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Pedro e Souza
Unidade A
Há discurso, ou seja, efeito de sentido entre interlocutores. É discurso isto é, o
regime simbólico em que um simples ruído ou uma simples imagem produz sentido, e
por isso mesmo, demanda interpretação. Não é atribuir sentido, observam-se sentidos
sendo produzidos. A AD interessa-se somente por processos em que o sentido é
abordado como efeito de linguagem, e nunca como propriedade literal das coisas
expressas em palavras. A linguagem é condição material do discurso.
Na visão saussuriana, a língua é parte da linguagem, mas só está contida naquela
em termos puramente formais e não empíricos. Deixam-se de lado aspectos individuais
implicados no exercício da linguagem.
Barthes enfatiza que a linguagem é para Saussure, um ponto de tensão entre a
dimensão social da língua e a individual da fala. A língua é então praticamente, a
linguagem menos a fala. Uma instituição social e um sistema de valores (linguagem –
fala = língua).
A língua que interessa aos linguistas não é a mesma que interessa aos
pscinalistas. Saussure precisa excluir a fala (parole), atividade individual por onde se
articula a língua (langue). Isso porque o objeto da psicanálise é o inconsciente, algo que
não pode ter existência senão no indivíduo falante. A partir de Louis Althusser, fica
estabelecido, que não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia.
Trata-se muito mais de pensar a linguagem como maneira de significar, e não
como sistema fechado de regras de ordem fonológica, morfológica ou sintática. Na AD,
a língua não é concebida em relação a si mesma, mas em relação com a história e com a
ideologia, os sentidos podem ser múltiplos, mas não qualquer um. Em AD, a fala, antes
de ser mera manifestação do sistema da língua, é já um evento discursivo. No ato de
falar, o falante deixa-se interpelar.
A língua que emerge na fala é acontecimento discursivo, ou seja, está ligada ao
tempo e ao oscilar descontínuo da história. É exatamente isso que ressalta Orlandi: “o
discurso é assim palavra em movimento”.
A ordem do discurso. Nesse texto, vamos ver que a fala e o sujeito que dela
decorre são os elementos fundamentais a partir dos quais depreendemos a existência e o
funcionamento de um processo de linguagem chamado discurso. Individuo falante. É
aquele que fala de modo não submetido à ordem do discurso: o eu insinuado sub-
repticiamente no discurso.
O discurso pode então ser definido de duas maneiras: (a) materialmente, seja no
plano oral ou escrito, o discurso é a fala atravessada por uma ordem simbólica, a mesma
que, mediante procedimentos de exclusão e controle, converte o falante em sujeito do
discurso; (b) formalmente, o discurso é a ordem, isto é, os preexistentes princípios de
exclusão, controle e rarefação que constituem o sujeito mediante a fala ancorada no
indivíduo falante.
Só há ordem de discurso nos domínios em que está em jogo a constituição de
objetos do saber e o estabelecimento da diferença entre o verdadeiro e o falso. A fala e o
indivíduo falante são os ingredientes essenciais que o discurso investe para constituir o
indivíduo como sujeito e dotar de sentido os enunciados que produz.
Unidade B
O discurso é ordem que atravessa o falante, determinando em sua fala, o que e
como deve ser dito. O discurso é ordem que se traduz em práticas de controle. Para
substituir o termo frase ou proposição pelo de enunciado, não há uma relação direta
entre o enunciador proferido e aquilo que ele diz, bem como que a origem do dizer não
está na intenção de um sujeito prévia e psicologicamente concebido.
Unidade C
Unidade D
A escola francesa de AD tem uma maneira muito própria de conceber seu objeto
de estudo. Esse objeto não é de natureza empírica, isto é, ele não é imediatamente
perceptível nas palavras escritas ou faladas, muito embora seja na superfície textual dos
proferimentos escritos ou orais que o discurso se constrói.
Dois aspectos implicados no procedimento analítico. O primeiro é que, ao falar,
o homem se faz e é feito por discursos que atravessam sua fala. Segundo é que, na fala,
ou no exercício da linguagem oral ou escrita, há sempre um processo discursivo que
determina a possibilidade de a fala derivar coerência e coesão em certos arranjos de
palavras, e por consequência, derivar efeitos de sentido. Pois bem, é esse processo que é
construído pela análise.
Não se trata de interpretar. O problema não é saber se um discurso tem ou não
tem sentido. A questão da AD é saber como se produz discurso como efeito de sentido.
Analisar discurso é como desmontar uma peça para examinar de que maneira foi
fabricada e de que modo ela funciona. Porque, se o discurso é algo fabricado, então ele
tem um funcionamento, como peça fabricada ele produz seus efeitos. Mas isso só se
pode descobrir desmontando-o a partir de sua superfície aparente, para assim restituir o
processo pelo qual o discurso se faz.
Conceitos. (a) interdiscursivo (memória discursiva) – o conjunto de formulações
que disputam múltiplos sentidos dando lugar à cidade como efeito de discurso. (b)
imaginário – as imagens de cidade projetadas a partir de dadas posições de enunciação.
(c) real – o que escapa a qualquer ordem simbólica de determinação de sentido para a
cidade.
O analista não só procura compreender como o texto produz sentidos, ele
procura determinar que gestos de interpretação trabalham aquela discursividade que é
objeto de sua compreensão. Em outras palavras, ele procura distinguir que gestos de
interpretação estão constituindo os sentidos (e os sujeitos, em suas posições).
Não se trata de discutir a validade ou pertinência da interpretação. Isso não é o
interesse do analista de discurso. O que interessa é compreender como, a partir do
dispositivo teórico da AD, pode-se explicitar a interpretação.
Tornar-se sujeito é ocupar posição no discurso, ou seja, enunciar no lugar de
cruzamentos de dizeres em que o dizer que se realiza faz sentido em uma direção e não
em outra. Em um mesmo falante pode haver diferentes possibilidades de ser sujeito.
Tudo depende da posição em que ele vai jogar com as palavras. O sujeito passa da
dispersão para unidade. É quando, ao se relacionar com o texto, ele não pode mais se
expor à deriva do sentido, sem assumir a responsabilidade do lugar do efeito de sentido
se duas palavras.
A definir o texto, como sendo uma unidade que podemos, empiricamente,
representar como tendo começo, meio e fim, uma superfície linguística fechada nela
mesma.
Orlandi refere-se ao deslize que é próprio de toda língua. Isso quer dizer que
nenhuma forma linguística está presa a um sentido permanente. Por mais que se torne
literal na história, o sentido das palavras entre em deriva a cada vez que é empregado. É
que a cada vez que a língua é mobilizada em dadas circunstancias, uma vez que o
significado que pode instaurar não é evidente, é preciso interpretar. A interpretação é,
portanto, o procedimento inerente ao próprio modo de a língua funcionar em conexão
com a história.
A historicidade deve ser compreendida em AD como aquilo que faz com que os
sentidos sejam os mesmos e também que eles se transformem.
A relação entre língua e discurso. A definição de base para língua é a que
proproe Pêcheux, isto é, sistema sintático intrinsecamente passível de jogo. Já a
definição própria para a discursividade consiste em pensa-la como inscrição de efeitos
linguísticos materiais na história. Para haver história fosse necessário a passagem dos
fatos pela dinâmica própria da língua. Para haver sentido, é como se a língua cravasse
suas formas e mecanismos nos fatos dando forma ao dizer e ao sujeito que diz. Tudo
isso resume o que á historicidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
AD tem certa procedência frente ao que social e historicamente se dá como
realidade. É que, ao relacionar-se com o mundo e interagir com outro, o homem precisa
da linguagem. Fora dela, nem ele, nem o mundo significa, e sem sentido, a realidade
não existe.
A linguagem, se imponha analiticamente como mediação necessária entre o
homem e a realidade natural e social. A linguagem é forma material do discurso porque
nela se observam analiticamente homens falando, observa-se o aspecto constitutivo do
fazer da língua, submetida ao processo histórico e ideológico que descreve o modo
como, através do exercício da fala, se produz sujeito e sentido.
O que é analisar discurso? O que interessa é descrever como qualquer coisa dita,
do jeito que é formulada, faz sentido. É descrever as condições de natureza ideológica,
social, histórica, nas quais uma fala qualquer produz sentido.
Relacionar a fala, tomada como ponto de partida a outras produzidas em
diferentes tempos e lugares. Considerar, portanto, o histórico, ideológico, social, na AD,
é considerar atos de enunciação atravessados por domínios de memória feitos de
enunciados efetivamente realizados. Descrever, mediante artefatos teóricos e
procedimentos analíticos, modos de aparecimento do sentido e do sujeito.