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Uberlândia: LEP/GPAD/
ILEEL/ UFU. 2008. no prelo.
Considerações Gerais
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Trabalho apresentado no Seminário Temático “O sujeito no 'ethos' institucional”, no III Simpósio
Internacional sobre Análise do Discurso, evento promovido pelo Núcleo de Análise do Discurso da
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.
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Professor Adjunto do Instituto de Letras e Lingüística da Universidade Federal de Uberlândia.
Coordenador do Laboratório de Estudos Polifônicos (LEP) do Grupo de Pesquisa em Análise do Discurso
(LEP/GPAD/ILEEL/UFU)
pelo interdiscurso e traspassadas pela memória discursiva e pelas condições históricas
que a constituem. A idéia de instância se refere ao fato de que, no funcionamento
enunciativo, o sujeito do discurso oscila entre as facetas de um lugar social e de um
lugar discursivo na alteridade de formas-sujeito que se movem pela interpelação e pelo
atravessamento de discursos outros em seu enunciar.
A denominação ‘enunciativa’ deriva do caráter de unicidade e singularidade que
baliza as inscrições discursivas de uma instância sujeito, oscilando entre uma alteridade
– conforme a natureza da interpelação interdiscursiva que traspassa sua constituição – e
a movência de sentidos por ela operada nessa alteridade. Já o designativo ‘sujeitudinal’
reflete esse caráter de movência contínua em alteridade constitutiva, demarcada por
funcionamentos do interdiscurso. Tais funcionamentos, por sua vez, heterotopizam uma
diversidade de tomadas de posição da instância sujeito, de acordo com as evidências que
sintomatizam sua inscrição em uma rede de significações.
A partir dessa rede de significações emerge uma produção de sentidos que
repercute um processo de subjetivação, determinando um funcionamento dessa instância
sujeito no interior de uma formação discursiva. Para melhor entendemos a noção de
instância enunciativa sujeitudinal, pensemos inicialmente, em um sujeito empírico que
deixa a condição de indivíduo ao circunscrever-se na enunciação. Dessa circunscrição
emerge uma forma-sujeito que o inscreverá numa formação discursiva.
Como essa formação discursiva interpela essa forma-sujeito ideologicamente,
essa forma-sujeito se constituirá como sujeito de um discurso. Esse sujeito do discurso
ou sujeito discursivo fará uma tomada de posição que o conduzirá a um lugar discursivo
ou a um lugar social, ou ainda, uma alteridade constitutiva em ambos. Esse processo
acontecerá porque quando esse sujeito discursivo for interpelado, atravessamentos
interdiscursivos se sobreporão à formação discursiva de inscrição daquela forma-sujeito.
Além disso, não podemos esquecer da constitutividade ideológica que tornou
aquela forma-sujeito em sujeito discursivo. Essa constitutividade ideológica, por
conseguinte, fará com que esse, agora, sujeito discursivo, seja, também, interpelado por
sua memória discursiva. Na interpelação da memória discursiva na constitutividade
ideológica instaura-se, pois, uma memória de sentidos referente à sua inscrição singular
sincrônica naquele acontecimento discursivo em enunciação.
Quando o sujeito ocupa uma posição de lugar discursivo, lugar social ou ambos,
em alteridade, ele instaurará um processo de identificação e desidentificação desses e
nesses lugares. Essa inserção posicional de natureza interpelativo-ideológico-
heterotópica o transforma em instância enunciativa sujeitudinal. Trata-se, pois, de uma
constituição singular da condição de sujeito nos crivos de contradição, equivocidade,
opacidade, movência e deslocamentos do, no, para e entre formações discursivas no
interior de um processo enunciativo e na descontinuidade da construção linguageira em
que se funda uma discursivização.
Legitimando-se
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Convém não silenciar que essas imagens não se referem à constitutividade cognitiva do sujeito e, sim, à
sua constitutividade discursiva, sua capacidade enunciativa de significar com os sentidos na e pela
linguagem.
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Memória histórico-sócio-ideológica de uma manifestação-sujeito no crivo de sua percepção enunciativa
de sentidos.
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A sincronia enunciativa de uma manifestação- sujeito vista a partir de uma percepção de suas inscrições
discursivo-ideológicas.
