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Departamento de Línguas
Secção de Português
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Esta tese foi apresentada e defendida como um dos requisitos para a obtenção do grau
de Licenciatura em Ensino de Português, na Universidade Eduardo Mondlane,
Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Departamento de Línguas, Secção de Português,
em Setembro de 2023.
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Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 3 2.
3. Metodologia ............................................................................................................ 12
4.1. Taxonomia dos erros de ortografia dos estudantes da Escola Comunitária São
Vicente de Paulo da Malhangalene ............................................................................. 13
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6.1. Manipulação dos dados e gramática explícita ................................................. 21
6.2. Elaboração de uma ficha de apoio (mini-gramática de ortografia) .................. 24
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1. Introdução
O presente estudo, com o tema o Retorno Correctivo Escrito Indirecto: uma estratégia
para o ensino da ortografia, surgiu no âmbito do estágio pedagógico da disciplina de
Estágio II, curso de Licenciatura em Ensino de Português.
Nele faz-se a apresentação de uma estratégia didáctica para o ensino da ortografia aos
alunos do Segundo Ciclo (SC) da Escola Comunitária São Vicente de Paulo da
Malhangalene (ECSVPM) que lhes leve a uma autocorrecção de forma a melhorarem as
suas produções escritas.
Diante da situação acima exposta, surgiu a seguinte questão de partida: será que o Retorno
Correctivo Escrito Indirecto (RCEI) pode contribuir para resolução dos problemas de
escrita ligados à ortografia das produções textuais dos alunos do SC da ECSVPM?
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, (ii) aplicar a oficina gramatical usando o RCEI e (iii) avaliar os resultados após a
aplicação da oficina gramatical.
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2. Enquadramento teórico
Nesta secção, apresentar-se-á o que o Programa de Português do Segundo Ciclo diz no
que concerne ao ensino da ortografia. Igualmente, uma investigação literária da
ortografia, erros de ortografia e o ensino da mesma. Por fim, abordagens teóricas sobre o
Retorno Correctivo Escrito (Directo e Indirecto)
Esta visão mostra que mais do que ensinar os conteúdos aos alunos, a escola deve ensinar
os alunos a desenvolverem competências para, por si, resolverem as diversas situações a
que estarão expostos.
É preciso ensinar os alunos a fazerem, a analisarem o que fazem e a corrigirem o que não
estiver bem, sem uma intervenção directa do professor.
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Assim, as práticas de leitura e de escrita são tarefas imprescindíveis no Ensino Secundário
Geral, principalmente no Segundo Ciclo, o que implica que os professores devem
desenvolver novas formas mais autónomas para abordar estas práticas, neste ciclo,
facultando e trabalhando a escrita e a leitura de textos de vários géneros e tipologias a
partir das quais pretendam que os alunos desenvolvam não só o conhecimento, mas
também práticas de análise, avaliação e comunicação desse mesmo conhecimento.
2.2. Ortografia
O conjunto de normas que estabelece a utilização dos sinais gráficos constitui a ortografia
de uma língua.
Perfeito (2015) define a ortografia como sendo a forma correcta de escrever as palavras e
de utiliza os sinais de acentuação numa língua, segundo uma dada norma.
Ainda na mesma ordem de ideias, Bergström e Reis (1997) afirma que para representar
na escrita as palavras de uma língua, usam-se sinais gráficos, designadas letras, cujo
conjunto ordenado constitui um alfabeto. Usam-se, ainda, em Português, sinais adicionais
(como o acento e o til) que têm a função de indicar de forma mais aproximada a pronúncia
de alguns sons.
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2.4.Categorização dos erros de ortografia
De acordo com Goncalves e Vicente (2010), os erros de ortografia podem ser
categorizados em fónicos, grafemáticos, morfológicos e de acentuação. Erros
fónicos
São erros que ocorrem nos casos em que há alteração da estrutura fónica e silábica da
palavra.
Assim, no que se refere ao PM, já foram realizados alguns estudos sobre a ortografia no
ESG, erros de ortografia e o perfil dos alunos e programas de ensino por Gonçalves,
Companhia & Vicente (2005), Gonçalves e Vicente (2005), Siopa, Ernesto & Companhia
(2003), Siopa (2003), Gonçalves e Siopa (2005).
Apesar destes avanços, corroboramos com Pellegri (2002) quando considera que o ensino
da ortografia não evoluiu como os outros aspectos do ensino da Língua Portuguesa. Se
no caso da leitura e da produção de textos foram feitas várias transformações na actuação
do professor, o mesmo não foi feito com o ensino da ortografia.
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A aprendizagem da ortografia leva, necessariamente, a um trabalho reflexivo sobre a
escrita, favorecendo uma actividade consciente sobre a representação gráfica, segundo
Salgado (2017).
Dos argumentos acima elencados, percebemos que escrever correctamente significa fazer
um uso consciente e premeditado de nossa língua. O erro não é mais do que o
desconhecimento ou a (não) consciência dessa arbitrariedade convencional e, a partir de
um ponto de vista educativo, é o que deve motivar a busca de metodologias mais
adequadas para garantir a aprendizagem.
Percebemos, também, que as escolas não apresentam uma meta definida para trabalhar a
ortografia, por isso, continua, muitas vezes, sendo um objecto de avaliação, de
verificação, de ensaio e erro e não de ensino.
Um exemplo claro são os ditados, nos quais o professor verifica se o aluno está a escrever
correctamente, ao invés de criar situações contextualizadas de ensino sistemático.
Sobre o tema, Silveira (2006, p.29) afirma que “o aluno erra não porque não conhece a
representação ortográfica, erra porque se sente examinado e testado, erra porque muitas
vezes as actividades de escrita não têm significado para ele”.
Assim, Carraher (2014) afirma que, para aprendê-la, o aluno precisa viver numa sociedade
letrada, ou seja, fazer parte de algum segmento da social de elite. Diante disso, é
fundamental para professores conhecerem como se processa o ensino da ortografia.
Moraes (2003) afirma que a aquisição da ortografia é impulsionada por diversos factores,
tais como a exposição do aprendiz à língua escrita, a frequência de aparecimento das
palavras, a regularidade ou não da notação ortográfica.
Por isso, analisaremos se as principais causas das dificuldades dos alunos na apropriação
das regras ortográficas estão na forma de ensino ou em desfocagens apresentadas pelos
educandos.
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informação sobre o que os estudantes vão produzindo, desenvolvendo neles não só uma
maior consciência linguística, mas também uma autonomia cada vez maior na sua
autocorrecção.
Pelas suas características, este tipo de retorno tem sido apontado como uma estratégia
mais adequada para estudantes mais jovens ou num estádio inicial de aprendizagem da
língua.
De facto, esta estratégia parece ser mais benéfica na medida em que pode desempenhar
um papel importante na consciencialização do processo de aprendizagem e
desenvolvimento de aspectos específicos e problemáticos da língua.
A curto prazo, esta estratégia, ao ser aplicada para desenvolver tarefas de treino da escrita
e actividades de revisão de texto, pode ter um efeito positivo na correcção linguística.
A longo prazo, o RCEI mostrou-se ainda mais eficaz, ao centrar a atenção dos estudantes
nos seus problemas linguísticos, requerendo que estes encontrem soluções de correcção,
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tornando-se numa estratégia sistemática com benefícios a curto e longo prazo (Bitchener
et al., 2005; Ferris, 2007).
Assim, por exemplo, as incorrecções detectadas nas produções dos estudantes não
incidem todas sobre a mesma área, nem podem ser consideradas todas da mesma forma.
Ferris (2007) introduziu, como distinção para fins pedagógicos, a dicotomia entre erros
que os estudantes podem ser levados a corrigir, através da consulta e trabalho sistemático
com as regras gramaticais – erros tratáveis (treatableerrors) – e erros que não podem ser
tratados em situação de sala de aula – erros não tratáveis (untreatableerrors) – já que a
língua tem determinadas características que apenas se adquirem ao longo do tempo.
Cameron (2005), por exemplo, investigou o efeito do RCE em três categorias de erro:
artigo, tempo verbal e preposições.
Neste estudo, descobriram que este tipo de tratamento do erro é mais eficaz se utilizado
em categorias linguísticas regidas por regras gramaticais claras, como o artigo e o tempo
verbal (erros tratáveis), mas revela-se pouco eficaz em categorias mais idiossincráticas e
complexas como a selecção categorial (erros não tratáveis).
Apesar das evidências de que o RCEI pode ajudar a correcção linguística a longo prazo,
alguns dos primeiros estudos não mostraram diferenças substanciais entre grupos de
aprendentes em que a correcção do erro tinha sido aplicada e grupos que não tinham sido
sujeitos a esta estratégia.
Baseados nesta falta de evidência positiva dos resultados que pudesse diferenciar os
grupos, os autores destes estudos argumentaram contra a eficiência da aplicação da
estratégia de correcção dos erros nas aulas de L2. Porém, em pesquisas mais recentes,
veio-se a descobrir que alguns procedimentos metodológicos, na concepção e execução
daqueles primeiros. estudos, não tinham sido seguidos.
A título de exemplo, refira-se que: (i) não havia sido pedido aos estudantes a revisão e
reescrita dos seus trabalhos, tendo em conta o retorno do professor; (ii) tinha havido
diferenças substanciais no número de actividades que os grupos realizaram; e (iii) a
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correcção linguística não tinha sido analisada em novos textos, como resultado de novas
tarefas de escrita.
Deste modo, estes estudos não foram considerados fiáveis para atestar a eficácia do RCEI,
no processo de aquisição e desenvolvimento da L2 (Bitchener & Ferris, 2012) e Chandler
(2003).
Esta estratégia parece-nos ser a mais benéfica na medida em que pode desempenhar um
papel importante na consciencialização do processo de aprendizagem e desenvolvimento
de aspectos específicos e problemáticos da língua.
Deste modo, escrever implica, como refere Siopa (2021), um conhecimento prático, de
saber-fazer, não basta o professor dizer o que é, que características tem o texto que deve
ser escrito, para que o estudante o consiga produzir.
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3. Metodologia
Esta reflexão surge da constatação de que os alunos da Escola Comunitária São Vicente
de Paulo da Malhangalene, especificamente do segundo ciclo, demonstravam bastantes
dificuldades de escrita aquando da elaboração de um trabalho em que deveriam escrever
uma Exposição dirigida ao director da escola apelando para que ele revisse a decisão de
ter expulsado um aluno, nesse caso colega dos alunos, por cometer indisciplina.
3.1.Constituição do corpus
A base empírica deste estudo foi constituída por um corpus-amostragem de 30 trabalhos
semi-espontâneos dos alunos da Escola Comunitária São Vicente de Malhangalene,
escolhidos aleatoriamente de um total de 53 alunos da turma B1, da 11ª classe, do ano
2022 tendo sido apresentada a versão melhorada no primeiro trimestre da 12ª classe do
ano 2023.
O estudo e a oficina foram feitos e aplicados num período de dois trimestres do Sistema
Nacional da Educação, perfazendo um semestre que é o período curricular da disciplina
do Estágio II.
Portanto, a caracterização que aqui se apresenta diz respeito apenas aos estudantes da 11ª
classe do ano 2022, da turma B1.
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3.3.Procedimentos de recolha de dados
Para a realização deste estudo foram escritos textos iniciais pelos estudantes (textosfonte)
que, a posterior, foram corrigidos, sendo sublinhadas as incongruências gramaticais em
geral (RCEI).
Terminada a correcção, foi feita uma recolha da versão melhorada dos textos.
De seguida, foram trocadas entre os alunos para que cada estudante corrigisse o texto do
colega (correcção entre pares).
Depois, foram recolhidas as versões finais dos textos para análise e discussão dos
resultados.
4. Apresentação de dados
De modo geral, os autores que se debruçam sobre esta área operam com categorias
relativamente genéricas, como “erro de acentuação" (Gomes, 1989) ou “erros
ortográficos” (Azevedo, 2000). Rio-Torto (2000) trabalha com categorias de erros mais
especificas, nomeadamente “erros grafemáticos”, são aqueles que afectam a
representação gráfica da palavra, mas não a sua configuração auditiva ou fónica, “erros
fónicos” que alteram a estrutura fónica da palavra e “erros morfológicos morfo-lexicais”
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que são aqueles que têm expressão fónica, mas afectam igualmente as estruturas
morfológicas das palavras.
Como supradito, a taxonomia adaptada e proposta para este estudo contém um conjunto
de categorias que dão conta das especificidades dos erros de ortografia cometidos pelos
alunos da Escola Comunitária São Vicente de Paulo da Malhangalene.
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Este agrupamento baseou-se na subcategorização dos erros apresentada por Gonçalves
(2010).
Como já foi demonstrado antes, é de grande utilidade a classificação dos erros de acordo
com a taxonomia dos erros de ortografia, pois, providencia indicações sobre as principais
dificuldades da população testada em relação às diversas propriedades gramaticais da
língua de ensino (Gonçalves, 2010).
No quadro abaixo é indicada a taxonomia dos erros adoptados neste estudo, com indicação
de números de ocorrências de cada subcategoria de erro.
Tipos de erros Exemplos Números Percentagens
1. Grafemas Ato (acto); atuação (actuação); 11 3%
etimológicos batizar (baptizar); adotar (adoptar);
proativo (proactivo); ótimo (optimo)
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Alguem 34 11%
(alguém);
1. Palavras agudas
expós (expos);
expôs (expos);
tera (terá); fara
(fará); dira
(dirá); tem
(têm); têm
(tem); porem
5. Acentuação (porém);porêm
gráfica (porém);ate
(até); Saí (sai);
destruí
(destrui);
decidí (decidi)
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Seriás (seriass); 40 13%
familia
3. Palavras
esdruxulas (família);
ignorancia
(ignorância);
Comunitaria
(Comunitária);
assiduo
(assíduo);
mascará
(máscara);
consequencia
(consequência);
vídeo (vídeo);
acadêmico
(académico);
obrigatorio
(obrigatório);
republica
(República);
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11. Mecânicos escola comunitária são vicente de 50 16%
paulo da Malhangalene (Escola
Comunitária São Vicente de Paulo da
Malhangale); arquivo de
identificação civil de maputo
(Arquivo de Identificação Civil de
Maputo); avenida angola (Avenida
Angola); zona verde (Zona Verde);
bairro de albazine (Bairro de
Albazine); bairro polana caniço
(Bairro Polana Caniço) rua da
resistência (Rua da Resistência);
abril (Abril)
Além disso, registam-se ainda casos do uso do acento gráfico em palavras em que não é
requerido.
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A maior probabilidade de ocorrência deste tipo de erros reside na forma não se faz a
distinção entre o a (artigo) e a (preposição). A confirmar-se esta probabilidade, chamarse-
ia um “erro fónico” (Gonçalves e Vicente, 2010).
Importa referir ainda que este não é propriamente um erro de ortografia, embora envolva
acentuação, mas sim um erro de selecção categorial.
Os casos dos erros acoplados na subcategoria de ‘vogais átonas’, cerca de 1%, cerca de 2
erros registados. Incluem erros de representação por diferentes grafemas das vogais orais
e nasais e das semivogais. No entanto, a ocorrência de alguns erros na grafia das vogais
átonas parece ter a sua origem no facto de nem sempre estarem representadas de forma
biunívoca.
Quanto aos erros incluídos na subcategoria de “vogais nasais”, com cerca de 2%,
reflectindo os 7 erros registados, dão conta de erros de supressão e inserção do grafema n
em representação do traço de nasalidade.
No caso dos erros subcategorizados como “acentuação gráfica”, com cerca de 28%, o que
corresponde a 86 erros registados respectivamente. Estes englobam os casos de palavras
agudas, graves e esdruxulas.
O mesmo ocorre nos casos incluídos na subcategoria de “palavras graves” que são os
casos em que a acentuação gráfica da vogal tónica ou da supressão do acento gráfico em
palavras que requerem a sua utilização.
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Assim, os casos incluídos nas subcategorias de “palavras esdrúxulas” são os casos que
dão conta do erro da supressão do acento gráfico obrigatório usado para este tipo de
palavras.
Nos casos incluídos na subcategoria de erros “hiatos”, com cerca de 3%, correspondendo
a 8 erros, é quando ocorre a supressão do acento gráfico da segunda vogal de diferentes
sequências vocálicas que se destinam a assinalar que as duas vogais não formam ditongos.
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um “perfil linguístico” dos alunos do Segundo Ciclo da Escola Comunitária São Vicente
de Paulo da Malhangalene.
As primeiras observações já nos permitem avançar com alguns resultados, tais como: as
áreas mais críticas da ortografia foram a oposição morfológica e/ou sintáctica, com cerca
de 112 erros; mecânicos, com cerca de 50 erros; palavras esdrúxulas, com 40 erros;
palavras agudas, com 34 erros; abreviaturas, com 15 erros; grafemas etimológicos, com
cerca de 11 erros.
Os erros considerados como sendo de pouca manifestação foram: erros de fronteira entre
palavras, com 9; 8 erros de hiatos; 7 erros de consoantes vibrantes; 7 erros de vogais
nasais; 5 erros de consoantes silabantes; 3 erros de translineação; 3 erros de emprego do
hífen e 2 erros de vogais átonas.
Fez-se, também, referência que este estudo surgiu no âmbito da constatação de que os
alunos do Segundo Ciclo da Escola Comunitária São Vicente de Paulo da Malhangalene
apresentam graves problemas de desvios de escrita à norma padrão de ortografia.
Por isso, um dos objectivos deste estudo é o de fornecer uma proposta didáctica com vista
a (tentar) resolver os erros de ortografia detectados pelo corpus-amostragem.
6. Oficina Gramatical
De acordo com Duarte (1992), a oficina gramatical define-se como um espaço no qual,
primeiramente, os alunos são confrontados com dados da língua-alvo, fornecidos pelo
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professor ou por eles recolhidos, dispondo de gramáticas e outros materiais que se
habituarão a conhecer e a saber usar.
Na etapa a seguir, os alunos observam os dados e, com o auxílio dos materiais de consulta,
identificam as irregularidades e idiossincrasias contidas nesses dados, e elaboram
generalizações sobre as suas propriedades.
Em síntese, o trabalho realizado no âmbito de uma oficina gramatical inclui quatro etapas,
nomeadamente: (a) apresentação dos dados, (b) descrição e compreensão dos dados, (c)
exercícios de treino e (d) avaliação.
Esta oficina teve como principal objectivo criar mecanismos conscientes de autocorrecção
dos textos por parte dos alunos.
Por exemplo:
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Explicação: as conjunções, diferentemente das locuções que é uma associação de palavras
invariáveis, são palavras simples que servem para relacionar orações na construção de
frases complexas, por exemplo: embora, mas… De salientar que não existem conjunções
com mais de uma palavra.
O exemplo acima serve de uma chamada de atenção para o desvio observado no corpus
1, que um aluno escreveu a conjunção “entretanto” de forma separada ‘entre tanto’.
Veja-se o Apêndice 1.
Veja-se o Apêndice 2.
Explicação: a língua portuguesa preconiza se, de acordo com a origem da palavra, serão
escritas com <s>, <c>, <ss> ou <ç>. Daí, é importante conhecer a origem da palavra e
não se guiar apenas pelo som que esta realiza. Por exemplo: açúcar escreve-se com a
consoante ç, embora com a associação de consoantes <ss> também realize o som [s], pois
a norma assim preconiza. Faz-se essa explicação para ir ao encontro do aluno que
escreveu ‘aciduo’ ao invés de assíduo.
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Explicação: foi necessário, para fazer os alunos compreenderem como funciona a escrita
de nomes que designam determinadas instituições, recorrer a explicação das categorias
gramaticais para que estudantes se recordem que se trata de um nome de uma instituição
e este deve ser escrito com inicial maiúsculo. Por exemplo: Polícia da República de
Moçambique, Universidade Eduardo Mondlane (…).
Veja-se o Apêndice 3.
Explicamos, igualmente, tendo como base o corpus 5. (…) no passado dia 1 de Julho, o
presidente da republica dirigiu-se a nação (…) que se deve usar maiúscula nas iniciais de
nomes que designam cargos públicos como Primeiro-ministro, Director-geral (…) para ir
ao encontro do aluno que escreveu presidente da republica ao invés de Presidente da
República.
Veja-se o Apêndice 4.
Importa referir que, durante as oficinas de gramática, pareceu que os estudantes escreviam
de forma incorrecta não pelo desconhecimento das regras de ortografia, mas pela falta de
atenção no que eles escreviam, faltava-lhes “foco-na-forma” (Gonçalves et al. 2004)
durante a fase da escrita e a revisão os textos. Entretanto, só uma investigação mais
alargada e realizada sobre um corpus-amostragem mais alargado poderá permitir aferir se
as dificuldades a nível da ortografia que os estudantes revelam são devido ao
desconhecimento das regras de ortografia ou se são devido a falta de atenção à elegância
e correcção gramatical do texto escrito.
Com base nos textos-fonte de cada aluno; depois das oficinas de gramática e de
apontamentos extraídos aquando da gramática explícita, foi-lhes pedido que elaborassem,
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recorrendo também à Gramática de Português para Todos de Manuel Castro Pinto (2007),
Gramática – Língua Portuguesa de António Afonso Borregana (2007) e Prontuário
Ortográfico e Guia de Língua Portuguesa de Bergström e Reis (2001) uma ficha de apoio
com as regras que regem as áreas assinaladas pelo professor. Desta forma, cada aluno
tinha uma “mini-gramática de ortografia/ficha de apoio” de erros ortográficos que mais
se evidenciaram na sua exposição.
3. Vogais 0 0%
átonas
4. Vogais nasais 0 0%
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5. acentuação 5.1 Alguem 13 16%
gráfica Palavras (alguém);
agudas
expôs (expos);
tem (têm); têm
(tem) e porem
(porém)
5.2. 0 0%
Palavras
graves
9. Consoante Inresponsável 7 9%
vibrante (irresponsável); iregular
(irregular);
10. Hiatos 0 0%
12. Translineação 0 0%
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13. Mecânicos avenida angola (Avenida 12 15%
Angola); zona verde (Zona
Verde); bairro de albazine
(Bairro de Albazine); bairro
polana caniço (Bairro
Polana Caniço) rua da
resistência (Rua da
Resistência);
14. Emprego do 0 0%
hífen
15. Abreviaturas 0 0%
Total 79 100%
Tabela 2. Taxonomia dos erros de ortografia cometidos pelos alunos da ECSVPM depois
da aplicação da estratégia do RCEI.
Os resultados alcançados pelos alunos após aplicação da estratégia do RCEI como uma
estratégia para o ensino da ortografia são bastante motivadores, embora houvesse
limitação no trabalho em termos de tempo para observar-se a eficácia da mesma a longo
prazo e com um corpus-amostragem maior (todos os alunos da escola ou todos os alunos
do Segundo Ciclo da mesma).
Verificou-se, igualmente que houve uma diminuição nos casos de erros subcategorizados
como “oposição morfológica e/ou sintáctica” de 112 para 29, uma queda de cerca de 89
erros, o que equivale a 79,52%.
Sendo assim, de acordo com Siopa (2011), a principal vantagem da estratégia do RCEI
reside, como se pode verificar, no facto de permitir identificar, compreender e intervir
pedagogicamente no sentido de levar os alunos a corrigirem as inadequações gramaticais,
especificamente ortográficas, nos seus textos sem a intervenção directa do professor.
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8. Considerações finais
Como se fez menção na introdução, o estudo surgiu de uma constatação decorrente de
uma produção textual por parte dos alunos.
Uma vez que, numa concepção geral, não se esperava que os estudantes do Segundo Ciclo
do ESG tivessem tantos problemas relacionados à ortografia, dado que eles estão expostos
à língua portuguesa em contexto natural e instrucional há, pelo menos, 10 anos.
A correcção dos erros por parte do professor é, como se sabe, uma actividade de retorno
de informação fundamental para orientar os estudantes a reduzirem os erros e a
dominarem o processo de produção escrita.
Essa informação pode ser dada de forma directa quando o professor assinala os erros e
apresenta a respectiva correcção na própria folha do estudante, o que parece ser mais
apropriado para estudantes mais novos e ainda num estádio inicial de aprendizagem da
língua.
Para estudantes adultos ou em fases mais avançadas, o professor pode optar por dar a
informação de forma indirecta, ou seja, assinalando os erros com um código, de modo a
que o estudante saiba que tipo de erro cometeu e que possa, a partir dessa informação,
descobrir a respectiva correcção.
Foi igualmente possível notar que há erros mais complexos que os estudantes não tiveram
tanto sucesso, como é o caso das vibrantes múltiplas e o erro classificado como oposição
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sintáctica e/ou morfológica, erro de selecção categorial, pois necessita de uma oficina e
explicação especifica, como é o caso da estratégia para uma didáctica correctiva dos erros
de selecção categorial, Siopa (2010).
É importante salientar, também, que o presente estudo apresenta instrumentos válidos para
uma intervenção didáctica orientada para os problemas concretos que os alunos da Escola
Comunitária São Vicente de Paulo da Malhangalene apresentam como resultado do uso e
a exposição a que eles têm da língua em contexto formal e informal, da mesma forma que
se apresenta uma proposta didáctica com vista a resolução dos mesmos.
Nesta estratégia de RCEI nos textos produzidos pelos alunos, o professor tem várias
opções, não sendo necessário assinalar todos os erros em todos os trabalhos. Pode optar
por assinalar apenas um determinado tipo de erro, ou grupos de erros em que quer que o
estudante se concentre, em detrimento de outros erros considerados menos importantes.
Poderá também seleccionar aqueles que, sendo mais complexos, necessitam de uma
intervenção por parte do professor ou de um trabalho mais específico em sala de aula,
como, por exemplo, o desenvolvimento de estratégias complementares, como as oficinas
gramaticais, entre outras.
Como recomendação, achamos que para lograr maiores êxitos, é preciso que a aplicação
da estratégia seja sistemática. E deve abranger todos os professores, isto é, embora seja
“tarefa” dos professores de Português o ensino da Ortografia, é importante que os
professores das outras áreas de saberes (disciplinas) não fiquem impávidos diante dos
desvios de escrita. É importante que o retorno correctivo escrito indirecto seja feito por
todos os professores.
Portanto, considera-se que este estudo de caso se revela importante à medida que
apresenta o resultado da aplicação de um método pouco usado, mas que leva o aluno a
desenvolver as suas competências de escrita a longo prazo, não obstante ter apresentado
resultados a curto tempo.
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9. Referências bibliográficas
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Disponível em: http://196.3.97.23/revista/index.php/lcs/article/view/40
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ANEXO 1: Ficha informativa “mini-gramática” de corpus 1.
1. Maiúsculas
As letras maiúsculas iniciais empregam-se: 1. em começo de períodos. Por exemplo: Nos
começos das décadas 60, os Portugueses tinham alcançado o Golfo de Guine. 2. Em nomes
próprios de pessoas (antropónimos): Alberto, Carlos, Júnior. 3. Nos nomes de nacionalidade e
naturalidade, grupos étnicos, regionais, etc. 4. Nos nomes que designam entidades religiosas
ou mitológicas: Deus, Alá, Diana, etc. 5. Nos nomes de continentes, países, cidades, regiões,
vilas, aldeias, serras, rios, cabos, de modo geral, nomes de lugares (topónimos), incluindo
bairros, avenidas, ruas, praças, travessas, etc. convém salientar que se escrevem com inicial
minúscula as formas que unem elementos de nomes e lugares compostos, como artigos e
preposições: Montemor-o-Novo, Entre Douro e Ninho, Rio Grande do Sul.
As palavras agudas ou oxítonas são as que têm o acento tónico na última sílaba: café, perdiz, pagão,
mulher, rapaz, etc.
Palavras graves ou paroxítonas são as que têm o acento tónico na penúltima sílaba: bola, fácil, mala,
provável, etc.
Palavras esdrúxulas ou proparoxítonas são as que têm o acento tónico na antepenúltima sílaba:
fantástico, hálito, íncola, lágrima, lúdico, etc.
3. Conjunções
As conjunções são vocábulos invariáveis que relacionam duas orações ou dois termos semelhantes da
mesma oração.
As conjunções podem ser simples (um só vocábulo) e as locuções conjuncionais podem ter mais
de um vocábulo: porque (simples); visto que (locução).
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a. São conjunções coordenativas as que ligam orações da mesma natureza ou palavras de idêntica
função na frase:
Os honestos não só desejam, mas também praticam o bem.
b. São conjunções subordinativas as que ligam duas orações uma das quais completa ou determina
o sentido da outra:
Sabemos que cada homem deve cumprir a sua missão.
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Temporais Quando, enquanto, apenas, Antes que, depois que, logo que,
(introduzem orações mal, como, que assim que, desde que, até
temporais) que, primeiro que, sempre que,
(=desde que)
todas as vezes que, tanto que, à
medida que, ao passo que.
Integrantes Que
(introduzem orações
completivas integrantes)
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9.1. Apêndice 2: texto-fonte de corpus 2.
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9.2. Apêndice 3:texto-fonte de corpus 4.
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9.3. Apêndice 5: versão melhorada de corpus 1.
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9.4. Apêndice 6: versão melhorada de corpus 2.
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