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EU

IDEOLOGIA
&
INCONSCIENTE
EU TU

ELE
O que eu posso fazer daquilo que de mim fazem?

EU Eu sou aquilo que faço com o que fazem de mim.

Contexto sócio-histórico
cultural
Bakhtin
 Obviamente, correlacionada com esse excedente de visão há uma certa carência, porque
o que vejo predominantemente no outro, só o outro vê em mim mesmo. Essa tensão entre o
excedente e a carência impede a fusão de horizontes, ou seja, a anulação da minha singularidade
(do meu excedente) no outro. Ao mesmo tempo, ela nos impele inexoravelmente para a
interação: é o excedente de visão dos outros que responde às minhas carências; a alteridade tem
um papel constitutivo fundamental – o “eu-para-mim” se constrói a partir do “eu-para-os-
outros” (FARACO, 2011, p. 25).
 Desde fatores de ordem pessoal até condições gerais de ordem histórica, há um
conjunto de fatos que constituem para cada sujeito a sua situação. E assim a
liberdade é inseparável das condições concretas do seu exercício. Como
nascemos sempre num determinado contexto real e concreto, já estamos,
somente por isso, comprometidos com ele, isto é, com o mundo no qual temos
de viver. Trouxe para a reflexão esta noção de situação e facticidade pelo que
significam quando pensamos, na análise de discurso, em condições de produção
(ORLANDI, 2017, p. 15)
Tabacaria – Fernando Pessoa
 Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
 Não há sujeito, nem sentido, que não seja dividido, não há forma de
estar no discurso sem constituir-se em uma posição-sujeito e,
portanto, inscrever-se em uma ou outra formação discursiva que, por
sua vez, é a projeção da ideologia no dizer. As relações de poder são
simbolizadas e isso é o político. A análise de discurso trabalha sobre
relações de poder simbolizadas em uma sociedade dividida.”
(ORLANDI, 2017, p. 55)
Interdiscurso

Alguma coisa fala antes, em outro lugar e independentemente.

Memória: a voz sem nome

O interdiscurso é irrepresentável

A língua não é transparente

Esquecimento como estruturante da memória


Qual é a relação entre
inconsciente e ideologia?

 O sujeito da psicanálise não é o mesmo da análise de


discurso, assim como a história do historiador não é
a mesma do analista de discurso e nem a língua do
linguista é a mesma do analista de discurso. [...] São
distintas e interdependentes.
 A ideologia, por sua vez, está em que o sujeito, na ilusão da transparência e sob o domínio de
sua memória discursiva – alguma coisa fala antes, em outro lugar e independentemente – pensa
que o sentido só pode ser “aquele” quando na verdade ele pode ser outro. O que lhe atribui esta
evidência é, na verdade, o fato de que não há sentido sem interpretação e a interpretação é um
gesto do sujeito carregada de ideologia, que torna evidente o que na realidade se produz por
complexas relações entre sujeitos, língua e história, resultando em diferentes formações
discursivas. (ORLANDI, 2017, p. 153)
Antes de tudo, podemos dizer que, para a Análise de
Discurso, o princípio que a fundamenta diz respeito
precipuamente à ideologia e, em segunda instância,
ao inconsciente: sendo o discurso o efeito de sentido
sen entre locutores, é ele a materialidade específica da
ideologia. Além disso, o indivíduo se constitui em
e ito

t id
o sujeito pela interpelação ideológica (a forma sujeito
su j

histórica). A ideologia, na formação teórica da


Análise de Discurso, é o elemento de base,
fundamento da constituição do sujeito e do sentido.
(ORLANDI, 2017, p. 20)
ideologia
Ideologia, historicidade, sujeito e sentido
 A ilusão do sujeito como origem;
 A ilusão referencial da evidência do sentido.
 Como sabemos, os sentidos são “relação a”, as palavras não significam por si mas pelas
formações discursivas (ideologia) em que se inscrevem. (ORLANDI, 2017, p. 155)
 Ilusões que derivam da ideologia, esta entendida não como ocultação mas como produtora de
evidências, imaginário que relaciona o sujeito a suas condições materiais de existência.
(ORLANDI, 2017, p. 213)
 Por isso, vamos partir de uma afirmação que estará presente no desenvolvimento dessa
reflexão: nos processos discursivos há sempre “furos”, falhas, incompletudes, apagamentos e
isto nos serve de indícios/vestígios para compreender os pontos de resistência.
O sentido sempre
pode ser outro
 Na perspectiva discursiva, podemos trazer para esta reflexão que toda descrição abre sobre a
interpretação, colocando em jogo necessariamente o discurso-outro. Esse discurso-outro marca
do interior da materialidade de sequência, diz Pêcheux (1975), a insistência do outro, como lei
do espaço social e da memória histórica. No caso da ideologia, como sabemos, este efeito
realiza a ilusão do sujeito como origem de si e dos sentidos que produz, efetivando a estrutura e
funcionamento da forma-sujeito histórica, a do capitalismo, que se sustenta no jurídico, sob o
modo de um sujeito de direitos e deveres, funcionando como sujeito autônomo e responsável,
embora, nos termos de Marx (idem), ao criar algo, fora de si, o sujeito se nega no objeto criado.
(ORLANDI, 2017, p. 23)
Somos falados pela ideologia
 O interdiscurso se define pela estratificação de enunciados já feitos e esquecidos que constituem
nossa memória de dizer;
 No caso da ideologia, como sabemos, este efeito constitui a ilusão do sujeito como origem de si
e dos sentidos como evidentes, realizando a estrutura e funcionamento da forma-sujeito
histórica, a do capitalismo, que se sustenta no jurídico, sob o modo de um sujeito de direitos e
deveres;
 A interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação com a
formação discursiva;
 E o sujeito é dito antes que diga “eu”;
 O inconsciente é o discurso do Outro (Lacan);
 A ideologia, na análise de discurso – diferentemente da análise de conteúdo -, não é “x” mas o
mecanismo (processo) de produzir “x” (E. Orlandi, 1996). A ideologia é uma prática e uma
prática constituída de interpretação, em que trabalham o equívoco, a incompletude, a opacidade
e a falha;
 A linguagem é, nesse sentido, um trabalho, uma prática. O que ela tem de específico é que ela é
um trabalho simbólico. E como tal, ela exerce sua ação transformadora enquanto mediação
entre o sujeito e a realidade. (ORLANDI, 2017, p. 152)
Quantos dizeres cabem aí dentro?
Lenda urbana - narratividade
Narratividade
 Define-se narratividade como a maneira pela qual uma memória se
diz em processos identitários, apoiada em modos de
individuação do sujeito, afirmando/vinculando seu
pertencimento a espaços de interpretação determinados,
consoantes com específicas práticas discursivas.
 Funcionamento da memória atualizando-se. (p. 66)
 Na narratividade, a passagem
do invisível ao visível se faz
pela materialidade discursiva.
A narratividade, então, dá
corpo aos sentidos e à lenda em
seus efeitos. E materializa,
assim, o Mal, na figura do
Capeta. Passagem do invisível
ao visível. O Mal encarnado.
(ORLANDI, 2017, p. 64)
 A relação com a família
(mãe), a relação com a terra
(chão), a relação com a
religião.
Performatividade
 Fazer ver o que não existe. Produzir o efeito do real. Passar do invisível ao
manifesto (p. 65)
 Linguagem como determinante para ações;
 O performático do Exorcismo na lenda em análise;
 Ex: O discurso religioso tem características que nos permitem investigar como
um discurso tem a capacidade de determinar a forma como as pessoas agem,
como se organizam em sociedade, já que as fórmulas religiosas são usadas
performativamente, isto é, como forma de ação sobre o outro.
Referências

 ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso em análise: Sujeito, Sentido e Ideologia. 3ª Ed. Campinas,
SP: Pontes Editores, 2017.
 ORLANDI, Eni Puccinelli. Eu, tu, ele: Discurso e real da história. 2ª Ed. . Campinas, SP:
Pontes Editores, 2017.
 Da SILVA, Tatiane Xavier ; COSTAO, Ivandilson. DISCURSO RELIGIOSO: ASPECTOS DE
PERFORMATIVIDADE, AUTORITARISMO E RELAÇÕES DE PODER.Disponível em:
https://degnatal.files.wordpress.com/2015/04/32419-136594-1-pb.pdf
 FARACO, Carlos Alberto. Aspectos do pensamento estético de Bakhtin e seus pares.
Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 46, n. 1, p. 21-26, jan./mar. 2011.

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