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Imagem que uma manifestação-sujeito constrói a partir de sua inscrição discursiva, revelando uma
forma-sujeito, em sua auto-referencialidade. Trata-se, pois, de uma percepção enunciativa, vinculada a
um pré-construído.
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Constituição enunciativa inconsciente, interior à uma manifestação-sujeito.
Na instância enunciativa sujeitudinal opera-se uma alteridade referencial e
polifônica, nas vozes transversalizadas no imaginário das manifestações-sujeito. Além
disso, configura-se uma heterogeneidade, também referencial e polissêmica, no
amálgama de discursos que interpelam essas manifestações descontinuamente. Instaura-
se, pois, uma relação recíproca de subjetividade, advinda da clivagem deslocada dessas
manifestações-sujeito, balizada pela inserção delas em diferentes formações
imaginárias.
Vamos considerar essas formações imaginárias, aqui, como inscrições potenciais
de formas-sujeito quando postas em alteridade na constituição de uma instância
enunciativa sujeitudinal. Tratam-se, pois, de representações que se configuram em
função de uma circunscrição em determinados lugares discursivos distintos que se
caracterizam por perpassarem relações de influência. Essas relações de influência dizem
respeito às condições de interpelação dessas manifestações-sujeito no processo
enunciativo.
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Este conceito aparece inicialmente em Frege (1978) como sendo o limite de materialização dos sentidos.
Aqui, aplicamos uma heterotopia extensiva e passamos a concebê-lo como significação inferenciada,
integrante de uma polifonia/polissemia, no interior de um espaço discursivo de produção de sentidos, mas
ainda não referencializada enquanto representação enunciada, na conjuntura sentidural das manifestações-
sujeito.
A constituição dos apagamentos discursivos é pressuposta numa filtragem de
sentidos (economizados ou re-significados), no processo enunciativo. Tal omissão de
sentidos na realização linguageira toma lugar, quer por denegação, quer por um
processo de opacidade sentidural, ocasionando, assim, uma redução do dizer. Trata-se,
pois, de uma remoção voluntária/involuntária, portanto, dialética, que faz desaparecer
do amálgama de significação os sentidos não convenientes às exigências da situação
enunciativa.
Já a imprevisibilidade dos esquecimentos enunciativos diz respeito às lacunas
sentidurais do processo enunciativo em si. Essas lacunas representam a ausência de um
dizer, traspassado pela ilusão de um “dito que não foi dito”. Trata-se, assim, de sentidos
não concebidos, entretanto, constitutivos, mas não proscritos, na realização linguageira.
As ocorrências de silêncios do e no discurso se referem à essencialidade do
significar em si – o não-dito implícito dos e nos sentidos. Representam significações
veladas que se ocultam na dispersão dos sentidos, no intervalo histórico de dispersão de
sentidos na realização linguageira. Os silêncios, por serem múltiplos no processo de
significação de sentidos, não são depreendíveis na superfície enunciativa de um
discurso. Sua existência se configura em traços enunciativos que revelam escolhas
sentidurais embutindo-os na perspectiva do dizer.
Os silêncios não são interpretáveis, mas reconhecíveis como elementos
constitutivos dos sentidos. Eles atravessam os sentidos porque significam em si, daí sua
constitutividade se fundar, também, na relação entre as manifestações-sujeito. Dessa
maneira, é possível inferir que os silêncios se situam na anterioridade da memória de
sentidos e na descontinuidade de sentidos resgatados pela memória discursiva.
A dissuasão dos implícitos nos sentidos se refere ao “não-dito posto que remete
ao dito”. Essas implicitudes comportam subentendidos sentidurais e seus conseqüentes
pressupostos não-ditos. A dissuasão se realiza numa dinâmica de transmutabilidade de
sentidos no encadeamento da realização linguageira.
Como pudemos observar, a instância enunciativa sujeitudinal contempla um
processo de subjetividade, que se desencadeia no interior da enunciação, fundado a
partir de inscrições ideológicas que se confrontam e se imbricam com formações
imaginárias, subjacentes à constituição interpelativa de uma manifestação-sujeito. Nesse
processo de subjetividade percebemos um percurso dialético e dialógico. Seu
funcionamento enunciativo constrói sua trajetória a partir de uma tomada de posição nos
processos discursivos.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas