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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE GEOGRAFIA

PROFESSORA: CLAUDIA PEREIRA

ALUNO: JULIO CEZAR DINARTH MARTINS DE MORAES

FICHAMENTO DE CITAÇÕES

ANÁLISE DO DISCURSO E PESQUISA QUALITATIVA NA GEOGRAFIA

Autora: Jeane Medeiros Silva


1- O que é a Análise do Discurso.

“O ponto de vista da Análise do Discurso é, notadamente, de interesse a


compreensão do processo de como o conhecimento e a sociedade constituem-se por
meio da linguagem”.

“A análise do discurso é uma disciplina com pouco mais de três décadas de


formulação, sendo uma subárea da Linguística. Seu tempo e lugar de efusão se deram
em fins da década de1960, na França, com a passagem de uma linguística da frase
para uma linguística do discurso. Isto quer indicar que o desenvolvimento moderno
dos estudos linguísticos visou, priori-tariamente , à descrição e à análise interior do
enunciado, em unidades inferiores à frase (ou seja, do fonema à sintaxe, articulados
no espaço da frase)”.

“Na Linguística estrutural, o discurso saussureana, a enunciação podia ser


entendida como uma realização livre e independente, empreendida pelo indivíduo
falante, o que, ademais, excluía o discurso do campo dos estudos linguísticos:em um
plano de análise fonológica ou morfossintática, estavam exclusas as variáveis
socioculturais”.

“A análise do discurso, portanto, é a particularização de um modo de significar,


por meio do objeto que anuncia, em seu nome, o discurso, que denota a ideia de
movimento, curso, percurso”. “Procura-se compreender a língua fazendo sentido,
enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e
da sua história”.

2- Quais são as filiações teóricas da Análise do Discurso. Althusser, Foucault,


Bkhtin e Lacan.

“O pensamento de Louis Althusser é uma releitura de Marx, expondo uma


crítica à concepção marxista de ideologia como ‘falsa consciência’, propondo, então, a
ideologia como a forma com a qual o ser humano se relaciona com as condições
materiais de sua existência”. “A ideologia althussereana não é arbitrária; ao contrário,
é orgânica e necessária historicamente, tendo uma função específica em dada
formação social: ocultar e deslocar as contradições sociais”.

“Destarte, o pensamento althussereano contribui para a Análise do Discurso na


elaboração do conceito de formação ideológica, a partir do qual Pêcheux desenvolveu
a noção de ‘condições de produção do discurso’, que leva em conta a relação da
língua com a ideologia e o posicionamento do sujeito que, por sinal, difere de indivíduo
por estar em uma relação de assujeitamento e de pertecimento a uma memória
discursiva”.

“A subvenção do pensamento de Michel Foucault é também fundamental,


especialmente, de início, com as obras ‘Arqueologia do saber’, de 1969, e ‘A ordem do
discurso’, de 1970”. “Foucault define formação discursiva como fazeres e dizeres
regidos por regularidades. Diferencia enunciação (processo) de enunciado (produto –
pelo menos aparentemente) e relaciona saber e poder como aspectos constitutivos do
discurso”.

“Outra contribuição relevante é a de Mikhail Bakhtin, mediante sua abordagem


da língua em uma posição que difere de uma Linguística imanente (aquela cujo
sentido é intrafrasal e instituído por unidades de análise inferior à frase), pois inclui, em
sua filosofia da linguagem, a História e o sujeito. São interessantes à Análise do
Discurso os conceitos bakhitinianos de gênero, vozes e sobretudo, polifonia”.

“O último autor cuja obra foi fundadora, via Pêcheux, da Análise do Discurso, é
Jacques Lacan, que ressignificou o pensamento de Sigismund Freud (1856-1939).
Supondo o sujeito clivado em consciente e inconsciente, Lacan vincula a Psicanálise e
a Linguística, notadamente por meio de Saussure e Jakobson, ao evidenciar que o
inconsciente estrutura-se em linguagem na forma de uma cadeia de significantes,
clivando, por sua vez, o discurso pelo atravessamento do discurso do Outro. Os
objetivos linguageiros de Lacan, evidentemente, não eram os da Linguística, mas se
adaptam a uma compreensão da linguagem. Ser o ‘inconsciente estruturado como
uma linguagem’, tornou-se um dos princípios fundamentais da Psicanálise lacaniana
(NASIO,1993, p. 11)”.

3- O discurso como unidade de análise  da Análise do Discurso.


4- O sentido corrente e o sentido científico.

“O objetivo da Análise do Discurso é encontrar o ponto em que a inscrição


ideológica revele os efeitos de sentidos, ou seja, transponha os limites da literalidade
linguística e encontre as condições sócio-históricas de produção do que se enuncia”.

“Os elementos fonológicos, morfológicos e sintáticos da língua são as bases


materiais do discurso, pois o ‘discurso pressupões o linguístico’. Contudo, só
criticamente, a Análise do Discurso se apropria da Linguística, principalmente
desestabilizando o aspecto de subjetividade arrolado pelas teorias da enunciação, isto
é, o sujeito falante, pleno de sentidos imanentes, posto que, para a Análise do
Discurso, a linguagem humana não é abstrata nem individual. O sujeito da enunciação
discursiva é descentrado, quando posto em funcionamento nos enunciados”.

“A análise do discurso apreende, portanto, o aspecto pragmático da linguagem


e sublinha, nesse processo, o social e o histórico. De fato, a enunciação discursiva é
dialógica, feita do embate de relações constituinte, a partir do lugar ocupado pelo
sujeito”...
“Na construção do sentido, na perspectiva aqui arrolada, há, igualmente, o
lugar da ideologia como instauradora da significação, posição construída a partir das
contribuições de Althusser”.

“O sentido, portanto, em face de uma formação ideológica, desloca-se do lugar


da iminência, do ambiente da(s) sua(s) literalidade(s) singular(es) em direção ao efeito
de sentido, posto que é orientado pela posição do sujeito: [...] se uma palavra, uma
mesma expressão e uma mesma proposição podem receber sentidos diferentes –
todos igualmente ‘evidentes’ – conforme se refiram a esta ou aquela formação
discursiva, é porque [...] uma palara, uma expressão ou uma proposição não tem um
sentido que lhe seria ‘próprio’, vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se
constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou
proposições mantêm com outras palavras, expressões ou proposições da mesma
formação discursiva”. (PECHEUX, 1997, p. 161)

5- Formação discursiva e formação ideológica.

“Foucault formula sua conceituação de formação discursiva a partir de um


caminho que considera algumas rupturas localizadas na História, tais como o
afastamento de noções como tradição, influência, mentallidade, equilíbrio,
continuidade, causalidade, linearidade etc., em face do surgimento de noções como
dispersão, descontinuidade, limite, série, transformação e assim por diante”.

“O enunciado [...] (procedimento para compreender as articulações entre


discurso e saber)”.

“O conceito de enunciado, para Foucault, articula-se, dialeticamente, entre a


singularidade e a repetição, é disperso e regular. Sobretudo, o enunciado é uma
função, diferenciado de uma estrutura linguística pura, diferenciando-se de frases,
proposições e atos de fala”.

“De acordo com a acepção foucaultiana, o discurso é definido por meio do


funcionamento dos enunciados em uma mesma formação discursiva”.

“A organização das formações discursivas, por sua vez, está no elemento mais
amplo, o arquivo, que é a reunião de um determinado conjunto de formações
discursivas”.

“Na delimitação de um espaço discursivo, que, constituindo o sujeito, ampara


as formações discursivas e ideológicas, o trânsito dos sentido no interdiscurso e
demais condições e procedimentos que resguardam as práticas sociais dos sujeitos,
por meio da linguagem, passa-se, em seguida, a designar um vínculo social que
permite, ao sujeito, interagir no circuito da discursividade: a memória discursiva”.
“A memória vincula-se às formações discursivas, ideológicas e imaginárias de
uma sociedade, transitando no interdiscurso; com isso, a partir dela, os sentidos
significam. Ou seja, em sua acepção social, a memória está inscrita nas práticas
sociais dos sujeitos. Em seu percurso histórico, a memória imprime significação à
materialidade discursiva, operando por meio da repetição e da regularidade,
reafirmando, assim, os implícitos como a arena dos pré-construídos e da imagem
como dispositivo da memória”.

“Outro processo relevante sobre o discurso, em seu processo de produção de


sentidos, concerne ao silêncio, deslocado de seu sentido corrente – ausência de
barulho ou ruído percebidos fisiologicamente em um determinado ambiente.
Recolocado como elemento que constitui a linguagem, afirma-se igualmente, como
uma instância produtora de sentidos”.

6- Quais são os procedimentos metodológicos da Análise do Discurso.

“A análise discursiva [...] metodologicamente, gravita em torno de um corpus


(refere-se à reunião de enunciados de um discurso com vistas a compor a
materialidade linguístico-discursiva que fundamenta o trabalho do analista), entendido,
de início, em sentido amplo (no campo dos estudos linguísticos), como um banco de
dados relativamente extenso e exaustivo [...]. O registro do corpus, portanto, refere-se
à descrição da ação linguageira, à sua seleção e organização de acordo com uma
orientação linguística. [...] O corpus reporta-se a uma reunião, sobretudo, de fatos
dados. Desse conjunto, o analista recortará Fragmentos (sequência discursivas) por
meio dos quais reconstituirá as regularidades discursivas de seu objeto”.

“Em conformidade com Santos (2004), o procedimento metodológico do


analista é proposto a alcançar regularidades nos enunciados constitutivos do discurso.
Tais regularidades são observadas não só no âmbito da microinstância analítica, mas
também na macroinstância”.

“Essa tarefa procede por meio de duas categorias igualmente já referenciadas:


uma ordem sujeitudinal, com desdobramentos em uma ordem identitária, e uma ordem
sentidural.a ordem sujeitudinal aborda o sujeito como referência central da análise,
tomando, para isso, variáveis de análise que visam à colocação do sujeito no discurso,
à sua constituição identitária. A ordem sentidural, por sua vez, aborda o sentido como
centro da análise. Por essa ordem, percorrem-se as regularidades do corpus com a
finalidade de apreender sentidos em momentos distintos, para o que se pode proceder
visando ao processo de nomeação, designação e denominação dos conceitos em
suas esferas discursivas e sentidurais”.
7- Conclusão.

“Com a análise do discurso, verifica-se que uma palavra por si mesma não tem
significado; o sentido é-lhe atribuído por um conjunto de referências que dizem
respeito às condições produtivas da enunciação, nas quais se englobam as formações
discursivas, ideológicas e imaginárias do sujeito que atravessam os enunciados e, por
conseguinte, os discursos.

“A Análise do Discurso, desse modo, é um instrumental teórico-metodológico


que permite à Geografia trabalhar sistematicamente as materialidades linguageiras
que absorvem questões de interesse a essa ciência. [...] Nesse, propósito, atende à
necessidade das diversas áreas da Geografia Humana, incluindo o Ensino da
Geografia”.

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