das grandes indústrias. O que antes

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a solução para o seu concurso!
LÍNGUA PORTUGUESA

Nível 5 - hipótese do processo de aquisição da escrita ou da


AQUISIÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA escrita alfabética: a criança se conscientiza sobre a função social
da escrita: a comunicação. Mesmo que, na passagem do nível an-
terior para este, a criança ainda não seja capaz de separas todas
A escrita é um sistema de símbolos, e o processo que conduz as palavras na frase ou possa esquecer de alguma (s) letra (s), ela
um sujeito à sua aquisição foi pesquisado por muitos especialistas, demonstra que conhece a forma de construção da escrita. Nessa
sendo que as pedagogas Ana Teberosky e Emília Ferreiro organiza- fase, a criança compreende que cada caractere tem valor menor
ram esse processo em cinco níveis:   que a sílaba e também sabe o valor sonoro de todas (ou que todas)
as letras.
Nível 1 - hipótese pré-silábica: se escrever é reproduzir os tra-
ços característicos da escrita, o que se verifica esse nível é a ine-
xistência da distinção entre grafia (desenho) e palavra (escrita), LINGUAGEM ORAL E ESCRITA. VARIEDADE LINGUÍSTICA:
pois os contornos possuem profundas semelhanças. Nessa fase, PRECONCEITO LINGUÍSTICO, NORMA CULTA E NORMA-PA-
são frequentes (e podem se combinar) as linhas curvas abertas ou DRÃO
fechadas, os grafismos separados e os desenhos. A interpretação
está vinculada à condição pré-silábica e à intenção subjetiva e do
escritor, já que cada um compreende a sua própria escrita, porém Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado na pri-
não a dos outros, ou seja, apenas o autor da escrita é capaz de dizer meira matéria de “Língua Portuguesa” da apostila.
o que foi feito. Assim, nessa fase, a escrita pode não constituir veí- Não deixe de conferir!
culo de comunicação.   Bons estudos!
Nível 2 - hipótese intermediária: a criança começa a perceber
a relação existente entre pronúncia e escrita, e também passa a di-
ferenciar a escrita dos desenhos, das letras e dos números. Suas LÍNGUA E LINGUAGEM: CONHECIMENTOS PRAGMÁTICOS,
produções se aperfeiçoam em relação à fase anterior. Mesmo as- CONHECIMENTOS DISCURSIVOS, CONHECIMENTOS TEX-
sim, o que se observa nesse nível é que, para que a criança leia TUAIS, CONHECIMENTOS GRAMATICAIS E CONHECIMEN-
coisas distintas (atribuir sentidos diferentes), é necessário que as TOS NOTACIONAIS
escritas sejam diferentes em termos de quantidade ou variedade
de caracteres. Dessa modo, por ainda preservar as hipóteses da
quantidade mínima e da variedade de caracteres, as habilidades da CONHECIMENTOS PRAGMÁTICOS
criança restringem-se à escrita de palavras que ela teve interesse A pragmática é a especialidade da linguística que se dedica ao
ou oportunidade de memorizar, a começar pelo seu próprio nome.  estudo do uso real da linguagem sob a perspectiva dos usuários de
Nível 3 - hipótese silábica: momento no qual a criança começa uma língua em seus diversos contextos. A pragmática foca sua aná-
a fazer correlação entre os signos (sinais gráficos) e os sons, fazen- lise nas escolhas lexicais, nas restrições que se apresentam no em-
do uso de um signo para exprimir uma sílaba. Isto é, nessa fase, as prego da linguagem em dadas interações sociais e, especialmente
letras passam a ser utilizadas com recursos silábicos fixos, e a dife- nos impactos que da utilização da linguagem sobre os outros par-
rença entre esse novo nível e o anterior constitui um desenvolvi- ticipantes durante a comunicação. Isto é, os estudos pragmáticos
mento educacional da criança. Com esse amadurecimento, a crian- investigam a semântica e a sintaxe nos seus sentidos partir da ob-
ça adquire a consciência de que a escrita representa a fala e passa a servação dos atos de fala e seus encadeamentos sociais e culturais.
buscar por atribuir às letras valores sonoros, suspeitando que cada Posto isso, pode-se afirmar que: 
sinal deve ser escrito conforme se mexe a boca, ou seja, que cada - a pragmática é a zona de confluência entre o emprego lin-
sílaba oral será correspondente a um sinal ou letra. Por isso, nesse guístico e o emprego comunicativo, constatando o vínculo inerente
nível, a criança costuma escrever as frases representando uma letra entre a linguagem e o contexto comunicativo em que ela está sendo
para cada palavra.   exercida.  
Nível 4 - hipótese silábico-alfabética: a criança começa a tentar - segundo a pragmática, o que importa é o uso e os impac-
associar as representações sonora e gráfica, passando a buscar por tos gerados pelos atos de fala, ou seja, a comunicação e o exercício
símbolos para exprimir a escrita de um dado objeto. Com isso, ela da linguagem entre os falantes de uma língua, focando nos profes-
pode fazer a combinação de somente vogais ou somente consoan- sos de inferência pelos quais se compreende o que está implícito. 
tes, produzindo grafia correspondentes para palavras distintas, ou - para a pragmática, a situação na qual a comunicação está
mesmo fazer a combinação de vogais e consoantes em uma única sendo exercida é fundamental para o entendimento do enunciado
palavra, tentando ajustar os sons, porém, sem constituir ainda, uma proferido, sendo que, a capacidade do falante de entender os dis-
escrita associada.   cursos implícitos será maior conforme o seu nível de domínio da
linguagem. 

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CONHECIMENTOS DISCURSIVOS - Objetivo do ensino gramatical: esse tema é apenas uma
O PCN trouxe grande avanço ao ensino de Língua Portuguesa das condições para que o aluno domine a língua. Com isso, é preciso
ao propor o ensino de língua materna com base no viés enuncia- propor e trabalhar atividades discursivas, que ofereçam ao educan-
tivo-discursivo. É importante saber que toda ação discursiva se do oportunidades de argumentação, influenciando o desenvolvi-
realiza por meio de textos, e a produção de um texto constitui o mento do exercício do discurso como um todo.  
resultado da prática comunicativa, que se estabelece conforme os - PCN: os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Mé-
princípios discursivos.   dio concorrem com a fundamentação dos objetivos ao afirmar que
- Língua e linguagem: no âmbito da ação discursiva, língua “compreender a língua é saber avaliar e interpretar o ato interlocu-
e linguagem, ao mesmo tempo que são termos com sentidos distin- tivo, julgar, tomar uma posição consciente e responsável pelo que
tos, constituem elementos fundamentais da prática comunicativa. se fala/escreve.” (BRASIL, 2000). O que quer dizer que saber utilizar
Assim, o vocábulo linguagem está relacionado à capacidade de in- das regras não é suficiente em si, mais que isso, é necessário que
teração verbal que apenas os seres humanos possuem, recurso que também conduzir os alunos para um domínio reflexivo e crítico da
possibilita o processo de comunicação entre os sujeitos discursivos. língua, para que sua capacidade discursiva seja ampliada.  
Quanto à língua, esta pode ser entendida como um sistema de sig- - Necessidade de contextualização: de acordo com o PCN
nos, um grupo de sinais empregados para a efetivação da comuni- “o processo de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa deve
cação social. Diante sido, a interatividade verbal torna-se um fato basear-se em propostas interativas de língua/linguagem [...]” (BRA-
elementar da língua.   SIL, 2000). Isso quer dizer que atualmente o professor não deve
- Representação: língua e linguagem se apresentam na dar prioridade ao estudo gramatical fora de contexto, em razão
prática da comunicação interacional e do diálogo, envolvendo locu- necessidade de o aluno compreender as expressões utilizadas nas
tor e interlocutor, que, por sua vez, nessa interação, sustentam as diversas situações comunicativas. Mas o que se tem observado na
crenças e os valores a serem compartilhados. Isso passa a constituir prática é exatamente o contrário: em sala de aula, a assimilação
uma realidade quando o enunciador estabelece um diálogo com o da nomenclatura gramatical tem sido o eixo central da abordagem
enunciatário e este não constitui apenas um decodificador de men- dos estudos gramaticais na escola, pois muitos docentes ainda não
sagem, mas um agente ativo na construção de sentido. É nesse sen- adaptaram suas aulas para essa nova perspectiva de ensino.
tido, o discurso é mais do que uma criação, é uma representação.  - Três novas instâncias da gramática em sala de aula: de
- Gêneros do discurso: textos formais, informais, verbais, acordo com a nova perspectiva que vem sendo construída nesse
não-verbais, visuais, didáticos, literário, poético e científicos.  sentido, o ensino gramatical nas escolas deve abranger: 1) articula-
ção da leitura; 2) articulação da produção textual; 3) análise linguís-
CONHECIMENTOS TEXTUAIS tica. Fica a cargo dos docentes, durante as aulas de língua portugue-
O conhecimento textual se forma pelos diversos tipos de textos sa, não elegerem um texto somente para lecionar conhecimentos
como: narração, descrição, injunção, exposição, etc. e pela maneira gramaticais, mas tendo em vista sempre algo que sirva como com-
que se estabelece suas estruturas linguísticas.   plementação para esse ensino, o que assegura também garantindo
Juntamente com os conhecimentos linguístico e de mundo, os também o êxito no desenvolvimento das práticas discursivas. 
conhecimentos relativos ao texto contribui para o chamado conhe-
cimento prévio importante para a compreensão durante a leitura. CONHECIMENTOS NOTACIONAIS
Assim, quanto mais conhecimento textual o leitor possuir, quanto Definição: os conhecimentos notacionais estão relacionados à
maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua com- natureza alfabética do sistema de escrita da língua portuguesa, mais
preensão, visto que o conhecimento das estruturas textuais e dos especificamente, ao que diz respeito à ortografia e a determinados
tipos de discurso designará, em grande proporção, suas expecta- vocábulos e expressões. Em razão disso, esses conhecimentos são
tivas em relação aos textos, expectativas tais que desempenham comumente associados a problemas como dúvidas relacionadas à
papel significativo na compreensão. Os conhecimentos textual, lin- ortografia e à semântica — no que tange aos termos parônimos e
guístico e de mundo são ativados no decorrer da leitura para poder homônimos.   
se chegar ao momento da compreensão, momento esse que passa Importância: a assimilação dos conhecimentos notacionais
desapercebido, em que as partes discretas se unem para construir tem como objetivo orientar melhor a priorização de determinados
um sentido. aspectos nas atividades de ensino, pois conhecer bem a escrita das
No que diz respeito ao conhecimento textual, em especial, é palavras impacta positivamente na construção do discurso.  
importante afirmar que o leitor não se dirige despreparado para O Sistema de escrita Alfabética (SEA):  podemos afirmar que
uma leitura. Conforme o tipo de texto que vai ser lido, ele ativa seu o SEA é um sistema notacional, pois ele nada mais é do que um
conhecimento de tipologia textual.  sistema de representação, ou seja, a escrita alfabética é reconheci-
  da como um objeto do saber que propicia aos alunos uma reflexão
CONHECIMENTOS GRAMATICAIS mais consciente sobre as palavras. Em outras palavras, o SEA auxilia
O ensino relativo aos conhecimentos gramaticais vem sendo a criança na percepção da escrita como um objeto de conhecimen-
considerado, cada vez mais, com reflexões sobre a sua abordagem to, que será fundamental para garantir a compreensão, a reflexão
nas aulas de Língua Portuguesa. Para Antunes (2007), o ensino de consciente da palavra e, por conseguinte, a apropriação do SEA.  
gramática abrange “todas as regras do uso da língua”, sendo que,
neste ensino, faz-se crucial que o aluno conheça sobre o seu uso Exemplos
para atuar com maior eficácia nos diversos contextos sociais. Além DE MAIS e DEMAIS 
disso, Antunes define gramática como “normas que especificam os “Tomamos vinho de mais” = locução adjetiva, significa muito,
usos da língua, que ditam como deve ser a constituição de suas vá- oposto de menos. 
rias unidades em seus diferentes estratos”. Sobre os conhecimentos “Percebemos o erro tarde demais. “= advérbio de intensidade,
gramaticais no âmbito da educação básica, pode-se afirmar que:  o mesmo que excessivamente. 
“Demais, ele ainda conseguiu fugir.” = palavra continuativa, sig-
nifica além disso. 

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“Ele saiu da reunião sem se despedir dos demais.” = pronome
indefinido, significa os outros.   PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS:
PRODUÇÃO PARA APROFUNDAMENTO, PRODUÇÃO POR
APARTE e À PARTE  FREQUENTAÇÃO
“Se iniciarem uma briga, aparte!” = modo imperativo do verbo
apartar, significa separar.  
“Esses documentos devem ser arquivados à parte.” = locução A prática de produção de textos orais e escritos foi considerada
adverbial, significa colocar de lado. de duas formas diferentes no decurso da educação básica: 
1) Produção para aprofundamento: produção de texto com
a finalidade de ampliar o conhecimento do aluno acerca de um
CAPACIDADES, PROCEDIMENTOS E COMPORTAMENTOS gênero específico (e sua prática social concernente), demandando
DE PRODUÇÃO, LEITURA DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS um trabalho mais aprofundado ao longo de um determinado ano
do ciclo (regras de convivência; convites para festas escolares; bi-
lhetes para os responsáveis; bilhetes de solicitação de materiais,
A leitura e a produção oral e escrita são práticas sociais, e, em- entre outros), o que pressupõe a triagem de modalidades organi-
bora sua promoção não seja função exclusiva da educação formal, zacionais apropriadas.
a escola é responsável pela sua ampliação. Diante dessa incumbên- 2) produção por frequentação: existem textos que podem ser
cia, a escola assume perspectivas capazes de representar ou não as produzidos ao longo de um dado ciclo/ano, sem que demandem
relações de poder que há entre língua/linguagem e sociedade.   um trabalho de aprofundamento, mas a chamada produção por
frequentação. A elaboração de uma revista ou jornal escolar é um
PROCEDIMENTOS exemplo: não há possibilidade de se produzir textos organizados
A introdução de textos na metodologia de alfabetização consti- em todos os gêneros que circulam nesses noticiares se o aprofun-
tui uma estratégia pedagógica de extrema relevância, pois a escrita damento for o tratamento didático oferecido a cada um. De outro
é um processo de notação alfabética, de convenção de sinais de fun- modo, faz-se a escolha por um gênero para aprofundamento e os
damento ortográfico e fonológico, mas, ao mesmo tempo, é uma outros é produzido por frequentação, isto é, com a compilação fei-
prática social discursiva. Isto é, a leitura ou a produção de um texto, ta pelos dos alunos complementada por uma recomendação bá-
seja oral ou escrito, envolve questões de natureza linguística, cog- sica do professor. Um texto produzido por frequentação, assim, é
nitiva, discursiva, social, entre outras. Como refletiu Bakhtin (2003) aquele que surge com base no conhecimento que o aluno adquiriu
,” a palavra está carregada de um sentido ideológico, de previamente por ter frequentado as práticas sociais nas quais es-
um sentido vivencial”. Nesse sentido, Paulo Freire (2018) ses gêneros ocorrem, o que lhe proporcionou o contato com eles e
também alertou sobre a ineficiência de ensinar de forma mecânica conhecimento sobre seu funcionamento. O aprendizado em anos
que “Eva viu a uva”, pois é fundamental que se compreenda a posi- anteriores e convivência em sociedade podem, desse modo, ter via-
ção de Eva no seu âmbito social, assim como a pessoa que produz a bilizado a familiaridade com esse objeto de conhecimento.
uva e a que obtém o lucro dessa atividade. 
A leitura e a produção de textos orais e escritos não são
ensinadas apenas considerando o sistema de escrita ou a estrutura CONTEXTO E OPERADORES DA PRODUÇÃO DE TEXTO
linguística. Isso em razão de esses conhecimentos serem ativida-
des sociais e, por conseguinte, práticas discursivas e socioculturais
vigentes em um determinado período histórico, por uma determi- Contextualizando: em razão de o texto ser o meio pelo qual
nada sociedade, imersa em uma determinada conjuntura social e língua se revela em sua totalidade (como forma ou como discurso),
concernente a um dado grupo ético racial.   a produção textual é eixo que permeia todo o processo de ensi-
Capacidades:  sob essa concepção, pode-se afirmar que a es- no-aprendizagem. À proporção que a criança desenvolve habilites
cola constitui o locus apropriado para tais práticas, pois é ambiente para fazer uso da língua, ela também desenvolve a capacidade de
para se fazer uso da palavra, para produzir sentido, para falar de argumentar, afinal, a argumentação está insculpida na linguagem.
assuntos relevantes ou não relevantes. A escola é ambiente ade- Na mente da criança existe uma macroestrutura narrativa que se
quado para ampliação das possibilidades de emprego da linguagem manifesta em elementos lexicais cujas funções são introduzir, re-
na busca pelo desenvolvimento das capacidades linguísticas, cogni- tomar e relacionar, nas operações narrativas, fatos, personagens e
tivas, textuais e discursivas dos indivíduos.   diálogos. Esses itens recebem o nome de operadores argumentati-
Comportamentos: muitos processos perpassam fortemente vos, e seu uso é determinado por uma necessidade narrativa.
pelas práticas sociais de leitura e de produção oral e escrita no pro-
cesso de alfabetização. Por exemplo, a partir da palavra, a escola Os operadores textuais: também chamados de operadores
pode promover comportamentos como o respeito e a solidarieda- argumentativos, são responsáveis pela estruturação os enunciados
de; combater a discriminação e o racismo; impulsionar as percep- em textos, por meio de encadeamentos, atribuindo-lhes uma refe-
ções de igualdade e justiça; estimular a imaginação e a criatividade, rência argumentativa, podendo ser classificados em:
entre outros.  1. organização tópica: se desdobra em retomada e ruptura 
2. progressão narrativa: envolve as subfunções mudança de
condição narrativa, adição, progressão temporal, causa e efeito,
ênfase e conclusão. 
3. interação: se desdobra em interpelação, ênfase interroga-
tiva/exclamativa e contestação.  
4. contrajunção: envolve as subfunções quebra de
expectativa, retificação e ressalva.  

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Funções dos operadores: esses operadores textuais são um
tipo de “gancho” que sustenta a progressão da narrativa e po- MODALIDADES DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE PRODUÇÃO
dem funcionar como:  adição, progressão temporal, conclusão/ DE TEXTOS: RECONTO, REESCRITA COM ESCRIBA, PRODU-
finalização, mudança de condição de narrativa e ênfase.  ÇÃO COLETIVA COM ESCRIBA, ESCRITA DE TEXTO QUE
Abordagem do professor/escola: em geral, os operadores tex- SE SABE DE MEMÓRIA, REESCRITA DE TEXTO, REESCRITA
tuais utilizados pelas crianças são: “mas”, “aí”, “então” e “e”. O dis- COM MODIFICAÇÕES, PRODUÇÃO DE PARTES DOS TEX-
curso didático pode acostumar o estudante à repetição apenas das TOS QUE NÃO SE CONHECE, TEXTO DE AUTORIA
experiências textuais convencionadas pela escola. Assim, o docente
instrui a evitar o emprego das conjunções “mas”, “aí”, “então” e “e”
como dispositivos de progressão textual e coesão, tendo em vista • Reconto: é a  reconstrução oral de um texto modelo.
que são inapropriados na linguagem escrita. Consiste na imitação com base em um texto que já existe, podendo
ser uma notícia, um anúncio, um texto expositivo, um conto clássi-
co, etc. 
MODALIDADES DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE LEITURA: • Reescrita com escriba: no desempenho do papel de es-
LEITURA PONTUAL, LEITURA COLABORATIVA/COMPARTI- criba aos transcrever a fala dos estudantes. Ele solicita aos alunos
LHADA, LEITURA PROGRAMADA, LEITURA EM VOZ ALTA que recriem oralmente um texto. Nesse processo, o professor con-
FEITA PELO PROFESSOR, RODA DE LEITORES, LEITURA segue trabalhar o comportamento escritor, as distinções entre as
PROGRAMADA linguagens oral e escrita, bem como a relevância de poder revisar
as produções, sejam individuais ou coletivas.
• Produção coletiva com escriba: a composição do texto
• Leitura pontual: essa modalidade de leitura leva em conta coletivo pela turma sob a orientação do professor constitui etapa
a habilidade do docente de separar as informações fundamentais fundamental na sequência didática no ensino de gêneros textuais.
daquelas que têm pouca relevância. Nessa abordagem, o leitor con- Durante esse exercício, a classe organiza a síntese do que foi apren-
segue participar do processo de modo dialógico, fazendo uso de dido nas aulas anteriores, proporcionando um progresso pessoal a
suas vivências culturais para a compreensão do texto.  cada aluno no nível de aprendizagem efetivado. É importante res-
• Leitura colaborativa/compartilhada: esse tipo de leitura saltar que o professor, apesar de não ser autor do texto, nem um
integra professor e alunos que, juntos, fazem a leitura de um mes- mero escriba, tem autoridade para contribuir, propondo questões e
mo texto e expõem suas percepções sobre o que foi lido. O objetivo dando sugestões.  
dessa modalidade é ensinar a ler e favorecer o acordo entre leitor • Escrita de texto que se sabe de memória: os objetivos
e ouvinte.  desse procedimento podem ser resumidos em 1) ler e escrever tex-
• Leitura programada: é a leitura que auxilia na amplia- tos conhecidos de memória, ajustando o oral ao escrito; 2) construir
ção da proficiência leitora, especialmente no que diz respeito à conhecimentos sobre o funcionamento do sistema alfabético de es-
extensão dos textos trabalhados ou à seleção de textos de maior crita; 3) para alunos alfabetizados, refletir sobre algumas conven-
complexidade. Nessa modalidade, o docente segmenta o texto em ções ortográficas. Nessa abordagem, valem quaisquer parlendas,
passagens que serão lidas uma a uma, de forma independente e, cantigas de roda ou adivinha que os alunos apreciem. O que impor-
finalmente, comentadas em classe em discussão coletiva.  ta é que todos eles conheçam o conteúdo de cor. Para escrever, as
• Leitura em voz alta feita pelo professor: essa modalidade crianças precisam pensar quais e quantas letras devem utilizar e em
é proposta, essencialmente, para as turmas de alunos não alfabeti- que ordem elas devem ser postas.
zados, como alternativa de aprendizado da linguagem escrita mes- • Reescrita de texto: a reescrita é considerada uma propos-
mo antes de terem assimilado o sistema.   ta muito mais completa do que as redações e que possibilita que o
• Roda de leitores: o maior benefício dessa modalidade é aluno, como base em um texto modelo que será reescrito, a obser-
a oportunidade de socialização entre os estudantes de uma leitura vação dos diversos aspectos da língua escrita, ao longo da escolari-
compartilhada sucedida por uma conversa acerca do conteúdo lido dade. Em face da missão de escrever um texto que já é conhecido,
por todos, porquanto cada um pode expressar seus pontos de vista. os estudantes podem tomar uma escrita como modelo e se dedicar
Além disso, todos podem observar e o professor tem a oportunida- a ela. Não consiste em uma cópia, mas em uma imitação que requer
de de trabalhar os elementos de oralidade, como pausas, ênfases um processo de desconstrução e reconstrução do texto. 
entonação de voz. Cabe destacar que Paulo Freire afirmou que a • Reescrita com modificações: as reescritas podem propor
chamada pedagogia da roda constitui uma forma de inclusão e modificações no texto, mas não corresponde a um simples exercí-
democratização dos conhecimentos, na qual tanto “se fala” como cio de criatividade como nas redações; a atividade de reescrita é
“se escuta” (FREIRE, 19891).  muito mais complexa, tendo em vista que, para dar continuidade a
um texto, alterar seu final ou realizar inserções, é necessário que se
garanta as coerências textual e temática. 
• Produção de partes dos textos que não se conhece: com-
pletar trechos de um texto ou mesmo os exercícios de frases para
completar são atividades de alfabetização que proporcionam um
método de leitura, com o propósito de fazer uso da reflexão sobre
a importância da leitura. 
• Texto de autoria: na composição de textos, as crianças
devem iniciar contando, recontando e criando histórias oralmente,
e em algumas situações, o professor é o escriba dessas narrativas.
Após, passam para escritas com a ajuda dos colegas e do professor,
até chegarem à escrita a autônoma. Em outras palavras, a escrita
autônoma tem o objetivo de produzir, sem o auxílio do escriba, his-
1 FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se comple-
tam.23ª ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.
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tórias imaginadas ou baseadas em livros de imagens, respeitando a Observação
forma de composição dos textos narrativos, ou seja, aspectos como Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica
enredo, personagens, espaço e tempo. oposição masculino/feminino.
Exemplos
livrO, dentE, paletó.
PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA: CARACTERÍSTICAS
DOS TEXTOS E GÊNEROS, COESÃO, COERÊNCIA, SEGMEN- Tema: União do radical e a vogal temática.
TAÇÃO, ASPECTOS SEMÂNTICOS E LEXICAIS, ASPECTOS Exemplos
GRÁFICOS, VARIAÇÃO LINGUÍSTICA CANTAr, CORREr, CONSUMIr.

Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se


Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado na pri- interpõem aos vocábulos por necessidade de eufonia.
meira matéria de “Língua Portuguesa” da apostila. Exemplos
Não deixe de conferir! chaLeira, cafeZal.
Bons estudos!
Afixos
Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois do
MORFOLOGIA radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Dividem-
se em:
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical.
ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS Exemplos
As palavras são formadas por estruturas menores, com DISpor, EMpobrecer, DESorganizar.
significados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem
para a formação das palavras. Sufixo
Afixo que se coloca depois do radical.
Estrutura das palavras Exemplos
As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas contentaMENTO, reallDADE, enaltECER.
menores - os morfemas, também chamados de elementos mórficos: 
– radical e raiz; Processos de formação das palavras
– vogal temática; Composição: Formação de uma palavra nova por meio da
– tema; junção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos:
– desinências;
– afixos; Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na
– vogais e consoantes de ligação. estrutura fonética das primitivas.
Radical: Elemento que contém a base de significação do Exemplos
vocábulo. passa + tempo = passatempo
Exemplos gira + sol = girassol
VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.
Aglutinação: Formação de palavra composta com alteração da
Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos. estrutura fonética das primitivas.
Exemplos
Dividem-se em: em + boa + hora = embora
vossa + merce = você
Nominais
Indicam flexões de gênero e número nos substantivos. Derivação:
Exemplos Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva.
pequenO, pequenA, alunO, aluna. Temos:
pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas.
Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de
Verbais um prefixo ao radical da primitiva.
Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos Exemplos
Exemplos CONter, INapto, DESleal.
vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo)
vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número) Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um
sufixo ao radical da primitiva.
Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem. Exemplos
Exemplos cafezAL, meninINHa, loucaMENTE.
1ª conjugação: – A – cantAr
2ª conjugação: – E – fazEr Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de
3ª conjugação: – I – sumIr um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo.
Exemplos
EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR.

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Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra satis – bastante: satisdar.
primitiva. sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé.
Exemplo subter – por baixo: subterfúgio.
Todos ficaram encantados com seu  andar: verbo usado com super, supra – posição superior, excesso: super-homem,
valor de substantivo. superpovoado.
trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro.
de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo.
geral de um verbo para substantivo ou vice-versa. uni – um: unânime, unicelular.
Exemplos
combater – o combate Grego: Os principais prefixos de origem grega são:
chorar – o choro a, an – privação, negação: ápode, anarquia.
ana – inversão, parecença: anagrama, analogia.
Prefixos anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro.
Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em: anti – oposição: antipatia, antagonista.
vernáculos, latinos e gregos. apo – afastamento: apólogo, apogeu.
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo.
Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou caco – mau: cacofonia.
foram aportuguesados: a, além, ante, aquém, bem, des, em, entre, cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia.
mal, menos, sem, sob, sobre, soto. deca – dez: decâmetro.
Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como:  dia – através de, divisão: diáfano, diálogo.
abordar, além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição, dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia.
menosprezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc. en – sobre, dentro: encéfalo, energia.
endo – para dentro: endocarpo.
Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina epi – por cima: epiderme, epígrafe.
original: eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia.
a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar. hecto – cem: hectômetro.
a, ad – aproximação, direção: amontoar. hemi – metade: hemistíquio, hemisfério.
ambi – dualidade: ambidestro. hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole.
bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário. hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia.
centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado. homo – semelhança, identidade: homônimo.
circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante. meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase.
cis – aquem de: cisalpino, cisgangético. míria – dez mil: miriâmetro.
com, con, co – companhia, concomitância: combater, mono – um: monóculo, monoculista.
contemporâneo. neo – novo, moderno: neologismo, neolatino.
contra – oposição, posição inferior: contradizer. para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo.
de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento: penta – cinco: pentágono.
decrescer, deportar. peri – em volta de: perímetro.
des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar. poli – muitos: polígono, polimorfo.
dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária: pro – antes de: prótese, prólogo, profeta.
distrair, dimanar.
entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha, Sufixos
entrevista. Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial.
ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade,
privação, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor. Nominais
extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordinário. Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama.
im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar, Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -astro,
ingrato. -az.
inter – no meio de: intervocálico, intercalado. Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista.
intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer. Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório.
justa – perto de: justapor. Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato.
multi – pluralidade: multiforme. Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico.
ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo. Origem, procedência: -estre, -este, -esco.
pene – quase: penúltimo, península.
per – movimento através de, acabamento de ação; ideia Verbais
pejorativa: percorrer. Comuns: -ar, -er, -ir.
post, pos – posteridade: postergar, pospor. Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar.
pre – anterioridade: predizer, preclaro. Incoativos: -escer, -ejar, -itar.
preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural. Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar.
pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir,
procurador, pronome. Adverbial = há apenas um
re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repetição: MENTE: mecanicamente, felizmente etc.
regressar, revirar.
retro – movimento para trás: retroceder.
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CLASSES DE PALAVRAS a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
Substantivo macho/palmeira fêmea.
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.  testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
Classificação dos substantivos para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
o/a estudante, o/a colega.
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
sua estrutura. macaco/sabão – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
são formados por mais de um porta-voz/ • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
radical em sua estrutura. pé-de-moleque diminutivo.
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/ – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
são os que dão origem a mundo/ – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
outras palavras, ou seja, ela é população – Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
a primeira. /formiga – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/ Adjetivo
são formados por outros populacional/formigueiro É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo:
radicais da língua. imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão com-
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo posta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por
designa determinado ser /Brasil preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo:
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vesper-
espécie. São sempre iniciados Liberdade tino).
por letra maiúscula.
Flexão do Adjetivos
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
• Gênero:
referem-se qualquer ser de cachorro/prima
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
uma mesma espécie.
no: homem feliz, mulher feliz.
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
própria. Esses seres podem /lobisomem japonesa, aluno chorão/ aluna chorona. 
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
reais ou imaginários. • Número:
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/ – Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
nomeiam ações, estados, bondade/ número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
qualidades e sentimentos que confiança/ res, japonês/ japoneses.
não tem existência própria, ou lembrança/ – Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
seja, só existem em função de amor/ branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.
um ser. alegria
• Grau:
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/ – Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vito-
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/ rioso (do) que o seu.
de seres da mesma espécie, buquê (de flores) – Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vito-
mesmo quando empregado rioso (do) que o seu.
no singular e constituem um – Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso
substantivo comum. quanto o seu.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS – Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssi-
QUE NÃO ESTÃO AQUI! mo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito fa-
Flexão dos Substantivos moso.
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi- – Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou mais famoso de todos.
uniformes – Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é me-
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta nos famoso de todos.
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
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Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

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• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário, vá-
Variáveis
ria, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição.  Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).
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• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

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• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

SINTAXE

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo. 


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio! 

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.

• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.


A tecnologia permitiu o resgate dos operários.

• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.

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• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção. 
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.

• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.

• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.

• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.

• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa no •
vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer comer
pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não iremos
mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de mau João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
humor.

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Tipos de orações subordinadas
As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Substantivas Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. SEMPRE serão quinta, terão aula de reforço.
Orações Subordinadas acompanhadas por vírgula.
Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
NUNCA serão acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Orações Subordinadas Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Adverbiais Assumem a função de advérbio de conformidade previsto.
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de concessão tarde.
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de finalidade todos tenham acesso aos benefícios.
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem
Assumem a função de advérbio de tempo de suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

FONOLOGIA

Muitas pessoas acham que fonética e fonologia são sinônimos. Mas, embora as duas pertençam a uma mesma área de estudo, elas
são diferentes.

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Fonética Lembre-se que:
Segundo o dicionário Houaiss, fonética “é o estudo dos sons da Tônica: a sílaba mais forte da palavra, que tem autonomia fo-
fala de uma língua”. O que isso significa? A fonética é um ramo da nética.
Linguística que se dedica a analisar os sons de modo físico-articula- Átona: a sílaba mais fraca da palavra, que não tem autonomia
dor. Ou seja, ela se preocupa com o movimento dos lábios, a vibra- fonética.
ção das cordas vocais, a articulação e outros movimentos físicos, Na palavra telefone: te-, le-, ne- são sílabas átonas, pois são
mas não tem interesse em saber do conteúdo daquilo que é falado. mais fracas, enquanto que fo- é a sílaba tônica, já que é a pronun-
A fonética utiliza o Alfabeto Fonético Internacional para representar ciada com mais força.
cada som.
Agora que já sabemos essas classificações básicas, precisamos
Sintetizando: a fonética estuda o movimento físico (da boca, entender melhor como se dá a divisão silábica das palavras.
lábios...) que cada som faz, desconsiderando o significado desses
sons. Divisão silábica
A divisão silábica é feita pela silabação das palavras, ou seja,
Fonologia pela pronúncia. Sempre que for escrever, use o hífen para separar
A fonologia também é um ramo de estudo da Linguística, mas uma sílaba da outra. Algumas regras devem ser seguidas neste pro-
ela se preocupa em analisar a organização e a classificação dos cesso:
sons, separando-os em unidades significativas. É responsabilidade
da fonologia, também, cuidar de aspectos relativos à divisão silábi- Não se separa:
ca, à acentuação de palavras, à ortografia e à pronúncia. • Ditongo: encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma
sílaba (cau-le, gai-o-la, ba-lei-a...)
Sintetizando: a fonologia estuda os sons, preocupando-se com • Tritongo: encontro de uma semivogal, uma vogal e uma semi-
o significado de cada um e não só com sua estrutura física. vogal na mesma sílaba (Pa-ra-guai, quais-quer, a-ve-ri-guou...)
• Dígrafo: quando duas letras emitem um único som na pala-
Bom, agora que sabemos que fonética e fonologia são coisas vra. Não separamos os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu (fa-cha-da, co-
diferentes, precisamos de entender o que é fonema e letra. -lhei-ta, fro-nha, pe-guei...)
• Encontros consonantais inseparáveis: re-cla-mar, psi-có-lo-
Fonema: os fonemas são as menores unidades sonoras da fala. -go, pa-trão...)
Atenção: estamos falando de menores unidades de som, não de sí-
labas. Observe a diferença: na palavra pato a primeira sílaba é pa-. Deve-se separar:
Porém, o primeiro som é pê (P) e o segundo som é a (A). • Hiatos: vogais que se encontram, mas estão é sílabas vizinhas
Letra: as letras são as menores unidades gráfica de uma pa- (sa-ú-de, Sa-a-ra, ví-a-mos...)
lavra. • Os dígrafos rr, ss, sc, e xc (car-ro, pás-sa-ro, pis-ci-na, ex-ce-
-ção...)
Sintetizando: na palavra pato, pa- é a primeira sílaba; pê é o • Encontros consonantais separáveis: in-fec-ção, mag-nó-lia,
primeiro som; e P é a primeira letra. rit-mo...)
Agora que já sabemos todas essas diferenciações, vamos en-
tender melhor o que é e como se compõe uma sílaba.
ORTOGRAFIA
Sílaba: A sílaba é um fonema ou conjunto de fonemas que emi-
tido em um só impulso de voz e que tem como base uma vogal.
A sílabas são classificadas de dois modos: ORTOGRAFIA OFICIAL
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
Classificação quanto ao número de sílabas: troduzidas as letras k, w e y.
As palavras podem ser: O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
– Monossílabas: as que têm uma só sílaba (pé, pá, mão, boi, PQRSTUVWXYZ
luz, é...) • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
– Dissílabas: as que têm duas sílabas (café, leite, noites, caí, letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
bota, água...) gui, que, qui.
– Trissílabas: as que têm três sílabas (caneta, cabeça, saúde,
circuito, boneca...) Regras de acentuação
– Polissílabas: as que têm quatro ou mais sílabas (casamento, – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
jesuíta, irresponsabilidade, paralelepípedo...) palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
sílaba)
Classificação quanto à tonicidade
As palavras podem ser:
Como era Como fica
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
-já, ra-paz, u-ru-bu...) alcatéia alcateia
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, apóia apoia
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima apóio apoio
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

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– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. mirante.
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
Como era Como fica
pontapé, paraquedas, paraquedista.
baiúca baiuca • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
bocaiúva bocaiuva usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante.
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
e ôo(s).
QUESTÕES

Como era Como fica


abençôo abençoo 1. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) –
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
crêem creem mesmo processo de formação é:
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso;
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ (B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer;
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. (C) deslealdade, colunista, incrível;
(D) anoitecer, festeiro, infeliz;
Atenção: (E) reeducação, dignidade, enriquecer.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. 2. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavra primitiva foi formada respectivamente é:
palavras forma/fôrma. (A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
tica (en + trist + ecer);
Uso de hífen (B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
Regra básica: (en + triste + cer);
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho- (C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
mem. tética (en + trist + ecer);
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
Outros casos xal (des + entristecer);
1. Prefixo terminado em vogal: (E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. ca (des + entristecer).
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
semicírculo. 3. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- 2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
mo, antissocial, ultrassom. formada por derivação:
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- (A) parassintética;
das. (B) prefixal;
(C) sufixal;
2. Prefixo terminado em consoante: (D) imprópria;
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub- (E) regressiva.
-bibliotecário.
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su- 4. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
persônico. artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. (A) pronome;
(B) adjetivo;
Observações: (C) advérbio;
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra (D) substantivo;
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem (E) preposição.
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
rar, cooperação, cooptar, coocupante.

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5. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação 11. (FGV – SPTRANS – Especialista em Transportes – 2001) Assi-
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). nale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de
(A) Pronome demonstrativo. “exame”.
(B) Pronome relativo. (A) exceto.
(C) Pronome possessivo. (B) enxame.
(D) Pronome pessoal. (C) óxido.
(E) Pronome indefinido. (D) exequível.

6. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na 12. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL –
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- 2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli- empregadas e grafadas.
nhados classificam-se, respectivamente, em (A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po-
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo. der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo. qualquer excesso e violência.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome. (B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo. mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio. suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
isso, num modo de intervenção específico.
7. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
(a): em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças ta que ambos possam suscitar.
americanas, entre na fila.” (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
subordinadas. corpo dos supliciados.
(B) Período, composto por três orações. (E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
(C) Oração, pois possui sentido completo. campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
(D) Período, pois é composto por frases e orações. trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
organização em delinqüência.
8. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não 13. (PREF. DE ARENÁPOLIS - MT — PROFESSOR ED. BÁSICA —
dormiu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segun- PREF. DE ARENÁPOLIS — 2021) O período silábico-alfabético marca
da oração. a transição entre os esquemas prévios em vias de serem abando-
(A) Oração coordenada assindética aditiva. nados e os esquemas futuros em vias de serem construídos. Quan-
(B) Oração coordenada sindética aditiva. do a criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como
(C) Oração coordenada sindética adversativa. unidade, mas que ela é, por sua vez, reanalisável em elementos
(D) Oração coordenada sindética explicativa. menores, ingressa no último passo da compreensão do sistema so-
(E) Oração coordenada sindética alternativa. cialmente estabelecido. E, a partir daí, descobre novos problemas:
pelo lado quantitativo, se não basta uma letra por sílaba, também
9. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia a não pode estabelecer nenhuma regularidade duplicando a quanti-
seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer dade de letras por sílaba (já que há sílabas que se escrevem com
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
uma, duas, três ou mais letras); pelo lado qualitativo, enfrentará os
orações.
problemas ortográficos (a identidade de som não garante a identi-
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
dade de letras, nem a identidade de letras a de som). (FERREIRO).
sativa.
No trecho destacado, Emília Ferreiro descreve como o apren-
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
diz se apropria dos conceitos e das habilidades de leitura e escrita,
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
mostrando que a aquisição desses atos linguísticos segue um per-
tiva.
curso semelhante àquele que a humanidade percorreu até chegar
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
ao sistema alfabético, ou seja:
tiva.
(A) Durante a trajetória até a alfabetização, na fase pré-silábica,
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
o aprendiz compreende que a palavra escrita representa a pa-
bial consecutiva.
lavra falada e conhece como essa representação é processada.
Ao longo do percurso, passa então a compreender o que a es-
10. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – Auxiliar Judiciário – 2001) O item
crita representa e o modo de construção dessa representação.
abaixo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é:
(B) Durante a trajetória até a alfabetização, na fase silábica, o
(A) trans-o-ce-â-ni-co;
aprendiz ignora que a palavra escrita representa a palavra fala-
(B) cor-rup-te-la;
da, e desconhece como essa representação é processada. Ao
(C) sub-li-nhar;
longo do percurso, passa então a compreender o que a escrita
(D) pneu-má-ti-co;
representa e o modo de construção dessa representação.

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(C) Durante a trajetória até a alfabetização, na fase pré- silábi- 17. (PREF. DE NOVA SERRANA - MG — PROFESSOR DE ED. BÁSI-
ca, o aprendiz ignora que a palavra escrita, representa a palavra CA — FUNDEP — 2019) Com relação à leitura colaborativa, assinale
falada, e desconhece como essa representação é processada. a alternativa que representa uma atividade incorreta.
Ao longo do percurso, passa então a compreender o que a es- (A) O professor faz a leitura compartilhada do livro em capítu-
crita representa e o modo de construção dessa representação. los.
(D) Durante a trajetória até a alfabetização, na fase escrita. (B) O professor estabelece um diálogo constante com a turma,
(E) Nenhuma das alternativas dadas. por meio da discussão de pistas e questões que possam auxiliar
a compreensão do texto.
14. (PREF. DE ANCHIETA - SC — PROFESSOR DE PORTUGUÊS (C) A interpretação do texto independe dos conhecimentos
— AMEOSC — 2019) O princípio que se busca garantir, no Ensi- prévios que o leitor aciona durante a leitura.
no da Língua Portuguesa, decorre da compreensão da linguagem (D) Professores e alunos colaboram para a construção do signi-
enquanto trabalho, ou seja, as práticas de uso da linguagem serão ficado do texto.
compreendidas em sua dimensão histórica e em que a necessidade
de análise e sistematização teórica dos conhecimentos linguísticos 18. (PREF. DE OSASCO - SP — PROFESSOR — FGV — 2018)
decorra dessas mesmas práticas, a análise da dimensão discursiva e “Naquela sala de Educação Infantil, as rodas de conversa sobre o
pragmática da linguagem é privilegiada, e consequentemente: planejamento do dia abrem as atividades, mas outros temas tam-
(A) Nota-se um conjunto de formas flexionadas de uma palavra bém fazem parte do bate-papo. Na sala ou no pátio, elas recontam
usadas como modelo a ser seguido. histórias e apresentam músicas e dramatizações.”
(B) Há um padrão que serve como modelo a ser imitado ou O relato acima se refere a estratégias para o desenvolvimento
seguido. (A) da escrita alfabética.
(C) Ocorrem conjunto de termos que podem ser substituídos (B) da linguagem oral.
entre si na mesma posição da estrutura a que pertencem. (C) da motricidade.
(D) Os conhecimentos sobre a língua com os quais se opera (D) da aprendizagem matemática.
oferecem os suportes necessários para a compreensão dos fe- (E) das habilidades artísticas
nômenos de interação.

15. (PREF. DE FORTALEZA - CE — PROFESSOR DE LÍNGUA POR- GABARITO


TUGUESA — PREF. DE FORTALEZA - CE — 2018) Deve-se destacar
que o quesito baseia-se, unicamente, nos PCN (Brasil. Secretaria de
Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro 1 A
e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secreta-
ria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998,106 p.). 2 A
Com relação à prática de produção de textos orais e escritos, 3 D
com ênfase nas atividades voltadas para a  linguagem escrita, os 4 A
PCN sugerem que tipo de gêneros textuais?
(A) O conto e o artigo. 5 E
(B) A notícia e a canção. 6 B
(C) A exposição e o debate.
(D) O seminário e a entrevista. 7 B
8 C
16. (PREF. DE PETROLINA - PE — PROFESSOR — AEVSF/FACAPE
9 C
— 2021)
10 A
11 D
12 B
13 C
14 D
15 A
16 D
É exemplo de operador argumentativo a seguinte palavra 17 C
usada nesse texto: 18 B
(A) Preciso.
(B) Gostar.
(C) Gosto
(D) Mas.
(E) Desapego

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ANOTAÇÕES

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Conforme afirmam FIORENTINI e MIORIM (1996),


ESTRATÉGIAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA: RESOLUÇÃO O professor não pode subjugar sua metodologia de ensino a algum
DE PROBLEMAS, TAREFAS INVESTIGATIVAS, TECNOLOGIAS tipo de material porque ele é atraente ou lúdico. Nenhum material
DIGITAIS, ETNOMATEMÁTICA, MODELAGEM E HISTÓRIA é válido por si só. Os materiais e seu emprego sempre devem estar
DA MATEMÁTICA em segundo plano. A simples introdução de jogos ou atividades
no ensino da matemática não garante uma melhor aprendizagem
desta disciplina (p.9).
Ao iniciar sua vida escolar, a criança inicia o processo de alfabe-
tização, não só em sua língua materna como também na linguagem O trabalho com a matemática em sala de aula representa um
Matemática, construindo o seu conhecimento segundo as diferen- desafio para o professor na medida em que exige que ele o conduza
tes etapas de desenvolvimento cognitivo; um bom ensino nesse ní- de forma significativa e estimulante para o aluno. Geralmente as
vel é fundamental. referências que o professor tem em relação a essa disciplina vêm
[...] o aprendizado das crianças começa muito antes delas de sua experiência pessoal. Muitos deles afirmam que tiveram di-
frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a ficuldades com aquela matemática tradicionalmente ensinada nas
qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história pré- escolas, que tinha como objetivo a transmissão de regras por meio
via. Por exemplo, as crianças começam a estudar aritmética na es- de intensiva exercitação. Cabe então descobrir novos jeitos de tra-
cola, mas muito antes elas tiveram alguma experiência com quan- balhar com a matemática, de modo que as pessoas percebam que
tidades – elas tiveram que lidar com operações de divisão, adição, pensamos matematicamente o tempo todo, resolvemos problemas
subtração e determinação de tamanho. Consequentemente, as durante vários momentos do dia e somos convidados a pensar de
crianças têm a sua própria aritmética pré-escolar, que somente forma lógica cotidianamente. A matemática, portanto, faz parte da
psicólogos míopes podem ignorar (VYGOTSKY, 1989, p. 94-95). vida e pode ser aprendida de uma maneira dinâmica, desafiante e
O processo de ensino e aprendizagem da Matemática deve ser divertida.
bem trabalhado nas escolas, para que futuramente os alunos não As dificuldades encontradas por alunos e professores no pro-
apresentem dificuldades graves, quanto a construção deficiente do cesso ensino-aprendizagem da matemática são muitas e conheci-
pensamento lógico-abstrato. das, por um lado, o aluno não consegue entender a matemática
Atualmente o ensino da Matemática se apresenta descontextua- que a escola lhe ensina, muitas vezes é reprovado nesta disciplina,
lizado, inflexível e imutável, sendo produto de mentes privilegiadas. O ou então, mesmo que aprovado, sente dificuldades em fazer rela-
aluno é, muitas vezes, um mero expectador e não um sujeito partícipe, ções com o dia a dia daquilo que a escola lhe ensinou, em síntese,
sendo a maior preocupação dos professores cumprir o programa. Os não consegue efetivamente ter acesso a esse saber de fundamental
conteúdos e a metodologia não se articulam com os objetivos de um importância.
ensino que sirva à inserção social das crianças, ao desenvolvimento do O professor, por outro lado, consciente de que não consegue
seu potencial, de sua expressão e interação com o meio. alcançar resultados satisfatórios junto aos alunos, e tendo dificul-
A utilização de técnicas lúdicas: jogos, brinquedos e brincadeiras di- dades de, por si só, repensarem satisfatoriamente seu fazer peda-
recionadas pedagogicamente em sala de aula podem estimular os alunos gógico procuram novos elementos - muitas vezes, meras receitas de
a construção do pensamento lógico-matemático de forma significativa e a como ensinar determinados conteúdos - que, acreditam que pos-
convivência social, pois o aluno, ao atuar em equipe, supera, pelo menos sam melhorar este quadro. Uma evidência disso é, positivamente, a
em parte, seu egocentrismo natural. Os jogos pedagógicos, por exemplo, participação cada vez mais crescente de professores nos encontros,
podem ser utilizados como estratégia didática antes da apresentação de conferências ou cursos. São nestes eventos que se percebe o inte-
um novo conteúdo matemático, com a finalidade de despertar o interesse resse dos professores pelos materiais didáticos e pelas atividades
da criança, ou no final, para reforçar a aprendizagem. lúdicas do tipo jogos e brincadeiras. Parecem encontrar nos nesses
Um cuidado metodológico muito importante que o professor precisa materiais e estratégias didáticas a solução, a fórmula mágica para os
ter, antes de trabalhar com jogos em sala de aula, é de testá-los, analisan- problemas que vêem enfrentando no cotidiano escolar.
do suas próprias jogadas e refletindo sobre os possíveis erros; assim, terá O material didático da área de Matemática utilizado no curso
condições de entender as eventuais dificuldades que os alunos poderão de Pedagogia para Formação de Professores das Séries Iniciais do
enfrentar. Contudo, devemos ter um cuidado especial na hora de escolher Ensino Fundamental: Contactos Matemáticos do Primeiro Grau nos
jogos, que devem ser interessantes e desafiadores. O conteúdo deve estar ajudaram a construir novos conceitos e ideias sobre a Matemática
de acordo com o grau de desenvolvimento e ao mesmo tempo, de resolução e, principalmente, nos ajudaram a escolher a maneira correta de
possível, portanto, o jogo não deve ser fácil demais e nem tão difícil, para facilitar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos.
que os alunos não se desestimulem (BORIN, 1995). Nossas reflexões foram fundamentadas nos 9 (nove) fascícu-
los Contactos Matemáticos do Primeiro Grau de Reginaldo Nunes
de Souza Lima e Maria do Carmo Vila. Os conteúdos matemáticos
abordados neste material didático estão relacionados com o currí-
culo dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

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MATEMÁTICA
Para sugerir como ensinar esses conteúdos de modo que eles prova, com certeza, na história do processo da evolução humana.
não sejam traumáticos para os alunos. Em síntese, Gardner em seu livro: Inteligências Múltiplas – a
Nesse contexto, nosso trabalho se divide em momentos. No teoria na prática publicado no ano 2000, as inteligências múltiplas
primeiro, abordaremos os assuntos: Inteligências Múltiplas e Racio- ou competências se apresentam da seguinte maneira:
cínio Lógico-Matemático; no segundo, discutiremos como se dá o A Inteligência linguística – Os componentes centrais da inteli-
inicio do processo de contagem na criança e o ensino de Geometria; gência linguística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e signi-
no terceiro, trataremos sobre a importância da iniciação da Estatís- ficados das palavras, além de uma especial percepção das diferen-
tica nas séries iniciais do Ensino Fundamental. tes funções da linguagem. Em crianças esta habilidade se manifesta
através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar,
com precisão, experiências vividas.
A construção do raciocínio lógico-matemático A Inteligência musical – Esta inteligência se manifesta através
As Inteligências Múltiplas de Howard Gardner de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça
Os tempos modernos, as psicologias de aprendizagem e as fi- musical. A criança pequena com habilidade musical especial perce-
losofias de educação nos levaram ao binômio: ensino implica em be desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, frequentemente,
aprendizagem, e nos fizeram crer que ensinar implica em fazer al- canta para si mesma.
guém aprender. Porém, sem compreensão e esforço próprio não há A Inteligência lógico-matemática – É a habilidade para explorar
aprendizagem. A compreensão não nasce da explicação do profes- relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos
sor, assim como o esforço não pode ser por ele dado ao aluno. A ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilida-
compreensão brota da maturidade, do mesmo modo que o esforço de para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas
surge do interesse. e resolvê-los. Assim, a criança que apresenta especial aptidão nesta
Podemos definir inteligência como a capacidade de resolver inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos mate-
problemas, compreender ideias, interpretar informações trans- máticos e para criar notações práticas de seu raciocínio.
formando-as em conhecimento e, também, a capacidade de criar. A Inteligência espacial – É a habilidade para manipular formas
Constitui um componente biopsicológico que difere o ser humano ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar
de outras espécies animais. tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou es-
Durante muitos anos a descoberta do funcionamento da mente pacial. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligên-
constituía-se em um desafio para a neurologia. Observar o cérebro cia é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros
humano em ação era impossível em uma pessoa viva e essa dificul- jogos espaciais, e a atenção a detalhes visuais.
dade gerava uma série de hipóteses sobre o pensamento, consciên- A Inteligência cinestésica – É a habilidade para usar a coorde-
cia, memória e naturalmente, inteligência. nação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no con-
Da minha perspectiva, a essência da teoria é respeitar as mui- trole dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com
tas diferenças entre as pessoas, as múltiplas variações em suas destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestési-
maneiras de aprender, os vários modos pelos quais elas podem ser ca se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou
avaliadas, e o número quase infinito de maneiras pelas quais elas verbais demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coorde-
podem deixar uma marca no mundo. (Gardner) nação fina apurada.
Depois de quase duas décadas de tentativas de estudiosos para se de- A Inteligência interpessoal – Esta inteligência pode ser descrita
cifrar o enigma inteligência, Howard Gardner a conceitua de modo mais como uma habilidade para entender e responder adequadamente a
refinado como sendo o potencial biopsicológico que processa informações,
humores, temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas.
Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma ha-
diz ele que esse potencial pode ser ativado num cenário cultural com a fina-
bilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamen-
lidade de solucionar problemas ou criar pontos que se valorize uma cultura. te sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Assim, Gardner defende que a inteligência humana não é única; mas oito ou A Inteligência intrapessoal – Esta inteligência é o correlativo
nove. São elas: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, sinestésica, interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter
interpessoal, natural, intrapessoal e espiritual (ainda em estudo). acesso aos próprios sentimentos, sonhos e ideias, para discriminá-
Postula que essas competências intelectuais são relativamente inde- -los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o re-
pendentes, têm sua origem e limites genéticos próprios e substratos neu- conhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências
roanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios. Se- singulares, a capacidade para formular uma imagem precisa de si
gundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de
inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam forma efetiva.
e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e
Em seu processo de revisão de sua teoria Gardner acrescentou
criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até
a Inteligência Natural à lista das inteligências originais, que se refere
certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam iso- à habilidade de reconhecer e classificar plantas, animais, minerais,
ladamente. Por exemplo, um cirurgião necessita da acuidade da inteligência incluindo rochas e gramíneas e toda a variedade de fauna e flora e
espacial combinada com a destreza da cinestésica. devido às suas contribuições para uma maior compreensão do meio
Segundo Gardner, cada pessoa é um sujeito ímpar com forças ambiente e de seus componentes.
cognitivas diferentes. Cada indivíduo aprende de forma e estilos Quantas crianças não são marginalizadas em suas famílias, co-
diferentes do outro, mesmo que sejam ambos oriundos de uma munidades e escolas porque suas habilidades em resolver cálculos
mesma sociedade ou meio cultural. Ele afirma que as inteligências ou problemas abstratos estão distanciadas da sua realidade? Pro-
não mudam com a idade humana, mas sim com a experiência como vavelmente, a contribuição mais importante da teoria das inteli-
sendo um atributo ou faculdade do indivíduo. Segundo ele, as inte- gências múltiplas seja a de alterar alguns conceitos sobre ensino,
ligências não nascem prontas nos indivíduos, ainda que uns possam proporcionando ao aluno desenvolver diversas atividades de for-
apresentar níveis mais elevados do que outros nesta ou naquela ma mais personalizada e de acordo com as suas reais aptidões. O
inteligência. Segundo ele, a presença das oito inteligências se com- importante não está em medirmos a grandeza da inteligência em
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MATEMÁTICA
números ou como um conjunto de habilidades isoladas, e sim como que o aluno consiga estabelecer relações com a realidade que ele
um processo dinâmico, múltiplo e integrado, permitindo ser obser- vivencia.
vada de diferentes ângulos. Esta nova concepção de inteligência nos O professor deve realizar atividades com os alunos que os vis-
conduzirá à formação de cidadãos mais felizes, mais competentes, lumbre, em seguida, partir para a matematização levantando ques-
com mais capacidade de trabalhar em grupo e mais equilibrados tionamentos, finalizando com o registro do que o aluno aprendeu,
emocionalmente. uma forma de teoria. Este é o caminho arquimediano segundo a
proposta AME – Atividades Matemáticos que Educam. (p. 126, Fas-
Ideologia de Richelieu: só os inteligentes aprendem Matemá- cículo 1, 2003)
tica Para o professor deflagrar ideias na cabeça do aluno, ele pre-
Nossa sociedade sempre se organizou por formação de classes cisa apresentar situações–problemas instigantes, levantar questio-
sociais (estratificação). Os processos sociais nela existentes levam namentos que induzam o aluno a pensar. Nunca dando a resposta,
hoje (como no passado) a formação de camadas hierárquicas. A sempre dialogando até que ele mesmo consiga estabelecer relação
aceitação e a justificativa para a existência dessa estratificação pa- (pingue-pongue), sempre ouvindo o que o aluno tem a acrescentar
recem estar instaladas na mente humana. A causa disso é o medo sobre o assunto, sem criticá-lo ou ridicularizá-lo.
às pessoas. Medo que é disfarçado de várias maneiras e isso acon- No fascículo 1, capítulo 6, foi possível observar diferentes su-
tece na escola e na sociedade. gestões segundo a proposta AME. Através dessas propostas de um
É importante considerar que além do medo que sentem às caminho arquimediano é possível vencermos todas as dificuldades
pessoas, há uma ideologia por trás dessas hierarquizações. É uma que o ensino de Matemática apresenta. Uma das soluções é traba-
ideologia que convence as vitimas a aceitarem os resultados de sua lhar com simuladores da Matemática em vários níveis, pois quando
ação, segundo ela: “um estado seria monstruoso se todos os seus há interação, as estruturas cognitivas da criança se ativam e, então,
indivíduos fossem sábios”, (Lima, fasc. 1 p. 50). Essa ideologia tem vislumbram e geram estruturas de maior valia.
bases emocionais que podem ser facilmente reconhecidas e dão in- Os simuladores podem ter várias funções como: facilitar as
dicativos da sua falácia; está na base toda a rejeição sofrida pelos atividades corporais, obter informações a partir de manipulações,
alunos, de toda exclusão (denominada seleção) e de toda interrup- fazer registros a partir de manipulações e permitir a ampliação do
ção de estudos. conhecimento.É muito importante observar que, com esse tipo de
Dessa forma, para a escola tradicional, é difícil aceitar estas trabalho, o conhecimento não é dado pelo professor para o aluno,
consequências e, principalmente, que elas advêm de seu posicio- mas é sim, puxado de dentro do aluno.
namento quanto à hierarquização, as ideologias e as imposições. A
razão é que as consequências só vão aparecer no futuro, quando os
alunos já não estão sob a vigilância da escola. A avaliação da aprendizagem
O ensino da Matemática mais difundido hoje em dia padece A avaliação escrita não deve ser o único instrumento para de-
desse defeito: começa pelo fim na organização da tarefa, ou seja, já cidir sobre aprovação ou reprovação do aluno. O seu uso deve ser
vem realizada por outro, não pelo aprendiz. A Matemática vem sen- somente o de verificar a progressão cognitiva do aluno. A avaliação
do usada nos dias atuais, como disciplina que se esgota em ensinar escolar também é contra-indicada para fazer um diagnóstico sobre
os conceitos dos números, das formas, das relações, das medidas a personalidade do aluno, pois sua abrangência limita-se aos obje-
e das interferências, sendo que suas características exigem rigor e tivos do ensino do programa escolar e para fazer prognóstico de su-
exatidão. Por ela ser totalmente interdependente, não se esgota em cesso na vida. Contudo, o seu mau emprego pode expulsar o aluno
ensinar um currículo matemático obsoleto, que não interessa ao da Escola, causar danos em seu autoconceito, impedir que ele te-
aluno e está bem longe de nossa realidade sócio-cultural. nha acesso a um conhecimento sistematizado e, portanto, restringir
As críticas a cerca dos resultados quanto ao ensino da Matemá- a partir daí suas oportunidades de participação social.
tica, buscam atividades que não só eduquem, mas que trabalhem Assim, podemos perceber a profundidade com que deveria ser
na formação social do individuo. Isso apenas é possível quando o tratada a questão da avaliação pelas escolas e pelos mestres e mais
aprendizado está voltado à realidade vivenciada pelo aluno, e este até, pelas famílias, pilares que são do contexto social e modelo de
seja percebido nas aulas pelo professor de matemática. O ambiente organização da nação. Não é exagerado dizer que a boa formação
só influencia em seu aprendizado, ou seja, o professor deve acei- cultural, bem como a melhoria não só nos níveis de ensino-apren-
tar essas influências, mudando seu posicionamento em relação ao dizagem, mas de toda a sociedade e os padrões de vida melhores
aluno. buscados, passam pela efetiva e consequente aplicação de uma
Tem que haver uma compreensão maior por parte da escola estrutura avaliativa adequada, que busque fomentar as condições
e dos professores de como apresentar os conteúdos matemáticos, de ensino, enquanto seja capaz de elevar o nível das propostas de
para que os alunos aprendam e gostem da Matemática. O professor ensino surgidas.
deve usar formas que consistam em: abstrair, entender, compreen-
der sem modelo de conhecimento, um dado de informação, trans- No conceito emitido por Sant’anna (1995, p. 7):
formando-o de modo próprio e pessoal para incorporá-lo e assimi- A avaliação escolar é o termômetro que permite avaliar o esta-
lá-lo sinteticamente: aprender, apreender, entender, compreender do em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Ela
para apossar-se, transformar e incorporar. tem um papel altamente significativo na educação, tanto que nos
arriscamos a dizer que a avaliação é alma do processo educacional.
(...) O que queremos é sugerir meios e modos de tornar a avaliação
A aprendizagem matemática por caminhos lúdicos mais justa, mais digna e humana.
A aprendizagem de conteúdos matemáticos por caminhos lúdi- A avaliação, nas três últimas décadas, passou a ser discutida
cos está pautada na visão arquimediana do ensino da matemática. com maior intensidade, tendo sido objeto de muitos estudos, pro-
Ela nos sugere que o professor deve atuar durante o processo de postas de trabalho, preocupação dos sistemas de ensino e até mes-
ensino-aprendizagem exercendo a função de facilitador do proces- mo de controvérsias.
so, ou seja, agindo como mediador entre aluno e a construção do Quando trabalhamos em uma perspectiva de construção de
conhecimento matemático, estimulando ideias matemáticas para conhecimentos, devemos considerar que nossos alunos estão in-

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
seridos em um processo e, portanto, avaliar o processo significa co- dentre elas podemos citar as mais presentes no processo educativo
letar dados e elementos para conhecer o que eles já conseguiram atual: a avaliação burocrática e a avaliação investigadora.
construir e qual a raiz de suas dificuldades. A avaliação burocrática se apresenta na forma de exames, pro-
Assim, torna-se incoerente uma única avaliação de todo o pro- vas e testes classificatórios. É um tipo de avaliação excludente, pois
cesso, realizado ao final de determinadas etapas. Se assim o fizer- esses instrumentos de avaliação procuram atender as exigências
mos, estaremos considerando apenas o produto final para julgá-lo
sociais e escolares, já que não mostram com eficácia se o indivíduo
como “certo ou errado” e não procurando conhecer as dificuldades
de nossos alunos para ajudá-los a superá-las. Sem esquecer que a realmente sabe ou não sabe, pois apenas considera o maior núme-
avaliação também pode orientar nosso trabalho em sala de aula. ro de acertos que o indivíduo alcançou no teste ou prova aplicada.
A avaliação deve ser contínua. Não precisa de um dia em espe- A avaliação investigadora é realizada por meio de questiona-
cial, com uma arrumação especial na sala. Também não precisa ser mentos (pingue-pongue) que procuram redirecionar e refazer o
sempre através de um mesmo tipo de instrumento (em geral a pro- aprendizado do aluno, levando-o a refletir sobre o que está se dis-
va escrita). Devemos estar atentos às formas como nossos alunos cutindo.
estão respondendo aos desafios que apresentamos dia a dia. As- A pratica escolar usualmente denominada de avaliação da
sim é possível perceber o nível de compreensão dos nossos alunos aprendizagem pouco tem a ver com a avaliação. Ela constitui-se
sobre conteúdos trabalhados para intervir em seu auxilio e, nesse muito de provas e exames do que avaliações. Hoje, após os estudos
sentido, a avaliação é também diagnóstica ou investigadora. realizados na área de Matemática, compreendemos que a avaliação
Através das observações que fazemos dia-a-dia em sala de
da aprendizagem tem que procurar atingir a dois objetivos: auxiliar
aula (que podem ser registradas em um caderno de anotações),
podemos avaliar o uso que as crianças são capazes de fazer do seu o educando no seu desenvolvimento pessoal, a partir do processo
conhecimento, como organizam esses conhecimentos em diferen- de ensino aprendizagem, e responder a sociedade pela qualidade
tes situações, quais os avanços e retrocessos que as crianças fazem do trabalho educativo realizado.
na construção do conhecimento. Ao preparar uma avaliação matemática é necessário que o pro-
É fundamental ver o aluno como um ser social e político sujei- fessor se preocupe em elaborar uma avaliação que exija a solução
to do seu próprio desenvolvimento. O professor não precisa mu- de exercícios por caminhos que levem os alunos a estabelecerem
dar suas técnicas, seus métodos de trabalho: precisa isto sim, ver uma linha de raciocínio que não seja apenas o de apenas calcular.
o aluno como alguém capaz de estabelecer uma relação cognitiva A avaliação, portanto, não é um processo meramente técnico,
e afetiva com o meio circundante, mantendo uma ação interativa porém, implica uma postura política e inclui valores e princípios que
capaz de uma transformação libertadora, que propicia uma vivência refletem uma concepção de educação, de escola e de sociedade.
harmoniosa com a realidade pessoal e social que o envolve. Nesse contexto, a avaliação deve servir de orientação para o pro-
A avaliação que durante décadas foi um instrumento ameaça- fessor na condução de sua prática docente e jamais deverá ser um
dor e autoritário, ainda continua sendo um dos grandes nós da edu- instrumento para reprovar ou reter alunos na construção de seus
cação contemporânea, pois muitos professo res, principalmente de
esquemas de conhecimento teóricos e práticos.
matemática, a utilizam como sendo um instrumento excludente.
Isso nos leva a repensar o papel da avaliação durante o processo A teoria piagetiana aponta para a necessidade de se considerar
educativo, que segundo Mere Abrsamowicz: “[...] é fundamental o erro como uma estratégia didática, pois o erro contribui para saber
saber que o próprio docente pode adotar por conta própria mode- o que realmente o aluno aprendeu, o que realmente ele construiu.
los mais modernos de avaliar seus estudantes”, (Revista Fala Mes- Assim, o erro não se apresenta apenas como sendo o obstáculo que
tre, p. 23. ano 2004). não permite ao aluno construir a aprendizagem; mas, ele aponta
[...] Inútil tentar descrever o que não se viu, o que não foi tra- quais são as dificuldades que o professor tem que re-trabalhar com
balhado e nem motivo de reflexão. Assim, se o professor fizer ape- o aluno para que ele realmente aprenda, que segundo Lima (Fasc.
nas o registro das notas dos alunos nos trabalhos, ele não saberá 1 p. 90, 2004), “[...] diagnosticar o erro sem a devida contextualiza-
descrever, após um tempo, quais foram às dificuldades que cada ção, não levando em conta quem erra e porque erra, é desconhecer
aluno apresentou, o que ele fez para auxiliá-lo a compreender aque- de que o erro é um fato histórico”. Ainda , Jussara Hoffmann, em
le aspecto. Da mesma forma, o professor que só faz anotações dos
sua obra Avaliação, Mito & Desafios, afirma:
alunos em termos de sua conduta, não poderá descrever outros as-
A função seletiva e eliminatória da avaliação é responsabili-
pectos do seu desenvolvimento. Registros significativos são constru-
dade de todos! A avaliação, na perspectiva de uma pedagogia li-
ídos pelo professor ao longo do processo. Sua forma final é apenas
bertadora é uma prática coletiva, que exige a consciência critica e
uma síntese do que vem ocorrendo, uma representação do vivido ,
responsável de todos na problematização das situações.
HOFFMAN (Revista Fala Mestre, p. 118, 2004).
Discutir o erro é chamar à atenção do professor quanto a im-
O atual sistema de verificação de aprendizagem permite que
portância de diversificar os tratamentos dos seus alunos, a maneira
indivíduos inseguros e despreparados sejam aprovados e possam,
de atuar diante dos alunos com diferentes expectativas culturais
no futuro, trazer riscos e prejuízos não só para si próprios como para
e individuais. Ele tem de planejar atividades que provoquem a
terceiros. Em certos casos, esses riscos e prejuízos podem envolver
superação do erro pela criança. Se o professor não se preocupar
a vida de alguém. E esse perigo advém do hábito de atribuir notas
em sanar as dificuldades que levam o aluno a errar, ele cultivará
que provam ou reprovam o aluno, em função da quantidade maior
na criança a baixa auto-estima, pois ela considerará a matemática
dos acertos do que dos erros cometidos em exames. Os absurdos
como sendo um fardo e a escola uma instituição tediosa.
são tantos, que o sistema permite considerar apto, quem sabe ape-
nas a metade do conteúdo apresentado nas provas, sem considerar
se essa metade corresponde ao que realmente é fundamental que
o aluno aprenda. Podemos citar como exemplo o provão do MEC
para o Ensino Fundamental e Médio.
As avaliações escolares podem ser atribuídas de várias formas,
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MATEMÁTICA
Os processos de ensino e aprendizagem da contagem, frações diana, o jogo do MINIMAC e as situações concretas para a aprendi-
e geometria zagem da potenciação.
Da contagem Ao estudar os Fascículos 2 e 3 de Matemática desenvolvemos
Os homens primitivos não tinham necessidade de contar, pois com os alunos da 3ª série do Ensino Fundamental Sapezal as ati-
o que necessitavam para a sua sobrevivência era retirado da própria vidades do Trajeto 50 e do Jogo do Resto. Nesses jogos os alunos
natureza. A necessidade de contar começou com o desenvolvimen-
tinham como principal tarefa resolver atividades de adição, subtra-
to das atividades humanas, quando o homem foi deixando de ser
pescador e coletor de alimentos para fixar-se no solo. ção, divisão e multiplicação, usando cálculos mentais. Essa é uma
O homem começou a plantar, produzir alimentos, construir maneira de deixar o aluno desenvolver sua própria técnica de cál-
casas, proteções, fortificações e domesticar animais, usando os culo e não permitir que ele fique limitado ao processo ensinado
mesmos para obter a lã e o leite, tornando-se criador de animais pelo professor.
domésticos, o que trouxe profundas modificações na vida humana. Em todos os países, independentemente de raças, credos ou
As primeiras formas de agricultura de que se tem notícia, foram sistemas políticos, a matemática faz parte do currículo educacional
criadas há cerca de dez mil anos na região que hoje é denominada desde os primeiros anos de escolaridade, ao lado da língua mater-
Oriente Médio. na. Um fato notável de natureza surpreendente é que, mesmo no
A agricultura passou então a exigir o conhecimento do tempo, tempo em que se dizia que as crianças iam à escola para aprender a
das estações do ano e das fases da lua e assim começaram a surgir ler, a escrever e a contar, o ensino da matemática e o da língua ma-
as primeiras formas de calendário. terna não conseguiam articular uma aprendizagem significativa em
No pastoreio, o pastor usava várias formas para controlar o seu conjunto. É como se as duas disciplinas, apesar de longa convivên-
rebanho. Pela manhã, ele soltava os seus carneiros e analisava ao fi- cia sob o mesmo teto, permanecessem estranhas umas às outras.
nal da tarde, se algum tinha sido roubado, fugido, se perdido do re- É sabido que mesmo as tentativas mais singelas de iniciação ao
banho ou se havia sido acrescentado um novo carneiro ao rebanho. conhecimento matemático pressupõe um conhecimento da língua ma-
Assim eles tinham a correspondência um a um, onde cada carneiro terna, ao menos em sua forma oral, e tal dependência não passa, no
correspondia a uma pedrinha que era armazenada em um saco. entanto, de uma trivialidade, com a agravante de ser inespecífica, uma
No caso das pedrinhas, cada animal que saía para o pasto de vez que se aplica igualmente a qualquer outro assunto que se pretenda
manhã correspondia a uma pedra que era guardada em um saco de ensinar. Assim, a aprendizagem da matemática não viria simplesmente
couro. No final do dia, quando os animais voltavam do pasto, era a reboque da língua materna, mas constituiria, em certo sentido, uma
feita a correspondência inversa, onde, para cada animal que retor- superação dessa linguagem.
nava, era retirada uma pedra do saco. Se no final do dia sobrasse É certo que a matemática apresenta dificuldades específicas, no
alguma pedra, é porque faltava algum dos animais e se algum fosse entanto, tais dificuldades não parecem suficientes para justificar a
acrescentado ao rebanho, era só acrescentar mais uma pedra. Hoje, postura diante da aprendizagem, tão natural no caso da língua materna
a palavra cálculo é derivada da palavra latina calculus, que significa e tão discriminadora no caso da matemática. A questão fundamental a
pedrinha. ser tratada, no entanto, não é a da precedência ou da preponderância,
A correspondência unidade não era feita somente com pedras, mas sim a da articulação consistente entre a língua materna e a
mas também com nós em cordas, marcas nas paredes, talhes em matemática, tendo em vista o desenvolvimento do raciocínio.
ossos, desenhos nas cavernas e outros tipos de marcação. De fato, se não se admitem predisposições inatas para o co-
nhecimento matemático, que seria todo ele passível de construção
O Fascículo 2 de Matemática nos colocou em contato com o
a partir apenas de mecanismos gerais para o “funcionamento da in-
sistema de numeração, situando a numeração no tempo e espaço teligência”, comuns a todos os indivíduos, como pretendeu Piaget,
como processo dinâmico da representação numérica que resultou isto deveria ter, como consequência, a inteligibilidade do modesto
na construção de um sistema mais funcional, ou seja, o hindu-ará- desempenho em matemática da grande maioria das pessoas.
bico. Nesse sistema as bases de numeração não decimal constituem A matemática desenvolve o raciocínio, frequentemente, em
uma importante ferramenta pedagógica para o entendimento da sua enunciação, o termo ‘raciocínio’ comparece ornado pelo adjeti-
base dos números naturais, adição, subtração, multiplicação, divi- vo lógico; na maior parte das pessoas, há uma concordância implíci-
são e potenciação. ta na associação do ensino da Matemática com o desenvolvimento
A estrutura lógico-matemática de número não pode ser ensina- do raciocínio lógico. (Machado, 1993)
da diretamente porque a criança tem que construí-la, reportando- Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente hu-
mana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento
-nos aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática temos
das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de biologia levou-o a
que: enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo
Ao longo do ensino fundamental os conhecimentos numéricos uma evolução gradativa. Em Genebra ele iniciou o maior trabalho
são construídos e assimilados pelos alunos num processo dialético, de sua vida, ao observar crianças brincando e registrar meticulosa-
em que intervém como instrumentos eficazes para resolver determi- mente as palavras, ações e processos de raciocínio delas.
nados problemas considerando-se suas propriedades, relações e o A partir da observação cuidadosa de seus próprios filhos e de
modo como se configuram historicamente. (p. 54-55, 2001) muitas outras crianças, concluiu que em muitas questões cruciais
A partir disso, podemos utilizar diferentes recursos didáticos as crianças não pensam como os adultos. Por ainda lhes faltarem
para encorajar a criança a pensar ativamente, estimulando o desen- certas habilidades, a maneira de pensar é diferente, não somente
volvimento de sua estrutura mental, por exemplo, o jogo é um exce- em grau, como em classe.
lente recurso didático a ser utilizado nas aulas de Matemática, pois A criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o mo-
enquanto jogam, os alunos compartilham, interagem significados, mento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e
confrontam ideias e reorganizam o pensamento através do diálogo pessoas. Essa interação que ela faz com o ambiente permite que ela
que ocorre entre eles e com o professor. construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar.
Através do Fascículo 3 entendemos o processo das operações A escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança,
propondo atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e
no conjunto dos Números Naturais, os algoritmos, a divisão eucli-
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MATEMÁTICA
equilibrações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção o denominador e a parte pintada é numerador.
do conhecimento. “O número envolve a quantificação de objetos A criança que trabalha em grupos e com atividades lúdicas
discretos e, portanto, não pode ser ensinado através da extensão, aprende a respeitar o modo de pensar do outro e a argumentar
que é uma quantidade contínua”, KAMI, (p.59). para fazer valer seu conhecimento e suas opiniões.

Das frações Da geometria


O importante, no estudo de frações, como, aliás, de toda a A Geometria é um ramo da matemática que estuda as formas,
matemática, é evitar a todo custo à memorização de definições e planas e espaciais, com as suas propriedades. É a parte da matemá-
regras, sem compreensão. Isto vale não apenas na 3ª e na 4ª séries, tica que trata das propriedade e medidas da extensão.
mas também na 5ª e na 6ª, quando habitualmente se faz uma revi- O conhecimento geométrico se fez necessário ao homem a
são do que já foi visto sobre o tema e se vai adiante, apresentando-
partir do momento em que no Egito, todos os anos o rio Nilo ex-
-se as operações com frações.
Todo o trabalho com frações pode ser feito a partir de situa- travasava as margens e inundava o seu delta. A boa notícia era a de
ções-problemas, isto é, desafios para que os alunos descubram so- que as cheias depositavam nos campos de cultivo lamas aluviais ri-
luções de pequenos problemas. cas em nutrientes, tornando o delta do Nilo a mais fértil terra lavrá-
A prática mais comum para explorar o conceito de fração é a que vel do mundo antigo. A má notícia consistia em que o rio destruía as
recorre a situações em que está implícita a relação parte-todo; é o caso marcas físicas de delimitação entre as propriedades de terra.
das tradicionais divisões de um chocolate, ou de uma pizza, em partes Os egípcios levavam muito a sério o direito sobre a proprieda-
iguais. “ Muitos e muitos poetas, na Antiguidade, exaltaram o número. de. Nos achados egípcios foi encontrado um livro intitulado Livro
Pois o número é de essência divina”. (M. A. AUBRY, 1952) dos Mortos. Quando um egípcio que cultivava a terra estava a beira
A descoberta das soluções fica mais fácil, no início, se os alunos da morte, ele tinha de jurar aos deuses que ele não tinha enganado
utilizarem material concreto: peças recortadas em plástico, madeira, ao vizinho, roubando-lhe terra. O roube de terra era considerado
papel, papelão ou cartolina. Se isto for completamente impossível, é para os egípcios um pecado muito grave. Em vida, se um egípcio
importante que os alunos façam com a ajuda do professor, todos os fosse pego cometendo esse ato poderia ter o coração comido por
desenhos que acharem necessários para compreender o problema e uma besta fera chamada devorador. Roubar terra do vizinho era
encontrar a solução. considerado uma ofensa muito, muito grave como quebrar um jura-
Seguindo esse caminho, pode-se ter a impressão de que, afinal, os mento, assassinar alguém ou masturbar-se num templo.
alunos vão aprender muito pouco sobre frações. É verdade que eles não
Os antigos faraós resolveram passar a nomear funcionários
se tornarão capazes de calcular expressões complicadas com frações, mas
para ocuparem o cargo de agrimensores, cuja tarefa era avaliar os
isto não faz falta. O importante é que se familiarizem com o conceito de
fração. Para isso, precisam trabalhar muitos problemas e, no início, sempre
prejuízos das cheias e restabelecer as fronteiras entre as diversas
com material concreto (recortado ou desenhado), pouco a pouco eles se propriedades. Foi assim que nasceu a geometria. Estes agrimenso-
libertarão naturalmente das figuras recortadas ou desenhadas, resolverão res, ou esticadores de corda (assim chamados devido aos instru-
mentalmente os problemas mais simples e até mesmo descobrirão regras mentos de medida, cordas entrelaçadas concebidas para marcar
que passarão a aplicar com compreensão. É importante que o professor ângulos retos), acabaram por aprender a determinar as áreas de
incentive esse processo de libertação gradual do aluno em relação ao ma- lotes de terreno dividindo-os em retângulos e triângulos.
terial concreto. Melhor que o estudo do espaço, a geometria é a investiga-
Para as operações com frações, é conveniente que continuem ção do ‘espaço intelectual’, já que, embora comece com a visão,
usando desenhos até que o professor tenha certeza de que, para ela caminha em direção ao pensamento, indo do que pode ser
eles, as regras de operações não são apenas receitas decoradas, percebido para o que pode ser concebido, WHEELER (p.351- 353,
mas problemas compreendidos. 1981).
Em matemática, como em quase tudo, mais vale a qualidade do Até algum tempo, o ensino da geometria era praticamente
que a quantidade. No caso, qualidade significa compreensão e capaci- excluído do currículo escolar, ou então era desenvolvido em aula
dade de procurar soluções, quantidade significa fazer cálculos mecani- expositiva na qual o aluno não conseguia aprender, pois não con-
camente, com grande eficiência, sem entender o que se está fazendo. seguia estabelecer relações do que a escola ensinava com aquilo
Através dos fascículos 4 e 5 foi possível analisarmos os números que vivenciava. Somente esta constatação bastaria para suscitar
racionais pela representação de dizimas. Primeiro as dízimas limitadas questionamentos sobre a contribuição da geometria para a forma-
e depois a transformação de dízima limitada em fração decimal e vice- ção dos indivíduos; no entanto, outros fatos vieram reafirmar essa
-versa, a transformação da dízima periódica simples e composta em fra- necessidade: verifica-se, por exemplo, a pouca capacidade de per-
ções não decimais, a construção de frações e classes de equivalência. cepção espacial em um grande número de pessoas nas múltiplas
Também vimos operações com números racionais representados por atividades profissionais.
frações e a simplificação de expressões fracionárias complexas. O ensino de geometria contribuiu na formação do aluno favo-
recendo, como aponta Wheeler (1981, p. 352), “um tipo particular
O conhecimento matemático deve ser apresentado aos alunos his-
de pensamento – que busca novas situações, sendo sensível aos
toricamente construído e em permanente transformação, permitindo seus impactos visual, interrogando sobre eles”.
assim a compreensão da Matemática em sua prática filosófica, cientifi- Ela permite o desenvolvimento da “arte da especulação” tradu-
ca e social e o lugar que ela tem no mundo. zida na questão “o que aconteceria se...”, que expressa o estilo hi-
Para o professor trabalhar frações de uma maneira simples potético-dedutivo do pensamento geométrico (WHEELER, id.ibid.).
com os alunos, ele deve mostrar que fracionar é dividir um todo em Os conceitos geométricos constituem parte importante do currí-
partes iguais, por exemplo, um chocolate ou uma pizza. No papel culo da matemática no Ensino Fundamental, porque, por meio deles,
usar desenhos pintando algumas partes ou tras não. Assim ficará o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite
mais fácil para a criança saber que o número total de partes que é compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo
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em que ele vive. de óbitos, faziam estimativas das riquezas individual e social,
A Geometria apresenta-se como um campo profícuo para o desenvol- distribuíam equitativamente terras ao povo, cobravam impostos
vimento da capacidade de abstrair, generalizar, projetar, transcender o que e realizavam inquéritos quantitativos por processos que, hoje,
é imediatamente sensível, que é um dos objetivos do ensino da matemáti- chamaríamos de estatísticos, e assim, mostrando aos alunos como
ca, oferecendo condições para que níveis sucessivos de abstração possam surgiu o conhecimento estatístico.
ser alcançados. Partindo de um nível inferior, no qual reconhece as figuras Os dados estatísticos desempenham na Estatística moderna uma dupla
geométricas, embora as percebendo como todos indivisíveis, o aluno passa, função: prática e cientifica. Tais funções não são mutuamente exclusivas, ao
no nível posterior, a distinguir as propriedades dessas figuras; estabelece, contrário o conhecimento científico em grande parte é pesquisado para fins
num terceiro momento, relações entre as figuras e suas propriedades, para práticos e lhe dá um caráter de embasamento para as resoluções práticas.
organizar, no nível seguinte, sequências parciais de afirmações, deduzindo Essa duplicidade de função estatística é universal, porquanto é válida para
cada afirmação de uma outra, até que, finalmente, atinge um nível de abs- todos os ramos do saber. Seu conjunto de métodos e técnicas fundado na
tração tal que lhe permite desconsiderar a natureza concreta dos objetos e matemática aplica-se indistintamente à economia, engenharia, agronomia,
do significado concreto das relações existentes entre eles. Delineia-se, des- educação, etc; variando apenas o objeto de estudo.
ta forma, um caminho que, partindo de um pensamento sobre objetos, leva Na administração escolar, por exemplo, o objeto de estudo é a escola,
a um pensamento sobre relações, as quais se tornam, progressivamente, e, mais especificamente, no nosso caso, a população escolar. Os fenômenos
mais e mais abstratas. educacionais que podem ser expressos estatisticamente são: a população
A aprendizagem em Matemática está ligada à compreensão do sig- escolarizável, as matrículas por séries, os índices de aprovação, reprovação,
nificado: apreender significado de um objeto ou acontecimento pres- evasão escolar, outros. Executando o levantamento de dados, torna-se ne-
supõe vê-lo em suas relações com outros objetos e acontecimentos. cessário passar à etapa seguinte, a da apuração de dados e os resultados
(Parâmetros Curriculares Nacionais da Matemática, MEC, p.19 apud obtidos a partir daqueles serem dispostos de uma forma ordenada e resu-
ABRANTES, 1999, p. 17) mida, a fim de auxiliar o pesquisador na análise dos mesmos e facilitar a
Podemos dizer que o conhecimento matemático geométrico compreensão das conclusões apresentadas ao leitor.
faz parte do patrimônio cultural da humanidade, portanto, a sua Na tabela resumimos informações, pois constam nela somente os
apropriação é um direito de todos. É inconcebível que a escola e o dados essenciais de uma determinada informação. Podemos acrescen-
professor não proporcione ao aluno a oportunidade de aprender tar à tabela de distribuição de frequência uma coluna de porcentagem
esse conhecimento de forma significativa, estabelecendo relações que é chamada de frequência relativa, e é obtida comparando-se o to-
com o mundo visível. Tirar do aluno o privilégio de aprender geo- tal de frequências com uma frequência dada.
metria é a mesma coisa que lhe negar o direito à educação literária, Hoje compreendemos que a tabela é a melhor forma de se or-
científica e artística, já que nas formas geométricas presentes no ganizar os resultados de uma pesquisa estatística. Há tabelas que
nosso mundo visível esses três patamares se evidenciam a todo o não podem ou não precisam ser transformados em gráficos, por
momento. isso, quando o professor sugerir à turma que procure tabelas em
jornais e revistas para transformá-las em gráficos, os alunos têm
Iniciação à estatística nas séries iniciais do ensino fundamen- que analisá-las, para verificar se são possíveis de serem tabuladas.
tal Os dados estatísticos devem ser classificados na forma de va-
A Estatística é uma ciência baseada na teoria das probabilida- riáveis:
des cujo principal objetivo é o de nos auxiliar a tirar conclusões, em Variáveis qualitativas são aqueles que demonstram qualidades,
situações de incerteza, as partir de informações numéricas de uma por exemplo, sexo: homem e mulher; programas de televisão: es-
determinada amostra. É a técnica auxiliar do estudo dos fenôme- portes, novelas, notícias, filmes etc. Quando se lida com variáveis
nos coletivos, econômicos, sociais e científicos. É um método de qualitativas, faz-se a medida de cada elemento. Elas assumem so-
observação, de descrição, de mensuração e de interpretação dos mente alguns valores dentro de um intervalo ou conjunto de inter-
fenômenos coletivamente típicos e da indagação de suas unifor- valos. Trabalha-se com números inteiros não negativos.
midades e relações, conforme Crespo (2002 p. 13): “A Estatística Variáveis quantitativas ou contínuas são aqueles que assumem
é uma parte da Matemática Aplicada que fornece métodos para a qualquer valor dentro de um intervalo numérico ou conjunto de in-
coleta, organização, descrição, análise e interpretação de dados e tervalos numéricos. Pode-se dizer que são trabalhados com núme-
para utilização dos mesmos na tomada de decisões”. ros reais, por exemplo, tempo: horas, minutos ou segundos; idade:
Os métodos estatísticos nos conduzem a conclusões sobre causa e efei- anos, meses, dias etc.
to de determinado fenômeno estudado e permitem testar teorias relativas Essas variáveis se expressam na forma gráfica, ilustrando de
ao consumido, por exemplo: o economista os usa para escolher, dentre as uma forma mais compreensível à situação em estudo. Os gráficos
possíveis formas de uma função teórica de consumo, a que melhor explica que mais se adequam para representarem essas variáveis são: o de
os dados observados, o médico emprega a técnica estatística nos resultados barras, forma retangular e setorial (pizza) - variáveis qualitativas.
de testes de avaliação de um novo medicamento, o agricultor para decidir O Histograma e o Polígono de Frequência - variáveis quantitativas.
qual das fórmulas de fertilizantes é preferível. Também, os resultados de Os mais comuns que encontrados em revistas, jornais e noticiá-
uma eleição ou do julgamento da qualidade de um determinado produto rios de TV, são:
industrial, podem ser determinados estatisticamente.
O principal objetivo do ensino da Estatística, conforme nos diz o Gráficos de Barras: são os mais utilizados quando há uma grande
Nazareth (1994 p. 6)”[...] é oferecer o máximo de informação em um quantidade de dados a serem exibidos.
mínimo de espaço, constitui numa ferramenta muito importante no o Gráficos de Linhas: são os mais adequados quando a intenção é
desenvolvimento de uma disciplina científica”, logo podemos utilizar a levar o leitor a uma análise sobre a variação de um dado em determina-
Estatística em sala de aula, incentivando e decidindo com a turma qual do período.
o assunto a ser pesquisado., portanto, é importante que o professor o Gráficos de setores (chamados de pizza): são os mais indicados
desperte o interesse estatístico em seus alunos quanto ao surgimento para se mostrar o percentual de forma mais vislumbrante, porque esse
da Estatística, contando a sua história. ´ tipo de gráficos nos chama mais atenção para se expressar dados pouco
É interessante que os alunos saibam que desde a Antiguidade, ricos em números.
vários povos já registravam o número de habitantes, de nascimentos,
Editora
221
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Os gráficos devem ser auto-explicativos e de fácil compreen-
são, de preferência sem comentários inseridos. Deve ser simples, NÚMEROS: PENSAMENTO NUMÉRICO, FUNÇÕES DOS NÚ-
atrair a atenção do leitor e inspirar confiança. MEROS NATURAIS: QUANTIFICAR, ORDENAR, COMPARAR,
Portanto, a Estatística deve ser introduzida em sala de aula uti- MEDIR E CODIFICAR, OPERAÇÕES ARITMÉTICAS, PROCE-
lizando dados relacionados ao dia-a-dia dos estudantes. O profes- DIMENTOS DE CÁLCULO, PROPORCIONALIDADE, ORDEM
sor deve sugerir aos alunos que façam uma coleta de dados que E REPRESENTAÇÃO
possam ser tabulados, construindo, juntamente com seus alunos, o
instrumento de pesquisa mais apropriado para essa coleta.
Outro ponto importante é o processo avaliativo, que pode ser Números Naturais
aplicado pelo professor da seguinte maneira: Os números naturais são o modelo matemático necessário
Avaliação diagnóstica : o professor deve verificar o nível de en- para efetuar uma contagem.
tendimento dos alunos antes de iniciar o trabalho com gráficos e ta- Começando por zero e acrescentando sempre uma unidade,
belas, apresentando a Estatística contida em jornais, revistas, livros, obtemos o conjunto infinito dos números naturais
noticiários televisivos, etc.
Avaliação processual: o professor deve despertar nos alunos o
interesse pela Estatística esclarecendo as dificuldades, que porven-
tura surgirem nos alunos, em compreender as informações registra-
das em livros, revistas, jornais, etc. Após propor atividades práticas - Todo número natural dado tem um sucessor
de pesquisa, sugerindo a coleta de dados de determinados assuntos a) O sucessor de 0 é 1.
que os interessem. b) O sucessor de 1000 é 1001.
Avaliação formativa: é o momento em que o professor deve c) O sucessor de 19 é 20.
fazer com que os alunos apresentem o resultado da pesquisa, por
exemplo, numa exposição de trabalhos para a comunidade escolar, Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero.
compartilhando o que descobriram por meio de tabelas e gráficos
construídos por eles com a ajuda do professor.
Quanto à análise de dados estatísticos publicados em jornais e
revistas, por exemplo, o professor, na intenção de levar seus alunos {1,2,3,4,5,6... . }
a uma análise crítico-reflexiva sobre determinada variável envolvi-
da na pesquisa publicada, deve conduzir seus alunos a perceberem
quais são as informações que eles conseguem ler nas tabelas e nos - Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um anteces-
gráficos que não se fizeram presentes no texto publicado. sor (número que vem antes do número dado).
É importante que se introduza o conhecimento estatístico des- Exemplos: Se m é um número natural finito diferente de zero.
de as séries iniciais do Ensino Fundamental porque a Estatísticas faz a) O antecessor do número m é m-1.
parte do mundo da criança a todo o momento. b) O antecessor de 2 é 1.
A necessidade de se trabalhar com o aluno atividades que os c) O antecessor de 56 é 55.
d) O antecessor de 10 é 9.
leve a experimentar, exprime o caráter dinâmico e investigativo da
matemática. Os materiais concretos que foram criados para esti-
Expressões Numéricas
mular a aprendizagem no aluno dos conceitos matemáticos básicos
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtrações, mul-
deve ser utilizado pelo professor como suporte para que estimule
tiplicações e divisões. Todas as operações podem acontecer em
no aluno a construção desses conceitos de forma mais simples.
uma única expressão. Para resolver as expressões numéricas utili-
O jogo vem sendo utilizado como recurso para a aprendizagem
zamos alguns procedimentos:
já a duas décadas com o objetivo de permitir que o aluno consiga
estabelecer o conteúdo escolar estudado com o mundo que viven- Se em uma expressão numérica aparecer as quatro operações,
cia. O jogo possibilita ao aluno aprender conteúdos que de forma devemos resolver a multiplicação ou a divisão primeiramente, na
abstrata fica difícil de compreender. O jogo é o caminho que leva a ordem em que elas aparecerem e somente depois a adição e a sub-
construção do conhecimento, ele permite que a criança desenvolva tração, também na ordem em que aparecerem e os parênteses são
o raciocínio lógico-matemático de forma simples. Além do espírito resolvidos primeiro.
inovador, desafia os alunos ao cumprimento de regras, desenvol-
vendo responsabilidade, decisão, propiciando a interdisciplinarida- Exemplo 1
de e aprendizagem. 10 + 12 – 6 + 7
Finalizamos essa pesquisa dizendo que a aprendizagem por 22 – 6 + 7
meio dos caminhos lúdicos é simples e eficaz, basta que o professor 16 + 7
se desfaça de suas amarras que o impede de atuar como facilita- 23
dor durante o processo de ensino e aprendizagem da matemática.
Seu trabalho deve ser o de proporcionar meios permitem seu aluno Exemplo 2
aprender, sanando suas dificuldades.1 40 – 9 x 4 + 23
40 – 36 + 23
4 + 23
27

Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Números Inteiros
Podemos dizer que este conjunto é composto pelos números
naturais, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero.
Este conjunto pode ser representado por: Representação Fracionária dos Números Decimais
1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o de-
nominador seguido de zeros.
O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa, um
zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.
Subconjuntos do conjunto :
1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero

{...-2, -1, 1, 2, ...}

2) Conjuntos dos números inteiros não negativos

{0, 1, 2, ...}

3) Conjunto dos números inteiros não positivos

{...-3, -2, -1}

Números Racionais
Chama-se de número racional a todo número que pode ser expres-
so na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0
São exemplos de números racionais:

-12/51 2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como


-3 podemos transformar em fração?

-(-3) Exemplo 1
-2,333... Transforme a dízima 0, 333... .em fração
Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada de
As dízimas periódicas podem ser representadas por fração, portan- x, ou seja
to são consideradas números racionais. X=0,333...
Como representar esses números?

Representação Decimal das Frações Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por 10.
Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais 10x=3,333...

1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número deci- E então subtraímos:
mal terá um número finito de algarismos após a vírgula. 10x-x=3,333...-0,333...
9x=3
X=3/9
X=1/3

Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212...
Façamos x = 1,1212...
100x = 112,1212... .

Subtraindo:
2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas lem- 100x-x=112,1212...-1,1212...
brando que a dízima deve ser periódica para ser número racional 99x=111
OBS: período da dízima são os números que se repetem, se não X=111/99
repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que
trataremos mais a frente. Números Irracionais
Identificação de números irracionais
– Todas as dízimas periódicas são números racionais.
– Todos os números inteiros são racionais.
– Todas as frações ordinárias são números racionais.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais.
– A soma de um número racional com um número irracional é
sempre um número irracional.
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223
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número Intervalo:]a,b[
racional. Conjunto:{xϵR|a<x<b}
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma ,
com a e b inteiros e b≠0. Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou
iguais a A e menores do que B.
Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

– O quociente de dois números irracionais, pode ser um número


racional.

Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional.


Intervalo:{a,b[
– O produto de dois números irracionais, pode ser um número Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}
racional.
Intervalo fechado à direita – números reais maiores que a e meno-
Exemplo: . = = 7 é um número racional. res ou iguais a b.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número natural,


se não inteira, é irracional.

Números Reais
Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b}

Intervalos Ilimitados
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais menores
ou iguais a b.

Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x ϵ R|x≤b}

Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais menores


que b.
Fonte: www.estudokids.com.br

Representação na reta

Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x ϵ R|x<b}

Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores ou


iguais a A.

Intervalos limitados
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a e
menores do que b ou iguais a b.
Intervalo:[a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x≥a}

Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores


que a.
Intervalo:[a,b]
Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b}

Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que b.

Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x>a}

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224
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Potenciação 6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
Multiplicação de fatores iguais expoente, o resultado será igual a zero.

2³=2.2.2=8

Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.

Propriedades
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
base, repete-se a base e soma os expoentes.

Exemplos:
24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27

2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio nú-


mero.

2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base. Con-


serva-se a base e subtraem os expoentes.

Exemplos:
96 : 92 = 96-2 = 94

3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resul-


ta em um número positivo.
3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se os
expoentes.

Exemplos:
(52)3 = 52.3 = 56

4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar,


resulta em um número negativo.
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um ex-
poente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente.
(4.3)²=4².3²

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos


elevar separados.

5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o


sinal para positivo e inverter o número que está na base. Radiciação
Radiciação é a operação inversa a potenciação

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225
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Técnica de Cálculo Raiz quadrada números decimais
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se mais
fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números pri-
mos. Veja:

64 2
32 2 Operações
16 2
8 2
4 2
2 2
1
Operações
64=2.2.2.2.2.2=26

Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um e Multiplicação


multiplica.
Exemplo

Observe: Divisão

1 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 2 .5 2 = 3. 5
Exemplo
De modo geral, se

a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * , Adição e subtração

Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.


Então:
8 2 20 2
n
a.b = n a .n b 4 2 10 2
2 2 5 5
O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi- 1 1
cando.

Raiz quadrada de frações ordinárias

Caso tenha:

1 1 Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.


2  2 2 22 2
Observe: =  = 1 = Racionalização de Denominadores
3 3 3 Normalmente não se apresentam números irracionais com radicais
32 no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos radicais
do denominador chama-se racionalização do denominador.
a na 1º Caso: Denominador composto por uma só parcela
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =
+
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado é
igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
radicando.

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas. O fator comum é o 3 e o 1 é o menor expoente.
m.d.c
(15,24) = 3

Mínimo Múltiplo Comum


O mínimo múltiplo comum (m.m.c) de dois ou mais números é o
Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de qua- menor número, diferente de zero.
drados no denominador:
Para calcular devemos seguir as etapas:
• Decompor os números em fatores primos
• Multiplicar os fatores entre si

Múltiplos Exemplo:
Um número é múltiplo de outro quando ao dividirmos o primeiro
pelo segundo, o resto é zero. 15,24 2
Exemplo 15,12 2
15,6 2
15,3 3
5,1 5
1

Para o mmc, fica mais fácil decompor os dois juntos.


O conjunto de múltiplos de um número natural não-nulo é in- Basta começar sempre pelo menor primo e verificar a divisão com
finito e podemos consegui-lo multiplicando-se o número dado por algum dos números, não é necessário que os dois sejam divisíveis
todos os números naturais. ao mesmo tempo.
M(3)={0,3,6,9,12,...} Observe que enquanto o 15 não pode ser dividido, continua apa-
recendo.
Divisores
Os números 12 e 15 são múltiplos de 3, portanto 3 é divisor de Assim, o mmc (15,24) = 23.3.5 = 120
12 e 15.
D(12)={1,2,3,4,6,12} Exemplo
D(15)={1,3,5,15} O piso de uma sala retangular, medindo 3,52 m × 4,16 m, será
revestido com ladrilhos quadrados, de mesma dimensão, inteiros,
Observações: de forma que não fique espaço vazio entre ladrilhos vizinhos. Os
– Todo número natural é múltiplo de si mesmo. ladrilhos serão escolhidos de modo que tenham a maior dimensão
– Todo número natural é múltiplo de 1. possível.
– Todo número natural, diferente de zero, tem infinitos múlti- Na situação apresentada, o lado do ladrilho deverá medir
plos.
- O zero é múltiplo de qualquer número natural. (A) mais de 30 cm.
(B) menos de 15 cm.
Máximo Divisor Comum (C) mais de 15 cm e menos de 20 cm.
O máximo divisor comum de dois ou mais números naturais não- (D) mais de 20 cm e menos de 25 cm.
-nulos é o maior dos divisores comuns desses números. (E) mais de 25 cm e menos de 30 cm.
Para calcular o m.d.c de dois ou mais números, devemos seguir as Resposta: A.
etapas:
• Decompor o número em fatores primos
• Tomar o fatores comuns com o menor expoente 352 2 416 2
• Multiplicar os fatores entre si. 176 2 208 2

Exemplo: 88 2 104 2
44 2 52 2
15 3 24 2 22 2 26 2
5 5 12 2 11 11 13 13
1 6 2 1 1
3 3
Devemos achar o mdc para achar a maior medida possível
1 E são os fatores que temos iguais:25=32

15 = 3.5 24 = 23.3

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227
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Exemplo Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do que 90º.
(MPE/SP – Oficial de Promotora I – VUNESP/2016) No aeropor-
to de uma pequena cidade chegam aviões de três companhias
aéreas. Os aviões da companhia A chegam a cada 20 minutos, da
companhia B a cada 30 minutos e da companhia C a cada 44 mi-
nutos. Em um domingo, às 7 horas, chegaram aviões das três com-
panhias ao mesmo tempo, situação que voltará a se repetir, nesse
mesmo dia, às:
(A) 16h 30min.
(B) 17h 30min.
(C) 18h 30min.
(D) 17 horas.
(E) 18 horas.
Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que 90º.
Resposta: E.

20,30,44 2
10,15,22 2
5,15,11 3
5,5,11 5
1,1,11 11
1,1,1 Ângulo Raso:
- É o ângulo cuja medida é 180º;
Mmc(20,30,44)=2².3.5.11=660 - É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.

1h---60minutos
x-----660
x=660/60=11

Então será depois de 11horas que se encontrarão


7+11=18h
Ângulo Reto:
GEOMETRIA: NOÇÕES ESPACIAIS: LOCALIZAÇÃO, MOVI- - É o ângulo cuja medida é 90º;
MENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO, FIGURAS GEOMÉTRICAS: - É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.
IDENTIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO, DIFERENCIAÇÃO E PLA-
NIFICAÇÃO

Ângulos
Denominamos ângulo a região do plano limitada por duas semirre-
tas de mesma origem. As semirretas recebem o nome de lados do
ângulo e a origem delas, de vértice do ângulo.

Triângulo
Elementos
Mediana
Mediana de um triângulo é um segmento de reta que liga um
vértice ao ponto médio do lado oposto.
Na figura, é uma mediana do ABC.
Um triângulo tem três medianas.

Editora
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228
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
A bissetriz de um ângulo interno de um triângulo intercepta o
lado oposto

Bissetriz interna de um triângulo é o segmento da bissetriz de um


ângulo do triângulo que liga um vértice a um ponto do lado opos-
to.
Na figura, é uma bissetriz interna do .
Um triângulo tem três bissetrizes internas.

Classificação

Quanto aos lados

Triângulo escaleno: três lados desiguais.

Altura de um triângulo é o segmento que liga um vértice a um


ponto da reta suporte do lado oposto e é perpendicular a esse
lado. Triângulo isósceles: Pelo menos dois lados iguais.

Na figura, é uma altura do .

Um triângulo tem três alturas.

Triângulo equilátero: três lados iguais.

Mediatriz de um segmento de reta é a reta perpendicular a esse


segmento pelo seu ponto médio.

Na figura, a reta m é a mediatriz de .

Quanto aos ângulos

Triângulo acutângulo: tem os três ângulos agudos

Mediatriz de um triângulo é uma reta do plano do triângulo que é


mediatriz de um dos lados desse triângulo.
Na figura, a reta m é a mediatriz do lado do .
Um triângulo tem três mediatrizes.

Editora
229
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Triângulo retângulo: tem um ângulo reto - No losango e no quadrado as diagonais são perpendiculares en-
tre si (formam ângulo de 90°) e são bissetrizes dos ângulos inter-
nos (dividem os ângulos ao meio).

Áreas

1- Trapézio: , onde B é a medida da base maior, b é a


medida da base menor e h é medida da altura.

2 - Paralelogramo: A = b.h, onde b é a medida da base e h é a me-


Triângulo obtusângulo: tem um ângulo obtuso dida da altura.

3 - Retângulo: A = b.h

4 - Losango: , onde D é a medida da diagonal maior e d é a


medida da diagonal menor.

5 - Quadrado: A = l2, onde l é a medida do lado.

Polígono
Chama-se polígono a união de segmentos que são chamados lados
do polígono, enquanto os pontos são chamados vértices do polí-
Desigualdade entre Lados e ângulos dos triângulos gono.
Num triângulo o comprimento de qualquer lado é menor que a
soma dos outros dois. Em qualquer triângulo, ao maior ângulo
opõe-se o maior lado, e vice-versa.

QUADRILÁTEROS
Quadrilátero é todo polígono com as seguintes propriedades:
- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos Si = 360º
- A soma dos ângulos externos Se = 360º

Trapézio: É todo quadrilátero tem dois paralelos.


Diagonal de um polígono é um segmento cujas extremidades são
vértices não-consecutivos desse polígono.

- é paralelo a
- Losango: 4 lados congruentes
- Retângulo: 4 ângulos retos (90 graus)
- Quadrado: 4 lados congruentes e 4 ângulos retos.

Número de Diagonais

Observações:
- No retângulo e no quadrado as diagonais são congruentes
(iguais)

Editora
230
230
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Ângulos Internos Semelhança de Triângulos
A soma das medidas dos ângulos internos de um polígono convexo Dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os seus ângulos
de n lados é (n-2).180 internos tiverem, respectivamente, as mesmas medidas, e os lados
Unindo um dos vértices aos outros n-3, convenientemente esco- correspondentes forem proporcionais.
lhidos, obteremos n-2 triângulos. A soma das medidas dos ângulos
internos do polígono é igual à soma das medidas dos ângulos in- Casos de Semelhança
ternos dos n-2 triângulos. 1º Caso: AA(ângulo - ângulo)
Se dois triângulos têm dois ângulos congruentes de vértices cor-
respondentes, então esses triângulos são congruentes.

Ângulos Externos

2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes proporcionais
e os ângulos compreendidos entre eles congruentes, então esses
dois triângulos são semelhantes.

A soma dos ângulos externos=360°


Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, então a razão
de dois segmentos quaisquer de uma transversal é igual à razão
dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que são válidas
as seguintes proporções:

3º Caso: LLL (lado - lado - lado)


Exemplo Se dois triângulos têm os três lado correspondentes proporcionais,
então esses dois triângulos são semelhantes.

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231
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo Neste triângulo, temos que: c²=a²+b²
Considerando o triângulo retângulo ABC. Dividindo os membros por c²

Como

Todo triângulo que tem um ângulo reto é denominado triangulo


retângulo.
O triângulo ABC é retângulo em A e seus elementos são:

Temos:

a: hipotenusa
b e c: catetos
h: altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipotenusa

Relações Métricas no Triângulo Retângulo


Chamamos relações métricas as relações existentes entre os diver-
sos segmentos desse triângulo. Assim:

1. O quadrado de um cateto é igual ao produto da hipotenusa pela


projeção desse cateto sobre a hipotenusa.

Fórmulas Trigonométricas
Relação Fundamental
Existe uma outra importante relação entre seno e cosseno de um 2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipotenusa pela
ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC. altura relativa à hipotenusa.

3. O quadrado da altura é igual ao produto das projeções dos cate-


tos sobre a hipotenusa.

4. O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos


catetos (Teorema de Pitágoras).

Editora
232
232
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Posições Relativas de Duas Retas
Duas retas no espaço podem pertencer a um mesmo plano. Nesse
caso são chamadas retas coplanares. Podem também não estar no
mesmo plano. Nesse caso, são denominadas retas reversas.

Retas Coplanares
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum

Classificação
Reto: Um cilindro se diz reto ou de revolução quando as geratrizes
são perpendiculares às bases.
-Duas retas concorrentes podem ser: Quando a altura é igual a 2R(raio da base) o cilindro é equilátero.
Oblíquo: faces laterais oblíquas ao plano da base.
1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto.
2. Oblíquas: r e s não são perpendiculares.

b) Paralelas: r e s não têm ponto comum ou r e s são coincidentes.


Área
Área da base: Sb=πr²

Volume

Cones
Na figura, temos um plano α, um círculo contido em α, um ponto V
que não pertence ao plano.
A figura geométrica formada pela reunião de todos os segmentos
de reta que tem uma extremidade no ponto V e a outra num pon-
to do círculo denomina-se cone circular.

Cilindros
Considere dois planos, α e β, paralelos, um círculo de centro O
contido num deles, e uma reta s concorrente com os dois.
Chamamos cilindro o sólido determinado pela reunião de todos os
segmentos paralelos a s, com extremidades no círculo e no outro
plano.

Classificação
-Reto: eixo VO perpendicular à base;

Editora
233
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Pode ser obtido pela rotação de um triângulo retângulo em torno Área e Volume
de um de seus catetos. Por isso o cone reto é também chamado de Área lateral: Sl = n. área de um triângulo
cone de revolução. Onde n = quantidade de lados
Quando a geratriz de um cone reto é 2R, esse cone é denominado Stotal = Sb + Sl
cone equilátero.

Prismas
Considere dois planos α e β paralelos, um polígono R contido em α
e uma reta r concorrente aos dois.

g2 = h2 + r2

-Oblíquo: eixo não é perpendicular

Chamamos prisma o sólido determinado pela reunião de todos


os segmentos paralelos a r, com extremidades no polígono R e no
plano β.

Área

Volume Assim, um prisma é um poliedro com duas faces congruentes e


paralelas cujas outras faces são paralelogramos obtidos ligando-se
os vértices correspondentes das duas faces paralelas.

Classificação
Reto: Quando as arestas laterais são perpendiculares às bases
Pirâmides Oblíquo: quando as faces laterais são oblíquas à base.
As pirâmides são também classificadas quanto ao número de lados
da base.
PRISMA RETO PRISMA OBLÍQUO

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MATEMÁTICA
Classificação pelo polígono da base Volume
Paralelepípedo: V = a . b . c

TRIANGULAR QUADRANGULAR Cubo: V = a³

Demais: V = Sb . h

Estudo do Ponto

E assim por diante...

Paralelepípedos
Os prismas cujas bases são paralelogramos denominam-se para-
lelepípedos. Podemos localizar um ponto P em um plano α utilizando um siste-
ma de eixos cartesianos.
PARALELEPÍPEDO RETO PARALELEPÍPEDO OBLÍQUO - A é a abscissa do ponto P
- B é a ordenada do ponto P
- P ϵ 1ºQuad

Cubo é todo paralelepípedo retângulo com seis faces quadradas.

Fonte: www.matematicadidatica.com.br

1º Quadrante: x>o e y>o


2º Quadrante: x<0 e y>0
3º Quadrante: x<0 e y<0
4º Quadrante: x>0 e y>0
Prisma Regular
Para representar o par ordenado P(x,y)
Se o prisma for reto e as bases forem polígonos regulares, o prisma Vale a pena lembrar que o eixo x é chamado de abscissa e o eixo y
é dito regular. de ordenada.
As faces laterais são retângulos congruentes e as bases são con-
gruentes (triângulo equilátero, hexágono regular,...) Exemplo: Um P(3,-1) está em qual quadrante?
x>0 e y<0 IV quadrante.
Área
Área cubo: St = 6a2 Distância entre Dois Pontos
Dados os pontos P(xp,yp) e Q(xq,yq), a distância dAB entre eles é uma
Área paralelepípedo: St = 2(ab + ac + bc) função das coordenadas de P e Q:

A área de um prisma: St = 2Sb + St

Onde: St = área total


Sb = área da base
Sl = área lateral, soma-se todas as áreas das faces laterais.

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MATEMÁTICA
Exemplo
Dados os pontos A (2, 5), B (3, 7) e C (5, 11), vamos determinar se
estão alinhados.

(14 + 25 + 33)–(35 + 22 + 15)


72 – 72 = 0
Ponto Médio
Os pontos somente estarão alinhados se o determinante da matriz
quadrada calculado pela regra de Sarrus for igual a 0.

Estudo da Reta
Cálculo do coeficiente angular
Consideremos a reta r que passa pelos pontos A(x1,y1) e B(x2,y2),
com x1 ≠ x2, e que forma com o eixo x um ângulo de medida a.

1º caso: 0° < a < 90°

Dados os pontos P(xp,yp) e Q(xq,yp), as coordenadas do ponto M(xM,


yM) médio entre A e B, serão dadas pelas semi-somas das coorde-
nadas de P e Q.

O ponto M terá as seguintes coordenadas:

Três pontos estão alinhados se, e somente se, pertencerem à mes-


ma reta.

Sendo o triângulo ABC retângulo ( é reto), temos:

2º caso: 90° < a < 180°

Para verificarmos se os pontos estão alinhados, podemos utilizar


a construção gráfica determinando os pontos de acordo com suas
coordenadas posicionais. Outra forma de determinar o alinhamen-
to dos pontos é através do cálculo do determinante pela regra de
Sarrus envolvendo a matriz das coordenadas.

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MATEMÁTICA
Do triângulo retângulo ABC, vem:

Portanto, para os dois casos, temos: A equação fundamental de r é dada por:

Coeficiente angular

Coeficiente angular m de uma reta não - perpendicular ao eixo Equação Geral da Reta
Ax + by + c = 0
é o valor da tangente do ângulo de inclinação dessa reta.
Equação Segmentária
m = tan a

O valor do coeficiente angular m varia em função de a.

0 < a < 90° → m > 0

Equação reduzida da reta


Vamos determinar a equação da reta r que passa por Q(0,q) e tem
coeficiente angular m = tan a:

y - q = m(x - 0)
y - q = mx
y = mx + q

a=0→m=0

Toda equação na forma y = mx + q é chamada equação reduzida


da reta, em que m é o coeficiente.

a = 90° → m

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MATEMÁTICA
Posições relativas de duas retas Retas perpendiculares
Considere duas retas distintas do plano cartesiano: Duas retas, r e s, não - verticais são perpendiculares se, e somente
se, os seus coeficientes angulares são tais que

Podemos classificá-las como paralelas ou concorrentes. De fato:

Retas paralelas
As retas r e s têm o mesmo coeficiente angular.

ar = as ↔ mr = ms

Como:

Assim, para r // s, temos:

Então:

Retas concorrentes E, reciprocamente, se


As retas r e s têm coeficientes angulares diferentes.

ar ≠ as ↔ mr ≠ ms

Logo,
Assim, para r e s concorrentes, temos:

Distância de ponto a reta


Considere uma reta r, de equação ax + by + c = 0, e um ponto P( x0,
y0 ) não pertencente a r. Pode-se demonstrar que a distância entre
P e r( dPr ) é dada por:

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MATEMÁTICA
Ângulo entre duas retas Então:
Conhecendo os coeficientes angulares mr e ms de duas retas, r e
s, não paralelas aos eixos , podemos determinar o ângulo
0 agudo formado entre elas:

Se uma das retas for vertical, teremos:


Portanto, (x - a)2 + (y - b)2 =r2 é a equação reduzida da circunferên-
cia e permite determinar os elementos essenciais para a constru-
ção da circunferência: as coordenadas do centro e o raio.
Observação: Quando o centro da circunfer6encia estiver na origem
(C(0,0)), a equação da circunferência será x2 + y2 = r2.

Equação Geral
Desenvolvendo a equação reduzida, obtemos a equação geral da
circunferência:

Circunferência: Equações da circunferência e Equação reduzida Como exemplo, vamos determinar a equação geral da circunferên-
Circunferência é o conjunto de todos os pontos de um plano equi- cia de centro C(2, -3) e raio r = 4.
distantes de um ponto fixo, desse mesmo plano, denominado cen-
tro da circunferência: A equação reduzida da circunferência é:

( x - 2 )2 +( y + 3 )2 = 16

Desenvolvendo os quadrados dos binômios, temos:

Assim, sendo C(a, b) o centro e P(x, y) um ponto qualquer da cir-


cunferência, a distância de C a P(dCP) é o raio dessa circunferência.

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MATEMÁTICA
Determinação do centro e do raio da circunferência, dada a equação geral
Dada a equação geral de uma circunferência, utilizamos o processo de fatoração de trinômio quadrado perfeito para transformá-la na
equação reduzida e, assim, determinamos o centro e o raio da circunferência.
Para tanto, a equação geral deve obedecer a duas condições:
- Os coeficientes dos termos x2 e y2 devem ser iguais a 1;
- Não deve existir o termo xy.

Então, vamos determinar o centro e o raio da circunferência cuja equação geral é x2 + y2 - 6x + 2y - 6 = 0.

Observando a equação, vemos que ela obedece às duas condições.

Assim:

1º passo: agrupamos os termos em x e os termos em y e isolamos o termo independente


x2 - 6x + _ + y2 + 2y + _ = 6

2º passo: determinamos os termos que completam os quadrados perfeitos nas variáveis x e y, somando a ambos os membros as parcelas
correspondentes

3º passo: fatoramos os trinômios quadrados perfeitos


( x - 3 ) 2 + ( y + 1 ) 2 = 16

4º passo: obtida a equação reduzida, determinamos o centro e o raio

GRANDEZAS E MEDIDAS: UNIDADES DE MEDIDA: MASSA, COMPRIMENTO, CAPACIDADE, TEMPO, PERÍMETRO E ÁREA, ME-
DIDA PADRONIZADAS E NÃO PADRONIZADAS

UNIDADES DE COMPRIMENTO
km hm dam m dm cm mm
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
1000m 100m 10m 1m 0,1m 0,01m 0,001m

Os múltiplos do metro são utilizados para medir grandes distâncias, enquanto os submúltiplos, para pequenas distâncias. Para medi-
das milimétricas, em que se exige precisão, utilizamos:

mícron (µ) = 10-6 m angströn (Å) = 10-10 m

Para distâncias astronômicas utilizamos o Ano-luz (distância percorrida pela luz em um ano):
Ano-luz = 9,5 · 1012 km

Exemplos de Transformação
1m=10dm=100cm=1000mm=0,1dam=0,01hm=0,001km
1km=10hm=100dam=1000m

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MATEMÁTICA
Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 10 e para a esquerda divide por 10.

Superfície
A medida de superfície é sua área e a unidade fundamental é o metro quadrado(m²).

Para transformar de uma unidade para outra inferior, devemos observar que cada unidade é cem vezes maior que a unidade imedia-
tamente inferior. Assim, multiplicamos por cem para cada deslocamento de uma unidade até a desejada.

UNIDADES DE ÁREA
km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado Quadrado
1000000m2 10000m2 100m2 1m2 0,01m2 0,0001m2 0,000001m2

Exemplos de Transformação
1m²=100dm²=10000cm²=1000000mm²
1km²=100hm²=10000dam²=1000000m²

Ou seja, para transformar as unidades, quando “ andamos” para direita multiplica por 100 e para a esquerda divide por 100.

Volume
Os sólidos geométricos são objetos tridimensionais que ocupam lugar no espaço. Por isso, eles possuem volume. Podemos encontrar
sólidos de inúmeras formas, retangulares, circulares, quadrangulares, entre outras, mas todos irão possuir volume e capacidade.

UNIDADES DE VOLUME
km 3
hm 3
dam3 m3 dm3 cm3 mm3
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico Cúbico
1000000000m3 1000000m3 1000m3 1m3 0,001m3 0,000001m3 0,000000001m3

Capacidade
Para medirmos a quantidade de leite, sucos, água, óleo, gasolina, álcool entre outros utilizamos o litro e seus múltiplos e submúltiplos,
unidade de medidas de produtos líquidos.
Se um recipiente tem 1L de capacidade, então seu volume interno é de 1dm³

1L=1dm³

UNIDADES DE CAPACIDADE
kl hl dal l dl cl ml
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
1000l 100l 10l 1l 0,1l 0,01l 0,001l

Massa

Unidades de Capacidade
kg hg dag g g dg cg mg
Quilograma Hectograma Decagrama Grama Grama Decigrama Centigrama Miligrama
1000g 100g 10g 1g 0,1g 0,1g 0,01g 0,001

Toda vez que andar 1 casa para direita, multiplica por 10 e quando anda para esquerda divide por 10.
E uma outra unidade de massa muito importante é a tonelada
1 tonelada=1000kg

Tempo
A unidade fundamental do tempo é o segundo(s).
É usual a medição do tempo em várias unidades, por exemplo: dias, horas, minutos

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MATEMÁTICA
Transformação de unidades
Deve-se saber: 5h 20 minutos
1 dia=24horas 1h 20 minutos 2h 40 minutos
1hora=60minutos
1 minuto=60segundos 80 minutos
1hora=3600s 0

Adição de tempo 1h 20 minutos, transformamos para minutos :60+20=80minu-


Exemplo: Estela chegou ao 15h 35minutos. Lá, bateu seu recor- tos
de de nado livre e fez 1 minuto e 25 segundos. Demorou 30 minutos
para chegar em casa. Que horas ela chegou?
SISTEMA MONETÁRIO E ESTIMATIVAS
15h 35 minutos
1 minutos 25 segundos O primeiro dinheiro do Brasil foi à moeda-mercadoria. Durante
30 minutos muito tempo, o comércio foi feito por meio da troca de mercado-
rias, mesmo após a introdução da moeda de metal.
--------------------------------------------------
As primeiras moedas metálicas (de ouro, prata e cobre) chegaram
15h 66 minutos 25 segundos com o início da colonização portuguesa. A unidade monetária de
Portugal, o Real, foi usada no Brasil durante todo o período colo-
Não podemos ter 66 minutos, então temos que transferir para nial. Assim, tudo se contava em réis (plural popular de real) com
as horas, sempre que passamos de um para o outro tem que ser na moedas fabricadas em Portugal e no Brasil. O Real (R) vigorou até
mesma unidade, temos que passar 1 hora=60 minutos 07 de outubro de 1833. De acordo com a Lei nº 59, de 08 de ou-
Então fica: 16h6 minutos 25segundos tubro de 1833, entrou em vigor o Mil-Réis (Rs), múltiplo do real,
Vamos utilizar o mesmo exemplo para fazer a operação inversa. como unidade monetária, adotada até 31 de outubro de 1942.
No século XX, o Brasil adotou nove sistemas monetários ou nove
Subtração moedas diferentes (mil-réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzeiro, cru-
Vamos dizer que sabemos que ela chegou em casa as 16h6 mi- zado, cruzado novo, cruzeiro, cruzeiro real, real).
nutos 25 segundos e saiu de casa às 15h 35 minutos. Quanto tempo Por meio do Decreto-Lei nº 4.791, de 05 de outubro de 1942, uma
ficou fora? nova unidade monetária, o cruzeiro – Cr$ veio substituir o mil-réis,
na base de Cr$ 1,00 por mil-réis.
11h 60 minutos A denominação “cruzeiro” origina-se das moedas de ouro (pesadas
em gramas ao título de 900 milésimos de metal e 100 milésimos de
6 minutos 25 segundos liga adequada), emitidas na forma do Decreto nº 5.108, de 18 de
-15h 35 min dezembro de 1926, no regime do ouro como padrão monetário.
-------------------------------------------------- O Decreto-Lei nº 1, de 13 de novembro de 1965, transformou o
cruzeiro – Cr$ em cruzeiro novo – NCr$, na base de NCr$ 1,00 por
Não podemos tirar 6 de 35, então emprestamos, da mesma for- Cr$ 1.000. A partir de 15 de maio de 1970 e até 27 de fevereiro de
ma que conta de subtração. 1986, a unidade monetária foi novamente o cruzeiro (Cr$).
1hora=60 minutos Em 27 de fevereiro de 1986, Dílson Funaro, ministro da Fazenda,
anunciou o Plano Cruzado (Decreto-Lei nº 2.283, de 27 de feve-
15h 66 minutos 25 segundos reiro de 1986): o cruzeiro – Cr$ se transformou em cruzado – Cz$,
15h 35 minutos na base de Cz$ 1,00 por Cr$ 1.000 (vigorou de 28 de fevereiro de
1986 a 15 de janeiro de 1989). Em novembro do mesmo ano, o
-------------------------------------------------- Plano Cruzado II tentou novamente a estabilização da moeda. Em
0h 31 minutos 25 segundos junho de 1987, Luiz Carlos Brésser Pereira, ministro da Fazenda,
anunciou o Plano Brésser: um Plano Cruzado “requentado” avaliou
Multiplicação Mário Henrique Simonsen.
Pedro pensou em estudar durante 2h 40 minutos, mas demo- Em 15 de janeiro de 1989, Maílson da Nóbrega, ministro da Fa-
rou o dobro disso. Quanto tempo durou o estudo? zenda, anunciou o Plano Verão (Medida Provisória nº 32, de 15 de
janeiro de 1989): o cruzado – Cz$ se transformou em cruzado novo
– NCz$, na base de NCz$ 1,00 por Cz$ 1.000,00 (vigorou de 16 de
2h 40 minutos
janeiro de 1989 a 15 de março de 1990).
x2
---------------------------- Em 15 de março de 1990, Zélia Cardoso de Mello, ministra da
Fazenda, anunciou o Plano Collor (Medida Provisória nº 168, de
4h 80 minutos OU 15 de março de 1990): o cruzado novo – NCz$ se transformou em
5h 20 minutos cruzeiro – Cr$, na base de Cr$ 1,00 por NCz$ 1,00 (vigorou de 16
de março de 1990 a 28 de julho de 1993). Em janeiro de 1991, a
Divisão inflação já passava de 20% ao mês, e o Plano Collor II tentou nova-
5h 20 minutos : 2 mente a estabilização da moeda.

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
A Medida Provisória nº 336, de 28 de julho de1993, transformou o Exemplo: NCr$ 4,75 (quatro cruzeiros novos e setenta e cinco cen-
cruzeiro – Cr$ em cruzeiro real – CR$, na base de CR$ 1,00 por Cr$ tavos) passou a expressar-se Cr$ 4,75(quatro cruzeiros e setenta e
1.000,00 (vigorou de 29 de julho de 1993 a 29 de junho de 1994). cinco centavos).
Em 30 de junho de 1994, Fernando Henrique Cardoso, ministro da
Fazenda, anunciou o Plano Real: o cruzeiro real – CR$ se transfor- Cruzeiros
mou em real – R$, na base de R$ 1,00 por CR$ 2.750,00 (Medida (sem centavos) 16.08.1984
Provisória nº 542, de 30 de junho de 1994, convertida na Lei nº A Lei nº 7.214, de 15 de agosto de 1984 (D.O.U. de 16.08.84),
9.069, de 29 de junho de 1995). extinguiu a fração do Cruzeiro denominada centavo. Assim, a im-
O artigo 10, I, da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, de- portância do exemplo, Cr$ 4,75 (quatro cruzeiros e setenta e cinco
legou ao Banco Central do Brasil competência para emitir papel- centavos), passou a escrever-se Cr$ 4, eliminando-se a vírgula e os
-moeda e moeda metálica, competência exclusiva consagrada pelo algarismos que a sucediam.
artigo 164 da Constituição Federal de 1988. Cruzado
Antes da criação do BCB, a Superintendência da Moeda e do Crédi- Cr$ 1000 = Cz$1 (com centavos) 28.02.1986
to (SUMOC), o Banco do Brasil e o Tesouro Nacional desempenha- O Decreto-Lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986 (D.O.U. de 28
vam o papel de autoridade monetária. de fevereiro de 1986), posteriormente substituído pelo Decreto-
A SUMOC, criada em 1945 e antecessora do BCB, tinha por fina- -Lei nº 2.284, de 10 de março de 1986 (D.O.U. de 11 de março de
lidade exercer o controle monetário. A SUMOC fixava os percen- 1986), instituiu o Cruzado como nova unidade monetária, equiva-
tuais de reservas obrigatórias dos bancos comerciais, as taxas do lente a um mil cruzeiros, restabelecendo o centavo. A mudança de
redesconto e da assistência financeira de liquidez, bem como os padrão foi disciplinada pela Resolução nº 1.100, de 28 de fevereiro
juros. Além disso, supervisionava a atuação dos bancos comerciais, de 1986, do Conselho Monetário Nacional.
orientava a política cambial e representava o País junto a organis- Exemplo: Cr$ 1.300.500 (um milhão, trezentos mil e quinhentos
mos internacionais. cruzeiros) passou a expressar-se Cz$ 1.300,50 (um mil e trezentos
O Banco do Brasil executava as funções de banco do governo, e o cruzados e cinquenta centavos).
Tesouro Nacional era o órgão emissor de papel-moeda.
Cruzado Novo
Cruzeiro Cz$ 1000 = NCz$1 (com centavos) 16.01.1989
1000 réis = Cr$1(com centavos) 01.11.1942 A Medida Provisória nº 32, de 15 de janeiro de 1989 (D.O.U. de 16
O Decreto-Lei nº 4.791, de 05 de outubro de 1942 (D.O.U. de 06 de janeiro de 1989), convertida na Lei nº 7.730, de 31 de janeiro
de outubro de 1942), instituiu o Cruzeiro como unidade monetária de 1989 (D.O.U. de 01 de fevereiro de 1989), instituiu o Cruzado
brasileira, com equivalência a um mil réis. Foi criado o centavo, Novo como unidade do sistema monetário, correspondente a um
correspondente à centésima parte do cruzeiro. mil cruzados, mantendo o centavo. A Resolução nº 1.565, de 16
Exemplo: 4:750$400 (quatro contos, setecentos e cinquenta mil e de janeiro de 1989, do Conselho Monetário Nacional, disciplinou a
quatrocentos réis) passou a expressar-se Cr$ 4.750,40 (quatro mil implantação do novo padrão.
setecentos e cinquenta cruzeiros e quarenta centavos)
Exemplo: Cz$ 1.300,50 (um mil e trezentos cruzados e cinquenta
Cruzeiro centavos) passou a expressar-se NCz$ 1,30 (um cruzado novo e
(sem centavos) 02.12.1964 trinta centavos).
A Lei nº 4.511, de 01de dezembro de1964 (D.O.U. de 02 de dezem-
bro de 1964), extinguiu a fração do cruzeiro denominada centavo. Cruzeiro
Por esse motivo, o valor utilizado no exemplo acima passou a ser De NCz$ para Cr$ (com centavos) 16.03.1990
escrito sem centavos: Cr$ 4.750 (quatro mil setecentos e cinquen- A Medida Provisória nº 168, de 15 de março de 1990 (D.O.U. de 16
ta cruzeiros). de março de 1990), convertida na Lei nº 8.024, de 12 de abril de
1990 (D.O.U. de 13 de abril de 1990), restabeleceu a denominação
Cruzeiro Novo Cruzeiro para a moeda, correspondendo um cruzeiro a um cruzado
Cr$1000 = NCr$1(com centavos) 13.02.1967 novo. Ficou mantido o centavo. A mudança de padrão foi regu-
O Decreto-Lei nº 1, de 13 de novembro de1965 (D.O.U. de 17 de lamentada pela Resolução nº 1.689, de 18 de março de 1990, do
novembro de 1965), regulamentado pelo Decreto nº 60.190, de 08 Conselho Monetário Nacional.
de fevereiro de1967 (D.O.U. de 09 de fevereiro de 1967), instituiu Exemplo: NCz$ 1.500,00 (um mil e quinhentos cruzados novos)
o Cruzeiro Novo como unidade monetária transitória, equivalente passou a expressar-se Cr$ 1.500,00 (um mil e quinhentos cruzei-
a um mil cruzeiros antigos, restabelecendo o centavo. O Conselho ros).
Monetário Nacional, pela Resolução nº 47, de 08 de fevereiro de
1967, estabeleceu a data de 13.02.67 para início de vigência do Cruzeiro Real
novo padrão. Cr$ 1000 = CR$ 1 (com centavos) 01.08.1993
Exemplo: Cr$ 4.750 (quatro mil, setecentos e cinquenta cruzeiros) A Medida Provisória nº 336, de 28 de julho de 1993 (D.O.U. de 29
passou a expressar-se NCr$ 4,75(quatro cruzeiros novos e setenta de julho de 1993), convertida na Lei nº 8.697, de 27 de agosto de
e cinco centavos). 1993 (D.O.U. de 28 agosto de 1993), instituiu o Cruzeiro Real, a
partir de 01 de agosto de 1993, em substituição ao Cruzeiro, equi-
Cruzeiro valendo um cruzeiro real a um mil cruzeiros, com a manutenção
De NCr$ para Cr$ (com centavos) 15.05.1970 do centavo. A Resolução nº 2.010, de 28 de julho de 1993, do Con-
A Resolução nº 144, de 31 de março de 1970 (D.O.U. de 06 de selho Monetário Nacional, disciplinou a mudança na unidade do
abril de 1970), do Conselho Monetário Nacional, restabeleceu a sistema monetário.
denominação Cruzeiro, a partir de 15 de maio de 1970, mantendo Exemplo: Cr$ 1.700.500,00 (um milhão, setecentos mil e quinhen-
o centavo. tos cruzeiros) passou a expressar-se CR$ 1.700,50 (um mil e sete-
centos cruzeiros reais e cinquenta centavos).
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Evento
Real É qualquer subconjunto de um espaço amostral.
CR$ 2.750 = R$ 1(com centavos) 01.07.1994 No lançamento de um dado, vimos que
A Medida Provisória nº 542, de 30 de junho de 1994 (D.O.U. de 30 E={1,2,3,4,5,6}
de junho de 1994), instituiu o Real como unidade do sistema mo-
netário, a partir de 01 de julho de 1994, com a equivalência de CR$
2.750,00 (dois mil, setecentos e cinquenta cruzeiros reais), igual Esperando ocorrer o número 5, tem-se o evento {5}: Ocorrer um
à paridade entre a URV e o Cruzeiro Real fixada para o dia 30 de número par, tem-se {2,4,6}.
junho de 1994. Foi mantido o centavo.
Como medida preparatória à implantação do Real, foi criada a URV
- Unidade Real de Valor - prevista na Medida Provisória nº 434, Exemplo
publicada no D.O.U. de 28 de fevereiro de 1994, reeditada com os Considere o seguinte experimento: registrar as faces voltadas para
números 457 (D.O.U. de 30 de março de 1994) e 482 (D.O.U. de 29 cima em três lançamentos de uma moeda.
de abril de 1994) e convertida na Lei nº 8.880, de 27 de maio de
1994 (D.O.U. de 28 de maio de 1994). a) Quantos elementos tem o espaço amostral?
Exemplo: CR$ 11.000.000,00 (onze milhões de cruzeiros reais) b) Descreva o espaço amostral.
passou a expressar-se R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
Solução
Banco Central (BC ou Bacen) - Autoridade monetária do País res- a) O espaço amostral tem 8 elementos, pois cada lançamento, há
ponsável pela execução da política financeira do governo. Cuida duas possibilidades.
ainda da emissão de moedas, fiscaliza e controla a atividade de
todos os bancos no País. 2x2x2=8

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - Órgão interna- b)


cional que visa ajudar países subdesenvolvidos e em desenvolvi- E={(C,C,C), (C,C,R),(C,R,C),(R,C,C),(R,R,C),(R,C,R),(C,R,R),(R,R,R)}
mento na América Latina. A organização foi criada em 1959 e está
sediada em Washington, nos Estados Unidos.
Probabilidade
Banco Mundial - Nome pelo qual o Banco Internacional de Recons- Considere um experimento aleatório de espaço amostral E com
trução e Desenvolvimento (BIRD) é conhecido. Órgão internacional n(E) amostras equiprováveis. Seja A um evento com n(A) amostras.
ligado a ONU, a instituição foi criada para ajudar países subdesen-
volvidos e em desenvolvimento.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)


- Empresa pública federal vinculada ao Ministério do Desenvol-
vimento, Indústria e Comércio Exterior que tem como objetivo Eventos complementares
financiar empreendimentos para o desenvolvimento do Brasil. Seja E um espaço amostral finito e não vazio, e seja A um evento
de E. Chama-se complementar de A, e indica-se por , o evento
formado por todos os elementos de E que não pertencem a A.
PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA: IDEIAS DE ACASO EM SI-
TUAÇÕES DO COTIDIANO, DADOS: COLETA, LEITURA, SELE-
ÇÃO, INTERPRETAÇÃO, REPRESENTAÇÃO, COMPARAÇÃO
EM TABELAS E GRÁFICOS; COMUNICAÇÃO DE DADOS DE
PESQUISA: PRODUZIR TEXTOS E SOLUCIONAR PROBLE-
MAS A PARTIR DE DADOS COLETADOS E PRODUZIDOS

Experimento Aleatório
Qualquer experiência ou ensaio cujo resultado é imprevisível, por
depender exclusivamente do acaso, por exemplo, o lançamento de Note que
um dado.

Espaço Amostral
Num experimento aleatório, o conjunto de todos os resultados
possíveis é chamado espaço amostral, que se indica por E. Exemplo
No lançamento de um dado, observando a face voltada para cima, Uma bola é retirada de uma urna que contém bolas coloridas. Sa-
tem-se: be-se que a probabilidade de ter sido retirada uma bola vermelha
E={1,2,3,4,5,6} é .Calcular a probabilidade de ter sido retirada uma bola que não
No lançamento de uma moeda, observando a face voltada para seja vermelha.
cima:
E={Ca,Co}

Editora
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244
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Solução Eventos Simultâneos
Considerando dois eventos, A e B, de um mesmo espaço amostral,
a probabilidade de ocorrer A e B é dada por:

São complementares.

Estatística descritiva
O objetivo da Estatística Descritiva é resumir as principais ca-
Adição de probabilidades racterísticas de um conjunto de dados por meio de tabelas, gráficos
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral E, finito e não e resumos numéricos.
vazio. Tem-se:
Noções de estatística
A estatística torna-se a cada dia uma importante ferramenta de
apoio à decisão. Resumindo: é um conjunto de métodos e técnicas
que auxiliam a tomada de decisão sob a presença de incerteza.

Estatística descritiva (Dedutiva)


O objetivo da Estatística Descritiva é resumir as principais ca-
Exemplo racterísticas de um conjunto de dados por meio de tabelas, gráficos
No lançamento de um dado, qual é a probabilidade de se obter um e resumos numéricos. Fazemos uso de:
número par ou menor que 5, na face superior?
Tabelas de frequência
Solução Ao dispor de uma lista volumosa de dados, as tabelas de frequ-
E={1,2,3,4,5,6} n(E)=6 ência servem para agrupar informações de modo que estas possam
ser analisadas. As tabelas podem ser de frequência simples ou de
Sejam os eventos frequência em faixa de valores.
A={2,4,6} n(A)=3
B={1,2,3,4} n(B)=4 Gráficos
O objetivo da representação gráfica é dirigir a atenção do ana-
lista para alguns aspectos de um conjunto de dados. Alguns exem-
plos de gráficos são: diagrama de barras, diagrama em setores,
histograma, boxplot, ramo-e-folhas, diagrama de dispersão, gráfico
sequencial.

Resumos numéricos
Por meio de medidas ou resumos numéricos podemos levantar
importantes informações sobre o conjunto de dados tais como: a
tendência central, variabilidade, simetria, valores extremos, valores
discrepantes, etc.
Probabilidade Condicional
É a probabilidade de ocorrer o evento A dado que ocorreu o even- Estatística inferencial (Indutiva)
to B, definido por: Utiliza informações incompletas para tomar decisões e tirar
conclusões satisfatórias. O alicerce das técnicas de estatística infe-
rencial está no cálculo de probabilidades. Fazemos uso de:

Estimação
A técnica de estimação consiste em utilizar um conjunto de da-
dos incompletos, ao qual iremos chamar de amostra, e nele calcular
E={1,2,3,4,5,6}, n(E)=6 estimativas de quantidades de interesse. Estas estimativas podem
B={2,4,6} n(B)=3 ser pontuais (representadas por um único valor) ou intervalares.
A={2}
Teste de Hipóteses
O fundamento do teste estatístico de hipóteses é levantar su-
posições acerca de uma quantidade não conhecida e utilizar, tam-
bém, dados incompletos para criar uma regra de escolha.

Editora
245
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
População e amostra Dados brutos: é uma sequência de valores numéricos não or-
ganizados, obtidos diretamente da observação de um fenômeno
coletivo.

Rol: é uma sequência ordenada dos dados brutos.

Gráficos e Tabelas
Os gráficos e tabelas apresentam o cruzamento entre dois dados
relacionados entre si.
A escolha do tipo e a forma de apresentação sempre vão depender
do contexto, mas de uma maneira geral um bom gráfico deve:
-Mostrar a informação de modo tão acurado quanto possível.
É o conjunto de todas as unidades sobre as quais há o interesse -Utilizar títulos, rótulos, legendas, etc. para tornar claro o contexto,
de investigar uma ou mais características. o conteúdo e a mensagem.
-Complementar ou melhorar a visualização sobre aspectos descri-
Variáveis e suas classificações tos ou mostrados numericamente através de tabelas.
Qualitativas – quando seus valores são expressos por atribu- -Utilizar escalas adequadas.
-Mostrar claramente as tendências existentes nos dados.
tos: sexo (masculino ou feminino), cor da pele, entre outros. Dize-
mos que estamos qualificando.
Quantitativas – quando seus valores são expressos em núme- Tipos de gráficos
ros (salários dos operários, idade dos alunos, etc). Uma variável
quantitativa que pode assumir qualquer valor entre dois limites Barras- utilizam retângulos para mostrar a quantidade.
recebe o nome de variável contínua; e uma variável que só pode
assumir valores pertencentes a um conjunto enumerável recebe o Barra vertical
nome de variável discreta.

Fases do método estatístico


— Coleta de dados: após cuidadoso planejamento e a devida
determinação das características mensuráveis do fenômeno que se
quer pesquisar, damos início à coleta de dados numéricos necessá-
rios à sua descrição. A coleta pode ser direta e indireta.
— Crítica dos dados: depois de obtidos os dados, os mesmos
devem ser cuidadosamente criticados, à procura de possível falhas
e imperfeições, a fim de não incorrermos em erros grosseiros ou
de certo vulto, que possam influir sensivelmente nos resultados. A
crítica pode ser externa e interna.

— Apuração dos dados: soma e processamento dos dados ob-


tidos e a disposição mediante critérios de classificação, que pode
ser manual, eletromecânica ou eletrônica.
— Exposição ou apresentação de dados: os dados devem ser Barra horizontal
apresentados sob forma adequada (tabelas ou gráficos), tornando
mais fácil o exame daquilo que está sendo objeto de tratamento
estatístico.
— Análise dos resultados: realizadas anteriores (Estatística
Descritiva), fazemos uma análise dos resultados obtidos, através
dos métodos da Estatística Indutiva ou Inferencial, que tem por
base a indução ou inferência, e tiramos desses resultados conclu-
sões e previsões.

Censo
É uma avaliação direta de um parâmetro, utilizando-se todos os
componentes da população.

Principais propriedades:
- Admite erros processual zero e tem 100% de confiabilidade;
- É caro;
- É lento;
- É quase sempre desatualizado (visto que se realizam em perí-
odos de anos 10 em 10 anos);
- Nem sempre é viável.

Editora
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Histogramas Pictogramas – são imagens ilustrativas para tornar mais fácil a
compreensão de todos sobre um tema.
São gráfico de barra que mostram a frequência de uma variável
específica e um detalhe importante que são faixas de valores em x.

Da mesma forma, as tabelas ajudam na melhor visualização de


dados e muitas vezes é através dela que vamos fazer os tipos de
gráficos vistos anteriormente.

Podem ser tabelas simples:

Quantos aparelhos tecnológicos você tem na sua casa?

APARELHO QUANTIDADE
Televisão 3

Setor ou pizza- Muito útil quando temos um total e queremos Celular 4


demonstrar cada parte, separando cada pedaço como numa pizza. Geladeira 1

Média aritmética
Média aritmética de um conjunto de números é o valor que se
obtém dividindo a soma dos elementos pelo número de elementos
do conjunto.
Representemos a média aritmética por .
A média pode ser calculada apenas se a variável envolvida na pes-
quisa for quantitativa. Não faz sentido calcular a média aritmética
para variáveis quantitativas.
Na realização de uma mesma pesquisa estatística entre diferentes
grupos, se for possível calcular a média, ficará mais fácil estabele-
cer uma comparação entre esses grupos e perceber tendências.
Considerando uma equipe de basquete, a soma das alturas dos
jogadores é:
Linhas- É um gráfico de grande utilidade e muito comum na repre-
sentação de tendências e relacionamentos de variáveis
1,85 + 1,85 + 1,95 + 1,98 + 1,98 + 1,98 + 2,01 + 2,01+2,07
+2,07+2,07+2,07+2,10+2,13+2,18 = 30,0

Se dividirmos esse valor pelo número total de jogadores, obtere-


mos a média aritmética das alturas:

A média aritmética das alturas dos jogadores é 2,02m.

Média Ponderada
A média dos elementos do conjunto numérico A relativa à adição
e na qual cada elemento tem um “determinado peso” é chamada
média aritmética ponderada.

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Mediana (Md) Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua mé-
Sejam os valores escritos em rol: x1 , x2 , x3 , ... xn dia aritmética. Chama-se variância desse conjunto, e indica-se por
, o número:
Sendo n ímpar, chama-se mediana o termo xi tal que o número
de termos da sequência que precedem xi é igual ao número de
termos que o sucedem, isto é, xi é termo médio da sequência (xn)
em rol.
Isto é:
Sendo n par, chama-se mediana o valor obtido pela média aritmé-
tica entre os termos xj e xj +1, tais que o número de termos que
precedem xj é igual ao número de termos que sucedem xj +1, isto
é, a mediana é a média aritmética entre os termos centrais da
sequência (xn) em rol.

Exemplo 1: E para amostra


Determinar a mediana do conjunto de dados:
{12, 3, 7, 10, 21, 18, 23}

Solução:
Escrevendo os elementos do conjunto em rol, tem-se: (3, 7, 10, 12, Exemplo 1:
18, 21, 23). A mediana é o termo médio desse rol. Logo: Md=12 Em oito jogos, o jogador A, de bola ao cesto, apresentou o seguin-
Resposta: Md=12. te desempenho, descrito na tabela abaixo:

Exemplo 2: JOGO NÚMERO DE PONTOS


Determinar a mediana do conjunto de dados:
{10, 12, 3, 7, 18, 23, 21, 25}. 1 22
2 18
Solução:
3 13
Escrevendo-se os elementos do conjunto em rol, tem-se:
(3, 7, 10, 12, 18, 21, 23, 25). A mediana é a média aritmética entre 4 24
os dois termos centrais do rol. 5 26
Logo: 6 20
7 19
Resposta: Md=15
8 18
Moda (Mo)
Num conjunto de números: x1 , x2 , x3 , ... xn, chama-se moda a) Qual a média de pontos por jogo?
aquele valor que ocorre com maior frequência. b) Qual a variância do conjunto de pontos?

Observação: Solução:
A moda pode não existir e, se existir, pode não ser única.
a) A média de pontos por jogo é:
Exemplo 1:
O conjunto de dados 3, 3, 8, 8, 8, 6, 9, 31 tem moda igual a 8, isto
é, Mo=8.

Exemplo 2:
O conjunto de dados 1, 2, 9, 6, 3, 5 não tem moda.
b) A variância é:
Medidas de dispersão
Duas distribuições de frequência com medidas de tendência
central semelhantes podem apresentar características diversas.
Necessita-se de outros índices numéricas que informem sobre o
grau de dispersão ou variação dos dados em torno da média ou de
qualquer outro valor de concentração. Esses índices são chamados
medidas de dispersão.
Desvio médio
Variância Definição
Há um índice que mede a “dispersão” dos elementos de um con- Medida da dispersão dos dados em relação à média de uma sequ-
junto de números em relação à sua média aritmética, e que é cha- ência. Esta medida representa a média das distâncias entre cada
mado de variância. Esse índice é assim definido: elemento da amostra e seu valor médio.

Editora
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Na prática, porém, o ensino-aprendizagem da Álgebra tem gerado
algumas deficiências que são diagnosticadas em várias pesquisas
e nas avaliações governamentais. Acreditamos que isso ocorre em
vista da ênfase que se dá a seus aspectos técnicos, deixando de
Desvio padrão lado, muitas vezes, o desenvolvimento dos conceitos e uma busca
Definição por um pensamento mais abstrato. Acreditamos que ao se enfatizar
Seja o conjunto de números x1 , x2 , x3 , ... xn, tal que é sua mé- o pensamento algébrico ao invés de apenas se restringir a questões
dia aritmética. Chama-se desvio padrão desse conjunto, e indica-se técnicas e operacionais, o ensino de Álgebra poderia contribuir não
por , o número: só no aprendizado da Matemática como também auxiliar no desen-
volvimento do pensamento lógico-abstrato do estudante, pensa-
mento esse essencial para o desenvolvimento de um cidadão capaz
de viver na sociedade atual.
Ao se olhar para a história da Álgebra, desde os primórdios
quando o objeto de estudo eram equações algébricas específicas
até o estabelecimento de uma área de pesquisa que hoje é essen-
Isto é: cialmente abstrata (se levarmos em conta muitos dos problemas
considerados atualmente pelos pesquisadores), perceberemos um
longo caminho de busca de padrões e sedimentação teórica.
Essa mesma história nos ensina como aconteceu o difícil esta-
belecimento dessa área de conhecimento. Houve a necessidade da
construção de uma linguagem simbólica apropriada às questões tra-
tadas aliada à consequente emersão de conceitos algébricos cada
Exemplo: vez mais abstratos. Só assim a Álgebra se consolidou como área de
As estaturas dos jogadores de uma equipe de basquetebol são: conhecimento, área essa que é, portanto, fruto de um desenvolvi-
2,00 m; 1,95 m; 2,10 m; 1,90 m e 2,05 m. Calcular: mento histórico e não inata ao ser humano. Dito de outra forma, o
a) A estatura média desses jogadores. conhecimento da Álgebra precisa do meio social para ser aprendido
b) O desvio padrão desse conjunto de estaturas. e assimilado pelo indivíduo. De acordo com a nossa estrutura social,
esse ensino compete à escola ou, mais especificamente, à disciplina
Solução: de Matemática.
Nosso objetivo aqui é apresentar certos recortes sobre esse de-
Sendo a estatura média, temos: senvolvimento histórico a partir de relatos de alguns historiadores
da matemática e compreender qual conceito algébrico estava explí-
cito ou implícito nesse citado percurso.
A partir dessa compreensão, pretendemos identificar desen-
volvimentos históricos que podem ou não ser utilizados no proces-
so de ensino da Álgebra, não esquecendo que estamos buscando
um ensino que enfatize mais a forma de pensar do que a mera re-
solução de exercícios.
Sendo o desvio padrão, tem-se:
A Álgebra sob o âmbito escolar
Há algumas décadas, as avaliações governamentais apontam pos-
síveis deficiências no aprendizado da matemática, em especial no da
Álgebra, como podemos verificar em Silva (2008), que apresenta dados
estatísticos do desempenho dos alunos em matemática no SAEB-2003.
Da mesma maneira, Ribeiro (2001) analisa o desempenho de estudan-
tes do Ensino Fundamental em Álgebra, com base em dados do Saresp.
Outras pesquisas, igualmente, também indicam as dificuldades
ÁLGEBRA: DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO ALGÉ- apresentadas pelos estudantes na aprendizagem da Álgebra (Lins;
BRICO; PADRÕES DE REGULARIDADES NUMÉRICOS OU Gimenez, 2001). Essas constatações não ocorrem apenas no Brasil,
FIGURAIS, REGRAS DE FORMAÇÃO DE SEQUÊNCIA NUMÉ- mas também em muitos países. Citamos como exemplo o 12º ICMI
RICA OU FIGURAL: AMPLIAÇÃO, CONSTRUÇÃO, IDENTIFI- Study em 2001, que foi dedicado ao ensino de Álgebra e falou da
CAÇÃO E DESCRIÇÃO; PROPORCIONALIDADE necessidade de desenvolver nos estudantes a capacidade de abs-
tração (Stacey; Chick, 2004). Encontramos pesquisadores que dis-
cutem e investigam sobre as deficiências no ensino e aprendizagem
da Álgebra (Blanton; Kaput, 2005; Kaput; Blanton; Moreno, 2008;
A álgebra faz parte do desenvolvimento humano e, como tal, Ribeiro; Cury, 2015; Wasserman, 2016).
surge inicialmente para resolver necessidades práticas, estando Os resultados que a aprendizagem da Álgebra vêm apresentan-
bastante presente em nosso cotidiano de várias formas. Por isso, e do nas últimas décadas provêm, na verdade, de um processo que o
como não poderia deixar de ser, ela é parte essencial no ensino de ensino dessa área vem sofrendo ao longo dos anos e que se man-
Matemática nos níveis Fundamental e Médio. Reconhecendo a sua tém em voga na escola atual. No Brasil, mesmo com várias reformas
relevância na formação do cidadão, em 20 de dezembro de 2017 educacionais, novas diretrizes e orientações propostas para o siste-
foi homologada a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)1 que ma educacional, o ensino de Álgebra permaneceu com poucas alte-
apresenta em seus documentos que a Unidade Temática Álgebra rações na Educação Básica. Muitos pesquisadores afirmam que, no
seja desenvolvida desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. ensino de Álgebra, ainda prevalece a aprendizagem de um conjunto
Editora
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
de técnicas operatórias que busca apenas resolver equações sem Cabe ressaltar aqui que, dentro dessa concepção, eram nor-
contextualizá-las, porém (Barbosa; Borralho, 2009; Aguiar, 2014). malmente utilizados recursos como balanças e gangorras para a
Nesse cenário, cabe questionarmos se o ensino atual está pro- justificação de certas passagens do transformismo algébrico, recor-
porcionando aos estudantes uma aprendizagem de fato. Para en- rendo assim a materiais concretos e a leis do equilíbrio físico. Com
tendermos essa situação, não basta olharmos apenas para o mo- tudo isso, apesar de se caracterizar de forma distinta, aqui também
mento atual e, sim, compreendermos como o ensino de Álgebra é conferido o papel principal do ensino às regras algébricas, aproxi-
se desenvolveu ao longo dos tempos e quais as concepções que mando-se muito nesse aspecto do transformismo algébrico.
permearam esse caminho. Para isso, apoiamo-nos em Fiorentini, A nosso ver, essas três abordagens parecem incorrer no mesmo
Miguel e Miorim (1993) que procuram descrever cada momento do equívoco de reduzir o ensino de Álgebra à mera manipulação de
desenvolvimento do ensino de Álgebra. regras algébricas.
De acordo com Fiorentini, Miguel e Miorim (1993), há, ao me- É justo dizer que essa visão de focar no treinamento de técnicas
nos, três concepções com características distintas que influencia- algébricas ainda prevalece no ensino de Álgebra. Segundo Usiskin
ram esse ensino de forma significativa. (1994), o foco desse ensino na escola básica ainda é medir a capa-
Em primeiro lugar, esses autores destacam o chamado transfor- cidade de manejar diversas técnicas operatórias, o que, cabe res-
mismo algébrico que foi a base do ensino de Álgebra, tanto no Brasil saltar, se constitui em uma habilidade que, por si só, já não é mais
quanto em outros países, durante todo o século XIX e a primeira tão necessária na vida adulta, dado o desenvolvimento tecnológico
metade do século XX. Entende-se por isso o processo de obtenção atual.
de expressões algébricas equivalentes entre si mediante o emprego Por outro lado, Aguiar (2014), ao analisar livros didáticos, per-
de regras e propriedades válidas, resultando, em última instância, cebeu que a maioria dos livros do Ensino Fundamental ainda pri-
em um mero jogo, muitas vezes artificial, de habilidades visando a vilegia o ensino de regras e técnicas operatórias, e poucos apre-
resolução de problemas. Acreditava-se que isso fosse o suficiente sentam propostas voltadas para o desenvolvimento dos conceitos
para que o aluno adquirisse a capacidade de resolver problemas, algébricos e do pensamento algébrico. Como fruto desse trabalho,
problemas esses na maioria das vezes deslocados da realidade. percebe-se que “as inovações aparecem, mas esbarram nos conteú-
Porém, a partir da década de 1950, e estendendo-se até os dos arraigados que não perdem o seu espaço no Ensino Fundamen-
anos 1970, começou a se destacar o Movimento da Matemática tal” (Aguiar, 2014, p.286).
Moderna que fez um contraponto à concepção acima mencionada. Assim, concordamos também com Machado (1991) que de-
Aqui, o papel pedagógico a ser desempenhado pela Álgebra passa a fende um ensino que não se concentre tanto na escrita algébrica
ser o de fundamentar todo o ensino da Matemática. Nessa direção, e mais na compreensão da forma de pensar. Mais especificamente,
prevaleceu a ideia de, ao se justificar as passagens presentes no ele escreve:
transformismo algébrico via a introdução de propriedades estru- Pensamos que a Matemática tem sido ensinada em quase todos
turais das operações, isso bastaria para se capacitar o estudante na os níveis com uma ênfase que consideramos exagerada na linguagem
identificação dessas estruturas em outros contextos, assim como matemática. A preocupação central parece ser escrever corretamente,
nas suas aplicações. falar corretamente, em detrimento essencial do papel que a Matemáti-
Para tanto, os tópicos algébricos foram reorganizados de tal ca pode desempenhar quanto ao favorecimento de um pensamento, e
sorte que se ensinassem em primeiro lugar os conjuntos numéricos, um tempo, ordenado e criativo.
suas propriedades estruturais, as sentenças abertas e fechadas, o Evidentemente, não se trata de contrapor o pensamento à lin-
conjunto-universo e o conjunto-verdade e as equações e inequa- guagem; não se pode pretender considera-los desvinculadamente,
ções do 1° grau. Só após esse estudo é que seriam abordadas as ou entificá-los, tratando-os um por vez, uma vez que é só na relação
expressões algébricas, valores numéricos, operações e a fatoração. entre ambos que se pode aprendê-los. No entanto, em Matemá-
Por fim, na sequência, seriam introduzidos os novos conteúdos al- tica, com uma frequência muito grande, o pensamento situa-se a
gébricos, isto é, as funções (Fiorentini; Miguel; Miorim, 1993). reboque da linguagem matemática. Numa parte considerável dos
Em um terceiro momento, tentou-se fazer uma síntese entre textos, mesmo nos didáticos, o caminho escolhido para a obtenção
as duas concepções descritas aqui ao se buscar mesclar o caráter dos resultados é o mais curto, o mais cômodo ou o esteticamente
de justificação das passagens presentes no transformismo algébrico mais agradável, sempre de um ponto de vista linguístico. (Macha-
com o valor instrumental da Álgebra que era a base da Matemáti- do, 1991, p.97-8)
ca Moderna. O que caracterizou, no entanto, essa nova forma de O que se depreende de Machado (1991) é que, para ensinar
pensar foi a utilização de recursos analógicos geométricos, portanto Álgebra, o desenvolvimento do pensar, em particular o do raciocí-
visuais. Dito de outra forma, acredita-se aqui que, ao se justificar nio algébrico, deve estar associado com a forma de escrever esse
certas identidades algébricas por meio de construções geométri- pensamento, e essas habilidades devem ser conjuntamente de-
cas, o estudante teria mais facilidades no aprendizado do que uma senvolvidas sem enfatizar nenhuma delas em detrimento da outra.
abordagem estritamente lógico-simbólica. Conscientemente ou Deve-se, portanto, vincular os resultados obtidos com a forma de
não, esse enfoque vai ao encontro de uma das características que pensar daquele momento de ensino e não com a forma mais fácil
envolvem a história da Álgebra, pois, por muito tempo, as justifi- de resolução de problemas.
cativas para a resolução de equações algébricas se baseavam em Da mesma maneira, Fiorentini, Miguel e Miorim (1993) discutem essa
construções geométricas. tendência da crença de que, para o ensino de Álgebra, só por meio da ma-
Os adeptos dessa concepção, porém, acreditavam que essa eta- nipulação de sua linguagem específica é que o pensamento algébrico pode
pa geométrico-visual constituiria um primeiro estágio nesse apren- se manifestar. Para esses autores, essa é uma abordagem equivocada, pois
dizado e que, a seguir, poder-se-ia apresentar então aos estudantes “essa relação de subordinação do pensamento algébrico à linguagem des-
a abordagem simbólica. Entendemos, porém, que essa passagem se considera o fato de que, tanto no plano histórico quanto no pedagógico, a
constitui na grande dificuldade do aprendizado, e, recorrendo no- linguagem é, pelo menos em princípio, a expressão de um pensamento”
vamente à história da Álgebra, foi justamente a não percepção de (Fiorentini; Miguel; Miorim, 1993, p.85).
que a Álgebra sobreviveria independentemente de justificativas ge- Os órgãos governamentais seguem essa mesma tônica ao defen-
ométricas que atrasou, de certa forma, o desenvolvimento do que der, no que compete ao ensino de Álgebra, a proposta de se evidenciar
chamamos atualmente de pensamento algébrico-abstrato. as habilidades e competências juntamente ao desenvolvimento da for-
Editora
250
250
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
ma de pensar algebricamente, como declara os Parâmetros Curricula- faltassem, isso significava que tonéis foram acrescentados ao armazém. Cla-
res Nacionais (PCN): ro está que esse método ainda não indicava que havia números disponíveis.
Embora nas séries iniciais já se possa desenvolver alguns aspec- Também, apesar de atualmente podermos caracterizar isso de forma abs-
tos da álgebra, é especialmente nas séries finais do ensino funda- trata, ainda esse procedimento não envolvia um grau elevado de abstração,
mental que as atividades algébricas serão ampliadas. Pela explora- pois baseava-se em uma simples ideia de correspondência biunívoca entre
ção de situações-problema, o aluno reconhecerá diferentes funções dois conjuntos de objetos.
da álgebra (generalizar padrões aritméticos, estabelecer relação entre Em um passo posterior, os primeiros registros numéricos especí-
duas grandezas, modelizar, resolver problemas aritmeticamente difí- ficos representavam não só o número em si, mas também o objeto a
ceis), representará problemas por meio de equações e inequações (di- ser contado. Dito de outra forma, números estavam atrelados, em um
ferenciando parâmetros, variáveis, incógnitas, tomando contato com primeiro momento, aos objetos. A maneira como atualmente conta-
fórmulas), compreenderá a “sintaxe” (regras para a resolução) de uma mos os objetos demorou ainda um pouco para se consolidar e só veio
equação. quando os registros numéricos apareceram desvinculados dos objetos,
Esse encaminhamento dado a álgebra, a partir da generalização o que pode ser entendido como um passo rumo à abstração.
de padrões, bem como o estudo da variação de grandezas possibi- Essa sutileza passa despercebida muitas vezes, aprendemos
lita a exploração da noção de função nos terceiros e quarto ciclos cedo a contar, de certa forma muito automaticamente, e não nos
[atualmente de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental]. Entretanto, damos conta de que o simples ato de contagem se baseia em um
a abordagem formal desse conceito deverá ser objeto de estudo do processo mental de abstração.
ensino médio. (Brasil, 1998, p.50-1) Quando se aprende a pensar abstratamente? É claro que alguns con-
Mais adiante, quando os PCN pretendem orientar os professo- ceitos abstratos são mais facilmente aceitos que outros e mais natural-
res para o trabalho com o ensino de Álgebra, é enfatizado que mente assimilados em nosso sistema educacional. Por outro lado, o nosso
[...] é mais proveitoso propor situações que levem os alunos a cotidiano está cheio de momentos em que o pensamento abstrato se faz
construir noções algébricas pela observação de regularidades em tabe- necessário, quer seja quando discutimos política ou religião ou mesmo es-
las e gráficos, estabelecendo relações, do que desenvolver o estudo da porte, quer seja quando buscamos padrões ou analogias em nossas argu-
álgebra apenas enfatizando as “manipulações” com expressões e equa- mentações. O pensamento abstrato não aparece apenas na matemática ou
ções de uma forma meramente mecânica. (ibidem, p.116) na Álgebra, especificamente, é algo que nos auxilia no desenvolvimento do
Nos últimos anos, deparamos com a proposta dos órgãos go- ato de raciocinar e, por não ser uma característica inerente ao ser humano,
vernamentais para incluir o ensino de Álgebra desde os anos ini- ele pode ser desenvolvido de acordo com o meio social em que vivemos.
ciais. O Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)3 Nosso objetivo aqui é discutir como a Álgebra, ou mais especifica-
já havia iniciado essa discussão e colocado algumas ideias sobre o mente a história da Álgebra, pode ser útil no desenvolvimento de um
reconhecimento de padrões e regularidades nos anos iniciais vi- “tipo” de pensamento abstrato. Ao contrário de outras grandes áreas
sando o ensino de Álgebra. Em 2017, após muita discussão, a Base da matemática, a construção da Álgebra como área do conhecimento
Nacional Comum Curricular (BNCC) já estabelece os conteúdos mí- ao longo dos tempos se deu por um processo de passagem do trata-
nimos que deverão ser desenvolvidos nos anos iniciais dentro da mento de questões concretas a questões abstratas. Esse processo foi
Unidade Temática Álgebra. gradativo ao longo dos séculos e é isso que gostaríamos de explorar
Atualmente, pesquisadores como Ponte, Branco e Matos neste texto.
(2009, p.10) defendem que o grande objetivo do estudo da Álgebra Voltando rapidamente aos números, sabemos que eles não
tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio é “desenvolver o servem apenas para efeito de contagem pura e simplesmente. Há
Pensamento Algébrico nos alunos”. Assim, o pensamento algébri- operações embutidas com propriedades que se repetem ou não
co pode ser entendido “como uma forma de estruturação do pen- se considerarmos distintos conjuntos numéricos. A percepção de
samento - passível de ser desenvolvida desde a Educação Infantil, que há padrões em comum a vários conjuntos, a formulação das
percorrendo toda a escolaridade - que pressupõe a generalização, propriedades iniciais e de suas consequências, tudo isso se torna
transpondo situações particulares a ideias gerais” (Ferreira, 2017, parte de um mesmo processo no caminho da abstração. Antes de
p.20-1). discutirmos isso em mais profundidade, vamos ver como esse pen-
Resta-nos compreender o que seria esse Pensamento Algébri- samento se dá na educação escolar.
co e como podemos desenvolvê-lo na sala de aula. Para tanto, nas
próximas seções, discutiremos alguns aspectos da história da Álge- O pensamento algébrico na educação escolar
bra e do pensamento algébrico. Acreditamos na ideia de que o pensamento abstrato, para
emergir dentre os cidadãos, precisa de um meio para se desen-
Questões sobre o pensamento abstrato volver e ser aprendido. Nesse sentido, e na escola em especial, o
Apesar de muitas vezes não nos darmos conta, conceitos abs- ensino de Matemática possui um papel relevante. Faz parte das ha-
tratos nos rodeiam e interferem em nosso cotidiano. A noção de bilidades matemáticas auxiliar os estudantes a desenvolverem tais
número é um bom exemplo. ferramentas para a sua vida em sociedade. Em especial, a Álgebra
É fato comumente aceito que no início da civilização, assim pode corroborar se, em seu ensino, o enfoque for o de desenvolver
que os seres humanos deixaram de ser nômades e se fixaram em no estudante um pensamento que o auxilie na busca de padrões e
agrupamentos de pessoas, a necessidade de controle da produção analogias quando enfrentar problemas cotidianos.
agrícola e pecuária levou à criação de registros numéricos. A isso, poderíamos chamar, em uma primeira aproximação, de
Em um primeiro momento, lançou-se mão de alguns outros pensamento algébrico. No entanto, se nos aprofundarmos, torna-
objetos para fazer essa contagem. Por exemplo, se fosse necessário -se difícil definir, claramente, o que é de fato o pensamento algébri-
verificar quantos tonéis de óleo existiam armaze nados era comum re- co. Seria esse uma forma de pensar a partir de um conhecimento
lacionar, por exemplo, a cada um desses tonéis uma pedra que era separada algébrico? Quais seriam, então, as habilidades e as características
e colocada em algum outro recipiente, criando-se assim o que chamamos que permeariam indubitavelmente tal pensamento?
de uma correspondência biunívoca entre tonéis e pedras. A verificação, a Não existe um consenso na literatura a respeito do que significa
posteriori, do número de tonéis ficava imediata: se, em uma próxima con- o pensamento algébrico e o pensar algebricamente.
tagem sobrassem pedras, isso significava que tonéis foram utilizados, e se

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Blanton e Kaput (2005, p.413) definem o pensamento algébri- Interessante notar, a propósito, a contribuição dos matemáticos india-
co como “um processo no qual os alunos generalizam ideias mate- nos no que diz respeito a essa questão. Se, por um lado, o sistema posicio-
máticas de um conjunto particular de exemplos, estabelecem gene- nal decimal indiano (que utilizamos até hoje) chegou à Europa no século
ralizações por meio do discurso de argumentação, e expressam-nas, XII, por intermédio do matemático Fibonacci, via influência árabe, o mesmo
cada vez mais, em caminhos formais e apropriados à sua idade”. não se pode dizer do entendimento que os indianos tinham dos números
No mesmo sentido, Kaput, Blanton e Moreno (2008) consideram negativos e do zero. Alguns matemáticos indianos, como Brahmagupta que
que a generalização e a simbolização são os cernes do pensamento viveu no século VII, já tinham uma noção de como operacionalizar tais nú-
algébrico. meros. Com um sentido mais utilitário e pragmático no que diz respeito a
Para Ponte, Branco e Matos (2009, p.28), aprender Álgebra essas questões, eles também não tinham grandes problemas com opera-
significa ser capaz de pensar algebricamente, e que isso inclui o co- ções de números irracionais.
nhecimento das propriedades das operações pois “a identificação Podemos dizer que a estranheza com números negativos e com o
zero ainda iria perdurar por um longo tempo, dividindo opiniões, e isso
destas propriedades e a sua generalização desde os primeiros anos
só seria resolvido quando a matemática já estivesse madura para uma
de escolaridade constituem uma base importante para o pensar
formalização dos conjuntos numéricos e de suas operações.
algebricamente”. Um segundo momento é caracterizado pela busca de padrões e
Wasserman (2016) salienta que os professores precisam per- regras. A história da matemática, e a da Álgebra, é exemplar nesse as-
ceber como as propriedades das operações estão sendo trabalha- pecto, caracteriza-se pela busca de padrões que definam as estruturas
das pelos estudantes explícita ou implicitamente e precisam saber a serem estudadas. Entendemos por isso a busca de elementos e pro-
como problematizá-las. priedades comuns a estruturas que, em princípio, podem parecer bem
Blanton e Kaput (2005), p.413 categorizam quatro formas de distintas.
pensamento algébrico: Por exemplo, o conjunto dos números inteiros e o conjunto das
[...] o uso da aritmética como domínio da expressão e a for- funções bijetoras definidas no domínio {1, 2, 3} possuem comporta-
malização da generalização (aritmética generalizada); a generali- mentos muito distintos. No entanto, em ambos os conjuntos é pos-
sível se definir uma operação. Considerando no conjunto dos núme-
zação de padrões numéricos para descrever as relações funcionais
ros inteiros a operação soma, e no conjunto das funções bijetoras
(pensamento funcional); a modelação como um domínio para a a operação de composição, essas operações compartilham três
expressão e formalização das generalizações; e a generalização propriedades (a chamada associatividade, a existência de um ele-
sobre sistemas matemáticos abstratos do cálculo e das relações. mento neutro dessa operação e a existência de elementos inver-
Todos esses autores contribuem com visões que, a nosso ver, se sos também relativos a essa operação) e que, por isso, merecem o
complementam no que entendemos ser o pensamento algébrico a nome de grupo algébrico (Herstein, 1995). No entanto, existem
ser ensinado nas escolas. muitas diferenças entre esses conjuntos: por exemplo, a operação
Um pouco da história da Álgebra soma considerada no conjunto dos inteiros é uma operação comu-
Quando se olha especificamente para a história da álgebra ou, tativa, pois não importa a ordem dos elementos em que se faz essa
de outro modo, para o desenvolvimento dos métodos algébricos, soma, mas, no entanto, a operação considerada no conjunto de
nota-se que esse acontece em, ao menos, três estágios distintos. funções (a composta de funções) não é comutativa.
Iremos destacar aqui apenas os pontos que mais se relacionam com Sem entrarmos em mais detalhes, o que queremos enfatizar é
a nossa discussão sobre o desenvolvimento do pensamento algé- que conjuntos, mesmo distintos, compartilham padrões matemáti-
brico no processo de ensino-aprendizagem da Álgebra na Educação cos (operações, propriedades etc.). No caso da Álgebra, um ponto
Básica. Para detalhes, indicamos, por exemplo, Hollingdale (2006), importante para se clarificar os padrões existentes foi o desenvol-
Roque (2012) e Struick (1987) que propiciam essas discussões.
vimento de uma linguagem própria. Nada mais natural, então, que
Em um primeiro momento, trata-se da resolução de problemas en-
volvendo equações de primeiro ou segundo graus que são normalmen-
tal estágio esteja muito ligado ao desenvolvimento das notações
te descritos, problemas e soluções, de forma retórica. Também, como matemáticas, que se estabilizaram razoavelmente apenas a partir
tais equações tinham como motivação, em geral, resolver problemas do século XVI. Mais do que a geometria, a Álgebra dependeu desse
de cunho geométrico, tanto resolução quanto justificativas, quando as desenvolvimento para se fixar como uma área do conhecimento.
havia, apresentavam esse viés. A própria terminologia usada então re- O desenvolvimento das notações é, normalmente, dividido em
fletia, e ainda reflete, isso: raízes quadradas, equações quadráticas e três fases: a retórica, a sincopada e, finalmente, a simbólica. Traba-
cúbicas são exemplos claros dessa relação. lhar em sala de aula esse percurso a partir de um problema retórico
Observemos também que os números, ainda não compreen- até chegar a uma expressão, digamos, algébrica é bastante salutar
didos da forma que hoje os são, embutiam também característi- e tem sido feito em muitos casos. Mas basta isso para se convencer
cas geométricas. Não por acaso, números negativos e até mesmo
da importância de boas notações? Acreditamos que é necessária
o número zero demoraram a ser aceitos no mesmo nível que os
uma integração maior entre esse processo e a busca de padrões.
positivos. Mesmo quando, no século XVI, Cardano publicou o seu
Ars Magna que tratava de soluções de equações de 3° e 4° graus, Com a incorporação de uma simbologia própria substituindo a
resultados envolvendo números negativos eram denominados de retórica e, por outro lado, com a necessidade de se achar justifica-
soluções falsas (Cardano, 2007; Roque, 2012). tivas que não dependessem tanto da geometria, tornou-se impor-
Não que os números negativos não tivessem alguma interpretação tante olhar as bases em que os métodos algébricos poderiam se
quando escritos separadamente (como indicando uma dívida), mas o fundamentar.
que faltava era uma noção de operacionalidade entre eles, ao contrário Por sua vez, a formalização dos conjuntos numéricos e de suas
do que ocorria quando se pensava no universo dos números positivos. propriedades definidoras só se completou nos finais do século XIX e
Por exemplo, o que significava o produto de dois números negativos? só a partir de então a Álgebra adquiriu finalmente uma fundamen-
Cabe ressaltar que, muito provavelmente não por acaso, essa é uma tação abstrata que propiciou o seu desenvolvimento como área de
dificuldade que os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental
pesquisa.
ainda têm. Métodos algébricos
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MATEMÁTICA
O significado da palavra Álgebra modificou-se ao longo dos sé- paralelo, de uma linguagem apropriada e de um sistema de nume-
culos. A rigor, essa palavra, que vem do árabe “al-jabr”, só apareceu ração adequado do ponto de vista operacional (sistema posicional
após o século IX, mas isso não invalida a discussão feita, pois antes e, no nosso caso, de base decimal).
muito dos métodos que hoje chamamos de algébricos eram refe- Com isso, acreditamos que o ensino, ao invés de tratar inicial-
ridos como métodos aritméticos. Aritmética e Álgebra poderiam, mente das técnicas de resolução de problemas propriamente ditas,
nesse sentido, se referir à mesma coisa. deveria focar mais na discussão dos significados dos conceitos al-
Por todos os estágios pelos quais a Álgebra passou, do mais gébricos. Como dissemos, não defendemos que as técnicas devam
concreto ao mais abstrato, são usualmente chamados igualmente ser abandonadas, apenas que não devam ser a preocupação inicial,
de Álgebra e, por isso, muitas definições são possíveis, mas não ire- ou única, para o bom aprendizado. Entender, em um primeiro mo-
mos entrar nessa polêmica. Assim também não nos interessa aqui mento, que existem padrões e propriedades por trás das operações
nomear qualquer matemático como o pai da Álgebra, pois isso foge é mais importante do que a mera memorização de técnicas opera-
e muito de uma discussão na qual gostaríamos de enfatizar aspec- tórias. Mesmo as fórmulas, quando for o momento de aprendê-las,
tos outros que apenas os factuais. podem, e devem, ser justificadas a partir dos mesmos parâmetros
Antes de prosseguirmos, é importante conceituar o que en- conceituais.
tendemos por métodos algébricos. Eles estão relacionados à ma- Entendemos também que, para o processo de ensino e apren-
nipulação de operações em conjuntos e suas propriedades básicas. dizagem, quer seja de Álgebra, quer seja de qualquer outra área da
Objetivando um melhor entendimento do que temos em mente, matemática, o entendimento de como as ideias se desenvolveram
poderíamos focar, inicialmente, na fórmula que é usualmente cha- ao longo dos tempos é crucial para se discutir conceitos. Pelas ca-
mada de Bhaskara,7 a fórmula que nos propicia achar as soluções racterísticas que discutimos neste trabalho, acreditamos que essa
de uma equação de segundo grau. Por exemplo, consideremos uma correlação é mais necessária e relevante para o ensino.
equação genérica ax2+bxc=0, Dependendo do nível em que o aluno se encontra, ele pode
sendo os coeficientes a, b, c pertencentes a algum conjunto não estar ainda maduro para entender ou assimilar muito do que
discutimos. Acreditamos, porém, que, independentemente de
numérico, por exemplo, o conjunto dos números reais. Achar uma
qualquer outro fator, o professor deve ter muito claras essas ques-
solução para tal equação é encontrar um elemento r (nesse mesmo tões para poder desenvolvê-las junto aos alunos.
conjunto numérico) tal que, ao substituir x por r, a relação Concordamos com Fiorentini, Fernandes e Cristóvão (2005)
ar2+br+c=0,
que dizem que o pensamento é uma ação cognitiva do sujeito. Por
seja verdadeira. Por trás dessa sentença matemática estão em-
isso, cabe ao estudante utilizar ou não o pensamento algébrico para
butidas, obviamente, duas operações: a da multiplicação (indicadas
resolver uma tarefa de sala de aula, dependendo muito das ferra-
na notação acima por r2=r⋅r,ar2=a⋅r2⋅br−b⋅r); e a da adição (por
mentas cognitivas que ele possui. Por outro lado, concordamos com
exemplo, ar2+br,br+c). Essas operações, a depender do conjunto
Ferreira, Ribeiro e Ribeiro (2017) que, estando a par disso, caberia
numérico usado, satisfazem certas propriedades que serão descri-
ao professor proporcionar tarefas que estimulassem o pensamento
tas mais adiante.
algébrico e não somente proporcionar tarefas que reforcem a utili-
É usual escrever a solução dada pela fórmula de Bhaskara men-
zação de técnicas operatórias.
cionada anteriormente por: Padrão de regularidade
r=−b±b2−4ac2a, A ênfase é no pensamento algébrico, que permite compreen-
sendo os números a, b, c os coeficientes da equação inicial. Ob- der e representar relações de grandezas, equivalências, variação,
serve que, aqui, aparece também a radiciação (⋅)e, em vista disso, interdependência e proporcionalidade. Os conteúdos dessa unida-
há a necessidade de uma análise sobre a possibilidade de se fazer de temática devem preparar o aluno para perceber regularidades e
tal operação considerando o fato de b2 - 4ac ser positivo ou não. padrões de sequências numéricas e não numéricas, para interpre-
A operação evidente de divisão que aparece na fórmula pode ser tar representações gráficas e simbólicas e para resolver problemas
interpretada como uma multiplicação pelo elemento inverso de 2a. por meio de equações e inequações. É de fundamental importância
Sem entrarmos em mais detalhes, o que queremos enfatizar é o que os alunos compreendam os procedimentos utilizados, em vez
fato de estarmos aqui também dependentes das mesmas opera- de apenas memorizá-los.
ções de multiplicação e adição e de certas propriedades (aqui fica Resumidamente, os padrões no Ensino Básico são regularida-
claro que precisamos, por exemplo, que os elementos do conjunto des que se vão encontrando ao longo do percurso escolar em todas
em que estamos trabalhando necessitam da propriedade de exis- as áreas, nomeadamente na Matemática. Os padrões e as regulari-
tência de elementos inversos). dades desempenham um papel importante no ensino da matemá-
Em suma, o que entendemos por métodos algébricos nes- tica, sobretudo a partir do trabalho de Lynn Steen (1988) quando
sa nossa discussão serão aqueles que envolvem operações em chamou à matemática a ciência dos padrões.
conjuntos predeterminados. A essas operações estão relacionadas Se pensarmos bem, desde muito novos que usamos padrões,
propriedades como associatividade, comutatividade, existência de nomeadamente na sequências de desenho, como por exemplo,
elemento neutro da operação e existência de elementos opostos quando se tem uma imagem azul, depois uma verde, depois uma
(ou inversos) também relativos à operação considerada. Proprieda- vermelha e de seguida uma azul e adivinhar a que viria a seguir.
des distributivas são igualmente importantes se, no conjunto, fo- Normalmente quando se fala de padrão associa-se logo a pa-
rem consideradas mais do que uma operação. drões visuais tais como se vê em tecidos, papel de parede e peças
Esse processo de percepção de que existem conjuntos nos de arte. O conceito de padrão não se encontra apenas nestes exem-
quais operações são feitas e que dependem necessariamente de plos, o padrão é usado também quando se fala de uma disposição
certas propriedades é que queremos explorar. Historicamente, a ou arranjo de números, formas, cores ou sons onde se detectam
humanidade só se deu conta disso no nível descrito nesta seção regularidades.
após séculos de cálculos e dependeu de um desenvolvimento, em Um dos objetivos da Matemática é descobrir a regularidade

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MATEMÁTICA
onde no meio da desordem e confusão seja possível tirar a estrutu- A progressão aritmética (PA) é uma sequência de números re-
ra e a invariância. Há mesmo quem diga que a essência da matemá- ais determinada por uma constante r (razão), a qual é encontrada
tica é descobrir padrões e o nosso espirito parece já estar direciona- pela soma entre um número e outro.
do para a procura de relações. A progressão geométrica (PG) é uma sequência numérica cuja
Os padrões são úteis para a exploração de situações de repeti-
razão (r) constante é determinada pela multiplicação de um ele-
ção e do campo da geometria.
mento com o quociente (q) ou razão da PG.
Os padrões permitem que os estudantes construam uma ima- Para compreender melhor, veja abaixo os exemplos:
gem mais positiva da Matemática porque apelam fortemente a que PA = (4,7,10,13,16...an...) PA infinita de razão (r) 3
desenvolvam o seu sentido estético e a criatividade, estabeleçam PG (1, 3, 9, 27, 81, ...), PG crescente de razão (r) 312
várias conexões entre os diferentes temas, promovam uma melhor
compreensão das suas capacidades matemáticas, desenvolvam a
capacidade de classificar e ordenar informação e compreendam a  EIXOS ARTICULADORES: JOGOS E BRINCADEIRAS, MATE-
ligação entre a matemática e o mundo em que vivem. MÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SAÚDE, ESTRATÉGIAS
Ser professor de Matemática significa, também, selecionar, E PROCEDIMENTOS DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
implementar e apresentar tarefas que maximizem o potencial de
aprendizagem dos alunos e que proporcionem a oportunidade de:
· Usar múltiplas representações de um padrão concreta, pictó- A matemática tem por objetivo levar os alunos a pensarem sua
rica e simbólica de uma representação para outra; aplicação além das atividades numéricas, vejamos:
· Averiguar se uma lista de números mostra alguma
A educação matemática no período do 2º ao 5º ano do ensino
regularidade; · Descobrir o padrão numa sequência;
fundamental deve levar o aluno a:
· Descrever o padrão oralmente e por escrito;
· Continuar uma sequência; •Encarar a matemática de uma maneira mais natural, para que
· Prever termos numa sequência; ele seja capaz de construir o seu próprio conhecimento mate-
· Generalizar; mático.
· Construir uma sequência.” (Vale, Pimentel, et al; 2011)
Sequencia numérica •Perceber que o estudo da matemática nos leva a evoluir como
cidadãos, conseguir compreender melhor tudo o que acontece
Na matemática, a sequência numérica ou sucessão numérica
em nosso planeta, ampliando assim a nossa visão de mundo.
corresponde a uma função dentro de um agrupamento de núme-
ros. •Desenvolver o seu raciocínio lógico e estimular a sua curiosi-
De tal modo, os elementos agrupados numa sequência numéri- dade.
ca seguem uma sucessão, ou seja, uma ordem no conjunto.
•Interligar o estudo da matemática com seu cotidiano, perceber
Classificação a presença da matemática em tudo que fizermos.
As sequências numéricas podem ser finitas ou infinitas, por
•Desenvolver e resolver situações-problemas, criando e elabo-
exemplo:
rando técnicas de resolução válidas no encontro das soluções.
SF = (2, 4, 6, ..., 8)
SI = (2,4,6,8...) •Interagir todas as vertentes da matemática, ou seja, ver rela-
Note que quando as sequências são infinitas, elas são indicadas ções entre a geometria e a álgebra, entre as quatro operações e
pelas reticências no final. Além disso, vale lembrar que os elemen- os números e etc.
tos da sequência são indicados pela letra a. Por exemplo:
•Saber comunicar matematicamente, ou seja, utilizar correta-
1° elemento: a1 = 2
mente os símbolos matemáticos.
4° elemento: a4 = 8
O último termo da sequência é chamado de enésimo, sendo A matemática fornece instrumentos eficazes para compreender
representado por an. Nesse caso, o an da sequência finita acima seria e atuar no mundo que nos cerca; ela é uma ferramenta essencial na
o elemento 8. solução de vários tipos de problemas. Nela são desenvolvidas estru-
Assim, podemos representá-la da seguinte maneira: turas abstratas baseada em modelos concretos; além de método, a
SF = (a1, a2, a3,...,an) matemática é um meio de comunicação – uma linguagem formal e
precisa – requer uma prática constante de forma clara e universal.
SI = (a1, a2, a3, an...)
O conhecimento matemático faz parte do patrimônio cultural
Lei de Formação da humanidade porque possui características e procedimentos pró-
A Lei de Formação ou Termo Geral é utilizada para calcular prios que também tem evoluído no contexto de outras ciências. A
qualquer termo de uma sequência, expressa pela expressão: matemática é componente importante na construção da cidadania,
an = 2n2 - 1 nos conhecimentos científicos e recursos tecnológicos, e o seu ensi-
no deve ser meta prioritá ria do trabalho docente, procurando desen-
Lei de Recorrência volver nos alunos competências para compreender e transformar a re-
A Lei da Recorrência permite calcular qualquer termo de uma alidade. No ensino da matemática destacam-se aspectos básicos como
sequência numérica a partir de elementos antecessores: relacionar observações do mundo real com representações (esquemas,
an = an-1, an-2,...a1 tabelas, figura) e essas representações devem relacionar-se com princí-
pios e conceitos matemáticos, através da “fala” e da “escrita”.
Progressões Aritméticas e Progressões Geométricas A aprendizagem em matemática está ligada à compreensão,
Dois tipos de sequências numéricas muito utilizadas na mate- isto é, à apreensão do significado; resultante das conexões entre
mática são as progressões aritmética e geométrica. todas as disciplinas com o cotidiano nos seus diferentes temas.
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MATEMÁTICA
Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, compu- grandezas e medidas, tabelas e gráficos, previsões etc);
tadores outros materiais tem um papel importante no processo ensino- •Formular e resolver situações-problema. Para isso, o aluno deve-
-aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados à situações que rá ser capaz de elaborar planos e estratégias para a solução do proble-
levem ao exercício da análise e da reflexão, em ultima instancia, a base da ma, desenvolvendo várias formas de raciocínio (estimativa, analogia,
atividade matemática. A avaliação é parte integrante do processo de ensi- indução, busca de padrão ou regularidade, pequenas inferências lógi-
no-aprendizagem, ela incide sobre uma grande variedade de aspectos rela- cas, etc.) executando esses planos e essas estratégias com procedimen-
tivos ao desempenho dos alunos como aquisição de conceitos, domínio de tos adequados;
procedimentos e desenvolvimento de atitudes. •Interagir os vários eixos temáticos da matemática (números
Por quê? Ensinar matemática? Para quê? Porque a matemática é uma e operações, geometria, grandezas e medidas, raciocínio combina-
das mais importantes ferramentas da sociedade moderna, ela contribui tório, estatística e probabilidade) entre si e com outras áreas do
para a formação do futuro cidadão que se engajará no mundo do traba- conhecimento;
lho, das relações sociais, culturais e políticas. Para exercer plenamente a •Comunicar-se de modo matemático, argumentando, escre-
cidadania, é preciso saber contar, comparar, medir, calcular, resolver pro- vendo e representando de várias maneiras (com números, tabelas,
blemas, construir estratégias, comprovar e justificar resultados, argumentar gráficos, diagramas, etc) as ideias matemáticas;
logicamente, conhecer formas geométricas, organizar, analisar e interpre- •Interagir com os colegas cooperativamente, em dupla ou em
tar criticamente as informações, conhecer formas diferenciadas de abordar equipe, auxiliando-os e aprendendo com eles, apresentando suas
problemas. ideias e respeitando as deles, formando assim, um ambiente propi-
A matemática vista como uma maneira de pensar, como um processo cio à aprendizagem.
em permanente evolução (não sendo algo pronto e acabado que apenas •Desenvolver competências para aprender a identificar e bus-
deve ser estudado), permite, dinamicamente, por parte do aluno, a cons- car os conhecimentos necessários para resolver uma situação-pro-
trução e a apropriação do conhecimento. Ensinar matemática é importante blema.
porque ela está presente em tudo o que nos rodeia, com maior ou menor Nestas séries (ou ciclos), o ensino de matemática deve procurar
complexidade. Perceber isso é compreender o mundo em nossa volta e po- desenvolver:
der atuar nele como cidadão, em casa, na rua, nas várias profissões, na ci- •O pensamento numérico: ampliando e construindo novos sig-
dade, no campo, nas várias culturas o ser humano necessita da matemática. nificados para os números e as operações; resolvendo situações-
Em uma sociedade voltada ao conhecimento e à comunicação, -problema que envolvam os vários tipos de números e operações;
como a do terceiro milênio, é preciso que as crianças aprendam comu- •identificando e utilizando diferentes representações para es-
nicar ideias, executar procedimentos e desenvolver atitudes matemá- ses números; utilizando vários procedimentos de cálculos: mental,
ticos, falando dramatizando, escrevendo, desenhando, representando, estimativas, arredondamentos e algoritmos.
construindo tabelas, diagramas e gráficos, fazendo pequenas estimati- •O pensamento algébrico: procurando generalizar proprieda-
vas, conjecturas e inferências lógicas, etc., tudo isso trabalhando indivi- des das operações aritméticas, traduzindo situações -problema na
dualmente, em duplas ou pequenas equipes, colocando o que pensam linguagem matemática; generalizando regularidades; traduzindo tabe-
e respeitando o pensamento dos colegas. las e gráficos em leis matemáticas que relacionem duas variáveis de-
Novas competências demandam novos conhecimentos; o mundo pendentes; interpretando expressões algébricas, igualdades e desigual-
do trabalho requer pessoas preparadas para utilizar diferentes tecnolo- dades e resolvendo equações, inequações e sistemas.
gias, e linguagens (que vão além da comunicação oral e escrita), insta- •O pensamento geométrico: trabalhando primeiro as figuras
lando novos ritmos de produção, de assimilação rápida de informações, espaciais ou tridimensionais, depois as figuras plana ou bidimen-
resolvendo e propondo problemas em equipe. sionais e, em seguida, os contornos de figuras planas ou unidimen-
O ensino da matemática desenvolve no aluno a compre- sionais; classificando essas figuras, observando semelhanças e di-
ensão dos fenômenos que ocorrem no ambiente – poluição, ferenças entre elas; construindo representações planas das figuras
desmatamento, limites para uso dos recursos naturais, desperdício espaciais sob diferentes pontos de vista; compondo, decompondo,
– terá ferramentas essenciais em conceitos (medidas, áreas, volumes, ampliando e reduzindo figuras geométricas planas; localizando
proporcionalidade, etc.) e procedimentos matemáticos (formulação de pontos no plano cartesiano; verificando o que varia e o que não
hipóteses, realização de cálculos, coleta, organização e interpretação varia em uma transformação geométrica levando os conceitos de
de dados estatísticos, prática de argumentação, etc). congruência e semelhança; trabalhando inicialmente de modo ex-
O acompanhamento do próprio desenvolvimento físico (altura, perimental (geometria experimental) para, pouco a pouco, apre-
peso, musculatura) e os estudos dos elementos que compõem a sentar pequenas demonstrações (geometria dedutiva);
dieta básica são alguns exemplos de trabalho que podem servir de •O raciocínio proporcional: observando a variação entre gran-
contexto para se ensinar matemática. dezas e estabelecendo relações entre elas; resolvendo situações-
O ensino de matemática de 5ª à 8ª série do Ensino Fundamen- -problema que envolvam proporcionalidade; representando a
tal deve levar o aluno a: variação entre duas grandezas em um plano cartesiano e identifi-
•Adotar uma atitude positiva em relação à matemática, ou seja, cando se elas são direta ou inversamente proporcionais ou se não
desenvolver sua capacidade de “fazer matemática” construindo con- são proporcionais.
ceitos e procedimentos, formulando e resolvendo problemas por si •O raciocínio combinatório: analisando quais e quantas são as
mesmo, assim aumentar sua auto-estima e perseverança na busca de possibilidades de algo ocorrer e resolvendo situações que envolvam
solução para um problema; a ideia de possibilidades.
•Perceber que os conceitos e procedimentos matemáticos são •O raciocínio estatístico e probabilístico: coletando, organi-
úteis para compreender o mundo e, compreendendo-o, pode atuar zando e analisando informações; elaborando tabelas, construindo
melhor nele; e interpretando gráficos; desenvolvendo a ideia de chance e de
•Pensar logicamente, relacionando ideias, descobrindo regu- sua medida (probabilidade); resolvendo situações-problema que
laridade e padrões, estimulando sua curiosidade, seu espírito de envolvem dados estatísticos e conceito de probabilidades.
investigação e sua criatividade na solução de problemas; •A competência métrica: ampliando e aprofundando o conceito
•Observar sistematicamente a presença da matemática no de medida de uma grandeza; utilizando unidades adequadas de medi-
dia-a-dia (quantidades, números, formas geométricas, simétricas, das em cada situação e resolvendo situações-problema que envolvam
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grandezas e medidas; utilizando vários instrumentos de medidas. A importância de relacionar os conteúdos de Matemática com
•As conexões e integração dos conceitos matemáticos estudados as questões ambientais é salientada por D’Ambrósio (1996, 87): “Par-
em cada eixo temático: (números e operações, geometria, grandezas e ticularmente importante é a incorporação, na Educação Matemática,
medidas, raciocínio combinatório, estatística e probabilidade) e investi- de uma preocupação com o ambiente. Embora haja, muito progresso
gar sua presenças em outras áreas do conhecimento. nessa direção e se notem boas pesquisas e boas propostas curricula-
•A atitude positiva em relação à matemática: valorizando sua res visando a essa incorporação, a sua plena aceitação na Educação
utilidade, sua lógica e sua beleza em cada conceito estudado. A co- Matemática ainda é um problema”. Os professores de Matemática não
municação: a comunicação das ideias matemáticas de diferentes podem furtar-se à responsabilidade de contribuir para a formação de
formas: oral, escrita, por tabelas, diagramas, gráficos, etc.13 cidadãos conscientes e participativos, os quais tenham conhecimento,
competência, motivação e que se sintam comprometidos a atuar de
forma positiva em relação ao seu meio.
Matemática e Educação Ambiental Por outra parte, é consenso que o ensino da Matemática, baseado
A construção de um currículo matemático, considerando os na sua estrutura formal, em aulas expositivas e resolução de exercí-
temas de relevância social, confere ao mesmo uma perspectiva in- cios constitui uma das causas mais significativas do baixo rendimento
tegradora e, nesse sentido, sua organização se estabelece em torno e aproveitamento na disciplina. Por isso, há necessidade de mudar, em
de situações e problemas de interesse que permitam uma leitura, todas as séries, não os conteúdos, e sim a metodologia, pois a empre-
compreensão e interação da realidade social, cultural, política e na- gada nas escolas não está motivando os alunos e deixando a desejar
tural. Um tema de relevância é, sem dúvida, a Educação Ambiental. também em conhecimentos (Groenwald, 1998). Yus (1998) recomenda
Os impactos causados ao meio ambiente pelo homem, para satis- que os professores organizem suas aulas de modo a facilitar o trabalho
fazer suas necessidades, geram, entre outros, problemas como esgota- cooperativo entre os alunos, impulsionando a confrontação de pontos
mento e contaminação dos recursos naturais, deflorestamento, temas de vista diferentes acerca dos distintos problemas colocados, promo-
esses, que podem levar a uma ambientalização do currículo escolar vendo o intercâmbio de possíveis procedimentos para resolvê-los, as-
(Travé González e Pozuelos Estrada, 1999). sim como a proposta de possíveis atividades.
Nessa perspectiva, Azcarate (1997), indica que os grandes nú- Desta forma, buscando a superação dos problemas que sur-
cleos de problemas a serem estudados na Matemática estariam re- gem no processo de ensino e aprendizagem da Matemática aliada
lacionados com: ao interesse de integrar os temas de relevância social nas aulas de
· energias alternativas, fontes e escassez de energia, gastos Matemática aponta-se, como uma alternativa viável, a realização
energéticos; de projetos inter e multidisciplinares, envolvendo os conteúdos das
· crescimento da população-produção de alimentos, relação do disciplinas aos temas já citados.
homem no mundo e fontes de alimentos; Dentro de uma perspectiva integradora da Matemática e Educa-
· ciclo da água, fonte e consumo de água; ção Ambiental, considerando que o currículo não deve estar dissociado
· divisão de áreas, uso de pesticidas, concentração limite em da realidade, as propostas nesse sentido devem buscar: o equilíbrio
função das espécies existentes, herbicidas, fertilizantes por metro ambiental, local e global, como forma de obtenção da melhoria da
quadrado e sua porcentagem; qualidade de todos os níveis de vida; criar uma ética sensibilizadora
· qualidade do ar e a atmosfera, o uso racional do planeta; e conscientizadora para as relações integradas entre ser humano/
· análise do consumo, seus excessos e suas conseqüências; sociedade/natureza; fazer uma educação crítica da realidade
· qualidade de vida, características e condições ambientais; vivenciada, formadora da cidadania; redescobrir e buscar novos valores
· saúde, enfermidades humanas, dietas equilibradas, estudos que tornem a sociedade humana mais justa.
epidemiológicos, fatores hereditários; Um dos possíveis caminhos para alcançar esses objetivos é o desenvol-
· Astronomia, guerra tecnológica, diferenças norte/sul. vimento de projetos educativos, que favorecem uma consciência crítica, re-
Há urgência no tratamento das questões ambientais no âmbito flexiva e analítica e levam o indivíduo a participar das soluções dos proble-
escolar porém, esta não é a única justificativa para implantação da Edu- mas de sua comunidade, o que é essencial para a escola ser um referencial
cação Ambiental no currículo, se sabe também, que é necessário pro- importante para a sociedade. A realização de projetos escolares possibilita
piciar desde a escola uma relação positiva e harmônica entre o homem aprendizagens significativas, permitindo ao aluno ampliar a compreensão
e seu meio. de conteúdos já trabalhados e descobrir outros através das experiências
Desde a Conferência de Tbilisi (1977), existe um consenso de que a vivênciadas na realização da investigação. Os alunos, na realização dos pro-
Educação Ambiental não deve fazer parte do currículo como uma disciplina jetos, desenvolvem uma atitude de investigação e passam a enxergar a Ma-
específica ou um tema concreto de estudo, mas como uma dimensão que temática ao seu redor, o que influi de maneira significativa nos resultados
se integre à disciplinas, devido a seu caráter atitudinal e por nutrir-se de da aprendizagem escolar. Carmen (1997) salienta que a escola é uma insti-
conteúdos conceituais procedentes de distintos campos do saber (Vázquez tuição mediadora que deveria preparar os indivíduos em crescimento para
Álvarez e Zorzano Colás, 1998 e Pardo Díaz, 1995). Deve ser o resultado de interpretar seu meio vital e intervir de maneira crítica e construtiva, para
uma nova orientação e articulação das diferentes disciplinas e experiências tal, os projetos de ensino, para o Ensino Fundamental, deveriam se articular
educativas: a Matemática, Ciências Naturais, Ciências Sociais, Artes, Letras em torno as grandes questões e problemas sociais de especial relevância
etc. Esse enfoque o qual prevê a articulação das diferentes disciplinas e ex- para a adolescência. Frisa, também, que os temas transversais (meio am-
periências determina uma Educação Ambiental com caráter interdisciplinar biente, saúde, sexualidade, paz) são bons exemplos e possibilitam orientar
(Hall Rose, 1996). o ensino a partir de questões relevantes.
Por outro lado, a Educação Ambiental como tema transversal A Matemática tem muito a contribuir para isso, através da
pode ser considerada através de um modelo multidisciplinar. elaboração de ferramentas didático pedagógicas, integrando a dis-
Para Wolsk (1977) a Educação Ambiental abarca procedimen- ciplina de Matemática com as diferentes áreas e principalmente,
tos e temas de estudo que requerem o emprego de todos os méto- utilizando em seu planejamento o tema transversal “Educação Am-
dos. A diversidade de métodos nela utilizados induz os professores biental”.
a alargarem as perspectivas, a criarem condições de estudo a partir
da totalidade complexa dos processos e relações do homem e do
meio ambiente (Zeppone, 2000).

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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
Matematica e jogos derado uma brincadeira que fica apenas no ato de jogar, competir. Para que
A matemática é uma das ciências mais antigas que surgiu para o jogo não fique apenas no ato de competir e ter um vencedor e um per-
o ser humano suprir suas necessidades no cotidiano. Com o passar dedor, o professor tem que trabalhar um conteúdo em cima do mesmo, e
do tempo a matemática sofreu algumas alterações em seu aper- além do mais deve estimular os alunos, dar pistas, incentivar ao aluno tirar
feiçoamento, surgindo a necessidade e a obrigação do ensino da suas dúvidas no conteúdo com isso o jogo se torna um recurso influente no
mesma. processo de ensino e aprendizagem.
O ensino da matemática na antiguidade, assim como nas outras O jogo vem da vontade de competir, de vencer e também de apren-
áreas do conhecimento tinha como metodologia um ensino tradicional. der a perder, pois o jogo é uma competição que haverá um ganhador
Atualmente precisa se buscar novas metodologias de ensino para faci- e um perdedor. Nesse meio de competição o jogo ajuda os alunos nas
litar e tornar as aulas mais significativas fazendo com que o aluno de relações com seus colegas, pois o jogo pode ser jogando em grupo o
fato aprenda. que faz com que os alunos aprendam a trabalhar coletivamente. Esses
A metodologia de ensino que está sendo usada no momento jogos trabalhados em sala de aula não têm como objetivo somente a
por parte de alguns professores na área da matemática não está competição, mas sim entender e compreender o conteúdo.
dando resultado satisfatório, onde encontra se os maiores índices As vantagens dos jogos matemáticos podem ser consideradas
de reprovações. Segundo Tonon (2004), a metodologia de ensino fundamentais para que os alunos desenvolvam a aprendizagem,
da matemática é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores desafios pois por meio desse processo o professor poderá ser facilitador e
que se interpõem aos professores hoje. Partindo dessa problemáti- mediador no ensino. Assim como afirma MOURA e VIAMONTE:
ca surgem os jogos de matemática, onde o professor pode trabalhar A utilização de jogos em ambiente de sala de aula pode ser um
os conteúdos de uma forma prazerosa, dinâmica e significativa, fa- recurso metodológico eficaz para consolidar conceitos e para pro-
zendo com que os alunos se interessem mais nas aulas e consigam mover a motivação para a Matemática. É importante o professor
aprender o que está sendo passado, além de melhorar a relação dos conhecer diversas possibilidades de trabalho para construir a sua
alunos com a disciplina, com os colegas e a relação de aluno com prática e o jogo constitui uma dessas possibilidades pois proporcio-
o professor. Nesse sentido é importante ressaltar a importância do na o desafio aos alunos, motivando-os para conhecer os seus limi-
professor preparar as aulas com jogos mais dinâmicos e criativos. tes e as suas possibilidades de ir de encontro à vitória. Apesar de
A matemática é a disciplina mais temida pelos alunos onde ter algumas desvantagens, tais como a agitação e a conversa que
possuem maiores dificuldades em seu entendimento, além do mais se propicia na aula, promove o interesse e a participação. Pode ser
é a que causa maior nível de reprovações. Os jogos envolvendo os muito útil para introduzir um conteúdo matemático pois é passível
conteúdos de matemática surgem da necessidade de trabalhar de facilitar a sua compreensão. A intervenção do professor é de ex-
mais com o lúdico para melhorar a interação dos alunos com a área trema importância pois sendo este conhecedor do jogo, deve ser o
da matemática. Segundo Moreno Murcia (2005), o jogo é de parte mediador para que se desenvolva um trabalho de equipa, em que
fundamental do desenvolvimento harmônico infantil e de importân- sejam levantadas questões de modo a conduzir os alunos a analisar
cia tal que o conhecimento dos interesses lúdicos, sua evolução, seu das jogadas e respectivas conclusões. (MOURA e VIAMONTE, 2006,
amadurecimento e sua observação sistemática são imprescindíveis p. 4)
para a vida. A partir dos jogos matemáticos o professor estará sendo um
O que se entende como jogo ou brincadeira abarca uma infi- mero facilitador no ensino e aprendizagem tornando as aulas mais
nidade de ações e atividades. Tudo o que vivemos pode torna par- significativas e prazerosa, facilitando uma melhor compreensão dos
te na brincadeira. O mundo mágico do jogo torna possível todo conteúdos ministrados no decorrer das aulas. Visando esse aspecto
tipo de conexões ou interações para atingir diversas realizações. o professor estará tornando a aula mais dinâmica o que viabiliza um
Os atos do jogo são produto da ilusão, da vontade, da alegria, do professor inovador, criativo e facilitador.
otimismo. No jogo, podemos conseguir tudo o que desejamos. O
benefício dessa prática preenche o desejo de realização e nos pro- Matemática e saúde
porciona prazer ou satisfação. (MORENO MURCIA. 2005, p.26). A estrutura organizacional dos currículos vigentes na maioria
O jogo é uma brincadeira que causa motivação, interesse, pra- das escolas não favorece a integração dos diferentes componentes
zer em jogar e em querer aprender a jogar com isso o aluno conse- curriculares, nem é disponibilizado tempo para reflexões pedagó-
gue aprender o conteúdo facilmente. No momento percebe-se que gicas que permitam a viabilização do tratamento globalizado dos
nas escolas os jogos como recursos pedagógicos estão sendo deixa- conteúdos (KINDEL, 2012).
do de lado, e assim o ensino fica apenas nas aulas teóricas. De modo geral, o ensino praticado nas escolas está repleto de
O jogo como um recurso pedagógico na área da matemática conhecimentos adquiridos mediante a repetição – memorização de
dará resultado plenamente satisfatório, pois o jogo faz com que os fatos, conceitos, fórmulas e algoritmos. Mas, segundo Zabala e Ar-
alunos se familiarizam rapidamente para dar início à atividade, ou nau (2010, p. 94), “somos incapazes e incompetentes para aplicar
seja, os alunos gostam de jogar para ver o vencedor, além de tornar esses conhecimentos na interpretação de situações reais”.
a aula mais prazerosa. As orientações presentes nos PCN (BRASIL, 1997) e nas DCN
Os jogos são ricos, quando bem escolhidos e explorados pelo (BRASIL, 2013) enfatizam o desenvolvimento de atividades interdis-
professor. É muito importante não apenas utilizar os jogos pela re- ciplinares que possibilitam uma percepção global dos conceitos e
creação pura e simples, sem a devida análise e interpretação mate- conteúdos ensinados em aula.
mática, mas que venham a somar esforços e conhecimentos ao alu- Ao propor um currículo para a vida, Kindel (2012) estabelece prin-
no. Muitos professores de matemática utilizam jogos em sala suas cípios que deveriam nortear o trabalho pedagógico. Um desses princí-
aulas, mas apenas o jogo pelo jogo, sem nenhuma preocupação em pios sugere a integração entre áreas do conhecimento como um exer-
sistematizar e explorar as estruturas matemáticas existentes que cício de articulação das diversas áreas do conhecimento de modo que
estão implícitas no ato de jogar. (TONON, 2004, p.51). o ensino de determinada temática seja compreendido de modo mais
As atividades realizadas com jogos tornam as aulas mais lúdicas, assim abrangente.
contribui no processo de ensino e aprendizagem dos nossos alunos, porém Conceitos matemáticos estão presentes em inúmeras situa-
os professores precisam colocar em prática essa metodologia bem como ções do cotidiano e possibilitam a compreensão mais abrangente
também saber como utilizar esse recurso, pois o jogo muitas vezes é consi- de temas das mais variadas áreas do saber. Medidas – de compri-
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MATEMÁTICA
mento, peso (massa), tempo, entre outras – encontram aplicações Nesse contexto, os temas transversais apresentam, de acordo
notadamente em temas de Ciências possibilitando ao estudante com os PCN (BRASIL, 1997, p. 30), “a possibilidade de estabelecer,
atribuir novos significados aos conceitos estudados. Da mesma for- na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos
ma, tabelas, gráficos e noções de proporcionalidade adquirem um teoricamente sistematizados e as questões da vida real e de sua
sentido mais amplo quando relacionados com conteúdos de outras transformação”. Esses temas caracterizam-se por tratarem de pro-
disciplinas. cessos vivenciados intensamente na sociedade, sendo discutidos
De acordo com Ausubel (2003), a aprendizagem significativa ocor- em diferentes espaços sociais na busca de soluções e confrontan-
re quando o estudante relaciona uma nova informação com algum as- do posicionamentos tanto no âmbito social quanto pessoal (BOVO,
pecto específico e relevante (subsunçor) presente em sua estrutura de 2004).
conhecimento. Segundo Zabala e Arnau (2010, p. 94)
Uma aprendizagem será mais ou menos significativa quando, além
de significar uma memorização compreensiva, for possível sua aplica- Resolução de problemas
ção em contextos diferenciados e quando puder ajudar a melhorar a
Resolução de problemas é um caminho para o ensino de Mate-
interpretação ou a intervenção em todas as situações em que se fize-
mática que vem sendo discutido ao longo dos últimos anos.
rem necessárias.
A História da Matemática mostra que ela foi construída como res-
A aprendizagem significativa, em um enfoque mais amplo e dinâ-
posta a perguntas provenientes de diferentes origens e contextos, mo-
mico em consonância com as tendências da educação atual, deve tam-
tivadas por problemas de ordem prática (divisão de terras, cálculo de
bém estar voltado para o desenvolvimento de conteúdos procedimen-
créditos), por problemas vinculados a outras ciências (Física, Astrono-
tais e atitudinais, além dos conceituais.
mia), bem como por problemas relacionados a investigações internas à
Os conteúdos conceituais englobam conceitos, princípios, leis e
própria Matemática.
regras. São conteúdos de aprendizagem de caráter abstrato e exigem
Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempe-
a compreensão. Já os conteúdos procedimentais constituem um con-
nhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóte-
junto de ações ordenadas e finalizadas, isto é, dirigidas à obtenção de
ses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimen-
um objetivo. Valores, atitudes e normas constituem conteúdos atitudi-
tos adquiridos anteriormente pelos alunos.
nais, os quais envolvem componentes relacionados a conhecimentos,
A prática mais frequente consiste em ensinar um conceito, pro-
crenças, sentimentos, preferências, ações e declarações de intenção
cedimento ou técnica e depois apresentar um problema para ava-
(ZABALA e ARNAU, 2010).
liar se os alunos são capazes de empregar o que lhes foi ensinado.
Esses princípios teóricos apontam para a necessidade de mu-
Para a grande maioria dos alunos, resolver um problema sig-
danças no processo de ensinar e de aprender que favoreçam o
nifica fazer cálculos com os números do enunciado ou aplicar algo
desenvolvimento de competências nos estudantes que o capacitem
que aprenderam nas aulas.
a estabelecer conexões entre os conceitos aprendidos nas diferen-
Desse modo, o que o professor explora na atividade matemáti-
tes disciplinas, percebendo interrelações e utilizando-os para com-
ca não é mais a atividade, ela mesma, mas seus resultados, defini-
preender e interpretar o meio em que vive.
ções, técnicas e demonstrações.
Consequentemente, o saber matemático não se apresenta ao
Saberes matemáticos e científicos para a compreensão da aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um
saúde conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbó-
Os argumentos teóricos apresentados reforçam o caráter in- lico, abstrato e incompreensível.
terdisciplinar da atividade pedagógica para o desenvolvimento de Nesse caso, a concepção de ensino e aprendizagem subjacente
competências nos estudantes que lhes permitam uma compreen- é a de que o aluno aprende por reprodução/imitação.
são abrangente tanto dos conteúdos ensinados como das relações Ao colocar o foco na resolução de problemas, o que se defende
dos conceitos com as situações vivenciadas em suas realidades. é uma proposta que poderia ser resumida nos seguintes princípios:
Os conhecimentos matemáticos encontram as mais diferentes apli- •o ponto de partida da atividade matemática não é a definição,
cações tanto no corpo da própria Matemática como de outras ciências mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos,
e, também, nas mais diferentes experiências vivenciadas no cotidiano ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a explo-
dos indivíduos. Entretanto, poucos estudantes conseguem estabelecer ração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem
tais conexões e aplicar os conhecimentos escolares para a resolução de desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las;
problemas práticos do dia a dia. •o problema certamente não é um exercício em que o aluno aplica,
Por outro lado, os conhecimentos matemáticos e científicos são deforma quase mecânica, uma fórmula ou um processo operatório. Só
ferramentas poderosas para uma melhor compreensão de fenômenos, há problema se o aluno for levado a interpretar o enunciado da questão
naturais ou não, bem como do ambiente onde o estudante está inseri- que lhe é posta e a estruturar a situação que lhe é apresentada;
do. No enfoque da aprendizagem significativa, os conteúdos curricula- •aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resol-
res constituem elementos essenciais para que o estudante construa o ver um certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o
conhecimento e tornando-se questões inerentes à realidade, a qual é que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, retifica-
sempre global e complexa (ZABALA, 2002). ções, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode observar
Na área das Ciências, a aproximação dos conteúdos à significância na história da Matemática;
da realidade dos aprendizes nem sempre constitui prática comum no •o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema,
processo de ensino, gerando a noção de que os estudantes aprendem mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo
cada vez menos e apresentam um crescente desinteresse pelo estudo de problemas. Um conceito matemático se constrói articulado com ou-
desses conteúdos. tros conceitos, por meio de uma série de retificações e generalizações;
Sobre essa questão Pozo e Crespo (2009) relatam que o pro- •a resolução de problemas não é uma atividade para ser desen-
blema pode estar relacionado com o distanciamento entre os con- volvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas uma
teúdos abordados em sala de aula, a realidade do estudante e as orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que
origens do saber em questão. se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas.
Considerados esses princípios, convém precisar algumas carac-
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MATEMÁTICA
terísticas das situações que podem ser entendidas como problemas. 3. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS-
Um problema matemático é uma situação que demanda a rea- CONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é:
lização de uma sequência de ações ou operações para obter um re- (A) 0,2222...
sultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto (B) 0,6666...
é possível construí-la. (C) 0,1616...
Em muitos casos, os problemas usualmente apresentados aos (D) 0,8888...
alunos não constituem verdadeiros problemas, porque, via de re-
gra, não existe um real desafio nem a necessidade de verificação 4. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Na figura
para validar o processo de solução. abaixo, ABCD é um quadrado de lado 10; E, F, G e H são pontos
O que é problema para um aluno pode não ser para outro, em médios dos lados do quadrado ABCD e são os centros de quatro
função do seu nível de desenvolvimento intelectual e dos conheci- círculos tangentes entre si.
mentos de que dispõe.
Resolver um problema pressupõe que o aluno:
•elabore um ou vários procedimentos de resolução (como, por
exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses);
•compare seus resultados com os de outros alunos;
•valide seus procedimentos.
Resolver um problema não se resume em compreender o que
foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequa-
dos. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode
ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas
não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido.
Além disso, é necessário desenvolver habilidades que permi-
tam pôr à prova os resultados, testar seus efeitos, comparar dife-
rentes caminhos, para obter a solução. Nessa forma de trabalho, o
valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de reso-
lução. A área da região sombreada, da figura acima apresentada, é
O fato de o aluno ser estimulado a questionar sua própria (A)100 - 5π .
resposta, a questionar o problema, a transformar um dado pro- (B) 100 - 10π .
blema numa fonte de novos problemas, evidencia uma concep- (C) 100 - 15π .
ção de ensino e aprendizagem não pela mera reprodução de (D)100 - 20π .
conhecimentos, mas pela via da ação refletida que constrói co- (E)100 - 25π .
nhecimentos.
5. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) No cubo
de aresta 10, da figura abaixo, encontra-se representado um plano
QUESTÕES passando pelos vértices B e C e pelos pontos P e Q, pontos médios,
respectivamente, das arestas EF e HG, gerando o quadrilátero BCQP.

1. (PREFEITURA DE SALVADOR /BA - TÉCNICO DE NÍVEL SUPE-


RIOR II - DIREITO – FGV/2017) Em um concurso, há 150 candida-
tos em apenas duas categorias: nível superior e nível médio.
Sabe-se que:
• dentre os candidatos, 82 são homens;
• o número de candidatos homens de nível superior é igual ao de
mulheres de nível médio;
• dentre os candidatos de nível superior, 31 são mulheres.

O número de candidatos homens de nível médio é


(A) 42.
(B) 45.
(C) 48. A área do quadrilátero BCQP, da figura acima, é
(D) 50. (A) 25√5.
(E) 52. (B) 50√2.
(C) 50√5.
2. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS- (D)100√2 .
CONCURSOS/2017) Raoni, Ingrid, Maria Eduarda, Isabella e José (E) 100√5.
foram a uma prova de hipismo, na qual ganharia o competidor que
obtivesse o menor tempo final. A cada 1 falta seriam incrementa-
dos 6 segundos em seu tempo final. Ingrid fez 1’10” com 1 falta,
Maria Eduarda fez 1’12” sem faltas, Isabella fez 1’07” com 2 faltas,
Raoni fez 1’10” sem faltas e José fez 1’05” com 1 falta. Verificando
a colocação, é correto afirmar que o vencedor foi:
(A) José
(B) Isabella
(C) Maria Eduarda
(D) Raoni
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a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
6. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS- 9. (CRBIO – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – VUNESP/2017) De
CONCURSOS/2017) O triângulo retângulo em B, a seguir, de vértices um reservatório com formato de paralelepípedo reto retângulo,
A, B e C, representa uma praça de uma cidade. Qual é a área dessa totalmente cheio, foram retirados 3 m³ de água. Após a retirada, o
praça? nível da água restante no reservatório ficou com altura igual a 1 m,
conforme mostra a figura.

(A) 120 m²
(B)90 m²
(C) 60 m²
(D) 30 m²
Desse modo, é correto afirmar que a medida da altura total do
7. (MPE/GO – SECRETÁRIO AUXILIAR – MPEGO/2017) Um reci- reservatório, indicada por h na figura, é, em metros, igual a
piente na forma de um prisma reto de base quadrada, com dimen- (A) 1,8.
sões internas de 10 cm de aresta da base e 25 cm de altura, está (B) 1,75.
com 20% de seu volume total preenchido com água, conforme (C) 1,7.
mostra a figura. (Figura fora de escala) (D) 1,65.
(E) 1,6.

10. (DPE/RR – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FCC/2015) Rai-


mundo tinha duas cordas, uma de 1,7 m e outra de 1,45 m. Ele
precisava de pedaços, dessas cordas, que medissem 40 cm de
comprimento cada um. Ele cortou as duas cordas em pedaços de
40 cm de comprimento e assim conseguiu obter
(A) 6 pedaços.
(B) 8 pedaços.
(C) 9 pedaços.
(D) 5 pedaços.
Para completar o volume total desse recipiente, serão despejados (E) 7 pedaços.
dentro dele vários copos de água, com 200 mL cada um. O número
de copos totalmente cheios necessários para completar o volume 11. (IPRESB/SP - ANALISTA DE PROCESSOS PREVIDENCIÁRIOS-
total do prisma será: VUNESP/2017) Uma gráfica precisa imprimir um lote de 100000
(A) 8 copos folhetos e, para isso, utiliza a máquina A, que imprime 5000 folhe-
(B) 9 copos tos em 40 minutos. Após 3 horas e 20 minutos de funcionamento,
(C)10 copos a máquina A quebra e o serviço restante passa a ser feito pela má-
(D) 12 copos quina B, que imprime 4500 folhetos em 48 minutos. O tempo que
(E)15 copos a máquina B levará para imprimir o restante do lote de folhetos é
(A) 14 horas e 10 minutos.
8. (CELG/GT/GO – ANALISTA DE GESTÃO – CSUFG/2017) figura (B) 14 horas e 05 minutos.
a seguir representa um cubo de aresta a. (C) 13 horas e 45 minutos.
(D) 13 horas e 30 minutos.
(E) 13 horas e 20 minutos.

12. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VUNESP/2017)


Uma indústria produz regularmente 4500 litros de suco por dia.
Sabe-se que a terça parte da produção diária é distribuída em
caixinhas P, que recebem 300 mililitros de suco cada uma. Nessas
condições, é correto afirmar que a cada cinco dias a indústria utili-
za uma quantidade de caixinhas P igual a
(A) 25000.
(B) 24500.
Considerando a pirâmide de base triangular cujos vértices são os (C) 23000.
pontos B, C, D e G do cubo, o seu volume é dado por (D) 22000.
(A) a³/6 (E) 20500.
(B) a³/3
(C) a³/3√3
(D) a³/6√6

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MATEMÁTICA
13. (UPE – TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO – UPENET/2017) 2 30,4 30,8 30,7 30,4
Qual a probabilidade de, lançados simultaneamente dois dados ho-
nestos, a soma dos resultados ser igual ou maior que 10? 3 30,0 30,6 30,4 30,7
(A) 1/18 MÉDIA 30,20 30,77 30,47 30,53
(B) 1/36
(C) 1/6 DESVIO
0,20 0,15 0,21 0,15
(D) 1/12 PADRÃO
(E) ¼
Utilize essa tabela para responder à questão.
14. (UPE – TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO – UPENET/2017) O laboratório que apresenta o maior erro padrão é o de número
Uma pesquisa feita com 200 frequentadores de um parque, em que (A) 1.
50 não praticavam corrida nem caminhada, 30 faziam caminhada e (B) 2.
corrida, e 80 exercitavam corrida, qual a probabilidade de encontrar (C) 3.
no parque um entrevistado que pratique apenas caminhada? (D) 4.
(A) 7/20
(B) 1/2 18. (BRDE – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – FUNDATEC/2015)
Assinale a alternativa que representa a nomenclatura dos três
(C)1/4
gráficos abaixo, respectivamente.
(D) 3/20
(E) 1/5

15. (POLÍCIA CIENTÍFICA/PR – PERITO CRIMINAL –


IBFC/2017) A probabilidade de se sortear um número múltiplo de 5
de uma urna que contém 40 bolas numeradas de 1 a 40, é:
(A) 0,2
(B) 0,4
(C) 0,6
(D) 0,7
(E) 0,8

16. (UFAL – AUXILIAR DE BIBLIOTECA – COPEVE/2016) A tabela


apresenta o número de empréstimos de livros de uma biblioteca
setorial de um Instituto Federal, no primeiro semestre de 2016.

MÊS EMPRÉSTIMOS
JANEIRO 15
FEVEREIRO 25
MARÇO 22
ABRIL 30
MAIO 28
JUNHO 15

Dadas as afirmativas,
I. A biblioteca emprestou, em média, 22,5 livros por mês.
II. A mediana da série de valores é igual a 26.
III. A moda da série de valores é igual a 15.
Verifica-se que está(ão) correta(s)
(A) II, apenas.
(B) III, apenas.
(C) I e II, apenas.
(D) I e III, apenas.
(E) I, II e III.

17. (COSANPA - QUÍMICO – FADESP/2017) Algumas Determina-


ções do teor de sódio em água (em mg L-1) foram executadas (em
triplicata) paralelamente por quatro laboratórios e os resultados
são mostrados na tabela abaixo.

LABORATÓRIO
REPLICATAS
1 2 3 4
1 30,3 30,9 30,3 30,5

Editora
261
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
(A) Gráfico de Setores – Gráfico de Barras – Gráfico de Linha.
(B) Gráfico de Pareto – Gráfico de Pizza – Gráfico de Tendência. GABARITO
(C) Gráfico de Barras – Gráfico de Setores – Gráfico de Linha.
(D) Gráfico de Linhas – Gráfico de Pizza – Gráfico de Barras.
(E) Gráfico de Tendência – Gráfico de Setores – Gráfico de Linha.
1. Resposta: B.
19. (TJ/SP – ESTATÍSTICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2015) A distri- 150-82=68 mulheres
buição de salários de uma empresa com 30 funcionários é dada na Como 31 mulheres são candidatas de nível superior, 37 são de
tabela seguinte. nível médio.
Portanto, há 37 homens de nível superior.
82-37=45 homens de nível médio.
SALÁRIO (EM SALÁRIOS FUNCIONÁRIOS
MÍNIMOS) 2. Resposta: D.
1,8 10 Como o tempo de Raoni foi 1´10” sem faltas, ele foi o vencedor.

2,5 8 3. Resposta: B.
Primeiramente, vamos transformar a dízima em fração
3,0 5
X=0,4444....
5,0 4 10x=4,444...
9x=4
8,0 2
15,0 1

Pode-se concluir que


(A) o total da folha de pagamentos é de 35,3 salários.
(B) 60% dos trabalhadores ganham mais ou igual a 3 salários.
(C) 10% dos trabalhadores ganham mais de 10 salários.
(D) 20% dos trabalhadores detêm mais de 40% da renda total.
(E) 60% dos trabalhadores detêm menos de 30% da renda total.

20. (TJ/SP – ESTATÍSTICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2015) Consi-


dere a tabela de distribuição de frequência seguinte, em que xi é a 4. Resposta: E
variável estudada e fi é a frequência absoluta dos dados. Como o quadrado tem lado 10,a área é 100.

Xi Fi
30-35 4
35-40 12
40-45 10
45-50 8
50-55 6
TOTAL 40

Assinale a alternativa em que o histograma é o que melhor repre-


senta a distribuição de frequência da tabela.

(A) (B) (C)


O lado AF e AE medem 5, cada um, pois F e E é o ponto Médio
X²=5²+5²
X²=25+25
X²=50
X=5√2
X é o diâmetro do círculo, como temos 4 semi círculos, temos
2 círculos inteiros.
(D) (E)
A área de um círculo é

A sombreada=100-25π
Editora
262
262
a solução para o seu concurso!
MATEMÁTICA
5. Resposta: C
CQ é hipotenusa do triângulo GQC.
01. CQ²=10²+5²
CQ²=100+25
CQ²=125
CQ=5√5
A área do quadrilátero seria CQ⋅BC
A=5√5⋅10=50√5 12. Resposta: A.
4500/3=1500 litros para as caixinhas
6. Resposta: C 1500litros=1500000ml
Para saber a área, primeiro precisamos descobrir o x. 1500000/300=5000 caixinhas por dia
5000.5=25000 caixinhas em 5 dias
17²=x²+8²
289=x²+64 13. Resposta: C.
X²=225 P=6x6=36
X=15 Pra ser maior ou igual a 10:
4+6
7. Resposta: C 5+5
V=10.10.25=2500 cm³ 5+6
2500.0,2=500cm³ preenchidos. 6+4
Para terminar de completar o volume: 6+5
2500-500=2000 cm³ 6+6
2000/200=10 copos

8. Resposta: A
A base é um triângulo de base a e altura a
14. Resposta: A.
Praticam apenas corrida: 80-30=50
Apenas caminhada: x
X+50+30+50=200
70
P=70/200=7/20

15. Resposta: A.
M5={5,10,15,20,25,30,35,40}
P=8/40=1/5=0.2
9. Resposta: E
V=2,5.2.1=5m³ 16. Resposta: D
Como foi retirado 3m³
5+3=2,5.2.h
8=5h
H=1,6m

10.Resposta: E.
1,7m=170cm Mediana
1,45m=145 cm Vamos colocar os números em ordem crescente
170/40=4 resta 10
145/40=3 resta 25 15,15,22,25,28,30
4+3=7

11. Resposta: E.
3h 20 minutos-200 minutos
5000-----40 Moda é o número que mais aparece, no caso o 15.
x----------200
x=1000000/40=25000 17. Resposta: C
Como o desvio padrão é maior no 3, o erro padrão é proporcional,
Já foram impressos 25000, portanto faltam ainda 75000 portanto também é maior em 3.
4500-------48
75000------x 18. Resposta: C.
X=3600000/4500=800 minutos Como foi visto na teoria, gráfico de barras, de setores ou pizza e de
800/60=13,33h linha
13 horas e 1/3 hora
13h e 20 minutos
Editora
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MATEMÁTICA
19. Resposta: D. ______________________________________________________
(A) 1,8x10+2,5x8+3,0x5+5,0x4+8,0x2+15,0x1=104 salários
______________________________________________________
(B) 60% de 30=18 funcionários e se juntarmos quem ganha
mais de 3 salários (5+4+2+1=12) ______________________________________________________

______________________________________________________
(C)10% de 30=0,1x30=3 funcionários
E apenas 1 pessoa ganha ______________________________________________________

(D) 40% de 104=0,4x104= 41,6 ______________________________________________________


20% de 30=0,2x30=6
5x3+8x2+15x1=46, que já é maior. ______________________________________________________

(E) 60% de 30=0,6x30=18 ______________________________________________________


30% de 104=0,3x104=31,20da renda: 31,20
______________________________________________________
20. Resposta: A.
______________________________________________________
Colocando em ordem crescente: 30-35, 50-55, 45-50, 40-45, 35-40,
______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
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______________________________________________________ ___________________________ ___________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
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______________________________________________________ ______________________________________________________
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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA
INFORMÁTICA BÁSICA

REVISTA MAGISTÉRIO N. 10: EDUCOMUNICAÇÃO INSTRUÇÃO NORMATIVA SME Nº 52, DE 10/12/2021 -


DISPÕE SOBRE A ORGANIZAÇÃO DOS LABORATÓRIOS
DE EDUCAÇÃO DIGITAL - LED, E DÁ OUTRAS PROVIDÊN-
Prezado Candidato, devido ao formato do material CIAS
disponibilizaremos o conteúdo para estudo na “Área do cliente”
em nosso site.
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. INSTRUÇÃO NORMATIVA SME Nº 52, DE 10 DE DEZEMBRO DE
2021

SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCA- Dispõe sobre a organização dos Laboratórios de Educação Digital
ÇÃO. COORDENADORIA PEDAGÓGICA. USO DE TECNO- - LED, e dá outras providências.
LOGIAS EM CONTEXTO DE PANDEMIA: O QUE APREN-
DEMOS E COMO PROSSEGUIR APRENDENDO?– SÃO O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, no uso das
PAULO : SME / COPED, 2021. atribuições legais e,

CONSIDERANDO:
Prezado Candidato, devido ao formato do material - o Decreto nº 34.160, de 1994, que institui os Laboratórios de
disponibilizaremos o conteúdo para estudo na “Área do cliente” Informática Educativa nas Escolas Municipais;
em nosso site. - o Decreto nº 59.072, de 2019, que altera para “Laboratórios
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. de Educação Digital - LED” a denominação dos equipamentos
criados pelo Decreto nº 34.160/94.
- o Parecer CME nº 06, de 2021, retificado no DOC de
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENA- 30/11/21, divulga as Matrizes Curriculares do Ensino Médio;
DORIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE : ENSINO - a Instrução Normativa SME nº 46, de 2019, que dispõe sobre
FUNDAMENTAL : COMPONENTE CURRICULAR:TECNO- a reorganização do Trabalho Colaborativo de Autoria - TCA, no
LOGIAS PARA APRENDIZAGEM. – 2.ED. – SÃO PAULO : Ciclo Autoral do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino
SME / COPED, 2019 e dá outras providências;
- o disposto na Instrução Normativa nº 34, de 2021, que
reorienta o Programa “São Paulo Integral – SPI” nas Escolas
Prezado Candidato, devido ao formato do material Municipais;
disponibilizaremos o conteúdo para estudo na “Área do cliente” - a Instrução Normativa, que dispõe sobre o Processo Inicial
em nosso site. de Escolha/Atribuição de classes/aulas publicada anualmente;
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. - Portaria SME nº 6.258, de 2013, que dispõe sobre a
pontuação dos Profissionais de Educação docentes, lotados e/
ou em exercício nos Centros Municipais de Educação Infantil -
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. O USO DA CEMEIs, Escolas Municipais de Educação Infantil - EMEIs, Escolas
TECNOLOGIA E DA LINGUAGEM MIDIÁTICA NA EDUCA- Municipais de Ensino Fundamental - EMEFs, Escolas Municipais de
ÇÃO INFANTIL. SÃO PAULO: SME/DOT, 2015 Ensino Fundamental e Médio - EMEFMs e Escolas Municipais de
Educação Bilíngue para Surdos - EMEBSs da Secretaria Municipal
de Educação e dá outras providências;
Prezado Candidato, devido ao formato do material - o Currículo da Cidade - Tecnologias para Aprendizagem;
disponibilizaremos o conteúdo para estudo na “Área do cliente” - as Orientações Didáticas do Currículo da Cidade - Tecnologias
em nosso site. para Aprendizagem;
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
RESOLVE:
Art. 1º Organizar o atendimento aos estudantes no Laboratório
de Educação Digital - LED, das Escolas Municipais de Ensino
Fundamental – EMEFs, Escolas Municipais de Ensino Fundamental
e Médio – EMEFMs e Escolas Municipais de Educação Bilíngue
para Surdos – EMEBSs da Rede Municipal de Ensino.
Art. 2º O trabalho desenvolvido com Tecnologias para
Aprendizagem objetiva:

265
BIBLIOGRAFIA - INFORMÁTICA BÁSICA
I - integrar e favorecer o desenvolvimento do Projeto Político- IV - participar da formação continuada, programas e projetos
Pedagógico da Unidade Educacional; de sua área de atuação oferecidos pelas Diretorias Regionais de
II - contribuir com a efetivação da Política Educacional da Educação - DREs e Coordenadoria Pedagógica - COPED/SME;
Secretaria Municipal de Educação; V - socializar entre os professores da UE os assuntos tratados
III - contribuir com a integração das diferentes Áreas de nos encontros de formação proporcionados pela DRE e SME;
Conhecimento e atividades complementares; VI - assegurar a organização necessária para o funcionamento
IV - aprimorar as ações, pautadas no Currículo da Cidade - do Laboratório de Educação Digital - LED, promovendo espaço
Tecnologias para Aprendizagem - TPA, na perspectiva da educação físico adequado às diferentes atividades;
integral, da equidade e da educação inclusiva, tendo a garantia VII - encaminhar para a chefia imediata registro dos problemas
das aprendizagens para referenciar o trabalho pedagógico e o relacionados ao uso e estado de conservação dos equipamentos
ambiente escolar como local de promoção do protagonismo do do LED;
estudante; VIII - encaminhar com a anuência da chefia imediata as
V - articular o trabalho com Tecnologias a favor das solicitações de suporte técnico do LED;
aprendizagens dos estudantes; IX - zelar pela frequência dos estudantes às atividades;
VI - promover o Laboratório de Educação Digital como X - realizar registro que possibilitem o diagnóstico,
ambiente privilegiado para experimentação e desenvolvimento do acompanhamento e avaliação dos processos de ensino
Pensamento Computacional e fomento ao pensamento criativo; e de aprendizagem incluindo os projetos realizados para
VII - desenvolver o trabalho com os projetos; complementação de jornada;
Art. 3º São diretrizes das ações pedagógicas desenvolvidas no XI - coordenar, em conjunto com o POSL, demais professores
Laboratório de Educação Digital: do ciclo e com acompanhamento e orientação do Coordenador
I - os documentos da Secretaria Municipal da Educação, Pedagógico o planejamento e desenvolvimento do Trabalho
em especial, o Currículo da Cidade e as Orientações Didáticas Colaborativo de Autoria - TCA.
que versam sobre Tecnologias para Aprendizagem no Ensino Art. 6º Compete ao Coordenador Pedagógico da Unidade
Fundamental, Educação de Jovens e Adultos e Ensino Médio; Educacional:
II - o espaço físico da Unidade Educacional, como ambiente I - coordenar, acompanhar, apoiar e avaliar o trabalho
de criação e recriação da cultura digital e dos conteúdos, tendo desenvolvido pelo POED no Laboratório de Educação Digital;
os estudantes e docentes como produtores e consumidores II - redirecionar as ações, quando se fizer necessário;
conscientes desta cultura, a partir da mediação, compreensão e III - orientar os registros de frequência e atividades realizadas;
expressão das linguagens digitais; IV - proporcionar momentos de integração entre o POED e os
III - a Tecnologia de Informação e Comunicação - TIC, a demais professores da Unidade Escolar.
Programação e o Letramento Digital como eixos de organização Art. 7º Compete ao Diretor de Escola:
do trabalho pedagógico para a promoção do pensamento I - assegurar os recursos necessários ao desenvolvimento das
computacional em uma abordagem construcionista; atividades no LED;
IV - o registro das práticas pedagógicas como instrumento de II - promover, em conjunto com o Coordenador Pedagógico,
acompanhamento dos estudantes na avaliação do seu processo a articulação interna visando à efetivação do Currículo da Cidade
de aprendizagem; de São Paulo e demais ações decorrentes vinculadas à sua área
V - a valorização dos saberes e desenvolvimento das de atuação;
potencialidades dos estudantes, tendo como princípios: o III - manter o acervo do LED disponível e em condições de uso
protagonismo, a autonomia, a inventividade, a colaboração, pelos estudantes e POEDs;
o pensamento reflexivo e a construção de conhecimentos e a IV - proporcionar meios para tornar os espaços educacionais
autoria; em ambientes estimuladores e colaborativos de criação e
VI - a criação de ambientes estimuladores e colaborativos, recriação de cultura digital.
com estratégias diversificadas no trabalho com tecnologias a favor Art. 8º Compete à Diretoria Regional de Educação por meio
das aprendizagens; da:
VII - a sistematização dos conteúdos produzidos coletivamente, I - Divisão Pedagógica - DIPED:
a partir da decisão também coletiva de compartilhamento e do a) promover, em articulação com COPED/SME, formação
uso dos Recursos Educacionais Abertos; continuada com orientações e subsídios técnicos pedagógicos,
VIII - a criação de uma comunidade de aprendizagem para em consonância com o Currículo da Cidade - Tecnologias para a
compartilhamento de práticas (Plataforma Currículo Digital, Aprendizagem - TPA;
Repositório de Atividades etc.). b) acompanhar o desenvolvimento do trabalho pedagógico
Art. 4º As aulas do Laboratório de Educação Digital, de realizado nos Laboratório de Educação Digital - LED mediante
Tecnologias no Ensino Médio e de Informática Aplicada à Educação visitas às escolas e/ou através dos processos formativos/registros
do Curso Normal de Nível Médio, serão ministradas pelo Professor e sua adequação ao Currículo da Cidade - TPA;
Orientador de Educação Digital - POED, eleito pelo Conselho de c) planejar o estágio inicial do POED em consonância com as
Escola e designado por ato do Secretário Municipal de Educação. orientações das SME/COPED;
Art. 5º São atribuições do Professor Orientador de Educação d) organizar e orientar o estágio inicial do professor recém-
Digital - POED: designado POED.
I - participar da elaboração do Projeto Político-Pedagógico da II - Supervisão Escolar:
UE; a) orientar e acompanhar o desenvolvimento do trabalho
II - participar dos horários coletivos de formação docente pedagógico realizados pautado no Currículo da Cidade -
quando em JEIF; Tecnologias para Aprendizagem;
III - promover em conjunto com a equipe gestora intercâmbio b) propor medidas de ajuste/adequação do projeto de acordo
entre os professores de diferentes turnos da Unidade Educacional; com o Currículo da Cidade - Tecnologias para Aprendizagem;

266
266
BIBLIOGRAFIA - INFORMÁTICA BÁSICA
c) orientar e acompanhar os registros de frequência e Art. 15. Anualmente, na 2ª quinzena do mês de novembro
atividades realizados. o Conselho de Escola avaliará o desempenho do POED, pautado
Art. 9º Compete à Coordenadoria Pedagógica da Secretaria nos objetivos, diretrizes e competências constantes nesta IN,
Municipal de Educação - SME/COPED/NTC - TPA: em especial, quanto à implementação do Currículo da Cidade,
I - promover formação inicial ao POED recém-designado; desenvolvimento dos projetos, participação nos encontros
II - subsidiar a formação continuada, na modalidade on-line formativos, assiduidade e pontualidade, a fim de decidir pela sua
e/ou presencial, dos POEDs por meio da DRE; continuidade ou não na função.
III - produzir materiais orientadores do trabalho realizado no § 1º Na hipótese de não referendo será possibilitada a
Laboratório de Educação Digital; permanência do designado até o término do ano letivo.
IV - acompanhar o trabalho formativo desenvolvido pela § 2º O não referendo do POED desencadeará novo processo
DIPED/DRE. eletivo.
Art. 10. Cabe à SME/COPED/NTC - TPA em conjunto com as § 3º Na hipótese de redução do número de turmas que
DIPEDs das DREs indicar as Unidades Educacionais que receberão implique na cessação da designação de um dos POEDs, caberá
os equipamentos tecnológicos necessários ao funcionamento dos ao Conselho de Escola decidir qual profissional permanecerá na
Laboratórios de Educação Digital. função.
Art. 11. Após a publicação da designação do POED, o Diretor § 4º A avaliação de que trata o “caput” poderá ser realizada a
de Escola deverá comunicar à DIPED/DRE, para adoção das qualquer tempo, desde que, devidamente fundamentada.
providências relacionadas ao estágio para a função. Art. 16. O atendimento no Laboratório de Educação Digital
§ 1º O estágio mencionado no “caput” deste artigo será - LED dar-se-á dentro do horário regular dos estudantes,
realizado, preferencialmente, em uma semana, por 25 (vinte e assegurando-se 1 (uma) hora-aula semanal para cada classe/
cinco) horas-aula, assim organizadas: turma em funcionamento na Unidade Educacional.
a) 05 (cinco) horas-aula na DRE; § 1º As turmas integrantes do Programa São Paulo integral
b) 20 (vinte) horas-aula em, no mínimo, duas Unidades terão 2 (duas) horas-aula semanais no Laboratório de Educação
Educacionais. Digital - LED.
§ 2º O Diretor da UE onde o estágio for realizado expedirá § 2º Nas EMEBSs as salas de Educação Infantil serão
documento que comprove o feito e o encaminhará para a DIPED consideradas para composição de jornada do POED e organizadas
e para a unidade de exercício do servidor para ciência da Equipe por meio de projetos pedagógicos.
Gestora e arquivo. Art. 17. O número de profissionais designados para a função
§ 3º Ficam dispensados do estágio de que trata o “caput” de Professor de Educação Digital - POED está condicionado
deste artigo os professores que exerceram a função há menos de ao número de classes/aulas em funcionamento na Unidade
dois anos. Educacional, observado o disposto nos artigos 4º e 16 desta IN e
Art. 12. A convocação do POED para participar da formação conforme segue:
continuada em serviço dar-se-á por meio de norma específica. I - 01 POED para as escolas com até 25 (vinte e cinco) horas-
§ 1º Fica vedado o pagamento de Jornada de Trabalho aula;
Excedente - TEX, aos participantes da formação mencionada no II - 02 POEDs para as escolas que possuem 26 (vinte e seis) e
“caput” deste artigo. 50 (cinquenta) horas-aula;
§ 2º Por ocasião da ausência do POED caberá à Equipe Gestora III - 03 POEDs para as escolas com mais de 51 (cinquenta)
organizar o horário das aulas e a responsabilidade pelo uso do LED horas-aula.
e preservação dos equipamentos. Art. 18. Assegurada a atribuição de todas as aulas mencionadas
Art. 13. Caberá ao Conselho de Escolha a escolha, por meio nos artigos 4º e 16 desta IN, para fins de composição da Jornada
de processo eletivo, do professor que desempenhará a função de Básica Docente - JBD ou Jornada Especial Integral de Formação –
Professor Orientador de Educação Digital - POED. JEIF, serão atribuídas na ordem:
§ 1º As inscrições para o processo eletivo deverão ser I - até 2 (duas) horas-aula para organização do espaço,
amplamente divulgadas no âmbito da Unidade Educacional. equipamentos do LED, pesquisa, planejamento e execução de
§ 2º Não havendo eleito ou interessado, as inscrições serão aulas voltadas a Educação Maker;(Redação dada pela Instrução
abertas para a Rede Municipal de Ensino por meio de publicação Normativa SME nº 1/2022)
em Comunicado específico no DOC. II - até 6 (seis) horas-aula de Projeto de Articulação e
§ 3º O eleito será designado por ato do Administrativo, desenvolvimento de saberes ligados ao uso de Tecnologias;(Redação
publicado no Diário Oficial da Cidade de São Paulo - DOC. dada pela Instrução Normativa SME nº 1/2022)
§ 4º O início de exercício na função de POED dar-se-á somente III - até 2 (duas) horas-aula para docência compartilhada no
após a publicação do correspondente ato de designação. Ciclo Interdisciplinar;(Redação dada pela Instrução Normativa
Art. 14. Para participar do processo seletivo de que trata o SME nº 1/2022)
artigo anterior, o interessado deverá apresentar proposta de IV - até 2 (duas) horas-aulas de Trabalho Colaborativo de
trabalho, elaborada conforme ANEXO I parte integrante desta IN, Autoria – TCA.(Redação dada pela Instrução Normativa SME nº
em consonância com as diretrizes da SME, além de: 1/2022)
I - ser efetivo e estável; § 1º Esgotadas as possibilidades de composição de jornada
II - ter disponibilidade para a regência das aulas de acordo mencionada nos incisos I a IV deste artigo, os POEDs cumprirão
com a necessidade da Unidade Educacional; atividades de Complementação de Jornada - CJ.
III - conhecer a área de atuação e a legislação pertinente ao § 2º Compete à Equipe Gestora a organização das aulas que
desempenho da função; serão escolhidas/atribuídas pelos POEDs, buscando a divisão
IV - deter habilitação específica na área de surdez, se eleito, equitativa das aulas, o que inclui, quando houver dois ou mais
para autuar na EMEBSs. POEDs na mesma UE, a organização, preferencialmente, por
turnos.

267
BIBLIOGRAFIA - INFORMÁTICA BÁSICA
Art. 19. A escolha/atribuição de aulas mencionadas nos § 1º Será dada a ciência ao Supervisor Escolar dos documentos
artigos 4º e 16 desta IN dar-se-á conforme Instrução Normativa mencionados no “caput” deste artigo.
específica. § 2º Anualmente ou sempre que houver alterações, o Plano
Parágrafo único. Ao professor com 25 (vinte e cinco) horas- de Trabalho deverá ser encaminhado para a DIPED por meio do
aula de regência nos termos do “caput”, poderá ser atribuído, a sistema eletrônico - SEI, de acordo com o modelo constante no
título de TEX, até 2 (duas) horas-aula para organização do espaço, ANEXO II, parte integrante desta Instrução Normativa.
equipamentos do LED e pesquisa, planejamento e execução de Art. 27. Para fins de designação, a Proposta de Trabalho
aulas voltadas à Educação Maker. deverá estar em conformidade com o ANEXO I, parte integrante
Art. 20. Na hipótese de haver mais de um POED, deverão ser desta Instrução Normativa, e conter:
observadas para fins de escolha/atribuição de aulas a classificação a) identificação do professor envolvido: nome, categoria/
obtida por meio da Portaria SME nº 6.258, de 2013 e, para fins de situação funcional, registro funcional;
desempate, os seguintes critérios, na ordem: b) proposta de trabalho de acordo com o Currículo da Cidade
I - maior tempo na função de POED; - Tecnologias para Aprendizagem e a disponibilidade de horário
II - maior tempo na Carreira do Magistério; de atuação;
III - maior tempo no Magistério Municipal. c) formas de organização e avaliação do trabalho a ser
Art. 21. As aulas destinadas à articulação do Trabalho desenvolvido.
Colaborativo de Autoria - TCA, inciso IV do artigo 18, serão Parágrafo único. O início de exercício na função de POED dar-
ministradas em docência compartilhada entre o POED e um dos se-á somente após a publicação ato de designação.
docentes da turma.(Redação dada pela Instrução Normativa SME Art. 28. Nos afastamentos do POED, por períodos iguais ou
nº 1/2022) superiores a 30 (trinta) dias consecutivos, será cessada a sua
§ 1º Os POEDs serão responsáveis pelo desenvolvimento, designação e adotar-se-ão os procedimentos previstos no artigo
acompanhamento e desdobramentos do projeto, bem como, 13 desta Instrução Normativa para escolha imediata de outro
dos registros das atividades no SGP.(Redação dada pela Instrução docente para a função.
Normativa SME nº 1/2022) Art. 29. Será facultado o uso do Laboratório de Educação
§ 2º Os regentes da turma serão os responsáveis pelos Digital aos demais professores da Unidade Educacional, de acordo
registros de frequência realizados no SGP.(Redação dada pela com cronograma a ser organizado em conjunto com o POED e
Instrução Normativa SME nº 1/2022) o Coordenador Pedagógico, ocasião em que se estabelecerá a
§ 3º Preferencialmente, o POED e o POSL não deverão responsabilidade pelo uso da sala e dos equipamentos.
atuar como docentes nas mesmas turmas de TCA.(Incluído pela Art. 30. Os professores que se encontrarem em período
Instrução Normativa SME nº 1/2022) de estágio probatório não serão designados para a função de
Art. 22. As aulas destinadas ao Projeto de Articulação e Professor Orientador de Educação Digital - POED.
desenvolvimento de saberes ligados ao uso de Tecnologias, Art. 31. O acervo do Laboratório de Educação Digital LED,
inciso II do artigo 18, ministradas no contraturno dos estudantes, mencionado no inciso III do artigo 7º, é constituído pelos seguintes
destinar-se-ão para o desenvolvimento de projetos que envolvam equipamentos:
a área de conhecimento de Tecnologias para Aprendizagem, a) 01 Computador Desktop;
entre eles, Aluno Monitor, Robótica Criativa e Educomunicação. b) 01 projetor multimídia;
(Redação dada pela Instrução Normativa SME nº 1/2022) c) Caixa de som;
Art. 23. As aulas mencionadas no inciso III do artigo 18, d) 20 notebooks;
referentes ao 4º e/ou 5º anos, do Ciclo Interdisciplinar, serão e) 01 Impressora 3D;
ministrada em docência compartilhada com o regente da turma f) 20 tablets;
e destinam-se ao desenvolvimento projetos de promoção do g) 04 kits de Robótica.
Pensamento Computacional e fluência digital e integram a grade Art. 32. Os casos omissos ou excepcionais serão resolvidos
Programas Especiais – Projeto Interdisciplinar.(Redação dada pela pelo Diretor Regional de Educação ouvida, se necessário, a
Instrução Normativa SME nº 1/2022) Secretaria Municipal de Educação.
§ 1º Os POEDs serão responsáveis pelo desenvolvimento, Art. 33. Esta Instrução Normativa entrará em vigor na data
acompanhamento e desdobramentos do projeto, bem como, dos de sua publicação revogada a Instrução Normativa SME nº 30, de
registros das atividades no SGP.(Incluído pela Instrução Normativa 2019.
SME nº 1/2022)
§ 2º Os regentes da turma serão os responsáveis pelos ANEXO I DA INSTRUÇÃO NORMATIVA SME Nº 52, DE 10 DE
registros de frequência realizados no SGP.(Incluído pela Instrução DEZEMBRO DE 2021
Normativa SME nº 1/2022) – Elementos da Proposta de Trabalho para designação como
Art. 24. Quando em aula compartilhada, incluindo a Educação POED
de Jovens e Adultos - EJA e o Ensino Médio noturno, o Professor 1. Utilizar em todo documento Fonte Arial, tamanho 12,
regente deverá acompanhar a classe nas aulas do Laboratório de espaçamento 1,5.
Educação Digital - LED quando programadas dentro do seu horário 2. Os títulos das seções do documento devem estar em
de trabalho. CAIXA ALTA e numerados a partir do 1 (um).
Art. 25. Será possibilitada ao POED, a título de JEX, a 3. Margens ajustadas com 2cm em todas as direções
atribuição de aulas de sua titularidade/componente curricular e (superior, inferior, esquerda e direita).
ou de projetos a serem realizados no contraturno dos estudantes, 4. As citações diretas com mais de 3 (três) linhas, que vierem
desde que, assegurada a compatibilidade de horários. a ocorrer ao longo do documento, devem estar recuadas (4cm) da
Art. 26. A organização do Plano de Trabalho e horário das margem, com espaçamento simples e tamanho 11.
aulas de Tecnologias para Aprendizagem será de responsabilidade 5. Numeração de páginas, no cabeçalho, à direita e iniciando
da Equipe Gestora em conjunto com o POED. com o número a partir da seção INTRODUÇÃO.
6. Capa:

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268
BIBLIOGRAFIA - INFORMÁTICA BÁSICA
a. Cabeçalho centralizado e em CAIXA ALTA: a. Explicitar motivações profissionais-pessoais que levam
o proponente a entregar tal proposta e apresentar, brevemente,
i. PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO todas as seções do documento. Preferencialmente, não exceder
2 páginas.
ii. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
SÃO PAULO 10. FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROPONENTE:
CURRÍCULO (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à esquerda)
iii. DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO
____________ a. Descrever a trajetória de formação inicial e continuada
do proponente, podendo ser, inclusive, cópia do Currículo Lattes
iv. EMEF/EMEFM/EMEBS _____________ ou similar.

b. Título centralizado e em CAIXA ALTA: 11. O DESENVOLVIMENTO COMPUTACIONAL NAS AÇÕES


DIDÁTICAS (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à esquerda)
i. PROPOSTA DE TRABALHO – POED
a. Descrever propostas e ações para atuar no Laboratório
c. Rodapé, centralizado e em CAIXA ALTA: de Educação Digital com aulas regulares nas turmas e projetos
(TCA, Aluno Monitor, Robótica Criativa, Educomunicação) a partir
i. SÃO PAULO, SP das orientações contidas nos documentos Currículo da Cidade e
Orientações Didáticas.
ii. ANO DA PROPOSTA
12. ARTICULAÇÃO COM O TRABALHO COLABORATIVO DE
7. Contracapa: AUTORIA - TCA (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à esquerda)

a. Cabeçalho centralizado e em CAIXA ALTA: a. Esta seção somente deve ser produzida quando o
futuro POED compuser jornada com aulas de Articulação de
i. PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO Trabalho Colaborativo de Autoria – TCA. É necessário que sejam
demonstradas estratégias para articulação junto ao professor
ii. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO regente da turma para consecução do TCA.
SÃO PAULO
13. REGISTROS, GESTÃO E AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS
iii. DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO NA SALA DE LEITURA (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à
- ____________ esquerda)

iv. EMEF/EMEFM/EMEBS _______________ a. Descrever como se darão os registros de aprendizagens


e atividades dos estudantes, a gestão dessas aprendizagens e
b. Texto de apresentação, recuado a 8cm da margem: a avaliação, considerando a especificidade do trabalho que se
desenvolve No Laboratório de Educação Digital, incluindo as
i. Com vistas à atuação como Professor modalidades organizativas que promovem o contato, a expansão
Orientador de Educação Digital e a o aprofundamento com a leitura literária.
- POED, conforme disponibilidade de vaga divulgada pelo
_____________ (informar se livro próprio da Unidade ou 14. REFERÊNCIAS (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à
Comunicado do Diário Oficial), esta é uma proposta de trabalho esquerda)
elaborada por ____________ para apreciação do Conselho de
Escola desta Unidade. a. Com base na ABNT, registrar todas as referências citadas
de maneira direta ou indireta na Proposta.
c. Título centralizado e em CAIXA ALTA:
15. FOLHA DE APROVAÇÃO (em CAIXA ALTA, negrito e recuada
d. PROPOSTA DE TRABALHO – POED à esquerda)

e. Rodapé, centralizado e em CAIXA ALTA: a. Espaços para assinatura do Presidente do Conselho de


Escola, Gestão da Unidade Escolar e Supervisor Escolar.
i. SÃO PAULO, SP

ii. ANO DA PROPOSTA ANOTAÇÕES


8. Sumário ______________________________________________________

9. INTRODUÇÃO (em CAIXA ALTA, negrito e recuada à ______________________________________________________


esquerda), contendo:
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BIBLIOGRAFIA - INFORMÁTICA BÁSICA
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICO
CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS

Relevância: O Currículo da Cidade foi construído para ser um


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADORIA documento dinâmico, a ser utilizado cotidianamente pelos profes-
PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: EDUCAÇÃO sores com vistas a garantir os direitos de aprendizagem a todos os
INFANTIL. SÃO PAULO: SME / COPED, 2019 estudantes da Rede.
Colaboração: O documento foi elaborado considerando dife-
rentes visões, concepções, crenças e métodos, por meio de um pro-
Currículo da cidade: orientações curriculares para a cidade de cesso dialógico e colaborativo, que incorporou as vozes dos diversos
São Paulo1 sujeitos que compõem a Rede.
O Currículo da Cidade busca alinhar as orientações curricula- Contemporaneidade: A proposta curricular tem foco nos desa-
res do Município de São Paulo à Base Nacional Comum Curricular fios do mundo contemporâneo e busca formar os estudantes para
(BNCC), documento que define as aprendizagens essenciais a que a vida no século XXI.
todos os estudantes brasileiros têm direito ao longo da Educação
Básica. A BNCC estrutura-se com foco em conhecimentos, habilida- O Currículo da Cidade foi construído para todos os estudantes
des, atitudes e valores para promover o desenvolvimento integral da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, inclusive os que neces-
dos estudantes e a sua atuação na sociedade. sitam de atendimento educacional especializado, aqueles que têm
Sua implementação acontece por meio da construção de currí- algum tipo de deficiência, transtornos globais de desenvolvimento
culos locais, de responsabilidade das redes de ensino e escolas, que ou altas habilidades/superdotação. Aplica-se, também, a crianças e
têm autonomia para organizar seus percursos formativos a partir adolescentes de diferentes origens étnico-raciais, além de imigran-
da sua própria realidade, incorporando as diversidades regionais e tes e refugiados de vários países.
subsidiando a forma como as aprendizagens serão desenvolvidas A proposta da atualização do Currículo da Cidade de São Paulo
em cada contexto escolar. Diante disso, a Secretaria Municipal de reforça a mudança de paradigma que a sociedade contemporânea
Educação de São Paulo – SME deu início ao processo de atualização vive, na qual o currículo não deve ser concebido de maneira que o
curricular em março de 2017, com a realização de um seminário estudante se adapte aos moldes que a escola oferece, mas como
municipal, que reuniu diretores e coordenadores pedagógicos de um campo aberto à diversidade. Essa diversidade não é no sentido
todas as escolas de Ensino Fundamental da Rede, professores de de que cada estudante poderia aprender conteúdos diferentes, mas
referência, além de gestores e técnicos das Diretorias Regionais de sim aprender conteúdos de diferentes maneiras.
Educação (DREs). Para que esses estudantes tenham seus direitos garantidos, re-
De abril a junho, professores e estudantes da Rede foram con- conhece-se a necessidade de adequações didáticas e metodológi-
sultados por meio de amplo processo de escuta, que mapeou suas cas que levem em consideração suas peculiaridades, documentos
percepções e recomendações sobre o que e como aprender. En- esses que serão produzidos pela SME dialogando com o Currículo
quanto 43.655 estudantes enviaram suas percepções por meio de da Cidade. O Currículo da Cidade estrutura-se com base em três
um questionário individual disponibilizado via aplicativo, 16.030 conceitos orientadores:
educadores deram indícios de como organizam suas práticas curri-
culares, compartilhadas por meio do site da SME. Essas percepções Educação Integral: Tem como propósito essencial promover o
e indicadores também serviram como referência para a produção desenvolvimento integral dos estudantes, considerando as suas di-
desse currículo. mensões intelectual, social, emocional, física e cultural.
O Currículo da Cidade foi construído de forma coletiva, tanto Equidade: Partimos do princípio de que todos os estudantes
para espelhar a identidade da Rede Municipal de Ensino de São são sujeitos íntegros, potentes, autônomos e, portanto, capazes de
Paulo, quanto para assegurar que seja incorporado por todos os aprender e desenvolver-se, contanto que os processos educativos a
seus integrantes. O processo foi realizado sob a orientação da Co- eles destinados considerem suas características e seu contexto e te-
ordenadoria Pedagógica (COPED) da Secretaria Municipal de Edu- nham significado para suas vidas. Assim sendo, buscamos fortalecer
cação de São Paulo, tendo como base as seguintes premissas para políticas de equidade, explicitando os direitos de aprendizagem, ga-
sua construção: rantindo as condições necessárias para que eles sejam assegurados
a cada criança e adolescente da Rede Municipal de Ensino, inde-
Continuidade: O processo de construção curricular procurou pendente da sua realidade socioeconômica, cultural, étnico-racial
romper com a lógica da descontinuidade a cada nova administra- ou geográfica.
ção municipal, respeitando a memória, os encaminhamentos e as Educação Inclusiva: Respeitar e valorizar a diversidade e a di-
discussões realizadas em gestões anteriores e integrando as experi- ferença, reconhecendo o modo de ser, de pensar e de aprender de
ências, práticas e culturas escolares já existentes na Rede Municipal cada estudante, propiciando desafios adequados às suas caracterís-
de Ensino. ticas biopsicossociais, apostando nas suas possibilidades de cresci-
mento e orientando-se por uma perspectiva de educação inclusiva,
1 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria plural e democrática.
Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular:
Tecnologias para Aprendizagem. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
Editora
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O Currículo da Cidade foi organizado em três Ciclos (Alfabetiza- O Currículo da Cidade leva em conta as especificidades des-
ção, Interdisciplinar e Autoral) e apresenta uma Matriz de Saberes, sas fases do desenvolvimento e considera os diferentes contextos
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os Eixos Estruturan- em que as crianças e os adolescentes que vivem na Cidade de São
tes, os Objetos de Conhecimento e os Objetivos de Aprendizagem e Paulo estão inseridos. Para tanto, acolhe essa diversidade referen-
Desenvolvimento de cada Componente Curricular. ciando-se pelos estudos sobre as relações étnico-raciais, pelas Leis
Os objetos de conhecimento e objetivos de aprendizagem e de- 10.639/03 e 11.645/08, assim como pela atuação do Núcleo Étni-
senvolvimento de cada componente curricular foram elaborados co-Racial da SME, que, dentre outras atividades, fomenta práticas
por Grupos de Trabalho (GTs) formados por professores, supervi- educacionais voltadas à aprendizagem de Histórias e Culturas Afri-
sores e técnicos da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo canas, Afro-brasileiras, Indígenas, assim como a de Imigrantes e de
e das Diretorias Pedagógicas (DIPEDs) das Diretorias Regionais de Refugiados.
Educação (DREs). Os GTs reuniram-se de março a junho de 2017 e Partindo-se da concepção de que a criança e o adolescente são
produziram a primeira versão do Currículo da Cidade. sujeitos de direito que devem opinar e participar das escolhas capa-
No mês de agosto essa versão foi colocada para consulta das zes de influir nas suas trajetórias individuais e coletivas, compreen-
equipes gestora e docente, supervisores e formadores das DREs, de-se que o Currículo da Cidade, bem como os espaços, tempos e
no Sistema de Gestão Pedagógica (SGP), totalizando mais de 9.000 materiais pedagógicos disponibilizados pelas unidades educativas,
leituras e mais de 2.550 contribuições que foram analisadas pelas precisa acolhê-los na sua integralidade e promover a sua participa-
equipes técnicas do Núcleo Técnico de Currículo (NTC) e Divisão de ção. Para tanto, faz-se necessário conhecer as suas aspirações, in-
Ensino Fundamental e Médio (DIEFEM). Além disso, a primeira ver- teresses e necessidades, bem como atentar para as mudanças que
são do documento foi encaminhada a leitores críticos que também ocorrem ao longo do seu desenvolvimento.
trouxeram contribuições. As Diretrizes Curriculares Nacionais de 2013 salientam a impor-
Após a incorporação das contribuições pelas equipes técnicas tância de se observar que, na transição da infância para a adoles-
do NTC/DIEFEM, o documento tem sua versão finalizada, para ser cência, os estudantes deixam a fase egocêntrica, característica dos
implementado pelas escolas da Rede. As ações de implementação anos iniciais, e passam a perceber o ponto de vista do outro, inte-
contarão com orientações didáticas, materiais curriculares e forma- ragindo com o mundo ao seu redor, realizando a chamada descen-
ção continuada. tração, processo fundamental para a “construção da autonomia e a
aquisição de valores morais e éticos”.
Concepções e conceitos que embasam o currículo da cidade Cabe destacar que é também nessa fase da vida que crianças
A construção do Currículo da Cidade foi orientada por con- e adolescentes de todas as classes sociais ficam mais expostos a
cepções e conceitos, considerando a importância de conceber os situações de risco pessoal e social e à influência da mídia, o que, por
pressupostos de um currículo integrador. Na perspectiva de um vezes, compromete a sua integridade física, psicológica e moral e a
Currículo Integrador, a criança não deixa de brincar, nem se divide capacidade de tomar decisões mais assertivas, além de influenciar
em corpo e mente ao ingressar no Ensino Fundamental. Ao contrá- as suas formas de pensar e expressar-se. Assim sendo, é de extrema
rio, ela continua a ser compreendida em sua integralidade e tendo relevância que o Currículo da Cidade prepare os estudantes para
oportunidades de avançar em suas aprendizagens sem abandonar fazer uso crítico, criativo e construtivo das tecnologias digitais, bem
a infância. como refletir sobre os apelos consumistas da sociedade contempo-
Sendo assim, o currículo do Ensino Fundamental considera a rânea, os riscos da devastação ambiental e naturalização dos pro-
organização dos tempos, espaços e materiais que contemplem as blemas sociais, humanos, afetivos e emocionais.
vivências das crianças no seu cotidiano, a importância do brincar e Também precisa orientá-los a reconhecer e proteger-se das vá-
a integração de saberes de diferentes Componentes Curriculares, rias formas de violência, abuso e exploração que podem prejudi-
em permanente diálogo. car o seu bem-estar e desenvolvimento, além de apoiá-los a cons-
tituírem-se como pessoas e cidadãos cada vez mais aptos a lidar
Concepção de infância e adolescência com as demandas e os desafios do século XXI. Essas preocupações
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera a infân- apontam para a adoção de um currículo orientado pela Educação
cia como o período que vai do nascimento até os 12 anos incomple- Integral, que seja capaz de formar sujeitos críticos, autônomos, res-
tos, e a adolescência como a etapa da vida compreendida entre os ponsáveis, colaborativos e prósperos.
12 e os 18 anos de idade. A lei define que a criança e o adolescen-
te usufruam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa Concepção de currículo
humana e devem ter acesso a todas as oportunidades e condições O Currículo da Cidade foi construído a partir da compreensão
necessárias ao seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual de que:
e social. Estabelece, ainda, em seu artigo 4º que:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do → Currículos são plurais: O currículo envolve os diferentes sa-
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos beres, culturas, conhecimentos e relações que existem no universo
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao de uma rede de educação. Assim sendo, é fruto de uma constru-
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao ção cultural que reúne diversas perspectivas e muitas significações
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. produzidas a partir dos contextos, interesses e intenções que per-
meiam a diversidade dos atores e das ações que acontecem dentro
Ainda que reúnam características comuns, essas etapas da vida e fora da escola e da sala de aula.
não podem ser concebidas de forma homogênea, uma vez que Para dar conta dessa pluralidade, o Currículo da Cidade foi cons-
também são influenciadas por construções históricas e culturais, de truído a partir da escuta e da colaboração de estudantes, professo-
tempo, lugar e espaço social, bem como de variáveis de classe, gê- res e gestores da Rede Municipal de Ensino.
nero, etnia, orientação política, sexual ou religiosa.

Editora
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
→ Currículos são orientadores: O currículo é também uma Embora a função do currículo não seja a de fechar-se à criativi-
forma concreta de olhar para o conhecimento e para as aprendi- dade e à inovação, sua característica mais fundamental é a clareza
zagens construídas no contexto de uma organização de formação. com que enuncia princípios e que cria clima e roteiros instigantes
Diferentes concepções de currículo levam a diferentes orientações ao diálogo, à aprendizagem e à troca de experiências mediadas por
em relação ao indivíduo que se deseja formar, à prática educativa e conhecimentos amplos e significativos da história.
à própria organização escolar.
O currículo não oferece todas as respostas, mas traz as dis- → Professores são protagonistas do currículo: O professor é o
cussões temáticas, conceituais, procedimentais e valorativas para sujeito principal para a elaboração e implementação de um currí-
o ambiente da escola, orientando a tomada de decisões sobre as culo, uma vez que tem a função de contextualizar e dar sentido aos
aprendizagens até a racionalização dos meios para obtê-las e com- aprendizados, tanto por meio dos seus conhecimentos e práticas,
provar seu sucesso. Assim sendo, o currículo pode ser considerado quanto pela relação que estabelece com seus estudantes. Para tan-
como o cerne de uma proposta pedagógica, pois tem a função de to, os educadores precisam reconhecer o seu papel de protagonis-
delimitar os aprendizados a serem desenvolvidos e referenciar as tas nesse processo, sentindo-se motivados e tendo condições de
atividades a serem realizadas em sala de aula, sempre tendo a com- exercê-lo.
preensão e a melhoria da qualidade de vida como base da socieda- Compreendendo a importância desse envolvimento, o Currícu-
de, da própria escola, do trabalho do professor e do sentido da vida lo da Cidade foi construído com a colaboração dos professores da
do estudante. Rede Municipal de Ensino, que participaram do processo enviando
Assim, a principal intenção do Currículo da Cidade é justamen- propostas ou integrando os Grupos de Trabalho. Tal engajamento
te oferecer diretrizes e orientações a serem utilizadas no cotidiano buscou, ainda, valorizar o protagonismo dos atores educativos fren-
escolar para assegurar os direitos de aprendizagem a cada um dos te ao desafio de tornar significativo o currículo praticado na escola.
estudantes da Rede Municipal de Ensino. Numa primeira síntese do O professor transforma o conteúdo do currículo de acordo com
que efetivamente representa, o currículo significa o seguinte: suas próprias concepções epistemológicas e também o elabora em
É a expressão da função socializadora da escola; é um instru- conhecimento “pedagogicamente elaborado” de algum tipo e nível
mento imprescindível para compreender a prática pedagógica; está de formalização enquanto a formação estritamente pedagógica lhe
estreitamente relacionado com o conteúdo da profissionalidade faça organizar e acondicionar os conteúdos da matéria, adequando-
dos docentes; é um ponto em que se intercruzam componentes e -os para os alunos.
decisões muito diversas (pedagógicas, políticas, administrativas, de Nesse processo o envolvimento da equipe gestora da escola
controle sobre o sistema escolar, de inovação pedagógica); é um (coordenadores pedagógicos e diretores) é muito importante, no
ponto central de referência para a melhoria da qualidade de ensino. sentido de articular professores da mesma área, de diversas áreas;
do mesmo ciclo e dos diferentes ciclos nas discussões curriculares e
→ Currículos não são lineares: O currículo não é uma sequên- na organização dos planejamentos com vistas a atender melhor os
cia linear, mas um conjunto de aprendizagens concomitantes e in- estudantes daquela comunidade escolar. Essas ações desenvolvidas
terconectadas. Portanto, não é possível defini-lo antecipadamente nos espaços escolares, e acompanhadas pelos supervisores, permi-
tem uma articulação entre as diferentes escolas com as quais ele
sem levar em conta o seu desenvolvimento no cotidiano escolar. Ou
atua e com a própria história de construção curricular do município
seja, o currículo está estreitamente ligado ao dia a dia da prática
e os debates nacionais.
pedagógica, em que se cruzam decisões de vários âmbitos.
Um currículo construtivo é aquele que emerge através da ação
→ Currículos devem ser centrados nos estudantes: O propósito
e interação dos participantes; ele não é estabelecido antecipada-
fundamental de um currículo é dar condições e assegurar a apren-
mente (a não ser em termos amplos e gerais). Uma matriz, eviden-
dizagem e o desenvolvimento pleno de cada um dos estudantes,
temente, não tem início nem fim; ela tem fronteiras e pontos de
conforme determinam os marcos legais brasileiros. Currículos tam-
interseção ou focos.
bém precisam dialogar com a realidade das crianças e adolescen-
Assim, um currículo modelado em uma matriz também é não- tes, de forma a conectarem-se com seus interesses, necessidades
-linear e não-sequencial, mas limitado e cheio de focos que se in- e expectativas.
terseccionam e uma rede relacionada de significados. Quanto mais Em tempos de mudanças constantes e incertezas quanto ao
rico o currículo, mais haverá pontos de intersecção, conexões cons- futuro, propostas curriculares precisam ainda desenvolver conhe-
truídas, e mais profundo será o seu significado. cimentos, saberes, atitudes e valores que preparem as novas gera-
ções para as demandas da vida contemporânea e futura.
→ Currículos são processos permanentes e não um produto Considerando a relevância para os estudantes da Rede Muni-
acabado: O currículo é o centro da atividade educacional e assume cipal de Ensino, o Currículo da Cidade estrutura-se de forma a res-
o papel normativo de exigências acadêmicas, mas não deve estar ponder a desafios históricos, como a garantia da qualidade e da
totalmente previsível e calculado. Dessa forma, pode-se considerar equidade na educação pública, ao mesmo tempo em que aponta
que o currículo é um processo e não um produto, mas é uma prática para as aprendizagens que se fazem cada vez mais significativas
constantemente em deliberação e negociação. para cidadãos do século XXI e para o desenvolvimento de uma so-
Embora a SME considere o Currículo da Cidade como o docu- ciedade e um mundo sustentáveis e justos.
mento orientador do Projeto Político-Pedagógico das escolas, ele As propostas de formação de caráter tão amplo e não imedia-
não pode ser visto como algo posto e imutável, mas como a concre- tistas exigem algumas adjetivações às práticas curriculares que nos
tização das funções da própria escola e a forma particular de enfo- apontam numa direção da integralidade dos objetivos de formação.
cá-las num momento histórico e social determinado. Cabe ressaltar Dentro dessa perspectiva, o currículo não visa apenas a formação
que os currículos devem ser sempre revisados e atualizados, seja mental e lógica das aprendizagens nem ser um mero formador de
para adequarem-se a mudanças que ocorrem de forma cada vez jovens ou adultos para a inserção no mercado imediato de trabalho.
mais veloz em todos os setores da sociedade, seja para incorpora- O que levaria o currículo a escapar dessas duas finalidades res-
rem resultados de novas discussões, estudos e avaliações. tritivas com relação à sua função social é sua abrangência do olhar
integral sobre o ser humano, seus valores e sua vida social digna.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Conceito de educação integral • A primeira aponta para o desenvolvimento humano equili-
O Currículo da Cidade orienta-se pela Educação Integral, enten- brado, via articulação de aspectos cognitivos, educativos, afetivos
dida como aquela que promove o desenvolvimento dos estudantes e sociais, entre outros.
em todas as suas dimensões (intelectual, física, social, emocional e • A segunda enfatiza a articulação dos Componentes Curricula-
cultural) e a sua formação como sujeitos de direito e deveres. Tra- res e o diálogo com práticas educativas transversais, inter e trans-
ta-se de uma abordagem pedagógica voltada a desenvolver todo disciplinares.
o potencial dos estudantes e prepará-los para se realizarem como • A terceira compreende a importância da articulação entre es-
pessoas, profissionais e cidadãos comprometidos com o seu pró- cola, comunidade e parcerias institucionais, bem como entre edu-
prio bem-estar, com a humanidade e com o planeta. cação formal e não formal para a formação do indivíduo integral.
Essa concepção não se confunde com educação de tempo inte- • A quarta defende a expansão qualificada do tempo que os es-
gral e pode ser incorporada tanto pelas escolas de período regular tudantes passam na escola para melhoria do desempenho escolar.
de cinco horas, quanto pelas de período ampliado de sete horas.
Nesse caso, a extensão da jornada escolar contribui, mas não é pré- Ainda indica-se que todas essas perspectivas tendem a refletir
-requisito, para que o desenvolvimento multidimensional aconteça. a realidade local e são influenciadas por peculiaridades de tempo,
A Educação Integral não se define pelo tempo de permanência espaço, região, circunstâncias sociais, econômicas e inclinações po-
na escola, mas pela qualidade da proposta curricular, que supera líticas e ideológicas. O que realmente precisa ser considerado é o
a fragmentação e o foco único em conteúdos abstratos. Ela busca desenvolvimento humano integral do estudante.
promover e articular conhecimentos, habilidades, atitudes e valo- Educação integral como direito de cidadania supõe uma oferta
res que preparem os estudantes para a realização do seu projeto de de oportunidades educativas, na escola e além dela, que promo-
vida e para contribuírem com a construção de um mundo melhor. vam condições para o desenvolvimento pleno de todas as poten-
Nas três últimas décadas, o debate acadêmico sobre Educação cialidades da criança e do jovem. Sua inclusão no mundo do conhe-
Integral tem envolvido sociólogos, filósofos, historiadores e peda- cimento e da vida passa pela garantia de um repertório cultural,
gogos, entre outros estudiosos preocupados em compreender os social, político e afetivo que realmente prepare um presente que
problemas e apontar possíveis soluções para melhorar a qualidade fecundará todos os outros planos para o futuro.
educacional e formativa do conhecimento construído na escola do O documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ho-
Brasil. mologada em 2017, compartilha dos conceitos acima abordados
As novas definições de Educação Integral que começaram a sobre o desenvolvimento global dos estudantes, enfatizando ain-
emergir a partir de meados da década de 1990 apontam para a hu- da a necessidade de se romper com as percepções reducionistas
manização do sujeito de direito e entendem o conhecimento como dos processos educativos que priorizam as dimensões cognitivas ou
elemento propulsor para o desenvolvimento humano. Indicam, afetivas em detrimento dos demais saberes que emergem dos tem-
também, que tais processos educativos acontecem via socialização pos, espaços e comunidades nos quais os estudantes se inserem.
dialógica criativa do estudante consigo mesmo, com os outros, com Segundo a BNCC, independentemente do tempo de permanência
a comunidade e com a sociedade. Nesse caso, os conteúdos cur- do estudante na escola, o fator primordial a ser considerado é a in-
riculares são meios para a conquista da autonomia plena e para a
tencionalidade dos processos e práticas educativas fundamentadas
ressignificação do indivíduo por ele mesmo e na sua relação com
por uma concepção de Educação Integral.
os demais.
Isto implica:
A Educação Integral, entendida como direito à cidadania, deve
basear-se em uma ampla oferta de experiências educativas que
I. Avaliar o contexto atual da sociedade brasileira em tempos de
propiciem o pleno desenvolvimento de crianças e jovens. Este de-
globalização social, política, econômica e cultural;
senvolvimento deve incentivar, ao longo da vida, o despertar da
II. Conciliar os interesses dos estudantes frente a esse desafio
criatividade, da curiosidade e do senso crítico, além de garantir a
permanente, amparados por estratégias de ensino e de aprendiza-
inclusão do indivíduo na sociedade por meio do conhecimento, da
autonomia e de suas potencialidades de realizar-se social, cultural gem inovadoras;
e politicamente. III. Propiciar uma formação emancipadora que valorize as ações
Em outra publicação, ao observar o contexto geral da Educação criativas dos estudantes frente às transformações tecnológicas;
Integral, a mesma autora coloca o sujeito de direito no centro de IV. Aliar a satisfação e o prazer pela busca de novos conhecimen-
suas análises e considera-o como aquele que explicita o seu lado tos com vistas à formação do indivíduo autônomo do século XXI.
subjetivo de prazer e satisfação com as escolhas simbólicas que rea-
liza no decorrer de sua existência. Tal visão ressalta que as múltiplas Educação Integral e Marcos Legais
exigências da vida corroboram para o aperfeiçoamento humano, Diversos marcos legais internacionais e nacionais alinham-se
potencializando a capacidade de o indivíduo realizar-se em todas com esse conceito de Educação Integral. Entre os internacionais ci-
as dimensões. tam-se: Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948);
Associa-se a Educação Integral à totalidade do indivíduo como Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU (1989); Agenda
processo que extrapola o fator cognitivo e permitindo-lhe viven- 2030 para o desenvolvimento sustentável (2015).
ciar uma multiplicidade de relações, com a intenção de desenvol- Entre os marcos nacionais destacam-se: Constituição Federal
ver suas dimensões físicas, sociais, afetivas, psicológicas, culturais, (1988); Estatuto da Criança e do Adolescente (1990); Lei de Diretri-
éticas, estéticas, econômicas e políticas. Seguindo a mesma linha zes e Bases da Educação Nacional (1996); Estatuto da Pessoa com
conceitual, destaca-se que a essência da Educação Integral reside Deficiência (2015).
na percepção das múltiplas dimensões do estudante, que devem Outros marcos legais, como o Plano Nacional de Educação
ser desenvolvidas de forma equitativa. (2014-2024), o Plano Municipal de Educação (2015-2025) e o Fundo
Pode-se complementar essa visão, levantando quatro perspecti- de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valo-
vas sobre a Educação Integral: rização dos Profissionais de Educação (2007), também criam con-
dições para a promoção de uma educação que contemple o pleno
desenvolvimento dos estudantes.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Essa concepção de Educação Integral está igualmente de acordo todo ainda foi palco de mais amplas migrações e imigrações ditadas
com o Programa de Metas 2017-2020 da Prefeitura Municipal de pelo pós-guerra da primeira metade do século XX e pela reorganiza-
São Paulo, compreendido como “um meio de pactuação de com- ção do modelo da economia mundial.
promissos com a sociedade”. O documento estrutura-se em cinco O acolhimento ou rejeição pela cidade desses fluxos migrató-
eixos temáticos, envolvendo todos os setores da administração mu- rios e imigratórios motiva o estabelecimento definitivo dessas po-
nicipal. pulações e transforma o território paulista e paulistano em cidade
O eixo do “Desenvolvimento Humano: cidade diversa, que va- global e pioneira em inovação e marco histórico, centro financeiro e
loriza a cultura e garante educação de qualidade a todos e todas” industrial, rica em diversidade sociocultural pela própria contribui-
engloba a Secretaria Municipal de Educação, a Secretaria Municipal ção dos migrantes e imigrantes.
de Direitos Humanos e Cidadania e a Secretaria Municipal de Cultu- A primeira e segunda décadas do século XXI reacendem, mesmo
ra. As onze metas e vinte projetos associados a esse eixo também sem guerras mundiais, o pavio de incertezas de ordem econômica
têm como foco a Educação Integral. e política, com seus consequentes impactos nos valores do conví-
vio, nas leis, na cultura, na perspectiva de futuro, na degradação
Relevância da Educação Integral ambiental e, consequentemente, na educação e na organização do
A proposta de Educação Integral ganha força frente aos debates currículo. Neste contexto o currículo é atingido frontalmente em
sobre a cultura da paz, os direitos humanos, a democracia, a ética busca de sua identidade.
e a sustentabilidade, compreendidos como grandes desafios da hu- O currículo emerge, mais que nunca como o espaço de pergun-
manidade. Para serem alcançados, esses desafios demandam que ta: que país é este? O que seremos nele? Qual é nossa função nele?
crianças, adolescentes e jovens tenham oportunidade de identifi- Qual sua identidade a ser construída? Qual o papel da escola como
car, desenvolver, incorporar e utilizar conhecimentos, habilidades, formadora de valores e de crítica aos amplos desígnios sociais?
atitudes e valores. Somos país do Sul, somos enorme extensão territorial, somos
A aprendizagem de conteúdos curriculares, ainda que impor- detentores de riquezas de subsolo, possuímos os maiores rios ce-
tante, não é o suficiente para que as novas gerações sejam capazes lestes, somos elaboradores de ricas culturas, somos um espaço, um
de promover os necessários avanços sociais, econômicos, políticos corpo, milhares de línguas, histórias.
e ambientais nas suas comunidades, no Brasil e no mundo. Somos uma civilização? O que somos e o que precisamos vir a
ser?
Conceito de equidade Existimos na América Latina e somos um país que pode cami-
O conceito de equidade compreende e reconhece a diferença nhar na direção de um pacto de coesão social de melhor vida. Sem
como característica inerente da humanidade, ao mesmo tempo em tais perguntas continuamente feitas e sem buscar as suas respostas,
que desnaturaliza as desigualdades. Temos o direito a ser iguais o currículo torna-se uma peça fria, utilitarista e incapaz de mobilizar
quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser as novas gerações em suas vidas e sua busca de conhecimento.
diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Hoje, a Rede Municipal de Ensino atende mais de 80 grupos ét-
Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferen- nicos de diversos países, que vêm contribuindo para a construção
ças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza de uma cidadania responsável dentro do contexto internacional
as desigualdades. Nesse alinhamento reflexivo, entende-se que o que vive a cidade. Portanto, o Currículo da Cidade de São Paulo, ao
sistema educacional não pode ser alheio às diferenças, tratando os definir os seus objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, con-
desiguais igualmente, pois se sabe que tal posicionamento contri- sidera o direito de todos a aprender e participar do país.
bui para a perpetuação das desigualdades e das inequidades para Para isso o currículo valoriza a função social do professor e a
uma parcela importante de crianças, jovens e adultos que residem função formativa da Escola. O conjunto dos professores e educado-
em nossa cidade, embora se saiba que sempre se busca responder res da Rede é fundamental para reconhecer as capacidades críticas
ao desafio: “o que há de igual nos diferentes?” e criadoras e potencializar os recursos culturais de todos os seus
Dessa forma, o currículo deve ser concebido como um campo estudantes, indistintamente, ao considerar e valorizar os elementos
aberto à diversidade, a qual não diz respeito ao que cada estudan- que os constituem como humanos e como cidadãos do mundo.
te poderia aprender em relação a conteúdos, mas sim às distintas
formas de aprender de cada estudante na relação com seus con- Conceito de educação inclusiva
textos de vida. Defende-se, portanto, a apresentação de conteúdos A ideia de educação inclusiva sustenta-se em um movimento
comuns a partir de práticas e recursos pedagógicos que garantam a mundial de reconhecimento da diversidade humana e da necessi-
todos o direito ao aprendizado. dade contemporânea de se constituir uma escola para todos, sem
Para efetivar esse processo de mediação pedagógica, ao plane- barreiras, na qual a matrícula, a permanência, a aprendizagem e a
jar, o professor precisa considerar as diferentes formas de aprender, garantia do processo de escolarização sejam, realmente e sem dis-
criando, assim, estratégias e oportunidades para todos os estudan- tinções, para todos.
tes. Tal consideração aos diferentes estilos cognitivos faz do profes- A escola assume, nessa perspectiva, novos contornos e busca
sor um pesquisador contínuo sobre os processos de aprendizagem. a internalização do conceito de diferença. O ensinamento sobre o
O controle das diferenças pelo/no currículo parece depender significado da diferença a ser assumido pelas escolas brasileiras: “a
mais da combinação de um conjunto de dinâmicas grupais e con- diferença, do latim: dispersar, espalhar, semear, por sua vez é a ca-
sensuais, nomeadamente da cultura escolar, do que de estratégias racterística de algo que distingue uma coisa da outra. Seu antônimo
isoladas ou prescritas. não é igualdade, mas identidade! ” Portanto estamos vivenciando
Desde as duas últimas décadas do século XIX, a Cidade de São um momento em que a diferença deve estar em pauta e compre-
Paulo tornou-se lugar de destino para milhões de imigrantes oriun- endida como algo que, ao mesmo tempo em que nos distingue,
dos de diversos países do mundo, em decorrência de guerras, fla- aproxima-nos na constituição de uma identidade genuinamente
gelos e conflitos, assim como da reconfiguração da economia global expressiva do povo brasileiro, ou seja, múltipla, diversa, diferente,
e dos impactos sociais, políticos e culturais desse processo. O Brasil rica e insubstituível.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Indubitavelmente estamos nos referindo à instalação de uma A qualidade dessa ação está na valorização da heterogeneidade
cultura inclusiva, a qual implica mudanças substanciais no cotidiano dos sujeitos que estão em nossas unidades escolares e na participa-
escolar, para que possamos, realmente, incorporar todas as diferen- ção dos educadores representantes de uma concepção de educa-
ças na dinâmica educacional e cumprir o papel imprescindível que a ção que rompe com as barreiras que impedem os estudantes estig-
escola possui no contexto social. matizados pela sociedade, por sua diferença, de ter a oportunidade
Ao pensar em uma educação inclusiva e em seu significado, é de estar em uma escola que prima pela qualidade da educação.
preciso que os conteúdos sejam portas abertas para a aprendiza-
gem de todos. Ensinar bem [nas] escolas requer uma mudança na O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
maneira como o conteúdo é determinado e na pedagogia. Uma mu- disposto no seguinte endereço eletrônico:
dança em direção a um currículo mais negociado e a uma prática de
sala de aula mais participativa. http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
Portanto, coloca-se o desafio de se pensar formas diversas de les/50630.pdf
aplicar o currículo no contexto da sala de aula e adequá-lo para que
todos os estudantes tenham acesso ao conhecimento, por meio
de estratégias e caminhos diferenciados. Cada um pode adquirir o
conhecimento escolar nas condições que lhe são possibilitadas em SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
determinados momentos de sua trajetória escolar. RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: EDUCAÇÃO DE
A prática educacional não pode limitar-se a tarefas escolares JOVENS E ADULTOS: COMPONENTES – SÃO PAULO: SME/
homogêneas ou padronizadas, as quais não condizem com a pers- COPED, 2019
pectiva inclusiva, uma vez que se preconiza o respeito à forma e à
característica de aprendizagem de todos. Portanto, para ensinar a
todos, é preciso que se pense em atividades diversificadas, propos- Currículo da Cidade – EJA2
tas diferenciadas e caminhos múltiplos que podem levar ao mesmo A Secretaria Municipal de Educação (SME), com objetivo de po-
objetivo educacional. tencializar o ensino e a aprendizagem dos estudantes da Educação
Dessa forma, o professor poderá ter o apoio necessário para de Jovens e Adultos (EJA) no Município de São Paulo, apresenta o
ser um pensador criativo que alia teoria e prática como vertentes Currículo da Cidade: Educação de Jovens e Adultos que constitui-se
indissociáveis do seu fazer e de sua atuação pedagógica, pensando como o resultado de um trabalho coletivo e dialógico que contou
sobre os instrumentos e estratégias a serem utilizados para levar com a participação de professores das diversas formas de atendi-
todos os estudantes, sem exceção, ao conhecimento e, portanto, ao mento da EJA (Regular, Modular, Centros Integrados de Educação
desenvolvimento de suas ações mentais, possibilitando-lhes aces- de Jovens e Adultos – CIEJAs e Movimento de Alfabetização de São
sar novas esferas de pensamento e linguagem, atenção e memória, Paulo – MOVA), representantes das Diretorias Regionais de Educa-
percepção e discriminação, emoção e raciocínio, desejo e sentido; ção (DREs), técnicos da Coordenadoria Pedagógica (COPED) e pes-
não como atos primários do instinto humano, mas como funções quisadores da área.
psicológicas superiores (FPSs), como prescrito na Teoria Histórico-
-Cultural. → Arte – EJA
Nessa perspectiva educacional, as parcerias são essenciais e Somos seres de cultura e linguagem, perceber-se como tal abre
demandam o trabalho colaborativo e articulado da equipe gestora possibilidades para refletir sobre como pensamos, produzimos e
e dos docentes com profissionais especializados que integram os nos expressamos. A arte potencializa modos de ler e fazer do ser
Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAIs) e o poético e estésico. O Componente Curricular Arte pode proporcio-
Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAA- nar experiências artísticas e estésicas que contribuam para a auto-
PA). nomia do estudante, no exercício da reflexão e percepção de um
Além disso, e considerando que é inaceitável que crianças e mundo culturalmente vivido.
adolescentes abandonem a escola durante o ano letivo, especial- O Currículo da Cidade – Educação de Jovens e Adultos – Arte,
mente em uma realidade como a da Cidade de São Paulo, a Secre- parte da premissa de que o estudante, como cidadão, tem direito
taria Municipal de Educação definiu o Acesso e Permanência como ao conhecimento artístico produzido, acumulado pelo ser humano,
um de seus projetos estratégicos no Programa de Metas. e de constituir-se competente para vivenciar esse conjunto de sa-
A finalidade da SME é fortalecer a articulação entre as escolas beres e/ou experiências de forma autônoma no aprender e viver
municipais e a rede de proteção social para garantir o acesso, per- processos artísticos e culturais.
manência e aprendizagem dos estudantes mais vulneráveis a repro- Nesse sentido, ensinar arte é propor encontros estésicos, artís-
vação ou evasão escolar. Para alcançar essa finalidade, há necessi- ticos e educativos. Com base neste olhar, trazemos o Currículo da
dade de um mapeamento do perfil dos estudantes reprovados e/ou Cidade – Educação de Jovens e Adultos – Arte. O desejo é que o pro-
evadidos da Rede e de um acompanhamento da frequência pelos fessor, ao olhar para o currículo, encontre percursos pedagógicos
professores, gestores das escolas e supervisores de ensino, além do potentes, percebendo possibilidades de entradas, preparos e poéti-
Conselho Tutelar. cas pessoais para exercer a docência de modo autônomo e autoral.
Além dessas ações, o município busca a articulação entre as vá-
rias secretarias para atendimento a estudantes em situação de vul-
nerabilidade. Pensar na proposta de um currículo inclusivo é, sem
dúvida, um movimento que demanda a contribuição de todos os O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
partícipes de uma Rede tão grande como a nossa. disposto no seguinte endereço eletrônico:

https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
uploads/2020/03/CC-EJA-Arte.pdf

2 https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-de-jovens-e-adul-
tos-eja/publicacoes-eja/curriculo-da-cidade-eja/
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
→ Ciências Naturais – EJA → Geografia – EJA
A elaboração de um currículo, entendida como processo de deli- Todas as pessoas observam, perguntam e procuram explicações
beração sobre finalidades, objetivos, conhecimentos, metodologias para o mundo vivido. Um mundo que, no contexto dos jovens e
e formas de avaliação a serem contemplados na escolarização, im- adultos da EJA, envolve sujeitos que representam múltiplas culturas
plica a reflexão prévia sobre a função social da escola e o conheci- e contextos socioeconômicos e socioambientais específicos. Gente
mento do público-alvo. Nesse sentido, no Currículo da Cidade para que traz para o ambiente escolar saberes que refletem as experiên-
a EJA, a escolha de Objetos de Conhecimento articula-se à definição cias de trajetórias de suas vidas.
de Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento e estes, por sua A compreensão do espaço vivido é o caminho da transformação
vez, dialogam com as ­finalidades pretendidas para a escolarização, do cidadão. Mas isso depende da postura dos sujeitos sociais em
considerando as especificidades da modalidade, das etapas e dos contrapor o que está dado como realidade e seu entendimento do
estudantes. Invertendo-se a equação, temos que a seleção de Ob- que pode ser modificado, transformado. Para isso é fundamental
jetos de Conhecimento e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvi- uma forma de ensinar e aprender que permita o diálogo, a troca
mento demanda uma reflexão prévia sobre o perfil do estudante da de ideias, a discussão de fatos e a construção de opiniões próprias
Educação de Jovens e Adultos e a função social dessa modalidade. pelos estudantes. A partir da consciência dos lugares, o protagonis-
No caso específico de Ciências Naturais, demanda ainda a deli- mo e o pensamento crítico dos estudantes pode fazê-los alcançar a
beração sobre concepções a respeito da natureza do conhecimento compreensão e a aplicação do raciocínio geográfico para, com isso,
científico e do papel do ensino de Ciências Naturais na formação de refletir sobre as lógicas de apropriação do espaço globalizado.
jovens e adultos. A Geografia é a ciência da potencialização da capacidade de ob-
servar o real produzido na complexa rede de fenômenos sociais e
O presente documento, em sua integralidade, encontra-se naturais em constante transformação. É diante deste vasto “labo-
disposto no seguinte endereço eletrônico: ratório-mundo” que estudantes e professores da EJA têm a opor-
tunidade de buscar as temáticas, os recortes espaciais, as inter-re-
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ lações e os métodos de estudos. Afinal, a Geografia nos serve para
uploads/2020/03/CC-EJA-Ciencias.pdf entender o que vivemos num enredo de cenas prontas e muitas a
construir.
→ Educação Física – EJA
Em consonância com os pressupostos ideológicos e educacio- O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
nais de cada época, a Educação Física recorreu às práticas corporais disposto no seguinte endereço eletrônico:
hegemônicas da tradição euro-estadunidense para priorizar o de-
senvolvimento da aptidão física, do ensino esportivo, da aquisição https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
de habilidades motoras e do questionamento da sociedade classis- uploads/2020/03/CC-EJA-Geografia.pdf
ta.
Na tentativa de contrapor-se a esse modelo, o componente → História – EJA
se deixou influenciar pelo pensamento pós-crítico, ampliou o seu A aprendizagem de História se inscreve numa concepção de
olhar e passou a perceber os estudantes enquanto sujeitos histó- educação emancipadora e permanente e, para tal, necessita reali-
ricos, sociais, políticos, culturais, cuja gestualidade é perpassada zar um diálogo com os conhecimentos prévios, com as noções tra-
pelos marcadores sociais das diferenças (o gênero, a classe, a et- zidas pelos estudantes sobre o conhecimento histórico a partir de
nia e a religião). Sabedora de que os corpos refletem as insígnias suas vivências sociais e culturais. O estudante jovem e adulto traz
culturais dos contextos aos quais pertencem e são constantemente consigo uma série de saberes estruturados, modelos de mundo,
reconstruídos em meio a vivências, discursos e experiências estéti- compreensão de fatos e valores consolidados.
cas, a Educação Física redimensionou sua função, voltando-se para É, pois, por meio de uma ação continuada que o processo edu-
a formação de sujeitos que valorizem o direito às diferenças e ques- cativo se realiza, em um constante dialogar com os conhecimentos
tionem os dispositivos de sua produção. prévios, para que se possa ampliar a capacidade de interpretação
A partir daí é possível compreender que é papel da Educação da realidade por meio de procedimentos como a leitura, o estudo, a
Física contribuir com a valorização da identidade e da diversidade reflexão, a pesquisa e a intervenção no meio e na sociedade.
dos sujeitos da EJA, proporcionando-lhes, por meio da tematização A História deve contribuir para que a cidadã e o cidadão que
das práticas corporais, os saberes e modos de significar dos mais di- enfrentam um cotidiano desafiador, complexo e intrincado possam
versos grupos, aproximando-se das realidades, reconhecendo seus atribuir sentidos à sua existência e compreender que o acontecer
marcos históricos, suas marcas sociais, seus expoentes culturais humano se faz no tempo e no espaço, questionando-se permanen-
identitários e suas concepções de mundo, que estão atreladas di- temente suas vivências pessoais, sociais e cotidianas. Fundamental
retamente ao modo como vivem, às suas aspirações, às convicções para se compreender o momento presente e ter condições de inter-
e às crenças. pretar o mundo de forma autônoma.

O presente documento, em sua integralidade, encontra-se O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
disposto no seguinte endereço eletrônico: disposto no seguinte endereço eletrônico:

https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
uploads/2020/03/CC-EJA-Ed-Fisica.pdf uploads/2020/03/CC-EJA-Historia.pdf

→ Língua Portuguesa – EJA


A escola e os espaços de oferta da EJA e mesmo as aulas de Lín-
gua Portuguesa se transformaram em territórios de intensificação
das diferenças linguísticas e culturais, sendo necessária a ampliação
de perspectiva na construção curricular.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O ensino do português brasileiro, nesse sentido, precisa ser Ao planejar o tratamento didático dos objetos de conhecimento
comprometido com a construção de conhecimentos, valores, habi- e de seus objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, o profes-
lidades e atitudes que permitam a participação de estudantes, mas sor buscará privilegiar relações que possam ser percebidas ou vi-
também dos professores, na vida pública, em suas esferas políti- venciadas pelos estudantes.
ca, econômica (cuja expressão mais direta é o mundo do trabalho), A Matemática permite analisar fenômenos e situações presen-
bem como na vida cultural e social, no fortalecimento dos laços tes na realidade para resolver problemas, obter informações e con-
comunitários, como alternativa possível à crescente exclusão e ao clusões que não estão explícitas. Envolve, ainda, modelos, relações,
enfrentamento de preconceitos e discriminações diversas. padrões e regularidades que possibilitam conhecer, analisar a reali-
Nessa direção, a Secretaria Municipal de Educação (SME) apre- dade e obter informações para tomar decisões.
senta um currículo fundamentado em planejamentos personaliza- É uma área de conhecimento fundamental na escola e sua
dos a partir de esferas discursivas inerentes ao contexto, permitin- aprendizagem contribui para a formação integral e para enfrentar
do, assim, que os professores tenham maior liberdade na seleção desa­fios presentes na vida cotidiana dos estudantes da EJA.
dos textos e de outros suportes pedagógicos no sentido de que a
aprendizagem ocorra. O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
Cabe enfatizar, ainda, que tal proposta organizacional além de disposto no seguinte endereço eletrônico:
ter uma preocupação estritamente didática, tem a intenção de con-
tribuir para que os docentes alfabetizadores e de Língua Portugue- https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-de-jo-
sa consigam pensar em suas práticas pedagógicas como sistemas vens-e-adultos-eja/publicacoes-eja/curriculo-da-cidade-eja/ma-
abertos, que lhes permitam, desse modo, pensar e agir com maior tematica-eja/
autonomia em face da realidade educativa que vivenciam.
→ Tecnologias para Aprendizagem – EJA
O presente documento, em sua integralidade, encontra-se A sociedade atual vive um momento importante em sua histó-
disposto no seguinte endereço eletrônico: ria em âmbito mundial, com o surgimento e desenvolvimento das
tecnologias de informação e comunicação (TIC) em contextos di-
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ gitais, que tem provocado inúmeras transformações das relações
uploads/2020/03/CC-EJA-Lingua-Portuguesa.pdf interpessoais com impactos significativos em seus vários âmbitos,
inclusive na Educação.
→ Língua Inglesa – EJA Daí a importância de se pensar este documento para os estu-
A aprendizagem da Língua Inglesa na Educação de Jovens e dantes da EJA e suas especificidades na perspectiva da atuação
Adultos (EJA) contribui de modo especial para a formação integral deste grupo como cidadãos plenos na sociedade, garantindo a via-
do estudante em vários aspectos, ao contrário do que muitos ima- bilização e concretização dos direitos de aprendizagem, diante da
ginam. Questionar a relevância dessa aprendizagem, além da língua complexidade cultural que as tecnologias os envolveram.
materna, para estudantes adultos que apresentam histórias singu- Não se trata apenas de computadores, mas de ferramentas tec-
lares de aprendizagem escolar, na maioria das vezes fruto de sua nológicas com potencial para promover a equidade e a aproxima-
trajetória de vida, é negar-lhes a possibilidade de ver-se e sentir-se ção da escola ao universo dos estudantes, que possibilitam além do
parte de um mundo que lhes pertence, por direito. acesso e imersão em tecnologias, a experimentação, a depuração
A presença da Língua Inglesa, doravante também tratada como de ideias, o protagonismo, o desenvolvimento de competências
LI, está em toda parte: nas ruas, nos meios de comunicação, espe- não cognitivas, a valorização do trabalho em equipe e das várias
cialmente no mundo digital. formas de comunicação e expressão.
Esse estudante a percebe, no seu dia a dia, interagindo com uma
série de informações que lhe são transmitidas por meio da presen- O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
ça dessa língua nos mais variados contextos e situações, tais como: disposto no seguinte endereço eletrônico:
bus, escrita no chão do corredor de ônibus, sale, 50% off ou off price
nos estabelecimentos comerciais, o hambúrguer ou cheeseburguer https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
pedido na lanchonete, o funk ou o hip hop que ele conhece e apre- uploads/2020/03/CC-EJA-Tecnologias.pdf
cia (ou não), o danger na placa de aviso no trabalho, o aviso sonoro
“Next station” no metrô, entre outras tantas expressões que o cer-
cam e que já fazem parte do seu mundo, letrado ou não.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
O presente documento, em sua integralidade, encontra-se RIA PEDAGÓGICA CURRÍCULO DA CIDADE: POVOS INDÍGE-
disposto no seguinte endereço eletrônico: NAS: ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS. – SÃO PAULO: SME /
COPED, 2019
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
uploads/2020/03/CC-EJA-Lingua-Inglesa.pdf
Currículo da cidade: povos indígenas: orientações pedagógi-
→ Matemática – EJA cas3
No Currículo da Cidade: Educação de Jovens e Adultos: Matemá- O que realmente sabemos sobre os povos indígenas brasileiros?
tica, assume- -se que o conhecimento está ligado a uma rede de sig- O que precisamos saber para que não repitamos os estereótipos, os
nificados, os quais podem ser caracterizados por meio de relações estigmas, os preconceitos? Como educar o olhar de nossas crianças
a serem estabelecidas. São propostos objetivos de aprendizagem e para que possam crescer compreendendo as diferenças que existem
desenvolvimento que podem ser conectados por meio de relações entre os diversos sistemas culturais? O que podemos ensinar sobre
advindas de múltiplos contextos que possibilitam tecer significados,
integrando-os em feixes que formarão a rede de significados. 3 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Currículo da cidade: povos indígenas: orientações pedagógicas. –
São Paulo: SME / COPED, 2019.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
estes povos? O que podemos aprender com eles? Como enxergá-los É preciso conhecer toda a diversidade cultural e linguística se
como parte de nossa brasilidade? Enfim, como ser verdadeiramente quisermos ser justos com todos estes povos que habitam nossa ter-
brasileiros e ignorar suas trajetórias, suas lutas, suas resistências? ra brasileira desde tempos imemoriais. Lembramos, também, que é
Podemos ser brasileiros sem nossos povos originários? necessário olhar a história sob a ótica dessa gente nativa (indígena)
Estas são algumas das questões que estão presentes neste livro para não cairmos na falsa ideia de que o modo de vida ocidental é o
que foi preparado com a intenção única de oferecer uma releitu- único ponto de referência humana.
ra da presença indígena no Brasil e em São Paulo. São textos que Há populações indígenas em franco crescimento. Estas popu-
conversam com os educadores da rede municipal procurando des- lações enfrentam difíceis problemas para suas sobrevivências por
construir conceitos, imagens preconcebidas e empobrecedoras da conta dos projetos econômicos que se estendem de norte a sul do
rica experiência de vida que os povos originários desenvolveram ao Brasil e que normalmente atingem os habitantes dessas regiões.
longo de sua trajetória histórica que os relegou a um passado remo-
to negando-lhes contemporaneidade, mantendo-os nos rodapés da 2. Nesta terra tinha gente!
história brasileira. Os povos indígenas estão presentes no território brasileiro há
Este material é a maneira de oferecer um novo olhar sobre milhares de anos, são aproximadamente 12 mil, bem antes de o
povos indígenas. Ele foi elaborado seguindo o ritmo da oralidade, Brasil ter esse nome. Aqui chegaram atravessando agruras geográfi-
contando histórias da tradição e lembrando que a maneira de edu- cas, climáticas e culturais.
car passa pela conquista da confiança das crianças, pelo afeto, pela Muitos dos grupos que enfrentaram o desafio de ter melhores
dedicação. Talvez, por isso, o professor encontrará sempre um pe- condições de vida foram se estabelecendo em determinadas regi-
queno resumo no final de cada capítulo chamado Resumo da Oca, ões, criando o próprio estilo de vida, que chamamos de cultura.
uma brincadeira com a fala ocidental que, ao final de uma conversa, Esse estilo foi sendo aprimorado ao longo do tempo, mas foi basi-
gosta de fazer “o resumo da ópera”. camente movido pelo instinto de sobrevivência baseado numa con-
Também, os nossos autores colocam uma interrogação na cabe- cepção de pertencimento ao universo.
ça dos educadores quando sugerem como prática do que foi apren- Essa visão de humanidade ocasionou constantes aperfeiçoa-
dido o “criando piolhos”, para entendermos que cada novo apren- mentos, seja na cultura material, criação de objetos cada vez mais
dizado envolve inquietações, necessidade de sairmos em busca de sofisticados para o uso cotidiano, seja na compreensão de humani-
conhecimentos e criarmos consciência. Criando piolhos para criar dade, repassada de geração a geração por um sistema educacional
consciência crítica e reflexiva que nos ajude a transformar a manei- baseado na oralidade.
ra de olharmos a nós mesmos e, consequentemente, o mundo em Quando os colonizadores europeus por aqui aportaram, foi as-
que vivemos. sim que encontraram estes povos organizados, mas, embora fasci-
Ele também está em sintonia com os avanços do debate peda- nados com toda essa riqueza cultural, foram incapazes de valorizar
gógico em torno da Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da a experiência dos indígenas e tiveram as atitudes que lhes parece-
Educação) e das Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008 (que tornaram ram mais natural: a escravização, o extermínio, a desmoralização
obrigatório o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena cultural. Assim faziam por pertencerem a uma cultura dita civiliza-
nos ensinos fundamental e médio nas escolas públicas e particula- da que não aceitava como hoje ainda não aceita, outros modos de
res brasileiras), promovendo o compromisso de sua aplicação por pensamento que não seguisse uma organização hierárquica.
meio de um conjunto de ações formativas que pretendem garantir A não aceitação criou uma barreira ainda até hoje impede a re-
o estudo e a discussão acerca da importância das culturas indíge- lação respeitosa entre os diversos olhares existentes. O Brasil não
nas, no formação da identidade brasileira. conhece sua sócio diversidade nativa, pois ainda está à mercê de
Além disso, está em consonância com as orientações da Organi- [pre]conceitos quinhentistas, pois não consegue acompanhar a ri-
zação das Nações Unidas (ONU), que aprovou, em 13 de dezembro queza da diversidade, reproduzindo estereótipos e desvalorizando
de 2007, a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas e, tam- os saberes ancestrais dos povos indígenas nacionais.
bém, com a Convenção 169, Organização Internacional do Trabalho
(OIT), aprovada em 1989, e que trata sobre como os governos de- 3. Visões que marcaram ou a difícil arte de ser “índio” no Brasil
vem respeitar os Povos Indígenas e Tribais. Essa referida Convenção Desde XVI, o Brasil desenvolveu políticas para os povos indíge-
passou a fazer parte do arcabouço jurídico brasileiro apenas em nas e que essas soluções obedeciam a diferentes interesses eco-
2004, quando o País tornou-se signatário, por ato da Presidência nômicos e sociais de acordo com a época em questão. A política
da República. exterminacionista, inicialmente, tinha a ver com o extermínio dos
Este material é um portal que se abre para oferecer um trata- indígenas por considerá-los um empecilho para a exploração colo-
mento novo, honesto, digno e humano para os povos indígenas. É nial.
a porta da frente da história que queremos oferecer porque enten- Em seguida, foi gestada a política assimilacionista com a clara
demos que a cidadania se constrói dignificando os cidadãos, todos intenção de fazer as diferenças desaparecerem como num passe de
eles, sempre. mágica, desejando que os indígenas fossem assimilados pela cultu-
Os povos indígenas ganham, neste material, seu merecido papel ra europeia. Essa política não deu certo e, ainda no sistema colonial,
de anfitriões, de primeiros povos, de primeiras nações, de primei- mas já no seu finalzinho dele, foi praticada a política integracionista,
ros brasileiros. É nossa maneira de honrar nossa história, nossa pá- imaginando que as populações indígenas pudessem, por vontade
tria, nossa terra, nossa identidade brasileira. própria, se integrar ao novo modelo de país que surgiu após a Inde-
pendência, no século XIX.
1. Usando as palavras certas Foi nesse século que também foram criados os principais mitos
As palavras são perigosas. Trazem consigo o poder de erguer sobre os indígenas, que ficaram fixados na mente dos brasileiros
ou derrubar alguém [seja pessoa, povo ou cultura]. O uso indevido por causa das ideias trazidas pela Revolução Industrial e pelo pensa-
da palavra «índio» acabou desqualificando culturas inteiras desde o mento do francês Jean Jacques Rousseau e sua teoria sobre o “bom
século XVI motivado pela sede de riquezas da coroa portuguesa que selvagem”, e pelas literaturas românticas de Gonçalves Dias e José
permitia a escravização de indígenas para o sucesso da empreitada de Alencar, que apresentaram um indígena submisso ao modelo
colonialista. europeu.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
No fim do século XIX, pudemos perceber que a Proclamação da
República não alterou muito o jeito de enxergar os povos indígenas, SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
mas trouxe um elemento novo no trato com aquelas populações RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: POVOS MI-
que ainda não tinham contato com o Brasil, por meio da sensível GRANTES: ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS. – SÃO PAULO:
política desenvolvida por Cândido Mariano Rondon, o marechal res- SME / COPED, 2021
ponsável pela criação do SPI, uma instituição que foi posteriormen-
te substituída pela FUNAI sob a égide dos militares, que tomaram
o poder em 1964, e que até hoje ainda e responsável pela política Currículo da cidade: povos migrantes: orientações pedagógi-
para os povos indígenas. cas4
4. O movimento indígena e os indígenas em movimento: novas Neste documento, apresentam-se as “Orientações Pedagógicas
formas de fazer política - Povos Migrantes”, construído por muitas mãos ao longo do ano
Após o regime militar (1964-1985), a sociedade brasileira exigiu de 2020. Nele abordam-se o acolhimento e valorizamos a presen-
que se elaborasse uma nova Constituição. A Assembleia Nacional ça de migrantes internacionais nas Unidades Educacionais da Rede
Constituinte foi eleita com esse objetivo. O movimento social se Municipal de Ensino de São Paulo. Ao oferecer subsídios teóricos e
mobilizou, tornando a Carta Magna um reflexo de um país novo, revelar experiências exitosas implementadas no trabalho cotidiano
democrático e múltiplo em sua formação e cultura. com as e os estudantes migrantes temos a intenção de possibilitar a
Nela, os povos indígenas puderam ver registrados dois capítulos reflexão sobre as práticas educacionais realizadas na Rede, nos mais
em que seus direitos são garantidos passando do paradigma inte- diversos momentos da vida escolar, desde a matrícula aos espaços
gracionista para um novo modelo no qual já não são mais vistos de vivências e salas de aula, desde a Educação Infantil ao Ensino
como sociedades em mutação para um estágio superior, mas, sim, Médio.
como grupos humanos completos em sua dignidade e princípios de Considerando que todas e todos profissionais que atuam nas
vida, que precisam ser respeitados e conhecidos por toda a socie- UEs são educadores e educadoras, este documento também é des-
dade brasileira. tinado a auxiliares técnico de educação, agentes educacionais, dire-
O movimento indígena, como instância política, cresceu, e se toras, diretores, assistentes de direção, coordenadoras e coordena-
multiplicaram as organizações comunitárias em busca de reivindi- dores pedagógicos, professoras e professores. É fundamental que
cações especificas que culminaram com a necessidade de formar todas e todos os educadores estejam atentos e sejam atuantes na
profissionais qualificados em diversas áreas do conhecimento. Es- promoção do direito à educação de migrantes internacionais.
sas pessoas, homens e mulheres, formam o que hoje chamamos O documento apresentado está em consonância com a Po-
Indígenas em Movimento, pois atuam de forma autônoma na socie- lítica Municipal para a População Imigrante, a Lei Municipal nº
dade brasileira sem abrir mão de sua ancestralidade. 16.478/2016, que assevera a garantia de direitos no Município de
Aqui percebemos que, apesar das muitas conquistas políticas, São Paulo. A partir do compromisso com a tríade: Educação Inte-
as populações indígenas ainda são consideradas um entrave para gral, Equidade e Educação Inclusiva, dialoga com os Objetivos do
o progresso. Tal pensamento ainda é difundido especialmente por Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, apresentando as
grandes grupos econômicos que têm vasto interesse nas terras tra- pontes existentes.
dicionalmente ocupadas pelos povos originários. Este material convida a um movimento de desvelar de práticas e
Essas terras são ricas em minérios, ouro, prata, diamante, nió- convoca ao compromisso com a equidade, valorização das diversas
bio, cassiterita, entre outros, e atiçam a cobiça de diferentes grupos nacionalidades e, finalmente, permite-nos refletir acerca da xeno-
e empresas, tanto nacionais quanto internacionais. fobia e racismo, além de indicar caminhos possíveis para o debate e
resolução de conflitos advindos destes. Para terminar, evidencia-se
5. Por aqui tem também!!! uma, dentre outras, aprendizagens deste documento: migrar é um
Os indígenas também estão em São Paulo, essa grande metró- direito e, a partir dessa premissa básica, convido a todas e todos
pole brasileira. Estão resistindo, apesar de muitos séculos já terem para essa leitura.
passado e a cidade ter sufocado muitas de suas expressões.
Os povos indígenas estão por aqui buscando traçar um cami- “A gente precisa ser estimulado, incomodado”: o papel da ges-
nho para manter suas culturas apesar de tantas dificuldades e in- tão escolar
compreensão porque ainda passam. No entanto, mantém viva sua Têm-se sublinhado, ao longo deste documento, a diversidade
dignidade mostrando que é possível outro caminho de convivência existente em nossa cidade e em algumas de nossas Unidades Edu-
e respeito com a natureza e com as pessoas que as cercam no con- cacionais da Rede. Esta realidade implica situações concretas que
texto urbano em que vivem. trazem desafios próprios para cada comunidade escolar e suscitam
Tentar compreender a contemporaneidade dessas culturas é a reflexão sobre a escolha de práticas pedagógicas acolhedoras que
fundamental para que se mantenha o respeito e a dignidade delas. façam sentido para tais unidades/realidades.
Nossos povos têm muita clareza de seu lugar no mundo. Lidar com os dilemas de cada unidade é parte da função que
Cabe a nós, educadores e educadoras, encontrar estratégias desempenha a Equipe Gestora. Em linhas gerais, entende-se como
para discutir alternativas para que esses modos de vida possam ter função da Equipe Gestora a administração e coordenação de re-
um lugar, não apenas na escola ou na cidade de São Paulo, mas no cursos e das ações curriculares propostas nos projetos político-
coração de todos os brasileiros. -pedagógicos. Nesse sentido, os gestores das unidades são atores
essenciais para a promoção de ações acolhedoras que incluam e
O presente documento, em sua integralidade, encontra-se valorizem a diversidade.
disposto no seguinte endereço eletrônico: A gestão tem o papel de conduzir a equipe escolar, por cami-
nhos democráticos, destacando prioridades de acordo com a reali-
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ dade da escola. Além disso, a assistente de direção coloca a impor-
uploads/Portals/1/Files/53254.pdf tância da formação de gestores.

4 São Paulo (SP) Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria


Pedagógica. Povos Migrantes: orientações didáticas. SME/COPED, 2021.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Destaca-se que ações como a acolhida de famílias migrantes no a elaboração de Projetos Especiais de Ação (PEAs) que abordem o
primeiro momento de contato - a matrícula, são fruto do encontro tema, ou ainda utilizar o próprio espaço das reuniões pedagógicas
entre o conhecimento adquirido pela assistente de direção na for- para estimular as e os educadores a pesquisar e debater a inclusão
mação da qual participou e da experiência prática da funcionária e valorização de culturas migrantes em sala de aula.
que realiza as matrículas na escola. Finalmente, aponta-se que também cabe à gestão escolar ob-
O acesso à formação continuada permite aproximação com a servar a presença de migrantes entre suas trabalhadoras e trabalha-
temática e a apropriação de elementos conceituais que cumprem dores e a forma como estas e estes são incluídos. Se o crescimento
o papel de subsidiar ações dentro das escolas. A partir daí, podem da representação migrante vem sendo notado na nossa cidade e
surgir inúmeras ações promovidas na escola. em meio a nossos estudantes, certamente também é crescente en-
Observou-se que a formação continuada de gestores é um ele- tre nossos colegas nas Unidades Educacionais.
mento importante para o desenvolvimento de projetos, além de ser Este não é só um dado de nossa realidade, mas também uma
parte das diretrizes educacionais no país. Especialmente, a forma- demanda reiterada na 2ª Conferência Municipal de Políticas para
ção de coordenadoras pedagógicas é essencial para a multiplicação Imigrantes realizada em novembro de 2019. A promoção da contra-
do conhecimento, uma vez que cabe à CP estruturar as ações coti- tação de servidores, agentes e funcionários públicos migrantes nos
dianas de formação continuada dentro da Unidade. serviços públicos municipais diretos ou conveniados e nas presta-
Outros dois resultados provêm desta estratégia inicial: a sensi- doras de serviços da Prefeitura, inclusive na Rede Municipal de En-
bilização de professoras que, ao se depararem e manusearem os sino, foi objeto de inúmeras propostas aprovadas nesta Conferência
dados, tornam-se parceiras no desenvolvimento do tema dentro da Municipal.
unidade e a possibilidade de estruturar outras ações (dentro e fora A presença de migrantes no corpo de funcionários da Unidade
da sala de aula). Dentre as ações estruturadas, são destacadas pela Educacional pode ser enriquecedora para todas e todos. Para as e
própria coordenadora: a realização de uma roda de conversa com os colegas, pela oportunidade de exercitar entre seus pares a mes-
os familiares migrantes e responsáveis; rodadas temáticas semanais ma recepção e inclusão que solicitam aos seus estudantes.
nos horários formativos; e a realização de aulas de língua espanhola Para as e os estudantes, pode significar um reconhecimento na-
por um grupo de professoras e pela própria coordenadora. quele que ocupa uma posição dentro da instituição (seja professo-
É interessante notar a roda de conversa desenvolveu-se a partir ra, diretora, coordenadora, assistente, auxiliares técnicas e outras)
da escolha da pergunta de partida “como era a sua infância?”. Ao favorecendo a identificação daquele como um lugar que também
definir a pergunta motivadora, houve a preocupação em não iniciar lhe pertence. Para os familiares, pode trazer conforto e confiança
a conversa com questionamentos como “por que você migrou?”, na escola.
“por que você escolheu o Brasil?”, “há quantos anos você migrou?” Elementos como situações concretas, formação continuada e
E isso possibilitou que a atividade ocorresse sem o caráter inquisi- incorporação do tema nos documentos orientadores da escola, são
tório e pouco acolhedor que essas perguntas podem carregar. Esses impulsionadores fundamentais para o desenvolvimento de proces-
temas surgiram organicamente e foram trazidos pelos próprios fa- sos de ensino que desenvolvam a educação para migrantes visando
miliares como parte de sua trajetória desde suas infâncias. à interculturalidade e ao acolhimento.
Relativamente às atividades formativas, estas incluíram estudos Outro ator exerce um papel de suma importância no acolhi-
sobre a história do Haiti e da Venezuela e discussões a partir de mento e na promoção de processos de aprendizagem inclusivos e
filmes. Para a promoção do tema durante as JEIFs (Jornada Especial atentos à diversidade e ao combate ao racismo e à xenofobia: a
Integral de Formação), a CP utilizou-se das habilidades existentes professora e o professor.
no próprio grupo de funcionários, neste caso de uma professora
de história readaptada, para compartilhamento de conhecimento O cotidiano educacional: inclusão da diversidade cultural nas
sobre as migrações internacionais e a história desses dois países. práticas pedagógicas
Quanto às aulas de espanhol, estas surgiram a partir da necessi- É no cotidiano educacional que professoras e professores se de-
dade identificada pelas professoras de encontrar ferramentas (a lín- param com a complexidade da migração cotidianamente. São esses
gua) adequadas para comunicação com as e os estudantes. As aulas agentes que, ao refletir sobre suas práticas pedagógicas e acessa-
foram ministradas por uma professora migrante cubana e acessa- rem subsídios conceituais relevantes, podem, com propriedade,
das em razão de uma parceria da escola com uma organização da modificar seus planos de ensino e levar para a sala de aula a diver-
sociedade civil. Mais do que a aquisição completa de uma nova lín- sidade cultural e social da migração.
gua, as aulas potencializaram a afinidade com a língua espanhola e A docente assume, sem dúvida, um papel fundamental na edu-
proporcionaram confiança para que as participantes do curso pu- cação escolar e, sobretudo, na aquisição de conhecimento e sabe-
dessem se comunicar sem receio de errar (um grande entrave para res por parte dos estudantes. É a professora e o professor que se
a comunicação em uma segunda língua). responsabilizam por compartilhar, com as e os estudantes, o conhe-
Além disso, as situações concretas também exercem papel im- cimento historicamente acumulado e atento ao projeto de socieda-
portante nas práticas pedagógicas. de desejado (inclusivo, equitativo, sem discriminação).
Um mecanismo utilizado para trabalhar o tema das migrações e No entanto, é importante destacar que a professora e o profes-
que pode ser levado a cabo pela gestão escolar é a sua inclusão no sor não estão sozinhos e não assumem responsabilidade exclusi-
Projeto Político Pedagógico (PPP). O PPP é o documento de identi- va pela aprendizagem. Outros elementos são muito importantes,
dade da escola, feito ano a ano, contendo elementos, como a ca- como atuação dos gestores escolares e o clima institucional (as par-
racterização da comunidade escolar, os objetivos e prioridades da cerias da equipe gestora e do corpo docente podem ser exemplos
ação educativa e a concepção de educação dos educadores inseri- de um clima propício), a participação de familiares (citada em algu-
dos naquela realidade. mas das atividades apresentadas e com papel relevante no apoio à
Ao inserir as migrações no PPP, sedimenta-se a vontade e a ne- aprendizagem) e os recursos físicos e materiais disponíveis.
cessidade (a partir de sua realidade) da escola trabalhar o tema em Considerando que a visibilidade e valorização de culturas mi-
ações formativas e da sua incorporação em sala de aula. Além de grantes na escola passa pela reorganização pedagógica, as e os
inserir a discussão no PPP e/ou nas formações durante o horário de professores precisam se comprometer com o tema a fim de que
trabalho, como no caso das JEIFs, a gestão escolar pode promover seja abordado nas discussões e vivências cotidianas os aspectos
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
culturais, geográficos, históricos, sociais das diversas realidades Na Educação Infantil podemos utilizar em nossas práticas:
migrantes. Nesse sentido, a formação continuada de professoras e • Livros com protagonistas migrantes, sobretudo as nacionali-
professores possibilita a aquisição e aperfeiçoamento de seus co- dades que temos na RME;
nhecimentos e habilidades para exercerem sua atividade docente. • bonecas e bonecos de diversas tonalidades e características
Como processo contínuo, a formação perpassa a experiência (cabelos crespos e curtos, tranças, cabelos lisos com pele clara, es-
em sala de aula, a formação em serviço (JEIF, PEA e Reuniões Peda- cura, representando diversidade étnica e racial);
gógicas) e as ações formativas estruturadas e oferecidas pela SME • contos de princesas, rainhas e super-heróis de outros países,
ou por entidades da sociedade civil e se torna valiosa na medida em para permear o imaginário infantil, como por exemplo de princesas
que possibilita a transformação da proposta educativa implementa- africanas e asiáticas;
da na sala de aula. • imagens no espaço escolar que representem a diversidade ra-
O processo de promoção da aprendizagem deve contar com téc- cial, cultural (mural, painel);
nicas e metodologias que incentivem a partilha e a produção de co- • convite às famílias migrantes para contação de histórias, reali-
nhecimento conjuntamente na sala de aula. Tendo isso em mente, zação de culinária de seus países;
precisamos partir da premissa que bebês, crianças, adolescentes, • ao longo do ano, promover eventos como, por exemplo, a fes-
jovens e adultos migrantes possuem conhecimentos construídos a ta da família com presença marcante de alimentos, adereços, músi-
partir das experiências de suas famílias e comunidades, dos conte- cas, de diversos países e de diversas regiões do Brasil;
údos produzidos nesse âmbito ou, ainda, em seus locais e culturas • trazer para as rodas de música a diversidade musical, canções
de origem. Dar-lhes espaço e oportunidade para compartilharem dos países dos diversos continentes;
esses conhecimentos é muito valioso, inclusive para que os estu- • brincadeiras com tecidos (sling, aguayo etc.) como fazem as
famílias bolivianas, angolanas dentre outros países;
dantes brasileiros possam acessar esse repertório latente no coti-
• costura manual com cola e construção de livros de tecidos
diano educacional.
(para vivenciar a costura, sendo esta parte do trabalho de muitos
É necessário considerar que muitos professores foram forma-
familiares migrantes);
dos numa perspectiva histórica centrada na “verdade única”, euro- • construção de instrumentos musicais com sementes já que
cêntrica e ocidental e que carregam consigo suas próprias crenças diversos países do mundo utilizam sementes para construção de
e preconceitos, como todo o indivíduo de nossa sociedade. No en- instrumentos musicais;
tanto, estes não podem representar impedimentos ou dificuldades • danças e movimentos das diversas etnias.
para a promoção de mudanças que incorporem e promovam a di-
versidade dentro da sala de aula. No Ensino Fundamental I podemos utilizar em nossas práticas:
Tratando da dinâmica em sala de aula e na escola, para além • Livros com protagonistas migrantes, sobretudo as nacionali-
do que já foi dito na parte anterior, um caminho interessante para dades que temos na RME;
acolher a e o estudante migrante e deixá-lo mais confortável é com- • contos de princesas, rainhas e super-heróis de outros países,
binar sinais, usar cartões coloridos ou qualquer material para indi- para permear o imaginário infantil, para além das princesas euro-
car uma necessidade como: ida ao banheiro, pedido de ajuda, não peias;
saber onde é sua sala. Tais sinais podem ser padronizados para toda • imagens no espaço escolar que representem a diversidade ra-
a unidade e combinados com o reconhecimento do espaço da esco- cial, cultural (mural, painel);
la junto ao estudante. • convite às famílias migrantes para contação de histórias, reali-
Adentrando os conteúdos abordados nas ações educativas, é zação de culinária de seus países;
importante conhecer a Política Municipal para a População Imigran- • ao longo do ano, promover eventos como, por exemplo, a fes-
te, especialmente no que diz respeito à educação. Ela estabelece ta da família com presença marcante de alimentos, adereços, músi-
que devemos introduzir conteúdos que promovam a interculturali- cas, de diversos países e de diversas regiões do Brasil;
dade e a valorização das culturas de origem dos estudantes migran- • apresentar as conquistas históricas de diversas nacionalida-
tes e de suas famílias dentro do Currículo, em todas as disciplinas e des;
etapas de educação. • trazer acontecimentos importantes de outros países (sobre-
Apresentar narrativas contra hegemônicas e, a partir delas, re- tudo daqueles em que nasceram as crianças ou seus familiares mi-
elaborar conceitos que deem conta da diversidade de formas de grantes);
viver e aprender presentes na RME é um passo importante nesse • contar a história a partir de outras narrativas, não somente a
europeia;
sentido. Aqui, a representatividade e o reconhecimento positivo
• construção de cartazes com a diversidade étnica;
das diferentes culturas são pontos fundamentais.
• escrita de cartas entre as turmas, como se cada uma fosse um
A escolha da forma como discutimos e apresentamos os con-
país;
teúdos das diferentes disciplinas e os materiais complementares
• construção de cartões postais com imagens de pontos turísti-
que nos auxiliam nesse processo são, do mesmo modo, determi- cos dos diversos países;
nantes. É importante incluir a história, as diferentes manifestações • construção de um jornal ou revista com temáticas como: “O
artísticas, entre elas a música, literatura, cinema e artes plásticas, Mundo é aqui”, contando feitos interessantes ou informações sobre
as línguas faladas, a culinária, as datas festivas de diferentes países os países de origens dos migrantes da escola;
e estados brasileiros, especialmente aqueles de origem das e dos • produção de culinária das diversas regiões;
estudantes. Melhor ainda quando educadores e educadoras atuam • entrevista escrita, filmada e editada com familiares migrantes;
de forma conjunta e interdisciplinar. • teatro dos contextos sociais vivenciados nos diversos países;
Há temas que surgem em razão de acontecimentos cotidianos, • escrita de poemas e parlendas com histórias de migração;
mas outras questões podem ser apresentadas a partir das ativida- • conhecer as histórias de migração da turma, incluindo mi-
des desenvolvidas. As possibilidades educativas são múltiplas. gração na família, de amigos e vizinhos e dos próprios estudantes,
Nas listas a seguir, apresentam-se algumas ideias de atividades considerando a perspectiva da migração interna e internacional, e
sugeridas por educadoras da Rede: adotando a premissa “somos todos migrantes”.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
No Ensino Fundamental II, Médio e EJA podemos utilizar em O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
nossas práticas: disposto no seguinte endereço eletrônico:
• Livros com protagonistas migrantes, sobretudo as nacionali-
dades que temos na RME; https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
• imagens no espaço escolar que representem a diversidade ra- uploads/2021/06/Curr%C3%ADculo-da-Cidade-Povos-Migran-
cial, cultural (mural, painel); tes-WEB.pdf
• convite às famílias migrantes para contação de histórias, reali-
zação de culinária de seus países;
• ao longo do ano, promover eventos como, por exemplo, a fes- SÃO PAULO (SP). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO.
ta da família com presença marcante de alimentos, adereços, músi- COORDENADORIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE.
cas de diversos países e de diversas regiões do Brasil; ENSINO FUNDAMENTAL: LÍNGUA PORTUGUESA. SÃO PAU-
• apresentar as conquistas históricas de diversas nacionalida- LO: SME / COPED, 2017
des;
• trazer acontecimentos importantes de outros países (sobre-
tudo daqueles em que nasceram os estudantes ou seus familiares Currículo de Língua Portuguesa para a cidade de São Paulo5
migrantes);
• contar a história a partir de outras narrativas, não somente a Introdução e concepções do componente curricular
europeia; Neste documento, compreende-se que a aprendizagem da Lín-
• construção de cartazes com a diversidade étnica; gua Portuguesa acontece por meio de quatro atividades fundamen-
• escrita de cartas entre as turmas, como se cada uma fosse um tais – falar, ouvir, ler e escrever -, as quais se realizam em práticas
país; sociais diversas. Por isso, o documento está organizado nos eixos:
• construção de cartões postais com imagens de pontos turísti- prática de leitura de textos, prática de produção de textos escritos,
cos dos diversos países; prática de escuta e produção de textos orais e prática de análise
• construção de um jornal ou revista com temáticas como: “O linguística/ multimodal.
Mundo é aqui”, contando feitos interessantes ou informações sobre A intenção é possibilitar o trabalho com uma língua contextu-
os países de origens dos migrantes da escola; alizada, que se usa, efetivamente, nas práticas de que o indivíduo
• produção de culinária das diversas regiões; participa. Para que esse foco no uso seja possibilitado, é preciso que
• entrevista escrita, filmada e editada com familiares migrantes; a unidade linguística básica do trabalho de Língua Portuguesa seja
• teatro dos contextos sociais vivenciados nos diversos outros o texto, pois é nele, materialidade do discurso, que a língua, por
países; encontrar-se em funcionamento, torna-se linguagem.
• escrita de poemas com história de migração; Buscando-se aproximar as práticas de linguagem de seus usos
• conhecer as histórias de migração da turma, incluindo mi- reais, destacam-se, ainda, neste documento curricular, a impor-
gração na família, de amigos e vizinhos e dos próprios estudantes, tância do trabalho com os multiletramentos, fundamentais para a
considerando a perspectiva da migração interna e internacional, e efetiva participação nas práticas sociais de linguagem contemporâ-
adotando a premissa “somos todos migrantes”. neas, a presença e especificidade dos textos multimodais, caracte-
• desfile de roupas dos diversos países confeccionados pelos rísticos também da cultura digital, e o reconhecimento da intercul-
estudantes (a EJA pode aproveitar as pessoas que costuram e cos- turalidade, constitutiva das práticas sociais de linguagem verbal da
turar); atualidade.
• construção de jogos dos países, regras e normas; A apresentação dos objetivos de aprendizagem e de desenvol-
• Slam e batalha de rinhas escritas pelos estudantes; vimento está organizada por anos e ciclos, levando-se em conta o
• conhecer artistas plásticos, musicais e atrizes e atores migran- princípio da colaboração e progressão dos objetivos, baseados nos
tes; seguintes critérios: conteúdo (capacidades, comportamentos e pro-
• pintar os muros com artes de outros países (no caso dos úl- cedimentos), nível de autonomia do sujeito que aprende e interage
timos anos do Fundamental II, Médio e EJA, os estudantes podem com a língua e nível de complexidade do conteúdo em foco, consi-
realizar a atividade); derando práticas sociais, gêneros e textos.
• informações sobre outros países nos murais informativos. Há, também, articulado a este documento, um conjunto de
orientações didáticas, cuja finalidade é auxiliar a escola na realiza-
Para além das sugestões de atividades, a troca de experiências ção do trabalho de ensino de Língua Portuguesa a partir das refe-
pode trazer novos olhares e possibilidades de práticas, consideran- rências aqui apresentadas.
do-se a necessidade de autoria de cada Unidade Educacional a par-
tir de sua realidade. Linguagem, língua e ensino
Por fim, é importante compreender que ao chegar a nossas es- A linguagem verbal tem sido compreendida, ao longo da histó-
colas, estudantes migrantes se deparam com diferentes desafios, ria da humanidade, de formas bastante diversas. De modo geral,
como o aprendizado de uma nova língua, a criação de vínculos com podemos dizer que três concepções têm predominado, especial-
novos colegas, o estabelecimento de confiança com os professores mente no ensino de língua e de linguagem.
e a integração à cultura da comunidade escolar brasileira. Há tam- A primeira concebe a linguagem como representação do pen-
bém a dificuldade de muitos familiares em auxiliarem estes estu- samento, como espelho do mundo e das pessoas. Na perspectiva
dantes em seus processos de aprendizado. dessa concepção, escrever seria representar o que se pensa.
O desempenho das e dos estudantes migrantes dentro de sala
de aula passa necessariamente pelo tipo de atenção e interação
que recebem dos profissionais na unidade escolar. Quanto mais
reconhecidos e valorizados, maiores são as suas possiblidades de
inclusão, aprendizagem e sucesso escolar. 5 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular:
Língua Portuguesa. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Ler, então, seria um exercício de descobrir o que o escritor pen- → histórica e social, porque é constituída no uso, ou seja, os
sa, já que ele teria retratado seu pensamento no texto. Não have- sentidos da atividade verbal são construídos num processo contí-
ria, pois, espaço de interlocução efetiva entre escritor e leitor, e a nuo de interlocução entre sujeito que produz discurso e sujeito que
conclusão inevitável dessa forma de compreender a linguagem é lê/escuta. Diante disso, a língua não é homogênea, uma vez que o
que, quem não escreve ou não lê “bem”, é porque não pensa ade- sujeito – produtor ou leitor/ ouvinte, não é fonte única do sentido,
quadamente. mas compartilha seu espaço discursivo com o outro. Os processos
Ao lado dessa concepção, ainda que tenha aparecido mais tar- que a constituem são eminentemente histórico-sociais. Ela não
diamente na história, encontra-se a que concebe a linguagem como pode, portanto, ser estudada fora da sociedade e de suas condições
instrumento de comunicação. Nessa direção, escrever seria codifi- de produção;
car uma mensagem para ser decifrada por um emissor (leitura). Ler → ideológica, porque veicula, inevitavelmente, valores que re-
e escrever seriam processos que pressuporiam apenas a codifica- gulam as relações sociais;
ção e decodificação precisas de uma mensagem. → plurivalente, porque revela diferentes formas de significar a
Caso o sentido dessa mensagem não fosse descoberto, a falha realidade, segundo a perspectiva dos diferentes sujeitos que a em-
seria atribuída a ruídos ou à inabilidade do produtor (que codificou pregam;
errado) ou do receptor (que leu de maneira inadequada). Não ha- → dialógica, porque todo enunciado, por sua natureza, relacio-
veria espaços para a produção de novos sentidos decorrentes dos na-se com os produzidos anteriormente e orienta-se para outros
saberes diferenciados dos interlocutores. Assim, a polissemia (pro- que serão formulados como réplica desse.
priedade fundamental das línguas, que possibilita que a maioria das
palavras tenha mais de um significado) não seria considerada como
A alfabetização como processo discursivo
característica constitutiva da linguagem, mas um evento esporádi-
Compreender a linguagem como forma de interação entre os
co, decorrente do processo de produção/recepção.
sujeitos tem implicações diretas na maneira de organizar o processo
Uma terceira concepção, que é a orientadora deste documen-
de aprendizagem. Se reconhecido como discursivo, as implicações
to, considera a linguagem como atividade, como forma de ação,
como relação interpessoal, por meio da qual sentidos são produ- são óbvias: alfabetizar também precisa acontecer em um espaço
zidos sobre o mundo e pessoas, assim como são criados vínculos e discursivo, ou seja, em um processo no qual se produza linguagem,
compromissos anteriormente inexistentes entre elas. Além disso, interaja-se e comunique-se por meio das práticas sociais similares
a linguagem é um modo de compreensão dos significados que o àquelas que se realizam nos contextos públicos, expandindo-se o
mundo, as coisas e as relações entre as pessoas possuem em um espaço comunicativo para além do escolar.
dado momento, grupo social e determinada cultura. Além disso, nesse momento, a unidade linguística de base deve
Essa forma de compreensão vai se constituindo, à medida que ser o texto. Mas deve ser o texto efetivo, que se realiza em práticas
se realiza nas situações de interlocução. A linguagem, como hoje a sociais, porque só dessa maneira é possível que o estudante consti-
conhecemos, é fruto do trabalho de todas as pessoas que a utiliza- tua seus saberes sobre a linguagem verbal, seja escrita ou oral. Con-
ram antes de nós. Portanto, não é estática e nem está pronta em cebe-se, assim, que os estudantes vivenciam situações de interação
definitivo. verbal desde a mais tenra idade.
Se podemos dizer que a linguagem é um modo de compreen- Nessa vivência, ocorre a apropriação de características das si-
são do mundo, das pessoas e das relações que estabelecem entre tuações comunicativas das quais participam (festas de aniversário,
si, então, quando aprendemos uma linguagem, estamos nos apro- cultos religiosos, conversas familiares, exibições de filmes, progra-
priando de um modo de compreender o mundo, as pessoas e as mas de TV e rádio, leitura colaborativa de jornais mediada por leito-
relações que elas estabelecem entre si. Pode-se afirmar que a lin- res experientes, entre outras).
guagem tanto é constituída pelos sujeitos que interagem por meio Compreendem as características gerais dos gêneros, de lingua-
dela, quanto constitui esses mesmos sujeitos. gem oral ou escrita, nos quais os textos veiculados nessas situações
É fundamental considerar que a nossa compreensão da reali- são organizados e constroem e desenvolvem seus próprios proce-
dade se faz sempre por meio dos signos, entre eles o linguístico, dimentos de leitura, interagindo com o outro. Enfim, as crianças
e o que eles representam na nossa cultura em um dado momen- apropriam-se de saberes sobre conhecimentos com os quais ope-
to histórico. Os sentidos que construímos são representações que, ram nas práticas de linguagem.
embora estejam ligadas à realidade que vivemos, remetem a algo Como se pode perceber, adota-se a perspectiva de que é pos-
que está fora dela. sível aprender sobre a linguagem escrita antes mesmo de se ter
A linguagem verbal constitui as pessoas, pois dá significado às
compreendido a escrita da linguagem. Isso significa entender que
relações, veiculando valores que são internalizados pelos sujeitos
é possível produzir um texto organizado em linguagem escrita sem
nessas interações. Se, por um lado, a linguagem constitui as pesso-
que, necessariamente, seja grafado pelo seu produtor, porque se
as, por outro afirma-se que as pessoas constituem a linguagem. As
parte do princípio de que a competência para grafar um texto não
expressões, as palavras, as maneiras de se referir aos fatos, aconte-
cimentos, sentimentos e situações vivenciadas, tanto se modificam, é a mesma requerida para a produção de um texto organizado em
quanto não conservam o mesmo significado ao longo da história. linguagem escrita.
Para revelar as mudanças de sentidos, a língua se transforma, res- Há uma diferença entre “linguagem escrita” e “escrita”, sendo
significando palavras, criando novas expressões e abandonando essa última uma ferramenta tecnológica que permite registrar, por
formas de dizer. meio de um sistema de representação, a palavra e o texto produzi-
Podemos afirmar que a palavra sempre veicula valores morais, do. Pela escrita, um sistema de representação alfabético dos sons
éticos, estéticos, religiosos e científicos. Por meio dela, são apre- da fala, no caso da escrita da Língua Portuguesa, pode-se grafar in-
sentadas, reforçadas e construídas ideias que refletem os saberes clusive textos orais.
e a visão de mundo de um determinado grupo social, mesclando Já a linguagem escrita, diferentemente da escrita da linguagem,
diferentes interesses, preconceitos e pontos de vista. é mais do que o registro gráfico de um texto: é uma forma de orga-
Para sintetizar, na perspectiva adotada neste documento, a lin- nizar um discurso, previamente ao momento de se fazer conhecer
guagem é fundamentalmente: pelo seu interlocutor; é um modo de organizar um discurso de ma-
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
neira que se possa recuperá-lo posteriormente, tal como elaborado As ideias elaboradas pelas crianças nesse processo de conheci-
pelo seu produtor. Dessa forma, entende-se uma organização textu- mento foram analisadas por Ferreiro e Teberosky (1986) em uma
al que requer, por exemplo, a apresentação de todas as referências teoria denominada psicogênese da língua escrita, que explica quais
contextuais do momento de produção, ou, principalmente, daque- são tais ideias, analisando os critérios utilizados pelas crianças in-
las que o produtor considera imprescindíveis para a compreensão vestigadas para justificar suas escritas e as leituras feitas de textos a
do que está sendo dito, sob pena de o leitor não conseguir recupe- elas apresentados. O estudo mostra que as justificativas apresenta-
rá-las e, assim, não compreender o que leu. das procuram (e possuem) uma lógica que deriva das relações que
Saber disso é fundamental para a prática de alfabetização, pois as crianças estabelecem com os aspectos da escrita que são obser-
oferece ao professor a possibilidade de trabalhar a linguagem es- váveis por elas em cada etapa do processo de conhecimento.
crita junto a seus estudantes, ainda que veiculada oralmente, não Se pensarmos no que vimos discutindo até o momento, não é
sendo necessário esperar que eles aprendam a escrever para passa- difícil concluir que, a fim de que o professor possa contribuir para
rem a produzir textos em linguagem escrita. Ao contrário, enquanto a aprendizagem da escrita pela criança, é fundamental conhecer
aprendem sobre a linguagem escrita, estudam a escrita, ferramenta essas ideias, considerando-as e criando um espaço de reflexão co-
de registro de textos. laborativo sobre o objeto escrita. Dessa maneira, nas atividades de
Assim, as atividades de recontar oralmente, por exemplo, um escrita, o estudante que ainda não sabe escrever convencionalmen-
texto lido como se estivesse lendo em um livro e/ou de ditar uma te precisa esforçar-se para construir procedimentos de análise e en-
história para que o professor a grafe, são fundamentais para a contrar formas de representar graficamente aquilo que se propõe
aprendizagem da linguagem escrita. Em ambas as situações, os es- escrever.
tudantes estão produzindo textos escritos, aprendendo a planejá- É por isso que as atividades de escrita constituem bons espaços
-los, além de revisá-los para adequá-los a todas as características do de reflexão para a alfabetização. Havendo uma mediação adequada,
contexto de produção (incluindo-se as especificidades do gênero). que disponibilize as informações necessárias e que garanta espaço
Em outras palavras, eles estão aprendendo conteúdos gramaticais, para reflexão sobre o sistema de escrita, os estudantes constroem
textuais e discursivos. os procedimentos de análise para que a alfabetização se realize.

A concepção de alfabetização A linguagem verbal e sua especificidade


As pesquisas na linha psicogenética deslocaram o foco de inves- A linguagem é processo de interlocução que possibilita a prática
tigação do “como se ensina” para o “como se aprende” e coloca- social dos mais diversos tipos de atos. A linguagem constitui-se na
ram, no centro dessa aprendizagem, uma criança ativa e inteligen- língua em funcionamento; por isso, caracteriza-se pela diversidade
te: um sujeito que pensa, que elabora hipóteses sobre o modo de desse funcionamento (nas diferentes esferas, por exemplo) e, dessa
funcionamento da escrita, porque está presente no mundo onde maneira, dos modos de significar (como convencimento, como lei,
vive; que se esforça por compreender para que serve e como se como registro de conhecimento científico etc.), já que possibilita a
realização dos mais diversos atos sociais.
constitui esse objeto e que aprende os usos e formas da linguagem
A linguagem é constitutiva dos sujeitos, pois tanto eles quanto
que se usa para escrever, ao mesmo tempo em que compreende a
as relações sociais que estabelecem entre si, se constituem pela lin-
natureza alfabética do sistema de escrita em português.
guagem. Por outro lado, é constituída pelos sujeitos, já que o seu
A psicogênese da língua escrita, uma descrição do processo
uso nas mais diversas práticas sociais inaugura significados, senti-
pelo qual a escrita se constitui em objeto de conhecimento para
dos e modos de dizer, o que faz com que evolua historicamente,
a criança, trouxe contribuições sobre aquisição da leitura e da es-
modificando-se.
crita, porque foram mudadas as perguntas que estavam na origem
Em uma sociedade letrada como a nossa, as práticas sociais que
dos estudos anteriores, as quais costumavam girar em torno das
se dão pela linguagem são inúmeras: vão desde utilizar um caixa
seguintes questões: “como se deve ensinar a ler e escrever?” Ou, eletrônico até assistir à aula, por exemplo. Nas diferentes práticas
mais especificamente, “qual o melhor método de alfabetização?”. sociais, os sujeitos elaboram diferentes discursos, de acordo com
A crença implícita era a de que o processo de alfabetização co- a finalidade de cada espaço, e esfera social, nos quais elas se rea-
meçava e acabava dentro da sala de aula e que a aplicação correta lizam.
do método adequado garantiria ao professor o controle do proces- Se a perspectiva de formação colocada para o estudante é a ci-
so de alfabetização de todos os estudantes. Até então, supúnhamos dadã, aquela que pretende que ele seja capaz de agir nas diferentes
que a alfabetização era uma aprendizagem estritamente escolar e situações comunicativas, compreendendo as realidades sociais e
que as crianças só aprendiam o que o professor lhes ensinasse. analisando-as com criticidade, então podemos dizer que as práticas
Assim, primeiro o professor devia ensinar as letras e/ou sílabas sociais, que se realizam dentro e fora da escola, considerando as
escritas e seus respectivos sons e, se e quando essas correspondên- suas especificidades, precisam ser objeto de estudo na escola.
cias estivessem memorizadas, os estudantes seriam capazes de ler
e de escrever. Entendíamos também que se o professor ensinava e Texto e gêneros do discurso
a criança não aprendia, ela é que tinha “problemas” de aprendiza- A linguagem realiza-se por meio dos discursos, ou seja, dos
gem. Quanto às crianças que não se alfabetizavam, entendia-se que enunciados. Todo discurso resulta em um texto oral ou escrito, sua
precisavam de tratamento clínico, psicológico ou psicopedagógico. realidade material, organizado, inevitavelmente, em gêneros. Esses
No entanto, estudos em diferentes línguas têm mostrado que, são formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na
de uma correspondência inicial pouco diferenciada, o alfabetizando cultura, das quais os produtores lançam mão ao organizarem seus
progride em direção a um procedimento de análise em que passa discursos.
a fazer corresponder recortes do falado a recortes do escrito. Essa Os gêneros se caracterizam por três elementos fundamentais:
correspondência passa por um momento silábico, em que, ainda
que nem sempre com consistência, atribui uma letra a uma sílaba, → conteúdo temático: o que é possível ser dito por meio da-
antes de chegar a compreender o que realmente cada letra repre- quele gênero;
senta e começar a produzir uma escrita alfabética, ou seja, regis- → organização composicional: é a forma como se organizam
trando “todos” os fonemas da fala. internamente textos produzidos no gênero;
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→ estilo: marcas linguísticas típicas do gênero – e não do texto. A linguagem oral e a linguagem escrita: uma relação de im-
bricação
O produtor do texto se orientará pela sua experiência comuni- A linguagem verbal é um sistema de significação. A distinção
cativa, a qual é constituída pelo conjunto de conhecimentos cons- entre o oral e o escrito tem sido matéria de discussão frequente,
truídos nas situações de interação verbal das quais participou. Por em especial nos círculos em que se discute ensino de Língua Por-
isso, não conhecemos todos os gêneros disponíveis na cultura: as tuguesa. Até muito recentemente, essa discussão baseava-se em
pessoas têm mais conhecimento sobre os gêneros que circulam estabelecer unicamente as diferenças existentes entre elas, dese-
com frequência nas situações comunicativas de que mais partici- nhando-se um quadro de oposição entre suas características.
pam. Se essa diferenciação foi possível em determinados momentos
E esse é o trabalho da escola: ensinar a organizar textos nos da história da escrita, hoje, considerando a compreensão que se
gêneros que os estudantes ainda não têm muita proficiência. Em pode ter do processo de comunicação verbal, assim como da com-
uma escola que tenha como finalidade a formação de cidadãos plexificação das situações de enunciação nas culturas atuais, essa
efetivamente participativos, entende-se que ela deverá priorizar os dicotomização já não é mais possível.
gêneros que circulam nas instâncias públicas de linguagem e não Quando analisamos as manifestações verbais que se realizam
nas instâncias privadas. Para tanto, as práticas educativas devem nas diferentes circunstâncias comunicativas, é fácil depreender que
possibilitar que o estudante participe de práticas sociais de lingua- um discurso falado pode ser organizado em um registro formal, de-
gem que se realizem, também, para além do espaço escolar, am- pendendo da esfera em que se realiza, da mesma forma que um
pliando-o. discurso escrito pode ser organizado em um registro informal. Isso
Além disso, mais uma decorrência dessa compreensão de lin-
mostra que não é a materialidade do discurso, fônica ou grafada,
guagem precisa ser indicada. Considerando que o texto é a materia-
que determina o registro (menos ou mais informal, menos ou mais
lidade do discurso, ainda que texto, discurso e gênero sejam unida-
acadêmico, por exemplo).
des indissociáveis na realização da atividade verbal, é ele que deve
Mais uma vez, um discurso não é oral apenas por ser falado; um
ser a unidade linguística fundamental do trabalho com a linguagem
verbal. discurso não é escrito apenas por ser grafado. Nessa perspectiva,
A partir do estudo do texto, é possível estudar o discurso, unida- hoje já não se compreende mais linguagem oral e linguagem escrita
de entre texto e contexto de produção, o gênero no qual foi organi- no interior de um quadro de oposições. Ao contrário, entende-se
zado e todos os demais conteúdos implicados na atividade verbal. que sejam linguagens que se interpenetram, que se imbricam mu-
tuamente.
Contexto de produção, discurso e texto Certamente, há discursos orais que podem ser pouco planeja-
Os enunciados e, portanto, os textos, são sempre orientados dos, que contam com a presença física do interlocutor, que se rea-
e determinados pelas características do contexto de produção no lizam por meio de um registro informal. No entanto, essas caracte-
qual se realizam. Isso significa dizer que todo discurso é elaborado rísticas não são mais imprescindíveis para caracterizar a linguagem
por um produtor, que assume determinado papel social naquela oral.
enunciação (pai, professor, representante dos empregados, sindi- Considerando a sua materialidade, que é fônica (oral/falada),
calista etc.), papel esse que define a perspectiva da qual o assunto/ podemos dizer que um discurso oral, ainda que tenha sido planeja-
tema será visto. do previamente, e ainda que conte com recursos auxiliares organi-
Além disso, todo enunciado é orientado por determinadas fi- zados em outras linguagens, inclusive a escrita, pode ser caracteri-
nalidades e pelas representações que o produtor tem a respeito de zado como aquele que está sendo produzido oralmente, aquele que
quem é o seu interlocutor. Todo discurso também é orientado para está sendo realizado no mesmo instante em que está se tornando
ser publicado em determinado portador e lugar de circulação. E, conhecido pelo interlocutor. Por isso, a sua revisão vai sendo feita
para finalizar, todo discurso é organizado em um gênero, que possui enquanto está sendo produzido, pois, ao contrário dos discursos
características específicas, mencionadas e exemplificadas acima. escritos, não é possível, por exemplo, terminá-lo, revisá-lo e, só de-
Os contextos de produção dos discursos são únicos e impossí- pois, possibilitar ao interlocutor conhecê-lo.
veis de serem reproduzidos, o que torna os enunciados igualmente Os discursos orais também se organizam em gêneros que são
únicos. Um discurso e, portanto, um texto, será tão mais eficien- típicos tanto das instâncias públicas (exposições e arguições em
te quanto mais adequado estiver às características do contexto de seminários, mesas-redondas, debates, conferências, palestras, en-
produção. A constituição dessa proficiência deve, assim, ser finali- tre outros), quanto das instâncias privadas (conversas à mesa do
dade da escola, de forma que os conhecimentos necessários para
jantar, por exemplo). Na perspectiva deste documento, devem ser
tanto sejam tomados como objeto de ensino e de aprendizagem.
tomados como objeto de ensino na escola os gêneros orais que se
As determinações relativas ao contexto de produção precisam,
realizam nas instâncias públicas de linguagem.
também, ser consideradas no processo de leitura e escuta de textos:
recuperar as características que orientaram a produção do discurso
auxilia o leitor/ouvinte no processo de reconstrução dos sentidos Oralização e oralidade na sala de aula
do texto, de modo a possibilitar uma aproximação mais efetiva das O trabalho com a linguagem oral está sendo compreendido a
eventuais intenções do produtor. Quanto melhor o leitor/ouvinte partir da tomada dos gêneros orais como objeto de aprendizagem,
conseguir recuperar esse contexto e articulá-lo no processamento e não oralização da linguagem escrita, ou oralidade de modo ge-
dos sentidos do texto, maiores serão as possibilidades de recons- ral. Ler em voz alta um conto de aventuras não se caracteriza como
trução de sentidos adequados. Portanto, essa proficiência também trabalho com a linguagem oral, da mesma forma que declamar um
precisa ser tomada como objeto de aprendizagem na escola. poema.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Em ambas as situações, trata-se de oralização de texto escrito, Por isso, também, muitos autores têm preferido o termo varie-
ou seja, de leitura em voz alta de texto escrito. Essa atividade tem dade culta à norma culta. A esse respeito, há, ainda, aqueles que
lugar na prática escolar como a situação de leitura dramática, na preferem a denominação norma-padrão. Porém, esse aspecto re-
qual se lê o texto de uma peça teatral para uma plateia presente, quer mais cuidados do que aparenta.
mas não focaliza linguagem oral só porque se usa a fala. Ao contrá-
rio, é um ótimo exercício realizado com tutoria, para que se consiga Norma culta ou norma-padrão
desenvolver a fluência leitora dos estudantes, em especial no que A chamada norma-padrão é a variedade que, se pensa, tem sido
se refere a ler com agilidade e compreendendo o texto. ensinada na escola e feito parte de livros didáticos, revistas, textos
A prática que se desenvolve na sala de aula é realizada com a acadêmicos, entre outros. No entanto, é preciso considerar que en-
linguagem verbal e por meio dela, seja oral ou escrita. Nesse senti- tre norma culta e norma-padrão, há diferenças significativas. E isso
do, a linguagem é o que possibilita a interlocução para o estudo dos é fundamental para o ensino.
mais diversos conteúdos. A norma culta diz respeito à variedade de pessoas que têm mais
Podemos até afirmar que a atividade na sala de aula é verbal, proximidade com a modalidade escrita, o que aproxima a sua fala
substantivamente. Assim, é fundamental ressaltar que não é por da modalidade escrita também. No Brasil, os que adotam essa nor-
que professores e estudantes estão interagindo verbalmente que se ma são aqueles que já concluíram o Ensino Superior sendo, por isso,
está tomando como objeto de ensino a linguagem verbal. Tomá-la pertencentes aos grupos sociais mais privilegiados.
como objeto de ensino significa intencionalmente planejar situa- Adotar norma culta ou norma-padrão não é uma escolha ape-
ções didáticas nas quais sejam considerados, como foco, aspectos nas linguística, mas, sobretudo, ideológica. Sobre o emprego dessa
da linguagem verbal (oral ou escrita), ou seja, os gêneros e as práti- última nomenclatura, entendia-se que empregar uma variedade de
cas sociais correlatas. Portugal contribuiria para que a chamada “elite letrada brasileira”
Em uma situação de discussão das regras de convivência, por se sentisse mais próxima da sociedade europeia e, por conseguinte,
exemplo, o que se espera é que as regras sejam o conteúdo focaliza- mais distante do povo brasileiro.
do. Incidentalmente, a participação na discussão escolar (oral) pode A notável repulsa da elite brasileira por seu próprio modo de
ser aprendida, mas não é esse o objetivo focal. falar o português encarna, sem dúvida, a continuação no tempo
Dessa maneira, chamar de oralidade, de modo geral, as situa- desse espírito colonialista, que se recusa atribuir qualquer valor ao
ções de comunicação oral que acontecem na escola nivela o concei- que é autóctone, sempre visto como primitivo e incivilizado. Esse
to de linguagem oral como sendo todos os momentos em que a fala desprezo de nossa língua anda sempre irmanado ao descaso por
esteja presente, independentemente da especificidade da situação tudo o que ela representa: a gente e a terra do Brasil.
de comunicação. É como se as diferentes situações de interação Vislumbra-se, aí, o nascedouro do preconceito linguístico que,
oral, de repente, perdessem a sua especificidade, homogeneizan- mais do que, ou exatamente por ser, um preconceito linguístico, é
do-se: há um processo de descaracterização sumária da linguagem um preconceito social. Sendo assim, é imperativo entender que as
oral como modalidade de linguagem, com seus gêneros próprios e variações não são caóticas ou imotivadas, elas acontecem à medida
situações enunciativas específicas. que língua e sociedade se imbricam e, a partir de então, instauram-
O trabalho com a linguagem oral precisa prever a tematização -se dimensões possíveis de se observar, analisar e reconhecê-las,
de gêneros orais, como debates, mesa-redonda, banca de defesa, isto é, a classe social, o gênero, a idade, a escolaridade, a profissão,
palestra, exposição oral de estudos, entre outros gêneros das ins- a localização geográfica e as diversas atividades humanas.
tâncias públicas de linguagem, incluindo-se a escolar (como os se- Diante disso, há implicações importantes para o ensino de lín-
minários de apresentação de estudos). gua pautado nesse pressuposto. É necessário que sejam denuncia-
das formas de preconceitos que incidam sobre os usos que são fei-
Variedade linguística e preconceito tos da língua, os quais são plurais.
Uma língua está sujeita a muitas modificações, especialmente Em face disso, entendemos que esta temática é importante à
devido a fatores históricos, culturais e sócio geográficos. Assim, não medida que os estudantes podem reconhecer, denunciar e repudiar
podemos dizer que a língua falada hoje pelos paulistanos seja idên- qualquer ato preconceituoso em relação aos usos que diferentes
tica à que se falava em 1920. Do mesmo modo, é diferente a forma comunidades linguísticas fazem de suas respectivas línguas.
de falar dos cariocas, que não falam da mesma maneira que os gaú-
chos, ou os paulistanos, ou os goianos ou pernambucanos. Tanto na Os multiletramentos e a multimodalidade
prosódia, na pronúncia, quanto no léxico ou na organização sintáti- Atualmente, para participar efetivamente das práticas sociais, é
ca há especificidades em cada região. cada vez mais urgente uma postura contemporânea nos modos de
Isto porque uma língua comporta vários eixos de diferenciação ler e escrever, já que os textos não são mais apenas impressos. Isso
e vários aspectos, ou subsistemas (fonético, fonológico, léxico, mor- decorre do fato de que os textos, especialmente após a revolução
fológico, sintático e semântico), que a constituem, os quais podem digital, podem ser constituídos por várias linguagens, por vários sis-
sofrer mudanças, pois, uma vez que a língua tem a finalidade básica temas semióticos. Um clipe, por exemplo, é constituído, pelo me-
de possibilitar a comunicação entre as pessoas, essas, ao utilizarem- nos, por três sistemas semióticos: o verbal, o musical e o imagético.
-na, rearranjam-na de acordo com suas necessidades de interação Eles são articulados de tal maneira que o sentido do texto não
social. se encontra em uma ou outra linguagem, mas na articulação intrín-
Cada um dos falares resultantes desses rearranjos, ao se tor- seca de todas elas. Esses textos têm sido denominados multimo-
narem estáveis em determinados momentos históricos e espaços dais, ou seja, constituídos por diferentes modalidades ou modos de
geográficos, pode constituir o que se denomina variedade linguísti- uso de linguagem.
ca. Atualmente, essa denominação, variedade, é a que se considera
mais adequada, posto que se utilizarmos variante, a ideia de que há
uma variedade mais correta do que as outras fica implícita.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
No texto impresso de jornal ou revista, por exemplo, a presença
de diferentes linguagens já não é recente, sendo que a atribuição SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
de sentido requer do leitor a articulação entre os sentidos do texto RIA PEDAGÓGICA. DIVISÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL E
verbal, de eventuais gráficos, fotografias ou ilustrações. No texto di- MÉDIO. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCULO DA CI-
gital, por outro lado, há que se lidar com a existência de hiperlinks, DADE: LÍNGUA PORTUGUESA, VOLUME 1. SÃO PAULO:
que remetem a textos organizados em linguagens distintas, com a SME/ COPED, 2018
possibilidade de manifestar-se diretamente em relação à matéria
lida ou a um comentário feito por outro leitor ou de estabelecer
uma conversa em tempo real com outros leitores.
Diante dessa realidade, temos que admitir que o letramento Orientações didáticas do currículo da cidade : Língua Portu-
necessário, hoje, para um leitor proficiente, é mais complexo por guesa6
ser múltiplo, ou seja, para ler um único texto, pode ser necessário Dando continuidade ao processo de implementação do Currícu-
utilizar, de modo articulado, capacidades e procedimentos relativos lo da Cidade, estas Orientações Didáticas constituem-se como mais
a distintas práticas sociais, gêneros ou portadores. Dito de outro um desdobramento de toda a discussão e proposição de objetivos
modo, poderíamos dizer que vários letramentos são articulados de aprendizagem e desenvolvimento. Nesse sentido, este docu-
para a constituição de sentidos de um único produto cultural. mento apresenta possibilidades de trabalhos com esses objetivos
O conceito de letramento vem do termo literacy, definido como sem, no entanto, limitar o poder criativo de cada professora e pro-
um estado, uma condição: o estado ou condição de quem interage fessor em Rede.
com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes As Orientações Didáticas não foram pensadas de modo comple-
gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções mentar ao Currículo da Cidade, mas constituintes desse documen-
que a leitura e a escrita desempenham em nossa vida. to, que abarca diversos saberes e que tem, como principal finali-
Hoje, considerando a complexidade da materialidade textual, dade, garantir a aprendizagem de estudantes no Município de São
dos gêneros, dos portadores e das práticas sociais digitais, como Paulo. Para tanto, não perdemos de vista os princípios que visam à
mencionado acima, múltiplos letramentos são necessários para garantia da: equidade, colaboração, continuidade, relevância, con-
atribuir sentido aos textos. Daí o termo multiletramentos. temporaneidade, educação integral e, como não poderia deixar de
É fundamental ressaltar que em uma contemporaneidade mar- ser, da educação inclusiva, que pressupõe o respeito e a valorização
cada pela diversidade, e, ao mesmo tempo, pela globalização, há da diversidade, a qual nos constitui como sujeitos e cidadãos de
práticas sociais que podem não ser tão valorizadas institucional- uma cidade multifacetada.
mente em determinada cultura. Nessa perspectiva, é possível que Assim, os documentos orientadores fazem parte de uma cole-
os letramentos específicos que tais práticas requeiram para sua ção que comporá a formação continuada de profissionais da Rede
significação, os valores nelas veiculados e a produção cultural que Municipal de Ensino de São Paulo, à medida que apresenta discus-
representam sejam apagados. sões importantes para que os objetivos de aprendizagem e desen-
Para que isso seja evitado, o currículo escolar precisa estar em volvimento ganhem vida e passem a ser uma realidade possível na
sintonia com essa multiplicidade de letramentos, com a produção ação docente.
cultural que acontece nas comunidades locais, regionais, nacionais É importante dizer que, nas páginas das Orientações Didáticas,
e globais, de modo a permitir aos estudantes o acesso às práticas o professor e a professora encontrarão pontos de partida e suges-
sociais de leitura e escrita nos meios impressos e digitais, sem, no tões de trabalho, mas não “receitas”, pois entende-se que, numa
entanto, apagar os letramentos das culturas locais. cidade tão complexa como a nossa, as realidades locais são leva-
das em consideração. Nosso esforço está centrado no sentido de
Direitos de aprendizagem de língua portuguesa no ensino fun- empreender estratégias e na proposição de possibilidades para que
damental estudantes da cidade continuem aprendendo.
Os direitos de aprendizagem visam à garantia do acesso e à Foram pensados aspectos que entrecruzam todos os compo-
apropriação do conhecimento de todas as crianças e jovens, a fim nentes curriculares, ou seja, que visam à Matriz de Saberes. Portan-
de construir uma sociedade mais justa e solidária. Nesse sentido, a to, propôs-se orientações que considerem: o pensamento científico,
escola deve estimular a participação dos estudantes em situações crítico e a criatividade; a resolução de problemas; a comunicação;
que promovam a reflexão, a investigação e a pesquisa, a resolução o autoconhecimento e o cuidado; a autonomia e a determinação; a
de problemas em espaços onde possam representar e vivenciar abertura à diversidade; a responsabilidade e a participação; a em-
suas experiências e ressignificá-las, a partir da construção de novos patia e colaboração e o repertório cultural.
conhecimentos. Finalmente, nosso desejo é que as Orientações Didáticas for-
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do Currícu- taleçam os Projetos Político-Pedagógicos, redimensionem olhares
lo de Língua Portuguesa da Cidade de São Paulo foram elaborados para discussões mundiais, como os Objetivos de Desenvolvimento
revisitando os princípios elencados nos documentos Direitos de Sustentável, e que, sobretudo, continuem a garantir a aprendiza-
aprendizagem dos ciclos interdisciplinar e autoral: Língua Portugue- gem de estudantes.
sa (2016); Elementos Conceituais e Metodológicos para Definição O volume 1 do documento de Orientações Didáticas do Currícu-
dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento do Ciclo de Alfa- lo da Cidade: Língua Portuguesa. Trata-se de um material organiza-
betização (2012) e Diretrizes Curriculares Nacionais (2013). do para auxiliar na implementação e consolidação dos objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento propostos no Currículo da Cidade
para o componente de Língua Portuguesa.
O presente documento, em sua integralidade, encontra-se
disposto no seguinte endereço eletrônico:

http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
les/50628.pdf
6 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Língua Portuguesa. –
volume 1 – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Para tanto, se oferecem reflexões e propostas de como organi- No caso da reescrita, situação em que o conteúdo temático já
zar e planejar o cotidiano das aulas, buscando situações diversifica- está dado, cabe ao estudante apenas recuperar esse conteúdo do
das de ensino e de aprendizagem da língua e da linguagem, as quais texto todo, ou de um trecho do texto-fonte (quando se tratar de
favoreçam uma educação de qualidade a todos os estudantes do produzir um final de um conto, por exemplo), para reescrever.
Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino.
Cabe destacar, ainda, que os textos deste documento podem 3. Planejamento/planificação: refere-se à elaboração de um
subsidiar o trabalho pedagógico dos professores em momentos co- plano do texto, ou seja, à organização do texto, parte a parte, de-
letivos, reuniões pedagógicas e projetos interdisciplinares da uni- finindo em que ordem aparecerão, quais relações serão estabele-
dade escolar. cidas entre elas e como serão articuladas. Os textos organizam-se
de acordo com as características do gênero: um artigo expositivo
As Práticas de Linguagem nos Diferentes Ciclos de divulgação científica possui suas informações organizadas hierar-
quicamente, já um artigo de opinião será organizado em função do
→ A prática de produção de textos movimento argumentativo considerado mais adequado à situação
Aprender a produzir textos em diferentes gêneros é um dos comunicativa.
principais objetivos de aprendizagem da escola. A produção escrita Ambos diferem de um conto que se organiza no eixo temporal,
foi, por muito tempo, vista apenas como reprodução, ou seja, de- estabelecendo relações de causalidade entre suas partes. Nesse
vido à intensa preocupação em conduzir a atividade, em transmitir sentido, a organização do plano do texto a ser produzido está estri-
informações, a produção de texto em si não acontecia. A produção tamente relacionada ao gênero.
escrita na sala de aula se restringia a atividades como respostas di-
rigidas, preenchimentos de lacunas, questionários com respostas, 4. Textualização: diz respeito à escrita propriamente dita, a ela-
esquemas dirigidos, cópia e ditado. boração textual do plano do texto, utilizando os recursos disponí-
Neste documento, a proposta é que a produção de texto seja o veis na língua. Nessa elaboração, todas as operações anteriores de-
espaço de interlocução, de devolução da palavra ao sujeito. A sala vem ser consideradas, ou seja, a contextualização, a recuperação/
de aula que antes era vista como lugar de transmissão de conheci- criação do conteúdo temático e a planificação do texto.
mento, passa a ser concebida como lugar de interação verbal. Para
tanto, o texto é a unidade de ensino, é o espaço de reflexão sobre a 5. Revisão: trata-se de uma operação que acontece durante a
língua e a linguagem, de interação entre os sujeitos, e o estudante, textualização e depois de escrita a primeira versão do texto. No
nessa perspectiva, é visto como produtor de texto. primeiro caso é chamada de revisão processual: enquanto escreve-
Conceber o estudante como produtor de textos é concebê- mos, relemos a parte produzida e a ajustamos.
-lo como participante ativo deste diálogo contínuo: com textos e Esses ajustes acontecem pela análise da adequação do texto em
com leitores. Dessa forma, sabemos que produzir um texto é uma relação ao trecho anterior; pela revisão dos recursos utilizados para
atividade complexa que não se realiza com ações que partem do estabelecer a conexão entre as partes; pela pertinência das esco-
simples para o complexo, por isso, que no processo de ensino e de lhas lexicais realizadas etc. Essa é uma revisão processual e contí-
aprendizagem da produção escrita, o texto deve ser a unidade de nua: concomitante ao processo de produção.
análise, o ponto de partida e de chegada. No segundo caso, é denominada de revisão final, ou posterior,
sendo realizada depois que uma primeira versão do texto é produzi-
As diversas operações de produção de textos da. A diferença entre esta e a primeira, é que na revisão final a aná-
A produção de um texto, qualquer que seja, é sempre deter- lise acontece considerando o texto inteiro, sendo possível analisar
minada pelas características da situação de comunicação na qual
a sua coerência e coesão, sua correção gramatical, sua adequação
ele irá circular, visto que é fundamental que o produtor do texto
ao contexto de produção de maneira global, enquanto texto termi-
estabeleça imagens do contexto definido para a sua produção. Ao
nado.
se elaborar um texto, o sujeito mobiliza cinco operações principais.
Além disso, a revisão ocorre em um momento posterior ao mo-
São elas:
mento da produção, o que torna possível ao produtor certo distan-
ciamento do texto, para reler, revisar e refazer. Na prática de pro-
1. Contextualização: consiste na capacidade de definir e recu-
dução de textos, temos três atividades fundamentais: as de escrita
perar as características da situação de comunicação em que o texto
(estrito senso), a reescrita e a produção de autoria. Vamos conhecer
será produzido, prevendo: quem irá ler, a finalidade da comunica-
mais especificamente cada uma delas, de modo a organizar os obje-
ção, qual o melhor gênero para dizer, onde irá circular o texto, ou
seja, trata-se da capacidade de antecipar toda a situação comuni- tivos de aprendizagem e desenvolvimento contemplando-as.
cativa em que o texto irá circular para definir as escolhas necessá-
rias, de modo a produzir um texto coerente com as finalidades de → A atividade de escrita: estrito senso
comunicação. Também chamada de escrita de textos que são conhecidos de
memória, trata-se de atividade na qual os estudantes são solicita-
2. Elaboração e tratamento dos conteúdos temáticos: trata-se dos a escrever textos que conhecem de cor. Nesse caso, a tarefa
da pesquisa de informações, fatos, ou mesmo da criação de uma está em registrar por escrito o texto já dado, palavra por palavra,
trama, quando se trata de texto de autoria. Neste último caso, a como, por exemplo, uma parlenda, uma quadrinha.
elaboração do conteúdo temático poderá acontecer: O foco, portanto, é a compreensão da base alfabética do siste-
ma de escrita: a textualização não precisa acontecer (planejamento
→ por criação (invenção), quando se tratar de textos ficcionais, do texto, definição e organização dos enunciados que o compõem,
pertencentes à esfera literária. definição de parágrafos), pois não há necessidade de decidir o que
→ por pesquisa e investigação, quando se tratar de textos das será escrito, já que o texto é conhecido de cor, palavra por palavra.
demais esferas.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
É necessário que essa atividade seja realizada a partir de textos ▪ Atividades de análises orais da materialidade dos textos, no
da tradição oral, que naturalmente são aprendidos pela linguagem gênero a ser reescrito, isto é, dos recursos linguístico-discursivos
oral e decorados para, por exemplo, serem base de brincadeiras presentes, como: as formas de iniciar os contos, a maneira de apre-
(pular corda, esconder, selecionar quem começa, entre outras fina- sentar e caracterizar as personagens, os recursos utilizados para
lidades), declamações, jogos (de bola, de pegar, de pique-esconde, inserir o cenário de terror num projeto de contos de assombração,
entre outros), brincadeiras afetivas entre pais/avós e filho (“cadê o entre outros.
toicinho que estava aqui?”; “serra, serra, serrador”). Não se trata, ▪ Atividade de leitura e discussão do texto a ser reescrito, fo-
portanto, de solicitar que os estudantes memorizem um conto, uma calizando a parte a ser reescrita caso se trate de um trecho. Nesta
fábula, ou parte deles, para, depois, solicitar que os registrem por atividade, aprende-se sobre todos os aspectos mencionados no tra-
escrito. balho com leitura de textos, agora de forma mais específica, enfo-
Trata-se de atividade imprescindível nos anos iniciais de escola- cando o texto que será reescrito, buscando contemplar a perspecti-
ridade, quando o processo de alfabetização acontece. va pela qual o tema é tratado. Além disso, focaliza-se a necessidade
de escrever o trecho estabelecendo a coesão entre o texto de refe-
→ A atividade de reescrita rência e o trecho a ser reescrito.
Quando falamos em reescrita como atividade de produção de ▪ Reconto do texto.
textos, não nos referimos à reescrita de revisão, aquela que se rea- ▪ Elaboração de um plano do texto – a planificação (organizar o
liza como parte do processo de ajustar o texto ao contexto de pro- texto parte a parte) para orientar a reescrita.
dução, modificando depois de uma análise. Ao contrário, trata-se ▪ Escrita ou ditado do texto para outro grafar.
de escrever, novamente, um texto produzido por outro autor, uma ▪Revisão durante a reescrita e, ao final, realizar ajustes quando
atividade para aprender a textualizar. for o caso.
A reescrita de que falamos é uma atividade fundamental para
ensinar a produzir textos, porque a operação de textualização, ou Uma dúvida muito recorrente entre professores é sobre como
realizar essa atividade. A reescrita deve ser proposta a partir de um
seja, de decidir o texto que será escrito e registrá-lo graficamente,
trecho do texto lido (início, uma parte do meio do texto ou o final).
a escrita propriamente dita, está no centro da atividade. Nela, o
Reescrever um texto é uma atividade com possibilidade de se reali-
estudante não precisa criar o conteúdo temático, que já está dado,
zar em vários dias, reescrevendo e revisando a cada vez uma parte,
podendo concentrar sua atenção no ato de textualizar (redigir o
ou mesmo, ditando ao professor, em grupos ou individualmente,
texto). Nesse caso, para textualizar, é preciso apenas recuperar o
ou, ainda, registrando de próprio punho.
conteúdo do texto que já conhece, como de um conto de fadas (ou
Cabe ao professor definir como o ensino da textualização por
trecho dele). Conhece-se a história, mas não se sabe o texto de me-
meio da reescrita ficará mais adequado à sua turma, aos objetivos
mória.
de aprendizagem e desenvolvimento e ao produto final combinado
Para ensinar a produzir textos, orienta-se o resgate de um pro-
para o desenvolvimento do trabalho.
cedimento muito utilizado pelos autores: o de imitar outros escri-
tores mais experientes. Nesse sentido, explica-se que para imitar é → A produção de autoria
necessário desarmar o que se quer imitar para ver como funciona, A produção de texto na sala de aula também pode ocorrer por
qual é o seu mecanismo. Depois, repetir, trocar de lugar, deslocar, meio de escritas de autoria. Como o próprio nome diz, diferente
transpor, inverter, ampliar, transgredir, transformar. da reescrita em que a produção acontece a partir de um texto de
Esse processo, de reescrever um texto tendo outro como apoio, apoio, cujo conteúdo já está dado, no caso da autoria, o estudante
contribui para a aprendizagem de capacidades e procedimentos en- deverá produzir o conteúdo temático para depois organizá-lo num
volvidos na produção escrita. Assim, a leitura de textos do mesmo novo texto, realizando todas as operações discursivas. Nesse caso,
gênero a ser produzido, além da leitura compreensiva do texto-fon- o conteúdo poderá ser produzido de duas formas:
te, é importante condição a ser garantida ao grupo, para que tenha
muitas referências da linguagem escrita, registro literário e, assim, ▪ por meio da criação (invenção), quando se trata da produção
poder produzir “imitando” os escritores. de textos ficcionais da esfera literária (contos, fábulas, capítulos de
No caso de escritores iniciantes, especialmente, no Ciclo de Al- romance, novelas, entre outros);
fabetização e nos primeiros anos do Ciclo Interdisciplinar, o reconto ▪ por meio da pesquisa, quando se tratar de produzir textos
é uma atividade que pode anteceder a reescrita, garantindo o exer- das demais esferas: jornalística, escolar, divulgação científica etc.
cício de organizar os conteúdos temporalmente, de explicitar rela- (notícias, reportagens, comentários digitais, relatórios, artigos de
ções de causalidade existentes entre fatos, de empregar recursos opinião, artigos expositivos, bilhetes, manuais, receitas culinárias,
linguísticos e o registro literário, utilizando expressões pertencentes cartas de leitor, verbetes enciclopédicos digitais, verbete de curio-
ao texto, por exemplo, conteúdos que podem ser difíceis para os sidade, entre outros).
estudantes. Posteriormente, esse recurso vai sendo deixado de lado Todos os aspectos envolvidos no ato de produzir deverão ser
e a textualização ganha mais autonomia. discutidos antes da produção de autoria de modo que as decisões
Nessa situação, os estudantes têm a oportunidade de recontar sejam tomadas para garantir e orientar a textualização:
antes de produzir por escrito. Pensando em organização do traba-
lho com reescrita, sugerem-se: ▪ o contexto de produção: em que gênero vou escrever? (conto
de aventura, conto de assombração, crônica) Com que finalidade
▪ Um trabalho de leitura de diferentes textos do gênero a ser e onde meu texto irá circular? (em um livreto para as famílias; em
reescrito, com a finalidade de repertoriar os estudantes. Nesta ati- uma feira cultural por meio da leitura dramática; no mural da esco-
vidade, é possível aprender sobre a linguagem escrita, sobre as ca- la). Enfim, as decisões do contexto de produção são definidoras do
racterísticas do estilo do autor, do gênero, a organização interna do como irei escrever;
texto, tipo de narrador, tempo verbal predominante etc. ▪ o conteúdo temático que será tratado (o que depende do gê-
nero do texto que se produzirá);
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
▪ a maneira pela qual será tratado esse tema que também está Nessas situações, o professor tem um papel decisivo tanto para
relacionada ao gênero – se com seriedade, ironia, leveza, poeticida- definir os agrupamentos como para explicitar claramente qual a ta-
de, humor, literariedade, dramaticidade, suspense; refa de cada estudante, além de oferecer a ajuda que se fizer neces-
▪ qual será o tipo de narrador e a perspectiva pela qual o tema sária durante a atividade;
será tratado, caso seja um texto literário; → a conversa entre professor e estudantes é, também, uma im-
▪ que fatos e acontecimentos constituirão o texto, de que modo portante estratégia didática para prática de produção de textos: ela
serão articulados e em torno de qual eixo serão organizados (de permite, por exemplo, a explicitação das dificuldades e a discussão
temporalidade - com ou sem definição do tempo -; de relevância de certas fantasias criadas pelas aparências. Uma delas é a da facili-
- por exemplo: em um relato pessoal, começar pelo fato mais im- dade que os bons escritores (de livros) teriam para redigir.
portante ocorrido); Quando está acabado, o texto praticamente não deixa traços de
▪ qual será o registro linguístico a ser utilizado (literário, acadê- sua produção. Muito mais do que mostrar, ele esconde o processo
mico, legal/jurídico, jornalístico, pessoal, informal mas não íntimo por meio do qual foi produzido. Sendo assim, é fundamental que os
(diário da classe), pessoal e íntimo, informal com gírias e expressões estudantes saibam que escrever, ainda que gratificante para mui-
próprias de determinada rede social, entre outros); tos, não é fácil para ninguém.
▪ que estilo terá o texto (conto tradicional mais descritivo ou um
conto de artimanha mais direto com poucas descrições, por exem- O presente documento, em sua integralidade, encontra-
plo). -se disposto no seguinte endereço eletrônico:
Além disso, no processo de textualização, os aspectos que en- http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
volvem a manutenção da coerência e o estabelecimento de coesão les/50723.pdf
serão tratados, implicando na seleção de todos os mecanismos e
recursos textuais adequados para tanto (articuladores textuais ade-
quados às relações que se desejar estabelecer entre os trechos do
texto; tipo de pontuação; critérios de paragrafação, entre outros). SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
Importante: para produzir um texto não basta saber sobre o RIA PEDAGÓGICA. DIVISÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL E
conteúdo temático. Ele é fundamental e deverá ser pesquisado, ou MÉDIO. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCULO DA CI-
criado, mas só saber sobre ele não garante a produção de um texto DADE: LÍNGUA PORTUGUESA, VOLUME 2. SÃO PAULO:
coerente com a situação comunicativa. SME/ COPED, 2018
Não se trata de um ato de seguir um roteiro de perguntas ou de
observar imagens em sequência. Produzir um texto é uma atividade
complexa que envolve a planificação, a textualização e a revisão. Orientações didáticas do currículo da cidade: Língua Portugue-
Todos os aspectos mencionados anteriormente devem ser temati- sa, volume 27
zados em situação de ensino e de aprendizagem da prática de pro-
duzir textos. → Gramática: uma palavra proibida?
Assim, alguns procedimentos didáticos para implementar uma Ao ler este material, destinado a discutir práticas de análise lin-
prática continuada de produção de textos na escola: guística no Currículo da Cidade, alguns professores podem estra-
nhar iniciarmos primeiramente com uma reflexão sobre o termo
→ oferecer bons textos escritos impressos, por meio da leitura gramática, entendendo que ela, representante de longa tradição no
(quando os estudantes ainda não leem com independência, isso se ensino de língua, não integra a prática de análise linguística. Para
torna possível com leituras realizadas pelo professor, o que precisa, entender a proposta teórico-metodológica, que fundamenta esse
também, ser uma prática continuada e frequente). São esses textos documento curricular, é necessário construir um pequeno rastro-a-
que podem se converter em referências de escrita para os estudan- trás para compreender as relações entre os conceitos de gramática,
tes; língua e análise linguística.
→ solicitar aos estudantes que produzam textos muito antes de A gramática é uma área de muitas tensões. Pelo menos dois
saberem grafá-los. Ditar para o professor, para um colega que já conflitos constituem fortes vozes presentes ainda hoje nas práticas
saiba escrever ou para ser gravado, é uma forma de viabilizar esse de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa. O primeiro remete
tipo de produção. Quando ainda não se sabe escrever, ouvir alguém à longa tradição e tem como crença principal que o ensino de gra-
lendo o texto que produziu é uma experiência importante para um mática, em geral, de nomenclatura gramatical, é o que possibilita a
escritor iniciante; aprendizagem de leitura e de produção de textos orais e escritos. Já
→ propor situações de produção de textos, em pequenos gru- o segundo nega enfaticamente o primeiro, condenando o ensino de
pos, nas quais os estudante-participantes compartilhem saberes, gramática normativa a partir de uma crença ingênua de que não é
embora realizando diferentes tarefas: produzir propriamente, gra- necessário ensiná-la.
far e revisar. Essa é uma estratégia didática bastante produtiva, por- Desses discursos advêm práticas extremamente opostas: ou
que permite que as dificuldades inerentes à exigência de coordenar voltadas ao reconhecimento passivo do padrão linguístico ou per-
muitos aspectos ao mesmo tempo sejam divididas entre os estu- meadas somente pelo viés intuitivo com ausência completa de sis-
dantes. tematização e reflexão. Tudo isso decorre do desconhecimento dos
Os aprendizes podem, momentaneamente, dedicar-se a uma conceitos de língua e gramática, bem como da longa tradição que
tarefa mais específica, enquanto os outros cuidam das demais. São constituiu os estudos gramaticais e linguísticos.
situações em que um estudante produz e dita a outro, que escreve,
enquanto um terceiro revisa, por exemplo. Experimentando esses
diferentes papéis enunciativos, envolvendo-se com cada um, a cada
vez, numa atividade colaborativa, podem ir construindo sua compe-
tência para, posteriormente, realizarem sozinhos todos os procedi- 7 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
mentos envolvidos numa produção de textos. Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Língua Portuguesa –
volume 2. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O primeiro conflito está intimamente ligado às origens greco-la- O autor destaca as diferenças entre o que significa conhecer uma
tinas da disciplina gramatical. Denominada de grammatiké e consi- língua e conhecer sua gramática, entre saber uma língua e saber
derada uma técnica, era concebida como arte de ler e escrever. De analisá-la, saber usar determinadas regras e saber quais são elas.
modo bem geral, essa disciplina apresentava procedimentos que Para o autor, a função da escola é ensinar a língua padrão, a par-
tinham a linguagem como objeto de análise. O discurso gramatical tir do seu uso efetivo, e isso não significa o abandono das reflexões
greco-latino privilegiava a análise dos textos literários, procurando sobre a língua. O que se deixa de lado é a “gramatiquice”, que seria
explicar os usos linguísticos pela técnica gramatical. um ensino mecanizado e reprodutivo dos manuais de referência.
À gramática destinava-se a função de possibilitar o conhecimen- Em seguida, Possenti (1996) faz uma apresentação dos tipos
to das letras (littera). Os grammatikós, os chamados conhecedores gerais de gramática, a partir de uma definição mais sintética de gra-
das letras, definiram-se como leitores “da escrita literária”, como se mática como conjunto de regras. Assim, a gramática normativa ou
a cultura letrada realmente fosse designação apenas, e tão-somen- prescritiva seria o conjunto de regras a serem obedecidas; a gra-
te, da literatura. O conceito de gramática greco-latino, portanto, mática descritiva, o conjunto de regras seguidas pelos falantes; e
considerando a literatura como modelo de bons usos, cristalizou a a gramática internalizada seria o conjunto de regras que o falante
valorização da gramática ligada a algo homogêneo, fixo e abstrato, domina.
passível de ser descrito, ensinado como técnica do bem falar e es- As gramáticas normativas, em geral, compõem os manuais de
crever. referência mais conhecidos dos professores e têm a finalidade de
Dessa tradição, surge a gramática que se convencionou chamar prescrever regras para os usuários, a partir de uma visão homogê-
de tradicional. Vinculada a isso, o ensino de gramática no Brasil foi nea de língua, configurando-se a ideia de certo e errado. São repre-
se constituindo a partir da análise dos usos de autores consagrados, sentantes desse tipo de tradição obras de Carlos Henrique da Rocha
considerando-os para estabelecer regras para falar e escrever “cor- Lima e Celso Cunha e Lindley Cintra, entre outras.
retamente”, prática que persistiu até meados do século XX. A tra- As gramáticas descritivas visam, como o próprio nome indica,
dição gramatical passou a exercer duas funções complementares: descrever as línguas tal como elas são usadas pelos falantes em di-
descrever usos (aspectos lexicais, morfológicos e sintáticos) a partir ferentes situações de interação, ou seja, considerando, portanto, a
de textos-modelo e estabelecer regras que determinam como o língua em sua variação. A gramática descritiva, nesse caso, pode
usuário da língua deve ou não dizer ou escrever algo. revelar regras distintas entre falantes de diferentes variedades.
A partir da década de 1960, os estudos linguísticos no Brasil Por fim, a gramática internalizada refere-se àquelas regras que
começam gradativamente a adentrar os currículos de formação de os falantes já dominam. Há uma estreita relação entre a descrição
professores. Assim, a partir do final da década de 1970, as contri- linguística e a gramática internalizada, já que é necessário descrever
buições da Linguística, da Sociolinguística, da Linguística Textual, da os usos que os falantes dominam para poder identificá-los. Aqui, é
Análise do Discurso começam a se inserir em novas teorias e meto- possível encontrar as regularidades do sistema da língua, ou seja,
dologias para embasar o ensino de língua materna. aquilo que é comum entre as variedades, bem como as diferenças
Surge, nesse período, um imponente discurso acadêmico ligado que condicionam tais variações.
à crítica, ao ensino da gramática tradicional e a uma metodologia Indo além das especificações de Possenti (1996), cabe destacar
fundamentada na concepção de língua homogênea, representada as chamadas “gramáticas de usos”. Vinculadas ao saber internaliza-
pelo padrão gramatical. Nesse contexto, a Linguística passa a repre- do e às teorias funcionalistas, por meio da descrição linguística, tais
sentar uma voz contrária ao caráter discriminatório e prescritivo do gramáticas apresentam usos linguísticos, bem como as funcionali-
chamado ensino tradicional de português. dades de tais usos no contexto da interação, ou seja, o sistema se
Muitas interpretações polêmicas passaram a constituir esses realiza a partir de determinadas regularidades apresentando possi-
discursos. A primeira delas é de que a Linguística seria, portanto, bilidades de significação relacionadas aos contextos de uso.
permissiva, não se preocupando com o ensino da norma padrão, e Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais são publicados,
a segunda condena totalmente a gramática tradicional, tornando ratificando uma nova concepção de linguagem, de base enuncia-
o termo “gramática” uma palavra proibida, ou seja, quem ensina tivo-discursiva, conforme já apontavam esses e outros profícuos
gramática passa a ser desatualizado, desconhecedor das novas me- estudos na área da linguagem. Com isso, o eixo “análise e reflexão
todologias e concepções modernas de ensino. sobre a língua” é demarcado como uma das práticas de linguagem
Nesse emaranhado, surgem discursos que buscam desconstruir a serem realizadas na aprendizagem de Língua Portuguesa, tendo
tais interpretações equivocadas, especialmente quando a discussão sempre o texto como unidade de ensino.
sobre “gramática” aterrissa na sala de aula. O primeiro e, até hoje, De modo geral, para o ensino-aprendizagem de língua, o docu-
fundamental, ocorreu com a publicação do livro O texto na sala de mento institui uma voz oficial que concebe a linguagem como dia-
aula, coletânea de artigos de diferentes autores, organizada por lógica, negando o ensino da tradição gramatical que remete a um
João Wanderley Geraldi, em 1984, revelando importantes estudos conceito de língua homogênea. Com base em estudos linguísticos,
linguísticos direcionados à reformulação do ensino de Língua Por- tal visão oficial foi sendo ratificada e apresentada de modo mais
tuguesa. aprofundado em outros documentos oficiais e também em currícu-
Tal obra foi um marco nos estudos linguísticos voltados para o los produzidos em outras instâncias, até se consolidar nacionalmen-
ensino de português, sendo também uma das vozes responsáveis te com a proposição da Base Nacional Comum Curricular (2017).
pela disseminação de uma nova concepção de linguagem e pela É importante refletir como obras e documentos, com mais de 30
proposta de “unidades” para o ensino de português: prática de ou 20 anos, respectivamente, ainda continuam sendo fundamen-
leitura de textos, prática de produção textos e prática de análise tais no processo formativo dos professores, cabendo a pergunta:
linguística. Mais adiante, em 1996, o linguista Sírio Possenti publica por que o ensino da prescrição gramatical persiste como modelo a
o livro Por que (não) ensinar gramática na escola, oriundo de traba- ser seguido em sala de aula? Isso, em parte, é decorrente do não
lhos do pesquisador, realizados durante a década de 1980. entendimento do que é a prática de análise linguística, bem como
Nessa obra, o autor apresenta alguns conceitos vinculados ao da ausência de outros instrumentos de referência que permitam ao
ensino de língua materna, como o que seria aprendizagem da lín- professor ter acesso à descrição da língua em sua heterogeneidade
gua, a inexistência de línguas uniformes e imutáveis, o ensino da para compreender possíveis metodologias, passando a operar com
língua padrão, a diferença entre ensinar língua e ensinar gramática. ela.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Para adentrar nessa compreensão, é preciso resgatar algumas ativados, reativados, desativados no contexto de uso, na constru-
significativas publicações ocorridas a partir do final da década de ção textual, ou seja, prioriza a compreensão do sistema da língua
1990. Com isso, não pretende-se citar manuais a serem seguidos, em operação e as diferenças estruturais entre língua falada e língua
mas objetos de referência que precisam adentrar no processo for- escrita.
mativo do professor com relação à reflexão sobre a língua. O que tudo isso pode significar para o professor do ensino fun-
Essas publicações, respondendo à longa tradição gramatical damental? É importante compreender que as práticas de ensino-
que se instituiu no país, constituem uma profícua produção de gra- -aprendizagem somente são transformadas quando os professores
máticas descritivas contemporâneas do português, sendo grandes assumem uma postura distinta em relação aos estudos gramaticais,
marcos dos resultados de décadas de pesquisa linguística no Brasil. principalmente, no que se refere a sua própria formação. Isso signi-
A primeira delas é a Gramática descritiva do português, de Mário fica assumir, primeiramente, uma postura reflexiva para si próprio.
Alberto Perini, publicada em 1995, ganhando várias reformulações Por exemplo, ao invés de buscar uma definição pronta para um
e novas edições, sendo a mais recente, em 2017, sob o título Gra- item que remete à nomenclatura gramatical, é necessário compre-
mática descritiva do português brasileiro. ender o que diferentes materiais de referência dizem a respeito
Depois, há a Gramática de usos do português, de Maria Helena desse item, o que se pode observar e refletir sobre ele. Operando
de Moura Neves, publicada em 2000, com atualização ortográfica com diferentes gramáticas, dicionários, fontes de referência, o pro-
em 2011. Na sequência, há a publicação da Gramática Houaiss da fessor poderá construir uma prática reflexiva na sala de aula a partir
Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo, em 2008 (última edi- de princípios semelhantes.
ção de 2017); da Nova gramática do português brasileiro, de Ataliba Imaginemos o conceito de substantivo. É recorrente que, em
Teixeira de Castilho, em 2010, que ganha uma “versão pedagógica” uma aula com foco nesse item gramatical, a definição oriunda da
em parceria com Vanda Maria Elias em 2012 – Pequena Gramáti- gramatica tradicional seja oferecida a priori ou a partir de um tex-
ca do português brasileiro; e, por fim, da Gramática pedagógica do to-pretexto para ensinar o tópico-gramatical. O estudante recebe
português brasileiro, de Marcos Bagno, em 2011. passivamente o conceito que confere ao substantivo a definição de
Todas as publicações constituem referências fundamentais nos classe de palavra que dá nome a seres, objetos, ações, sentimentos
etc. O foco de uma aula assim está na questão “o que é um subs-
estudos da linguagem, contudo, duas publicações merecem desta-
tantivo?”.
que por ter intenção pedagógica, ou seja, pretendem discutir o en-
Em uma perspectiva reflexiva, o estudante poderá construir
sino-aprendizagem de língua materna ou constituir uma proposta
uma definição a partir de uma reflexão. Imaginemos que, em uma
com essa finalidade. A primeira é a Gramática pedagógica do portu-
sequência de atividades na qual o propósito seja ler e produzir con-
guês brasileiro, de Bagno, que visa ser um compêndio de estudo vol-
tos de aventura, uma das atividades pode propor uma reflexão rela-
tado para o professor, ou seja, é pedagógica no sentido que enfoca
cionada à construção estilística do conto, sendo uma atividade sem
a formação do docente, apresentando uma discussão teórica sobre
sistematização. Assumindo aqui, uma situação hipotética, pode-se
o ensino de português, algumas atividades práticas, sem apresentar
destacar expressões nominais que poderiam ser: “uma jovem aven-
uma descrição completa do português brasileiro contemporâneo,
tureira”, “um pequenino vilarejo”, “um som estranho”, “uma casa
mas dando foco a alguns aspectos da linguagem em uso. mal-assombrada”, “um enorme susto”, “barulhos assustadores”,
O autor revela ter como base a gramática de Ataliba Teixeira “pessoas ambiciosas”, “um ladrão traiçoeiro”; “gigante bonzinho”,
de Castilho: “foi a leitura de sua monumental gramática que me etc.
instigou a produzir essa aqui”, tendo como objetivo “auxiliar para Primeiramente, cabe questionar o estudante sobre a importân-
a tarefa de promoção da reflexão sobre a língua e a linguagem em cia dessas expressões para a construção do conto. É possível propor
sala de aula”. Partindo dessa base, o autor oferece uma interessan- uma reflexão sobre as retomadas e inserções no texto na constru-
te discussão visando à colaboração com a formação docente em ção da coesão referencial. Tais nomenclaturas não precisam ser sis-
busca de efetivas mudanças nas práticas de ensino-aprendizagem tematizadas, porém é importante que os estudantes, por meio da
de gramática. mediação do professor, compreendam que há uma expressão que
A segunda obra é a Pequena gramática do português brasileiro, insere uma referência (a um personagem, a um lugar, a um aconte-
escrita em coautoria por Castilho e Elias. Nela, parte-se de funda- cimento) e essas expressões são retomadas por outras diferentes.
mentação teórica construída em mais de trinta anos de pesquisa Assim, é possível promover uma reflexão no sentido de levar os
linguística e organizada, primeiramente, na Nova gramática do por- estudantes a concluir que essa estratégia textual é recurso para evi-
tuguês brasileiro, de Castilho. tar a repetição (ou, em caso de repetição proposital, para enfatizar)
A perspectiva que embasa essas obras é o que Castilho deno- e, também, que essas expressões marcam avaliações apreciativas
mina de “teoria multissistêmica”, na qual são considerados quatro de elementos da história.
sistemas linguísticos (o “léxico”, a “semântica”, o “discurso” e a “gra-
mática”), que são acionados quando falamos ou escrevemos. Situação hipotética de atividade
Castilho e Elias materializam uma proposta de ensino-apren- A partir disso, o professor pode optar por realizar uma sistemati-
dizagem de gramática destinada “aos professores de Língua Por- zação sobre o conceito de substantivo. Solicite à turma que retome,
tuguesa interessados na variedade brasileira, aos estudantes de nas expressões em destaque em diferentes contos, quais se referem
Letras e Pedagogia, aos estudantes do ensino médio e a todos bra- ao acontecimento narrado e quais se referem ao herói e ao vilão,
sileiros que queiram refletir sobre a língua que falamos”. Pode-se por exemplo.
dizer que é a primeira gramática descritiva do século XXI voltada Peça que observem, em cada expressão, a palavra que faz re-
também para estudantes da educação básica, no caso, especifica- ferência a cada um desses aspectos da narrativa, diferenciando da
mente do ensino médio. palavra que caracteriza e da que acompanha. A partir dos resulta-
De modo geral, as duas obras gramaticais, embora com obje- dos, o professor pode mediar algumas reflexões com relação a pa-
tivos distintos, por partirem da mesma filiação teórica, propõem lavra que faz referência: se ela for retirada o sentido se mantém? Se
atividades didáticas que visam analisar como o sistema opera em ela fosse uma palavra masculina/feminina o que aconteceria com
diferentes textos, destacando-se os elementos da língua que são as palavras que integram a expressão nominal?
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Com atividades como essa, os estudantes podem concluir que: nas expressões nominais há um núcleo que se refere/designa algo; esse
núcleo pode vir acompanhado de termos à esquerda e à direita; esse núcleo pode ser caracterizado; esse núcleo pode estar no singular
ou no plural; esse núcleo pode ser uma palavra de gênero feminino ou masculino; essa palavra determina o número e o gênero das pala-
vras que o acompanham. Além disso, outras considerações que a observação reflexiva pode permitir ao professor encaminhar devem ser
consideradas.
Note que o substantivo tem muitas outras propriedades linguísticas, além daquela proposta pela gramática tradicional. Após tal siste-
matização, o professor pode apresentar a nomenclatura oficial, localizar tal categoria nos manuais de referência, apresentar a abreviação
do dicionário que demarca quando uma palavra é um substantivo. O mesmo pode ser feito com artigos e adjetivos, entendendo que tal
trabalho proposto esteve vinculado a uma perspectiva sintática, já que as expressões nominais configuram sintagmas nominais.
Assim, a perspectiva reflexiva modifica a pergunta “o que é substantivo”, para: quais as funções dessa palavra no texto? Que sentido
elas constroem? Por que localizá-las me ajuda a interpretar o conto? Por que analisá-las pode me ajudar a escrever o meu conto? E tantas
outras que podem mobilizar uma atitude reflexiva com relação à linguagem.
Esse movimento precisa estar articulado a uma concepção de língua plural e heterogênea, ou seja, o sistema da língua, na realização
concreta do texto, apresenta inúmeras possibilidades de construção, já que se articula a contextos específicos. Assim, a descrição linguísti-
ca não poderá única e simplesmente substituir outras práticas de linguagem fundamentais no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa.
Mas, a partir da reflexão sobre os usos descritos em diferentes situações de interação, podem ser observadas particularidades entre a
linguagem oral e a linguagem escrita, além de se considerar uma concepção plural de que todas as variedades (históricas, sociais, geográ-
ficas, contextuais etc.) podem ser descritas e refletidas.
Reconhecer que a língua é, portanto, um conjunto de variedades é fundamental ao se tomar o texto como unidade de trabalho. Isso
não significa negar a importância da aprendizagem dos usos supostamente prestigiados, muito menos o abandono da reflexão gramatical
com ou sem sistematização. Nesse sentido, quando linguistas, como Sírio Possenti, defendem o ensino da língua padrão, eles sugerem que,
pela descrição linguística, se proponha um ensino de língua que, sem perder a compreensão de sua dinâmica diversificadora, apresente
relativa padronização vinculada, por exemplo, aos usos oficiais em documentos do Estado e nos meios sociais de comunicação formal.
Isso significa descrever os usos decorrentes de variedades urbanas de prestígio, ou seja, manifestações linguísticas concretas não ho-
mogêneas que apresentam determinados traços comuns em situações de interação consideradas fundamentais para o pleno exercício da
cidadania. A padronização é necessária para se obter uma referência suprarregional e transtemporal, constituída dos usos que, em geral,
são ligados a segmentos com maior prestígio social e a elevado grau de letramento, não podendo ser confundida com a proposição de um
modelo estanque ou tratada como simples sinônimo de norma padrão.
O termo norma padrão faz referência direta à norma sistematizada nos manuais gramaticais tido como tradicionais, não sendo repre-
sentativa de modos de falar escrever, mas se constituindo em um construto que visa a uma relativa uniformização linguística, um modelo
de língua que impõe o certo e o errado. Em geral, por isso, estudantes se sentem tão distanciados dessa “língua”, dizendo não entender
português ou que português é muito difícil, verdadeiros estrangeiros diante do que supostamente seria sua língua materna.
Romper com uma perspectiva unicamente voltada à norma padrão como referência para o bem falar e o bem escrever, com a finali-
dade de voltar-se para os usos reais e concretos da linguagem, é um meio para desconstruir valores preconceituosos ainda disseminados,
além de desconstruir discursos enraizados e ainda divulgados na grande mídia, voltando-se para a riqueza da língua, que nos constitui
como sujeitos e se configura como elemento de identidade e cultura brasileira.
Para isso, precisamos, portanto, abandonar as crenças de que língua e gramática são a mesma coisa, de que basta aprender gramática
para ler e escrever, de que a sistematização se liga unicamente ao padrão e, por isso, não contribui para a aprendizagem da língua, de que
a norma prestigiada é a única que precisa ser refletida, e de que apenas a gramática tradicional se constitui como manual de referência
ao professor.

→ A análise linguística no Currículo da Cidade


A partir do que discutimos anteriormente a respeito do termo gramática, é possível compreender que a prática de análise linguística
não elimina a gramática da sala de aula, mas engloba outra perspectiva teórico-metodológica para o encaminhamento do ensino-apren-
dizagem de Língua Portuguesa. Para adentrar nessa nova proposição, é fundamental compreender alguns de seus aspectos gerais em
comparação ao ensino da tradição gramatical.
Não queremos esgotar as possibilidades, muito menos propor um modelo fechado e estático, o que negaria o próprio conceito de aná-
lise linguística. A proposição do quadro a seguir tem como finalidade mostrar ao professor como o conceito de análise linguística participa
de outro paradigma para o ensino de Língua Portuguesa, no qual é necessário deslocar determinadas práticas didáticas para uma outra
articulação.

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http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50726.pdf

O quadro permite-nos compreender que a análise linguística, portanto, desloca-se para uma reflexão sobre o funcionamento da lingua-
gem em diferentes dimensões, que, por sua vez, estão descritas em alguns aspectos teóricos fundantes do Currículo da cidade, dos quais
destacaremos dois. O primeiro diz respeito às características específicas do funcionamento da língua e da linguagem no que se refere a
conhecimentos: pragmáticos, ligados à situação de comunicação; discursivos, referentes à adequação do discurso à situação e ao contexto
de interação; textuais, relacionados à textualidade (coesão, coerência, progressão temática etc.); gramaticais, relativos à fonologia, mor-
fologia, sintaxe e semântica; e notacionais, referentes ao domínio do sistema alfabético de escrita.
O segundo aspecto relaciona-se aos tipos de atividades que podem ser mobilizadas: “atividades de uso da linguagem” e “atividades de
reflexão sobre o uso e sobre a própria linguagem”. O primeiro refere-se ao momento que o estudante realmente faz uso da linguagem, ou
seja, quando ele lê, escreve, escuta, fala em uma prática de linguagem situada, nas quais diferentes papéis sociais podem ser assumidos.
No item anterior, pudemos compreender que o ensino-aprendizagem de língua se vincula à dimensão do uso a partir da reflexão sobre
a linguagem, materializada em textos tomados como objetos de ensino-aprendizagem. Essa perspectiva encaminha o que seriam “ativi-
dades de reflexão sobre o uso e sobre a própria linguagem”. Isso significa que a reflexão sobre a linguagem só poderá ocorrer no interior
de “atividades de uso da linguagem”, ou seja, vinculadas às práticas de leitura, escuta e produção textual (oral ou escrita), com ou sem
sistematização.
Não se trata de outro nome dado ao ensino da gramática, mas de uma prática teórico-metodológica para construir um conhecimento
sobre a linguagem, vinculando-se ao princípio dialógico que a constitui. Nesse sentido, define-se a expressão análise linguística como o
conjunto de atividades que tomam uma das características da linguagem como seu objeto: o fato de ela poder remeter a si própria, ou
seja, com a linguagem não só falamos sobre o mundo ou sobre nossa relação com as coisas, mas também falamos sobre como falamos.
Nessa perspectiva, enfatiza-se, portanto, a reflexibilidade, entende-se que a linguagem, além de se constituir na interação com o outro,
permite-nos construir sentidos, por meio dos quais demarcamos nosso valores e crenças, nossa posição no mundo. Refletir sobre os usos
da(s) língua/linguagens é possibilitar a compreensão de tais usos no contexto da interação, oferecendo, em alguns momentos, possibili-
dades de compreensão dos textos alheios, em outras situações, recursos para produção e revisão dos meus próprios textos, e em outros,
compreender como se dá a sistematização do sistema da língua.
Isso é decorrente de três tipos de atividades que envolvem a reflexão sobre a linguagem: atividades linguísticas, atividades epilin-
guísticas e atividades metalinguísticas. Em todas se assume a dimensão reflexiva a partir dos usos da linguagem, mas cada uma assume
finalidades distintas.
As atividades linguísticas ocorrem no contexto da situação de interação, ou seja, são atividades vinculadas à compreensão leitora ou
oral, à produção de texto oral ou escrito. São fundamentais para construir sentido e articulam-se, sobretudo, às dimensões pragmática e
discursiva dos textos.
As atividades epilinguísticas também ocorrem no contexto da situação de interação, porém um recurso expressivo é tomado como foco
de reflexão, suspendendo de modo temporário práticas de leitura e de produção textual a que se objetivam.
Aqui, aspectos discursivos e textuais podem ser aprofundados, como recursos estilísticos e elementos da textualidade tanto de textos
escritos como de textos orais. Nota-se que tais atividades não estão isoladas, mas vinculadas a atividades linguísticas anteriores, com a
finalidade de expandir um tópico específico.

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As atividades metalinguísticas estão intimamente vinculadas tica e estilo dissociadas das práticas de leitura e produção textual,
às atividades epilinguísticas, pois, a partir destas, o professor pode fragmentando o conceito de gênero discursivo/gênero textual e
promover uma sistematização com a finalidade de construir uma fazendo com que, muitas vezes, o texto seja apenas pretexto para
metalinguagem, que permita ao estudante associar o recurso ex- ensinar um tópico gramatical.
pressivo refletido com a construção do sistema linguístico como Se “ensinar a gramática/língua a partir de textos” passa a ser
objeto de conhecimento. Essas atividades dão sentido à dimensão fundamental para a aprendizagem de crianças e jovens, por que,
gramatical e notacional do sistema, pois visam tornar o estudante ainda hoje, 20 anos após a publicação dos PCN, tantos pesquisa-
apto a usar materiais de referência como gramáticas e dicionários, dores ainda se debruçam sobre tais questões? Por que avaliações
vinculando-os a um processo de reflexão sobre a funcionalidade do oficiais ainda apresentam como resultados tantas deficiências em
recurso expressivo estudado. relação às práticas de leitura e escrita?
Esse tipo de atividade pode construir noções, categorizar aspec- Diante de tais indagações, a proposição do Currículo da Cidade
tos da língua, produzindo uma metalinguagem básica que permite de São Paulo busca, de fato, a construção de um trabalho inova-
ao professor falar sobre a língua, sobre a linguagem e seu funcio- dor e concreto com a língua no que se refere às práticas de análise
namento. No Currículo da Cidade, as atividades linguísticas e epi- linguística, pois possibilita a criação de propostas que promovam
linguísticas estão relacionadas aos “aspectos que, nas práticas de reflexões sobre movimentos de réplica e compreensão ativa, articu-
leitura e de escrita, em qualquer momento, devem ser tomados ladas às questões linguístico-discursivas que revelam marcas ideo-
como objeto de reflexão”. Já as atividades metalinguísticas ligam-se lógicas, valores, posições.
“aspectos gramaticais subjacentes aos da textualização que podem Pelo Currículo da Cidade, pode-se refletir que não é possível
ser tratados com ou sem sistematização”. tratar apenas a língua em processos de modelização, com foco em
A sistematização refere-se a um possível aprofundamento com regularidades linguísticas genéricas (no sentido de regularidades de
relação ao funcionamento do sistema linguístico, à nomenclatura, um gênero discursivo), mas é importante construir práticas em que
ao uso de materiais de referência, o que deve ser promovido gra- o processo de compreensão ativa seja mobilizado, colocando em di-
dativamente no decorrer dos ciclos ou quando se fizer necessário álogo elementos linguísticos, expressivos, discursivos da língua em
para a aprendizagem de determinadas práticas de leitura/escuta e uso a partir de distintas situações de interação.
produção textual.
No processo de implementação do Currículo da Cidade, portan-
Nesse sentido, a pertinência das atividades metalinguísticas es-
to, torna-se fundamental que os professores reflitam suas práticas
tará intimamente vinculada às atividades epilínguísticas anteceden-
e, em parceria, construam novas práticas que ultrapassem a con-
tes, de modo que a gramática e as noções consideradas tradicio-
cepção simplista do tópico gramatical isolado ou retirado de carac-
nais participem do processo reflexivo desenvolvido pelo estudante,
terísticas genéricas.
sempre se vinculando aos usos.
Para isso, a análise linguística deve contribuir para formar su-
No exemplo hipotético dado no item anterior, inicia-se uma re-
jeitos fundamentalmente responsivos e responsáveis pelo seu agir,
flexão estilístico-discursiva ligada à construção do gênero conto de
sendo capazes de usar a língua nas mais diversificadas atividades
aventura, observando expressões nominais e construção de sentido
(atividade linguística); depois, propõe-se uma reflexão sobre os pro- humanas. Não a língua como sinônimo de nomenclatura e defini-
cessos de referenciação, podendo sistematizar ou não os processos ções sem articulação com a vida, mas a língua em uso que constitui
coesivos de inserção e retomada (atividade epilinguística); por fim, os sujeitos em suas práticas sociais.
relacionam-se tais saberes a alguns conceitos gramaticais vincula-
dos à estrutura do sintagma nominal, tendo como foco o substan- O presente documento, em sua integralidade, encontra-
tivo como núcleo e as relações básicas de concordância nominal -se disposto no seguinte endereço eletrônico:
(atividade metalinguística).
Tais saberes podem ser retomados durante o processo de textu- http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
alização e revisão dos textos, constituindo outra prática de análise les/50726.pdf
linguística, agora situada no contexto da produção textual.
Na organização do trabalho didático pelo professor, tais ativida-
des precisam se relacionar às modalidades organizativas propostas,
cabendo definir: quais práticas de análise linguística estarão vincu- SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
ladas aos projetos de leitura, escuta e produção de textos; quais RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: ENSINO FUN-
podem participar de sequências de atividades com diferentes finali- DAMENTAL: MATEMÁTICA. – 2.ED.– SÃO PAULO: SME /
dades; e quais podem se constituir como atividades independentes. COPED, 2019

Considerações gerais: reflexão e prática docente


Como ação docente principal, após análise deste material, cabe Currículo da Cidade: Ensino Fundamental: Matemática8
a cada profissional refletir sobre o que, de fato, significa inserir a
prática de análise linguística em sala de aula. Após a publicação Introdução e concepções do componente curricular
dos PCN, em 1997, estabeleceu-se que o ensino de português deve Para a atualização do Currículo de Matemática da Cidade de
enfocar a leitura e produção de textos dos mais diversos gêneros São Paulo, levou-se em consideração a formação dos estudantes
discursivos/gêneros textuais a partir dos quais a gramática, ou me- da Educação Básica e as concepções da Matemática como área do
lhor, a língua em uso deve ser ensinada, perspectiva que gerou a conhecimento, destacando suas potencialidades formativas e sua
produção de inúmeros documentos oficiais posteriores, incluindo a utilidade no cotidiano da sociedade. Nesse processo, a Matemática
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). e as outras áreas de conhecimento trouxeram contribuições para a
Tal perspectiva, historicamente, criou uma disseminação dos ampliação do desenvolvimento cognitivo dos estudantes, de ma-
conceitos de texto e gênero, muitas vezes, desarticulados dos prin-
cípios teóricos que os fundamentam na perspectiva dialógica. Por 8 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
exemplo, muitos materiais didáticos trazem as questões de gramá- Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular:
Matemática. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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neira a possibilitar-lhes a análise e a tomada de decisões para in- Ideias Fundamentais da Matemática
tervir na realidade, além de propiciar o desenvolvimento de valores O desenvolvimento do conhecimento matemático abrange um
sociais, emocionais, estéticos, éticos e científicos. conjunto de ideias fundamentais da Matemática. A figura a seguir
Essa nova proposta curricular da Cidade de São Paulo, além da mostra algumas dessas ideias, que são exploradas na Base Nacional
inclusão dos interesses dos protagonistas da Rede Municipal de En- Comum Curricular (BNCC) e também no Currículo da Cidade de São
sino, também incorporou os resultados de pesquisas internacionais Paulo.
e brasileiras na área de Educação Matemática, produzidas ao longo
dos últimos anos, visando à melhoria do processo de construção de
conhecimentos matemáticos.
Assim, consideraram-se as pesquisas em diferentes perspecti-
vas: as de âmbitos histórico-social, as de cunho cultural e tecnológi-
co, além das contribuições dos campos de formação de professores
e de organização curricular, entre outras. Ainda foram discutidas
algumas possibilidades metodológicas para o desenvolvimento do
trabalho no âmbito da Educação Matemática, como as que envol-
vem a resolução de problemas, a modelagem, o uso de tecnologias
digitais, as tarefas investigativas, os jogos e brincadeiras, a etnoma-
temática e outras.
São pesquisas que podem facilitar a aprendizagem, no que tan-
ge ao raciocínio lógico, indutivo, dedutivo e abdutivo, que possi-
bilitam análise, a formulação e a testagem de hipóteses, além de
permitir a validação de raciocínio e a construção de provas e de Algumas Ideias Fundamentais da Matemática
demonstrações matemáticas.
A Matemática é uma construção humana que envolve um con-
junto de conhecimentos associados, por exemplo, aos números, às
formas geométricas e a diversos tipos de raciocínio como dedução,
indução, estimação, aproximação, entre outros. Ajuda a resolver di-
versos tipos de problemas, muitas vezes, apresentando diferentes
soluções.
É um conjunto de ideias que permite analisar fenômenos e si- http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50629.
tuações presentes na realidade para obter informações e conclu- pdf
sões que não estão explícitas. Além disso, possibilita a obtenção de
modelos, relações, padrões e regularidades, de forma a conhecer e As ideias fundamentais destacadas na figura acima estão pre-
analisar a realidade e obter informações para tomar decisões. Sua sentes nos mais variados assuntos do componente curricular, es-
aprendizagem contribui para a formação integral dos estudantes e tabelecendo uma articulação natural entre eles ao longo de todo
seu desenvolvimento permite enfrentar os desafios que se apresen- o Ensino Fundamental. A seguir descreveremos cada uma dessas
tam na vida cotidiana de qualquer pessoa. ideias:
A Matemática desempenha um papel formativo básico, na me-
dida em que possibilita o desenvolvimento dos diversos tipos de A ideia de proporcionalidade está presente em diversos objetos
raciocínio, e outro instrumental, que é prático e visa a resolver pro- de conhecimento, como os números racionais, as razões e propor-
blemas em situações reais, sendo uma ferramenta para ser usada ções, a semelhança de figuras e outros.
em outras áreas e permitindo abordar uma grande variedade de A ideia de equivalência está presente no estudo dos números
situações. racionais, nas equações, nas áreas ou nos volumes, entre muitos
Com essa amplitude, a Matemática envolve três dimensões que outros.
se articulam e se complementam: a social, a cultural e a formal: A ideia de ordem permite a observação da organização sequen-
cial de números, de ordem de grandeza numérica e de estudos de
A dimensão social engloba a reflexão sobre a criação e o uso da sequências numéricas ou figurais.
Matemática em diferentes contextos sociais, apontando para uma A ideia de aproximação está ligada aos cálculos que não preci-
dimensão histórica e social do conhecimento matemático. sam ser exatos, às medidas, à aproximação dos números irracionais,
A dimensão cultural considera a Matemática como fruto de di- entre outros.
ferentes culturas e etnias (contagem, localização, medição, dese- A ideia de variação em Matemática se refere a alguns objetos
nhos e jogos) que permitem uma reflexão sobre a construção do de conhecimento como a variação percentual, a variação entre
conhecimento matemático. duas grandezas, o coeficiente de variação, entre outros.
A dimensão formal envolve as ideias matemáticas fundamen- A ideia de interdependência se relaciona à noção de função,
tais com a utilização de uma simbologia própria e universal, de- com relações entre grandezas numéricas ou geométricas e com am-
senvolvidas ao longo da Educação Básica, articulando-se com di- pliação e redução de figuras.
ferentes objetos de conhecimento e eixos estruturantes (Álgebra, A ideia de representação está relacionada com a simbologia
Geometria, Números etc.). matemática, mas também se apoia na linguagem oral e escrita, nas
representações icônicas (figuras, esquemas, diagramas etc.), além
Essas três dimensões estão presentes na organização de todo de representações de objetos do meio físico para indicar entes ma-
currículo: nas ideias fundamentais da Matemática, nos eixos estru- temáticos.
turantes, na organização dos objetos de conhecimento, nos obje-
tivos de aprendizagem e desenvolvimento, além dos eixos articu-
ladores.
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Essas ideias se articulam entre si, possibilitando mais integra- Com essa mudança de estratégia de ensino, o estudante passa
ção entre os conteúdos matemáticos que serão denominados neste de receptor de informações, quando vivencia o “ensino tradicional”,
documento de objetos de conhecimento. Uma possibilidade é que para agente na construção do conhecimento matemático, pois par-
a ideia fundamental de proporcionalidade seja explorada nos eixos ticipa ativamente de um ensino com foco em investigações e reso-
de medidas e de números, possibilitando uma integração intrama- lução de problemas. No entanto, essa mudança de foco é eficaz se
temática. os estudantes, além de participarem de aulas problematizadoras,
A ideia de proporcionalidade permite ainda o uso de contextos forem instigados a refletir sobre sua resolução, para validar suas
extramatemáticos, pois se encontra em várias ações do cotidiano e respostas, bem como ser capazes de propor novos problemas e for-
de outras áreas do conhecimento, como em situações de compra e mular questões.
venda, em rótulos de produtos, receitas e bulas de remédio, o que No entanto, independentemente do tipo de atividade proposta,
contribui para essas conexões. a falta de compreensão por parte do estudante pode ser responsá-
Essa mesma indicação poderia ser feita com outras ideias mate- vel pelas suas dificuldades quando busca a solução. A forma mecâ-
máticas fundamentais como é o caso da equivalência que se obser- nica e sem sentido na tentativa de solucionar uma atividade pode
va, por exemplo, na representação dos números racionais, na ob- indicar um processo de aprendizagem do estudante por memori-
servação de áreas de superfície de figuras diferentes, nas medidas, zação, sem conexão com as dimensões matemáticas nos âmbitos
especialmente quando se utilizam diferentes unidades, ou mesmo social, cultural e formal.
no trabalho com as equações, possibilitando conexões tanto intra-
Mas é importante selecionar atividades que permitam reflexão
matemática como extramatemática.
e ampliação do pensamento matemático, uma vez que não basta
apenas a manipulação de materiais e de instrumentos tecnológicos,
Direitos de Aprendizagem de Matemática
pois o mais importante é a natureza da atividade matemática. Em
Os direitos de aprendizagem visam à garantia do acesso e à
apropriação do conhecimento de todas as crianças e jovens, a fim vista disso, a seleção de atividades constitui um dos aspectos essen-
de se construir uma sociedade mais justa e solidária. Nesse sentido, ciais do trabalho do professor.
a escola deve incentivar a participação dos estudantes em situações Há uma ideia comum na sociedade de que a Matemática tem
que promovam a reflexão, a investigação e a pesquisa, a resolução um papel fundamental no desenvolvimento do raciocínio. Os pro-
de problemas e espaços onde eles possam representar e vivenciar cessos de raciocínio (dedutivo, indutivo, abdutivo, relacional etc.)
suas experiências e ressignificá-las a partir da construção de novos são usados na realização de diferentes atividades matemáticas:
conhecimentos.
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do Currículo O raciocínio dedutivo é fundamental em Matemática, pois par-
de Matemática da Cidade de São Paulo foram elaborados revisitan- te de um problema, formula hipóteses, faz a verificação dessa hipó-
do os princípios elencados nos documentos Direitos de aprendiza- tese, por meio de observação ou de experimentação e, a partir des-
gem dos ciclos interdisciplinar e autoral (2016), Elementos Concei- ses elementos, produz os resultados explicitados em leis e teorias.
tuais e Metodológicos para Definição dos Direitos de Aprendizagem O raciocínio indutivo também ocupa um papel importante nes-
e Desenvolvimento do Ciclo de Alfabetização (2012) e nas Diretrizes sa área do conhecimento. Parte de casos particulares e, com base
Curriculares Nacionais (2013). na observação e experimentação, vai formulando hipóteses explica-
tivas para fazer generalizações.
Ensinar e aprender Matemática no Ensino Fundamental O raciocínio abdutivo é o que possibilita o levantamento de
Na construção do Currículo da Cidade para Matemática, uma conjecturas e a produção do novo (novas ideias e conhecimentos).
das preocupações foi propor reflexões sobre diferentes estratégias Utilizamos esse tipo de raciocínio em resoluções de problemas, in-
de ensino de Matemática em função dos estudantes da atualida- vestigações matemáticas, desafios e jogos.
de, de forma compatível com os processos de aprendizagem dessas Há ainda outro tipo de raciocínio, o relacional, comum a alguns
crianças e jovens que envolvem o significado que eles atribuem ao tipos de atividades, pois envolve o estabelecimento de relações en-
que foi ensinado. Ensinar e aprender Matemática, nos dias atuais, tre as ideias fundamentais (equivalência, ordem, semelhança, pro-
ganha uma nova dimensão. porcionalidade etc.) e objetos do conhecimento matemático ou não
Leva em conta o que o estudante já conhece, ou seja, os co- matemático.
nhecimentos prévios e as experiências que possui fora da escola.
À escola cabe articular esses tipos de conhecimento e experiência
Aprende-se a raciocinar colocando em prática o seu raciocínio
que o estudante já possui àqueles que irá aprender, de forma que
ou analisando o raciocínio de outros. Por esse motivo, é importante
possa alcançar os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
que o professor selecione tarefas apropriadas para os estudantes de
propostos para cada ano de escolaridade.
Sabemos que o “ensino tradicional”, fortemente utilizado até cada ciclo, que sejam matematicamente ricas e que promovam de-
o final do século passado, não é suficiente para enfrentar as de- bate, participação, justificativas e reflexões. Os contraexemplos são
mandas sociais que emergem da sociedade atual. Mudanças nesse importantes e oferecem oportunidade aos estudantes de identifi-
sentido podem decorrer de pesquisas na área de Educação Mate- carem casos particulares e testarem a validade de generalizações.
mática, principalmente as que focalizam a resolução de problemas O documento Orientações Curriculares e Proposição de Expec-
e as investigações. tativas de Aprendizagem, publicado pela SME em 2007, destaca a
Algumas dessas pesquisas mostram que, na resolução de pro- importância da comunicação em todas as áreas do conhecimento.
blemas ou de tarefas investigativas, os estudantes trabalham a par- A comunicação nas aulas de Matemática, até pouco tempo, era
tir de problematizações, ou seja, de uma variedade de situações monopolizada pelo professor, que centralizava as perguntas e as
que lhes permitem enfrentar com mais tranquilidade e autonomia respondia, não dando chance aos estudantes de se manifestarem.
as demandas sociais e participar ativamente da sociedade. A situação vem se modificando nos últimos anos. Quando se
fala em comunicação nos dias atuais, leva-se em conta o fato de
os estudantes comunicarem ideias matemáticas, oralmente, por es-
crito ou de outra forma e compreenderem as ideias matemáticas
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
veiculadas por outros. A comunicação pressupõe a representação O professor tem, nessa trajetória, um papel importante, uma
dos modos matemáticos de pensar expressos em uma linguagem vez que será ele quem fará a escolha das tarefas que proporcio-
adequada à comunicação. narão aos estudantes, possibilidades de aprendizagem. Além da
O desenvolvimento da comunicação dos estudantes depende realização das tarefas, o professor deve prever momentos para a
do objetivo que o professor utiliza em suas aulas. As comunicações discussão dos resultados encontrados, de maneira que os estudan-
oral e escrita se complementam. A comunicação oral permite mais tes possam confrontar seus resultados com os dos colegas, argu-
oportunidade de interação entre os estudantes e entre eles e o pro- mentando sobre seus caminhos de resolução e construindo, a partir
fessor, enquanto a comunicação escrita favorece uma sistematiza- desse percurso, conceitos e representações pertinentes à área.
ção de ideias e reflexão sobre elas. No entanto, é por meio da comu- Outro aspecto que merece destaque pela sua importância diz
nicação oral que se realiza o processo de negociação de significados respeito à atitude de ouvir, permitindo que o colega possa concluir
matemáticos entre o professor e os estudantes, entre os próprios o raciocínio e seu processo de argumentação. Assim, as discussões
estudantes e entre os estudantes e a comunidade escolar. sobre as ideias matemáticas que foram explicitadas podem ser de-
Além da comunicação oral e escrita na língua materna, a Mate- batidas.
mática necessita de representações especiais simbólicas e gráficas As situações a serem propostas aos estudantes devem levar em
reconhecidas mundialmente. O conjunto de símbolos, gráficos e re- consideração a exploração inicial, a consolidação ou o aprofunda-
gras que representam uma estrutura matemática deve responder mento de conceitos, envolvendo contextos da própria Matemática,
ao caráter sistêmico dessa área. O uso dessa simbologia, de caráter contextos externos a ela ou mesmo situações vivenciadas no coti-
universal, possibilita socializar o conhecimento matemático. diano pelos estudantes. Seria desejável que as situações propostas
No entanto, é importante que as representações sejam as mais
fossem realistas, sem artificialidade, de forma a emergir os conhe-
variadas possíveis, por exemplo, o número cinco pode ser represen-
cimentos prévios dos estudantes de modo que o professor possa
tado numericamente como um ponto de uma reta numerada, como
assim definir o percurso de ensino, minimizando os obstáculos que
a metade de 10, como resultado de uma operação ou mesmo com
venham a constituir-se no percurso de aprendizagem.
uma representação figural. Assim, os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento focalizam o uso de representações fracionárias e Além das situações contextualizadas, advindas do cotidiano ou
decimais de um mesmo número racional, das representações dos de outras áreas de conhecimento, é preciso que os estudantes tam-
mesmos dados em tabelas e gráficos ou, ainda, de uma equação em bém vivenciem atividades em contextos intramatemáticos, sejam
suas representações algébricas e gráficas. numéricos, algébricos, geométricos, probabilísticos ou estatísticos,
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento exploram bem como em contextos lúdicos de aprendizagem matemática por
diferentes representações para conceitos e procedimentos mate- meio de jogos e brincadeiras.
máticos, permitindo discutir diversas facetas e propriedades de um A capacidade de resolver problemas é tema que sempre deve
mesmo objeto matemático. estar presente no trabalho, pois promove o raciocínio e a comu-
Além disso, no Currículo da Cidade para Matemática há uma nicação matemática. Os problemas escolhidos devem possibilitar
preocupação com o letramento matemático, no sentido proposto análise e reflexões dos estudantes, sejam sobre suas soluções ou
pela BNCC (2017) e pelo Programme for International Student As- as dos colegas.
sessment (PISA) – Programa Internacional de Avaliação de Estudan- Outro aspecto da resolução de problemas é o cuidado com os
tes. Segundo a Matriz do PISA (2012), o letramento matemático é raciocínios dos estudantes. Eles devem ser valorizados, explicitados
a capacidade individual de interpretar a Matemática em uma varie- oralmente e por escrito para que não só o professor os compreen-
dade de contextos, o que inclui raciocinar matematicamente, utili- da, mas também seus colegas de turma, permitindo que a lingua-
zando conceitos e procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas gem matemática se desenvolva com maior rigor e clareza.
para descrever, analisar e predizer fenômenos. As representações matemáticas são um fator importante no
Dessa forma, auxilia os estudantes ao longo de sua escolaridade trabalho com os conceitos matemáticos. Sempre que possível, de-
a irem reconhecendo o papel que a Matemática exerce no mundo ve-se apresentar e discutir mais de uma forma de representação.
e a se tornarem cidadãos construtivos, engajados e reflexivos que Isso possibilita que os estudantes tenham contato com diferentes
possam argumentar e decidir com fundamentos. registros, mostrando, dessa maneira, que existe uma variedade de
Para a BNCC (2017), o letramento matemático é definido como ideias matemáticas que podem ser expressas.
um conjunto de competências e habilidades de raciocinar, repre- Além disso, cada uma delas guarda a interpretação e o cami-
sentar, comunicar e argumentar matematicamente que favorecem nho percorrido por quem a desenvolveu. A exploração de conexões
o estabelecimento de conjecturas, a formulação e a resolução de
permite que os estudantes percebam que os conhecimentos ma-
problemas em contextos variados, utilizando conceitos, procedi-
temáticos se relacionam entre si, ajudando-os a estabelecer rela-
mentos, fatos e ferramentas matemáticas.
ções entre os diferentes conhecimentos matemáticos, por exemplo,
Segundo o mesmo documento, o letramento matemático per-
quando resolvem um problema que utiliza a linguagem algébrica
mite aos estudantes identificar os conhecimentos matemáticos fun-
damentais para a compreensão e atuação no mundo atual e per- em situações geométricas.
ceber o caráter do jogo intelectual da Matemática como elemento Outro aspecto de relevância no planejamento das atividades
que permite o desenvolvimento do raciocínio lógico e crítico, in- pelo professor diz respeito à utilização de diferentes recursos. Eles
centivando a investigação e o prazer de pensar matematicamente. podem tornar a aula mais atrativa e permitem que o estudante te-
nha maior interesse pelo conteúdo trabalhado, contribuindo com a
Orientações para o trabalho do professor construção de conceitos matemáticos.
A aprendizagem da Matemática decorre do trabalho realizado Entre os diferentes recursos, podemos destacar o uso da cal-
pelo estudante a partir das tarefas que são propostas pelo profes- culadora, principalmente quando os procedimentos de cálculo
sor. Os estudantes, ao serem expostos a diversos tipos de experiên- não constituem o objeto de conhecimento, o uso de instrumentos,
cias matemáticas, principalmente em situações que suscitem inves- como régua, compasso e transferidor para medir ângulos, ou ainda
tigações, podem vivenciar de forma compreensiva procedimentos jogos como o Tangram que possibilitam discutir algumas proprieda-
matemáticos. des geométricas das figuras que o compõem.
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O trabalho com o cálculo mental deve ser desenvolvido desde textos a respeito da gestão de sala de aula, de jogos e brincadeiras,
o 1º ano do Ciclo de Alfabetização, pois permite ao estudante re- de processos matemáticos e das conexões extramatemática, pos-
conhecer, comparar, quantificar, compor ou decompor números, sibilitando uma articulação entre os objetivos de aprendizagem e
ampliando a sua capacidade de relações numéricas. Situações que desenvolvimento e as práticas de sala de aula.
envolvam dinheiro, tempo, massa ou distância, entre outros, tam- Cabe destacar que os textos do documento apresentam mo-
bém guardam uma forte relação com os números. mentos de reflexão para os professores e, com esse tipo de abran-
O cálculo mental possibilita que os estudantes compreendam as gência, podem subsidiar a Jornada Especial Integral de Formação -
propriedades das operações e apropriem-se dos fatos fundamen- JEIF, as horas-atividade dos professores e reuniões pedagógicas. Os
tais das operações, além de fazer uso de registros intermediários textos podem ser escolhidos pelo coordenador ou pelos próprios
mais adequados às situações propostas. As discussões sobre as professores, de acordo com o Eixo de interesse ou com o tipo de
estratégias de cálculo mental devem constituir-se em um trabalho formação do professor (polivalente ou especialista), e podem ser
sistemático no ensino, uma vez que possibilitam o desenvolvimento lidos e trabalhados por professores de todo o Ensino Fundamental.
de estratégias variadas de cálculo e ajudam o estudante a adquirir Os coordenadores devem propor aos professores leituras e re-
maior familiaridade com os algoritmos das operações e a fazer uma flexões interdisciplinares, o que certamente contribuirá para a me-
análise mais razoável dos resultados encontrados. lhoria da qualidade do ensino de Matemática e das demais áreas
Para a aprendizagem da Matemática, é importante que se di- do conhecimento.
versifique a forma de trabalho dos estudantes em sala de aula. Eles O Caderno de Orientações Didáticas de Matemática foi dividido
devem ler, interpretar e resolver problemas individualmente ou em em duas partes. Na parte I, o documento explora a gestão da sala
pares. de aula, momento importante da prática do professor que precisa
Nos trabalhos em pares, podem ser utilizadas pequenas tarefas selecionar o que vai ensinar; fazer um diagnóstico da turma para
ou projetos, pois permitem que eles troquem informações entre si compreender o que os estudantes já sabem e o ponto de partida
e esclareçam dúvidas. Já o trabalho em grupo pode ser utilizado, para seu trabalho; organizar a classe; definir estratégias de ensino;
principalmente no desenvolvimento de projetos, em que a divisão explorar diferentes representações matemáticas; pensar nas inter-
de tarefas seja pertinente. venções e na avaliação.
Nesse sentido, os estudantes devem conhecer os objetivos, a Além disso, nessa parte do documento há um texto que explora
estrutura do projeto e organizar um cronograma de tarefas, dei- as conexões extramatemática e que possibilita o desenvolvimento
xando clara a responsabilidade de cada um no desenvolvimento do de projetos interdisciplinares que são propostos no Currículo da Ci-
trabalho, de modo a criar um espírito colaborativo. O trabalho co- dade de Matemática com foco nos Objetivos de Desenvolvimento
letivo, sempre muito importante, permite momentos de discussão
Sustentável - ODS.
das tarefas, a sistematização de conhecimentos e a organização de
No Eixo Números, tradicionalmente mais focalizado na prática
ideias matemáticas.
dos professores, o destaque dos textos é para os campos numéricos
e para a resolução de problemas. Os textos envolvem o estudo das
O presente documento, em sua integralidade, encontra- operações com Números Naturais, racionais e inteiros, além dos di-
-se disposto no seguinte endereço eletrônico: ferentes tipos de cálculo (exato, aproximado, usando procedimen-
tos de cálculo mental, escrito e calculadora). A ideia é fortalecer
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
discussões sobre os significados e usos dos diferentes tipos de nú-
les/50629.pdf
meros e das operações, a compreensão das relações numéricas, das
operações e de suas propriedades.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- Com relação aos cálculos, a ideia do texto é valorizar os proces-
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCU- sos de cálculo baseados em propriedades dos números e das opera-
LO DA CIDADE: MATEMÁTICA – VOLUME 1. – 2. ED. SÃO ções, a aprendizagem com compreensão dos algoritmos e dos fatos
PAULO: SME / COPED, 2019 fundamentais, o cálculo mental e as estimativas. Os textos estão
voltados a algumas ideias fundamentais da Matemática como apro-
ximação, proporcionalidade, ordem e representação, entre outras.
No Eixo Álgebra, procurando desmistificar o ensino de Álgebra
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade: Matemática –
volume 19 apenas como manipulação simbólica, o documento apresenta dois
O objetivo deste documento é apresentar algumas reflexões, textos que discutem o pensamento algébrico. O primeiro se refere
discussões e sugestões com base em pesquisas que focalizam o en- aos envolvimentos iniciais das crianças com a Álgebra e à iniciação
sino e a aprendizagem em Matemática com a finalidade de subsi- do pensamento algébrico nos primeiros anos de escolaridade, sem
diar os professores que ensinam Matemática na Rede Pública Muni- que necessariamente sejam utilizadas notações algébricas. O estu-
cipal em sua prática de sala de aula. Parte-se do princípio de que os do da Álgebra traz uma forma de pensar sobre situações matemáti-
estudos e pesquisas de Educadores Matemáticos que visam à me- cas que envolvem o processo matemático de generalização, tendo
lhoria do ensino e da aprendizagem da área podem proporcionar por base a observação e análise de dados numéricos, padrões, re-
práticas mais consistentes e que efetivamente produzem melhores gularidades ou relações matemáticas, e expressa essas generaliza-
resultados nas aprendizagens dos estudantes. ções usando recursos diversos, como a linguagem natural, diagra-
Essas discussões se fazem necessárias, pois subsidiam a imple- mas, tabelas, fórmulas ou símbolos matemáticos.
mentação da atualização curricular da Rede. Essa atualização pos- O segundo texto discute as funções da álgebra e é destinado
sibilita um trabalho inovador em sala de aula, mas, ao mesmo tem- aos Ciclos Interdisciplinar e Autoral do Ensino Fundamental. Discute
po, traz muitos desafios aos professores. Essa proposta apresenta ainda alguns “erros” cometidos por estudantes apontados na litera-
textos de orientação didática para cada Eixo Estruturante, além de tura e outros identificados em protocolos de estudantes do 7º ano.
Nesse Eixo, os textos focalizam algumas ideias fundamentais da Ma-
9 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria temática como a equivalência, a proporcionalidade, a variação, a
Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática – volume
1. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
interdependência, a representação.
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No Eixo Geometria, os textos focalizam o desenvolvimento do a aprendizagem aos estudantes, é uma preocupação relativa à ges-
pensamento geométrico. O primeiro apresenta aspectos teóricos tão da aula que, por sua vez, requer do professor constante reflexão
que possibilitam a análise de desenhos de estudantes sobre per- sobre a sua prática.
cursos e localizações, no âmbito das relações espaciais. O segundo O valor epistemológico da prática e valoriza o conhecimento
destaca alguns estudos sobre o pensamento geométrico e apresen- que nasce da atividade profissional de forma consciente e refletida.
ta elementos e características de figuras geométricas espaciais e Portanto, compreendemos que a gestão da aula envolve a:
alguns protocolos de estudantes em atividades, com foco na evolu-
ção do pensamento geométrico, a partir de objetivos de aprendiza- Reflexão na ação: acontece durante o momento em que a práti-
gem e desenvolvimento de cada ano de escolaridade sobre figuras ca é executada, o que possibilita ao professor intervir e reformular o
espaciais. Os dois últimos textos desse Eixo se referem à geometria percurso da sua própria ação no instante em que acontece;
plana. Reflexão sobre a ação: momento que exige do professor o dis-
Um deles focaliza as figuras geométricas planas, elementos, tanciamento da sua prática de modo a reconstruí-la e analisá-la
características e algumas possíveis classificações e outro envolve a após a sua concretização;
geometria das transformações, tema importante para a aprendiza- Reflexão sobre a reflexão na ação: momento de valor epistêmi-
gem de ideias fundamentais da Matemática, como a congruência co que contribui para a progressão do desenvolvimento profissional
e a semelhança, além de outras ideias matemáticas fundamentais do professor, adquirindo autonomia para determinar ações futuras,
veiculadas nos textos, como a equivalência, a representação. a compreender problemas e descobrir novas soluções.
Na parte II, que inicia no Eixo Grandezas e Medidas, há dois
textos, um que aborda os conceitos de grandeza e de medida, ex- Como podemos perceber, a gestão da aula requer do professor
plorando grandezas usualmente utilizadas no cotidiano e que tra- a reflexão contínua sobre a sua prática, o que envolve uma série
dicionalmente são trabalhadas no Ensino Fundamental. Destaca de fatores que influenciam os diferentes momentos da aula, sendo
aspectos dos sistemas de medidas, transformações e relações entre eles: o antes, que envolve o planejamento; o durante, que se refere
unidades e entre grandezas. Discute algumas orientações didáticas. à aula propriamente dita; e o depois, que compreende a avaliação
O segundo texto desse Eixo envolve duas grandezas geométri- da execução do planejamento e a tomada de decisão de ações futu-
cas importantes: área e perímetro, explorando conceito, relações ras. Alguns desses fatores são discutidos com maior profundidade
entre elas, algumas propostas didáticas e algumas pesquisas que neste texto.
apontam dificuldades de estudantes com essas grandezas. Nesse
Eixo, as ideias fundamentais da Matemática vinculadas aos textos As diferentes modalidades de planejamento
são a variação, a representação, a equivalência, a aproximação, a O planejamento está presente nas nossas atividades diárias.
interdependência, a proporcionalidade. Para viajar, adquirir um bem material, controlar as despesas de uma
No Eixo Probabilidade e Estatística, o documento explora al- casa, dentre outros objetivos, é preciso planejar. O planejamento é
gumas noções de Estatística, com foco na leitura, interpretação e importante para nossas vidas, assim como para a gestão da aula. Ele
construção de tabelas e gráficos. O texto de Combinatória focaliza é essencial para o professor, é o que dá segurança para um trabalho
todos os significados (“produto cartesiano”, arranjos, combinações didático reflexivo, organizado e estruturalmente bem articulado.
e permutações) explorados como ideias sem uso de fórmulas e O planejamento é um processo mental que envolve análise, re-
apresenta exemplos que podem ser desenvolvidos nos Ciclos Inter- flexão e previsão. Não se limitando à abstração, planejar consiste
disciplinar e Autoral. em registrar: o que pretendemos fazer; como vamos fazer e o que e
O texto de Probabilidade apresenta alguns tipos de abordagem como analisaremos o que propomos, a fim de averiguar se o objeti-
possíveis desse tema e apresenta algumas atividades que podem vo foi atingido ou não. Embora se apresente como uma tarefa sim-
ser desenvolvidas com estudantes desde o Ciclo de Alfabetização. ples, planejar é um momento complexo que envolve a antecipação
Nesse Eixo as ideias fundamentais da Matemática estão associadas e organização de todas as ações docentes.
principalmente à variação, à interdependência, à ordem, à repre- Ao planejar a aula, o professor faz a escolha do objetivo de
sentação, à equivalência. aprendizagem; verifica o que os estudantes precisam saber para
realizar a atividade; antecipa dúvidas que poderão surgir durante a
Gestão da Sala de Aula - A importância da gestão da aula de aula e levanta os encaminhamentos possíveis para saná-las; pensa
Matemática na melhor organização da turma para potencializar as discussões;
Este texto aborda uma temática muito importante: a gestão da faz a previsão do tempo para a sua realização e define critérios de
aula de Matemática. Discute a qualidade do tempo didático a partir avaliação para verificar o alcance do objetivo de aprendizagem pro-
da contribuição das modalidades organizativas de planejamento, a posto. Ou poderíamos dizer que sem o planejamento, as ações de
gestão democrática da aula e o trabalho com agrupamentos pro- ensino são improvisadas, não havendo parâmetros para analisar o
dutivos como estratégias que podem contribuir para o processo de avanço das aprendizagens dos estudantes.
ensino e aprendizagem. Para isso, como sabemos, devem ser pen- O planejamento é o princípio de todo o trabalho que acontece
sadas e planejadas pelo professor com antecedência e intenciona- na escola e na sala de aula, num movimento contínuo e interdepen-
lidade. dente em que se planeja, se registra e se avalia. Em se tratando de
A gestão da aula, mesmo para um professor experiente, é per- planejamento, há uma questão fundamental a ser enfrentada no
meada por conflitos e indagações. Afinal, embora seja imprescin- trabalho cotidiano do professor: o tempo.
dível, nem mesmo um bom planejamento garante plenamente ao O tempo, que em geral é sempre escasso, carece da necessi-
docente a antecipação de todos os imprevistos possíveis, uma vez dade de qualificá-lo didaticamente. O tempo deve ser organizado
que a imprevisibilidade é uma característica que se faz presente no de forma flexível, possibilitando a retomada e aprofundamento dos
processo de ensino. objetos de conhecimento, ou seja, dos conteúdos. Além disso, va-
As questões apresentadas no quadro são algumas das inquieta- riar a forma de organizar o trabalho pedagógico pode criar oportu-
ções que aparecem com frequência e que permeiam o trabalho do nidades diferenciadas para cada estudante, o que representa um
professor. Gerenciar esses conflitos, com o intuito de proporcionar ganho significativo para a sua formação.
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A partir dessa consideração, ressaltamos a importância do tra- diária, considerando a natureza dos objetos de conhecimento, dos
balho com as modalidades organizativas. As modalidades organi- objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, dos objetivos de de-
zativas se referem às diferentes maneiras que o professor pode or- senvolvimento sustentável e da Matriz de Saberes.
ganizar o seu tempo didático. Trata-se dos variados “processos de A seguir apresentamos a discussão sobre três aspectos relevan-
organização do trabalho pedagógico”. tes que interferem diretamente no desenvolvimento da aula e que,
A seguir, contemplamos algumas dessas modalidades apresen- de alguma maneira, podem auxiliar o professor em sua prática, re-
tando as suas definições: ferimo-nos à gestão democrática da aula, ao trabalho com agrupa-
mentos produtivos e à organização de uma rotina de trabalho para
→ Atividades permanentes o professor:
A atividade permanente é um trabalho regular, diário, semanal
ou quinzenal que objetiva uma familiaridade maior com um deter- → A gestão democrática da aula
minado conteúdo, de modo que os estudantes tenham a oportuni- A sala de aula, um ambiente propício à interação, cooperação,
dade de conhecê-lo e ampliá-lo. Pode-se afirmar que as atividades cidadania, respeito, igualdade e, principalmente, à aprendizagem,
permanentes possibilitam um contato assíduo com o objeto de co- muitas vezes se apresenta como um verdadeiro espaço de conflitos,
nhecimento. cabendo ao professor garantir a ordem nas relações entre professor
As atividades permanentes são importantes para o desenvolvi- e estudantes e entre estudantes e estudantes.
mento de procedimentos, de hábitos ou de atitudes. É o caso de Diante dessas situações é preciso ter discernimento para lidar
momentos rotineiros em que o Currículo da Cidade propõe em seus com a complexa heterogeneidade do grupo. Concentrar a manu-
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento: consulta ao calen- tenção da ordem somente na figura do professor pode tornar-se
dário; uso do quadro numérico e do quadro de valor posicional; ro- para os estudantes uma obrigação imposta e não incorporada. Nes-
das de recitação numérica; ditados em que se exijam a leitura e a
se sentido, propomos o trabalho a partir da gestão democrática da
escrita dos números; apresentação de desafios e de situações-pro-
aula.
blema; trabalho com o cálculo mental, dentre outros que permeiam
Logo no início do ano é importante estabelecer alguns combi-
todos os anos do Ensino Fundamental.
nados com a turma. Os combinados se constituem princípios, ou
regras, incluindo o contrato didático que deve ser estabelecido en-
→ Atividades sequenciais
tre os próprios estudantes e entre os estudantes e o professor, para
As atividades sequenciais, pressupõe um trabalho pedagógico
que a sala de aula se configure como um espaço onde as relações
organizado em uma determinada ordem, durante um dado perío-
sociais sejam saudáveis, possibilitando um ambiente propício para
do estruturado pelo professor. Constitui-se em uma modalidade de
o convívio e para o desenvolvimento das aprendizagens.
planejamento mais orgânica: o conteúdo que vem na sequência de-
pende do que já foi realizado (e aprendido) anteriormente. Os combinados possuem naturezas diferentes: os combinados
As atividades sequenciais contribuem para cumprir objetivos compartilhados com o grupo que podem ser feitos sob o ponto de
didáticos variados, por isso, são compostas por atividades coletivas vista da organização da classe, distribuição de materiais, formação
e/ou individuais. As atividades sequenciais possibilitam, por exem- de grupos, dentre outros; e os combinados institucionais que não
plo, que o professor faça o planejamento para sanar dificuldades podem ser negociáveis, como é o caso do estabelecimento de ho-
específicas dos estudantes sobre um determinado objeto de conhe- rários para início da aula ou da tolerância às agressões, sejam elas
cimento. verbais ou mesmo físicas, para isso não há negociação.
A gestão democrática da aula contribui para que o professor
→ Atividades ocasionais conduza melhor os momentos em que é necessário trabalhar co-
As atividades ocasionais são aquelas que não foram planejadas letivamente. Por exemplo: ao iniciar um assunto novo ou objeto de
a priori, mas que fazem sentido num determinado momento. Esta conhecimento ou identificar as dúvidas mais frequentes, sendo ne-
modalidade pode estar relacionada aos interesses do professor ou cessário esclarecê-las no coletivo. Em momentos expositivos como
dos próprios estudantes. esses, o professor pode compartilhar o seu papel com os estudan-
Os jogos, a visita a um determinado local, a exploração de dife- tes pedindo-lhes, por exemplo, para que socializem os seus regis-
rentes espaços da escola ou de materiais específicos por meio de tros sobre os problemas propostos e explicitem e argumentem so-
oficinas e, até mesmo, a discussão de um tema vigente contemplan- bre os procedimentos de resolução ou cálculos desenvolvidos para
do as conexões extramatemática são alguns exemplos de atividades solucionar o problema.
ocasionais. Aprender a ouvir o outro e respeitar a sua vez de falar são habili-
dades que devem ser desenvolvidas também nas aulas de Matemá-
Projetos temáticos tica. Iniciar com uma pesquisa sobre o que já sabem sobre o tema
O projeto temático é uma modalidade organizativa que pode é sempre uma forma adequada de fazer a gestão do conhecimento.
ser planejada num contexto macro (da escola) e/ou micro (sala de A gestão democrática é um caminho que pode favorecer a in-
aula). Trata-se de um planejamento pedagógico mais complexo se teração e a troca entre os estudantes, retirando do professor o sta-
comparado às demais modalidades organizativas. tus de único detentor do saber. Se quisermos dar voz às crianças e
Existem algumas características específicas e consideráveis que adolescentes nas aulas de Matemática, é importante incentivá-los a
o distingue, sendo elas: o produto final que caracteriza o seu encer- socializar com o grupo suas ideias.
ramento (livro, jornal, sarau, vídeo, a organização de uma mostra Ao falar sobre o seu próprio raciocínio, cada um deles terá a
cultural ou excursão), o dimensionamento do tempo que requer um oportunidade de rever e reorganizar o caminho percorrido para en-
período considerável (de um mês ou mais) e a interdisciplinaridade contrar a resposta; poderá argumentar, compartilhar e comunicar
que envolve as conexões intramatemática e extramatemática. hipóteses, conjecturas, dúvidas e convicções. O silêncio não favo-
O planejamento ganha importância como princípio da gestão da rece o espaço para falar e o professor tem a oportunidade de de-
aula, pois além de permitir que o professor antecipe e reflita sobre mocratizar o acesso à construção do conhecimento matemático e
as suas ações, também possibilita variar a sua organização didática dos saberes expressos na Matriz de Saberes do Currículo da Cidade.
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→ Agrupamentos produtivos mente, como algum canto com livros ou jogos matemáticos já co-
Como devo organizar a turma para a realização de uma determi- nhecidos pelos estudantes, de modo que o professor possa dedicar
nada atividade? Esta pergunta é feita com frequência pelo profes- sua atenção àqueles que apresentam dificuldades.
sor. Somente o professor que conhece bem a sua turma sabe qual Quando há situações que envolvem questionamentos dos es-
é o nível de conhecimento e a personalidade dos estudantes, o que tudantes o professor pode anotar a dúvida e dizer que num outro
permite agrupá-los para que a atividade seja mais produtiva. momento irá retomá-la. Verifique a possibilidade de conversar so-
A organização da sala de aula por agrupamentos produtivos bre a dúvida do estudante com outro professor ou com a coorde-
depende do objetivo de aprendizagem e da atividade que se pre- nação pedagógica, isso ajuda a levantar mais informações, ter mais
tende desenvolver. As atividades realizadas em duplas, trios ou clareza e dar uma devolutiva adequada à faixa etária e com maior
grupos permitem que o professor circule mais na sala, fazendo re- confiança.
gistros e mapeando as dúvidas mais frequentes. Mas, para compor Um exemplo dessa parceria entre docentes pode ocorrer prin-
os agrupamentos, é fundamental que se pense em dois critérios: cipalmente na docência compartilhada do Ciclo Interdisciplinar. Ou-
o primeiro diz respeito aos diferentes níveis de conhecimento dos tro ponto importante é fazer um registro que possa ser analisado
estudantes que devem ser próximos e o outro se refere ao perfil das posteriormente, verificando, por exemplo, se essa dúvida poderia
relações sociais dos integrantes que irão compor esse grupo. ter sido antecipada no planejamento, além de considerar nas re-
O diagnóstico é um caminho para identificar os níveis de conhe- flexões o que deu certo e o que não foi tão bom, pensando nos
cimento dos estudantes e os seus estilos cognitivos. Os instrumen- motivos que o levaram àquele resultado.
tos diagnósticos permitem que o professor tenha mais clareza so-
bre os conhecimentos que cada estudante já possui, seus processos → Rotina de trabalho para o professor
internos de aprendizagem e o que precisa ser aprendido. A rotina de trabalho para o professor nada mais é que a orga-
O acompanhamento das aprendizagens pode ser feito de várias nização do tempo didático, pensada com antecedência no planeja-
formas, servindo-se de diferentes instrumentos como fichas de ob- mento semanal ou quinzenal, de maneira a otimizar as aprendiza-
servação que permitam ao professor, por exemplo, ver a evolução gens dos estudantes. Nessa organização devem ser incluídos além
da apropriação da escrita numérica ou mesmo a ampliação da or- dos objetos de conhecimentos, os procedimentos matemáticos que
dem de grandeza do sistema de numeração decimal pelos estudan- permitam a ampliação dos conhecimentos dos estudantes de re-
tes ou a organização de um portfólio para observar se os estudantes presentar, relacionar e operar, resolver problemas, investigar e co-
se apropriaram dos significados de comparação e composição na municar as ideias matemáticas que estão desenvolvendo ao longo
resolução de problemas no campo aditivo. das atividades planejadas.
Assim, para cada objeto de conhecimento, o professor pode or- Nesse trabalho de organização do tempo didático estarão pre-
ganizar um instrumento adequado para acompanhar o processo de sentes:
aprendizagem dos estudantes e verificar os diferentes níveis entre
eles para formar os agrupamentos produtivos, o que pode permi- ▪ A leitura e escrita de números de diferentes grandezas e de
tir também que os próprios estudantes acompanhem o avanço de diferentes campos numéricos;
seus conhecimentos. Por meio dos agrupamentos produtivos, as ▪ O trabalho com a resolução de problemas no campo aditivo e
dúvidas que ocorrem durante a realização da atividade podem ser multiplicativo;
sanadas com os próprios companheiros de grupo ou discutidas no ▪ O trabalho com diferentes tipos de cálculo: mental, escrito,
coletivo, se forem frequentes nos vários agrupamentos. por arredondamento e aproximações, incluindo a sistematização
É importante que o professor circule pelos grupos, fazendo in- de algoritmos envolvendo adição, subtração, multiplicação, divisão,
tervenções mais pontuais, questionando procedimentos utilizados, potenciação, radiciação;
fazendo novas perguntas, propiciando novas discussões entre os es- ▪ O desenvolvimento de atividades com as unidades de medi-
tudantes. O professor, ao andar pela classe, também pode perceber da: tempo, comprimento, massa, volume, área, perímetro, entre
se há agrupamentos em que as discussões não estão acontecendo outras;
em torno da atividade proposta. Caso isso ocorra, é necessário a ▪ O trabalho com a geometria, incluindo atividades que possam
retomada do objetivo da atividade, recuperando o foco. ampliar o conhecimento espacial dos estudantes, tanto no que se
A rotina da organização da turma em diferentes agrupamentos refere à movimentação e localização de pessoas no espaço, quanto
pode aos poucos tornar o espaço da sala de aula em um ambiente à identificação das características das figuras geométricas;
colaborativo, respeitoso e de confiança entre os estudantes, onde ▪ O trabalho com a álgebra de maneira que os estudantes pos-
as dúvidas levantadas sejam objeto de reflexão e de aprendizagem. sam desenvolver o pensamento algébrico a partir de modelos ma-
Existem inúmeras possibilidades de encaminhamentos, uma delas é temáticos que permitam a compreensão, representação e análise
que os estudantes que concluem a atividade possam ajudar outros de relações quantitativas de grandezas;
colegas que apresentam dificuldade na sua realização. ▪ O desenvolvimento de atividades que ampliem o pensamento
É preciso deixar claro que eles podem ajudar, mas não dar a estatístico e probabilístico dos estudantes, de maneira que possam
resposta pronta e nem fazer a atividade pelos colegas. Ajudar um organizar pesquisas, coletando dados, organizando-os, analisan-
colega de classe permite ao estudante se organizar para fazer per- do-os e produzindo textos que mostrem a sua posição em relação
guntas, questionar os encaminhamentos feitos por outros, ajudar ao que analisaram, além de estudarem os fenômenos envolvendo
na indicação de um procedimento de cálculo ou mesmo na verifica- incerteza, utilizando para isto ferramentas do cálculo matemático.
ção de um resultado de um problema proposto e questionar a sua
validade. Por fim, ressaltamos que as discussões apresentadas aqui nos
Portanto, é um momento de aprendizagem que auxilia na am- fazem refletir que a ordem na sala de aula é certamente condiciona-
pliação do seu repertório de argumentação matemática. Outra pos- da pela organização física e social da escola e das salas de aula, mas
sibilidade para lidar com a situação é que o professor tenha outras é ao mesmo tempo uma ordem construída pela ação do professor
atividades organizadas para aqueles que terminaram mais rapida- em interação com os alunos.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS

O presente documento, em sua integralidade, encontra- Se relatássemos aqui todas as atividades nas quais as grandezas
-se disposto no seguinte endereço eletrônico: e medidas são essenciais, certamente as páginas deste texto não
seriam suficientes. Entretanto, mesmo que seja um componente
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi- imprescindível nos currículos escolares, existe uma evidente con-
les/50724.pdf tradição entre a relevância dada ao seu uso social e ao tratamento
didático que a escola lhe tem conferido.
A organização hierarquizada do planejamento da matemática
escolar, que tende a privilegiar conteúdos em detrimento de ou-
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- tros, historicamente tem relegado o ensino das grandezas e medi-
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCU- das, limitando-as a um ensino esporádico, sazonal.
LO DA CIDADE: MATEMÁTICA – VOLUME 2. – 2.ED. – SÃO A respeito dessa problemática, Mandarino (2009), em sua pes-
PAULO: SME / COPED, 2019 quisa, constatou que, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, dos
116 professores pesquisados, apenas 14,9% priorizavam o ensino
das grandezas e medidas. Prioridade essa que, a partir da organiza-
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade: Matemática – ção do currículo em rede, proposta no Currículo da Cidade, a pró-
volume 210 pria articulação entre os eixos estruturantes no planejamento do
professor, deve ser igualitária e indiscriminada.
→ Eixo Grandezas e Medidas - O ensino e a aprendizagem das Além disso, afirma que é forte a crença de que os conhecimen-
grandezas e medidas tos numéricos e geométricos são suficientes para a construção
conceitual e de habilidades inerentes à medida. Essas abordagens
A importância das grandezas e medidas são contraditórias, passíveis de questionamentos e, de certo modo,
Este texto apresenta algumas reflexões sobre o ensino e a contribuem para a reflexão sobre o processo de ensino e aprendiza-
aprendizagem de um tema matemático importante: grandezas e gem das grandezas e medidas.
medidas. Apresentamos aqui algumas discussões importantes que
podem ser ampliadas por você, professor, a partir das leituras suge-
Contribuições teóricas sobre o ensino das grandezas e medidas
ridas ao longo do texto.
Mediante tantas situações diárias, em que as grandezas e medi-
O mundo sem a medida, certamente, seria muito confuso e li-
das são utilizadas, a compreensão e a distinção de alguns conceitos
mitado. Teríamos dificuldade de chegar pontualmente ao trabalho,
saber a distância entre duas cidades, executar com sucesso uma são essenciais para que o professor possa planejar diferentes es-
receita, acompanhar a perda ou ganho de massa numa dieta, pro- tratégias de ensino. Grandeza é tudo aquilo que pode ser contado,
gramar uma viagem por meio da previsão do tempo, planejar um mensurado.
orçamento doméstico ou acompanhar o consumo de água numa Existem dois tipos de grandezas: as discretas e as contínuas. Es-
residência. Enfim, encontraríamos dificuldades para realizar inúme- sas grandezas envolvem duas noções elementares da matemática,
ras atividades do cotidiano. ou seja, contar e medir. As grandezas discretas são consideradas
A importância das grandezas e medidas para a formação dos contáveis, pois podem ser facilmente quantificadas. Já as grandezas
cidadãos é indiscutível. Afinal, este conteúdo matemático, de ca- contínuas são passíveis de medida, pois não permitem a contagem
ráter prático e utilitário, foi construído ao longo da história da hu- direta/imediata.
manidade, a partir de inúmeras necessidades cotidianas atreladas Enquanto a primeira resulta na quantidade de objetos (conta-
ao controle das dimensões espaciais (a demarcação dos limites de gem); a segunda quantifica suas qualidades (massa, temperatura,
terra para o plantio e construções arquitetônicas), temporais (a comprimento, capacidade, valor, volume e tempo) por meio da me-
previsão do ciclo das estações do ano e condições climáticas para dida. Para medir é preciso saber previamente o que se mede. Por
plantio, colheita e sobrevivência) e econômicas (a necessidade de essa razão, é necessário refletir acerca das qualidades e dos atribu-
um sistema monetário com equivalência de valores para mediar as tos das pessoas e dos objetos, uma habilidade fundamental que dá
relações comerciais). origem à compreensão do conceito de medida.
É evidente que, ao longo da história, novos problemas foram No processo de quantificação das grandezas discretas geral-
surgindo e, consequentemente, as diversificações de seus usos e as mente o resultado é um número inteiro, o número de carros em
variações das grandezas também se fizeram necessárias. Atualmen- um estacionamento. Já no procedimento de medição das grandezas
te, são inúmeras as áreas de conhecimento que recorrem às gran- contínuas, a representação da medida pode ser um número não
dezas e medidas para o desenvolvimento de suas atividades, como: inteiro, a área deste mesmo estacionamento.
a arquitetura e engenharia, que necessitam da medida no cálculo Existe, portanto, uma diferença significativa entre as ações de
das dimensões de um prédio; a gastronomia, que utiliza diferentes contar e medir. Enquanto a contagem requer apenas a quantifica-
instrumentos de medição para definir a quantidade de ingredientes
ção; a medição exige um processo mais complexo, a comparação de
no preparo de uma receita; a medicina, que orienta e acompanha a
grandezas de uma mesma natureza.
administração das dosagens de uma medicação e do seu tempo de
O processo de comparação de uma grandeza requer o uso de
tratamento; e também a tecnologia, que recentemente tem defini-
advérbios (comparativos) e de adjetivos (qualidades) que caracte-
do unidades de medida para mensurar o armazenamento de dados
nos computadores, celulares e dispositivos. rizam a sua natureza. Por exemplo: maior-menor, longe-perto, al-
to-baixo, largo-estreito, vazio-cheio, cedo-tarde, caro-barato, quen-
te-frio e dentre outros. Sendo assim, medir, além de contar, exige a
habilidade de comparar, ou seja, uma vez que se percebe a qualida-
de de um objeto, há condições de compará-la.
Apesar da imbricação entre as grandezas discretas e contínuas,
10 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria a abordagem didática que privilegia uma ou outra, sem explorar a
Pedagógica. Orientações didáticas do currículo da cidade: Matemática – volume interação entre as ações de contar e medir, tem se constituído um
2. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
verdadeiro problema pedagógico no ensino desse conteúdo mate- → Eixo Geometria - Relações Espaciais
mático. Muitos materiais didáticos referenciam apenas a contagem
como habilidade essencial para a construção da ideia de número, Neste texto, vamos discutir o ensino das noções espaciais.
desconsiderando que a comparação, a partir da noção de maior ou
menor, habilidade inerente à medida, também contribuiu para a Noção Espacial
sua origem. Para desenvolver noções espaciais, é importante que as crian-
Podemos exemplificar a relação entre contar e medir quando a ças e os adolescentes tenham oportunidade de vivenciar o espaço
medida de uma determinada distância é realizada por meio da con- que estão inseridos por meio de atividades práticas exploratórias
tagem de passos. Nesta situação, a distinção entre medir e contar como: informar a localização de pessoas e objetos. Esse tema é re-
se concentra no uso e no significado atribuído ao número de pas- lativamente novo nos currículos.
sos, ou seja, não representa uma quantidade, mas sim, a medida de É uma temática que precisa estar relacionada ao seu uso social.
uma grandeza linear. Desse modo, podemos dizer que a operação Outro ponto fundamental que destaca é que as interações propicia-
de medir consiste em discretizar o contínuo. das pelas diversas formas de comunicação caracterizam a aquisição
Para discretizar o que é contínuo, é necessário estabelecer uma de competências geométricas iniciais de naturezas distintas, sendo
unidade de medida padrão de uma mesma natureza a partir da elas: a primeira refere-se à comunicação com o uso de vocabulário
relação de “quantos cabem”, ou seja, quantas vezes a unidade de próprio e compreensível não só pelos estudantes, mas também no
medida menor cabe na maior. Por exemplo: quantos copos de 250 ambiente social; a segunda envolve a leitura e interpretação do es-
mililitros cabem em um recipiente de dois litros? Essa relação de paço, essencial para a compreensão de noções espaciais e de seus
“quantos cabem” é importante para explicitar e medir a grandeza elementos e a terceira abrange as construções de representações
(qualidade) mensurada do objeto, processo denominado de discre- do espaço.
tização. São habilidades distintas, afinal, é muito diferente descrever e
Por isso, embora atrelada à função do número natural, a cons- compreender um espaço já representado, de representá-lo. Essas
trução do conceito de medida vai além da sua representação numé- três competências são imbricadas, mas, quando separadas, ajudam
rica. É um processo de assimilação complexo que requer diferentes o professor na exploração do vocabulário, na compreensão do es-
habilidades: identificar e selecionar a qualidade do objeto; com- paço e na construção de representações espaciais.
parar e discretizar essa mesma qualidade por meio de estratégias Os objetos do conhecimento e os objetivos de aprendizagem e
pessoais ou de instrumentos de medição padronizados; utilizar um desenvolvimento, descritos no Currículo da Cidade - Matemática,
vocabulário específico para expressar o processo de comparação e, exploram essas três competências que vão se ampliando ano a ano,
por fim, representar numericamente a quantificação dessa mesma ciclo a ciclo, desde o primeiro ano do Ensino Fundamental. O tra-
qualidade. balho com representações envolve, ainda, “o tamanho do espaço”.
O processo de discretização das grandezas se difere de acordo Galvez (1996) estabelece três tipos de espaço: micro espaço,
com a sua natureza, por isso em alguns casos se torna mais comple- meso espaço e macro espaço. Denomina micro espaço aquele em
xo. Por exemplo: medir o comprimento de um objeto (uma fita de que o sujeito pode contemplar, de uma só vista, o espaço em sua to-
cetim), uma grandeza visível/concreta, é diferente de medir o tem- talidade, por exemplo, uma folha de caderno, a tela do computador,
po de uma partida de futebol, grandeza abstrata que só se torna a mesa de trabalho, uma folha de sulfite, etc. Meso espaço é a por-
possível por meio de um cronômetro ou relógio, afinal, a passagem ção do espaço físico que exige pequenos deslocamentos ou mais de
de um minuto para outro não é facilmente perceptível sem o auxílio um ponto de vista para ser visto em sua totalidade, por exemplo, a
de um instrumento de medida. sala de aula, o pátio da escola, a biblioteca etc.
A percepção das qualidades difere uma das outras, pois têm a Macro espaço é aquele em que é impossível obter uma per-
ver com determinados sentidos e experiências vivenciadas pelos cepção direta em sua totalidade, mesmo com pequenos desloca-
sujeitos no cotidiano. Há qualidades, como a massa, que se perce- mentos ou pontos de vista, como o bairro, a cidade, o quarteirão
bem mais facilmente, posto que se materializam sem dificuldade, da escola. Consideramos que os diferentes “tamanhos” do espaço
sendo que outras têm uma concretização mais difícil, como é o caso requerem diversos tipos de procedimentos e modos de relacionar
da temperatura, em que sua percepção é muito mais complexa. Por os objetos presentes naquela parte do espaço, ou seja, os diferen-
isso, é importante levar em consideração os conhecimentos prévios tes “tamanhos” de espaço implicam em usar modelos conceituais
dos estudantes, pois permitem identificar as grandezas que lhes são diferentes para orientar as ações do sujeito.
familiares (comprimento, massa e capacidade) e de outras (tempo, Na didática da Matemática, o “tamanho” do espaço pode ser
temperatura e valor), que, embora frequentes no cotidiano, não considerado uma variável didática e pode orientar o professor em
têm identificação intuitiva, imediata. suas tomadas de decisão em relação ao espaço a ser explorado.
Historicamente, os currículos de matemática têm abordado o Para que as crianças e adolescentes avancem nas suas hipóteses
ensino da medida a partir de uma perspectiva generalista com pou- com relação à construção do espaço, é necessário que o professor
co aprofundamento e distinção entre as grandezas, como se não tenha aportes teóricos que lhes deem condições de analisar suas
houvesse a necessidade de adequar a abordagem didática e meto- representações espaciais e de fazer intervenções necessárias para
dológica para o ensino de cada uma delas. que avancem em suas construções.
Desse modo, o princípio didático deste eixo estruturante é que,
embora os objetos de conhecimento e os objetivos de aprendiza- → Eixo Probabilidade e Estatística
gem e desenvolvimento façam menção a diversas grandezas em
uma mesma descrição, é crucial que o professor em seu planeja- Estatística no Ensino Fundamental - Reflexões iniciais sobre o
mento, leve em consideração as suas especificidades, distinguindo ensino da Estatística
e aprofundando a natureza de cada grandeza, de modo a relegar Todos os dias, deparamo-nos com inúmeras informações apre-
abordagens que priorizem umas em detrimento de outras ou que sentadas por meio de símbolos, gráficos e tabelas. Para compreen-
lhes configuram um tratamento superficial. der essas informações, posicionamo-nos diante delas, analisando,
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
criticando e tomando decisões, pois esses são conhecimentos ne- 5. Instrumentos de pesquisa – Elaborar com os estudantes
cessários para o letramento estatístico, considerados imprescindí- questões curtas e objetivas, cujas respostas são passíveis de men-
veis para a formação do cidadão e para vida em sociedade. suração. As respostas em forma de alternativas facilitarão a com-
Durante muito tempo, a Estatística ocupou um espaço secun- preensão dos entrevistados e a tabulação posterior dos dados.
dário nos currículos de Matemática, por isso podemos afirmar que 6. Coleta de dados – Discutir com os estudantes como se apre-
muitos de nós, professores, tivemos o contato mais aprofundado sentar ao entrevistado, explicar os objetivos da pesquisa e pergun-
com este eixo somente no Ensino Superior. Atualmente, devido a tar se está disposto a participar da entrevista. A princípio, nos anos
sua relevância social, estudos apontam a importância do desenvol- iniciais do Ensino Fundamental, as crianças podem fazer perguntas
vimento do pensamento estatístico desde muito cedo. a dois ou três colegas, satisfazendo sua curiosidade inicial.
Os estudantes desenvolvem noções rudimentares de estatística A seguir, a pergunta poderá ser estendida para toda turma.
ainda na Educação Infantil, realizando pequenas pesquisas e cons- Além disso, podemos provocar a curiosidade com novas questões:
truindo tabelas e gráficos para organizar os dados. A estatística no O grupo de meninos terá a mesma preferência que o grupo de me-
Ensino Fundamental foi proposta desde os Parâmetros Curriculares ninas? Se investigarmos a preferência dos pais, teremos o mesmo
Nacionais (1997), organizada no bloco de conteúdo denominado resultado para todo o grupo das crianças?
“Tratamento da Informação”. 7. Conteúdos matemáticos – Conforme o nível da turma, será
necessário avançar nos conteúdos matemáticos. Contagem, inter-
Alguns documentos posicionam-se sobre o tema, defendendo
valo, razão, fração, ângulo, cálculos, proporção e porcentagem po-
que o trabalho com a Estatística envolve: a leitura e interpretação
dem ser úteis.
de informações estatísticas, coleta, organização, resumo e apresen-
8. Tabelas e gráficos - Antes de os estudantes organizarem os
tação de dados, construção de tabelas e gráficos, cálculo e interpre-
dados e elegeram a melhor forma de representação, pode-se discu-
tação de medidas de tendência central e de dispersão.
tir com eles que as tabelas organizam informações em linhas e colu-
Comumente, o ensino de Estatística, de maneira equivocada,
nas, enquanto os gráficos usam imagens (barras, setores, linhas ou
tem sido restrito à leitura e interpretação de gráficos e tabelas, re-
elementos pictóricos). Alguns materiais são úteis nesta fase do tra-
negando as próprias orientações curriculares. O Currículo da Cidade
balho, como papel quadriculado, régua, transferidor e compasso.
evidencia, para este eixo estruturante, que, desde os anos iniciais
As tecnologias digitais também podem ser um recurso valioso.
do Ensino Fundamental, os estudantes podem envolver-se em pes- Não podemos esquecer que existe uma variedade de tipos de gráfi-
quisas de temas de seu interesse, por exemplo: quais são os seus cos (de barra, de setor, de linha ou elementos pictóricos) e tabelas
brinquedos preferidos? (simples e de dupla entrada), ambos utilizados a partir da natureza
Quais são as frutas mais aceitas no horário do recreio? Qual das informações a serem comunicadas. É importante proporcionar
meio de transporte utilizam para ir à escola? Curiosidades como aos estudantes uma diversidade de situações em que possam in-
essas podem proporcionar situações de aprendizagem que compre- terpretar e construir tabelas e gráficos, avançando em sua comple-
endam as habilidades de coletar, organizar, representar, interpretar xidade.
e analisar dados. Assim, a Estatística pode ser introduzida por meio 9. Relatório – Mesmo nos anos iniciais, o professor pode produ-
de questões simples, mas significativas às crianças e adolescentes. zir com os estudantes um relatório com a descrição dos objetivos
Embora se apresente como uma proposta, relativamente tran- da pesquisa, como os dados foram coletados, o nome dos pesqui-
quila de ser desenvolvida pelo professor, o processo de mediação sadores e as tabelas ou gráficos produzidos com a representação
é fundamental. Dessa forma, apresentamos a seguir a sugestão de dos resultados.
um roteiro de trabalho que pode se constituir como uma etapa de 10. Divulgação – Os estudantes divulgam os resultados da pes-
um projeto ou, até mesmo, uma sequência de atividades. quisa, por exemplo, para outras turmas da escola, para os familiares
ou na comunidade local. Podem ser utilizados cartazes, cópias, ex-
Roteiro de trabalho para o ensino da Estatística posições e seminários, entre outros.
É comum que os estudantes demonstrem disposição em le- 11. Análise crítica – A pesquisa não se esgota na produção de
vantar dados, construir gráficos e observar fenômenos. A partir de tabelas e gráficos, mas os estudantes precisam aprender a relacio-
um tema de interesse, eles poderão envolver-se em uma pesquisa. nar os dados, refletir sobre os resultados e criticá-los. As análises
Entretanto, pesquisar, atividade inerente à Estatística, requer pla- críticas da turma podem constar em um relatório produzido coleti-
nejamento de maneira que os dados coletados, com rigor, possam vamente. Nesta etapa é importante que os estudantes sejam esti-
ser tratados e sistematizados a partir de uma linguagem própria. mulados a comunicar oralmente ou por escrito o que perceberam
Vejamos como o professor pode planejar esse processo: sobre as informações contidas em tabelas e gráficos.

1. Definição do tema ou assunto - Refere-se ao momento de Este roteiro de trabalho pode ser utilizado nos diferentes anos
escolha dos temas e/ou assuntos do cotidiano dos estudantes. O do Ensino Fundamental. O processo de pesquisa que antecede a
professor poderá negociar o tema com a turma. construção e interpretação de gráficos é um componente do le-
2. Leituras sobre o tema - Os estudantes pesquisam informa- tramento estatístico, pouco valorizado nos livros didáticos e que,
ções sobre o tema e realizam discussões para definir quais aspectos muitas vezes, abordam a tabela pronta e solicitam apenas a trans-
específicos pretendem pesquisar do tema escolhido. formação dela em um gráfico, sem engajar os estudantes em um
3. Organização dos trabalhos - Discutir e registrar como irão or- importante processo de compreensão de aspectos de sua realidade
ganizar os trabalhos (distribuir tarefas, definir responsabilidades e e realização.
etc.). Ao longo do Ensino Fundamental, a construção de gráficos deve
4. Objetivos e público-alvo - Definir os objetivos e o público-al- evoluir em complexidade, de modo que os estudantes avancem nas
vo da pesquisa de campo, ou seja, os entrevistados. Os estudantes representações, no conhecimento matemático e na linguagem es-
levantam hipóteses sobre os possíveis resultados para compará-los tatística para comunicar resultados, utilizando termos como maior
com os resultados finais. Definir o público-alvo ajudará a elaborar e menor frequência, por exemplo.
as perguntas.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Probabilidade a) o conceito subjetivista pelo qual a imprevisibilidade e a inde-
Com a justificativa de atender à demanda social, o conceito de terminação do evento casual são atribuídas à ignorância ou à con-
probabilidade foi introduzido nos currículos brasileiros, em 1997, fusão do homem;
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, no eixo Tratamento da b) o conceito objetivista que atribui o evento casual à mistura e
Informação, mais timidamente nos anos iniciais do Ensino Funda- à interseção das causas;
mental e com mais ênfase nos anos finais. Borovcnik (2008) apre- c) a interpretação moderna que considera o acaso como a insu-
senta alguns argumentos em favor da introdução desse tema nos ficiência de probabilidades na previsão.
currículos.
Um deles se refere ao julgamento probabilístico em que o autor Os estudos de Piaget e Inhelder (1993) sobre a origem da ideia
afirma que apoia o pensamento racional do indivíduo na tomada de de acaso na criança permitem compreender como se dá o desen-
decisões em situações importantes da vida diária, como a tomada volvimento da noção de probabilidade. Esses autores destacam os
de decisões em função de resultados de exames médicos ou para mesmos estágios definidos pela Filosofia na construção da ideia de
decidir sobre um investimento, por exemplo. Outro argumento se acaso pela criança. Eles afirmam que nem tudo que está à nossa
refere ao raciocínio sobre incerteza como uma ferramenta impor- volta pode ser previsto de antemão com precisão, mas que, mesmo
tante no mundo atual, por exemplo, o conceito de risco e seu im- assim, os indivíduos, ao vivenciarem uma situação, arriscam uma
pacto nas tomadas de decisões diárias. predição na tentativa de compreendê-la e conviver com ela.
Ele também apresenta, como argumento, que a probabilidade Eles consideram que esse tipo de atitude leva a crer que o ser
é essencial no entendimento de procedimentos inferenciais em es- humano na idade adulta “possui” uma intuição de probabilidade.
tatística. Por último, afirma que a probabilidade oferece uma ferra- Os resultados dos estudos desses autores mostram que: o primeiro
menta para modelar e “recriar” a realidade, citando como exemplo estágio de desenvolvimento da ideia de acaso pela criança (antes
que a física moderna não pode ser formulada sem referências a dos 7- 8 anos de idade) “se caracteriza pela ausência de operações
conceitos probabilísticos. propriamente ditas, isto é, de composição reversível; os raciocínios
O autor afirma que o grande desafio que se coloca é ensinar em jogo permanecem então pré-lógicos e são regulados apenas por
probabilidade por meio de materiais e ferramentas projetados para sistemas de regulações intuitivas”.
encorajar a compreensão, focando na criação de aproximações de Nesse estágio, “a criança nem sequer entrevê a possibilidade de
probabilidade que sejam acessíveis e motivadoras aos estudantes, um sistema que lhe permita achar, sem esquecer nenhuma, todas
com aplicações práticas apropriadas. as combinações duas a duas, todas as permutações, ou todos os
No âmbito escolar, o autor sugere que o foco seja nas visões arranjos dois a dois realizáveis por meio de alguns elementos”. Eles
frequentista e subjetiva de probabilidade, pois muitos fenômenos afirmam que isso ocorre porque essas são operações multiplicativas
aleatórios não são explicados única e exclusivamente por meio do particulares e as crianças, nesse estágio, não são capazes de com-
modelo clássico de probabilidades, que se baseia em espaços igual- preender as operações aditivas e multiplicativas mais simples.
mente prováveis. Segundo eles, durante esse primeiro estágio, a criança não di-
Considera ainda que existem fenômenos aleatórios cujas expli- ferencia o possível do necessário. Seu pensamento oscila entre o
cações matemáticas se dão por meio da observação da frequência previsível e o imprevisto, mas nada é para ela nem seguramente
com que ocorrem (visão frequentista) ou dependem do conheci- previsível, quer dizer, dedutível segundo um elo de necessidade;
mento daquele que arrisca o prognóstico probabilístico (visão sub- nem seguramente imprevisível, quer dizer, fortuito.
jetiva). De acordo com esses autores, o período seguinte, dos 7-8 a 11-
12 anos, marca a transformação da ideia de acaso. Ele “se caracte-
Um pouco de história sobre a probabilidade
riza pela construção dos grupamentos operatórios de ordem lógica
A ideia de acaso surge na Antiguidade, com os jogos de azar e
e numérica, porém num plano essencialmente concreto, ou seja,
as crenças que existiam na época. Os povos que viviam na Meso-
relativo a objetos manipuláveis representáveis no detalhe de suas
potâmia ou no Egito Antigo relacionavam a ideia do acaso com o
relações reais”. Nessa fase, a descoberta da necessidade dedutiva
sobrenatural. A relação do acaso com o sobrenatural perdurou ao
ou operatória permite à criança conceber o caráter dedutivo de
longo do tempo. Os jogos de azar eram utilizados com objetivos de
transformações fortuitas isoladas e de diferenciar o necessário do
lazer, mas integravam uma dimensão mística do acaso.
possível. Por outro lado, o encaixe operatório das partes comple-
Os primeiros estudos sistemáticos sobre Probabilidade foram
mentares de um todo leva à disjunção “concreta”.
elaborados por Girolamo Cardano no século XVI. Alguns autores
Essa disjunção concreta ocasiona a noção de duplas ou de múlti-
acreditam que essa demora foi decorrente do fato que obras cien-
tíficas que tratassem de uma possível sistematização de jogos de plas possibilidades, que implica todo julgamento de probabilidade.
azar não seriam consideradas sérias, já que os jogos não eram vistos Os autores concluem que é somente no terceiro estágio (após 11-
com bons olhos pelos sábios. 12 anos) que o julgamento de probabilidade se organiza, “por uma
Além disso, consideram que os primeiros “dados de jogo” não espécie de choque em volta da operação sobre o acaso”.
possuíam um balanceamento perfeito e isso impedia que fosse per- Nessa fase, “há a síntese entre o acaso e as operações, permitin-
cebida alguma regularidade dos eventos possíveis. Isso ocorria por- do estas estruturar o campo das dispersões fortuitas em um siste-
que eles eram feitos de ossos de animais diferentes. Outra causa do ma de probabilidades, por uma espécie de assimilação analógica do
atraso da matematização do acaso está ligada à crença de que não fortuito ao operatório”. Para eles, chegar a esse resultado envolve
seria prudente intervir no acaso, pois ele se encontrava no domínio dois processos correlatos.
divino, uma vez que se acreditava que os acontecimentos na Terra Por um lado, a construção dos sistemas combinatórios, a partir
eram dirigidos pelos deuses. Os povos atribuíam o resultado do lan- de um método que permite efetuar o conjunto das operações pos-
çamento de um dado à manifestação da vontade dos deuses. síveis sobre um pequeno número de elementos. Isso leva o sujeito a
No âmbito da Filosofia, existem três diferenças com relação ao executar algumas possibilidades particulares e sem ordenação. Por
acaso que se entrelaçam: outro lado, o pensamento formal, que permite a construção de sis-
temas combinatórios, a descoberta das proporções.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Isso leva à lei dos grandes números que aplica as relações de Tal concepção encontra forte relação com a ideia de alfabetiza-
proporcionalidade às operações combinatórias e permite que o su- ção, à medida que considera o ato de aprender para além do domí-
jeito conceba a legitimidade de uma composição probabilística das nio de técnicas de escrever e de ler. Entende-se que essa aprendi-
modificações fortuitas, no sentido de uma dispersão proporcional- zagem envolve o domínio consciente dessas técnicas e considera as
mente mais regular e, por conseguinte acessível, na sua totalidade, práticas sociais em que os estudantes estão inseridos.
senão no detalhe, à previsão racional. A Alfabetização Científica, tomada como objetivo do ensino de
Segundo esses autores, ao atingir um ponto avançado na evo- Ciências, considera que os estudantes devem ter contato com a cul-
lução individual acerca do acaso, as probabilidades baseadas nos tura das ciências, seus modos de organizar, propor, avaliar e legiti-
grandes números assinalam “uma espécie de síntese entre a opera- mar conhecimentos. Ademais, possibilita a construção de sentidos
ção e o fortuito, após a antítese, a princípio radical, sentida no início sobre o mundo e permite o desenvolvimento de senso crítico para
do segundo período, e a não diferenciação própria do primeiro”. avaliação e tomada de decisão consciente acerca de situações de
seu entorno, seja ela local ou global.
Com a finalidade de alfabetizar cientificamente, aproximando
O presente documento, em sua integralidade, encontra-
os estudantes da cultura das ciências, torna-se necessário, em situ-
-se disposto no seguinte endereço eletrônico:
ações de ensino, permitir e incentivar o contato desses com ações
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi- para a investigação de problemas. Essas ações envolvem a busca
les/50722.pdf por informações em diferentes meios e de diversos modos, a or-
ganização de dados, a tomada de consciência sobre fatores que in-
fluenciam o fenômeno em análise, a interpretação das situações, a
construção de modelos, a apresentação e o debate de ideias.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- A importância das ações acima mencionadas ocorre pelo desen-
RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: ENSINO FUN- volvimento de práticas do fazer científico que representam ativida-
DAMENTAL: COMPONENTE CURRICULAR: CIÊNCIAS DA des para a construção de entendimentos que permeiam diferentes
NATUREZA. – 2.ED. – SÃO PAULO : SME / COPED, 2019 ações didáticas. Na produção de conhecimento, a constituição de
hipóteses e o teste das mesmas, por exemplo, envolvem processos
de busca de informações em fontes diversas, como livros, revistas
Currículo de Ciências Naturais para a Cidade de São Paulo11 ou por meio de conversas e entrevistas com pessoas que revelam
algum contato com o fenômeno em observação ou com elementos
Introdução e concepções do componente curricular destas situações.
No Ensino Fundamental, o componente curricular de Ciências Na comunicação do conhecimento, a organização das ideias,
aborda os fenômenos da natureza que são estudados em diversas expressa de modo oral ou escrito, demanda a apresentação lógica
áreas de conhecimento, das quais fazem parte a Biologia, a Física, e estruturada. A argumentação, com base em evidências obtidas e
a Química, as Geociências, a Astronomia e a Meteorologia. Sendo relações construídas, costuma ser um modo de como essa comuni-
assim, os fenômenos estudados, no âmbito das Ciências Naturais, cação é feita.
recebem atenção das diferentes áreas dentro de suas especificida- Ao avaliar o conhecimento produzido, é esperado que a crítica
des, e essas particularidades revelam o desafio de tratar os conhe- surja como fator determinante: não a crítica que busca destruir o
cimentos das ciências de maneira articulada e integrada. pensamento apresentado, mas aquela que investiga como os co-
A abordagem das Ciências Naturais nas salas de aula deve con- nhecimentos propostos foram constituídos e os limites e avanços
gregar, portanto, os conhecimentos construídos sobre o mundo trazidos pela nova proposição considerando conhecimentos já es-
natural e as práticas que envolvem a produção, a divulgação e a tabelecidos. O debate de ideias entre estudantes e professor, sobre
legitimação de conhecimentos, como forma de contribuir para que o conhecimento que já possuem e os conhecimentos com os quais
os estudantes ampliem seu repertório e valorizem a ciência como estão começando a tomar contato, é um modo privilegiado para
prática cultural. que as interações ocorram.
O ensino de Ciências tanto pode permitir que o estudante com- Associado a isso e em decorrência desse processo, proposições
preenda a presença e as influências do conhecimento científico na começam a figurar como conhecimentos legitimados pelo grupo,
sociedade, como também contribuir com a construção de conheci- e o papel do professor, como conhecedor desses conhecimentos
mentos que servem como instrumentos para uma visão crítica de avaliados e validados pela comunidade científica, permite que as
mundo. Essas duas dimensões dão sentido à frequente pergunta: construções realizadas estejam de acordo com os conhecimentos
“por que se estuda Ciências Naturais na escola? ”. aceitos pela sociedade.
Tais dimensões são contempladas por meio de uma perspectiva
que entende o ato de aprender ciências como sendo relacionado às Ensinar e aprender Ciências Naturais no Ensino Fundamental
demandas de equidade e diversidade de uma sociedade em cons- Pelo exposto, ensinar Ciências Naturais na educação básica tor-
tante transformação. na-se um compromisso social e cultural que garante à população o
Não é novidade, nem reflexão recente, a necessidade de am- contato com mais uma das formas de conhecer o mundo em que
pliar o escopo do ensino de Ciências Naturais para uma perspectiva se vive, as relações entre seres e objetos, os diversos fenômenos
que vai além de conceitos e do desenvolvimento de habilidades de e, é claro, em diferentes escalas. No ensino das Ciências Naturais,
memorização e identificação, garantindo oportunidades aos estu- desde os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (BRASIL, 1997),
dantes de analisar, questionar e aplicar o conhecimento científico a afirmava-se a necessidade de que os conhecimentos prévios dos
fim de intervir e melhorar a qualidade de vida individual, coletiva e estudantes fossem considerados e que, também, possibilitassem
socioambiental, além de respeitar princípios éticos. relações entre o cotidiano do estudante e as novas construções
permitidas pelas abordagens em sala de aula.
Apareceram, entre os objetivos do ensino de Ciências nos PCNs,
11 São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria ações para experimentar, construir explicações, relatar e comunicar
Pedagógica. Currículo da cidade: Ensino Fundamental: componente curricular: fatos e conceitos, valorizar atitudes e comportamentos face aos se-
Ciências da Natureza. – 2.ed. – São Paulo: SME / COPED, 2019.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
res vivos e ao ambiente. Essas ações deveriam ser trabalhadas na Nessas relações, o conhecimento é proposto e avaliado confor-
relação direta com os blocos temáticos das Ciências Naturais pro- me as práticas anteriormente mencionadas. O processo de apre-
postos para o Ensino Fundamental, nos quais se pretendiam abor- sentação e análise de novas ideias é acompanhado de crítica e de
dar temas sobre: Ambiente, Ser Humano e Saúde, Recursos Tecno- reconhecimento dos saberes já existentes.
lógicos e Terra e Universo. Ainda que esses processos sejam disciplinados, eles são, ao
Outra novidade trazida pelos PCNs, que também impactou o mesmo tempo, criativos e estão relacionados diretamente ao es-
ensino de Ciências, foram os temas transversais. Esses não eram copo e ao fenômeno em estudo. Portanto, não se pode estabele-
conteúdos curriculares exclusivos do componente, mas represen- cer que haja um método único e privilegiado por meio do qual os
tavam aspectos a serem trabalhados a fim de que a formação dos conhecimentos científicos são construídos, mas é possível afirmar
estudantes pudesse ocorrer de modo geral e pleno. que a investigação é a base da construção de conhecimentos em
Portanto, ética, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e ciências.
orientação sexual eram temas propostos transversalmente ao cur- Uma investigação em ciências se dá de maneiras variadas e, em
rículo, uma vez que não representam componentes curriculares do muitos casos, a ação manipulativa de objetos em laboratórios se-
núcleo comum, mas, sim, atitudes que os cidadãos expressam em quer ocorre, dando lugar à análise de imagens ou dados produzidos
suas atividades. e correspondentes ao fenômeno em estudo. O próprio desenvolvi-
Mais recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para mento científico e tecnológico contribuiu para que muitos fenôme-
a Educação Básica (BRASIL, 2013) afirmavam que a formação dos nos, hoje em dia, possam ser observados longe de onde ocorrem e
estudantes por meio das disciplinas deveria considerar princípios em espaços que não condizem diretamente com o âmbito original.
éticos, estéticos e políticos. Da mesma forma, por não serem com- O uso de telescópios, por exemplo, ilustra a ação de objetos tec-
ponentes curriculares de uma disciplina específica, esses princípios nológicos para novas observações e, possivelmente, como elemen-
deveriam ser colocados em prática nas diferentes aulas de todas as tos determinantes para que novos conhecimentos sejam propostos.
disciplinas que compõem o currículo escolar. Contudo, isso não torna a Astronomia uma ciência experimental,
Ainda na direção de tomar como referência os documentos na- pois os fenômenos, ainda que possam ser investigados em labora-
cionais nesta discussão, é importante dizer que, no cenário atual, tório, por meio de imagens cada vez mais sofisticadas, não sofrem a
a Base Nacional Comum Curricular, ao apresentar o componente interferência humana, não são manipulados pelos cientistas; a ação
curricular de Ciências da Natureza, afirma claramente que o proces- ocorre no conhecimento, pelo estudo de imagens e de informações,
so investigativo deve ser elemento central da formação dos estu- na manipulação destes, mas não no objeto.
dantes. Destaca-se que são aspectos desse processo a definição de No ambiente educativo, a sala de aula, o laboratório de ciências,
problemas, o levantamento, a análise e a representação, a comuni- o pátio, o parque, a sala de leitura, o laboratório de tecnologias para
cação e a intervenção. aprendizagem e os mais variados espaços tornam-se apropriados
para uma investigação. Considerando que os problemas em estudo
Objetivos do ensino de Ciências Naturais podem ser diversos, a adequação ao espaço ocorre na relação com
o foco da análise.
O ensino de Ciências Naturais no Ensino Fundamental tem o
Uma investigação em ciências exige que se saiba sobre conhe-
compromisso com o desenvolvimento de habilidades importantes
cimentos já existentes acerca do fenômeno ou da situação em aná-
para que os estudantes possam apreciar a natureza, ter contato
lise. Para tanto, o acesso a livros e revistas especializados, a par-
com os conhecimentos construídos pelos cientistas ao longo dos
ticipação em reuniões e conferências científicas e o debate com
tempos, ampliar os conhecimentos que já possuem, desenvolver
colegas são atividades que os cientistas realizam para comunicar
modos de raciocinar sobre acontecimentos e de avaliar situações,
suas ideias, assim como para conhecer o que as demais pessoas
aprimorar e incrementar formas de analisar situações, consideran-
estão construindo, incorporando esses conhecimentos aos estudos
do a crítica como elemento central, compreender que concepções
e às novas propostas.
diferentes podem estar vinculadas aos conhecimentos à disposição No ensino das Ciências Naturais, essas ações se desencadeiam
de um grupo em um dado momento e continuar aprendendo ao pelas interações discursivas estabelecidas entre professor e estu-
longo de sua vida, refletindo sobre o que aprendem e regulando dantes, explorando conhecimentos prévios e novas construções,
seus processos de aprendizagem. incentivando o debate de ideias e o respeito pela opinião diferente.
Além disso, frente à crescente disponibilidade de fontes de in- Essas ações também ocorrem pela pesquisa orientada sobre temas
formações, o componente curricular de Ciências Naturais pode con- em estudo e pela consulta a livros didáticos, sites especializados,
tribuir, também, com o desenvolvimento de critérios que permitam conversas e entrevistas direcionadas a públicos diversos, como pes-
a seleção dessas informações de forma justificada, a reflexão sobre soas de diferentes faixas etárias e profissionais que atuam em uma
elas e a tomada de decisão de maneira embasada. determinada área.
É importante colocar em cena que as ciências são um conjun- Todas essas atividades, seja nas ciências ou na escola, permi-
to de áreas que constroem conhecimentos sobre o mundo em que tem que um rol de novas informações seja levantado e considerado
vivemos. Esses conhecimentos geram avanços dos mais variados para solucionar problemas, construir explicações ou responder a
tipos, podendo impactar, positiva ou negativamente, nosso modo questões de investigação. Uma investigação científica pode ter seu
de viver. Não é exagero afirmar que as condições materiais e de início bem marcado, mas o final não ocorre, necessariamente, no
produção de formas de viver atuais estão relacionados direta ou momento previsto, assim como pode não obter os resultados es-
indiretamente aos conhecimentos produzidos pelas ciências. perados.
Do mesmo modo, é possível afirmar que as ciências trazem Isso não significa que a investigação tenha sido malsucedida:
impacto para nosso bem-estar, para a saúde e para os diferentes imprevistos na coleta de informações, erros de coleta, organização
meios que utilizamos para nos locomover, comunicar e relacionar. e interpretação de dados, além de dificuldades em encontrar evi-
Como áreas de conhecimento, as ciências se desenvolvem por meio dências para um fenômeno que parecia evidente, constituem-se
de ações humanas sendo, portanto, atividades sociais. Marcam es- em obstáculos e desvios para uma investigação, mas, provavelmen-
sas atividades, as relações entre as diferentes pessoas e os diferen- te, podem contribuir para que novas hipóteses e propostas de estu-
tes grupos que estudam fenômenos assemelhados. do sejam construídas.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Em aulas de Ciências Naturais, o erro também deve ser conce- Os três eixos estruturantes da Alfabetização Científica são igual-
bido como um passo importante para o entendimento da situação. mente importantes e vinculam-se à prática de sala de aula do en-
Em algumas atividades, sobretudo as experimentais manipulativas, sino de Ciências, devendo ser contemplados com o mesmo inves-
o erro representa fator central para que os estudantes possam rea- timento nas escolhas curriculares, metodológicas e avaliativas, de
lizar outras variáveis e mesmo analisar quais são aquelas que efeti- modo a contribuir com a formação integral dos estudantes. Os eixos
vamente interferem no fenômeno em investigação. estruturantes também são elementos importantes para a constitui-
Todas essas atividades envolvem práticas científicas importan- ção de ferramentas e formas de avaliação.
tes de serem consideradas para o ensino de Ciências Naturais. En- Eles indicam modos diferentes de se relacionar com os temas
volver os estudantes em práticas científicas permitirá que elaborem das ciências e trazem, em sua concepção, a percepção de que o co-
compreensões sobre os aspectos envolvidos na produção de co- nhecimento científico necessário para uma Alfabetização Científica
nhecimento científico, tais como: produzir perguntas, criar modos inclui os conceitos, as leis, as teorias e os modelos, mas extravasam
imaginativos e sistematizados para respondê-las, coletar, registrar esses tópicos, sendo necessário considerar o papel dos processos
e organizar as informações; reconhecer padrões nessas informa- de construção de conhecimento e as relações que interferem nessa
ções que levem a possíveis generalizações; propor explicações e construção, as influências sofridas pelas ciências considerando os
soluções para os problemas e justificar, avaliar e refletir sobre as contextos sociais, históricos e culturais, bem como as influências
explicações propostas. que as ciências geram na sociedade.
Essas são ações que aproximam os estudantes do modo de atu- Nesse sentido, uma avaliação coerente com esses princípios
ar no mundo por meio do olhar das Ciências Naturais, uma vez que deve considerar a integração entre essas três dimensões dos obje-
permitem o desenvolvimento de uma postura investigativa sobre os tivos do ensino de Ciências, dando espaço para a reflexão sobre os
fenômenos naturais e sociais. Mais do que isso, os estudantes com- aprendizados que ocorrem ao longo do processo de investigação.
preendem que essas ações e explicações são diferentes, de acordo
com o momento histórico e com as diferentes culturas. Além dis- Estrutura do currículo de Ciências Naturais
so, mobilizam saberes e vivências das Ciências Naturais em diálogo A fim de evidenciar a promoção da Alfabetização Científica, o
com outras áreas de conhecimento, ampliando a leitura de mundo documento de Ciências Naturais está organizado em: abordagens
dos estudantes. temáticas, práticas científicas, eixos temáticos, objetos de conhe-
Por outro lado, o exercício das práticas científicas na Educação cimento e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Esses
Básica, além de permitir ao estudante incrementar seus conheci- elementos devem estar presentes em todos os anos escolares do
mentos sobre o próprio funcionamento das ciências, tem papel Ensino Fundamental.
Trata-se de uma estrutura que permite o desenvolvimento con-
fundamental no desenvolvimento de habilidades de pensamento
tínuo e progressivo dos objetivos de aprendizagem e desenvolvi-
importantes envolvidas no estabelecimento do raciocínio crítico.
mento e, como consequência, o desenvolvimento da Alfabetização
Ambientes de aprendizagem em que o estudante tem oportunida-
Científica entre os estudantes.
des de propor, criar, elaborar, organizar, registrar, reconhecer, entre
As abordagens temáticas trazem, de modo explícito, aspectos
outras, ampliam as habilidades presentes em sala de aula de Ci- epistemológicos, culturais e sociais envolvidos na construção de co-
ências para além da memorização e listagem de fatos e conceitos, nhecimento científico. Sua importância reside em tornar evidente
contribuindo para a formação integral dos indivíduos. que o ensino das Ciências Naturais é mais do que o ensino de uma
Neste currículo de Ciências Naturais, conteúdos, práticas e lista de conceitos, leis e teorias.
contextos se entrelaçam com o intuito de promover a Alfabetiza- Por meio das abordagens temáticas, os objetivos de aprendiza-
ção Científica. Para tanto, utilizamos, como referência, três eixos gem e desenvolvimento podem ser trabalhados, integrando os três
estruturantes, propostos por Sasseron e Carvalho (2008), os quais eixos estruturantes da Alfabetização Científica e colocando em exe-
auxiliam no planejamento de aulas de Ciências que dialogam com a cução as práticas científicas realizadas em diversos tempos históri-
concepção proposta neste documento. São eles: cos e sociais e suas relações com as dimensões culturais, ambientais
e tecnológicas.
• A compreensão básica de termos, conhecimentos e concei- As práticas científicas relacionam-se à constituição de possibi-
tos científicos fundamentais. lidades para que elementos da construção de conhecimento nas
O primeiro eixo envolve a construção de conhecimentos cientí- ciências sejam explorados. Neste documento, as práticas científicas
ficos, em adequação ao nível de ensino e à faixa etária, com vistas à elencadas associam-se aos ciclos de formação dos estudantes, ha-
aplicação desses conhecimentos em situações diversas. vendo uma progressão entre elas ao longo de todo o Ensino Fun-
damental. De mesmo modo, é esperado que a concretização dos
• A compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, ao apresentarem
e políticos que conceitos e práticas das ciências, possibilite a integração de todos
circundam sua prática. os elementos estruturantes da Alfabetização Científica.
O segundo eixo está também ligado à compreensão dos proces- Os eixos temáticos relacionam-se de modo muito direto ao pri-
sos envolvidos na construção de conhecimento científico, os quais meiro eixo estruturante da Alfabetização Científica e revelam quais
estão relacionados aos momentos históricos e às comunidades cul- os assuntos de ciências serão considerados para a formação básica
turais em que acontecem. inicial dos estudantes.
Os objetos de conhecimento derivam dos eixos temáticos, reve-
lando unidades de ideias a serem discutidas em cada ano escolar.
• O entendimento das relações existentes entre ciência, tecno-
Considerando a progressão do conhecimento, um mesmo objeto
logia, sociedade e ambiente.
de conhecimento pode aparecer em diferentes anos da escolariza-
O terceiro eixo investiga de que forma as interações entre ciên-
ção, pois sua abordagem, levando em conta as práticas científicas,
cia, tecnologia, sociedade e ambiente podem resultar em consequ-
estará submetida a mudanças que permitem um novo olhar para o
ências a serem avaliadas. assunto e a compreensão de novas dimensões e perspectivas.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Importante ressaltar que o Currículo da Cidade incorporou os Pelo contrário, no ensino por investigação, é possível que a
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), pactuados na aprendizagem de conceitos, procedimentos e habilidades aconteça
Agenda 2030 pelos países-membros das Nações Unidas, como te- de maneira integrada e significativa, permitindo que os estudantes
mas inspiradores a serem trabalhados de forma articulada com os operem com ações intelectuais de maneira mais ativa, ao mesmo
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento nos diferentes com- tempo em que constroem compreensões sobre a natureza da ciên-
ponentes curriculares. Nos quadros de objetivos de aprendizagem cia. Tais aspectos se coadunam com os eixos estruturantes da Alfa-
e desenvolvimento há uma correspondência com os ODS relevantes betização Científica e, por isso, o ensino por investigação é um bom
para aquele objetivo, seja do ponto de vista temático quanto sob o modo de desenvolvê-la.
olhar metodológico e de abordagens inovadoras de aprendizado. Outro aspecto central e primordial para que o ensino por in-
Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento e os ODS ex- vestigação possa promover a Alfabetização Científica é o papel do
pressam como cada tema ou unidade de conhecimento pode ser professor como promotor de atividades e de situações em que os
trabalhado em cada ano escolar, considerando o contato com as estudantes sejam envolvidos com a resolução e a discussão de pro-
Ciências Naturais que os estudantes já tenham tido. Isso marca uma blemas sobre as ciências. Por esse motivo, o ensino por investiga-
vez mais a progressão na abordagem dos conceitos e das práticas ção tem sido entendido como uma abordagem didática.
no currículo.
Em aulas investigativas, os estudantes tomam contato com
Educadores e estudantes são protagonistas na materialização
conhecimentos conceituais, processuais e epistêmicos, tornando
dos ODS como temas de aprendizagem e têm ampla liberdade
possível o desenvolvimento de raciocínio científico. Neste docu-
para também criar projetos autorais a respeito, assim como bus-
mento, por meio das práticas científicas explicitadas nos objetivos
car parceiros com o objetivo de promover maior cooperação entre
os diferentes atores sociais e da comunidade escolar na geração e de aprendizagem e desenvolvimento para os diferentes objetos de
compartilhamento do conhecimento e da prática. Formas de inte- conhecimento, é possível que esses conteúdos sejam desenvolvidos
grar os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento com os ODS junto aos estudantes.
na prática escolar serão detalhadas no documento de orientações Para tal, as interações entre professor, estudantes e materiais
didáticas dos diferentes componentes curriculares. didáticos devem ser planejadas para que ocorram de modo intenso,
Cabe destacar ainda que as abordagens temáticas, as práticas permitindo que a análise de objetos e fenômenos seja o motor das
científicas e os ODS são pontos fundamentais para a proposição do ações manipulativas e que a construção de entendimento sobre es-
currículo de Ciências Naturais, pois fundamentam a concepção de sas situações considere os diferentes modos de perceber aspectos
ensino de Ciências com a finalidade de desenvolver a Alfabetização envolvidos.
Científica durante o Ensino Fundamental para uma educação mais Alguns elementos centrais devem ser considerados no plane-
inclusiva, equitativa e de qualidade. jamento e na implementação de atividades de ensino por investi-
gação: o problema apresentado aos estudantes, os conhecimentos
Orientações para o trabalho do professor - investigação em teóricos ou empíricos que eles já possuem e que permitem a nova
sala de aula de Ciências Naturais investigação, as condições para o estabelecimento de interações
Temos defendido que o ensino de Ciências deve ter como obje- entre professor, estudantes e conhecimentos e a elaboração de
tivo a Alfabetização Científica dos estudantes. Isso implica desen- modos para resolver o problema e o questionamento de ideias em
volver entre eles o conhecimento sobre conceitos das Ciências Na- construção ou já estabelecidas.
turais, sobre modos de construir conhecimentos científicos e sobre Em sala de aula, é papel do professor trazer os problemas para
influências mútuas entre ciência e sociedade, de tal maneira que os estudantes investigarem. Isso não quer dizer que os estudantes
possam interagir de modo consciente na sociedade, percebendo fe- fiquem à margem desse processo: suas dúvidas, questionamentos
nômenos e ações e posicionando-se de modo crítico frente a eles. e curiosidades são elementos nos quais o professor deve se apoiar
Para isso, o trabalho didático com os temas das ciências deve con- para construir os problemas a serem trabalhados em aula. Isso im-
siderar elementos do próprio fazer científico e, entre eles, ganha plica em considerar conhecimentos teóricos e empíricos que os es-
destaque o Ensino por Investigação. tudantes já possuem como modo de tornar o problema significativo
Atualmente, é bastante reconhecida a importância de que os
e possível de ser investigado por eles.
estudantes possam participar de modo ativo em sala de aula, sendo
Tão importante quanto o problema a ser investigado, são as
sujeito que propõe e debate ideias ao longo de seu aprendizado. O
possibilidades conferidas aos estudantes para que possam interagir
protagonismo dos estudantes, a partir das condições construídas e
com materiais, com conhecimentos que já possuem, com seus cole-
oferecidas pelo professor, é marca do Ensino de Ciências por Inves-
tigação. gas e com seu professor.
O ensino por investigação está ligado ao desenvolvimento de Em muitas dessas interações, usam-se a fala ou os gestos. Tais
práticas científicas entre os estudantes, bem como ao seu envol- interações discursivas marcam as relações entre os estudantes e
vimento nas discussões que antecedem e acompanham essas prá- entre estudantes e professor. Mais do que apenas a expressão de
ticas. O ensino por investigação não está associado a estratégias opiniões, as interações discursivas trazem possibilidades para que
e práticas didáticas específicas, mas a ações e procedimentos do diferentes pontos de vista, diferentes observações e diferentes mo-
professor para constituir um ambiente de trabalho investigativo em dos de entender uma situação sejam colocados em debate. Isso au-
que os estudantes atuam para resolver problemas, discutem ações, xilia no processo de construção de entendimento sobre um conhe-
analisam situações e constroem explicações sobre fatos em estudo. cimento científico, bem como ajuda a avaliar posições, legitimando
Nesse sentido, fundamentam o ensino por investigação: o pa- acordos alcançados. Essas ações são marcas importantes do fazer
pel ativo dos estudantes, a construção de relações entre práticas científico.
cotidianas dos estudantes e o ensino que se dá para além dos con- Nas interações discursivas, são também debatidas formas e
teúdos conceituais e a aprendizagem para a mudança social. Não estratégias para resolver o problema que está em investigação. A
se trata de dar mais ênfase ao desenvolvimento de habilidades, em proposição de um plano de trabalho não é uma atividade simples
detrimento do trabalho com conceitos científicos em sala de aula, o nas ciências e representa elemento central em muitas das pesqui-
que poderia acarretar um esvaziamento do currículo. sas realizadas.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
As estratégias de trabalho congregam aspectos teóricos, de co- A fase de orientação envolve o estímulo à curiosidade dos es-
nhecimentos já aceitos e com a construção das hipóteses. Em sala tudantes e apresentação do problema que será resolvido por eles.
de aula, na maioria das vezes, o plano de trabalho não é discutido Neste momento, podem ser levantadas as concepções prévias dos
com os estudantes, nem se dá oportunidade a eles para que pos- estudantes sobre o assunto a ser trabalhado.
sam refletir sobre ações que podem ajudar na resolução de um Na fase de conceitualização, são elaboradas questões de inves-
problema, o que restringe as ações à mera consecução de etapas tigação e/ou hipóteses que poderão ser investigadas.
e pode reforçar a percepção de que o conhecimento científico é A investigação consiste no planejamento de ações para respon-
construído por meio de passos lineares que acumulam achados e der às perguntas ou testar as hipóteses. Essas ações podem con-
levam à proposição de um novo saber. sistir em experimentos científicos, com controle de variáveis, ou
Ao pensar no ensino de Ciências, que ocorre por meio de inves- podem ser baseadas em explorações, ou seja, estratégias didáticas
tigações levadas à sala de aula, as práticas científicas, anteriormen- diferenciadas, que utilizem fontes diversas de dados (textos, jogos,
te mencionadas, ganham concretude. Nesse sentido, o trabalho debates, simulações, atividades práticas, observações em campo
com os problemas e o desenvolvimento das interações discursivas etc.) que possam ser analisados e interpretados de forma que pos-
em sala de aula tornam-se aliados para o desenvolvimento de ações sibilitem a elaboração de explicações e novos conhecimentos que
que permitam o tratamento da informação, o plano de trabalho e a respondam à questão de investigação na fase de conclusão.
construção de explicações. Ao longo de todo o processo investigativo, acontece a fase de
É bastante comum assumir a relação entre o ensino de Ciências discussão, que envolve o trabalho em grupo, a apresentação dos re-
e o desenvolvimento de experimentação em sala aula. Os experi- sultados obtidos e interpretações e a reflexão e avaliação das ações
mentos são práticas das ciências, não são as únicas, mas uma entre e acontecimentos que possibilitaram a construção de conhecimen-
as importantes. Elas são reconhecidas, por vezes, como o desenvol- tos durante a investigação.
vimento de etapas subsequentes e bem definidas de observação e
coleta de dados e estabelecimento de conclusões. Além dessas fases, é relevante que os conhecimentos elabora-
Essas ações podem permitir contato com aspectos do fazer cien- dos possam ser aplicados em novas situações ou na resolução de
tífico, mas não valorizam outros aspectos do processo investigativo novos problemas, dando origem a novas questões e, portanto, a
que permeiam as ciências, como o problema de investigação, as novos ciclos de investigação. A proposta aqui não é que o professor
negociações, a criatividade e a imaginação, a busca por razões que siga o ciclo de investigação como uma sequência de etapas lineares.
expliquem evidências e conclusões, a avaliação das proposições e As próprias flechas do esquema indicam que o ciclo investigati-
o papel dos conhecimentos já construídos para o estabelecimento vo é complexo e há um ir e vir ao longo de todo o processo. Apesar
de novos. de, em geral, a questão de investigação orientar o planejamento de
Como forma de dar mais concretude e auxiliar o professor a pla- ações para a coleta de dados e informações, ao produzirmos esse
nejar seu ensino de maneira investigativa, frequentemente o ensino planejamento, muitas vezes, temos que nos voltar novamente à
por investigação é organizado em fases que são conectadas logica- questão para refiná-la ou adequá-la aos instrumentos e métodos
mente em ciclos de investigação. Apresentaremos na figura a seguir disponíveis, por exemplo.
a proposta de Pedaste et al (2015), por ser baseada em uma revisão Nesse sentido, é importante considerar que as fases são ele-
dos ciclos existentes na literatura. mentos do ensino por investigação que estão conectados de manei-
ra a contribuir com a criação de um ambiente investigativo, interati-
vo e reflexivo nas salas de aulas de Ciências Naturais.
Ao longo desses movimentos, conhecimentos já existentes en-
tre os estudantes, advindos de sua experiência cotidiana ou de seu
contato formal com a escola, surgirão e devem ser debatidos à luz
das novas informações para que conceitos e ideias mais completas
sejam construídos. O processo de debate, considerado como uma
prática científica e realizado a partir de interações que instiguem a
crítica, deve colocar em cena elementos processuais da construção
de conhecimento no âmbito das ciências.
Todos estes elementos, processuais, conceituais e interacionais,
devem ser considerados para a avaliação dos estudantes, assim
como para a avaliação que o professor faz de sua própria prática.
Isso também pode ocorrer como uma investigação, em que avanços
são analisados, bem como os esforços despendidos para atingi-los.

O presente documento, em sua integralidade, encontra-


-se disposto no seguinte endereço eletrônico:

http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Fi-
les/50633.pdf

Fases e subfases do ciclo de investigação

http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/50633.
pdf

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Tendo fundamentado a proposta curricular, o olhar conjunto
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- para práticas e conhecimentos em aulas de Ciências Naturais deve
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCU- apoiar o professor no trabalho didático e pedagógico.
LO DA CIDADE: CIÊNCIAS NATURAIS. – 2.ED. – SÃO PAULO: Temas abordados:
SME / COPED, 2019 • Gestão da sala de aula;
• Avaliação de Ciências Naturais;
• Possibilidades para o Desenvolvimento dos Eixos Temáticos
A proposta curricular de Ciências Naturais da Secretaria Mu- no Ensino Fundamental;
nicipal de Educação de São Paulo, além da ação com professores, • O Ensino por Investigação na Construção de Percursos Forma-
da consulta à Rede e em trabalhos sobre concepções de currículo, tivos na Prática de Sala de Aula;
fundamentou-se em estudos que analisam e propõem o papel das • O Ensino de Ciências como Cultura para Todos.
ciências na sociedade atual. Para estudar o documento completo acesse: https://educacao.
“A escola ensina conteúdo”. Essa ideia é bastante comum e di- sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2019/05/50720.pdf
fundida; e, em certos aspectos, é uma ideia correta. Mas a esco-
la ensina mais. Nas aulas de Ciências Naturais, além dos temas e
tópicos de interesse dessa área, podem ser ensinados os próprios
modos de construir conhecimento científico, além das múltiplas re- SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
lações e influências existentes entre ciência e sociedade. RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: ENSINO FUN-
A escola é para os estudantes um espaço importante de intera- DAMENTAL : COMPONENTE CURRICULAR: HISTÓRIA. –
ção. É espaço, ainda, em que suas subjetividades e as suas individu- 2.ED. – SÃO PAULO: SME / COPED, 2019
alidades destacam-se e se complexificam, ao mesmo tempo em que
convivem com objetividades e individualidades múltiplas de outros.
Qualquer pessoa que tenha frequentado a escola lembrará des- Introdução e concepções do componente curricular
se espaço, trazendo à tona aspectos emotivos, estejam eles ligados O documento curricular reconhece que os conteúdos ensinados
às angústias sofridas em épocas de avaliação, como também às ale- em História na escola mantêm relações com as finalidades educati-
grias pelo convívio social e pelas oportunidades de enriquecimen- vas e culturais direcionadas para a educação escolar pela sociedade
to cultural e de desenvolvimento. Fato é que não saímos ilesos da em que está inserida. Os autores André Chervel e Marie-Madeleine
escola: somos modificados por ela e a modificamos, pelo trabalho Compère (1999) discutem que uma das preocupações da educação,
com a formação de novas habilidades cognitivas e novos convívios. a partir das últimas décadas do século XX, tem sido a de explicitar
Juízos sobre convivência, amizade, respeito e colaboração são
as finalidades das disciplinas escolares e suas contribuições dentro
construídos também em atividades e experiências escolares. Isso
dos currículos. Nessa perspectiva, por exemplo, o documento de
reafirma algo que é claro aos professores: a escola ensina muito
História dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (1997) e das
mais do que apenas conteúdos disciplinares. Por vezes o desen-
Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendi-
volvimento de ideias e atitudes, como as acima elencadas, ocor-
zagem para o Ensino Fundamental ciclo II: História, da Secretaria
re espontaneamente, mas em outras, o trabalho é intencional e,
Municipal de Educação - SME (2008), já apresentavam históricos
portanto, práticas são implementadas com o objetivo de que os es-
das diferentes finalidades do ensino ao longo dos currículos bra-
tudantes tenham a oportunidade de envolverem-se com aspectos
sileiros e, também, como naqueles contextos específicos traçavam
atitudinais e procedimentais, a partir dos cognitivos.
Um grande embate que pode surgir na tênue linha que separa grandes preocupações que poderiam ser orientadoras das escolhas
e une a abordagem de conceitos do trabalho com outras habilida- internas ao currículo da disciplina.
des igualmente importantes para o desenvolvimento dos estudan- Assim, é importante identificar como o ensino de História pode
tes é trabalhar atitudes e procedimentos sem relacioná-los com o contribuir para a formação de crianças, jovens e adultos que moram
conteúdo. Pois, ainda que esteja à margem dessa abordagem, pode na Cidade de São Paulo e que pertencem a uma sociedade comple-
gerar o não reconhecimento das atitudes e procedimentos, além xa com sua diversidade cultural e histórica e imersa em um con-
das partes integrantes e dos componentes do conteúdo disciplinar. texto histórico nacional e mundial, com demandas que valorizam a
Considerando as Ciências Naturais como pertencentes a uma interatividade e equidade entre os povos, as culturas, os gêneros,
área de conhecimento da humanidade, saberes e práticas foram as etnias e os variados grupos sociais, envolvendo abertura para
trazidos para a proposta e são igualmente discutidos na apresen- debates, intercâmbios e assimetria de poder.
tação dos eixos norteadores do currículo, dos objetos de conhe- O documento também considera que os conteúdos estudados
cimento a serem trabalhados em aulas de Ciências Naturais e na e os trabalhos produzidos em História na escola decorrem de um
proposição dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para múltiplo diálogo entre a história da disciplina, as práticas e escolhas
o Ensino Fundamental. dos professores, da área de conhecimento de referência, das soli-
Leva-se em consideração, também, a contextualização da citações de estudantes e de suas famílias, dos materiais didáticos
aprendizagem no interior da Matriz de Saberes assim como nos 17 disponíveis e das questões históricas contemporâneas que solici-
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela Agenda tam entendimento, além do princípio de que os estudos históricos
2030. consolidam vínculos de identidade com instituições, grupos sociais,
O trabalho escolar voltado para conhecimentos e práticas das memórias e localidades. Reconhece, ainda, a importância de definir
ciências possibilita aos estudantes o contato com modos de produ- objetivos e conteúdos que favoreçam uma formação comprometida
ção de conhecimento e, em decorrência, surge a necessidade de com a análise, posicionamento e participação diante da complexi-
discutir aspectos sociais, culturais e políticos que interagem mutua- dade da realidade vivida. A partir das premissas apresentadas, pro-
mente representando novos conhecimentos, novos modos de com- põe a ideia de que os estudos históricos escolares devem contribuir
portamento, outras perspectivas de entender o mundo. para:
a) identificar problemas enfrentados pela sociedade na atuali-
dade e aqueles enfrentados no passado;
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
b) investigar quais entendimentos são necessários para dimen- te às produções escritas, passou a ser mais amplamente entendida
sionar as questões contemporâneas em perspectivas históricas; como obras de sujeitos e de contextos, que necessitam ser mais
c) conhecer, analisar, questionar e intervir na organização da profundamente analisadas e diversificadas, incluindo os mais diver-
sociedade em que se vive, na perspectiva de sua diversidade. sos vestígios produzidos pelas sociedades – material, oral, escrito,
Para ocorrerem situações de ensino e de aprendizagem esco- iconográfico, cartográficos etc. O conceito de fonte histórica provo-
lares é inerente aos currículos definições de conteúdos. Especifica- ca questionamentos e interpretações das representações internas
mente no ensino de História, é importante reconhecer que a sele- às diferentes linguagens e meios de comunicação, expressão e arte
ção e a escolha de conteúdos devem estar “em consonância com (PROST, 2008).
as problemáticas sociais marcantes em cada momento histórico” Por sua vez, o sujeito histórico, que antes era identificado como
(BEZERRA, 2003, p. 39). Assim, o diagnóstico das questões atuais governantes e heróis, incorporou ao longo do século XX as pessoas
orientou o reconhecimento de que, a partir do final do século XX, comuns na sua diversidade de etnia, gênero, idade, grupos e classes
passou a existir uma predominância de um modo de viver cotidiano sociais (PROST, 2008). Desse conceito, na sociedade atual, derivou
e capitalista que, na perspectiva de uma formação histórica, precisa o de protagonismo histórico, com estudos que evidenciam e valori-
ser estudado, analisado e questionado. Considerando que as socie- zam as ações, mesmo que de resistência e mesmo que restritas ao
dades são complexas, para melhor entender essa predominância cotidiano de indivíduos e grupos sociais pouco visibilizados e pou-
é importante também estudar os embates históricos com outros co estudados historicamente, como os indígenas, as mulheres e os
modelos de sociedade que se impuseram e resistiram a esse modo afrodescendentes (DIAS, 1983).
de vida no presente e no passado, assim como as classes sociais e Como os demais conceitos, o tempo histórico também foi ob-
grupos que discordaram, confrontaram e projetaram outras alter- jeto de estudo de muitos historiadores, que romperam com a única
nativas econômicas, políticas, sociais e culturais. ideia de um tempo medido e organizado por uma cronologia line-
Para serem estudadas historicamente, as grandes problemáti- ar. Outras percepções incorporaram o conceito de duração e de
cas contemporâneas dependem de conceitos e de seus desdobra- ritmos de tempo (percebidos subjetiva e socialmente como mais
mentos em categorias de análise. Desse modo, importantes con- ou menos acelerados, como tempo de natureza, tempo de fábrica
ceitos são didaticamente enfatizados na escola, com o intuito de etc.). No caso da duração, os historiadores passaram a estudar os
possibilitar aos estudantes um entendimento e reflexões históricas. acontecimentos a partir de avaliações de suas extensões de tempo,
Antes de especificar quais são os importantes conceitos histó- podendo qualificá-los como de longa duração (estrutura), de média
ricos na escola, é importante distinguir noções, conceitos e catego- duração (conjuntura) e de curta duração (breve). Os conceitos his-
rias. As noções são ideias parciais ou particulares de algo. As noções tóricos de tempo e de duração instigam a construção de relações
de tempo, por exemplo, contribuem para nossa percepção especí- temporais entre
fica de ciclos da natureza ou passagem do tempo. Já os conceitos
acontecimentos a partir de categorias de mudança/transfor-
generalizam ideias que abarcam o todo de algo que está sendo pen-
mação, permanência, sucessão, continuidade, simultaneidade, des-
sado. Eles incluem um esforço de abranger o todo, ou tudo o que
continuidade e ruptura. Já o conceito de história, de modo amplo,
não pode deixar de ter ou ser.
pode ser entendido como realidade social e também como conhe-
São, portanto, abstratos e não fazem recorrência a determina-
cimento científico que estuda a realidade social, os acontecimentos
da qualidade, característica ou manifestação. O conceito de tempo,
humanos de uma sociedade, na perspectiva do tempo (LE GOFF,
por exemplo, é muito complexo, porque, para ser concebido, de-
1990). E, como outros conceitos, a história como ciência também
manda uma síntese abstrata do que ele potencialmente pode ser.
tem sido circunscrita a partir de concepções diferenciadas, como
Por suas características, os conceitos são sempre abertos, pois po-
decorrências dos embates historiográficos. A história tradicional do
dem ser reorganizados a partir de novas sínteses e novas ideias. Já
as categorias são conceitos que assumem a potencialidade de pro- século XIX sustentava-se na ideia de continuidade e de um passado
vocar relações entre fatos e ideias. No caso do conceito de mudan- verdadeiro. Porém, as reflexões desencadearam outros entendi-
ça, por exemplo, pode ser empregado como categoria de relações mentos: a consciência da distância entre o presente e o passado; a
temporais, possibilitando a comparação de um mesmo fato em dois interferência da mediação do sujeito histórico que investiga, narra e
momentos no tempo, com a indicação se houve ou não transforma- faz escolhas teóricas; os obstáculos do acesso às fontes para aproxi-
ções. (BEZERRA, 2003). mações com o passado; a fragmentação documental; a reavaliação
Entre os conceitos históricos escolares estão aqueles que são dos protagonistas históricos e do papel da memória na sua relação
intrínsecos ao conhecimento histórico, como os que incluem a iden- com a história etc. (PROST, 2008).
tificação e seleção dos eventos a serem estudados (fato histórico), Entre os conceitos de referência das Ciências Humanas, é im-
as pessoas, grupos ou instituições neles envolvidos (sujeito histó- portante salientar o de cultura e seus desdobramentos nos de inter-
rico), o contexto em que ocorreram (tempo histórico) e como eles culturalidade e hibridismo cultural. Esses são conceitos que estão
puderam ser conhecidos e estudados (fonte histórica). Esses con- presentes em atuais propostas curriculares das Ciências Humanas.
ceitos estruturam o modo de pensar historicamente, mas também O conceito de cultura é assim apresentado nas Orientações Curricu-
são construções históricas, possuem historicidade, e estão vincula- lares de Ensino Médio:
dos a diferentes linhas teóricas que os fundamentam.
Assim, não há uma única definição para cada um deles. Os A cultura não é apenas o conjunto das manifestações artísticas
conceitos históricos têm passado por transformações. No sécu- e materiais. É também constituída pelas formas de organização do
lo XIX, fato histórico era entendido como uma realidade dada, já trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos,
pronta, que cabia ao historiador identificar e organizar para compor das religiões, das festas. As diversidades étnicas, sexuais, religiosas,
a História. Ao longo do século XX, por meio de inúmeros embates de gerações e de classes constroem representações que constituem
e questionamentos, os fatos para serem históricos passaram a ser as culturas e que se expressam em conflitos de interpretações e de
referendados em documentos, que, por sua vez, devem ser critica- posicionamentos na disputa por seu lugar no imaginário social das
mente analisados quanto à sua veracidade e seus discursos. Já fonte sociedades, dos grupos sociais e de povos. A cultura, que confere
histórica, que esteve vinculada à ideia de testemunho e unicamen- identidade aos grupos sociais, não pode ser considerada produ-
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
to puro ou estável. As culturas são híbridas e resultam de trocas • distingam e analisem como diferentes sociedades constituem
e de relações entre os grupos humanos. Dessa forma, podem im- seus territórios e como historicamente as sociedades constroem
por padrões uns sobre os outros, ou também receber influências, noções e representações de diferentes espaços, vividos e imagina-
constituindo processos de apropriações de significados e práticas dos;
que contêm elementos de acomodação-resistência. Daí a impor- • identifiquem e compreendam as atuações de protagonismo
tância dos estudos dos grupos e culturas que compõem a História histórico de diversos grupos e sociedades na luta por legitimidade e
do Brasil, no âmbito das relações interétnicas. O estudo da África e reconhecimento de seus projetos específicos em diferentes tempos
das culturas afro-brasileiras, assim como o olhar atento às culturas e espaços sociais;
indígenas, darão consistência à compreensão da diversidade e da • reconheçam a interculturalidade nas práticas sociais, iden-
unidade que fazem da História do Brasil o complexo cultural que lhe tificando as representações construídas em relação ao outro, res-
dá vida e sentido. (BRASIL, 2006, p. 77). peitando e acolhendo os indivíduos, os grupos e as culturas, consi-
derando-os como imersos em processos contínuos de elaboração,
O conceito de história e de cultura promovem análises e con- construção e reconstrução de seus vínculos e identidades, e valori-
frontações entre modos de vida no tempo e entre povos, fazendo zando suas diferenças e historicidades;
uso de categorias de diferenças e semelhanças. • reconheçam e analisem as culturas híbridas e como elas esta-
O conceito de interculturalidade incorpora a ideia de que no belecem novas raízes, a partir de encontros, conflitos e negociações
interior de uma sociedade existem diferentes grupos sociais e cul- históricas;
turais e que existe uma ação deliberada de inter-relações entre eles. • estabeleçam relações entre diversas áreas de conhecimento,
Nesse sentido, é um conceito que evidencia esses convívios e as considerando a complexidade dos objetos de estudo;
transformações desencadeadas por eles, constituindo processos • apropriem-se da leitura e da escrita e desenvolvam o gosto
históricos e dinâmicos de elaborações e reelaborações culturais. e o prazer de conhecer e de se aproximar de diferentes escritores,
Agrega-se a esse conceito, o de culturas híbridas, que resultam das perspectivas, bem como realidades fictícias e históricas;
relações de trocas e de apropriações culturais entre os grupos hu- • saibam lidar criticamente com a informação histórica disponí-
manos, mobilizando a construção de identidades abertas e em re- vel, atuando com discernimento e responsabilidade nos contextos
construção permanente (CANDAU, 2012). das culturas digitais (BRASIL, 2017).
Ainda cabe explicitar um conceito próprio da esfera do ensino, É importante ressaltar o compromisso das políticas públicas
que é valioso para essa proposta: o de interdisciplinaridade. Ele é com a qualidade da educação, que inclui fundamentalmente a valo-
aqui entendido como vínculos temáticos entre as disciplinas para a rização docente. O professor é o principal mediador do processo de
criação de uma abordagem comum em torno de um mesmo objeto ensino e de aprendizagem, sensível aos saberes das crianças, jovens
de conhecimento. Nesse caso, a abordagem requer estudos históri- e adultos e às expectativas de formação projetadas pelas famílias e
cos mais aprofundados, para identificar como especificamente po- pela sociedade em geral, além de ser o construtor das diferentes
dem contribuir, junto com os estudos de outras disciplinas, para a didáticas desenvolvidas em sala de aula. É necessário reconhecer,
compreensão da complexidade de determinado objeto de estudo. assim, sua atuação como pesquisador na perspectiva da educação
Por exemplo, as relações da sociedade com a natureza passaram a integral, considerando as especificidades dos estudantes do século
ser objeto de estudo da história, constituindo o que se denomina XXI (TARDIF, 2001).
hoje de história ambiental, que gradativamente tem fundamentado
também propostas escolares (BITTENCOURT, 2004). Direitos de aprendizagem de história
A proposta de ensino de história aqui apresentada, consideran- O ensino de História na Educação Básica tem por finalidade
do as problemáticas contemporâneas e os conceitos já delineados, possibilitar ao estudante reconhecer-se sujeito histórico, adqui-
apresenta a ideia de que as situações de ensino e de aprendizagem rir consciência de si e preparar-se para o exercício da cidadania
devem possibilitar, no Ensino Fundamental, que os estudantes: tal como é estabelecido na Lei nº 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e
• adquiram uma formação integral, que não fique restrita ape- Bases da Educação Nacional, à qual foram incorporadas alterações
nas à aquisição de informações e conceitos, mas que também pos- com a aprovação da Lei nº 10.639, de 2003, que incluiu no currículo
sibilite o aprendizado de procedimentos e atitudes, que ampliem oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática História
domínios práticos e intelectuais e reforcem valores e princípios éti- e Cultura Afro-brasileira e da Lei nº 11.645, de 2008, que tornou
cos valiosos à sua sociedade (ZABALA, 1996); obrigatório no Ensino Fundamental e Médio, nas escolas brasileiras
• aprendam a agir pessoal e coletivamente com criticidade, au- públicas e particulares, o estudo da História e Cultura Afrobrasileira
tonomia, responsabilidade, flexibilidade e determinação, tomando e Indígena.
decisões com base nos conhecimentos construídos por eles na es- Para o ensino de História, há que se considerar os princípios da
cola segundo princípios éticos e democráticos (BRASIL, 2017); liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar saberes com
• percebam-se como sujeitos históricos que interagem e res- pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, garantindo o res-
peitam outros sujeitos da sociedade em que vivem, na sua diver- peito à liberdade, o apreço à tolerância, bem como a valorização da
sidade (gênero, etnia, social, política, econômica, classe, crenças, experiência extraescolar, das práticas sociais, da diversidade étnico-
entre outras), e pertencentes a diferentes sociedades de tempos e -racial e da qualidade social da educação.
espaços historicamente constituídos; Prezado(a), para estudar todo o documento, acesse: ht-
• identifiquem, analisem e reflitam sobre os fatos históricos tps://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uplo-
eleitos para explicar a história do presente e do passado, questio- ads/2021/08/CC-Historia.pdf
nando, confrontando e relacionando-os entre si e com os sujeitos
históricos que os protagonizaram, a partir de referências temporais
e espaciais;
• compreendam e analisem diferentes referências temporais
para os estudos históricos, como os tempos de vivências sociais e
durações de tempo como permanências, mudanças e padrões de
medidas temporais;
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Nesse sentido, optou-se por apresentar o componente curri-
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- cular buscando relacioná-lo com o ensino. O processo de transfor-
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍ- mação da Geografia ocorreu no contexto histórico de 1960-1970,
CULO DA CIDADE: HISTÓRIA. – 2.ED. – SÃO PAULO: SME / em particular, sob os desdobramentos da polarização do mundo da
COPED, 2019 Guerra Fria e do Estado governado por ditaduras militares. As Ge-
ografias praticadas no mundo se diversificam em análises espaciais
que envolvem crescentemente a crítica ao capitalismo e ao socia-
O processo de implementação curricular envolve intensamente lismo de Estado. Moraes (2003) considera que nesse período emer-
os docentes. Desses profissionais, espera-se que eles conheçam os gem também as questões socioambientais, as disputas por energia
Materiais Curriculares da Rede Municipal de Ensino e que estabele- e outros recursos naturais, a degradação ambiental e, mais recente-
çam diálogos entre o Currículo da Cidade e o que já se desenvolve mente, as mudanças climáticas.
nas diferentes Unidades Escolares. Nesse processo, revisitam-se os Historicamente, o processo de renovação do pensamento geo-
projetos de cada escola e novos caminhos pedagógicos, que são de- gráfico ficou consignado, justamente por marcar uma ruptura com
lineados para mais um ano letivo. Nesse sentido, o que se espera é a Geografia Clássica. Nas últimas décadas, essa transformação re-
um árduo trabalho de estudo e reorientação de rotas de trabalho, flete-se num amplo conjunto de estudos que analisam a dinâmica
o qual não pode ser feito pelo professor de forma solitária, pois da sociedade e a fase rentista do capital, assim como os processos
requer parceria de outros docentes e – principalmente – do Coor- funcionais da natureza diante dos impactos da exploração econô-
denador Pedagógico. mica e a conservação da natureza. As mudanças no campo cientí-
O Coordenador Pedagógico tem a possibilidade de desenvol- fico repercutiram nas práticas educativas escolares. De uma visão
ver percursos de formação continuada que apoiem os professores descritiva do mundo, pautada pela memorização de conteúdos
nesse processo de implementação curricular. Para isso, é necessário factuais, passou-se a uma abordagem problematizadora das ques-
que - além de conhecer o Currículo da Cidade - também se aproprie tões da produção do território como campo de forças e disputas,
do papel de formador e articulador dos processos educativos que da interpretação sistêmica da natureza, que não exclui as transfor-
acontecem na escola. mações que a sociedade urbana e industrial produz, da crítica e da
Este documento foi escrito a muitas mãos, contando com rela- valorização da diversidade cultural, da expansão das geotecnolo-
tos de Coordenadores Pedagógicos, Diretores, Supervisores Esco- gias e do papel ativo dos geógrafos nas temáticas do planejamento
lares, Professores e Assessores que, em suas vivências, reiteram o territorial e da cartografia (em amplo sentido, desde a cartografia
papel fundamental do Coordenador Pedagógico no cotidiano esco- participativa com os povos aos sofisticados produtos da cartogra-
lar e na formação dos professores, com vistas à garantia da aprendi- fia digital). Outras frentes poderiam ser acrescidas a essas, o que
zagem de todos os estudantes. tornaria a explanação extensa, mas o importante é destacar que os
Assim, estas Orientações constituem o primeiro de outros objetos de conhecimento da Geografia estão no mundo real, daí o
movimentos que serão fomentados pela Secretaria Municipal de conhecimento pautar-se pela crítica socioambiental e uma postura
Educação de São Paulo, com o propósito de apoiar e inspirar os transformadora diante das injustiças sociais.
Coordenadores Pedagógicos diante dos múltiplos desafios de sua Para essa diversidade de objetos, a análise do espaço geográfi-
profissão. co foi sendo enriquecida pela contribuição teórica de grandes aca-
Temas abordados: dêmicos da Geografia, como Santos (1987; 2000a; 2001), Ab’Saber
• Gestão Escolar: articulação e parceria na construção do pro- (2003; 2004; 2007), Monteiro (2001), Oliveira (1978; 2001), Andra-
jeto da escola; de (1963; 1989), Simielli (1992; 1996), Moreira (1991; 2007), Almei-
• O Coordenador Pedagógico e a Gestão Pedagógica; da (2001; 2005), Carlos (1992; 2001; 2004), Corrêa (1989; 2004),
• O Coordenador Pedagógico na Implementação Curricular; Pontushka (1992; 1999) e muitos outros que sistematizaram as ba-
• O Coordenador Pedagógico no acompanhamento e Avaliação ses teóricas no campo científico. Essas bases, traduzidas em concei-
das Aprendizagens; tos estruturantes do pensamento, tais como território, paisagem,
• Avaliação das Aprendizagens: avaliação formativa e platafor- lugar e região, são fundamentais, pois delas resultaram métodos e
mas de avaliação como potencializadoras da ação pedagógica; procedimentos específicos do modo de estudar o mundo.
• Atuação do Coordenador Pedagógico: a Educação de Jovens e Mas é preciso reconhecer que o movimento de renovação aca-
Adultos e o Ensino Médio. dêmica não teve a mesma temporalidade e capilaridade na trans-
Prezado(a), para estudar todo o documento, acesse: ht- formação do ensino de Geografia; particularmente, os livros didáti-
tps://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uplo- cos demoraram a assumir essa nova trajetória do saber geográfico.
ads/2019/05/50729.pdf No entanto, o processo de difusão do campo científico encontrou
respaldo de profissionais de educação que passaram a pensar os
currículos como reflexo dos novos posicionamentos da Geografia
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- diante do mundo.
RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: ENSINO FUN- Segundo Palma Filho (2004 apud ALENCAR, 2009, p. 41-42), foi
DAMENTAL : COMPONENTE CURRICULAR: GEOGRAFIA. – a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) que, em
2.ED. – SÃO PAULO: SME / COPED, 2019 1986, “iniciou um ambicioso trabalho de reorganização curricular
dos então ensinos de 1º e 2º graus, constituindo equipes de tra-
balho para elaborar novas orientações curriculares para todas as
Introdução e concepções do componente curricular disciplinas1 ”. A proposta de Geografia que consta no documento
A elaboração de currículos em campos de conhecimento com- da CENP é a materialização do momento que vivia o Brasil: urba-
plexos, como a Geografia, pressupõe desafios. Esses estão pautados nização e industrialização foram os motes e fios condutores dessa
pela dimensão das trajetórias do pensamento geográfico, que nas proposta para o 1°grau.
últimas décadas passou por uma significativa transformação nos
conteúdos, enfoque e abordagens teóricas e metodológicas. A Geo-
grafia está sempre em movimento!
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Na década de 1990, em São Paulo, na gestão de Paulo Freire • Sugere-se ao professor reservar aproximadamente aulas se-
como Secretário Municipal de Educação, segundo Pontushka, Paga- quenciais ou, se preferir, desenvolver um conjunto de atividades
nelli e Cacete (2007 apud ALENCAR, 2009), foi construído o docu- permanentes. Para isso reservar pelo menos 4 semanas.
mento “Visão de Área de Geografia”. A elaboração desse documen-
to foi fruto da participação dos professores e técnicos do Núcleo de Conteúdos
Ação Pedagógica (NAE). • Observação de imagens de paisagens do espaço vivido em
Em resumo, as transformações das posturas geográficas diante diferentes ângulos e distâncias
do mundo produziram uma ruptura com as interpretações naturali- • Noção de que a paisagem se mostra por sua aparência, mas
zantes da sociedade e supostamente neutras em relação ao Estado: há movimentos que não vemos nas imagens que vemos das paisa-
avançando-se para uma visão da Geografia como ciência social gens;
engajada e atuante num mundo cada vez mais dominado pela glo- • Análise de imagens e objetos construídos na paisagem local;
balização dos mercados, pelas mudanças nas relações de trabalho e • Participação de situações de comunicação oral;
pela urgência das questões ambientais e culturais. [...]. Além disso, • Desenho de observação;
relacionou os fenômenos sociais com a natureza apropriada pelos • Primeiras noções de posição.
seres humanos, compreendendo as relações que se estabelecem
entre os eventos sociais, culturais, econômicos e políticos, em suas Prezado(a), para estudar todo o documento, acesse: ht-
diferentes escalas. (SÃO PAULO, 2008, p. 74). tps://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uplo-
Diante desses destaques, como pensar um documento curricu- ads/2021/08/OD-Geografia.pdf
lar para a situação geográfica das dimensões e importância territo-
rial nacional e global da Cidade de São Paulo?
A Cidade de São Paulo, em si, já é um objeto de conhecimento
complexo. A multidimensionalidade, as diversidades socioespaciais, SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
as desigualdades socioeconômicas e as condicionantes biogeofísi- RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE: ENSINO FUN-
cas do município evocam o âmago dos estudos da Geografia. Se- DAMENTAL : COMPONENTE CURRICULAR : ARTE. – 2.ED.
gundo Damiani (2004, p. 25), é: – SÃO PAULO: SME / COPED, 2019
uma cidade segregadora, capitalizada em todos os seus espa-
ços, plural em sua formação socioespacial, ambientalmente sacrifi-
cada pela voragem do capital, mas também rica em manifestações Apresentação
dos injustiçados e palco de importantes processos de transforma- Esta publicação tem a cooperação da UNESCO e da Secretaria
ção em curso. (DAMIANI, 2004, p. 25). Municipal de Educação de São Paulo no âmbito da parceria PRO-
Nesse sentido, é que se coloca para os professores as questões: DOC 914 BRZ 1147, cujo objetivo é fortalecer a governança da Edu-
como trabalhar a Geografia em movimento? Como criar possiblida- cação no Município de São Paulo por meio de ações de inovações à
des instigantes para os estudantes? Como ensinar e aprender sobre qualidade educativa e à gestão democrática.
São Paulo em suas múltiplas territorialidades? Evidente que esta- Em 2018, a Secretaria Municipal de Educação (SME) deu início
mos diante de uma proposta que precisa articular-se com os demais ao processo de implementação – na Rede Municipal de Ensino de
saberes, e não se pretende “inventar a roda”. O objetivo maior é São Paulo – do Currículo da Cidade para o Ensino Fundamental, que
auxiliar os professores e toda a comunidade escolar, que acreditam foi elaborado a muitas mãos pelos profissionais da nossa Rede, ao
num ensino que faz sentido para a vida, a organizar e propor cami- longo do ano de 2017. Resultado de um trabalho dialógico e co-
nhos que potencializem a compreensão do mundo e ofereça aos laborativo, o Currículo teve a participação dos nossos estudantes
estudantes acesso a uma leitura da realidade para a promoção da por meio de um amplo processo de escuta, que mapeou anseios e
cidadania e cultura. Pois, afinal, somos responsáveis pela formação recomendações sobre o que e como eles querem aprender.
de uma sociedade capaz de pensar e agir criticamente. As complexi- O rio segue procurando caminhos que levem ao mar. Após a
dades de São Paulo exigem muito do campo de estudos da Geogra- publicação dos Direitos de Aprendizagem dos Ciclos Interdisciplinar
fia e essa ciência está pronta para contribuir significativamente com e Autoral (2016), busca-se estruturar um currículo de Arte para a
a transformação da vida de nossos estudantes. Cidade de São Paulo. Esforçamo-nos para que a nascente documen-
Prezado(a), para estudar todo o documento, acesse: https:// to seja parte do fluxo de ideias do intenso trabalho desenvolvido
educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2019/10/ nos anos anteriores, de tal forma que o sentido do currículo esteja
cc-ef-geografia.pdf atrelado aos direitos de aprendizagem em Arte. Agora, nosso olhar
se dirige aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, isto é,
ao estabelecimento de uma estrutura que, mesmo tendo sua ne-
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- cessária plasticidade, permite a consolidação de ações formativas e
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍCU- outras formas de apoio docente mais efetivas, pois foram desenvol-
LO DA CIDADE : GEOGRAFIA. – 2.ED. – SÃO PAULO : SME / vidas a partir de um currículo geral para toda a Rede.
COPED, 2019 Não faria sentido, portanto, repetirmo-nos quanto às concep-
ções muito bem formuladas e sintetizadas de que trata o documen-
to Direitos de Aprendizagem dos Ciclos Interdisciplinar e Autoral:
Objetivos didáticos Arte (SÃO PAULO, 2016): visão da área de Arte; direitos de aprendi-
• Ensinar a comparar diferentes paisagens e seus componen- zagem em Arte; a contemporaneidade no ensino de Arte; o docente
tes; de Arte; a relação arte, cultura e sociedade; o espaço da Arte na es-
• Contextualizar a observação da paisagem e introduzir noção cola; interdisciplinaridade na Arte; avaliação em Arte e especificida-
de posição; des das linguagens artísticas – artes visuais, dança, música e teatro.
• Utilizar o desenho de observação para representar formas.

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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O que se poderia enfatizar, neste momento, é pensar o currícu- O Currículo de Língua Brasileira de Sinais foi organizado desde
lo. Nosso ponto de partida é sublinhar que o currículo se movimen- a Educação Infantil até o Ensino Fundamental e está alinhado aos
ta pela ação do professor, posto que é ele quem realiza a mediação princípios norteadores e bases teóricas que alicerçaram o Currículo
entre os documentos oficiais que dispõem acerca do ensino de Arte da Cidade.
e os estudantes. Esse Documento se destina aos estudantes surdos matricu-
Essa mediação, contudo, não deve ser compreendida como lados nas Escolas Municipais Bilíngues para Surdos – EMEBS, nas
aplicação, como cumprimento mecânico de tarefas. O professor se Unidades Polo de Educação Bilíngue, e para os estudantes surdos
insere num permanente processo de criação, trazendo proposições matriculados nas classes regulares da Rede Municipal de Ensino de
lúdicas, invenções, situações diversas de fruição e nutrição estética, São Paulo com atendimento nas Salas de Recursos Multifuncionais.
intervenções, interações, diálogos e ações poéticas. Em outras pala- O processo para a elaboração do Currículo foi realizado sob a
vras, trata-se de um mediador ativo e propositor frente às políticas orientação da Coordenadoria Pedagógica (COPED), Núcleo Técnico
educacionais. de Currículo (NTC) e Divisão de Educação Especial (DIEE) da Secreta-
Retomemos o modo como o documento Direitos de Aprendi- ria Municipal de Educação de São Paulo, partindo das experiências
zagem dos Ciclos Interdisciplinar e Autoral: Arte (SÃO PAULO, 2016) e vivências das pessoas surdas e dos profissionais que atuam na
descreve o movimento curricular pela ação do professor: educação bilíngue, bem como das proposições das unidades educa-
“As ações artísticas propostas e compartilhadas in loco entre cionais e grupos que representam.
professor e estudantes tornam as escolas vivas, em movimento Nesse sentido, o primeiro consenso da equipe técnica da DIEE
constante de diálogos entre Arte e sociedade; elas trazem de volta foi que a Libras ganhasse centralidade curricular, por isso foram or-
ao(à) professor(a) sua função de artista, de artista/docente. Com ganizados dois Grupos de Trabalho (GTs) Libras e Língua Portuguesa
isso, o(a) professor(a) de Arte não se entende somente como um para Surdos com o objetivo de estabelecer inter-relações entre os
intermediário, um mediador, um facilitador entre o mundo da Arte dois currículos de forma que ocorresse o encadeamento de conte-
e o mundo da escola; ele(a) é também uma fonte viva para que údos e metas.
estudantes experienciem de maneira direta as relações entre o cir- O GT de Libras foi composto por representantes da Divisão
cuito social da arte e a escola.” (SÃO PAULO, 2016, p. 19). de Educação Especial (DIEE), pelos profissionais de referência na
Cada professor reúne em si percursos exclusivos de vida. São educação de surdos indicados por suas unidades educacionais:
diferentes estudos, interesses, repertórios, posturas, metodologias Professores Bilíngues, Professores de Libras, Instrutores de Libras,
e modos de se relacionar com o mundo. As escolas abarcam do- Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE), Pro-
centes que tiveram sua formação inicial em períodos mais distantes fessores de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (PAAI), represen-
e outros que acabaram de concluir a licenciatura. Essas diferenças tantes da Comunidade Surda e pela Equipe de Assessoria.
conferem colorido às aulas de Arte da Rede Municipal de Ensino, Os encontros GT - Libras ocorreram no período de abril a julho
tão autênticas quanto seus professores. de 2018, e seu processo de construção possibilitou o debate mais
Respeitando esse colorido, propomos dar aos docentes a pos- aprofundado, propiciando uma reflexão coletiva a partir das expe-
sibilidade de criar percursos de aprendizagem com ênfase em sua riências docentes, das vivências das pessoas surdas e das pesquisas
linguagem de formação específica, focalizando conceitos e práticas na área. Uma construção democrática e coletiva, tendo como base
gerais da área de Arte. Assim, procuramos ressaltar o que é espe- as seguintes premissas:
cífico de cada linguagem, mas também pensar o que as atrelam, o • Continuidade: O processo de construção curricular procurou
que é comum a todas. romper com a lógica da descontinuidade a cada nova administra-
Observando esses aspectos, a escrita deste material, colabora- ção municipal, respeitando a memória, os encaminhamentos e as
tivamente com os professores da Rede, visa a acolher as necessida- discussões realizadas em gestões anteriores e integrando as experi-
des do profissional de Arte na Rede Municipal de Ensino, possibili- ências, práticas e culturas escolares já existentes na Rede Municipal
tando a iniciação, desenvolvimento e aprofundamento artístico nas de Ensino.
quatro linguagens pelos estudantes. • Relevância: Este Currículo foi construído para ser um docu-
• mento dinâmico, a ser utilizado cotidianamente pelos professores
Prezado(a), com vistas a garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimen-
Para estudar o documento completo acesse: to a todos os estudantes surdos da Rede.
https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uplo- • Colaboração: O documento foi elaborado considerando dife-
ads/2019/05/50636.pdf rentes visões, concepções, crenças e métodos, por meio de um pro-
cesso dialógico e colaborativo, que incorporou as vozes dos diversos
sujeitos que compõem a Rede.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- • Contemporaneidade: A proposta curricular tem foco nos
RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE - EDUCAÇÃO desafios do mundo contemporâneo e busca formar os estudantes
ESPECIAL: LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS. SÃO PAULO: para a vida no século XXI.
SME / COPED, 2019 O Currículo de Libras na Educação Infantil foi organizado dentro
das proposições apresentadas pela SME para a Educação Infantil e
indica objetivos de aprendizagem e conhecimento necessários para
Apresentação: que bebês e crianças surdas possam se comunicar em Língua de
A Secretaria Municipal de Educação (SME)/Coordenadoria Sinais, por isso foi organizado em um único eixo: Base Precursora
Pedagógica – Divisão da Educação Especial (COPED-DIEE), com ob- da Aquisição da Língua de Sinais e três objetos de conhecimento:
jetivo de aperfeiçoar a aplicação das premissas de uma educação Visualidade; Organização Linguístico-Motora; Compreensão e Inte-
bilíngue para estudantes surdos, apresenta o Currículo da Cidade ração. Para tanto, a base primeira será a construção de ambiente
– Língua Brasileira de Sinais - Libras, resultado de um trabalho cole- comunicativo propício à aquisição da Libras, assegurando a orga-
tivo e dialógico que contou com a participação de professores, ins- nização dos tempos e espaços que privilegiam as relações dos be-
trutores de Libras, representantes da comunidade surda, técnicos e bês e das crianças surdas, com interlocutores bilíngues, para que
pesquisadores da área. se constituam e se reconheçam como usuários da Língua de Sinais.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Para o Ensino Fundamental, o Currículo de Libras foi organizado
em três Ciclos (Alfabetização, Interdisciplinar e Autoral) e apresenta SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
como base: a Matriz de Saberes; os Objetivos de Desenvolvimento RIA PEDAGÓGICA. CURRÍCULO DA CIDADE - EDUCAÇÃO
Sustentável; os Eixos Estruturantes; os Objetos de Conhecimento, ESPECIAL: LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS. – SÃO
conforme consta na parte 2 deste Documento, bem como os Obje- PAULO: SME / COPED, 2019
tivos de Aprendizagem e Desenvolvimento da Língua Brasileira de
Sinais – Libras.
O Currículo da Cidade – Libras para o Ensino Fundamental foi Apresentação
organizado em 4 eixos: Uso da Língua de Sinais; Identidade Surda; Apresentamos o Currículo da Cidade de Língua Portuguesa
Prática de Análise Linguística; Arte e Literatura Surda, tendo como para Surdos destinado aos estudantes surdos matriculados em nos-
foco a competência linguística e o desenvolvimento da consciência sas Unidades Educacionais de Ensino Fundamental.
metalinguística necessários para que os estudantes surdos constru- O documento foi elaborado a partir das vivências e experiên-
am conhecimentos sobre a sua primeira língua, Libras, e a sua se- cias das pessoas surdas e dos profissionais que atuam na educação
gunda língua, a Língua Portuguesa escrita. bilíngue na Rede Municipal de Ensino, constituindo-se como resul-
Foram desenvolvidas diversas atividades que contribuíram tado de um trabalho dialógico e colaborativo que contou com a par-
para a construção do Currículo de Libras, dentre elas cabe destacar: ticipação de professores, instrutores de Libras, representantes da
• Seminário “Currículo da Cidade: Língua Brasileira de Sinais e comunidade surda, técnicos da Secretaria Municipal da Educação
Língua Portuguesa para Surdos da RME - SP”, que teve como objeti- (SME) e pesquisadores da área.
vo alinhar conceitualmente e apresentar para a Rede o Programa de O Currículo da Cidade de Língua Portuguesa para Surdos busca
atualização/construção do Currículo de Libras e Língua Portuguesa aperfeiçoar as premissas de uma educação bilíngue para os estu-
para surdos. (maio/2018) dantes surdos e, por isso, apresenta inter-relações com o Currículo
• Visitas às unidades educacionais bilíngues se configuraram da Cidade de Língua Brasileira de Sinais, a fim de que os estudantes
momentos preciosos de escuta, estudo, discussão, aprofundamen- surdos construam conhecimentos sobre a sua primeira língua, Li-
to e reflexão sobre as concepções e princípios presentes neste Do- bras, e a sua segunda língua, a Língua Portuguesa na modalidade
cumento. (agosto e setembro/2018) escrita.
• Consulta pública às UEs, equipes das DRE/Supervisão Escolar, Em 2018, durante os meses de outubro e novembro, a primeira
DIPED e CEFAI, no período de 15 de outubro a 21 de novembro de versão dos documentos curriculares foi disponibilizada, em consul-
2018, com contribuições para o aperfeiçoamento do referido Do- ta pública, aos profissionais da Rede para que apresentassem suas
cumento. contribuições, as quais, após análise e discussão, integram as ver-
• Leitura Crítica realizada por pesquisadores da área que tam- sões finais que apresentamos agora.
bém trouxeram importantes contribuições. (dezembro/2018) Se- Nestas páginas, vocês encontrarão materializações dos princí-
minário “Internacional de Educação Bilíngue para Surdos”, com o pios e diretrizes que estão em diferentes documentos municipais
objetivo de conhecer e ampliar as discussões relacionadas ao tema e federais que compõem a história da Educação Especial no Brasil.
e conhecer experiências nacionais e internacionais na educação do Objetivamos, dessa forma, o fortalecimento das políticas de equi-
surdo. (dezembro/2018). dade e da educação inclusiva, além de garantir as condições neces-
Após a incorporação das contribuições pela equipe técnica do sárias para que sejam assegurados os objetivos de aprendizagem
NTC/DIEE e seus assessores, o Documento teve sua versão finali- e desenvolvimento que buscam a promoção da educação integral
zada e disponibilizada em formato impresso, digital e em Libras, a todos os estudantes das nossas Unidades Educacionais, respei-
para ser implementado pelas EMEBS, Unidades Polo Bilíngue para tando suas realidades socioeconômica, cultural, étnico-racial e ge-
Surdos e Salas de Recursos Multifuncionais que atendem alunos ográfica.
surdos matriculados em Unidades Educacionais da RME. As ações Ainda no sentido de formar cidadãos éticos, responsáveis e so-
de implementação contarão com orientações didáticas, materiais lidários, o Currículo apresenta uma Matriz de Saberes, que indica
curriculares e formação continuada. o que crianças, adolescentes, jovens e adultos devem aprender ao
É importante ressaltar que o Documento apresenta imagens longo de suas trajetórias na Educação Básica e, também, os Obje-
dos sinais e também links dos Cadernos de Apoio e Aprendizagem tivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da UNESCO, que bus-
– Libras do 1º ao 5º ano, publicados em 2012 e republicados em cam contribuir para uma sociedade mais inclusiva, democrática,
2015 pela SME, que ilustram alguns objetivos de aprendizagem e próspera e sustentável para todos.
desenvolvimento. Nosso propósito é que o Currículo da Cidade de Língua Por-
• tuguesa para Surdos oriente o trabalho nas escolas e, mais espe-
Prezado(a), cificamente, na sala de aula. Para isso, a formação continuada dos
Para estudar o documento completo acesse: profissionais da Rede, um dos pilares das ações de implementação,
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ constitui-se essencial condição para o salto qualitativo na aprendi-
uploads/2021/08/CC-da-Ed-Especial-LIBRAS.pdf zagem e no desenvolvimento dos nossos estudantes, premissa em
que este documento está fundamentado.
Salientamos que como um currículo vivo, latente, as proposi-
ções desse material estão em constante revisão e reformulação, vis-
to que as ações cotidianas desenvolvidas nas diferentes regiões da
cidade contribuem para este movimento de aprimoramento.
Desta forma, sua participação, educadora e educador, é funda-
mental para que os objetivos deste Currículo deixem as páginas e se
concretizem nas Unidades Educacionais da Rede.

Prezado(a), para estudar o documento completo, acesse:


http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/51128.pdf
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
O Grupo de Trabalho LIBRAS envolveu os profissionais das
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- Unidades Bilíngues: Professores regentes de Libras, Instrutores
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS DO CURRÍ- de Libras, Professores de Atendimento Educacional Especializado
CULO DA CIDADE: EDUCAÇÃO ESPECIAL – LÍNGUA BRASI- (PAEE), Professores de Apoio e Acompanhamento a Inclusão (PAAI)
LEIRA DE SINAIS – LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS. da frente Bilíngue e Gestores das Unidades Educacionais. Estes en-
SÃO PAULO: SME/COPED, 2021 contros propiciaram uma melhor apropriação dos Objetos do Co-
nhecimento e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento pelos
profissionais, conforme eram apresentados, através de sequências
Apresentação didáticas em Libras, elaboradas pelos profissionais participantes e
A Secretaria Municipal de Educação (SME)/Coordenadoria pela formadora. Os diálogos e discussões ocorridos nos encontros
Pedagógica – Divisão da Educação Especial (COPED-DIEE), com o evidenciaram a importância de mais publicações e estudos especí-
objetivo de implementar o Currículo da Cidade Educação Especial: ficos sobre a didática e metodologia de ensino da Libras como pri-
Libras e Língua Portuguesa para surdos, realizou ao longo de 2019 e meira língua, e da sistematização do ensino de Libras nas Unidades
2020, uma série de ações em busca da qualificação e discussão em Educacionais bilíngues da RME.
Rede sobre os Currículos da Educação Especial. O Currículo de Libras, produzido pela RME, destaca-se como o
O processo de implementação curricular teve como foco as primeiro documento com uma proposta estruturada do ensino da
EMEBS, Unidades Polo de Educação Bilíngue e Unidades Regulares Língua Brasileira de Sinais, no território nacional, assim, esperamos
que atendem estudantes surdos na Rede Municipal de Ensino de que as Orientações Didáticas advindas deste GT venham a subsidiar
São Paulo. As ações tiveram por objetivo promover o envolvimento os professores no uso deste Currículo.
dos profissionais na discussão e conhecimento da proposta curricu- O Grupo de Trabalho Língua Portuguesa para Surdos envolveu
lar e fortalecer o diálogo entre o Currículo da Cidade e os projetos os seguintes profissionais das Unidades Bilíngues: Professores re-
de cada Unidade Educacional, redirecionando o olhar e a prática gentes de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental I e II, PAEEs,
pedagógica. PAAIs da frente Bilíngue e Gestores das Unidades Educacionais. A
A Divisão de Educação Especial convidou assessores e forma- reflexão sobre os princípios teóricos-metodológicos do ensino de
dores para potencializar as ações de implementação em todas as Língua Portuguesa para surdos, mediante o estudo e discussão da
regiões e contribuir para a escuta das demandas da Rede. As forma- bibliografia sugerida pela formadora, evidenciou o contraste exis-
ções, ocorridas em 2020, tiveram por objetivo a integração entre as tente entre a proposta Curricular da RME, outras propostas meto-
unidades, reflexão sobre o Currículo e elaboração das Orientações dológicas para o Ensino de Língua Portuguesa como segunda língua
Didáticas do Currículo Bilíngue: Libras e Língua Portuguesa para Sur- e a prática docente nas Unidades Educacionais.
dos. As discussões versaram, principalmente, sobre a demanda
As visitas técnicas ocorridas no período entre 2019 e 2020, pro- contínua de qualificação dos profissionais que atuam nesta área,
moveram a escuta dos profissionais destas Unidades Educacionais: visando à melhoria do ensino da Língua Portuguesa na modalidade
gestores, professores bilíngues, instrutores de Libras e intérpretes escrita e, por consequência, ao melhor desempenho dos estudan-
e guia-intérpretes de Libras e demais membros da comunidade tes surdos na aprendizagem e uso desta língua. Outro fator apon-
educativa. O levantamento inicial evidenciou a preocupação dos tado está relacionado com as estratégias que os estudantes surdos
gestores com questões, como: o atendimento qualificado aos es- usam na compreensão da leitura e na produção escrita e aspectos
tudantes surdos e com outras deficiências associadas, a escassez da avaliação desta produção, a partir dos Objetos do Conhecimento
de profissionais especializados, a importância dos profissionais de e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento da Língua Portu-
apoio (instrutores e intérpretes e guias-intérpretes), bem como a guesa para Surdos.
qualificação e melhoria das condições estruturais e pedagógicas das O Grupo de Trabalho Construção de Materiais Didáticos Bilín-
Unidades. gues teve foco na organização e acompanhamento da produção de
Identificou-se a necessidade de dar atenção às metodologias materiais didáticos bilíngues a partir dos Objetivos de Aprendiza-
e práticas do processo de ensino e aprendizagem da Libras como gem e Desenvolvimento propostos para cada ano/série e compo-
primeira língua e da Língua Portuguesa como segunda língua, favo- nente curricular. Para isso, o grupo de trabalho foi organizado com
recendo a transposição de barreiras, bem como aprimorar os pro- os profissionais das unidades bilíngues indicados, divididos em
cessos de avaliação de primeira e segunda língua. quatro subgrupos, de acordo com área e componente curricular do
Diante ao exposto, é primordial intensificar estudos referentes Ensino Fundamental I e II, a saber: Grupo 1 - Alfabetização; Grupo 2
à proposta curricular para subsidiar e qualificar a ação docente em - Linguagens e Matemática; Grupo 3 - Ciências Naturais e Humanas
toda a Rede. Visando a participação de todos os territórios e enga- e Grupo 4 - PAEEs e PAAIs.
jamento de um número significativo de profissionais em todas as Nos grupos, os encontros envolveram o desenvolvimento e a
unidades, a SME organizou três Grupos de Trabalho (GTs) para a discussão do conceito de materiais didáticos bilíngues, a aprendiza-
discussão dos Currículos da Cidade, o que possibilitou um trabalho gem de técnicas de produção de material didático, finalizando em
reflexivo e coletivo, ampliando o diálogo entre os profissionais das sequências didáticas para os diferentes componentes curriculares.
unidades educacionais, instrutores de Libras e professores especia- O uso da Pedagogia Visual, vinculado aos Objetos de Conhecimen-
listas das diversas áreas. to e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento propostos nos
Currículos da Cidade, possibilitou a análise das características de
cada área do conhecimento, proporcionando a construção de pro-
postas de materiais que atendam às especificidades dos estudantes
Surdos.
Os profissionais participantes dos GTs, elaboraram as ativida-
des, sequências didáticas e jogos que compõem este documento.
Em alguns casos, foi necessário a substituição das imagens devido à
qualidade de resolução, mantendo-se o formato e ideia original de
autoria dos professores.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Prezado(a), para estudar o documento completo, acesse: ht- É importante desmitificar a ideia de que os estudantes com AH/
tps://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uplo- SD não precisam de Atendimento Educacional Especializado – AEE.
ads/2021/11/Livro_OD_Libras_LP-Surdos_WEB.pdf Assim, como os demais estudantes PEE, é preciso verificar a neces-
sidade deste serviço. Portanto, faz-se necessário, e lhe é de direito,
a suplementação curricular, seja na classe comum, participando de
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO- projetos de enriquecimento curricular na escola, ou até mesmo em
RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES PARA ATENDIMENTO DE outros espaços, por meio de parceiros da SME.
ESTUDANTES: ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO. SÃO Infelizmente, essa população nem sempre é identificada nas
PAULO: SME/COPED, 2021 Unidades Educacionais. No entanto, há documentos legais que ga-
rantem esse direito. Dentre eles, destacamos:
• Lei nº 9.394/96, que institui as Diretrizes e Bases da Educa-
A edição deste documento, Orientações para Atendimento de ção Nacional, alterada pela Lei nº 13.234/15, a qual prevê o esta-
Estudantes: Altas Habilidades/Superdotação traz, a todos, infor- belecimento de “[...] diretrizes e procedimentos para identificação,
mações relevantes a respeito da identificação e do atendimento cadastramento e atendimento, na educação básica e na educação
adequado às necessidades educacionais dos estudantes com Altas superior, de estudantes com altas habilidades ou superdotação”.
Habilidades/Superdotação – AH/SD. • Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Edu-
Os temas tratados visam à desmistificação de crenças, a fim de cação Inclusiva (2008), a Resolução CNE/CEB 4, de 2009, e o Decre-
que tenhamos subsídios para fundamentarmos nossas práticas à luz to nº 7.611/2011.
das teorias nessa temática e, consequentemente, oportunizarmos Assim, com disposição legal e abarcados pela ciência, já dis-
melhores condições a esse público nas escolas da Secretaria Muni- pomos de um vasto conhecimento produzido sobre a importância
cipal de Educação – SME de São Paulo. de a escola garantir acesso, permanência e aprendizagem de todos
“Devemos aceitar e celebrar diferenças e entender o valor para os seus estudantes, para que eles desenvolvam o máximo de suas
o nosso mundo quando às pessoas talentosas são dados tempo, am- potencialidades, por meio de oportunidades adequadas.
biente e encorajamento, financeiro e emocional, para criar. Imagine
como seria este mundo sem Beethoven, Pasteur, O’Keefeou Ber- •
nhardt? Agora imagine o que aconteceria se alguns dos mais talen- Prezado(a),
tosos criadores de nossa civilização fossem forçados a se conformar Para estudar o documento completo acesse:
e não recebessem nenhum apoio. Se não estivermos conscientes https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/
das maneiras de ajudar estes indivíduos a buscar sua produtividade uploads/2022/08/Orientacoes-para-atendimento-de-estudantes-
criativa, tanto em idades precoces quanto em períodos posteriores -altas-habilidades_superdotacao.pdf
de suas vidas, devemos então considerar o grande romance ameri-
cano não escrito, o poema não concebido, a cura não desenvolvida
e a guerra não evitada. Esta é a razão pela qual temos que continuar
nossas explorações no entendimento de como promover a criati- SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. COORDENADO-
vidade produtiva tanto nos adultos quanto nas crianças.”, Joseph RIA PEDAGÓGICA. ORIENTAÇÕES PARA ATENDIMENTO DE
Renzulli, 2020. ESTUDANTES: TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO.
Começamos nossa conversa lembrando que a Educação é um SÃO PAULO: SME / COPED, 2021
direito fundamental universal de todos os cidadãos e, como afirma
Monteiro (2006, p. 165), “é um fim em si próprio e um recurso es-
sencial para realização de todos os direitos humanos”. Apresentação
Na atualidade, em que pesem o avanço nas matrículas e a Esse Caderno Orientador foi elaborado a partir das contribui-
premissa de uma Educação Inclusiva, assegurada pela legislação ções das equipes dos CEFAIs, compostas por Coordenadores de CE-
vigente, que respeita e valoriza a diversidade humana, sem descon- FAI, Professores de Apoio e Acompanhamento à Inclusão – PAAIs e
siderar a singularidade de cada um, verifica-se que as escolas ainda Professores de Atendimento Educacional Especializado – PAEEs; dos
encontram sérios desafios para garantir o ensino e a aprendizagem Gestores Escolares (Diretores e Assistentes de Direção); dos Coor-
com qualidade a todos os seus estudantes, sejam eles Público da denadores Pedagógicos; dos Supervisores Escolares e das famílias
Educação Especial – PEE ou não. de estudantes com Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, ma-
Em relação a essa constatação, em uma visão otimista de pos- triculados nas 13 Diretorias Regionais de Ensino – DREs, buscando
sibilidades de ressignificação do contexto escolar, entendemos que garantir a representatividade de todos os territórios.
a Educação Especial, na Perspectiva Inclusiva, pode contribuir na As contribuições foram elaboradas dentro do escopo de uma
ampliação do ensino e da aprendizagem de qualidade a todos os ação formativa intitulada: Ação Formativa para o Atendimento de
estudantes. Estudantes com Transtornos Globais do Desenvolvimento – TGD
A Educação vive o paradigma inclusivo e, nessa perspectiva, matriculados na Rede Municipal de Ensino, sob a coordenação da
as escolas precisam se reestruturar para acolher as diferenças e Prof.a Dr.a Marise Bartolozzi Bastos e organizada pela equipe da Di-
atender a todos os estudantes. Assim, diversos documentos legais visão de Educação Especial – SME/COPED/DIEE, de novembro/2019
amparam o atendimento educacional de todos os estudantes PEE. a outubro/2020, no formato de Grupos de Estudo, como espaço
Nesse sentido, convidamos você a pensar: crítico-reflexivo para alinhamento de questões conceituais sobre o
• Quem são os estudantes público da Educação Especial? tema e sua interface com a legislação vigente, a partir da discussão
• São aqueles que apresentam alguma deficiência, transtor- de Estudos de Caso com o objetivo de levantar os contrapontos no
nos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação trabalho com esses estudantes, tendo em vista a elaboração cole-
– AH/SD. tiva de um Caderno Orientador para subsidiar a ação educativa e
a construção de práticas pedagógicas que possibilitem o acesso, a
permanência e a qualidade dos processos de escolarização e o ple-
no desenvolvimento das aprendizagens desses estudantes.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
Os temas estudados e discutidos na Ação Formativa foram Além das questões em relação à comunicação social, o diag-
pautados na “Metodologia do Estudo de Caso da Escola” (KUPFER; nóstico do Transtorno do Espectro Autista requer também a presen-
PATTO; VOLTOLINI, 2017), e os estudantes trazidos nas discussões ça de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses
foram escolhidos pelas equipes dos CEFAIs, a partir da consigna de ou atividades. Mesmo considerando que cada indivíduo é único,
serem estudantes que estariam mobilizando as equipes no intuito algumas pessoas com autismo podem apresentar seletividade ali-
de buscarem um melhor atendimento a eles nas Unidades Educa- mentar, dificuldade em permanecer em ambientes que tenham
cionais. muitos estímulos visuais e auditivos, dificuldade na leitura do con-
A proposta foi pautada em três eixos norteadores: texto social e até mesmo da leitura gestual de outra pessoa durante
• Metodologia do Estudo de Caso da Escola como proposta de uma comunicação.
um olhar detido sobre o estudante com TEA que está dando sinais Para o diagnóstico do TEA não existe um exame específico que
de dificuldade/sofrimento psíquico e precisa ser acolhido no am- venha a identificar o transtorno, o diagnóstico é realizado a partir
biente escolar para que as ofertas pedagógicas possam ser imple- da observação de características clínicas individuais por meio da
mentadas. avaliação médica, e também conta com os relatos dos pais e ou res-
• Discussão do caso orientada por eixos teóricos amplamente ponsáveis pela criança.
enfatizados no “Currículo da Cidade” (o brincar e a fantasia; o corpo Ainda não se sabe ao certo quais são as causas para o TEA. Mes-
e a imagem corporal; a fala e a posição na linguagem; as manifes- mo tendo grandes indícios de questões genéticas envolvidas, ainda
tações diante das normas e a posição frente à lei e às regras) e que se estudam as causas ambientais o uso de medicamentos durante a
constituem referências para as observações dos professores e da gestação e o ambiente em que o indivíduo está inserido. Apesar de
escola no trabalho com estudantes com TEA. não termos cura para o Transtorno do Espectro do Autismo, existem
• Construção de estratégias de trabalho escolar a partir desse diversas terapias, tratamentos e proposições de ajustes ambientais,
olhar atento que se debruçou sobre as questões/entraves debati- que podem auxiliar na funcionalidade do indivíduo, trazendo mais
dos pelos professores. qualidade de vida para as pessoas com TEA.
A Portaria nº 8.764, de 23 de dezembro de 2016, que regula- Algumas características que podemos encontrar em estudan-
menta o Decreto nº 57.379, de 13 de outubro de 2016, que institui tes que estejam dentro do Espectro do Autismo:
no Sistema Municipal de Ensino a “Política Paulistana de Educação • ausência ou falta de necessidade de interação visual;
Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva” caracteriza em seu • falta de resposta quando chamado pelo nome, aparentando
“Anexo I” que os educandos com Transtornos Globais do Desenvol- não escutar;
vimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das • desenvolvimento tardio das habilidades de fala ou até mes-
interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de mo perda da comunicação verbal em tenra idade;
interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. E indica • repetição de palavras ou frases de forma descontextualizada;
que devem ser incluídos nesse grupo estudantes com Autismo, Sín- • dificuldade em fazer antecipações e leitura de contexto;
drome de Rett, Síndrome de Asperger e Transtorno Desintegrativo • comportamentos restritos, repetitivos ou incomuns;
da Infância. • ausência ou baixa percepção para os sentimentos dos outros;
Em relação ao TEA, a Portaria nº 8.764 define que: • dificuldade em expressar os seus próprios sentimentos;
• Autismo: prejuízo no desenvolvimento da interação social e • dificuldade com abstração;
da comunicação; pode haver atraso ou ausência do desenvolvimen- • sensibilidade sensorial de diferentes ordens;
to da linguagem; naqueles que a possuem, pode haver uso estere- • preferência acentuada por alguém ou alguma coisa;
otipado e repetitivo ou uma linguagem idiossincrática; repertório • dificuldade no campo simbólico e consequentemente de re-
restrito de interesses e atividades; interesse por rotinas e rituais presentação;
não funcionais. Manifesta-se antes dos 3 anos de idade. Prejuízo no • padrões ritualizados de comportamento.
funcionamento ou atraso em pelo menos uma das três áreas: inte- Considerando essas possíveis dificuldades, alguns aspectos pe-
ração social; linguagem para comunicação social; jogos simbólicos dagógicos poderiam ser mais bem explorados, durante o processo
ou imaginativos. (SÃO PAULO, 2016). de escolarização, a fim de auxiliar na inclusão destes estudantes.
O TEA entra para a classe dos transtornos do neurodesenvol- Tais como:
vimento, ou seja, um grupo de condições com início no período do • trazer sempre que possível a atenção do estudante ao conte-
desenvolvimento, que em geral se apresenta antes mesmo da en- údo trabalhado, chamando seu nome durante as atividades e man-
trada da criança na escola, tendo como características déficits no tendo contato visual;
desenvolvimento que podem acarretar prejuízos no funcionamento • antecipar o conteúdo e a metodologia, por meio de rotina
pessoal, social, acadêmico ou profissional. Até mesmo em bebês, estruturada de trabalho, o que só é possível partindo do plano de
em seus primeiros meses de vida, são identificados sinais e sinto- ação do professor;
mas que são incomuns a demais crianças da mesma faixa etária, • criar diferentes formatos de rotinas, à medida que o estudan-
como falta de contato visual com a mãe, dificuldade para sentar e te for progredindo em sua comunicação com o professor e a turma;
locomover-se, passar um grande período de tempo quieto e não • trabalhar com conteúdos atitudinais, que tragam ao estudan-
estranhar o colo ou contato de estranhos. te noção, percepção e ampliação das interações sociais relativas ao
Segundo o Manual Diagnóstico Estático de Transtornos Men- âmbito educacional;
tais – DSM 5, o Transtorno do Espectro do Autismo – TEA caracteri- • propiciar momentos de trabalho em grupo ou duplas em que
za-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação o estudante possa contribuir com aquilo que consegue fazer;
social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade • enriquecer o ambiente escolar com diferentes portadores
social, com comportamentos não verbais de comunicação usados linguísticos;
para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e • propor situações de trabalho escolar em que o simbólico e a
compreender relacionamentos. representação façam parte do tema gerador;
• considerar o uso pedagógico de formas diversas de registros,
tanto para processos avaliativos, bem como para respostas dos es-
tudantes às atividades do cotidiano escolar.
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a solução para o seu concurso!
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS - CURRÍCULOS E ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
A escola poderá promover o desenvolvimento desses estudan- ______________________________________________________
tes planejando estratégias de trabalho educacional que possam ser
implementadas no coletivo da sala de aula com todos. ______________________________________________________
Os bebês e as crianças nascem em seus grupos familiares, e
essa é a primeira instituição a lhes oferecer um modo de viver e de ______________________________________________________
realizar tarefas do cotidiano como comer, brincar, vestir-se, isto é,
______________________________________________________
aprender ao estar ativamente se socializando. Vindos de diferentes
experiências em espaços privados, os bebês e as crianças encon- ______________________________________________________
tram-se na escola (o termo “escola” neste documento será tomado
como instituição de vivências de infâncias, de interações sociais e ______________________________________________________
culturais, de aprendizagens e desenvolvimento) e iniciam as suas
jornadas na Educação Infantil ampliando e pluralizando as suas ______________________________________________________
experiências humanas. Os bebês e as crianças aprendem especial-
mente ao estabelecer interações e ao realizar brincadeiras. Estas ______________________________________________________
são situações de vida autênticas, pois não prescindem das relações
______________________________________________________
e dos vínculos entre as pessoas, de contextos e de repertórios de
práticas. A aprendizagem está presente na realização de todas as ______________________________________________________
práticas da vida cotidiana (LAVE, 2015 apud SÃO PAULO, 2019). Por
esse motivo, os documentos curriculares apontam apenas as possi- ______________________________________________________
bilidades educativas, mas os processos de educação e as aprendiza-
gens são decididos no dia a dia pelos sujeitos. (SÃO PAULO, 2019). ______________________________________________________

Prezado(a), ______________________________________________________
Para estudar o documento completo acesse:
https://acervodigital.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/ ______________________________________________________
uploads/2021/09/caderno_EE_TEA-web.pdf
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BIBLIOGRAFIA
CIÊNCIAS NATURAIS

CARVALHO, ANNA MARIA PESSOA DE. O ENSINO DE CI- SASSERON, LÚCIA HELENA. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA,
ÊNCIAS E A PROPOSIÇÃO DE SEQUÊNCIAS DE ENSINO IN- ENSINO POR INVESTIGAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO: RELA-
VESTIGATIVAS. IN:CARVALHO, ANNA MARIA PESSOA DE. ÇÕES ENTRE CIÊNCIAS DA NATUREZA E ESCOLA. REVISTA
(ORG.). ENSINO DE CIÊNCIAS POR INVESTIGAÇÃO: CONDI- ENSAIO, BELO HORIZONTE, V. 17, N. ESPECIAL, P. 49-67,
ÇÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO EM SALA DE AULA. SÃO NOV. 2015
PAULO: CENGAGE LEARNING, 2013

O termo “Alfabetização Científica”


Este livro tem por objetivo dar visibilidade para questões im- Ao estudar a literatura estrangeira relacionada à Didática das
portantes e atuais relacionadas ao ensino-aprendizagem de Ciên- Ciências, percebemos uma variação no uso do termo que defina
cias por investigação, de modo a auxiliar professores do Ensino Fun- o ensino de Ciências preocupado com a formação cidadã dos alu-
damental a aprimorarem seus conhecimentos acerca deste tema. nos para ação e atuação em sociedade. Os autores de língua espa-
Para tanto, são apresentadas reflexões baseadas em resulta- nhola, por exemplo, costumam utilizar a expressão “Alfabetización
dos de pesquisas consolidadas, realizadas nesse nível de ensino. O Científica” para designar o ensino cujo objetivo seria a promoção
leitor encontrará discussões sobre diferentes facetas do ensino de de capacidades e competências entre os estudantes capazes de
Ciências em uma abordagem investigativa, compreendendo desde permitir-lhes a participação nos processos de decisões do dia-a-dia
as bases teóricas sobre processos de ensino-aprendizagem que sus- (Membiela, 2007, Díaz, Alonso e Mas, 2003, Cajas, 2001, Gil-Pérez
tentam sua concepção até as bases epistemológicas que a funda- e Vilches-Peña, 2001); nas publicações em língua inglesa o mesmo
mentam. objetivo aparece sob o termo “Scientific Literacy” (Norris e Phillips,
Em todos os capítulos são apresentados dados extraídos de 2003, Laugksch, 2000, Hurd, 1998, Bybee, 1995, Bingle e Gaskell,
situações de ensino aprendizagem, de modo a proporcionar aos 1994, Bybee e DeBoer, 1994); e, nas publicações francesas, encon-
professores, além da ampliação de seu rol de estratégias de ensino, tramos o uso da expressão “Alphabétisation Scientifique” (Fourez,
a compreensão dos cuidados envolvidos em sua utilização e apro- 2000, 1994, Astolfi, 1995).
veitamento efetivo em sala de aula. Os autores brasileiros que usam a expressão “Enculturação
A sala de aula é um espaço de encontro entre conhecimentos Científica” partem do pressuposto de que o ensino de Ciências pode
diversos. A relação pedagógica, composta pela tríade professor-alu- e deve promover condições para que os alunos, além das culturas
nos-conhecimentos, envolve diferentes dimensões, entre as quais religiosa, social e histórica que carregam consigo, possam também
podemos destacar: as de ordem efetiva, relacionadas às expectati- fazer parte de uma cultura em que as noções, ideias e conceitos
vas de cada um; as de ordem pedagógica, relacionadas aos recursos científicos são parte de seu corpus. Deste modo, seriam capazes
didáticos e diferentes estratégias de ensino que o professor tem à de participar das discussões desta cultura, obtendo informações e
sua disposição, e as de ordem epistemológica, relacionadas às ca- fazendo-se comunicar.
racterísticas do conhecimento que se deseja ensinar. Todas essas Os pesquisadores nacionais que preferem a expressão “Letra-
dimensões estão envolvidas na tomada de decisões do professor e mento Científico” justificam sua escolha apoiando-se no significado
em suas ações, o que exige um trabalho de constante aperfeiçoa- do termo defendido por duas grandes pesquisadores da Linguística:
mento. Angela Kleiman e Magda Soares. Soares (1998) define o letramento
Este livro tem por objetivo dar visibilidade para questões im- como sendo “resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e es-
portantes e atuais relacionadas ao ensino-aprendizagem de Ci- crever: estado ou condição que adquire um grupo social ou um in-
ências por investigação, de modo a auxiliar professore do Ensino divíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita” (p.18).
Fundamental a aprimorar seus conhecimentos sobre este tema. Utilizamos a expressão “Alfabetização Científica” alicerçadas na
Para tanto, são apresentadas reflexões baseadas em resultados de ideia de alfabetização concebida por Paulo Freire:
pesquisas consolidadas, realizadas nesse nível de ensino. O leitor “...a alfabetização é mais que o simples domínio psicológico e
encontrará nos capítulos seguintes discussões sobre diferentes fa- mecânico de técnicas de escrever e de ler. É o domínio destas téc-
cetas do ensino de Ciências em uma abordagem investigativa, des- nicas em termos conscientes. (...) Implica numa autoformação de
de as bases teóricas sobre processos de ensino-aprendizagem que que possa resultar uma postura interferente do homem sobre seu
sustentam sua concepção até as bases epistemológicas que a fun- contexto.” (p.111, 1980)
damentam. Em todos os capítulos são apresentados dados extraí-
dos de situações de ensino-aprendizagem, de modo a proporcionar O Conceito de Alfabetização Científica
aos professores, além de ampliação de seu rol de estratégias de en- Para compreender o que seria a Alfabetização Científica, rea-
sino, a compreensão dos cuidados envolvidos em sua utilização e lizamos uma revisão do conceito na literatura da área de Didática
aproveitamento efetivo em sala de aula. das Ciências, e procuramos salientar algumas das preocupações
consideradas na proposição da AC como objetivo para a formação
de cidadãos críticos para a atuação na sociedade.
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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA - CIÊNCIAS NATURAIS
A Alfabetização Científica e o currículo de Ciências
Hurd (1998) comenta sobre as modificações sofridas pelos
ANOTAÇÕES
currículos de Ciências nos Estados Unidos da América ao longo do
século XX. O autor lembra que na década de 1930 surgiram algu- ______________________________________________________
mas manifestações a favor de um currículo que levasse em conta
as dimensões socioculturais das ciências, ou seja, um currículo que _____________________________________________________
considerasse o impacto do progresso promovido por esses conheci-
mentos e suas aplicações na vida, sociedade e cultura de cada pes- _____________________________________________________
soa. Outro momento marcante, como ressalta Hurd, são os anos pós
Segunda Guerra Mundial, quando o mundo todo e, consequente- ______________________________________________________
mente, as Ciências sofreram mudanças. Alterações na prática cientí-
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fica representaram impactos para as dimensões social, econômica e
política de diversos países, além de alterações no modo de vida das ______________________________________________________
pessoas. Programas de ensino de Ciências começaram a ser repen-
sados e replanejados por todo o mundo e, muitos deles, visavam a ______________________________________________________
formação de jovens cientistas. A este respeito, Hurd afirma que os
currículos de ciências nas décadas de 1950 e 1960 enfatizavam o ______________________________________________________
“entendimento das estruturas clássicas das disciplinas científicas e
seu modo de investigação” (1998, p.408, tradução nossa). ______________________________________________________
Laugksch (2000) enfatiza esta preocupação nos anos 1950 e
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1960, mais acentuada nos países desenvolvidos, de se formar estu-
dantes com habilidades capazes de despertarem-lhes o desejo de ______________________________________________________
trabalharem na pesquisa científica. Qualifica, então, este período
como a época de legitimação do conceito de AC, embora lembre ______________________________________________________
que, no mesmo período, o conceito ainda não era foco de atenção
de pesquisadores em ensino e, portanto, estava longe de possuir ______________________________________________________
uma definição minimamente clara. Laugksch mostra-nos que nas
duas décadas seguintes começam a se desenrolar diversas tenta- ______________________________________________________
tivas de interpretação do significado da AC. Ele ainda ressalta que,
preocupado com a competitividade econômica, o governo dos Es- ______________________________________________________
tados Unidos da América, em especial, volta a se preocupar com os
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rumos do ensino das ciências e a AC paulatinamente torna-se um
objetivo nas escolas daquele país. ______________________________________________________
Alfabetizados Cientificamente: O que é? Quem é? Quais as ______________________________________________________
habilidades?
No artigo “How Literacy in Its Fundamental Sense is Central to ______________________________________________________
Scientific Literacy”,
publicado em 2003, Stephen Norris e Linda Phillips exploram ______________________________________________________
a idéia de alfabetização e mostram a importância de se saber ler e
______________________________________________________
escrever para que haja a Alfabetização Científica.
Para esses autores, ler e escrever são habilidades fundamen- ______________________________________________________
tais para a AC, uma vez que todos os conhecimentos científicos
existentes e aceitos pela comunidade científica precisam passar por ______________________________________________________
avaliações e julgamentos que se dão, na grande maioria das vezes,
por meio de publicação de artigos e teses. Norris e Phillips, no en- ______________________________________________________
tanto, fazem questão de enfatizar que ter habilidades de leitura e
escrita são condições necessárias, mas não suficientes para a AC. ______________________________________________________
“Ler e escrever estão intrinsecamente ligados à natureza da ci-
ência e ao fazer científico e, por extensão, ao aprender ciência. Reti- ______________________________________________________
rando-os, lá se vão a ciência e o próprio ensino de ciências também,
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assim como remover a observação, as medidas e o experimento
destruiriam a ciência e o ensino dela.” (2003, p.226, tradução nossa) ______________________________________________________

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BIBLIOGRAFIA
GEOGRAFIA

Nos últimos tempos, muito tem se discutido a respeito de


CASTELLAR, SONIA; VILHENA, JERUSA. ENSINO DE como ensinar geografia e, mais recentemente, como trabalhar a
GEOGRAFIA. COLEÇÃO IDEIAS EM AÇÃO- CENGAGE.2011 geografia com crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. O
desafio se colocar aos professores deste nível de ensino e da mes-
ma maneira aos estudiosos da questão do ensino e envolvidos em
cursos de licenciatura, tanto da graduação em geografia quanto da
Quarto título da coleção “Idéias em Ação”, Ensino de Geografia pedagogia e magistério.
é um livro de metodologia do ensino que se caracteriza pela tônica Se os problemas decorrentes de pensar o ensino da Geografia a
de mudanças nos posicionamentos em relação às atuais concep- partir do 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental já eram inúmeros,
ções teórico-metodológicas da ciência geográfica e das relativas à a eles se somaram recentemente os desafios de como trabalhar a
aprendizagem. geografia nos primeiros anos, com crianças pequenas e por profes-
Nesse sentido, a obra tem como um dos seus objetivos propor sores que não tiveram em sua formação pedagógica a preparação
situações de aprendizagem que superem o senso comum e que ain- adequada, ou assim como ocorre com os demais componentes cur-
da perduram no ensino de geografia. riculares, não tiveram, em seus cursos de formação, o tratamento
As autoras sugerem a construção de idéias em outra perspec- de especificidade.
tiva, o que significa ressaltar um processo de aprendizagem que Esta obra trata de uma tematica duplamente importante. Do ponto
seja construído com base no conhecimento prévio, nos conceitos de vista do ensino da geografia, em especial nos anos iniciais do en-
científicos e na realidade, proporcionando um novo olhar sobre a sino fundamental, em que ocorre o inicio da escolarização e como
geografia escolar. tal também do ensino de geografia, em que há tantas duvidas sobre
Os jogos e as brincadeiras são situações de aprendizagem que o que e como ensinar. E do ponto de vista da tematica que conside-
propiciam a interação entre alunos e entre alunos e professor, es- ra o estudo do lugar e do cuidado metodologico em como tratar o
timulam a cooperação, contribuem também para o processo con- mundo para compreender o lugar.
tínuo de descontração, auxiliando na superação do egocentrismo O autor nos brinda com uma reflexao instigante ao trabalhar muito
infantil, ao mesmo tempo em que ajudam na formação de concei- bem com as questoes toericas, metodologias da geografia e com as
tos. Isso significa que eles atuam no campo cognitivo, afetivo, psi- preocupações que nos são postas pela educação.
comotor e atitudinal Não há como perder a dimensao pedagogica, e o ensino da Geogra-
Castellar e Vilhena consideram que “[…] os jogos permitem in- fia requer um professor que conheça a sua ciencia e que conheça
tegrar as representações sociais adquiridas pela observação da rea- tambem as teorias da Educação.
lidade e dos percursos percorridos no jogo”. A possibilidade de fazer do ensino de Geografia nos anos iniciais um
Afirmam que “[…] os jogos auxiliam a aprender a pensar e a caminho para compreender a realidade em que se vive, é bastan-
pensar sobre o espaço em que se vive”. te concreta e, o autor mostra, através desse estudo, que também
A opção de atividades com jogos exige do professor a organização neste nivel de ensino é possivel ensinar Geografia e torna-la inte-
dos materiais, bem como a definição de seus objetivos e um bom ressante, despertando nas crianças um interesse maior de procurar
planejamento das aulas. Dos alunos espera-se a tomada de deci- entender o mundo em que vivemos.
sões e a cooperação, para que desenvolvam atitudes que irão con-
tribuir na formação cidadã.

CASTELLAR, SON STRAFORINI, RAFAEL. ENSINAR GEO-


GRAFIA: O DESAFIO DA TOTALIDADE-MUNDO NAS SÉ-
RIES INICIAIS. SÃO PAULO: ANNABLUME, 2004.
IA; VILHENA, JERUSA. ENSINO DE GEOGRAFIA. COLEÇÃO
IDEIAS EM AÇÃO- CENGAGE.2011

Rafael Straforini, professor da Faculdade de Educação da UERJ/


Maracanã, convida o leitor a refletir sobre as questões teóricas e
metodológicas da Geografia, bem como a observar com atenção as
dúvidas e as experiências vivenciadas no ensino da disciplina. Com
vasta referência teórica, o livro instiga e estimula o profissional da
área a aperfeiçoar o seu conhecimento didático.

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BIBLIOGRAFIA - GEOGRAFIA

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BIBLIOGRAFIA - HISTÓ-

Com essa nova terminologia e conceituação o termo patrimô-


BITTENCOURT, CIRCE. O SABER HISTÓRICO NA SALA DE nio cultural foi divido em três categorias pelo professor francês Hu-
AULA. SÃO PAULO: CONTEXTO, 1998 gues de Varine- Baham.
A primeira categoria é a natureza, ao meio ambiente como rios,
vales e montanhas são os recursos naturais
Experiência e representações sociais: reflexões sobre o uso e A segunda categoria de bens culturais refere-se ao conheci-
consumo das imagens. mento, as técnicas ao saber, e o terceiro grupo são os objetos, arte-
O Presente episódio apresentado no texto nos mostra como fatos, obras e construções, concluímos, portanto que o patrimônio
exemplo o poder da imagem na vida das pessoas, e como a aquela cultural engloba tanto o histórico como o ecológico, o artístico e o
frase “uma imagem vale mais do que mil palavras” esteve tão pre- cientifico, não ficando assim mais restrito ao patrimônio edificado,
sente nos dias de hoje. deste modo influenciou assim para a nossa legislação brasileira que
O texto relata a evolução da imagem na vida das pessoas, co- hoje já está atualizado de acordo com o patrimônio cultural no qual
meçando com fotos passando por cinema e chegando à TV, este forma a memória da nação brasileira.
último mostra como tem maior impacto na vida das pessoas, de Por Uma Nova Política de Patrimônio Histórico No Brasil: A
forma geral a imagem tem vida própria a partir de uma linguagem Construção de Uma Memória Plural.
que é produzida num dado contexto histórico. Com a nova constituição sobre o patrimônio histórico abre uma
Por fim o professor usa do filme para mostrar a maneira para nova política para a proteção do nosso acervo público, possibilitan-
construir um conhecimento histórico, usando assim um método do a construção de uma memória plural.
para construir um contexto histórico. A partir da década de 80 e que tenta resgatar a participação
daqueles que foram excluídos da história do Brasil, assim passou a
Análise Cultural dar valor a bens e valores culturais de outros segmentos sociais e
A imagem foi perdendo o seu sentido cultural e assim o pro- minorias étnico-culturais, como exemplo alguns quilombos, arraial
fessor deve procurar um meio para melhor apresentar ela aos seus de canudos, admitindo assim que somos uma nação multirracial re-
alunos, o texto apresenta que vivemos numa espécie de intoxicação conhecendo que somos uma nação formada por diversos povos e
visual da TV. culturas.
Mas apesar de uma intoxicação visual ainda temos o cinema Por fim essa nova constituição brasileira veio reconhecer os
como forma de uma cultura clássica como a de Chaplin. grupos sociais esquecidos e sua cultua que ajudou também na for-
Memória Ensino de História mação da cultura do povo brasileira.
A partir da década de 70 e 80 grupos sociais se organizam em Patrimônio Histórico, Cidadania e Identidade Cultural: O Direito
busca de seus direitos entre eles o da memória nesse sentido, os à Memória.
historiadores fazem parte desse processo como aqueles que escre- O patrimônio Histórico e visto como uma questão de cidada-
vem a memória e serve para reconhecer esses grupos menores da nia e constitui um direito do cidadão, criando sua identidade cul-
sociedade como os negros, mulheres, índios e homossexuais etc. tura, mas ocorre por parte da própria população uma depredação
Cada vez mais surge as casas de memória, centros, arquivos, do patrimônio público, pois isso ocorre por que ela não se vê nos
bibliotecas, museus e coleções. ícones, símbolos ou monumentos que foram preservados, Ela não
Até a pouco tempo o patrimônio histórico era exclusivo de ar- foi consultada a respeito, daqueles monumentos que se deve ser
quitetos, antropólogos e cientistas sociais. Existe atualmente um preservado ou não.
esforço para que no processo ensino-aprendizagem de história seja A preservação deve ocorrer pautado em dois aspectos como
para estimular os alunos ao senso de preservação da memória so- identidade cultural e qualidade de vida, tendo estes dois aspectos
cial coletiva como também à construção de uma nova cidadania, ele será conservado pois oferece o proposto para a comunidade in-
para que haja uma valorização dos elementos que compõem o nos- serido assim na construção de sua identidade cultural e o exercício
so patrimônio cultural. A escola e o ensino de história têm um papel da cidadania.
fundamental neste processo a fim de resgatar as nossas raízes. Na construção dessa cidadania passa ocorrer o direito a me-
O Patrimônio Histórico Revisitado. mória histórica a partir da preservação do patrimônio publica, a
Ao falar de patrimônio histórico revisitado pensamos em pré- memória é, pois, imprescindível na medida em que esclarece sobre
dios e edifícios antigos, esquecendo assim outros tipos de patrimô- o vínculo entre a sucessão de gerações e o tempo histórico que as
nio histórico deixados de lado pelo governo, mas hoje com avanço acompanha.
teórico - metodológico das Ciências sociais, que mais têm-se de- Portanto a instituição escola tem um papel fundamental para
dicado ao estudo das manifestações culturais, a expressão “patri- a formação da cidadania de nossas crianças, jovens e adolescentes.
mônio histórico e artístico” vem sendo substituída por “patrimônio Educação Ambiental ou Educação Patrimonial: A Dimensão His-
cultural” pois existe outros tipos de valores que não se enquadram tórico-Cultural No Currículo Escolar.
a terminologia antiga.

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BIBLIOGRAFIA - HISTÓRIA
Nos últimos anos vemos que surge uma grande onda de consci- meio e o código da mensagem, as reações do receptor a situação
ência de favor da preservação do meio ambiente em todo o plane- sócio histórica do público receptor e seus repertórios culturais para
ta, para deste modo conscientizar na existência humana nas futuras a decodificação da mensagem consumida.
gerações. Agora para Michael De Certeau o fenômeno televisivo, sendo
Deste modo surge cada vez mais a conscientização das próxi- um fenômeno cotidiano por excelência, está inserido num campo
mas gerações através da escola como meio que espalha o saber e pouco conhecido das Ciências Sociais, preocupadas com as gran-
a cria novos cidadãos, no entanto, a grande maioria dos programas des organizações e as tendências, dominante mais visível de uma
de educação ambiental tem sido omissos no tocante dimensão cul- sociedade
tural do meio ambiente, no qual se inclui, necessariamente, a dis- Por fim para se trabalhar com imagens televisivas em sala de
cussão relativa à preservação do patrimônio histórico. aula e necessário que o professor deva fazer uma discussão mínima
Mas após várias mudanças na lei a discussão sobre a preserva- em busca de informações teóricas básicas, assim o professor vai ter
ção do patrimônio histórico vem se ajustando a realidade, a lei está um posicionamento melhor frente as questões surgidas
caminhando para a valorização da diversidade cultural de nossa for- Procedimentos Básicos Para o Trabalho Escolar com Linguagem
mação histórica como condição indispensável à construção de uma Televisa.
escola plural e cidadã. E preciso que o professor tenha um planejamento para saber
Conhecer Para Preservar – Preservar Para Conhecer: Um En- onde deve partir e a onde deve chegar incluir essas novas lingua-
contro Com a Memória “Quase Perdida” de Fortaleza. gens como cinema, música e TV como parte do planejamento do
Em nome do discurso da “modernidade do progresso” muitos curso ajuda os alunos na questão ao preconceito de algo sem im-
espaços Históricos no Brasil vêm desaparecendo como o que ocor- portância.
reu em fortaleza, um dos responsáveis pela conservação e preser- O professor deve elaborar um roteiro a fazer com seus alunos
vação do espaço são os historiadores que tem o compromisso social e ele deve ter a consciência de domínio dos alunos perante do ma-
de mostrar que o moderno não se faz pela destruição ou pela nega- terial visual apresentado, um exemplo a análise de um telejornal e
ção daquilo que é passado. sua relação com a construção de fatos históricos assim e sugerido
Com a degradação do espaço histórico de fortaleza em nome quatro etapas básicas:
da modernidade, setores escolares e universitários organizaram um Assistência do material analise semântica, critica ideológica,
roteiro para conhecer a memória de fortaleza, depois foi formulado síntese das fases anteriores essas quatro etapas ajudaram o profes-
um roteiro, no qual foi levado a classe sobre a história da cidade de sor e aluno a compreender uma análise televisiva.
fortaleza, mostrando as crianças o processo de evolução urbana de Por fim, é importante salientar que a televisão se realiza pela
Fortaleza, bem como a necessidade de preservação do patrimônio sedução, pela projeção de fantasias e sonhos, pela simples e ne-
pública e histórico, preservando assim para as futuras gerações. cessária distração, trabalhar com as novas linguagens deve encarar
Considerações Finais. o desafio de trabalhar criticamente com o documento televisual
Eric Hobsbawn faz um alerta da ameaça de destruição do pas- parece mais produtivo do que o costumeiro exercício de retórica
sado e a perda de referenciais históricos por parte das futuras gera- pseudo-critica.
ções que nascem num futuro continuo, nesse momento ele saliente
a importância social do historiador que tem o papel de lembrar a
história. GUIMARÃES, SELVA. DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO DE
Portanto a escola e mais especificamente, o ensino de história HISTÓRIA. PAPIRUS, 2009.
tem um papel fundamental para a afirmação de uma identidade
nacional plural, democrática na qual todos queremos e almejamos.
A Televisão Como Documento A obra vem abordar um assunto que tem sido muito discutido
Nos últimos anos tem sido frequente a utilização das novas na atualidade a respeito do livro didático. Será que ele é realmen-
linguagens para motivar os alunos e para atualizar a concepção de te necessário na sala de aula, ou deve ser abolido? Para abordar
documentos históricos. o assunto ela faz uma retrospectiva do papel do livro didático de
Mas para o professor fazer o uso dessas linguagens como a meados dos anos 60 até a atualidade.
imagem ele deve ter a priori uma reflexão sobre o problema do A autora inicia fazendo esse questionamento: abolir, comple-
documento e sua importância para o ensino, todo o cuidado com mentar ou diversificar o seu uso. De acordo com ela, o livro didático
a incorporação no uso de imagens é pouco principalmente numa tem sido o principal meio de conhecimento para o acesso à edu-
época de desvalorização do conteúdo. cação; ele é tão utilizado no país devido à forma como se expan-
O professor deve buscar preparação previa sobre arquivos au- diu, juntamente com a indústria cultural. Quando se iniciou uma
diovisuais e ter uma preparação teórica metodológicos do estudo mudança no Brasil, em relação ao ensino de história, no final do
da comunicação visual. século XX, essa mudança chegou às escolas através do livro didá-
O Fenômeno da TV tico, complementado pela divulgação do conhecimento através de
O professor ao usar o fenômeno visual deve saber a diferença outros meios de comunicação como: jornais, revistas, programas
entre a televisão e o cinema, a TV produz material que se conso- de TV, etc.
mem no instante, e o material cinematográfico tem uma função O papel da escola é repensado sempre pelas autoridades go-
cultual e dura por anos. vernamentais, por isso nos anos 60 e 70, no Brasil, o governo pas-
O professor terá maior facilidade de trabalhar com seus alunos sou a modernizar os produtos educacionais, e com isso houve uma
com arquivos cinematográficos do que televisivos, mas a TV tem massificação no ensino, ampliando o número de pessoas alfabeti-
uma linguagem mais atual e contemporânea as questões que os zadas.
alunos se identificam, e de fato um meio de massa. A autora procura abordar a relação entre a indústria cultural e a
Para o teórico italiano Umberto eco ele faz uma análise sobre a mudança do ensino de história, para isso ela analisa os livros didáti-
TV tem que se levar em conta alguns aspectos da TV como a inten- cos e paradidáticos. O livro didático teve uma íntima relação com os
ções do remetente da mensagem, as estruturas comunicacionais o novos programas curriculares elaborados na década de 70. Houve

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BIBLIOGRAFIA - HISTÓRIA
uma grande produção deles, que foram adotados pelas escolas, isso
com o apoio da indústria editorial brasileira e do Estado, com isso PEREIRA, AMILCAR ARAÚJO; MONTEIRO, ANA MARIA
o principal meio de saber das escolas passou a ser o livro didático. (ORG.). ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEI-
Outra forma mostrada pela autora para o incentivo do livro di- RAS E INDÍGENAS. RIO DE JANEIRO: PALLAS, 2013.
dático, foi a isenção de impostos a todas as fases de produção e
comercialização de livros, jornais e periódicos, essa isenção tam-
bém era dada à produção de papel. o governo investiu também na A abordagem e o trabalho qualificado com os conteúdos cur-
distribuição de livros para o ensino primário e secundário através riculares relacionados à história e cultura da África, dos africanos,
do Programa Nacional do Livro criado em 1966. A expansão do mer- dos afrodescendentes e dos indígenas no Brasil, nos termos das
cado editorial foi tão grande que foi realizado no Brasil a I Bienal Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, tem merecido amplo destaque
Internacional do Livro. em escolas e cursos de formação de professores de História.
Apesar do programa de distribuição gratuita do livro ser extinta Ao introduzir a obrigatoriedade do ensino de história e cultura
em 1971, o livro didático continuou sendo uma das mercadorias africanas e afro-brasileiras nas escolas, foram atendidas as deman-
mais vendidas no campo da indústria editorial. Muitas novidades das históricas do movimento negro brasileiro pela reavaliação do
foram implementados à ele para que houvesse uma aceitação, papel do negro na História do Brasil e pela valorização da cultura
como por exemplo, os manuais de professores para ajuda-los nos negra.
exercícios propostos e planejamento anual e bimestral. Da mesma forma, após pressão dos movimentos indígenas,
De acordo com a autora, apesar da indústria editorial do Brasil cinco anos depois, foi sancionada a lei 11.645, acrescentando à lei
ter se colocado entre as maiores do mundo, devido à grande pro- anterior a obrigatoriedade do ensino de história e culturas indíge-
dução de livros, o país não conseguiu colocar-se numa posição de nas.
destaque em relação ao saber, ao contrário ele ficou entre os paí- Organizado pelos professores Amilcar Araujo Pereira e Ana Ma-
ses mais pobres e atrasados do mundo. Apesar dessa larga difusão, ria Monteiro, Ensino de História e Culturas Afro-Brasileiras e Indíge-
muitos pesquisadores têm procurado analisar por que o livro didá- nas reúne textos de dez pesquisadores que buscam compreender a
tico tem se tornado o principal meio de conhecimento usado no formação de nossa sociedade como uma construção plural, na qual
processo de ensino. todas as matrizes culturais e étnico-raciais foram e são igualmente
Os pesquisadores questionam a aceitação da sociedade por importantes, ao mesmo tempo em que o entendimento das diver-
uma mercadoria que apenas busca difundir determinada produção, sas culturas originadas de processos históricos, é fundamental para
que de acordo com eles, está alheio ao processo ensino-aprendiza- o ensino de História em nosso país.
gem. Eles vêm mostrar a necessidade da simplificação do conhe- Amilcar Araujo Pereira e Ana Maria Monteiro, Docentes da
cimento que servirá para auxiliar nos programas de ensino, nos UFRJ, organizaram esta coletânea de textos de educadores e pes-
planejamentos de unidade e na sequência dos conteúdos. Outra quisadores que se debruçam sobre temas como ensino de História,
– vantagem - é a visão da história da humanidade como um todo, história das relações raciais, história e cultura africanas, afro-brasi-
colocando a história dos europeus, do descobrimento da América leiras e indígenas, história oral, movimentos sociais, formação de
e a história do Brasil. De acordo com a autora, essa simplificação professores e práticas educativas relacionadas com a diversidade
faz com que haja a exclusão. O preconceito já se inicia daí, onde os cultural.
europeus são considerados os – superiores - na história das civili- O prefácio é de Monica Lima, Coordenadora do Laboratório de
zações. Estudos Africanos (LEAAFRICA) da UFRJ.
Uma mudança ocorreu no final dos anos 70 e início dos anos No campo da história e cultura afro-brasileiras, Verena Alberti
80, onde as instituições educacionais juntaram-se à indústria cultu- e Giovana Xavier propõem recursos de que os professores do En-
ral para a elaboração do livro didático. Essa união foi importante, sino Básico podem se valer em sua pratica escolar, a fim de mudar
porque houve uma renovação dos materiais, a ampliação de cam- a visão tradicional do negro e do escravo apresentada pelos livros
pos temáticos e documentais nos livros de história, a mudança na didáticos, enquanto Lorene dos Santos apresenta os resultados de
forma da linguagem, colocando no livro fotos, escritos, desenhos, uma pesquisa que abordou as práticas pedagógicas relacionadas
fragmentos de textos de outros autores. com a temática africana e afro-brasileira de professores de Conta-
Iniciando os anos 90, o número de publicações de livros pa- gem (MG).
radidáticos aumentou. Os autores aliaram-se às editoras para dar Circe Fernandes Bittencourt e Giovani Jose da Silva discutem o
um suporte aos livros didáticos. Esse meio de diversificar as fontes ensino de história do Brasil para alunos indígenas e da história das
historiográficas é considerado importante pela autora, que afirma populações indígenas vistas em sua diversidade, riqueza e indepen-
que o livro didático? é uma das fontes de conhecimento histórico e, dência em relação aos colonizadores.
como toda e qualquer fonte, possui uma historicidade e chama a si Finalmente, Warley da Costa, Cinthia Monteiro de Araujo e
inúmeros questionamentos. Carmem Teresa Gabriel refletem sobre a relação entre a produção
A autora mostra a importância de se diversificar as fontes uti- do saber histórico e sua tradução em currículo escolar.
lizadas na sala de aula e superar o olhar voltado somente para um
lugar. Ela coloca o livro como um material importante, contudo, ele
deve ser acompanhado por vários saberes, por diferentes visões
para criar no aluno uma visão crítica. Ela cita o poder que as empre-
sas editorias têm tido na produção do saber. Ela tem ditado o que é
importante estudar, qual concepção de história seguir. Por isso, au-
tora vem colocar a importância de desenvolver outros saberes para
desenvolver a formação do pensamento crítico e reflexivo, para a
construção da cidadania e para a consolidação da democracia entre
nós?

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ANOTAÇÕES

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BIBLIOGRAFIA
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Chomsky” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 22). As autoras reivindi-


FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA cam que a gramática generativa de Chomsky veio reforçar a visão
ESCRITA. SÃO PAULO: ARTES MÉDICAS, 1985. (CAPÍTULO piagetiana de uma criança que busca ativamente compreender a
6- EVOLUÇÃO DA ESCRITA, P. 191- 257). linguagem falada ao seu redor, constrói e testa hipóteses identifi-
cando regularidades, e cria uma gramática própria. Essa interação
ativa é sugerida em erros de regularização de verbos irregulares,
O conhecido epistemólogo suíço Jean Piaget edificou um mo- por exemplo, “cabeu”. Esse fenômeno universal seria um suporte
numental e sólido corpo teórico sobre a psicologia do desenvolvi- adicional para a teoria piagetiana, plena - mente coerente com a
mento, abrangendo da infância à adolescência. Dado o seu inte- psicolinguística chomskyana, segundo elas. Esta, ressaltam, deu
resse principal pela inteligência, ele não chegou a elaborar sobre uma série de passos irreversíveis , bem como inaugurou uma série
temas mais específicos como, por exemplo, a aquisição da leitura e de linhas originais de investigação, que sustentarão uma concepção
da escrita. Emília Ferreiro e Ana Teberosky propuseram-se a preen- de aprendizagem que “vai coincidir [...] com as concepções sobre
cher essa lacuna. No final dos anos 1970, elas apresentaram o rela- a aprendizagem sustentadas desde tempos atrás por Jean Piaget”
to de uma pesquisa no qual descrevem o processo de desenvolvi- (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 23). Além dessa aproximação en-
mento daquelas habilidades em crianças de 4 a 6 anos (FERREIRO; tre o construtivismo cognitivo piagetiano e o inatismo linguístico
TEBEROSKY, 1984). Na forma de livro, ele produziu enormes e dura- chomskyano, um terceiro ingrediente é incluído na base sobre a
douras repercussões nos meios acadêmico e educacional de vários qual as autoras interpretarão os dados de sua pesquisa: uma versão
países, particularmente o Brasil, sendo suas ideias consideradas americana do construtivismo liderada por Kenneth Goodman. So-
uma revolução conceitual. O que aqui se apresenta é uma análise bre esta nos debruçaremos mais detidamente adiante.
da obra em si mesma e em confrontação com parte da literatura
nela referenciada. Há, no entanto, alguns aspectos mais amplos que A pesquisa: o desenvolvimento da leitura
a contextualizam, os quais, embora não se constituam nosso princi- Ferreiro e Teberosky (1984) investigaram como crianças entre 4
pal objeto de atenção, serão, por isso mesmo, aventados com mais e 6 anos de idade percebiam a escrita, distinguiam-na do desenho,
brevidade. Um deles tem caráter mais geral − social e ideológico −, formavam hipóteses sobre o que estava escrito e, finalmente, como
ao passo que outros são mais específicos − metodológico e teórico- se desenvolvia sua escrita inventada. Adotaram procedimentos ba-
-científico. O pano de fundo social é formado pelo grande número seados no método clínico, na interação entre o sujeito e o objeto
de crianças que não aprendiam a ler e escrever, fato esse que, se- de conhecimento, num contexto de resolução de problemas e de
gundo as autoras, se daria em razão da deserção escolar. Esta, por diálogo entre o pesquisador e a criança, com o intuito de evidenciar
sua vez, seria fruto “mais de um problema de dimensões sociais seus mecanismos de pensamento. Foram empregados como estí-
do que da consequência de vontades individuais” (FERREIRO; TE- mulos cartões contendo desenhos ou letras (formando sílabas ou
BEROSKY, 1984, p. 18), uma espécie Paulo Estevão Andrade, Olga palavras), lâminas contendo textos de complexidade variável (pa-
Valéria Campana dos Anjos Andrade e Paulo Sérgio T. do Prado Ca- lavras e orações), acompanhados de imagens e textos lidos previa-
dernos de Pesquisa v.47 n.166 p.1416-1439 out./dez. 2017 1419 de mente pelo experimentador. Além das respostas das crianças nes-
“expulsão encoberta”, em que as desigualdades social e econômica sas tarefas, foram observadas as crianças escrevendo seus próprios
refletem-se na desigualdade de oportunidades educacionais. A me- nomes e outras palavras. À semelhança de trabalhos anteriores
todologia de ensino é outro aspecto crucial, pois, além dos proble- − por exemplo, Carol Chomsky (1970), Lavine (1972, 1977) e Read
mas sociais, atribuiu-se o fracasso escolar à ineficácia dos métodos (1971) −, Ferreiro e Teberosky constataram que crianças pré-esco-
tradicionalmente usados, baseados na conversão da letra escrita lares a partir de quatro anos de idade constroem hipóteses sobre a
em sons da fala. O método sintético – silábico ou fonético – foi con- linguagem escrita. Nas tarefas com cartões contendo de uma a nove
siderado um dos grandes males do ensino da leitura. Baseado numa letras formando sílabas e palavras ou desenhos, somente nove das
versão do beha - viorismo, ele foi alvo de duras críticas, entre ou- 63 crianças participantes manifestaram crer que todos os cartões
tras razões, por priorizar habilidades perceptuais em detrimento da eram igualmente “bons” para ler. Além disso, elas forneceram indí-
competência linguística e das capacidades cognoscitivas da criança cios de acreditar que as letras não podem ser repetidas e que deve
. Para Ferreiro e Teberosky, tratava - -se de uma aprendizagem da haver um número mínimo delas (de duas a quatro) para considerar
leitura vista simplesmente “como uma associação entre respostas que o que os cartões continham era escrita. Por outro lado, “ne-
sonoras a estímulos gráficos” (1984, p. 20). Um modelo mecanicis- nhuma criança indicou somente as imagens como sendo para ler”
ta, na avaliação das autoras, que, por não favorecer a compreensão (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 47) e apenas 25% das crianças de
do que se lê, seria um instrumento de dominação social, a expres- classe baixa e 7% das de classe média indicaram ao mesmo tempo
são escolar do domínio das elites sobre as classes populares. O con- texto e imagem como se ambos fossem complementares para pro-
texto teórico-científico no qual o livro surgiu também é um aspec- ceder a um ato de leitura. Como as próprias autoras notaram: “Isto
to de grande relevância. Afirmam as autoras que a psicolinguística não implica necessariamente que texto e imagem se confundam”
contemporânea (aquela da época em que o livro veio a público) (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 47). Entretanto, fato curioso, entre
surgiu “graças ao poderoso impacto da teoria linguística de Noam as quatro fases de desenvolvimento da leitura por elas definidas, há
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a solução para o seu concurso!
BIBLIOGRAFIA - LÍNGUA PORTUGUESA
uma fase inicial na qual desenho e escrita estão indiferenciados e A interpretação dos dados
o texto é inteiramente previsível a partir da imagem, ambos consti- O aprendizado da leitura e escrita seria um processo essencial-
tuindo uma unidade indissociável. Tal alegação soa estranha, pois é mente linguístico, paralelo à linguagem oral e, assim como a fala,
feita à revelia dos dados, que sugerem o contrário. A segunda fase envolveria a busca direta pelo significado sem passar pela decifra-
é de diferenciação entre escrita e desenho, na qual o texto é trata- ção. Ler é chegar à estrutura profunda do texto, às relações semân-
do globalmente, como uma unidade, representando ou o nome do ticas e sintáticas que encontram expressão na estrutura superficial
objeto desenhado ou uma oração associada à imagem. Na terceira das palavras. Consequentemente, a leitura-escrita não deveria ser
fase, a criança começa a considerar algumas das propriedades físi- vista como um grupo de habilidades perceptuais das relações le-
cas ou gráficas do texto. Finalmente, na quarta fase, ela começa a tra-som, pois os leitores estão buscando significado, não sons ou
busca por uma correspondência termo a termo entre fragmentos palavras (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984; GOODMAN, 1986). Trata-se
gráficos e segmentações sonoras. As autoras ressaltam que “em de uma compreensão contrária “à suposição generalizada que con-
todos os níveis o significado do texto é prognosticado a partir da sidera a escrita como a transcrição, por escrito, da fala” (FERREIRO;
imagem” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 93-94). Essa sequência TEBEROSKY, 1984, p. 272). WHOLE LANGUAGE Ferreiro e Teberosky,
de desenvolvimento foi interpretada como evidência do “divórcio além de expressarem simpatia pela teoria de N. Chomsky, explici-
entre o decifrado e o sentido”. Isto é, ao perceber que Paulo Este- tam também sua aproximação com a abordagem Whole Langua-
vão Andrade, Olga Valéria Campana dos Anjos Andrade e Paulo Sér- ge.1 Bentolila e Germain (2005) notam que um de seus aspectos
gio T. do Prado Cadernos de Pesquisa v.47 n.166 p.1416-1439 out./ mais fundamentais é que aprender a ler é tão natural quanto apren-
dez. 2017 1421 [...] o texto não é inteiramente previsível a partir der a falar. Desde que a criança esteja imersa no mundo dos tex-
da imagem, [a criança] opta, então, pelo decifrado para encontrar tos reais e significativos, ela aprende descobrindo o significado por
o sentido preciso; porém ao fazê-lo perde o sentido, ao ficar presa tentativa e erro, observando os componentes do texto (estrutura
nas exigências de um decifrado exato. Nos casos extremos são as textual, sintaxe, palavras, unidades linguísticas significativas, etc.) e
crianças que parecem ler corretamente, já que não cometem er- formulando sucessivas hipóteses. O que importa é a compreensão
ros no decifrado, porém que não têm a menor ideia do sentido do do significado global do texto, mesmo que algumas palavras per-
texto. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 99) E as autoras concluem maneçam desconhecidas. A exatidão não é o objetivo da leitura e
que a separação entre o que chamam de “decifrado” e o sentido as palavras são armazenadas na memória como logogramas, isto é,
do texto é um produto escolar, cuja consequência é a criança es- o que se apreende não são suas partes, mas sim a palavra no seu
quecer o sentido até dominar a mecânica da leitura. Isso impediria todo. Kenneth Goodman foi quem lançou as bases da Whole Lan-
a utilização do seu conhecimento sintático, caricaturando a leitura guage. Na sua concepção, a “linguagem não é inata e não é apren-
ao transformá-la na produção de ruídos com a boca em resposta a dida por imitação”, mas sim “um processo social e uma invenção
estímulos gráficos. pessoal”2 (GOODMAN, 1986, p. 18, tradução nossa). Ler é um jogo
psicolinguístico de adivinhação (GOODMAN, 1967, 1986), no qual a
A pesquisa: o desenvolvimento da escrita base da leitura e de sua aprendizagem está em prever o significado
A leitura do relato sugere que as tarefas experimentais utiliza- (SMITH, 1999), selecionando-se índices relevantes e desprezando-
das por Ferreiro e Teberosky foram inspiradas por trabalhos pré- -se os irrelevantes, antecipando e inferindo letras, sílabas, palavras
vios surgidos na esteira da teoria de Noam Chomsky (1957). Dois e significados. Trata-se de uma abordagem top-down (de cima para
exemplos são: o estudo de Cattell (1960), que mostrou que bebês baixo), de acordo com a qual o que sabemos controla o que per-
de 18 meses produziam garatujas que se diferenciavam de simples cebemos, de modo que a leitura começa não pela percepção, mas
rabiscos ao acaso e mostravam uma intenção de escrever; e o de sim por um nível cognitivo superior − a competência 1 Whole: todo,
Lavine (1972), em que crianças de apenas três anos de idade já di- inteiro, completo, sem divisão ou separação. Language: linguagem.
ferenciavam entre cartões contendo escrita e não escrita (desenhos 2 No original: “Language is not innate, and not learned as imita-
e formas geométricas). Outros são o de Carol Chomsky (1970) e o tion. [...] Language learning is a process of social and personal in-
de Charles Read (1971), em que as escritas espontâneas das crian- vention”. Paulo Estevão Andrade, Olga Valéria Campana dos Anjos
ças revelaram que elas construíam conhecimento sobre as relações Andrade e Paulo Sérgio T. do Prado Cadernos de Pesquisa v.47 n.166
letra-som e faziam generalizações sem instrução explícita. Todos p.1416-1439 out./dez. 2017 1423 linguística do leitor −, que permi-
esses trabalhos contribuíram para a conceituação da aquisição da te amostrar a escrita, apreender algumas palavras e ignorar outras,
escrita como um processo de desenvolvimento. Eles ressaltam a im- adivinhando a mensagem a partir do contexto, do conhecimento do
portância pedagógica de se trazer à luz o conhecimento sobre a lei- mundo, dos usos sociais da escrita e de tudo que permita se livrar
tura-escrita prévio à escolarização e a importância das relações gra- da inconveniência de realmente ter de ler o que o escritor escreveu
fema-fonema, bem como a relevância da atenção a estas no ensino (GOODMAN, 1968, 1970, 1986; SMITH, 1971, 1976, 1999; DOM-
(TEMPLETON; MORRIS, 2001; TREIMAN, 2001). Nas observações da BEY, 2005; LIBERMAN; LIBERMAN, 1990; TREIMAN; KESSLER, 2005).
escrita espontânea das crianças, Ferreiro e Teberosky (1984) repor- Goodman (1968) também insistia que há crianças que leem bem
taram uma fase inicial que denominaram período pré-silábico, no palavras individuais, mas não compreendem um texto concatena-
qual, embora as crianças não pareçam perceber que as letras repre- do. Isso justificaria a crítica aos métodos de alfabetização que enfa-
sentam os sons constituintes de uma palavra, sua principal conquis- tizam as correspondências letra-som. Eles seriam insuficientes, po-
ta é supor que as formas globais das palavras são representações dendo produzir leitores mecânicos, peritos na decodificação, mas
estáveis de nomes. Por isso, a denominação: “hipótese do nome”. que falham em compreender sentenças. Entretanto, Shankweiler e
Em seguida, emerge a “hipótese silábica”, em que se escreve uma Liberman (1972), à mesma época, haviam investigado se a principal
letra para cada sílaba. Ferreiro e Teberosky argumentam que inicial- fonte da dificuldade na leitura inicial estava no nível do texto con-
mente as letras não possuem correspondência sonora com a sílaba, catenado ou no da palavra. Compararam a fluência de crianças na
mas depois passam a ter valor sonoro, como AO e PO para a palavra leitura de parágrafos com vários graus de dificuldade (Teste Gray de
palo (pau, em espanhol) ou, no português, como CLO para cava- Leitura Oral) e listas de palavras isoladas. Os resultados mostraram
lo, ou OI para boi (BRASIL, 2003), e assim por diante. Depois surge uma correlação moderada a alta entre erros nas listas de palavras
a “hipótese alfabética”, que marcaria o início da compreensão do e o desempenho nos parágrafos. Por meio de análises detalhadas,
princípio alfabético. concluiu-se que “os problemas do leitor iniciante parecem ter mais
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BIBLIOGRAFIA - LÍNGUA PORTUGUESA
a ver com a síntese de sílabas do que com o escaneamento de aglo- Porém, ainda segundo Carol Chomsky (1970, p. 288), há regras ge-
merados maiores do texto concatenado”3 (SHANKWEILER; LIBER- rais de grande aplicabilidade “pelas quais estas formas abstratas
MAN, 1972, p. 298, tradução nossa). Desde então, um crescente subjacentes são convertidas em realizações fonéticas particulares”4
corpo de evidências tem fornecido apoio aos dados de Shankweiler (tradução nossa). Ela sugeriu o termo ortografia léxica para esse
e Liberman (1972), descartando as principais asserções da Whole tipo de escrita que mantém a forma ortográfica da raiz da palavra
Language. (um morfema), apesar das mudanças fonéticas na elocução, permi-
tindo que pares ortográficos, tais como médico e medicina, sejam
Linguagem inata reconhecidos como sendo formas variantes da mesma palavra. Isto
Considerando as afirmações de Ferreiro e Teberosky sobre a é, pertencem à mesma raiz e compartilham significados. Entretan-
teoria de Chomsky, vejamos algumas contribuições deste importan- to, Carol Chomsky (1971) sublinha que as próprias regras ortográfi-
te linguista. Na segunda metade do século XX, o autor propôs que cas contêm pistas gerais e regras de pronúncia que facilitam que o
as crianças possuem um tipo geral de conhecimento inato dos prin- componente fonológico da gramática inata do leitor opere sobre a
cípios abstratos subjacentes à linguagem, incluindo a especificação ortografia léxica. Do ponto de vista da autora, fica claro que a inter-
de uma fonética e uma gramática universais (CHOMSKY, 1957), o pretação léxica dos símbolos escritos é típica dos leitores maduros,
que explicaria o fato de elas aprenderem tão fácil e naturalmente que já conhecem as regras ortográficas e a relação letra-som. Para
qualquer língua a que sejam expostas (CHOMSKY, 1959). A título de as crianças, o ensino sistemático da ortografia e suas regras, incluin-
ilustração, mencionemos experimentos sobre discriminação foné- do as relações grafema-fonema, é um estágio extremamente im-
tica em neonatos. No seu conjunto, todas as línguas perfazem um portante para a posterior aquisição da interpretação léxica da orto-
total de aproximadamente 150 fonemas e, embora seus inventários grafia. Isso vem sendo confirmado por um volume estonteante e
fonéticos difiram dramaticamente, todas elas compartilham um crescente de pesquisas. Venezky (1970) também deu especial con-
determinado número deles (PINKER, 1994). Experimentos condu- tribuição para uma mu - dança nas concepções sobre a ortografia
zidos na década de 1970 mostraram que bebês com poucas horas inglesa e sua aquisição, mostrando que todas as irregularidades
de vida discriminam fonemas de todas as línguas, com diferenças aparentes nas relações escrita-som de mais de 20 mil palavras ana-
muito sutis entre eles, diferenças essas imperceptíveis a crianças lisadas por ele podiam ser previsíveis a partir da posição da letra ou
poucos meses mais velhas e aos adultos, que conseguem discrimi- fonema na palavra e na sua estrutura morfológica. Juntos, esses tra-
nar apenas fonemas de sua própria língua. Esses resultados levaram balhos sobre a natureza do sistema de escrita reforçaram a ideia de
à hipótese de que os bebês são dotados com detectores inatos de que mesmo uma ortografia irregular como a inglesa se constitui
características fonéticas (CUTTING; EIMAS, 1975), evoluídos especi- num eficiente sistema de transcrição dos sons da fala. Se ela não
ficamente para a fala. Com relação à gramática universal, Chomsky representa perfeita e univocamente as relações letra-som (de fato,
observou que, em todas as línguas, os falantes – inclusive crianças poucos sistemas se aproximam do ideal), abunda em regras gerais
muito novas – aprendem e distinguem sentenças gramaticalmente ortográficas e de pronúncia que a tornam uma excelente transcri-
corretas e incorretas sem qualquer instrução formal e com um mí- ção dos sons da língua no nível morfo-fonêmico, como apontado
nimo de correção. Ele sugeriu princípios que definem a estrutura por Chomsky e Halle (1968). E foi exatamente essa a mesma conclu-
das sentenças no processamento da linguagem, regras gramaticais são de linguistas e psicólogos presentes à IV Conferência sobre a
abstratas que são aprendidas implicitamente por todos os falantes Relação entre Escrita e Fala (MATTINGLY, 1972; KLIMA, 1972), pro-
nativos de uma língua (CHOMSKY, 1957, p. 15). Chomsky (1957, movida pelo National Institute of Child Health and Human Develop-
1965) sugeriu que havia um único fio ligando todas as línguas hu- ment – NICHD. Ferreiro e Teberosky (1984), contudo, manifestam
manas: a biologia. uma posição dúbia. Por um lado, referem-se ao evento mencionado
acima como o grande marco da psicolinguística moderna. Por outro,
A escrita codifica os sons da fala na sua interpretação, a abordagem de Chomsky e Halle (1968)
No início do século XX, a ortografia inglesa era tida como muito “aproxima o sistema de escrita inglesa, em certos aspectos, à escri-
irregular e considerava-se que a melhor forma de se aprender a lei- ta ideográfica” (1984, p. 257). Além disso, sustentam que: [...] a di-
tura seria pelo método que emprega palavras inteiras, estimulando- ferença entre sistemas alfabéticos de escrita e sistemas ideográficos
-se a memória visual para a forma escrita delas (RAYNER et al., é menos taxativa do que parece à primeira vista: não somente por-
2001; TEMPLETON; MORRIS, 2001). Essa visão começou a ser modi- que os sistemas alfabéticos introduzem princípios ideográficos, mas
ficada em meados do século, com a realização de estudos que ana- também porque as escritas ideográficas fazem, amiúde, uso de ca-
lisaram os aspectos alfabético, silábico e morfológico do inglês, re- racteres com valor fonético. Ato contínuo, citam o trabalho de Klima
velando altos níveis de regularidade (CHOMSKY; HALLE, 1968; (1972) sobre o que seria uma ortografia ideal, como apoio à ideia de
VENEZKY, 1970; WEIR; VENEZKY, 1968). Chomsky e Halle (1968), que os sistemas alfabéticos são, de maneira geral e em boa medida,
Carol Chomsky (1970) e Venezky (1970) mostraram que as regras de ideográficos. Ao que nos parece, essa interpretação está eivada de
correspondência escrita-som na ortografia inglesa, embora não re- falhas e contradições. Há um consenso entre linguistas sobre uma
flitam uma correspondência letra-som perfeita ou unívoca, repre- importante distinção, como a apontada Cagliari (2004). Os sistemas
sentam uma transcrição fonológica bastante regular da língua, tan- de escrita podem ser divididos em dois grandes grupos: os que se
to no nível fonêmico quanto no morfêmico. Chomsky e Halle (1968) baseiam no significado e aqueles que se baseiam no significante. Os
demonstraram, por exemplo, que as variações fonéticas da letra a, sistemas baseados nos significados são, em geral, pictóricos, iconi-
que às vezes tem o som /ei/ e outras o som /é/ em palavras como camente motivados pelos significados que pretendem transmitir,
nation e national, respectivamente, foram por muito tempo consi- não estão associados a qualquer som linguístico específico e tam-
deradas evidências de extrema irregularidade e base para uma con- bém não dependem de uma língua específica, podendo ser lidos
cepção quase ideográfica da ortografia inglesa. Na língua portugue- independentemente do idioma do leitor. Por exemplo, sinais de
sa, bem mais regular, encontramos exemplos semelhantes de trânsito, logotipos, algarismos arábicos, notações científicas, etc.,
alternações consonantais, como os diferentes valores sonoros da são ideogramas: representações pictográficas, cujas formas não ne-
letra c em palavras como medicina e medicar. Os autores concluí- cessariamente se assemelham fisicamente aos objetos representa-
ram que o princípio fundamental da ortografia é que a variação fo- dos. Em contraste, a escrita baseada no significante nada revela do
nética não é indicada quando ela é previsível por uma regra geral. significado. Ela representa sons da fala, cuja emissão depende do
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conhecimento da língua falada que ela representa. Linguistas proe- O desenvolvimento da linguagem escrita
minentes, como Gelb (1963, 1976), Mattingly (1972, 1985, 1992), Lavine (1972, 1977) estudou a discriminação entre escrita e ou-
Sampson (1987) e DeFrancis (1989), compartilham a ideia de que tros tipos de grafias em crianças de 3 a 5 anos empregando diferen-
todos os sistemas práticos de escrita conhecidos são baseados no tes cartões contendo desenhos, formas geométricas ou escritos em
significante, sendo, portanto, fonográficos. Mattingly (1985) afirma inglês, hebraico e chinês, além de números. A tarefa das crianças
que as verdadeiras escritas são motivadas pelos sons da fala e ten- era colocar numa caixa os cartões que elas achavam que tinham
tam representar especificamente uma ou mais unidades fonológi- algo escrito. Os resultados apontam um aprendizado muito preco-
cas, ao passo que as semasiografias (pictografias e ideografias) são ce de percepção categórica dos aspectos gerais que caracterizam
escritas não linguísticas porque não representam qualquer nível os sinais gráficos, ignorando-se detalhes irrelevantes. Crianças de
fonológico específico. Tanto Mattingly (1985) quanto Gelb (1963, apenas três anos já percebem as características distintivas, recom-
1976) advertem que não devemos confundir escrita ideográfica (ba- binação de elementos e regularidade repetitiva, bem como são ca-
seada no significado) com escrita logográfica, que representa os pazes de distinguir o que é escrita e o que não é escrita (desenhos e
sons da língua e é, portanto, baseada no significante. Conclui-se, formas geométricas), mesmo quando o tipo de escrita é totalmente
pois, que os logogramas, mesmo que puros, constituem uma escrita diferente da que elas estão habituadas a ver, tal como o árabe e
linguística porque são sinais fonográficos ao nível dos morfemas “e o hebraico (GIBSON, 1972). Charles Read (1971) e Carol Chomsky
não, como às vezes se diz, ‘conceitos’ ou ‘significados’”5 (MATTIN- (1970) foram os primeiros a demonstrar quão cedo o desenvolvi-
GLY, 1985, p. 19, tradução nossa). Finalmente, ao recorrerem ao ar- mento da escrita em crianças pré-escolares é uma função de sua
tigo de Klima (1972) para pugnar por uma apro ximação entre os consciência fonológica em desenvolvimento e do seu conhecimen-
sistemas alfabéticos e os ideográficos, E. Ferreiro e A. Teberosky, a to do alfabeto. Em uma série de publicações, Read (1971, 1975)
nosso ver, comentem outro erro, pois o autor é categórico ao afir- relatou estudos detalhados da “escrita inventada”: tentativas de
mar que toda escrita é uma transcrição dos sons da fala. Ele conce- escrita de crianças em idade pré-escolar antes de terem recebido
be a ortografia como: [...] um princípio geral pelo qual as unidades instrução formal sobre leitura e escrita, que revelam o uso de suas
da língua (palavras, elocuções) são representadas pelas unidades melhores hipóteses. Num dos estudos, Read (1975) descobriu que
ortográficas, de tal forma que o leitor possa reconstruir as unidades crianças que ainda não sabiam escrever já eram capazes de identi-
linguísticas a partir de suas representações ortográficas. Hoje sabe- ficar e nomear as letras do alfabeto e relacionar o nome das letras
mos que, uma vez que toda ortografia se relaciona com a estrutura com os sons das palavras. Algumas delas, por exemplo, escreveram
fonológica da língua, quanto mais eficientemente ela refletir essa truck ini - ciando com ch, que, no inglês, representa o som do t
estrutura, melhor e mais facilmente aprendida ela será (MATTIN- africado, como em “tchio” – tal como se pronuncia a palavra tio em
GLY, 1985, 1992; TREIMAN; KESSLER, 2005). Se a essência da lingua- algumas regiões do Brasil. A esse respeito, ver, por exemplo, Read
gem humana é sua abertura ou potencial recursivo, então, o siste- (1975, 1993). O fato de as crianças às vezes grafarem um som aber-
ma ortográfico que mais se aproxima dessa característica é o to de truck como ch reflete que elas reconhecem uma diferença
alfabético (KLIMA, 1972; MATTINGLY, 1985, 1992; TREIMAN; KESS- fonológica real entre as palavras cujas ortografias começam com tr
LER, 2005). Essa noção é consensual entre os linguistas participan- e aquelas cujas ortografias começam com t, seguidas por vogal. A
tes da IV Conferência mencionada acima. Klima argumentou que, conclusão de Read é que as crianças compreen - dem a ortografia
embora todos os sistemas de escrita sejam relativamente arbitrá- como um grupo de hipóteses tácitas sobre as relações fonéticas e
rios, os sistemas essencialmente logográficos (apesar de, como já as correspondências som-ortografia e que elas são capazes de mo-
vimos, nunca ter havido um sistema puramente logográfico) “não dificar suas hipóteses prontamente quando encontram novas infor
capitalizam uma característica estrutural de toda língua humana, a - mações sobre a escrita padrão. O trabalho de Read (1971) inspirou
saber [...] são todas compostas de um número limitado de sons dis- outras pesquisas, conhecidas como os “estudos de Virgínia”. Delas
tintos”7 (1972, p. 62, tradução nossa), a partir da combinação e re- resultou uma proposta de estágios de desenvolvimento da leitura,
combinação de um pequeno número de fonemas. Em contraste, que podem ser assim resumidos: 1) pré-fonêmico (ou pré-letrado
uma escrita que refletisse essa característica permitiria “uma redu- ou, ainda, pré-comunicativo) − envolve garatujas e desenhos em
ção na arbitrariedade quando as letras, apesar de serem elas mes- vez de palavras na comunicação; 2) nome-de-letra (ou alfabético
mas arbitrárias, possuem uma relação fixa com a forma da palavra”. ou, ainda, se - mi-fonético) − no início se estabelece uma relação
Ele acrescenta que, em contraste com a maior rapidez e eficiência entre letras e sons consonantais, depois a grafia de palavras sim-
com que são aprendidos os sistemas mais consistentes na corres- ples com vogais na posição medial baseada no nome das letras; 3)
pondência caractere-fonema, sistemas logográficos, como o chinês, dentro-das-palavras (fonético) − grafam-se palavras com base nos
demandam longos anos de aprendizagem (KLIMA, 1972). Na mes- sons das letras; 4) juntura silábica (transição) − trabalha-se com
ma conferência, Halle (1972, p. 150, tradução nossa) destaca que: palavras polissilábicas e generalizações de afixos, apresentando a
Nenhum sistema de escrita é idêntico a uma estrita transcrição fo- crítica transição da ortografia inventada para a ortografia padrão,
nética [...] todos os sistemas de escrita usados na prática represen- baseando-se em observações, analogias e memória visual; 5) cons-
tam os sons da pronúncia, embora desconsiderem os efeitos de al- tância derivacional (correto) − os estudantes são independentes e
gumas regras. Se nós definirmos a abstração de uma ortografia aprendem que partes das palavras estão relacionadas aos significa-
como uma variação direta do número de regras fonéticas cujos efei- dos; palavras polissilábicas são o foco do aprendizado. O grupo de
tos ela falha em espelhar diretamente, nós podemos dizer que a Virgínia concluiu que seus “trabalhos revelam que crianças jovens
ortografia chinesa é muito abstrata; a ortografia finlandesa é um são capazes de construir conhecimento sobre as relações entre
tanto concreta, enquanto que a do inglês fica em algum ponto entre sons e letras sem instrução explícita”. Juntos, esses achados mos-
as duas primeiras. Se a Linguística mostra que a escrita alfabética é tram que as escritas espontâneas das crianças são frequentemente
a codificação dos sons da fala, estudos psicológicos acumulam da- tentativas sistemáticas de traduzir distinções fonológicas genuínas,
dos sobre o desenvolvimento da linguagem na criança, mostrando muito embora essas escritas possam ser equivocadas do ponto de
que essa noção se desenvolve mesmo antes da escolarização for- vista da escrita convencional. Em suma, as escritas espontâneas são
mal. A seguir, apresentaremos resumidamente alguns deles. fonologicamente guiadas (TEMPLETON; MORRIS, 2001; TREIMAN,
2004). Outra pesquisadora, Linnea Ehri, inicialmente estudando o
desenvolvimento da leitura (EHRI, 1975) e depois da escrita (EHRI;
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WILCE, 1979), também encontrou uma progressão do desenvolvi- mais novos e menos hábeis, com idade média de quatro anos e três
mento similar à dos estudos de Virgínia. Porém, sua categorização meses, que nomeavam menos de seis letras do alfabeto. Embora
foi em três fases: 1) pré-alfabética (equivalente ao pré-fonêmico mais jovens e menos conhecedores das letras do que os pré-leito-
ou pré-letrado) − não há relações grafema-fonema. Neste estágio res do estudo anterior (TREIMAN; RODRIGUEZ, 1999), eles também
− semelhante ao que Frith (1985) denominou “logográfico” −, as foram significativamente melhores na condição nome do que nas
crianças aprendem, com a ajuda de pistas contextuais, a ligar a con- condições som e visual. Depois, Treiman, Kessler e Bourassa (2001)
figuração visual holística de uma palavra escrita a uma palavra fala- estenderam seus achados para a escrita. Ensinaram as crianças a es-
da particular e, assim, identificam um número limitado de palavras creverem palavras usando como pistas o nome da letra inicial (por
(EHRI; WILCE, 1985; BOWMAN; TREIMAN, 2002). Por exemplo, as exemplo, PL para pele), ou do som (por exemplo, BL para bala), ou
corcundas da letra m na palavra camelo, o grande M em forma de somente pistas visuais, não fonéticas (por exemplo, TM para bola,
arcos dourados para a palavra McDonalds, etc.; 2) alfabética par- onde as duas letras eram de diferentes cores, tamanhos e mate-
cial é uma fase em que conhecer os nomes das letras permite à riais). Como na leitura, pré-leitores e leitores novatos se saíram me-
criança encontrar, no interior do nome de cada letra, o som que lhor na condição nome do que na condição som. Novamente, os
ela representa. Mas, chamando-lhe mais a atenção as partes inicial pré-leitores mostram alguma habilidade para usar pistas letra-som
e final das palavras, ela acaba se confundindo com palavras seme- na ortografia, tendo desempenho confiavelmente melhor na condi-
lhantes, como stop (pare) e step (passo); 3) alfabética plena é a fase ção som do que na condição visual. As pesquisas descritas apontam
em que a criança se tornou uma verdadeira leitora. As associações na mesma direção da visão alternativa para o estágio logográfico
letra-som estão completas e a leitura é feita de modo automatiza- proposta por Ehri (1980) e Ehri e Wilce (1985), na qual não há um
do. A forma escrita das palavras funde-se à sua pronúncia, ambas estágio visual puro, porque, na fase logográfica, as crianças usam os
associadas com seu significado e assim armazenadas na memória. nomes das letras como pistas para identificação das palavras desde
Para mais detalhes em português, ver Ehri (2013). Treiman et al. as primeiras oportunidades. Isto é, a ideia de que pré-leitores são
(1997) produziram evidências adicionais sobre o papel da fonologia aprendizes logográficos incorre no equívoco de focar mais o que as
na escrita espontânea, mostrando que diferenças fonológicas diale- crianças não podem (formar associações específicas letra-som) do
tais entre o inglês britânico e o americano são refletidas na escrita que o que elas podem fazer, bem como que o desenvolvimento do
espontânea das crianças pré-leitoras. Por exemplo, a maioria dos letramento não ocorre rigorosamente em estágios: mesmo as crian-
americanos do centro-oeste não pronuncia um som vogal separa- ças pré-leitoras não são limitadas à estratégia logográfica quando
do em palavras como girl e, consequentemente, crianças pré-leito- aprendem novas palavras e podem usar informação fonética para
ras frequentemente colocam a vogal no lugar errado ou a omitem, ligar a escrita à fala, desde que dadas as pistas apropriadas (TREI-
como nos erros GRIL e GRL. No inglês britânico, em contraste, pa- MAN; KESSLER; BOURASSA, 2001; TREIMAN; RODRIGUEZ, 1999).
lavras como girl e better são pronunciadas sem o som /r/, de modo Assim, a chave para levar a criança ao primeiro estágio da leitura
que é mais provável entre britânicos do que entre americanos que, por pistas fonéticas pode ser o aprendizado das letras do alfabe-
na escrita espontânea dessas palavras, o r seja omitido. Enfim, as to e não necessariamente o aprendizado do princípio alfabético
evidências acumuladas convergem para um ponto que permite a (RAYNER et al., 2001, p. 39; CARDOSO- -MARTINS; BATISTA, 2005).
conclusão de que, desde muito cedo, as crianças compreendem os Abreu e Cardoso-Martins (1998) obtiveram resultados similares
padrões linguísticos fonológicos e morfológicos da escrita e reali- com crianças pré-escolares brasileiras, utilizando grafias fonéticas,
zam relações em níveis fonológicos bastante detalhados. Para uma como CBA para cebola, em que o nome da primeira letra (ce) é facil-
revisão, ver Treiman (2004). mente detectado na pronúncia da sílaba inicial da palavra (ABREU;
CARDOSO-MARTINS, 1998; CARDOSO-MARTINS, 2013).
O desenvolvimento da leitura
Treiman e Rodriguez (1999) testaram a leitura em pré-leitores A fragilidade da hipótese silábica
de cinco anos e em leitores novatos de cinco anos e meio, usando a Para Ferreiro e Teberosky, a hipótese silábica é um importan-
tarefa “aprendizado de palavra” (EHRI; WILCE, 1985), em três con- te salto qualitativo conceitual, pois significa que a correspondên-
dições. Na condição visual, as palavras escritas consistiram de letras cia global entre a forma escrita e a expressão oral dá lugar a uma
arbitrárias, não relacionadas fonologicamente a palavras faladas, correspondência termo a termo entre partes do texto e partes da
mas que variavam em tamanho e posicionamento. A condição foné- palavra falada. A criança atribui a cada letra o valor de uma sílaba.
tica foi subdividida em duas: 1) nome, em que cada nova palavra co- As autoras afirmam que a hipótese silábica é o momento em que,
meçava com uma letra cujo nome era ouvido no início da pronúncia pela primeira vez, “a escrita está diretamente ligada à linguagem”
da palavra, como PL para pele, TL para tela, BB para bebê; e 2) som, e “representa partes sonoras da fala”, abrindo caminho para o iní-
em que o nome da letra não podia ser ouvido na pronúncia da pala- cio do período que corresponde à fonetização da escrita com as
vra, que continha apenas seu fonema (PT para pinta e BL para bala). hipóteses silábicas de valor sonoro (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984,
As crianças pré-leitoras, razoáveis em nomear letras (média de 15,5 p. 266). Estranhamente, contudo, elas não admitem que haja ge-
acertos em 26 letras) e fracas na relação letra-som (média de 5,5 nuínas tentativas de correspondências grafo-fonológicas nessa fase,
em 26 letras), foram significativamente melhores na condição nome contrariamente a Charles Read, por elas mesmas citado e exalta-
do que nas condições visual e som, ambas estatisticamente indistin- do como uma das principais referências na psicolinguística. Read
guíveis. Resumindo, as crianças beneficiaram-se da pista fonológica (1975) afirmara que crianças diferentes escolhem as mesmas gra-
nome da letra, mas não da pista som do fonema. Já os leitores no- fias, foneticamente motivadas, sem que isso possa ser explicado
vatos sabiam mais nomes e sons de letras do que os pré-leitores e por força do acaso ou influência direta dos adultos. E em contraste
se saíram significativamente melhor na condição nome do que na também com o grupo de Virgínia, cujos trabalhos revelaram que
condição som, e significativamente melhor na condição som do que crianças constroem conhecimento sobre as relações entre sons e
na condição visual, sugerindo que já tinham alguma habilidade na letras, mesmo sem ensino proposital (TEMPLETON; MORRIS, 2001).
relação grafema-fonema. Esses resultados sugerem que as crianças Ferreiro e Teberosky, por sua vez, concluíram que a grande prova da
não abandonam imediatamente a estratégia nome da letra quan- natureza conceitual lógico-matemática da hipótese silábica reside
do uma estratégia alfabética começa a emergir. Treiman, Kessler no fato de que, das 34 crianças silábicas observadas, havia “oito
e Bourassa (2001) estenderam esses achados a pré-leitores ainda crianças de CB [classe baixa] que exploram a hipótese silábica [...],
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apesar de não ter possibilidades de dar um valor sonoro estável às (1984, p. 64). Outros dois achados relatados na obra sugerem for-
letras” (1984, p. 226-228). O que nos parece mais intrigante e re- temente o equívoco das autoras. Primeiro, “há um avanço marcan-
velador da impropriedade de uma interpretação de tal magnitude te da escrita e interpretação do nome próprio em relação a outras
do desenvolvimento da escrita na criança com base em tão poucas escritas” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, p. 226). Isto é, em todas as
evidências é a observação feita pelas próprias autoras: Este ponto é crianças, a hipótese silábica é mais consistente na escrita do próprio
muito importante. Se somente tivéssemos interrogado crianças de nome do que na de outros nomes. Segundo, a escrita silábica de
CM [classe média], teria sido fácil concluir que a hipótese silábica todas as crianças de classe média tem valor sonoro. Juntos, esses
não é senão o resultado de uma assimilação deformante a partir resultados convergem para um consistente corpo de evidências so-
das informações providas pelo meio (por exemplo, M seria “o ma” bre a enorme importância do conhecimento dos nomes das letras.
simplesmente porque a criança conhece as escritas MARIA e MA- Isso porque muitas vezes eles são ouvidos no começo das palavras
MÃE, com as leituras globais correspondentes, de onde resultaria ou porque os nomes das letras. Igualmente importante é o conhe-
uma tentativa de encontrar o valor sonoro das letras). (FERREIRO; cimento da escrita do nome próprio para a aquisição das relações
TEBEROSKY, 1984, p. 226) Posteriormente, segundo as autoras, há grafo-fonológicas ainda em períodos nos quais a criança não parece
uma fase de abandono gradativo da hipótese silábica, devido ao seu fazer associações letra-som, correspondentes ao estágio pré-silábi-
conflito com as hipóteses anteriormente construídas da exigência co. Fato é que os relatos dos estágios psicogenéticos reportados por
para a escrita de um mínimo de três letras e a variabilidade des- outros autores analisados por nós, particularmente no Brasil (BRA-
tas, uma vez que a hipótese silábica implica o uso de uma ou duas SIL, 2003), revelam uma minoria de crianças com hipótese silábica,
letras para palavras monossilábicas e dissilábicas, respectivamen- tal como os casos apresentados por Ferreiro e Teberosky. Adicio-
te, chegando-se à hipótese alfabética, que significa que a criança ne-se à fragilidade da hipótese silábica o fato de que as evidências
compreende o princípio alfabético da relação letra-som. Ferreiro e não chegam a constituir uma base consistente para a ideia de que
Teberosky (1984, p. 271) tomam os dados produzidos por sua pes- as crianças pré-escolares, ainda no estágio pré-silábico, tratam ho-
quisa como evidências de que a “escrita não é uma simples transcri- listicamente seus próprios nomes e demais palavras escritas. Isto é,
ção da língua oral” e também como suporte à proposição de Frank as evidências mostram que as crianças pré-silábicas não são leitoras
Smith, para quem “a escrita é uma forma alternativa ou paralela de estritamente globais ou logográficas, mas, antes, elas também se
linguagem relacionada à fala e a leitura, tanto como a recepção da focam nas letras das palavras escritas quando as relacionam com
fala, envolve uma ‘decodificação significativa’ direta, ou compreen- suas pronúncias e significados. Como vimos em momento anterior,
são”. As autoras argumentam que escrita e fala são processos lin- os estudos das últimas décadas apontam para uma visão diferen-
guísticos paralelos, que não se encontram na leitura, “são formas te: a de que as escritas espontâneas são fonologicamente guiadas
variantes ou alternativas da mesma língua [...] contrariamente à su- (TEMPLETON; MORRIS, 2001; TREIMAN, 2004); e que não há um es-
posição generalizada que considera a escrita como a transcrição por tágio visual puro, porque, na fase pré-silábica, as crianças usam os
escrito da fala” e, por isso, “ler não é decifrar” (p. 269 [ver também nomes das letras como pistas para a identificação das palavras des-
p. 34]), o que implica que “é injustificável a iniciação à lecto-escri- de as primeiras oportunidades; elas aprendem mais facilmente as
ta, concebida como uma transcrição dos grafemas em fonemas” (p. correspondências letra-som quando conhecem os nomes das letras
28). Finalmente, Ferreiro e Teberosky (1984) sustentam que seus porque estes possuem o som que elas representam (EHRI, 1986).
da - dos obtidos com crianças vieram a preencher uma lacuna nas A publicação do trabalho de Ferreiro e Teberosky (1984) provo-
evidências produzidas pelos autores Whole Language, Frank Smith cou significativas mudanças no entendimento do processo de ensi-
(1971, 1973) e Foucambert (1976), que partiram do comportamen- no-aprendizagem da leitura e escrita no Brasil, deslocando o foco
to do adulto. Em conjunto, os dados dessas pesquisas com crianças de como se ensina para como se aprende, tendo como arcabouço
e adultos suportaria tanto as noções discutidas acima como a decla- teórico e interpretativo as ideias da Whole Language (GOODMAN,
ração de que o decifrado “é a chave de todos os males da iniciação 1967; SMITH, 1971). Ao analisarmos a obra e a literatura nela re-
escolar da leitura” e que “a utilização do decifrado como meio para ferenciada, observamos vários aspectos conceituais conflitantes
compreender uma palavra escrita coloca a criança em situação de e inconsistentes: as concepções sobre a natureza dos sistemas de
fracassar” (FOUCAMBERT, 1976, apud FERREIRO; TEBEROSKY, 1984, escrita, o conceito de leitura e escrita, a compreensão dos siste-
p. 269-273). Em suma, as interpretações e conclusões de Ferreiro e mas cognitivos envolvidos no processo de leitura, os parâmetros
Teberosky (1984) vão na contramão de toda a nova psicolinguística teórico-empíricos da nova psicolinguística e até a interpretação de
e de seus próprios dados, com base nos quais elas afirmam que seus próprios dados, tudo isso levando a implicações educacionais
na fase silábica “a escrita está diretamente ligada à linguagem” e cruciais. Começando pelo suposto divórcio entre decifrado (decodi-
“representa partes sonoras da fala” (p. 266), marcando o início da ficação) e sentido, trata-se de uma interpretação compatível com a
fonetização da escrita. Todas as evidências mostram quão cedo o asserção 12 Aproximadamente equivalente ao préfonêmico/pré-le-
desenvolvimento da escrita em crianças pré-escolares é uma fun- trado (HENDERSON; BEERS, 1981) e ao logográfico ou pré-alfabéti-
ção de sua consciência fonológica em desenvolvimento e do seu co (EHRI; WILCE, 1985), segundo a qual muitas crianças leem bem
conhecimento do alfabeto (TREIMAN, 1993, 2004, 2006). A hipó- palavras individuais, mas não parecem ser capazes de compreender
tese silábica não resistiu a análises estatísticas mais detalhadas, um texto conectado. Tal evidência fundamentaria a visão de que
mostrando que a correspondência termo a termo entre sinais ou os métodos de alfabetização que enfatizam as correspondências
letras e o número de sílabas da palavra falada não ultrapassa o nível escrita-som são insuficientes e produzem leitores mecânicos. Essa
do acaso (CARDOSO-MARTINS; BATISTA, 2005; TREIMAN; KESSLER, concepção não encontra apoio em dados empíricos de outras pes-
2005). Constance Kamii, discípula de Piaget, também não encontrou quisas (SHANKWEILER; LIBERMAN, 1972). Ademais, ela abriga um
a suposta fase silábica em crianças falantes do inglês, cuja escrita paradoxo: admite que o desenvolvimento psicogenético inclui uma
inventada representava as palavras principalmente com consoan- fase de decodificação que “parece ser obrigatória” (FERREIRO; TE-
tes (KAMII; MANNING; MANNING, 1990), conforme os exemplos de BEROSKY, 1984, p. 103), mas, ao mesmo tempo, conclui que uma
Read (1971, 1975) e vários estudos posteriores (TREIMAN, 1993, abordagem de leitura baseada na decodificação força a criança a
2004). Ferreiro e Teberosky, porém, insistem que a criança vê a es- esquecer o sentido até ter compreendido a mecânica do decifrado.
crita como um objeto simbólico, substituto da realidade que reme- Ferreiro e Teberosky afirmam que “nenhuma escrita constitui uma
te diretamente ao significado, e não como uma transcrição da fala transcrição fonética da língua oral” (1984, p. 24 [ver também p. 64 e
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272]), disso decorrendo que seria injustificável o ensino da relação A parte 3 ocupa-se de problemas relativos à relação entre as
grafema-fonema (1984, p. 28, 269-273); vários outros autores enfa- unidades de analises inferiores à palavra na oralidade e na escrita.
tizam que toda escrita verdadeiramente linguística, prática e estável A silaba é uma unidade espontânea na oralidade, mas entre silabas
é a escrita fonográfica, isto é, a codificação dos sons da fala (DE- orais e palavras escritas a relação é sumamente problemática, parti-
FRANCIS, 1989; KLIMA, 1972; MATTINGLY, 1972; SAMPSON, 1985). cularmente quando são propostas atividades de contagem.
As autoras oferecem uma abordagem piagetiana da leitura-escrita As publicações sobre a chamada “consciência fonológica” fo-
com base no conceito de função semiótica. Está em jogo a visão ram extremamente numerosas e continuam gerando debates que
de que os sinais da escrita não são uma transcrição da língua oral, concernem às intervenções educativas nas etapas iniciais: é preciso
mas sim objetos significantes que remetem diretamente ao signifi- treinar as crianças a decompor oralmente as palavras em fonemas,
cado. Embora carente de suporte científico adequado e colidindo no nível oral, antes de enfrentar o escrito? Recordemos que na tra-
com um sólido corpo de evidências empíricas e formulações teó- dição anglófona a leitura procede a escrita e essas pesquisas não se
ricas (GROFF, 1999; KOZLOFF, 2002; LIBERMAN; LIBERMAN, 1990; separam dessa tradição.
PESETSKY, 1996), Ferreiro e Teberosky (1984) aproximam forçosa- Ao contrario, do nosso ponto de vista teórico as primeiras ten-
mente a abordagem Whole Language aos avanços da nova psico- tativas de escrita devem ser levadas muito a serio, porque a escrita
linguística, disso decorrendo um grande equívoco: apropriação da consistem em colocar letras em certa ordem e, portanto, propicia
visão chomskyana da natureza biológica, natural e fácil da aquisição uma atitude analítica sobre os componentes da palavra. Nesta es-
da linguagem oral e sua aplicação à aquisição da língua escrita, de tudo pioneiro para a época exploramos a relação entre os níveis
natureza estritamente cultural e muito recente na história humana evolutivos de produção de escritas e as possibilidades de recorte
(MATTINGLY, 1972, 1991b). Esse ecletismo entre o construtivismo oral das palavras, encontrando relações muito estreitas entre escri-
cognitivo piagetiano, uma concepção socioculturalista da lingua- ta e recorte oral. Trata-se de um artigo que foi muito citado, mas só
gem escrita (Whole Language) e outra inatista da linguagem natu- sem encontrava disponível em inglês; agora poderá ser consultado
ral (a teoria de Chomsky) constitui-se numa promiscuidade teórica, com maior facilidade. O mesmo problema é retomado em etapas
cujos resultados práticos, infelizmente, não têm contribuído para um pouco mais avançadas a proposito da escrita de silabas mais
melhorar a qualidade da educação. difíceis, que se separam do modelo consoante-vogal.
Um capitulo desta parte 3 é sensivelmente diferente do outros
porque se ocupa da produção textual abordando um tema pouco
FERREIRO, E. O INGRESSO NA ESCRITA E NAS CULTURAS estudado; em que medida as variantes dialetais refletem na escri-
DO ESCRITO: SELEÇÃO DE TEXTOS DE PESQUISA. TRADU- ta? Essa pergunta foi colocada em relação aos problemas de orto-
ÇÃO DE ROSANA MALERBA. SÃO PAULO: CORTEZ, 2013. grafia, mas neste caso focalizamos um tema diferente: o uso dos
(CAPÍTULO 3- A DESESTABILIZAÇÃO DAS ESCRITAS SILÁBI- pronomes de segunda pessoa, com suas formas verbais associadas,
CAS: ALTERNÂNCIAS E DESORDEM COM PERTINÊNCIA, que são cruciais na escrita dos diálogos. Os textos produzidos são
P.63-76). reescritas da estória tradicional de Chapeuzinho Vermelho, parte de
um corpus comparativo extenso que deu origem a um livro em três
versões – um em cada língua – ao que fazemos referencia em vários
O foco do livro são as pesquisas que se colocam perguntas bá- capítulos deste novo livro.
sicas, que subsistem a um programa de pesquisa em contínua rees- O corpus a que acabamos de fazer referencia serviu para colo-
truturação: a psicogênese da língua escrita (incorporando agora os car de uma maneira original alguns problemas ortográficos.
recursos tecnológicos próprios da época. A parte 4 deste livro começa com o capitulo 11, que tem um
As primeiras etapas continuam sendo cruciais. titulo provocante: “Nem tudo é ortográfico na aquisição da orto-
A parte 2 desse livro (capítulo 3 a 6) está dedicada a tentar en- grafia”.
tender o que ocorre nas conceitualiações das crianças, em vários Esse capitulo e o seguinte não se ocupam das regras ortográfi-
domínios: a distinção entre escrita de nomes e escrita de núme- cas tradicionais, mas de localizar o domínio do ortográfico com rela-
ros compostos nos reserva muitas surpresas de grande relevância ção a outros domínios pouco ou nada explorados: as regras gráficas
teórica, enquanto o contraste palavra/ nome nos leva a considerar de composição de grafemas próprias de uma língua e as variações
respostas de crianças pequenas que estabelecem distinções muito tipográficas das letras.
distanciados do chamado “senso comum”. A parte 4 conclui com dados de pesquisa sobre pontuação. Este
Nesses capítulos, vemos como as crianças elaboram ideias to- é um tema vasto, de grande importância, que exige uma tomada
talmente originais para resolver esses problemas. de posição do pesquisador acerca da normatividade da pontuação,
Não são ideias peculiares de crianças individualizadas, mas posto que a pontuação pode ser considerada também como um
ideias que as crianças de certo nível de desenvolvimento compar- espaço de liberdade. De fato, se deixamos de lado dois casos clara-
tem, sem o saber, com outras crianças do mesmo nível de desen- mente normativos (a vírgula que separa elementos de uma lista e
volvimento. a maiúscula que segue o ponto), o resto é matéria de controversas.
O capitulo 4 utiliza o computador em sua função de processa- Por exemplo, a fronteira entre pergunta e exclamação se problema-
dor de palavras, para dar sentido à escrita de uma lista de palavras. tiza quando se trata de uma expressão de surpresa ou de um inicio
Essas escritas colocam em evidencia os problemas de identidades e interrogativo que deve ser interpretado como uma ordem encober-
diferenças que crianças aos 4 ou 5 anos são capazes de enfrentar. O ta. Os sinais propriamente expressivo são abundantes nos diálogos
capitulo 3 teoriza sobre estes dados pondo ênfase na noção de cen- e particularmente nas historias em quadrinhos. É exatamente disto
tração cognitiva, fazendo uso de uma metáfora musical para tentar que trata este capitulo 13. As crianças foram convidadas a refletir
compreender dados surpreendentes de um momento peculiar do sobre a pontuação apropriada para um historia em quadrinhos.
período silábico, em que a busca de letras pertinentes e a ordem A parte 5 começa com a colocação de problemas que só podem
destas entram em conflito, fenômeno que chamamos de “desor- ser apresentados com a ajuda de novos recursos da informática.
dem com pertinência”. Os “nativos digitais” podem resolver na tela problemas que antes
estavam fora de seu alcance. Um desses problemas é a formatação
de um texto. O formato é uma das propriedades gráficas dos textos.
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Alguns tipos de texto tem formatos próprios; a poesia se caracteriza de sua disciplina, para, ao final, retornar ao seu campo com novos
por linhas curtas; as obras teatrais utilizam recursos para distinguir conhecimentos que se tornaram determinantes para o campo da
a intervenção dos diferentes atores de suas respectivas falas, além alfabetização. O autor pondera sobre a coragem e os riscos enfren-
de outros recursos para indicar os movimentos em cena e os “mo- tados por Ana Luiza Smolka para conceber a alfabetização como
dos de dizer”. processo discursivo, em um momento em que predominavam, no
No capitulo 15 exploramos os recursos gráficos utilizados pelas cenário nacional, as pesquisas de base construtivista. Para ele, o
crianças para apresentar no monitor, com um formato adequado, mais surpreendente foi o fato de Ana Luiza Bustamante Smolka se
textos conhecidos como poesias e obras teatrais, enquanto no ca- deixar banhar nos estudos da linguagem em sua perspectiva enun-
pitulo 16 não trabalhamos com formatos previamente conhecidos, ciativa, perspectiva essa que era naquele momento absolutamente
mas textos com formato livre: textos publicitários. De fato, o texto marginal. Da Análise do Discurso, Smolka se inspirou no conceito de
publicitário não tem um formato pre-estabelecido, mas tem uma “formação discursiva” de Foucault e de sua perspectiva genealógica
clara intenção comunicativa: converter o destinatario em um con- para inquirir sobre a gênese do discurso escrito das crianças, para
sumidor, para o qual são utilizados diversos mecanismos de sedu- além da gênesis de aquisição do já existente – o alfabeto – indo para
ção. As crianças tem, neste caso, grande liberdade para inventar a gênesis do discurso enunciado, por meio de garatujas, letras, de-
formatos e para nos mostrar, ao faze-lo, de que forma compreen- senhos números, símbolos, recortes de palavras alheias etc. Geraldi
dem as propriedades discursivas desses textos. afirma que ler esses textos em busca de sentido foi uma proposta
No capitulo 17 desta parte 5, trabalhamos com um texto pe- revolucionária para o campo da alfabetização. Buscando compreen-
culiar: a epigrafe. As crianças produziram e revisaram suas próprias der como tal percurso de originalidade foi possível, Geraldi chama
epigrafes. a atenção para o fato de que um Projeto de Leitura de literatura in-
O livro se abre com um primeiro capitulo de caráter teórico e fantil esteve no cerne do trabalho da tese de doutorado de Smolka,
se encerra com dois ensaios que colocam problemas mais ligados ou seja, aquilo que não se reduz à lógica da racionalidade: a arte.
à compreensão dos requisitos da alfabetização no mundo contem- Para ele, este foi o grande motor da produção de uma proposta de
porâneo. alfabetização que alia cognição, estética e ética.
Este livro é um novo testemunho da dificuldade dessas cons- Na sequência, há uma Apresentação elaborada pelas Organiza-
truções e reconstruções ao longo do desenvolvimento. Também doras da obra, Cecília M. A. Goulart, Cláudia Maria Mendes Gontijo
é um testemunho das ideias geniais das crianças que não podem, e Norma Sandra de A. Ferreira, que registram sua alegria em apre-
de maneira alguma, explicar-se por um mecanismo de internacio- sentar um livro comemorativo dos 30 anos de A Alfabetização como
nalização sem assimilação. É, adicionalmente, um testemunho da processo discursivo (Smolka, 1987), tese de Ana Luiza Bustamante
necessidade das crianças de encontrar relações significativas e coe- Smolka, que logo se transformou no livro A criança na fase inicial
rência interna entre as soluções que propõem e as ideias que sus- da escrita: a alfabetização como processo discursivo (1988). Tecem,
tentam. Por essa mesma necessidade de coerência, rechaçam, às na sequência, um panorama do contexto político, social e pedagó-
vezes, o ensinamento dos adultos. gico do Brasil dos anos de 1980, perguntando-se sobre os condi-
cionantes e determinantes principais que circunscrevem a tese da
Fonte: www.recomendalivros.com autora. Para elas, a organização deste livro representa a busca de
GOULART, CECÍLIA M. A.; GONTIJO, CLÁUDIA MARIA interlocuções com a proposta do estudo de Smolka, mergulhando
MENDES; FERREIRA, NORMA SANDRA DE A. (ORGS.). A em um passado vivido pelas autoras dos capítulos, professores e
ALFABETIZAÇÃO COMO PROCESSO DISCURSIVO: 30 ANOS estudiosos da alfabetização e que, ainda hoje é provocador e atual.
DE A CRIANÇA NA FASE INICIAL DA ESCRITA. SÃO PAULO, Informam que os convites para as autoras desta coletânea foram
CORTEZ, 2017. (CAP. 2- A ALFABETIZAÇÃO COMO feitos considerando vínculos acadêmicos que mantiveram, em al-
PROCESSO DISCURSIVO EM PERSPECTIVA, P. 47-64). gum momento de suas vidas, com a autora homenageada. Ressal-
tam alguns aspectos da tese de Smolka, com o intuito de buscar
uma chave para a compreensão da perspectiva discursiva da alfabe-
O livro A alfabetização como processo discursivo: 30 anos de A tização, elaborada em 1987, e apresentam, brevemente, cada capí-
criança na fase inicial da escrita, organizado por Cecília M. A. Gou- tulo que compõe o livro A alfabetização como processo discursivo:
lart, Cláudia Maria Mendes Gontijo e Norma Sandra de A. Ferreira, 30 anos de A criança na fase inicial da escrita. Concluem dizendo
publicado pela Cortez Editora em 2017, como o título já prenun- que, em que pesem a relevância da tese, os resultados contunden-
cia, é uma edição comemorativa de outro livro, também da Cortez, tes, a originalidade, o rigor teórico-metodológico e o compromisso
publicado em 1988, de autoria de Ana Luiza Bustamante Smolka: com a alfabetização, pode-se considerar que, trinta anos depois, “o
A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo caminho aberto pelo estudo não alcançou a abrangência suficiente
discursivo. O livro, a ser resenhado, conta com artigos de pesquisa- para reverter os ainda dolorosos índices de analfabetismo absoluto
dores de diferentes regiões geográficas e instituições, que assumi- e analfabetismo funcional” (p.21).
ram a tarefa de rememorar práticas, filtrar conceitos, refletir sobre As vozes reunidas nesta obra entram na corrente ininterrupta
abrangência de propostas e, portanto, homenagear e ressignificar da interação verbal (Bakhtin, 1981), cada qual trazendo suas pers-
um texto que, por décadas, tem sido uma referência clássica no pectivas teóricas, escolhas, impressões e subjetividade na realiza-
campo da alfabetização no Brasil. Este pode ser considerado um dos ção de uma mesma tarefa, qual seja a releitura do livro de Ana Luiza
méritos da obra, pois ela reúne múltiplos olhares/vozes para tema- Smolka, Alfabetização como processo discursivo: a criança na fase
tizar um mesmo texto e/ou fenômeno, considerando sua inserção e inicial da escrita, trinta anos após seu lançamento. A voz de Smolka,
seus desdobramentos no cenário brasileiro. ecoada em sua tese no ano de 1987, trazia muitas perguntas. Algu-
O livro, que possui 222 páginas, é composto por dez capítu- mas são pensadas (respondidas?) no contexto deste livro. Outras
los, elementos pré-textuais (Prefácio e Apresentação) e pós-tex- tantas continuam demandando respostas. Na trama interdiscursiva
tuais (pequeno currículo dos autores). O Prefácio, escrito por João aqui tecida, entre tensões, controvérsias, conflitos e concordâncias,
Wanderlei Geraldi, ressalta o percurso criativo de Ana Luiza Smolka, um aspecto parece ser consensual entre os/ as autores/as: o poten-
que, segundo ele, com genialidade, soube articular pensamentos cial da proposta de alfabetização como processo discursivo. Assim,
oriundos de diferentes áreas, saindo do espaço próprio e seguro
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as reflexões deste livro contribuem, grandemente, para o campo da O necessário é fazer da escola um âmbito onde a leitura e es-
alfabetização no Brasil, na perspectiva do aprender a ler e escrever crita sejam práticas vivas e vitais, onde ler e escrever sejam instru-
como processo de enunciação. mentos poderosos que permitam repensar o mundo e reorganizar
Fonte: http://www.revel.inf.br/ o próprio pensamento, onde interpretar e produzir texto sejam di-
reitos.
O necessário é, em suma, preservar o sentido do objeto de
LERNER, DÉLIA. LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O ensino para o sujeito da aprendizagem, o necessário preservar na
POSSÍVEL E O NECESSÁRIO. PORTO ALEGRE: ARTMED, escola o sentido que a leitura e a escrita têm como práticas sociais,
2002. para conseguir que os alunos se apropriem delas possibilitando que
se incorporem a comunidade de leitores e escritores, a fim de que
consigam ser cidadãos de uma cultura escrita.
LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECES- O real é que levar a prática o necessário é uma tarefa difícil para
SÁRIO. a escola. Difícil porque:
Ler e escrever são palavras familiares para todos os educado- 1. a escolarização das práticas de leitura e de escrita apresenta
res, palavras que marcam uma função da escolaridade obrigatória, problemas árduos;
entretanto, redefinir o sentido dessa função, e explicar o significado 2. os propósitos que se perseguem na escola no ato de ler e
que se pode hoje atribuir a esses termos tão arraigados na institui- escrever são diferentes dos que orientam a leitura e a escrita fora
ção escolar, é uma tarefa incontestável. Para a autora, ensinar a ler dela;
e escrever é um desafio que transcende a alfabetização em senti- 3. a inevitável distribuição dos conteúdos no tempo pode levar
do estrito. Participar na cultura escrita supõe apropriar-se de uma a parcelar o objeto de ensino;
tradição de leitura e escrita, supõe assumir uma herança cultural 4. a necessidade institucional de controlar a aprendizagem leva
que envolve o exercício de diversas operações entre os textos; entre a pôr em primeiro plano somente os aspectos mais acessíveis à ava-
eles e seus autores; entre os próprios autores; entre os autores, os liação;
textos e seu contexto. Para concretizar o propósito de formar todos 5. a maneira como se distribuem os direitos e obrigações entre
os alunos como praticantes da cultura escrita, é necessário recon- professor e alunos determinam quais são os conhecimentos e estra-
ceituar o objeto de tégias que as crianças têm ou não têm oportunidade de exercer e,
portanto, quais poderão ou não poderão aprender.
TENSÕES ENTRE OS PROPÓSITOS ESCOLARES E EXTRA-ESCO-
LARES DA LEITURA E DA ESCRITA. DIFICULDADES ENVOLVIDAS NA ESCOLARIZAÇÃO DAS PRÁTl-
Na escola estão em primeiro plano os propósitos didáticos, os CAS
propósitos comunicativos tais como ler e escrever para manter con- Por serem práticas, a leitura e a escrita apresentam traços que
tato com alguém distante, costumam ser relegados ou excluídos do dificultam sua escolarização, essas práticas são totalidades indisso-
âmbito escolar. Essa divergência corre o risco de levar a uma situa- ciáveis, que oferecem resistência, tanto análise como programação
ção paradoxal: se a escola ensina a ler e escrever com o único pro- sequencial, são tarefas aprendidas por participação nas atividades
pósito de que os alunos aprendam a fazê-lo, eles não aprenderam de outros leitores e escritores.
as práticas sociais de leitura e de escrita, se assume os propósitos Assim, não é fácil determinar com exatidão o que, como e
da prática social, estará abandonando ao mesmo tempo sua função quando os sujeitos as aprendem. Ao tentar instaurar as práticas de
ensinante (propósitos didáticos). leitura e escrita na escola, apresentam-se múltiplas perguntas: em
que momento as crianças se apropriam da “linguagem dos contos”?
RELAÇÃO SABER-DURAÇÃO PRESERVAÇÃO SENTIDO VERSUS Quando se pode dizer que um aluno aprendeu a recomendar
TEMPO livros ou a confrontar diversas interpretações? ..
Distribuir os conteúdos no tempo é uma exigência inerente ao As práticas de leitura e escrita são práticas sociais que histori-
ensino, entretanto tal organização do tempo do ensino entra em camente pertenceram mais a certos grupos sociais do que a outros.
contradição com o tempo das aprendizagens e com a natureza das Isto significa que a escola deverá enfrentar a tensão entre a tendên-
práticas de leitura e escrita. O paradoxo se apresenta assim: se ten- cia mudança e a tendência conservação (democratizar o conheci-
ta parcelar as práticas, é impossível preservar sua natureza e seu mento ou reproduzir a ordem social estabelecida).
sentido para o aprendiz; se não são parceladas, é difícil encontrar
uma distribuição dos conteúdos que permita ensiná-las. O ensino e TENSÃO ENTRE DUAS NECESSIDADES INSTlTUCIONAIS: ENSI-
construído tomando como referência fundamental as práticas so- NAR E CONTROLAR A APRENDIZAGEM
ciais de leitura e escrita, requer que a escola funcione como uma A responsabilidade social assumida pela escola gera forte ne-
micro comunidade de leitores e escritores. cessidade de controle: a instituição necessita conhecer os resulta-
O necessário é fazer da escola uma comunidade de leitores dos de seu funcionamento, necessita avaliar as aprendizagens. Essa
que recorrem aos textos buscando resposta para os problemas que necessidade costuma ter consequências indesejadas: ler em voz
necessitam resolver, buscando argumentos para defender uma po- alta para ser avaliado, a ortografia das palavras ocupa o lugar mais
sição com a qual estão comprometidos, ou para rebater outra que importante no processo de escrita.
consideram perigosa ou injusta ... Assim, apresenta-se desta forma um conflito de interesses en-
O necessário é fazer da escola uma comunidade de escritores tre o ensino e o controle: se põe o ensino em primeiro plano, é
que produzam seus próprios textos para mostrar suas ideias, para preciso renunciar a controlar tudo; se põe o controle das aprendi-
informar sobre fatos que os destinatários necessitam ou devem co- zagens em primeiro plano, é preciso renunciar a ensinar aspectos
nhecer, para protestar, para convencer de seu ponto de vista, para essenciais das práticas de leitura e escrita.
compartilhar um bom texto, para intrigar ou fazer rir.

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Uma última dificuldade está posta na “distribuição de direitos e cidade institucional, sem renunciar sua função ensinante). Não se
obrigações entre o professor e os alunos”, como por exemplo o di- desanimar - é o conselho do poeta -persistir na tentativa, renovar
reito de avaliar que em geral é privativo do docente e os alunos têm os esforços mais uma vez...
muito poucas oportunidades de auto controlar o que compreende- Apelar para todas as ferramentas necessárias para tornar rea-
ram ao ler e de auto corrigir seus escritos. lidade um propósito que é difícil, mas para o qual é imprescindível
Então o que fazer para preservar na escola o sentido que a lei- se encaminhar.
tura e a escrita têm fora dela?
O possível é fazer o esforço de conciliar as necessidades ine- QUAL É O DESAFIO?
rentes à instituição escolar com o propósito de formar leitores e es- O desafio é formar praticantes da leitura e da escrita e não
critores, o possível é gerar condições didáticas que permitam uma apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema de escrita, formar
versão escolar da leitura e da escrita mais próxima com a versão leitores que saberão escolher o material para buscar a solução de
social dessas práticas. problemas que devem enfrentar e não alunos capazes apenas de
Em primeiro lugar, que os professores possam formular como oralizar um texto selecionado por outro. É formar seres humanos
conteúdos do ensino não só os saberes linguísticos como também críticos, capazes de ler entrelinhas e de assumir uma posição pró-
as tarefas do leitor e do escritor: fazer antecipações sobre o sen- pria frente a apresentada pelos autores dos textos.
tido do texto que se está lendo e tentar verificá-las recorrendo à O desafio é formar pessoas desejosas de embrenhar-se em ou-
informação visual, discutir interpretações acerca de um mesmo tros mundos possíveis que a literatura oferece, dispostas a identifi-
material, comentar o que se leu e compará-lo com outras obras do car-se como semelhante ou a solidarizar-se com o diferente, capa-
mesmo ou de outros autores, recomendar livros... zes de apreciar a qualidade literária.
Em segundo lugar, é possível articular os propósitos didáticos, O desafio é conseguir que os alunos cheguem a ser produtores
com os propósitos comunicativos que tenham um sentido atual de língua escrita, conscientes da importância de emitir certo tipo de
para o aluno e tenham correspondência com os que habitualmente mensagem a determinado tipo de situação social.
orientam a leitura e a escrita fora da escola. Essa articulação pode É conseguir que as crianças manejem com eficácia os diferentes
concretizar-se através de uma modalidade organizativa bem conhe- escritos que circulam na sociedade. O desafio é conseguir que a
cida: os projetos de produção-interpretação. escrita deixe de ser na escola somente um objeto de avaliação, para
O trabalho por projetos permite que todos os integrantes da se constituir em objeto de ensino; é tornar possível que todos os
classe e não só o professor, oriente suas ações para o cumprimento alunos se apropriem da escrita e a ponham em prática, sabendo
de uma finalidade compartilhada, por exemplo, gravar uma fita de que é um processo constituído por operações de planejamento,
poemas e enviar a outras crianças. textualização e revisão.
Além disso, permite resolver dificuldades: favorece o desenvol- O desafio é promover a descoberta e a utilização da escrita
vimento de estratégias de autocontrole de leitura e de escrita por como instrumento de reflexão sobre o próprio pensamento, como
parte do aluno abrindo a possibilidade de uma nova relação entre recurso insubstituível para organizar e reorganizar o próprio conhe-
o tempo e o saber. A relação tempo-saber, é facilitada quando são cimento. O desafio é, em suma, combater a discriminação que a
articuladas várias ações (não necessariamente trabalhando somen- escola opera não só quando cria o fracasso escolar daqueles que
te com projetos): atividades que se desenvolvam com certa perio- não conseguem alfabetizar, como também quando impede aos ou-
dicidade - ler notícias, contos ou curiosidades cientificas em certo tros - os que aparentemente não fracassam chegar a ser leitores e
dia da semana, situações pontuais - como escrever uma mensagem produtores de textos competentes e autônomos.
por correio eletrônico para um aluno de outra escola. O entrecruza- O desafio é, combater a discriminação desde o interior da esco-
mento dessas diferentes temporalidades permite aos alunos reali- la; é unir esforços para alfabetizar todos os alunos para que tenham
zar simultaneamente diferentes aproximações com as práticas. oportunidades de se apropriar da leitura e da escrita como ferra-
E, finalmente, é possível criar um novo equilíbrio entre o ensi- menta de progresso cognoscitivo e de crescimento pessoal.
no e o controle, quando se reconhece que este é necessário, mas
tentando evitar que prevaleça sobre o outro. É POSSÍVEL A MUDANÇA NA ESCOLA?
Trata-se de abrir espaços para que os alunos, além de ler pro- A autora aponta que a instituição escolar sofre uma verdadeira
fundamente certos textos, possam ler muitos outros, trata-se dar tensão entre dois pólos contraditórios: a rotina repetitiva e a moda,
um lugar importante à leitura para si mesmo. É imprescindível, por ou seja, ao mesmo tempo em que a tradição opera como um fa-
último, compartilhar a função avaliadora. É preciso proporcionar tor suficiente para justificar a adequação de conteúdos e métodos,
aos alunos oportunidades de auto controlar o que estão compreen- costumam aparecer e se difundir no sistema escolar “inovações”
dendo ao ler e de criar estratégias para ler cada vez melhor. É pre- que nem sempre estão fundamentadas. Ao apresentar sua propos-
ciso delegar às crianças a responsabilidade de revisar seus escritos, ta didática na Venezuela, procurou rebater o titulo que recebera de
assim serão geradas novas aprendizagens e novas possibilidades de “novo enfoque” (in “A aprendizagem da língua escrita na escola”),
avaliação serão encontradas. essa denominação causava preocupação por enfatizar a novidade
Desta forma é possível alcançar o necessário: formar todos os pela novidade. Considera que a inovação tem sentido quando faz
alunos como praticantes da língua escrita. parte da história do conhecimento pedagógico e quando, ao mes-
mo tempo, retoma e supera o anteriormente produzido. É impor-
PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA tante então, distinguir as propostas de mudanças que são produto
Ler, escrever, evocar... Um texto evoca outros textos, um tí- da busca rigorosa de soluções para os graves problemas educativos,
tulo evoca outros títulos. “Para transformar o ensino da leitura e daqueles que pertencem ao domínio da moda.
da escrita”, é uma alusão a “Para fazer o retrato de um pássaro” A reprodução acrítica da tradição e a adoção acrítica da moda
(tentar que um pássaro aceite posar como modelo, que detenha são riscos constantes para a educação, são obstáculos fortes para a
seu vôo sem perder sua liberdade; tentar que a escola levante vôo, produção de verdadeiras mudanças. Se essas mudanças profundas
que produza transformações substanciais sem perder sua especifi- se referem ao ensino da leitura e da escrita a resistência do sistema
escolar aumenta: é questionando tanto a didática como também a
forma como a escola concebeu tradicionalmente sua missão alfabe-
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tizadora, missão que está nas raízes de sua função social. Como aju- leitura e escrita - teria que se restringir àquelas modificações que
dar a produzir e generalizar uma mudança na concepção do ensino realmente são inevitáveis. A versão escolar da leitura e da escrita
da leitura e da escrita, tornando possível que todos que têm acesso não deve afastar-se demasiado da versão social não-escolar.
à escola sejam leitores e escritores competentes e autônomos? O controle da transposição didática não pode ser uma respon-
sabilidade exclusiva do professor, é responsabilidade dos governos
A CAPACITAÇÃO: CONDIÇÃO NECESSÁRIA, MAS NÃO SUFI- tornar possível a participação da comunidade cientifica nessa tarefa
CIENTE PARA A MUDANÇA NA PROPOSTA DIDÁTICA. e é responsabilidade da comunidade científica se pronunciar sobre
Segundo a autora, a atualização sempre é necessária para todo a pertinência dos “recortes” que se fazem ao selecionar conteúdos;
profissional e ainda maior para os professores latino-americanos a equipe diretiva e docente de cada instituição deve avaliar as pro-
de hoje, principalmente pela mudança radical de perspectiva que postas em função de sua adequação à natureza e ao funcionamento
ocorreu nos últimos vinte anos em relação à alfabetização que não cultural (extra -escolar) do saber que se tenta ensinar.
teve eco nas instituições formadoras de professores, além disso, a
função social do docente está sofrendo um processo de desvalori- ACERCA “CONTRATO DIDÁTICO”
zação. Ao analisar as interações entre professores e alunos acerca dos
Entretanto, a dificuldade para se conseguir que os professores conteúdos, pode-se postular que tudo acontece como se essas in-
tornem suas as contribuições científicas sobre a leitura e a escrita e terações respondessem a um contrato implícito, como se as atribui-
sobre o sujeito que aprende não resulta apenas de uma resistência ções que o professor e os alunos têm com relação ao saber estives-
individual, já que essa dificuldade têm suas raízes no funcionamen- sem distribuídas de uma maneira determinada, como se cada um
to institucional. Não bastará então capacitar os docentes, será im- dos participantes na relação didática tivesse certas responsabilida-
prescindível também estudar quais as condições institucionais para des e não outras quanto aos conteúdos trabalhados. Esse “contra-
a mudança, quais aspectos da proposta didática apresentada têm to” implícito preexiste aos contratantes; é muito eficaz, apesar de
mais possibilidades de ser acolhidos pela escola e quais requerem não ter sido explicitado, e somente se põe em evidência quando é
a construção de esquemas prévios para serem assimilados. Signi- transgredido.
fica dizer que, além de continuar com os esforços de capacitação A distribuição de direitos e responsabilidades entre professor
será necessário estudar os mecanismos que ocorrem na escola e e alunos adquire características específicas em relação a cada con-
impedem que todas as crianças se apropriem dessas práticas sociais teúdo. Que efeitos produzirão essa distribuição de direitos e obri-
que são a leitura e a escrita (sem correr o risco de cair no analfabe- gações na formação das crianças como leitores? Se a validade da
tismo funcional). Ao conhecê-los, será possível vislumbrar formas interpretação deve ser sempre estabelecida pela autoridade, como
de controlar sua ação e definir algumas ações relativas à mudança farão depois as crianças para se tornarem leitores independentes?
curricular e institucional. Essas e outras questões levantadas pela autora querem evidenciar
a flagrante contradição que existe entre a maneira como se distri-
ACERCA DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTlCA: A LEITURA E A ESCRITA buem na instituição escolar os direitos e as obrigações que profes-
COMO OBJETOS DE ENSINO sor e alunos têm em relação à língua escrita e os propósitos explíci-
O primeiro aspecto a ser analisado é o abismo que separa a tos que essa mesma instituição se coloca em relação à formação de
prática escolar da prática social da leitura e da escrita: a língua es- leitores e produtores de texto.
crita, criada para representar e comunicar significados aparece em Ressalta ainda que é responsabilidade dos que trabalham no
geral na escola fragmentada; a leitura em voz alta assume maior im- campo da pesquisa didática como ela, proporcionar elementos que
portância do que a leitura silenciosa, já em outras situações ocorre permitam conhecer melhor as “regras” implícitas nas interações
o contrário. Escrever é uma tarefa difícil para os adultos e espera-se entre professores e alunos acerca da língua escrita e analisar os
que as crianças escrevam de forma rápida e fluente, ler é uma ati- efeitos que produziram tais modificações. É responsabilidade dos
vidade orientada por propósitos que costumam ficar relegados do organismos que regem a educação e dos especialistas em projeto
âmbito escolar. Por que e para que ensinar algo tão diferente do curricular e em análise institucional, levar em conta os dados pro-
que as crianças terão que usar depois, fora da escola? porcionados por essas pesquisas.
Segundo, Chevallard (1985) o saber adquire sentidos diferen- É responsabilidade dos formadores de professores criar
tes em diferentes instituições, funciona de um modo na instituição situações que permitam a estudantes e professores compreenderem
que o produz e de outro na instituição encarregada de comunicá-la. a contradição apresentada e assumirem uma posição superadora.
Todo saber e toda competência estão modelados pelo aqui e agora É responsabilidade de todas as instituições e pessoas que tenham
da instituição em que se produzem. acesso aos meios de comunicação informar a comunidade e pais
Assim, ao se transformarem em objeto de ensino, o saber ou sobre os direitos que os alunos possuem na escola para poderem
a prática a ensinar se modificam: é necessário selecionar aspectos, formar-se em praticantes autônomos da língua escrita.
há que se distribuir as ações no tempo, há que se determinar uma
forma de organizar os conteúdos. A necessidade de comunicar o FERRAMENTAS PARA TRANSFORMAR O ENSINO
conhecimento passa a modificá-lo. Em primeiro lugar. no que se refere ao currículo, além do que
A transposição didática é inevitável, mas deve ser rigorosamen- já foi citado sobre a transposição didática, devem ser levadas em
te controlada. É inevitável porque o propósito da escola é comuni- conta as seguintes questões:
car o saber, porque a intenção de ensino faz com que o objeto não 1. A necessidade de estabelecer objetivos por ciclos, em vez
possa aparecer exatamente da mesma forma, nem ser utilizado da de estabelecê-los por grau, não só porque isto diminui o risco de
mesma maneira que é utilizado quando essa intenção não existe, fracasso explícito na aprendizagem da leitura e da escrita, como
porque as situações que se apresentam devem levar em conta os também porque permite atenuar a questão da fragmentação do
conhecimentos prévios das crianças que estão se apropriando do conhecimento.
objeto em questão. Deve ser rigorosamente controlada, porque 2. A importância de atribuir aos objetivos gerais prioridade ab-
a transformação do objeto - da língua escrita e das atividades de soluta sobre os objetivos específicos. O cumprimento do objetivo
específico dificulta o desenvolvimento do objetivo geral.

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3. A necessidade de evitar o estabelecimento de uma corres- eixo do trabalho. Fazer pesquisa didática no terreno da capacitação
pondência termo a termo entre objetivos e atividades, correspon- permitirá também encontrar recursos para transformar o ensino da
dência que leva certamente ao parcelamento da língua escrita e à leitura e da escrita.
fragmentação indevida de atos tão complexos como a leitura e a
escrita. APONTAMENTOS A PARTIR DA PERSPECTIVA CURRICULAR
4. A necessidade de superar a tradicional separação entre “al-
fabetização em sentido estrito” e “alfabetização em sentido amplo”, ACERCA DOS PROBLEMAS CURRICULARES
ou seja, entre “apropriação do sistema de escrita” e “desenvolvi- Elaborar documentos curriculares é um forte desafio, porque,
mento da leitura e da escrita”. além das dificuldades envolvidas em todo trabalho didático, é ne-
Uma última consideração sobre o currículo: é necessário sus- cessário assumir a responsabilidade da prescrição. Os documentos
tentar as propostas nas contribuições das ciências da linguagem e curriculares adquirem caráter prescritivo, mesmo quando seus au-
nas da psicologia, principalmente nos estudos realizados sobre a tores não o desejam. Elaborar documentos curriculares supõe ain-
construção de determinados conteúdos escolares, por exemplo, a da tomar decisões que afetarão muitas escolas, diferentes uma das
sociolinguística, quando obriga a revisar criticamente a noção de outras, cujas especificidades nem sempre é possível conhecer de
“correção” da língua, passando a considerar os dialetos e socioletos. perto. A responsabilidade envolvida na elaboração de documentos
Assim, reformular a concepção do objeto de ensino em função curriculares faz sentir fortemente a necessidade da pesquisa didá-
das contribuições linguísticas e a concepção do sujeito que apren- tica.
de a ler e escrever (contribuições psicolinguísticas), parece ser uma 1. Em primeiro lugar, selecionar é imprescindível, porque é im-
condição importante para contribuir, desde o projeto curricular, possível ensinar tudo. Mas, ao selecionar determinados conteúdos
para a mudança na proposta didática vigente na escola. Também acabam por ser separados do contexto da ciência ou da realidade
é evidente, no que se refere à organização institucional, a necessi- em que estão imersos e são transformados e reelaborados.
dade de promover o trabalho em equipe, de abrir em cada escola 2. Por outro lado, toda seleção supõe ao mesmo tempo uma
espaços de discussão que permitam confrontar experiências e su- hierarquização, uma tomada de decisão acerca do que é que vai
perar o isolamento no qual os professores costumam trabalhar. considerar prioritário, do que é que se enfatizará no âmbito desse
A elaboração de projetos institucionais podem considerar a objeto de ensino.
participação dos pais e fazer da escola uma comunidade de leitores.
É necessário definir modificações que derrubam o mito da homo- Agora, em que se basear para tomar essas decisões?
geneidade que impera na instituição escolar e o substituam pela
aceitação da diversidade cultural e individual dos alunos. Como se apresenta essa questão no caso da leitura e da es-
Outro ponto a considerar sobre o currículo e a instituição, crita?
refere-se à consciência que é necessário se criar na opinião pública. As decisões envolvidas na seleção e hierarquização dos con-
Parece essencial, criar-se a consciência de que a educação também teúdos são cruciais, porque decidir quais aspectos serão mostrados
é objeto da ciência, de que dia a dia se produzem conhecimentos, implica em decidir em quais serão ocultados. Tradicionalmente, o
que permitiriam melhorar substancialmente a situação educativa. que se concebe como objeto de ensino é a língua, em particular
É responsabilidade dos governos e das instituições e pessoas que em seus aspectos descritivos e normativos. As práticas de leitura
têm acesso aos meios de comunicação, contribuir para formar essa e escrita como tais estiveram praticamente ausentes dos currícu-
consciência na opinião pública. los, e os efeitos dessa ausência são evidentes: a reprodução das
Outro aspecto a considerar é quanto ao desenvolvimento da desigualdades sociais relacionadas com o domínio da leitura e da
investigação didática na área da leitura e da escrita. E evidente a escrita. Alguns estudos sociológicos e históricos é que chegam a ser
necessidade de se continuar produzindo conhecimentos que permi- “praticantes” na leitura e da escrita no sentido pleno da palavra.
tam resolver os múltiplos problemas que o ensino da língua escrita É crucial levar em conta essas conclusões para desenvolver
apresenta, e fazê-lo através de estudos cada vez mais rigorosos, de pesquisas que levem a definir quais são as condições didáticas que
tal modo que a didática se constitua como um corpo de conheci- podem favorecer a sobrevivência da leitura e da escrita na escola,
mentos válido. com o propósito de incorporar todos os alunos a essas práticas
Mas, se quer criar uma mudança profunda, é também impres- sociais.
cindível recolocar as bases da formação dos professores e promo-
ver a valorização de sua função. São centrais duas questões: assegu- CARACTERIZAR O OBJETO DE REFERÊNCIA: AS PRÁTlCAS DE
rar sua formação como leitores e produtores de textos e considerar LEITURA E ESCRITA
como eixo da formação o conhecimento didático relacionado à Há muita pesquisa por fazer para se ter um conhecimento con-
leitura e à escrita. Dentro desta questão, a autora cita como expe- fiável e rigoroso do funcionamento da leitura e da escrita enquanto
riência produtiva a situação de oficina que possibilita abarcar uma práticas sociais. Para a autora, as práticas sociais atuais serão objeto
quantidade considerável de professores, com uma instância de de novos estudos a partir da perspectiva sociológica e histórica.
acompanhamento da tarefa na sala de aula. As análises históricas revelaram que as práticas de leitura pare-
Quanto às condições que os capacitadores devem reunir, res- cem ter sido, em primeiro lugar, intensivas, para depois se transfor-
salta a importância de aperfeiçoamento de todos os envolvidos no marem, pouco a pouco, em práticas extensivas, isto é, originalmen-
projeto e cita como exemplo que no projeto da Província de Buenos te se liam poucos textos de maneira intensa, profunda e reiterada,
Aires, todo o primeiro ano foi dedicado à formação de coordena- e depois houve uma mudança para outra maneira de ler, que abarca
dores. uma enorme quantidade de textos e opera de maneira mais rápida
Finalmente, para assegurar a compreensão por parte dos pro- e superficial. Ao analisar as práticas sociais atuais, a autora afirma
fessores da concepção didática que se pretende comunicar, é es- que predominam as práticas extensivas de leitura, dado o aumento
sencial que todo o processo de capacitação esteja orientado por da quantidade de materiais de leitura disponíveis, mas as práticas
essa mesma concepção e que os conteúdos didáticos constituam o intensivas estão longe de desaparecer.

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Com relação à dimensão público privado, embora na atualida- OS COMPORTAMTENTOS DO LEITOR NA ESCOLA: TENSÕES E
de a leitura tenda a ser mais privada, persistem situações de leitura PARADOXOS
pública, por exemplo, os discursos lidos por políticos em voz alta. Ao tentar que as atividades do leitor ingressem na escola, sur-
Há também leituras que são compartilhadas na intimidade, leitura gem alguns obstáculos sobre os quais é necessário refletir, para en-
noturna de contos... E há um denominador comum que atravessa contrar caminhos que permitam superá-los. A análise estará centra-
as práticas de leitura e de escrita, qual seja, as interações com as da em duas atividades que todo leitor vive na prática:
outras pessoas. 1. escolher o que, como, onde e quando lê;
2. atrever-se a ler textos difíceis.
EXPLICITAR CONTEÚDOS ENVOLVIDOS NAS PRÁTICAS Nos dois casos, a transposição didática apresenta sérios pro-
Escolarizar práticas sociais é um desafio, porque as práticas são blemas.
totalidades indissociáveis. “Aprende-se a ler, lendo” e “aprende-se Em relação à possibilidade de escolha, a autora destaca que
a escrever, escrevendo”, são lemas educativos que expressam o enquanto, atividade fora da escola, a leitura se mantém, em geral,
propósito de instalar as práticas de leitura e escrita como objeto alheia ao obrigatório, mas dentro dela há a obrigatoriedade. Na es-
de ensino. Entretanto, sua concretização na sala de aula é pouco cola a leitura e a escrita são necessariamente obrigatória e é por
frequente, e entre os motivos para isso está a falta do professor isso que a escola enfrenta um paradoxo em relação a essa questão:
reconhecer quais são os conteúdos que se estão ensinando e apren- como assume a responsabilidade social de ensinar a ler e escrever
dendo ao ler ou ao escrever. tem que apresentar a leitura e a escrita como obrigatórias e atri-
Ao instituir como conteúdos escolares as atividades exercidas buir-lhes, então, como propósito único ou predominante o de ao
por leitores e escritores na vida cotidiana, consideram-se duas di- render a ler e escrever. Por outro lado, a responsabilidade que a
mensões: por um lado, a dimensão social - interpessoal, pública, e escola tem em relação ao ensino a obriga também a exercer um
por outro lado, a dimensão psicológica - pessoal, privada. É impor- forte controle sobre a aprendizagem, exigência que leva a privile-
tante esclarecer que: giar algumas questões e deixar outras de lado. A escolha se opõe
1. Os comportamentos do leitor e do escritor são conteúdos ao controle.
e não tarefas, porque são aspectos que se espera que os alunos Como se pode começar a resolver essas tensões? A inserção
aprendam e possam colocá-los em prática; da leitura e da escrita em projetos proporciona um princípio de so-
2. O conceito de “comportamento do leitor e do escritor” não lução, porque, na medida em que os alunos se envolvam nesses, o
coincide com o de “conteúdos procedimentais”. Ao exercer compor- obrigatório resultará em escolha. Além disso, são necessárias ativi-
tamentos de leitor e de escritor, os alunos têm também a oportu- dades permanentes ou periódicas onde cada aluno tenha a possi-
nidade de entrar no mundo dos textos, de se apropriar dos traços bilidade de ler uma história favorita, que queira compartilhar com
distintivos de certos gêneros ..., é assim que ao atuar como leitores os demais.
e escritores têm a oportunidade de se apropriar de conteúdos lin- Ter consciência dessa tensão torna possível tomar decisão de
guísticos que adquirem sentido na prática tentar evitar a redução do ensinado em função das necessidades
de controle.
PRESERVAR O SENTIDO DOS CONTEÚDOS Na atividade, atrever-se a ler livros difíceis, alerta que isso só é
A autora afirma que aclarar os conteúdos implícitos nas práti- possível quando estes são incorporados ao trabalho, “não se apren-
cas é indispensável, mas supõe também correr riscos em relação à de a ler textos difíceis lendo textos fáceis; os textos fáceis só habili-
preservação do sentido. tam para se continuar lendo textos fáceis”.
Um primeiro risco é o de cair na tentação de transmitir verbal- Finalizando o capítulo, Lerner, retoma uma das ideias essen-
mente às crianças esses conteúdos, é pertinente ressaltar a impor- ciais enunciadas no começo: a necessidade de preservar o sentido
tância da participação nas práticas, colocando-se efetivamente em da leitura e da escrita. Ela cita come exemplo uma experiência pes-
ação. Um conteúdo está em ação cada vez que é posto em jogo pelo soal, ao ler um artigo, Horacio Verbitsky intitulado “Lilíada”.
professor e pelos alunos ao lerem ou ao escreverem, sendo objeto
de ensino e de aprendizagem, em outro momento pode tornar-se É POSSÍVEL LER NA ESCOLA?
objeto de reflexão, quando os problemas apresentados pela escrita É possível ler na escola? Esta pergunta pode parece estranha
ou leitura o requeiram. porque põe em dúvida a missão fundamental da escola que é pre-
O segundo risco que se corre ao explicitar os comportamentos cisamente, ensinar a ler e escrever No entanto, a descaracterização
do leitor e do escritor é o de produzir um novo parcelamento do que a leitura sofre na escola é irrefutável. Citando García Márquez,
objeto de ensino. a autora expõe algumas de suas ideias presentes no capítulo: o
O terceiro risco, ao se preservar o sentido das práticas, é o de tratamento da leitura que costuma ser feita na escola é perigoso,
acreditar que é suficiente abrir as portas da escola para que a leitu- porque corre o risco de “assustar as crianças”, distanciá-las da lei-
ra e a escrita entrem nela e funcionem tal como fazem em outros tura em vez de aproximá-las, não se trata de pôr os professores no
âmbitos sociais. A escola não pode limitar-se a reproduzir as prá- banco dos réus, mas s instituição escolar pode transformar-se num
ticas tal como são fora dela. Ao mesmo tempo deverá velar pela âmbito propício para a leitura , essas condições devem ser criadas
preservação do sentido daquelas práticas que são valiosas para o desde antes que as crianças saibam ler no sentido convencional do
desenvolvimento dos alunos termo, e uma delas é que (1 professor assuma o papel de intérprete
A tarefa educativa supõe o esforço para formar sujeitos capazes e os alunos possam ler através dele. O essencial é fazer da escola
de analisar criticamente a realidade, além de promover um distan- um âmbito propício para a leitura é abrir para todos as portas dos
ciamento que permita conceitua-las e analisá-las criticamente. mundos possíveis, é inaugurar um caminho que todos possam per-
correr para chegar a ser cidadãos da cultura escrita.

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A REALIDADE NÃO SE RESPONSABILIZA PELA PERDA DE SUAS Se, ao criar o projeto leva-se em conta tanto os propósitos
(NOSSAS) ILUSÕES (OU - NÃO. NÃO É POSSIVEL LER NA ESCOLA) que se referem ao ensino como os que se referem à aprendizagem
Por que a leitura, tão útil na vida real para cumprir diversos pro- como os inspirados na prática social de leitura, essa articulação não
pósitos, aparece na escola como uma atividade gratuita, cujo único apresenta maiores problemas. A seguir alguns exemplos:
objetivo é aprender a ler? Por que se ensina uma única maneira de 1. Produção de uma fita de poemas (projeto realizado em uma
ler - linearmente, palavra por palavra - se os leitores usam modali- 2ª série do ensino fundamental, no começo do ano letivo)
dades diversas em função do objetivo que se propuseram? Por que A) Propósitos: propósito comunicativo, compartilhar com ou-
se enfatiza tanto a leitura oral e tão pouco a leitura para si mesmo? tras pessoas textos que o leitor considera interessante;
A leitura aparece desgarrada dos propósitos que lhe dão sentido no B) Destinatário: grupos de educação infantil da escola e da bi-
uso social, porque a construção do sentido não é considerada como blioteca para cegos;
uma condição necessária para a aprendizagem. C) Sequência de atividades: - proposta do projeto às crianças e
Uma teoria da aprendizagem que não se ocupa do sentido que discussão do plano de trabalho; - seleção dos poemas; - organiza-
a leitura possa ter para as crianças e concebe a aquisição do conhe- ção da tarefa; - audição de fitas gravadas; - gravação (ensaio); -au-
cimento como um processo acumulativo e graduado, um parcela- dição; - gravação (segundo ensaio); - gravação final; - escuta da fita
mento do conteúdo em elementos supostamente simples, uma dis- editada; - redigir a apresentação da fita aos destinatários.
tribuição do tempo escolar que atribui um período determinado à 2. Instalação de uma consultoria que proporcione diferentes ti-
aprendizagem de cada parcela e um conjunto de regras que conce- pos de informação (projeto de uma 4ª série do ensino fundamental
dem ao professor, certos direitos e deveres que somente ele pode - também são seguidos os passos acima mencionados).
exercer, enquanto o aluno exerce outros complementares, são fa- Situações de leitura: os textos escolhidos cumprem pelo menos
tores que se articulam para tornar impossível a leitura na escola. duas condições - nenhum deles proporciona diretamente a respos-
Quais são então as ilusões perdidas? Perde-se a ilusão da na- ta à pergunta feita; são relativamente difíceis para os alunos, textos
turalidade. Introduzir na escola a versão social da leitura parecia extraídos de enciclopédias. A organização da tarefa leva em conta
ser uma tarefa simples, entretanto a tarefa é complexa! Para che- as condições anteriores, de tal modo que as crianças possam cola-
gar a ser leitor, o aluno teria que exercer alguns direitos e deveres borar entre si e consultar o professor sempre que necessário. As
que são privativos do professor, não é natural para a escola que crianças tomam nota durante a leitura dos aspectos relevantes para
os direitos e deveres sejam. compartilhados pelo docente e pelos elaborar a resposta à pergunta apresentada.
alunos, porque uma distinção nítida dos papéis é necessária para Situações de escrita: o planejamento do texto que será pro-
concretizar o ensino e a aprendizagem, para cumprir a função que a duzido se realiza a partir das discussões das notas tomadas pelas
sociedade atribuiu à escola. crianças no curso das situações de leitura, discussão que obriga a
reler os textos e chegar a um acordo dos aspectos que devem ser
A ESCOLA COMO MICROSSOCIEDADE DE LEITORES E ESCRITO- incluídos. O processo de textualização se realiza através de um di-
RES (OU - SIM. É POSSÍVEL LER NA ESCOLA) tado das crianças para o professor, já que se trata de produzir um
Articular a teoria construtivista da aprendizagem com as regras único texto. São realizadas várias revisões, com várias releituras até
e exigências institucionais está longe de ser fácil: é preciso encon- a versão final.
trar outra maneira de administrar o tempo, é preciso criar novos Quando a versão final do texto está pronta, considera-se o “cur-
modos de controlar aprendizagem, é preciso transformar a distri- so de capacitação” concluído, todas as crianças obtêm seus “diplo-
buição dos papéis do professor e do aluno em relação à leitura, é mas” e se passa à segunda etapa, a abertura da consultoria que
preciso os objetivos institucionais com os objetivos pessoais dos começa com uma comunicação aos pais, informando os objetivos
alunos. A versão apresentada no capítulo é baseada no trabalho do projeto e as atividades já realizadas e são convidados a enviar
de diversos pesquisadores, cujas produções contribuíram para ela- perguntas. Quando as perguntas começam a chegar, realizam-se as
borá-la. seguintes atividades:
- Leitura das perguntas, classificação por tema e seleção;
O SENTIDO DA LEITURA NA ESCOLA: PROPÓSITOS DIDÁTICOS - Distribuição das perguntas por duplas, levando-se em conta
DO ALUNO as preferências e possibilidades das crianças;
Na escola a leitura é, antes de mais nada, um objeto de ensi- - Elaboração da resposta: cada dupla se encarrega de elaborar
no. Para que também se transforme num objeto de aprendizagem é a resposta, com a orientação do professor e quando possível da bi-
preciso que tenha sentido do ponto de vista do aluno, deve cumprir bliotecária;
uma função para a realização de um propósito que ele conhece e - Consulta a leitores: antes de fazer a revisão final, cada dupla
valoriza. Em consequência, cada situação de leitura responderá a submete seu texto “a consideração de outra dupla - Revisão final;
um duplo propósito: um propósito didático, ensinar certos conteú- - Envio da resposta aos destinatários;
dos constitutivos da prática social da leitura, com o objetivo de que - Distribuição de uma nova pergunta para cada dupla.
o aluno possa reutilizá-lo no futuro, por outro lado, um propósito
comunicativo relevante desde a perspectiva atual do aluno. São si- GESTÃO DO TEMPO, APRESENTAÇÃO DOS CONTEÚDOS E OR-
tuações que Brousseau (1986) chamou de “a - didáticas”, porque GANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
propicia o encontro dos alunos com um problema que devem re- O tempo é um fator de peso na instituição escolar: sempre é
solver por si mesmos, porque funciona de tal modo que o profes- escasso em relação à quantidade de conteúdos fixados no progra-
sor intervenha sem explicitar o que sabe e porque tornam possível ma, nunca é suficiente! Para concretizar uma mudança qualitativa
criar no aluno um projeto próprio,: Permite mobilizar o desejo de na utilização do tempo didático, parece necessário: manejar com
aprender. Os projetos vinculados à leitura parecem cumprir esta flexibilidade a duração das situações didáticas e tornar possível a
finalidade. retomada dos próprios conteúdos em diferentes oportunidades e a
Como se articulam os propósitos didáticos e os propósitos co- partir de perspectivas diversas.
municativos aos quais aponta o projeto proposto? Criar essas condições requer pôr em ação diferentes modali-
dades e atividades organizativas: - projetos: permite uma organi-
zação flexível do tempo, de alguns dias a vários meses; - atividades
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habituais: acontecem de forma sistemática uma vez por semana colinguística referentes ao ato de escrita (trabalhos de Smith, Good-
ou a cada quinze dias, durante vários meses ou ao longo do ano e man, Hayves e Flowers, etc.), os capacitadores, entre os quais a au-
oferecem a oportunidade de interagir com um determinado gênero tora se inclui, não conseguiram fugir à tentação de por em primeiro
literário em cada ano da escolaridade, são apropriadas para comu- plano os conteúdos psicológicos e linguísticos como conteúdos im-
nicar certos aspectos ao leitor; - sequências de atividades: estão prescindíveis para o ensino da leitura e da escrita, a partir dos quais
direcionadas para ler com as crianças diferentes exemplares de um se poderia pensar a ação didática. Não conseguiram ouvir os apelos
mesmo gênero ou subgênero, diferentes obras de um mesmo autor que seus alunos faziam quanto a questão de colocar as atividades
ou diferentes textos de um mesmo tema; em prática. Ao refletir sobre o que pensava quando planejava ou
- situações independentes ocasionais ou de sistematização. avaliava suas aulas, Delia Lemer, afirma ir se conscientizando de que
as preocupações dos professores coincidiam com as suas, ou seja,
ACERCA DO CONTROLE: AVALIAR A LEITURA E ENSINAR A LER ambos preocupados com as condições que as propostas tinham
Para que a pressão da avaliação, função inerente à escola, se que cumprir para serem produtivas, pela organização da aula, pelas
torne um obstáculo para a formação de leitores, é imprescindível, intervenções do docente no curso de cada atividade, pela organiza-
por um lado, pôr em primeiro plano os propósitos referentes à ção da aula e em relação com distintos sujeitos ou grupos. Foi possí-
aprendizagem, de tal modo que estes não se subordinem à neces- vel, compreender por que os exemplos de atividades apresentados
sidade de controle e, por outro lado, criar modalidades de trabalho para os professores lhes pareciam sempre escassos.
que incluam momentos durante os quais o controle seja responsa- Tudo isso, foi imprescindível para que a autora e os capacita-
bilidade dos alunos. dores realizassem mudanças no processo de capacitação, foi assim
que o saber didático passou a ocupar o primeiro plano.
O PROFESSOR: UM ATOR NO PAPEL DO LEITOR
A leitura do professor é de particular importância na primeira ACERCA DE TRANSFORMAÇÕES E CONSERVAÇÕES
etapa da escolaridade, quando as crianças ainda não leem eficaz- Assim como a transformação do processo de capacitação foi de
mente por si mesmas. Ao ler para as crianças o professor “ensina” suma importância, também o foi a conservação daquelas situações
como se faz para ler. Entretanto, operar como leitor é uma condição que haviam sido avaliadas como produtivas e que já se orientavam
necessária, mas não suficiente, para ensinar a ler. São necessárias para a construção de conhecimento didático por parte dos profes-
intervenções direcionadas para que as crianças possam ler por si sores.
mesmas, para que progridam no uso de estratégias efetivas, em
suas possibilidades de compreender melhor aquilo que leem. AS SITUAÇÕES DE “DUPLA CONCEITUAÇÃO”
Enquanto estão lendo, o professor as incentiva a continuar a Entre as situações conservadas, possuíam particular interesse
leitura sem se deter diante da cada dificuldade, uma leitura global, aquelas que cumpriram um duplo objetivo: conseguir, por um lado,
e em seguida uma segunda leitura e irá descobrindo que conhe- que os professores construíssem conhecimentos sobre um objeto
cer todo o texto permite compreender melhor cada parte. A aju- de ensino e, por outro, que elaborassem conhecimentos referentes
da do professor consiste em propor estratégias das quais se irão às condições didáticas necessárias para que seus alunos pudessem
apropriando progressivamente e que lhes serão úteis para abordar se apropriar desse objeto. Essas situações são apresentadas pela
novos textos que apresentem certo grau de dificuldade. Além disso, autora contemplando duas fases sucessivas:
o professor incitará entre os alunos a cooperação, com o objetivo 1 - Na primeira fase, apresenta-se uma proposta como a se-
de que a confrontação de pontos de vista leve a uma melhor com- guinte: produzir em grupo uma mensagem dirigida a um destina-
preensão do texto. tário específico, por exemplo, elaborar um informe para o diretor
Também poderá gerar uma atividade que Ihes exija trabalha- da escola sobre as atividades realizadas no curso. Solicita-se, além
rem sozinhas durante um determinado período com o objetivo de disso, que enquanto cada grupo escreve, um de seus membros atue
que se esforcem por compreender e de que construam ferramentas como observador e registre as discussões que ocorram.
de autocontrole. Terminada a escrita, cada grupo se dedica a discutir o registro e
finalmente, faz-se uma socialização síntese baseada nas conclusões
INSTITUIÇÃO E O SENTIDO DA LEITURA dos diferentes grupos.
A problemática apresentada pela formação do leitor, longe de O que os participantes aprendem nesta fase?
ser específica de determinada série, é comum a toda a instituição A) Ao discutir os problemas e ao analisar os registros, eles se
escolar. O desafio de dar sentido à leitura assume uma dimensão conscientizam de que a escrita envolve processos de planejamento,
institucional, se essa dimensão é assumida, se a instituição como textualização e revisão, de que ao escrever se enfrenta múltiplos
tal se encarrega da análise do problema, se seus integrantes em problemas;
conjunto elaboram e levam à prática projetos direcionados a en- B) A socialização e síntese das discussões ocorridas nos diferen-
frentá-los, começa a se tornar possível encurtar a distância entre os tes grupos permite separar aspectos essenciais do ato de escrita e
propósitos e a realidade. leva a defini-la como uma atividade inserida num contexto comu-
nicativo;
O PAPEL DO CONHECIMENTO DIDÁTICO NA FORMAÇÃO DO C) As intervenções do capacitador permitem estabelecer novas
PROFESSOR relações entre as contribuições dos diferentes grupos e ter acesso a
informações que complementam os conhecimentos elaborados no
O CONHECIMENTO DIDÁTICO COMO EIXO DO PROCESSO DE curso da atividade.
CAPACITAÇÃO Na segunda fase, uma vez conceitualizado o conteúdo, formu-
O conhecimento didático assume lugar central na capacitação lam-se interrogações que levam a refletir as características da situa-
dos professores, é uma afirmação que parece óbvia, mas necessária ção didática proposta: por que escolheu essa atividade e não outra?
porque este não foi suficientemente contemplado nos processos de ( escrever um carta real para um destinatário específico), a situação
capacitação. Deslumbrados, antes de mais nada, pelos impressio- constituiu um desafio para os participantes? Para todos na mesma
nantes resultados das pesquisas psicogenéticas, a partir de Ferreiro medida? ..
e Teberosky (1979), ávidos por incorporar as contribuições da psi-
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O que se aprende nesta segunda fase? ram fecundos e a segunda com a necessária vinculação entre pes-
A) A reflexão sobre as características da situação de aprendiza- quisa e didática. A capacitação poderá ser muito mais efetiva quan-
gem em que os professores participaram como alunos; to melhor se conhecer os fatos didáticos, quanto mais preciso for o
B) A confrontação do ocorrido em distintos grupos permitin- saber acerca do ensino e da aprendizagem escolar, quanto mais se
do refletir sobre os diversos efeitos que uma mesma situação pode avançar na análise dos processos de comunicação do conhecimento
produzir; didático dos professores. Avançar na pesquisa didática sobre o tra-
C) As apreciações do capacitador durante a socialização contri- balho em classe e sobre a capacitação permitirá ajudar os professo-
buem para aprofundar a fundamentação da proposta e das inter- res em sua difícil tarefa
venções realizadas por ele.
Centrar-se no conhecimento didático, como eixo da capacita- Fonte: www.unisalesiano.edu.br/salaEstudo/materiais/
ção, supõe necessariamente incluir a aula no processo de capaci- p200868d7797/material1.pdf
tação, pôr em primeiro plano o que realmente ocorre na classe,
estudar o funcionamento do ensino e da aprendizagem escolar da
leitura e da escrita. Para cumprir esse requisito é essencial o regis- WEISZ, TELMA. RELAÇÕES ENTRE O ENSINO E A APRENDI-
tro da classe. Decidir quais são os registros que serão analisados ZAGEM. SÃO PAULO: ÁTICA, 1999.
não é tarefa fácil. Quais são as situações de classe que é mais pro-
dutivo analisar? É importante considerar:
1. As situações de classe que é mais produtivo analisar são WEISZ, Telma. Relações entre o ensino e a aprendizagem. São
as que podem ser caracterizadas como “boas”, porque permitem Paulo: Ática, 1999.
analisar o modelo didático com que se trabalha, porque a reflexão
sobre elas torna possível discutir a respeito das condições didáticas A autora enfatiza um olhar novo para o novo. Aquele que pro-
requeridas para o ensino da leitura e da escrita; fessor observa, reflete e age ao manifestar suas decisões. Ele é o su-
2. Tomar como objeto de análise registros de classes coorde- jeito de suas ações, portanto pode mudar a direção dessas atitudes
nadas pelos participantes é uma tarefa que se aborda numa etapa e comportamentos.
posterior, porque submeter a própria prática ao olhar de outros não A aprendizagem era conceituada como ponte entre a fala e a
é fácil e pode dar lugar a situações de tensão ou competitividade; escrita, falando certo se escrevia certo. Em decorrência dessa ideia,
3. Levar em conta as possibilidades e limitações dos registros a ortografia de alunos pobres, falantes de um dialeto sem status,
de classe permite seu papel no processo de capacitação. era relacionada a esse dialeto sem prestígio.
É fundamental considerar as seguintes questões para realizar As pesquisas realizadas nos anos 1970 por Emilia Ferreiro, Ana
um trabalho realmente produtivo com os registros de classes: Teberosky sobre o que pensam as crianças a respeito do sistema
- em primeiro lugar, é importante lembrar que os registros não alfabético da escrita(psicogênese da língua escrita) evidenciaram
são transparentes, nem auto-suficientes para pôr em evidência os os problemas que a metodologia embutida nas cartilhas cria para
conteúdos que se quer comunicar através de sua análise. muitas crianças. Como elas criam hipóteses sobre a escrita e seus
O que cada professor pode observar numa classe está deter- usos, frequentemente as mais pobres são as que têm as hipóteses
minado por seus saberes prévios, por sua própria experiência ou mais simples.
inexperiência; Houve um avanço importante no conhecimento produzido
- em segundo lugar, é necessário pôr em relevo aquilo que será sobre questões do ensino e da aprendizagem, pois permitiu que o
reproduzível, que pode ser válido para outras aplicações da mesma professor olhasse para o que o aluno produziu e enxergasse o que
situação ou outras situações; ele sabia e identificasse que tipo de informação seria necessária
- em terceiro lugar, é preciso levar em conta que alguns aspec- para que seu conhecimento avançasse. É preciso aceitar a ideia de
tos fundamentais da situação são invisíveis: nos registros não apa- que nenhum conceito, nem número, quantidade, nada, nasce com
recem explicitamente as conceituações do professor acerca do con- o sujeito ou é importado de, mas precisa ser construído.
teúdo que está ensinando, nem as ideias que sustentam as decisões Na Escola Nova, onde tiveram como pensadores importantes:
que toma no decorrer da aula, nem as hipóteses que estão por trás Dewey, Claparède, Decroly, Montessori e Freinet, embora houves-
do que as crianças dizem. sem algumas divergências entre si, assumiam o mesmo princípio
Por último, é importante levar em conta que o registro de clas- norteador: a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social.
se é realizado em geral, por uma pessoa alheia ao grupo e que é A criação por Piaget, de um modelo claro do processo geral do
comum aparecerem indícios da influência que essa presença tem construção do conhecimento abriu a possibilidade de, mais tarde,
no desenvolvimento da situação. estudar-se a construção de conhecimentos específicos, como o fez
Tomar como eixo da capacitação o conhecimento didático é Emília Ferreiro(aluna de Piaget). Toda criança sabe muitas coisas,
reconhecer que os problemas surgidos na aula são problemas es- só que umas sabem coisas diferentes das outras. O professor deve
pecíficos que requerem soluções também específicas. No entanto, induzir seus alunos a participarem da cultura, deve organizar situa-
centrar-se no saber didático não significa deixar de lado as contri- ções de aprendizagem.
buições das outras ciências, pelo contrário, abrir a possibilidade de O conhecimento avança quando o aprendiz enfrenta questões
que os professores recorram a elas a partir de interrogações sus- sobre as quais não havia parado para pensar. Quando observa como
citadas pelo ensino e pela aprendizagem, tentando encontrar ele- os outros a resolvem e tenta entender a solução que dão. Isso jus-
mentos necessários para manejar melhor os saberes que devem ser tifica a exigência pedagógica de garantir a máxima circulação de in-
ensinados, para compreender melhor as interrogações e as concei- formação possível na aula. É preciso que o professor aceite que sua
tualizações dos alunos. função é o de um planejador de intervenção que favoreçam a ação
do aluno aprendiz sobre o que e objeto de seu conhecimento.
PALAVRAS FINAIS A interação entre os alunos não é necessária só porque o inter-
Segundo Delia Lerner, ainda há duas observações a serem fei- câmbio é condição para o convívio social na escola.
tas ao terminar este capítulo: a primeira delas refere-se à posição
assumida pelos participantes dos processos de capacitação que fo-
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Quando o professor pensa que ensino e aprendizagem são vão abordando as mesmas situações de leitura e escrita e como
duas faces de um mesmo processo, faz sentido acreditar que, ao vão utilizando determinadas estratégias para processar a informa-
final dele, só existam duas alternativas: o aluno aprendeu, ou não ção e elaborar textos, ano após ano, ao iniciar e finalizar cada curso
aprendeu. Ele vê a aprendizagem como uma reconstrução que o escolar.
aluno tem de fazer dos seus esquemas interpretativos e percebe Para verificar como o aluno avança em suas práticas de escrita
que o mesmo é mais complexo do que o simples” aprendeu ou não e leitura, não é de muita utilidade uma situação em que ele escreva
aprendeu”. ou leia palavras no primeiro ano, orações no segundo e textos no
O fracasso escolar está quase todo assentado na demora dos terceiro. A capacidade para ler palavras não é indício de que essa
alunos para aprender a ler e a escrever no ensino fundamental, pois criança depois possa ler textos empregando estratégias que não são
têm pouco repertório em relação ao uso da escrita; o fracasso esco- demandadas pela tarefa anterior.
lar está quase todo assentado na demora dos alunos para aprender A possibilidade de escrever palavras corretamente não garante
a ler e a escrever. a alternativa de que um ano depois esse aluno escreva bons textos.
A escola que propomos e buscamos é uma escola aberta à di- Ou seja: o que nos interessa é ver como leem e escrevem palavras
versidade(cultural, social e também individual).É fundamental para ao longo de todo o ciclo, e nossa intenção é estabelecer certos pa-
o professor comprometido com o sucesso escolar a atenção a essas drões que nos permitam fixar expectativas específicas de conquista
questões e a naturalidade no tratamento que oferece aos que pre- para cada ano.
cisam de ajuda extra, para que não sejam estigmatizados como “os
fracos”, condição desfavorável a sua aprendizagem.
A formação dos professores necessita mais do que um curso SOLÉ, ISABEL. ESTRATÉGIAS DE LEITURA. 6ª ED. PORTO
preparatório, pois será sempre insuficiente para desempenhar seu ALEGRE: ARTES MÉDICAS, 1998. (CAPÍTULO 5- PARA COM-
profissionalismo em sala de aula. É necessário que o professor re- PREENDER ANTES DA LEITURA, P. 89-113).
gistre seu trabalho por escrito, porque isso o levará a construir uma
prática de reflexão.
Se a sociedade quer um ensino com qualidade terá de assumir A denominação dada pela autora das estratégias utilizadas
que isso implica um professor mais bem qualificado e remunerado. antes da leitura são: motivação, objetivos da leitura, ativação do
conhecimento prévio, previsões sobre o texto e perguntas dos es-
Fonte: http://resumos.netsaber.com.br/ tudantes sobre o texto. Todas elas vão auxiliar as crianças quando
forem se lançar em suas leituras, contribuindo no sentido de definir
os objetivos de leitura que se quer alcançar. Para que isso ocorra,
KAUFMAN, ANA MARIA; GALLO, ADRIANA; WUTHENAU, é importante o estudante se sentir motivado e o professor promo-
CELINA. COMO AVALIAR APRENDIZAGENS EM LEITURA ver esse encontro da obra com as crianças, mostrando que elas são
E ESCRITA? UM INSTRUMENTO PARA O PRIMEIRO CICLO capazes de ler, que terão sucesso na sua tarefa. O primeiro contato
DA ESCOLA PRIMÁRIA. IN: CAVALCANTI, ZÉLIA (ORG.). 30 com a leitura precisa ser desafiador e ao mesmo tempo possível de
OLHARES PARA O FUTURO. SÃO PAULO: ESCOLA DA ser realizável, pois desta forma ficará mais fácil definir os objetivos
VILA, 2010. de leitura dentre os muitos possíveis, criando um vínculo afetivo:
ler por fruição, para buscar uma informação, para revisar, para se-
guir uma instrução ou para aprender são algumas possibilidades da
Nos últimos anos o ensino da leitura, da escrita e a reflexão leitura.
sobre a língua nas escolas enfrentou sérias dificuldades no que se Solé (1998) afirma que as atividades trabalhadas antes do ato
refere à avaliação das aprendizagens. de lerdevem tornar claro aos alunos os objetivos da leitura para que
Isso se torna evidente de diferentes maneiras. Uma delas — possam selecionar, analisar e utilizar as habilidades e estratégias
que está bastante generalizada apesar de conter uma contradição que atendam às necessidades e aos objetivos solicitados. Essas es-
evidente — consiste em ensinar a ler e a escrever a partir de uma tratégias devem fornecer às crianças informações sobre o que saber
visão construtivista e depois aplicar avaliações tradicionais para e o que fazer, conforme os elementos propostos. Cabe então, ao
verificar o que foi aprendido. professor, selecionar as obras a serem lidas, separar os materiais
A perspectiva de ensino mencionada considera o processo de necessários para facilitar o entendimento, levantar hipóteses sobre
construção do conhecimento por parte dos alunos e as característi- a receptividade dos alunos e suas dificuldades, oferecer auxílio, se-
cas do objeto a ser ensinado, concebido como as práticas sociais de gundo as necessidades, estabelecer previsões e relações sobre o
leitura e escrita, acompanhadas da necessária reflexão e sistemati- texto, levantar questões, apresentar os textos e auxiliar na atuali-
zação sobre a língua. zação dos conhecimentos dos alunos. É nesse momento da leitura
A ação didática se baseia na premissa de que se aprende a ler, que o educador deverá ativar os conhecimentos prévios da turma.
lendo, e a escrever, escrevendo, e que essa aprendizagem implica A autora destaca que os objetivos de leitura devem ser os mais
um longo processo que segue seu curso durante toda a escolarida- reais possíveis, pois a criança ficará mais motivada e terá mais su-
de. É certo que as alternativas de avaliação mais generalizadas não cesso na sua leitura. Na escola, porém, é muito comum práticas
avaliam processos, mas estágios. de leitura irreais, das quais aparecem apenas no contexto escolar,
São as provas tradicionais que verificam o quanto as crianças como por exemplo, ler em voz alta para praticar e ler para verificar
ignoram e que não nos oferecem a possibilidade de comparar esse o que se compreendeu, cujos resultados podem ser danosos já que
dado com aquilo que sabem. São provas que medem, geralmente, poderá ser internalizado pelos estudantes duas ideias equivocadas:
saberes linguísticos desligados das práticas sociais de leitura e es- “ler é dizer em voz alta o que está escrito em livros” (SOLÉ, 1998, p.
crita. 99) e “ler [serve] para depois poder responder a certas perguntas
Concebemos a aprendizagem como um processo, e não como formuladas pelo professor” (SOLÉ, 1998, p. 100). O papel do profes-
uma sucessão de estágios desvinculados entre si. Situações que não sor é, portanto, fundamental, pois inicialmente é ele quem definirá
são comparáveis não permitem avaliar os avanços. O eixo de nossa
proposta é avaliar as diferentes maneiras pelas quais as crianças
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os objetivos de leitura para seus estudantes e gradativamente deve-
rá conduzi-los de maneira que as crianças aprendam a definir seus DOLZ, JOAQUIM; SCHNEUWLY, BERNARD. GÊNEROS ORAIS
objetivos sem precisar da presença de um mediador. E ESCRITOS NA ESCOLA. CAMPINAS: MERCADO DE LETRAS,
A estratégia de conhecimento prévio é de fundamental im- 2004. (CAP 3- OS GÊNEROS ESCOLARES- DAS PRÁTICAS DE
portância e pode estar em diversos momentos da leitura, já que LINGUAGEM AOS OBJETOS DE ENSINO, P. 71-94).
é ela quem dá indícios se estamos compreendendo ou não, à me-
dida que, diante de um texto, podemos analisá-lo, rejeitá-lo ou
criticá-lo. O professor deve estar atento, oferecer leituras do inte- Para que se possa ensinar a oralidade e a escrita, é preciso par-
resse e vivências das crianças para que desta forma, haja maiores tir de um encaminhamento, ao mesmo tempo, semelhante e dife-
possibilidade dos estudantes utilizarem sua bagagem na tentativa renciado; propor uma concepção que englobe o conjunto da esco-
de compreensão. Além disso, o mediador deverá também realizar laridade obrigatória; centrar-se, de fato, nas dimensões textuais da
algumas ações específicas para que as crianças aprendam a ativar expressão oral e da escrita; oferecer um material rico em textos de
seu conhecimento prévio: dar alguma explicação geral sobre o que referência, escritos ou orais, nos quais os alunos possam inspirar-se
será lido, falar da temática central do texto, da sua estrutura, dos para suas produções; ser modular, para permitir uma diferenciação
aspectos internos como ilustração, título, subtítulos, sublinhados, do ensino e favorecer a elaboração de projetos de classe. Funda-
mudança de letra, palavras-chaves e expressões do tipo ‘a ideia fun- mentando-se nessas exigências pode-se afirmar que é possível
damental é’. ensinar a escrita e a oralidade em situações públicas escolares e
Todas essas ações descritas acima, juntamente com a possi- extra-escolares, além disso, criar contextos de produções precisos,
bilidade que deve ser dada às crianças de exporem seus conheci- efetuar atividades ou exercícios diversos e variados permitirá aos
mentos prévios auxiliam na tarefa da busca pela compreensão. Ao alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos instrumentos
permitir que as crianças falem o que já sabem sobre determina- que são necessários para o desenvolvimento de suas capacidades
do tema, o professor deve ter o cuidado de não deixar desviar o de expressão oral e escrita em diversas situações de comunicação.
assunto ou alongar demais esse momento, retomando os pontos
fundamentais que contribuem com a dinâmica. Muitas vezes numa O procedimento “sequência didática”
situação de leitura uma criança pequena ao ativar seu conhecimen- Um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira
to prévio poderá dar um exemplo muito ligado à vivência dela de sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito é de-
tal forma que as demais não compreendam sua colocação. Nesse nominado sequência didática. Produzimos textos escritos ou orais
momento, o mediador deve conduzir a conversa, deixando o pen- diferentes uns dos outros, pois, os adaptamos ao tipo de comuni-
samento daquela criança o mais explícito possível para o restante cação visado. Apesar disso, há situações em que escrevemos textos
da sala. com características parecidas, esses textos são enquadrados em um
Outra estratégia para o momento anterior à leitura refere-se mesmo gênero de texto ou gênero textual e cada gênero tem uma
a fazer previsões, levantando hipóteses acerca do tema. Analisar a especificidade comunicativa, daí a importância da criança conhecer
estrutura do texto e suas particularidades é uma forma de levantar e aprender a utilizá-los. Uma sequência didática tem o objetivo de
previsões, mas o que as define de fato é a participação dos estudan- ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto dando-lhe
tes, que não deve ser nem sancionada tampouco ridicularizada no acesso a práticas de linguagens novas ou dificilmente domináveis.
momento em que levantarem hipótese. O clima deve ser propício
para que as crianças, ao falarem, se sintam seguras, mesmo que sua ESTRUTURA BÁSICA DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
forma de pensar nesse momento ainda seja desencontrada com o Apresentação da situação: descrição detalhada da tarefa de
restante da sala, pois é desta maneira que elas vão criando autono- expressão oral ou escrita que os alunos realizarão.
mia para expor suas próprias previsões. Produção inicial: elaboração de um primeiro texto inicial (oral
Quando o mediador de leitura auxilia os estudantes no ato de ou escrito) correspondente ao gênero trabalhado.
aprender a fazer e a revisar as previsões, ele estará ensinando-os a Módulos: atividades e/ou exercícios que dão os instrumentos
se manterem focados no processo de ler, oferecendo recursos para necessários para o domínio do gênero em questão.
que se apoiem na construção do sentido daquilo que estão lendo. O Produção final: o aluno poderá colocar em prática os conheci-
leitor deve ser capaz de levantar perguntas antes de iniciar a leitura, mentos adquiridos e, com o professor, medir os progressos alcan-
de modo, que sejam respondidas durante o ato de ler, checando e çados.
conferindo o que foi previsto.
Por fim, a estratégia destacada para antes da leitura é a de ela- COMPONENTES DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
borar questões para o texto, no sentido de auto interrogar-se, para
que a criança pare de responder apenas perguntas elaboradas pelo A apresentação da situação
professor e passe a fazer as suas tomando, desta forma, consciência É um projeto de comunicação e de apresentação da atividade
do que sabe e do que não sabe sobre o texto a ser lido. de linguagem a ser executada. O projeto proposto deve ser explí-
cito para que os alunos compreendam a situação de comunicação
Fonte: https://www.fct.unesp.br/Home/Pesquisa/cellij/06-estrategias- na qual devem atingir e o problema de comunicação que devem
-de-leitura---leitura-e-literatura-em-revista-2.doc resolver, produzindo um texto oral e escrito e para isso, devem ser
indicados: qual gênero será abordado; a quem a produção se dirige;
a forma que a produção assumirá e quem participará da produção.
Na apresentação da situação, é preciso que os conteúdos dos textos
que serão produzidos sejam preparados e que os alunos percebam
a importância desses conteúdos e saibam com quais vão trabalhar.
Portanto, é importante fornecer aos alunos todas as informações
necessárias para que conheçam o projeto comunicativo visado e a
aprendizagem de linguagem a que está relacionado.

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A primeira produção Os princípios teóricos subjacentes ao procedimento “seqüên-
Neste momento, os alunos elaboram um primeiro texto oral cia didática”
ou escrito, que revelará para si e para o professor as representa- - Escolhas pedagógicas: insere-se num projeto que motiva os
ções que têm dessa atividade. Se a situação de comunicação é bem alunos a escrever ou tomar a palavra; maximiza, pela diversificação
definida durante a apresentação da situação, todos os alunos con- das atividades e dos exercícios, as chances de cada aluno se apro-
seguirão produzir um texto de acordo com a situação, mesmo que priar dos instrumentos e noções propostos.
não respeitem todas as características do gênero visado. Assim é - Escolhas psicológicas: a atividade de produção de textos es-
possível definir o ponto em que o professor pode intervir melhor e critos ou orais é trabalhada em toda sua complexidade, incluindo
o caminho que o aluno tem ainda a percorrer: essa é a essência da a representação da situação de comunicação, o trabalho sobre os
avaliação formativa. conteúdos e a estruturação dos textos; o procedimento visa trans-
A produção inicial serve como reguladora da sequência didáti- formar o modo de falar e de escrever dos alunos, no sentido de uma
ca, tanto para os alunos quanto para o professor. consciência mais ampla de seu comportamento de linguagem em
Para os alunos, esclarece sobre o gênero abordado, lhes per- todos os níveis; diferentes instrumentos de linguagem propostas
mite descobrir o que já sabem fazer e perceber os problemas que aos alunos.
eles encontram na produção. Para o professor, é um momento pri- - Escolhas linguísticas: A atividade de linguagem produz textos
vilegiado de observação, que permitem refinar a sequência, modu- e discursos. O procedimento utiliza instrumentos linguísticos que
lá-la e adaptá-la de maneira mais precisa às capacidades reais dos permitem compreender essas unidades; toda língua se adapta às
alunos. situações de comunicação e funciona de maneira bastante diver-
sificada.
Os módulos As finalidades gerais da sequência didática são: preparar os
Trata-se de trabalhar os problemas que aparecem na primeira alunos para dominar sua língua nas situações mais diversas da vida
produção e de dar aos alunos instrumentos necessários para su- cotidiana, oferecendo-lhe instrumentos precisos, imediatamente
perá-los. Nos módulos, os elementos do gênero, são abordados eficazes, para melhorar suas capacidades de escrever e de falar;
separadamente um a um, a fim de desenvolver habilidades e co- desenvolver no aluno uma relação consciente e voluntária com
nhecimentos relativos ao gênero. Neste trabalho, é fundamental seu comportamento de linguagem, favorecendo procedimentos
pensar: Que dificuldades da expressão oral ou escrita abordar? de avaliação formativa e de auto-regulação; construir nos alunos
Como construir um módulo para trabalhar um problema particular? uma representação da atividade de escrita e de fala em situações
Como capitalizar o que é adquirido nos módulos? Produzir textos complexas, como produto de um trabalho, de uma lenta elabora-
orais ou escritos é um processo complexo, com vários níveis, aonde ção. As sequências didáticas apresentam uma grande variedade de
o aluno se deparará com problemas específicos de cada gênero e atividades que devem ser selecionadas, adaptadas e transformadas
deve se tornar capaz de resolvê-los. O aluno deve aprender a fazer em função das necessidades dos alunos, dos momentos escolhidos
uma imagem do destinatário do texto, da finalidade visada, de sua para o trabalho, da história didática do grupo e da complementari-
própria posição como autor ou locutor e do gênero visado. Conhe- dade em relação a outras situações de aprendizagem da expressão,
cer as técnicas de buscar, elaborar ou criar conteúdos, planejar o propostas fora do contexto das sequências didáticas.
texto e escolher os meios de linguagem mais eficazes para escrever A adaptação das sequências às necessidades dos alunos exige,
seu texto. da parte do professor: analisar as produções dos alunos em funções
O princípio essencial da elaboração de um módulo é o de va- dos objetivos da sequência e das características do gênero; escolher
riar os modos de trabalho, proporcionando aos alunos, uma diver- as atividades indispensáveis para a realização da continuidade da
sidade de atividades e exercícios, possibilitando-os o aprendizado, sequência; prever e elaborar, para os casos do insucesso, um traba-
por diferentes vias. São necessárias atividades de observação e de lho mais profundo e intervenções diferenciadas no que diz respeito
análise de textos, tarefas simplificadas de produção de textos (im- às dimensões mais problemáticas.
põem ao aluno limites, permitindo descartar certos problemas de
linguagem) e a elaboração de uma linguagem comum. Realizando As diferenças do trabalho com a escrita e com o oral
os módulos, os alunos aprendem a falar sobre o gênero aborda- Como o gênero pode assumir na comunicação tanto a expres-
do. Adquirem um vocabulário, uma linguagem técnica, constroem são oral como a escrita. É importante salientar que existem diferen-
progressivamente conhecimentos sobre o gênero. Esse vocabulá- ças entre as sequências destinadas ao trabalho com gêneros orais
rio técnico vai sendo registrado numa lista ao longo da sequência ou escritas, devido a sua materialidade dos mesmos. As diferenças
e cada sequência é finalizada com um registro dos conhecimentos mais importantes são: a possibilidade de revisão, a observação do
adquiridos sobre o gênero durante o trabalho nos módulos, na for- próprio comportamento e a observação de textos de referência.
ma sintética de lista de constatações ou de lembrete ou glossário.
Questões de gramática, sintaxe e ortografia
A produção final Mesmo a sequência didática tendo como objetivo aperfeiçoar
A sequência é finalizada com uma produção final que dá ao práticas de escrita e da produção oral, centradas em questões es-
aluno a possibilidade de pôr em prática as noções e os instrumen- pecíficas, deve-se fazer uma articulação entre o trabalho proposto
tos elaborados separadamente nos módulos. Permite também ao nas sequências e outros domínios do ensino da língua, apoiando-
professor realizar uma avaliação somativa. O importante é o alu- -se para isso em certos conhecimentos linguísticos, construídos em
no encontrar os elementos trabalhados em aula e que devem ser outros momentos. As recorrências de formas verbais ligadas a um
vistos como critérios de avaliação. Regular e controlar seu próprio gênero textual podem criar a oportunidade de abordar à morfolo-
comportamento de produtor de textos e seu processo de aprendi- gia verbal de maneira paralela ao trabalho com a sequência. Com
zagem e assim, avaliar os progressos realizados durante o trabalho. relação à sintaxe, as dificuldades são mais frequentes, vem muitas
vezes resultante de interferências entre a sintaxe do oral e da escri-
ta. Na sequência é possível levantar esses problemas e “melhorar
as frases”, tendo em vista a reescrita do texto. O domínio da sintaxe
não está ligado a um gênero, deve-se desenvolver nos alunos capa-
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cidades de análise que lhe permitam melhorar esses conhecimen-
tos. É necessário tempo específico para o estudo da gramática e as ROCHA, GLADYS; VAL, MARIA DA GRAÇA COSTA (ORG). RE-
sequências se favorecerão com essa aprendizagem, dando-as mais FLEXÕES SOBRE PRÁTICAS ESCOLARES DE PRODUÇÃO DE
sentido. TEXTO- O SUJEITO AUTOR. COLEÇÃO LINGUAGEM E EDU-
Os problemas ortográficos também não tem correlação com CAÇÃO- CEALE. SÃO PAULO: AUTÊNTICA EDITORA, 2007.
os gêneros. Os alunos precisam escrever com frequência para que (CAP. 1- A LINGUAGEM NOS PROCESSOS SOCIAIS DE CONS-
consigam desenvolver melhor suas capacidades ortográficas. Os er- TITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE, P. 15-28), CAP. 3- A FORMA-
ros encontrados nos textos produzidos pelos alunos são uma fonte ÇÃO DO PRODUTOR DE TEXTO ESCRITO NA ESCOLA: UMA
de informação para o professor, servindo de base para o trabalho ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE OS PROCESSOS INTERLO-
com a ortografia. É necessário atribuir um devido lugar para a cor- CUTIVOS E OS PROCESSOS DE ENSINO, P. 53- 68), (CAP. 4- O
reção ortográfica, pois, muitas vezes, os professores focam muito PAPEL DA REVISÃO NA APROPRIAÇÃO DE HABILIDADES
nessa questão e acabam não valorizando outras dimensões que TEXTUAIS PELA CRIANÇA, P. 69- 84), CAP. 5- A PRODU-
entram em jogo na produção textual. A correção ortográfica deve ÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS NARRATIVOS, DESCRITIVOS
ser realizada no percurso final do texto, após o aperfeiçoamento de E ARGUMENTATIVOS NA ALFABETIZAÇÃO: EVIDÊN-
outros níveis textuais. CIAS DO SUJEITO NA/DA LINGUAGEM, P. 85-108).

Os agrupamentos de gêneros e progressão através de séries/


ciclos Os autores desse livro refletem sobre o processo de apropria-
Cada gênero textual tem um objetivo de comunicação, por ção de habilidades textuais-discursivas pelo aprendiz no Ensino
isso é essencial um ensino adaptado para cada gênero de texto. Fundamental, especialmente nos primeiros anos de escolarização,
No entanto, os gêneros podem ser agrupados em função de certo vendo o aluno como sujeito que elabora seu conhecimento de di-
número de regularidades linguísticas. Os agrupamentos de gêneros ferentes gêneros de textos escritos a partir da interação com esses
tem que ter em vista o desenvolvimento da expressão oral e escrita. textos.
O agrupamento de gêneros revelou-se um meio eficaz para O reconhecimento da diversidade de experiências culturais dos
pensar a progressão através dos ciclos/séries. Um mesmo gênero é alunos e da singularidade de suas trajetórias de aprendizagem é tô-
trabalhado, em diferentes ciclos ou séries, com objetivos cada vez nica comum aos artigos desta coletânea, que buscam compreender
mais complexos, em função das possibilidades de transferência que as representações e hipóteses sobre texto escrito que os aprendi-
permitem. zes (re)elaboram, as particularidades e convergências de seus per-
A definição da progressão precisa levar em conta, as pesquisas cursos, marcados por uma subjetividade socialmente constituída,
em psicologia sobre o desenvolvimento das capacidades de lingua- como postulam Bakhtin e Vygotsky. A concepção de linguagem
gem e as pesquisas em didáticas que consideram os limites da situa- como atividade discursiva, trabalho e objeto do trabalho de sujeitos
ção escolar e o currículo seguido pelos alunos. É possível elaborar concretos é outro pressuposto compartilhado por estes estudos.
uma progressão em cada um dos cinco agrupamentos de gêneros,
levando-se em conta os objetivos da aprendizagem de gêneros e
os domínios necessários das situações de comunicação. Assim, é POSSENTI, S. POR QUE (NÃO) ENSINAR GRAMÁTICA NA ES-
fundamental escolher um plano de texto adaptado à situação de COLA. CAMPINAS/SP: MERCADO DAS LETRAS, 1996.
cada ciclo/série, garantindo que o trabalho com os gêneros atinjam
os objetivos requisitados e uma diversidade textual a cada nível.
Em cada nível, o aluno terá se exercitado na produção de gênero, A primeira parte do livro (pp.15-56) consiste na exposição co-
pertencente a diversos agrupamentos. A escolha dos gêneros tra- mentada desse decálogo e compõe-se, como seria de prever, de dez
tados de acordo com os ciclos ou séries justifica-se pela ideia de capítulos. Ela começa por uma breve introdução, em que algumas
que aprendizagem não é uma consequência do desenvolvimento, expectativas possíveis, mas equivocadas, do leitor são decididamen-
uma condição para ele quando à intervenção do professor e as in- te descartadas: o livro não foi escrito para estimular a improvisação
terações com outros alunos podem gerar progresso. As diferentes pedagógica, nem para promover uma mera substituição de conteú-
sequências dão indicações quanto à adequação do gênero ao início dos. Não se trata, pois, de substituir cegamente a gramática norma-
ou ao final de um dado ciclo. tiva e as práticas que ela tem motivado pelas verdades de uma nova
Produzir textos é um processo complexo, a aprendizagem de tal disciplina em algum sentido mais atual: “Mais que o saber técnico,
conhecimento é lenta e longa. Para assegurar o domínio dos prin- um conjunto de atitudes derivadas dos saberes acumulados talvez
cipais gêneros no final do ensino fundamental, propõe-se uma ini- resulte em benefícios maiores... inclusive porque, a rigor, sem essas
ciação precoce, com objetivos adaptados as primeiras etapas. Cada atitudes, sequer seria possível um conhecimento de tipo científico
gênero pode ser abordado em diferentes níveis de complexidades, (...) É que este conheci mento também exige rupturas com os prin-
por exemplo, o conto que será trabalhado em diferentes etapas cípios que fundamentam o tipo de saber anteriormente aceito”. O
do ensino fundamental, porem com objetivos graduados, tanto do caminho para entender a origem de cada um dos “mandamentos”
ponto de vista da organização e da construção de personagens típi- do decálogo fica então claro: a lingüística propôs uma imagem in-
cas como das unidades linguísticas que a caracterizam. A retomada teressante da atividade verbal depois que rompeu com as repre-
de objetivos já trabalhados, após certo espaço de tempo e numa sentações estabelecidas dessa mesma atividade; a pedagogia, que
nova perspectiva, parece indispensável para que a aprendizagem se baseava naquelas representações, fracassou na prática, por lhe
seja assegurada. faltarem fundamentos mais sólidos; refletindo não tecnicamente
sobre os conhecimentos acumulados pela lingüística e explorando
Fonte: http://mairasaporetti.blogspot.com/ o potencial pedagógico desses novos conhecimentos, estaremos
promovendo uma mudança radical no ensino de língua materna,
mas isso exige uma mudança de atitude, não a mera importação ou
repetição daqueles conhecimentos.

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BIBLIOGRAFIA - LÍNGUA PORTUGUESA
Concluída a leitura da primeira parte do livro, são tantos os presente); para chegar ao resultado correto, exigia-se, ao contrário,
parâmetros de reavaliação do ensino oferecidos ao leitor que o di- uma hipótese mais complexa (envolvendo, quem sabe, a distinção
lema de ensinar ou não a gramática soa como uma pergunta mal entre um radical do presente e um radical do passado).
formulada: a questão não é mais decidir pela gramática normativa Não é difícil perceber por que essa exposição é relevante para
ou contra ela, é criar condições para que a espontaneidade com o professor de língua materna. Por um lado, ela deveria convencê-lo
que os alunos fazem da linguagem uma parte de suas vidas, sua de que há outros conceitos de gramática, além daqueles que a es-
assombrosa capacidade de intuir as estruturas e de atualizá-la num cola reforça tradicionalmente, e que alguns desses conceitos produ-
desempenho gramaticalmente correto na variedade que praticam, zem representações possivelmente mais adequadas do fenômeno
o natural desembaraço com que circulam entre diferentes níveis e lingüístico; por outro lado – recuperando o dilema expresso no títu-
registros sem confundi-los, não sejam sacrificados a qualquer rotina lo do livro –, a existência de vários conceitos de gramática permite
de ensinar que tenha como único argumento a inércia do sistema que o projeto de ensinar a língua materna através de sua gramática
escolar. se salve, a depender da concepção de gramática que se adota.
A essas críticas alguém poderia responder, com razão, que a O professor Possenti recomenda que, dentre as possíveis con-
palavra “gramática” assumiu na lingüística recente sentidos bastan- cepções de gramática, se escolha para aplicação no ensino a mais
te diversificados, e que para alguns sentidos da palavra “gramática” rica de todas, a da gramática internalizada. Com isso, a atitude que
aquelas críticas não são relevantes. Tirando proveito dessa possível passa a presidir o aprendizado da língua materna não é a do gra-
objeção, a segunda parte do livro expõe sistematicamente três con- mático (para quem conta expurgar a fala dos erros, e aplicar uma
ceitos de gramática correntes nos textos recentes sobre linguagem. nomenclatura), e nem mesmo a do lingüista descritivo, que acumu-
À concepção normativa ou prescritiva habitualmente adotada pelos la dados para tentar propor, em seguida, uma representação com-
manuais didáticos, o professor Possenti opõe em primeiro lugar pacta dos mesmos; é a da criança, que vai construindo sua com-
uma concepção descritiva: ao passo que a concepção normativa petência pela exposição e pelos dados lingüísticos variados. Cabe
de gramática se caracteriza por ter como alvo uma língua ideal, ou à escola, e mais especificamente ao professor de língua materna,
seja, por consistir em um conjunto de princípios e normas que esta- a responsabilidade de proporcionar ao aluno os dados novos que
belecem como a língua deve(ria) ser, a concepção descritiva de gra- serão internalizados. Algumas amostras do trabalho que pode ser
mática, praticada pela lingüística sincrônica desde o estruturalismo, feito nesse sentido estão em “pequenas aulas de português (ou de
consiste em representar a língua tal como ela é, elencando as for- gramática no sentido proposto)” que fecham o livro: trata-se de
mas ou estruturas que os falantes de uma determinada língua têm à exemplos breves que, mais uma vez, não são receitas, mas são am-
sua disposição, sem atribuir valores positivos ou negativos à escolha plamente suficientes para mostrar que esse trabalho é possível e,
entre essas formas. A essas duas concepções opõe-se uma tercei- no fundo, bastante simples.
ra, lançada pela lingüística gerativa, segundo a qual todo falante de Qualquer educador poderá extrair de Por que (não) ensinar
uma língua, durante a fase de aquisição, assimila (ou “internaliza”, gramática na escola um exemplo de como o desenvolvimento téc-
para usar o neologismo que se tornou habitual nesse contexto) nico de uma disciplina chega a motivar mudanças radicais no ensi-
uma série de princípios e regras altamente elaborados, que lhe no, por um caminho não-técnico. Qualquer aluno de curso de letras
permitem produzir enunciados que serão reconhecidos como bem ou professor de língua materna tem neste livro uma referência se-
formados pelos demais membros de sua comunidade; “gramática” gura para definir ou redefinir sua prática pedagógica. É pensando
é, então, a palavra mediante a qual se designa esse conjunto de neste último tipo de leitor que faço à obra a única cobrança de al-
princípios, encarado como uma forma de competência, ou seja, um guma gravidade, motivada pelo fato de que o livro não fornece, no
conhecimento que tem sede na mente do falante. texto ou fora dele, qualquer indicação de leituras suplementares.
Uma vez estabelecida a distinção entre gramática normativa, Compartilho com o professor Possenti a crença de que um punha-
gramática descritiva e gramática como competência lingüística, o do de textos bem escolhidos, lidos no momento certo do processo
próximo passo do professor Possenti consiste em mostrar que dife- de formação do professor de língua materna, pode fazer a diferen-
rentes conceitos de regra, erro e língua são compatíveis com uma ça entre a falta de visão e a lucidez. Mas não é, talvez, claro, para
dessas concepções de gramática. Retomemos, a título de exemplo, todos os leitores, quais seriam os textos a selecionar e por quê. É
o tratamento que ele dedica à noção de erro (língua e regra têm um uma falha importante, mas fácil de corrigir, num livro que, por suas
tratamento paralelo): a gramática normativa marca como erro toda enormes qualidades (clareza de exposição, uso sempre adequado
construção estranha à variedade padrão; essa concepção de erro da informação lingüística, capacidade de apontar problemas sem
não interessa à gramática descritiva, que aponta por sua vez como paternalismos e sem derrotismos), se destina a ter muitas edições.
erradas as formas e as construções que não fazem parte de maneira
sistemática de nenhuma variedade de uma língua; para a gramá- Fonte: www.scielo.br
tica da competência, a noção de erro deve ser definida por refe-
rência ao processo pelo qual a criança e o lingüista constroem sua
competência gramatical, formulando e refutando hipóteses sobre a
estrutura dos enunciados observados: algumas das hipóteses que
surgem nesse processo, embora sejam compatíveis com os dados
observados, revelam-se, afinal, inadequadas, pois sua aplicação ge-
neralizada levaria a formas ou construções mal formadas. Um caso
apropriadamente lembrado pelo professor Possenti para ilustrar
essa noção de erro é o uso da forma fazi, como pretérito perfeito
de fazer: de um lado, ela mostra que a criança produz as formas
do verbo lançando mão de regras de formação e não buscando-as
prontas na memória; de outro lado, o resultado incorreto mostra
que a criança formulou uma hipótese demasiado simples (aplican-
do, quem sabe, a terminação do perfeito diretamente ao radical do

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ANOTAÇÕES

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BIBLIOGRAFIA
MATEMÁTICA

PANIZZA, M. ENSINAR MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO IN- PARRA, C.; SAIZ, C. (ORG.). DIDÁTICA DA MATEMÁTICA:
FANTIL E SÉRIES INICIAIS: ANÁLISE E PROPOSTAS. PORTO REFLEXÕES PSICOPEDAGÓGICAS. PORTO ALEGRE: ARTES
ALEGRE, RS: ARTMED, 2006. (CAP. 3- O ENSINO DO NÚME- MÉDICAS, 1996. (CAP. 1- MATEMÁTICA PARA NÃO-MATE-
RO E DO SISTEMA DE NUMERAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFAN- MÁTICOS P. 11- 250; (CAP.2- A DIDÁTICA DA MATEMÁTICA,
TIL E NA 1ª SÉRIE. P. 43 - 76); (CAP. 5- ABORDAGENS PAR- P. 26-35); (CAP. 5- O SISTEMA DE NUMERAÇÃO: UM PRO-
CIAIS À COMPLEXIDADE DO SISTEMA DE NUMERAÇÃO: BLEMA DIDÁTICO. P.73-155)
PROGRESSOS DE UM ESTUDO SOBRE AS INTERPRETAÇÕES
NUMÉRICAS. P. 95- 142);( CAP.8- GEOMETRIA NAS SÉRIES
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: PROBLEMAS DE Esta obra traz reflexões sobre qual é a matemática que deve ser
SEU ENSINO, PROBLEMAS PARA SEU ENSINO. P. 169- ensinada na educação básica, analisando, ainda, a situação atual
188) do ensino e da aprendizagem de conteúdos importantes do ensino
fundamental, e apresentando propostas didáticas que dão ao aluno
a oportunidade de colocar em jogo suas conceitualizações, suas re-
flexões e seus questionamentos.
Este livro aborda a finalidade do ensino e os problemas de aqui- A obra constitui uma coletânea de artigos relacionados à Didá-
sição de conhecimentos espaciais e geométricos na área de mate- tica da Matemática que “estuda o processo de transmissão e aqui-
mática, sintetizando os questionamentos principais às perspectivas sição de diferentes conteúdos desta ciência” (p. 4).
clássicas na educação infantil e nas séries iniciais. Esta obra busca Vejamos a seguir sobre os temas que cada artigo trata.
criar um meio de comunicação entre pesquisadores e educadores 1. Matemático para não-matemáticos. SANTALÓ, Luis A.
de matemática, integrando conceitos teóricos com a prática edu- A missão dos educadores é preparar as novas gerações para o
cacional, por meio da articulação das pesquisas apresentadas com mundo que terão que viver;
propostas para as aulas.” (...) como o mundo atual é rapidamente mutável, também a
A didática da matemática define os problemas como aquelas escola deve estar em contínuo estado de alerta para adaptar seu
situações que criam um obstáculo a vencer, que promovem a busca ensino, seja em conteúdos como em metodologia (p. 11);
dentro de tudo o que se sabe para decidir em cada caso aquilo que (...) o problema reside em decidir “como” educar esse homem
é mais pertinente. informático;
O livro é dividido em 8 capítulos, iniciando-se com uma intro- (...) a vida tem-se tornado mais difícil, e a escola deve evoluir
dução que aborda a noção de sentido, e na sequência, trabalham para preparar indivíduos com capacidade para atuar neste mundo
conceitos sobre a teoria das situações didáticas, analisando a didá- complexo (p. 13);
tica da matemática na escola francesa. (...) [da mesma forma que na época de Platão] hoje pensamos
O ensino do número e do sistema de numeração é o assunto em educar o pensamento e também fornecer regras para a ação, e
abordado na sequência. opina-se que a matemática que necessita todos os cidadãos deve
Outra questão interessante abordada é a importância das dis- ser uma mistura bem equilibrada de matemática pura e aplicada
cussões em sala de aula, por que são produtivas, como agregam (p. 14)
valor à didática e qual a melhor forma de pratica-las. 2. A didática da matemática. GÁLVEZ, Grecia
Posteriormente, analisam a questão de localização espacial na O trabalho inicia-se mostrando o trabalho dos Institutos de In-
educação infantil e, finalizam com uma abordagem analítica sobre a vestigação acerca do Ensino da Matemática (IREM) na França no
geometria no ensino fundamental. início dos anos 60 (formação de professores, produção de material,
práticas em sala de aula);
(...) A partir da reflexão das atividades realizadas no IREM, o
pesquisador Guy Brousseau propõe o estudo das condições nas
quais são constituídos os conhecimentos; o controle destas con-
dições permitiria reproduzir e otimizar os processos de aquisição
escolar de conhecimentos (p. 27);
(...) Parte-se do pressuposto de que o conhecimento dos fe-
nômenos relativos ao ensino da matemática não seja resultado da
simples fusão de conhecimentos
(...) como a matemática, psicologia e pedagogia, mas algo que
exige pesquisas específicas (p. 27).

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BIBLIOGRAFIA - MATEMÁTICA
3. Aprendendo (com) a resolução de problemas. CHARNAY, Ro- • Para muitas pessoas, cálculo mental está associado a cálculo
land rápido (p. 189).
A matemática têm se construído como resposta a perguntas 8. A geometria, a psicogênese das noções espaciais e o ensino
traduzidas em outros tantos problemas (p. 36); da geometria na escola primária. GÁLVEZ, Grecia
(...) a atividade de resolução de problemas tem estado no pró- autora inicia o capítulo fazendo um breve histórico das origens
prio coração da elaboração da ciência matemática. “Fazer matemá- da geometria, fazendo um retrospecto desde a Geometria Euclidia-
tica é resolver problemas!” (p. 37); na (axiomática) e a evolução que a mesma sofreu.
(...) Um dos objetivos essenciais (e ao mesmo tempo uma das Em seguida a autora fundamenta-se nos trabalhos de Piaget
dificuldades principais) do ensino da matemática é precisamente para explicar como a criança constrói as noções de espaço e forma.
que o que se ensine esteja carregado de significado, tenha sentido “Nos alunos jovens a ação sobre os objetos torna-se totalmen-
para o aluno (p. 37); te indispensável para a compreensão, não só das relações aritméti-
(...) A questão essencial do ensino da matemática é então: cas, mas também das geométricas” (p. 244)
como fazer para que os conhecimentos ensinados tenham sentido
para o aluno? [grifo do autor] (p. 38). Fonte: https://doczz.com.br/
4. Os diferentes papéis do professor. BROUSSEAU, Guy
Os principais conceitos da Teoria das Situações Didáticas elabo-
rada por Brousseau são: a DESDIDATIFICAÇÃO (situações adidáticas)
e a INSTITUCIONALIZAÇÃO. SMOLE, K. S., DINIZ, M.I. (ORG.). LER, ESCREVER E RESOL-
(...) O professor realiza primeiro o trabalho inverso ao do cien- VER PROBLEMAS: HABILIDADES BÁSICAS PARA APRENDER
tista (...) procura situações que dêem sentido aos conhecimentos MATEMÁTICA. PORTO ALEGRE: ARTMED EDITORA, 2001.
que devem ser ensinados (p. 48); (CAP. 1- COMUNICAÇÃO EM MATEMÁTICA, P. 15-28), (CAP.
(...) Podem ser vistas aqui as duas partes, bastante contradi- 3- LER E APRENDER MATEMÁTICA, P. 69-86), CAP. 7- DIFE-
tórias, do papel do professor: fazer viver o conhecimento, fazê-lo RENTES FORMAS DE RESOLVER PROBLEMAS, P. 121-
ser produzido por parte dos alunos como resposta razoável (...) e, 149)
ainda, transformar essa “resposta razoável” em um “fato cognitivo
extraordinário” (p. 49);
(...) Considerar a aprendizagem como uma modificação do co-
nhecimento que o aluno deve produzir por si mesmo e que o pro- Muitos professores acreditarem que as dificuldades apresenta-
fessor só deve provocar (p. 49). das por seus alunos em ler e interpretar um problema ou exercício
5. O sistema de numeração: um problema didático. LERNER, de matemática estão associadas a pouca competência que eles têm
Délia e SADOVSKY, Patricia para leitura. Também é comum a concepção de que, se o aluno ti-
Questão principal do artigo Como é que as crianças se apro- vesse mais fluência na leitura nas aulas de língua materna, conse-
priam do conhecimento do sistema de numeração? (p. 75) quentemente ele seria um melhor leitor nas aulas de matemática.
Principais hipóteses levantadas pelas autoras Embora tais afirmações estejam em parte corretas, pois ler é
• (...) Acreditávamos que as crianças construíam desde cedo um dos principais caminhos para ampliarmos nossa aprendizagem
critérios para comparar números; em qualquer área do conhecimento, consideramos que não basta
• pensávamos que (...) alguma relação elas deveriam estabele- atribuir as dificuldades dos alunos em ler problemas a sua pouca
cer entre a posição dos algarismos; habilidade em ler nas aulas de português. A dificuldade que os alu-
• acreditávamos que as crianças detectavam regularidades ao nos encontram em ler e compreender textos de problemas estão,
interagir com a escrita fragmentada da sequência numérica (p. 76). entre outras coisas, ligadas à ausência de um trabalho pedagógico
6. Dividir com dificuldade ou a dificuldade de dividir. SAIZ, Irma específico com o texto do problema, nas aulas de matemática.
Neste artigo a autora tenta mostrar algumas das dificuldades O estilo nos quais geralmente os problemas de matemática são
que enfrentam (e não resolvem) muitas crianças de escolas primá- escritos, a falta de compreensão de um conceito envolvido no pro-
rias em relação ao assunto da divisão (p. 157); (...) os resultados blema, o uso de termos específicos da matemática e que, portanto,
dos cálculos com as três primeiras operações (adição, subtração e não fazem parte do cotidiano do aluno, e mesmo palavras que têm
multiplicação) geralmente coincidem, não acontecendo o mesmo significados diferentes na matemática e fora dela – total, diferen-
nos resultados correspondentes à divisão (p. 157). ça, ímpar, média, volume, produto – podem se constituir em obs-
O capítulo apresenta três considerações muito significativas: táculos para que a compreensão ocorra. Para que tais dificuldades
A respeito do significado da divisão sejam superadas, ou mesmo para que elas não surjam, é preciso
Análise da resolução de problemas alguns cuidados com a proposição dos problemas desde o início da
Uma análise dos algoritmos utilizados escolarização até o final do Ensino Médio.
7. Cálculo mental na escola primária. PARRA, Cecília Cuidados com a leitura que o professor elabora o problema,
“Cálculo mental” é uma expressão que pode ter muitos signifi- cuidados em propor tarefas específicas de interpretação do texto
cados, dividindo opiniões, provocando dúvidas ou expectativas (p. dos exercícios caracterizam um conjunto de intervenções didáticas
186); destinadas exclusivamente a levar os alunos a lerem problemas de
• Com frequência, fazemos a oposição cálculo escrito e cálculo matemática com autonomia e compreensão. Neste artigo, preten-
mental. Neste sentido, queremos esclarecer que a concepção de demos indicar algumas intervenções que temos utilizado em nossas
cálculo mental que vamos desenvolver não exclui a utilização de ações junto a alunos e professores e que têm auxiliado a tornar os
lápis e papel (p. 188); estudantes melhores leitores de problemas.
• O primeiro costuma ser chamado de cálculo automático ou
mecânico, e se refere à utilização de um algoritmo ou de um mate-
rial (ábaco, régua de cálculo, calculadora, etc.);
• O segundo é chamado cálculo pensado ou refletido. É em re-
lação a este significado que vamos considerar o cálculo mental;
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A Leitura dos Problemas com Alunos no Início da Alfabetiza- Nesse processo é possível, ainda, que o professor proponha
ção aos alunos o registro, no caderno ou em um dicionário, das palavras
Quando os alunos ainda não são leitores, o professor lê todos novas que aprenderam, ou mesmo daquelas sobre as quais tinham
os problemas para eles e, como leitor, auxilia os alunos, garantin- dúvida para que possam consultar quando necessário. Em relação
do que todos compreendam, cuidando para não enfatizar palavras àqueles termos que tenham significados diferentes em matemática
chave e usar qualquer recurso que os impeça de buscar a solução e no uso cotidiano, o ideal é que sejam registrados no caderno dos
por si mesmos. Mas há outros recursos dos quais o professor pode alunos com ambos os significados, podendo inclusive escrever fra-
se valer para explorar a alfabetização e a matemática enquanto tra- ses que ilustrem os dois sentidos. Vejamos outras estratégias:
balha com problemas. - Apresentar aos alunos problemas com falta ou excesso de da-
Um deles é escrever uma cópia do problema no quadro e fazer dos para que eles analisem a necessidade ou não de informações
com os alunos uma leitura cuidadosa. Primeiro do problema todo, no texto;
para que eles tenham ideia geral da situação; depois mais vagarosa- - Apresentar aos alunos o texto de um problema no qual falte
mente, para que percebam as palavras do texto, suas grafias e seus uma frase ou a pergunta, deixar que eles tentem resolver e comple-
significados. tar o que falta para o problema ser resolvido;
Propor o problema escrito e fazer questionamentos orais com a - Apresentar um problema com frases em ordem invertida e
classe, como é comum que se faça durante a discussão de um texto, pedir que os alunos reorganizem o texto;
auxilia o trabalho inicial com problemas escritos: - Pedir que os alunos elaborem problemas com palavras que
- Quem pode me contar o problema novamente? apresentam sentidos diferentes quando utilizadas na matemática e
- Há alguma palavra nova ou desconhecida? no cotidiano: tira, produto, domínio, diferença etc.
- Do que trata o problema? Desejamos finalizar nossas considerações com o alerta de que
- Qual é a pergunta? essas ações para tornar o aluno leitor de um problema não podem
Novamente o cuidado é para não resolver o problema pelos ser esporádicas, nem mesmo isoladas. É necessário que haja um
alunos durante a discussão e, também, não tornar o recurso uma trabalho constante com as estratégias, em todas as séries escola-
regra ou conjunto de passos obrigatórios que representem um ro- res, pois será apenas enfrentando a formação do leitor e do escritor
teiro de resolução. Se providenciar para cada aluno uma folha com como uma tarefa de todos os professores da escola, inclusive de
o problema escrito, o professor pode ainda: matemática, que criaremos oportunidades para que todos desen-
Pedir aos alunos que encontrem e circulem determinadas pa- volvam as habilidades essenciais para o aprendizado de qualquer
lavras; conceito, em qualquer tempo. Ler e escrever nas diferentes disci-
- Escrever na lousa o texto do problema sem algumas palavras; plinas constitui uma das chaves mais essenciais para a formação da
- Pedir para os alunos em duplas olharem seus textos, que de- autonomia por meio da escola.
vem ser completos, e descobrirem as palavras que faltam conforme
as palavras são descobertas, os alunos são convidados a ir ao qua- Fonte: www.mathema.com.br
dro e completar os espaços com os termos ausentes. Em todos os
casos, o professor pode escolher trabalhar com palavras e frases
que sejam significativas para os alunos ou que precisem ser discuti- ANOTAÇÕES
das com a classe, inclusive aquelas que se relacionam com noções
matemáticas. Os problemas são resolvidos após toda a discussão
sobre o texto, que a essa altura já terá sido interpretado e com- ______________________________________________________
preendido pela turma, uma vez que as atividades que sugerimos
contemplam leitura, escrita e interpretação simultaneamente. ______________________________________________________

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Ampliando Possibilidades para os Leitores
Para os alunos do Ensino Fundamental e Médio que já leem ______________________________________________________
com mais fluência textos diversos, o professor pode propor outras
atividades envolvendo textos de problemas. A primeira delas, sem ______________________________________________________
dúvida, é deixar que eles façam sozinhos a leitura das situações pro-
postas. ______________________________________________________
A leitura individual ou em dupla auxilia os alunos a buscarem
um sentido para o texto. Na ocasião, o professor pode indicar que ______________________________________________________
cada leitor tente descobrir sobre o que o problema fala, qual é a
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pergunta, se há palavras desconhecidas. Aí, então, é possível con-
duzir um debate com toda a classe para socializar as leituras, dú- ______________________________________________________
vidas, compreensões. Novamente não se trata de resolver o pro-
blema oralmente, mas de garantir meios para que todos os alunos ______________________________________________________
possam iniciar a resolução do problema sem, pelo menos, ter dúvi-
das quanto ao significado das palavras que nele aparecem. Assim, ______________________________________________________
se houver um dado do problema, um termo que seja indispensável
e que os alunos não conheçam ou não saibam ler, principalmente ______________________________________________________
no início do ano, o professor deve revelar seu significado, proceder
à leitura correta. Esse processo para quando os alunos entendem o ______________________________________________________
contexto dos problemas.
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